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terça-feira, 19 de outubro de 2021

Sobre a tecnologia, ou know-how, da corrupção política - Paulo Roberto de Almeida

Sobre a tecnologia, ou know-how, da corrupção política

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

  

Bandidos políticos comuns, ou “normais”, roubam nas margens: pequenas emendas paroquiais, ONGs familiares, compras superfaturadas nos municípios, rachadinhas e notas falsas. 

Os companheiros começaram por aí, antes de ganhar desenvoltura em grandes estados ou o poder nacional: merenda escolar, transporte público, lixo urbano, orçamentos de pequenos municípios. Aprenderam, com seus colegas da máfia sindical e os guerrilheiros reciclados neobolcheviques e desenvolveram as técnicas da cleptocracia.

Colegas “inteligentes” em instituições da República sabem roubar grande: projetos de infraestrutura, grandes cargos em estatais e, sobretudo, o orçamento paralelo das grandes emendas.

Vamos aos exemplos: o psicopata perverso, por exemplo, é um desses ladrões medíocres: nenhum super capitalista se associou a ele para meter a mão grande; ficou nas rachadinhas e rachadonas (uma mansão de 6 milhões não se compra com contracheques) e botou um pé ou dois nos negócios das milícias e contrabandistas de armas.

O PT, por seu lado, organizou grandes assaltos ao Estado, à caverna de Ali Babá da vaca petrolífera, se meteu em grandes negociatas, inclusive internacionais, e está louco para voltar a fazer. Esqueceu de tomar lições de cleptocracia com gente especializada (do antigo KGB, por exemplo) e por isso escorregou no tratamento com pequenos larápios (os mestres costumam eliminar esses chatos).

Já Eduardo Cunha valia, sozinho, meio PT, roubou como um paxá ou um pro-cônsul romano na Gália e deixou uma super herança maldita: as emendas obrigatórias, que depois derivaram para o orçamento secreto, a forma legal de roubar grande, ao lado dos fundos Partidário e Eleitoral.

Mais um pouco o Brasil vai entrar no Guiness da corrupção política, e certos politicos poderão escrever manuais do tipo: The Idiot’s Guide to Steal BigHow to Build your own Kleptocracy, ou Tudo o que você sempre quis saber sobre a corrupção política e não tinha a quem perguntar (editoras não faltarão, mas os livros logo serão pirateados pelos colegas da primeira categoria). 

A corrupção política tem um passado respeitável no Brasil, um presente magnífico e um futuro brilhante!

Não acreditam?

Gente de pouca fé!

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3999: 18 outubro 2021, 2 p.

 

 

 

terça-feira, 10 de março de 2020

5G DECISÃO ESTRATÉGICA - Rubens Barbosa (OESP)

5G DECISÃO ESTRATÉGICA

Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 10/03/2020

Em 2020, o governo brasileiro deverá tomar decisão altamente estratégica com profunda repercussão na vida das pessoas e no setor produtivo. Na área tecnológica, colocará o país no caminho de interesses conflitantes dos EUA e da China. Refiro-me à licitação da rede 5G para todo o pais e à participação da empresa chinês Huawey, que dispõe de equipamentos de alta qualidade e de baixo custo, quando comparados com a Ericson e a Nokia.
Na disputa geopolítica, a emergência da China como uma potência econômica, comercial e tecnológica nos últimos 25 anos, fez com que se acirrasse a disputa com os EUA pela hegemonia global no século XXI.
Visando a afastar a concorrência da empresa chinesa mais avançada do que as ocidentais, os EUA invocam questões de segurança das redes 5G da Huawey, que poderiam colocar em risco os sistemas de inteligência dos países. Essas alegações ocorrem no momento em que a própria CIA divulga informações sobre a Crypto, empresa suíça que os EUA utilizaram com esses mesmos objetivos durante décadas durante a guerra fria, inclusive no Brasil. 
Apesar da oposição de Washington, a União Europeia decidiu não barrar a Huawey. Reino Unido (com restrições na participação em áreas sensíveis), Alemanha e India aprovaram os testes e contratos com a empresa chinesa. Apenas Japão, Austrália e Nova Zelândia, membros do grupo “Five Eyes” de inteligência, com Washington e Londres, cederam à pressão dos EUA e proibiram a entrada da companhia chinesa. O governo norte-americano intensificou o lobby contra a entrada da companhia chinesa também no mercado brasileiro. Donald Trump conversou com o presidente Bolsonaro sobre o assunto, o Secretário de Comércio, Wilbur Ross, disse publicamente que o assunto é do conhecimento das autoridades brasileiras e reiterou que a vulnerabilidade das redes 5G pode afetar o sistema de segurança dos países e a cooperação com os EUA. Na mesma linha, subsecretário para Comunicações do governo norte-americano e representantes do Comitê de Investimento Estrangeiro (CFIUS) alertaram as autoridades em Brasilia que os EUA poderão reavaliar o compartilhamento de informações nas áreas de inteligência e de defesa, caso se opte pela empresa chinesa para atuar na rede móvel 5G no Brasil. 
Recentemente, foram dados passos concretos para permitir a realização da licitação. O governo estabeleceu as diretrizes para o leilão da quinta geração da tecnologia de telefonia móvel com ampliação da oferta. O edital da ANATEL não impôs qualquer restrição à tecnologia 5G da Huawey.
Segundo estudo da Boston Consulting Group, para cada 1% de aumento da penetração da banda larga, o PIB brasileiro cresceria 0,7%.
A empresa chinesa está instalada no Brasil há mais de 20 anos. Segundo conversa mantidas com dirigentes das operadoras de comunicação brasileiras, a empresa chinesa tem hoje uma forte presença no mercado brasileiro e uma mudança de tecnologia causaria muitas dificuldades para o setor. A presença da Huawei no nordeste é crescente e se desenvolve através do Consórcio do Nordeste.
Durante recente visita a China, o presidente Bolsonaro disse que aguardaria a melhor oferta no leilão e ouviu a promessa de o Brasil receber investimentos na área de tecnologia da informação. O Vice-Presidente Mourão observou que nosso pais não tem receios em relação `a segurança e que o Brasil não vetaria a participação da Huawei. O ministro Marcos Pontes afirmou que não haverá nenhum tipo de barreira `a empresa chinesa. O Itamaraty estaria se opondo para não se contrapor a Trump. No jantar em Mar-a-Lago, no sábado, na Florida, Trump deve novamente ter feito pressão junto a Bolsonaro para o Brasil não aceitar a participação da Huawey.
A licitação da Anatel deveria ser mantida para 2020 e efetivada logo que possível. O adiamento para 2021 não mudará o dilema do governo brasileiro. O atraso na decisão tornará mais demorada a incorporação das novas tecnologias de inteligência artificial e internet das coisas, por exemplo, para a modernização da indústria brasileira. Segundo estudos da Fiesp, apenas 1,3% das indústrias podem ser consideradas como 4.0, o que demonstra nosso atraso tecnológico nesse setor.
Dificilmente os EUA retaliarão o Brasil pela decisão que for tomada. Diferente do Reino Unido e da Alemanha, o Brasil não participa de qualquer rede de inteligência e não tem acesso a informações privilegiadas dos EUA. Por outro lado, o Brasil poderá ser afetado, caso a China decida reorientar suas importações de produtos agrícolas nacionais.
Dada a importância da tecnológica 5G para economias emergentes, como a do Brasil, o governo não pode deixar de examinar essa questão do exclusivo ponto de vista do interesse nacional e com visão estratégica de médio e longo prazo. A aproximação com Trump e a visão ideológica não deveriam influir em uma decisão que afetará o futuro do país.
A disputa EUA-China colocará o Brasil em outros dilemas no futuro e a melhor atitude seria, desde o início, manter uma posição de equidistância das duas superpotências e colocar os interesses brasileiros em primeiro lugar.

Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE)

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

“Percursos Diplomáticos” com o emb. Sérgio Duarte: IRBr, 23/11, 15hs

“Percursos Diplomáticos” com o embaixador Sérgio de Queiroz Duarte
O Instituto Rio Branco (IRBr), a Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) e o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) têm o prazer de convidar para uma nova apresentação na série “Percursos Diplomáticos”, com o embaixador Sérgio de Queiroz Duarte, no dia 23 de novembro, às 15h, no Auditório Araújo Castro, do IRBr.

O embaixador Duarte ocupou importantes cargos na diplomacia brasileira e no sistema da ONU, em especial nos temas das tecnologias sensíveis, do desarmamento e da não-proliferação nuclear.

domingo, 11 de maio de 2014

Brasil recua no acesso a tecnologia - World Economic Forum

Noticia já passada, mas extremamente relevante para ser aqui registrada.
Não me preocupa tanto o atraso material em si, pois isso pode ser recuperado em questão de meses, desde que as políticas corretas sejam aplicadas, ou as medidas certas (de infraestrutura, por exemplo) sejam tomadas.
O que me preocupa é o atraso mental dos dirigentes e das elites, que nos levou a esse atraso.
Isso sim é terrivelmente preocupante.
Paulo Roberto de Almeida 

País cai para 69º em ranking de acesso à tecnologia

Brasil perde nove posições em lista com 148 nações, segundo relatório divulgado pelo Fórum Econômico Mundial
O Brasil caiu para 69º — nove posições abaixo do resultado de 2013 — num ranking global de 148 países, que mede a capacidade de uma nação usar a tecnologia da informação para estimular a competitividade e o bem-estar. O dado consta do Relatório Global sobre Tecnologia da Informação 2014, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial em parceria com a escola de negócios Insead, e divulgado ontem.
No topo do ranking estão Finlândia, Cingapura, Suécia, Holanda, Noruega e Suíça. Entre os dez primeiros, Estados Unidos (7º), Hong Kong (8º) e Coreia do Sul (10º) avançaram. Já o Reino Unido (9º) caiu.
Se a leitura tiver como foco a América Latina, o Chile é o país mais bem colocado, em 35º lugar, apesar de ter perdido uma posição na comparação com 2013. Antes do Brasil, vêm ainda Porto Rico (41º), Panamá (43º), Costa Rica (53º) e Colômbia (63º). Entre os Brics, a Rússia (50ª) tem o melhor desempenho. A China vem na 62ª posição; a Índia, na 83ª.
O relatório mostra que há pouco progresso no esforço para superar a distância digital entre as nações mais conectadas e o resto do mundo. Essa estagnação é preocupante sobretudo em países emergentes. Essas nações, diz o estudo, correm o risco de não conseguirem se beneficiar do impacto positivo que as tecnologias da informação podem trazer. Avanços em inovação, competitividade econômica e inclusão social estão entre eles.
Na América Latina, avalia o relatório, o desafio continua sendo melhorar a conexão digital. Uma das conclusões é que o sistema de apoio ao empreendedorismo e à inovação impede que os países da região consigam capitalizar investimentos em TI. E isso resulta em nova exclusão digital entre as nações que evoluem nos planos social e econômico e as demais.
O cálculo do índice que compõe o ranking leva em conta uma série de fatores ligados ao uso de TI, como custo de acesso; uso por governos, empresas e pessoas; ambiente de negócios e inovação; cenário político, impactos econômicos e sociais. Há resultados que pesam na posição do Brasil no ranking geral. O número de dias necessários para abrir um negócio, por exemplo, chega a 108, contra 19 no Chile ou 22 em México, Panamá e Porto Rico.
O estudo mostra que o aporte em tecnologia de informação, sozinho, não basta para garantir competitividade aos países. Para chegar lá, o caminho é investir ao mesmo tempo em inovação, empreendedorismo e infraestrutura.
Fonte: O Globo

domingo, 6 de abril de 2014

Brasil: destruindo a competencia militar

Triste quadro, que aparentemente não será revertido facilmente.
Mas a pergunta importante é esta aqui: existe alguma razão racional para que um mero técnico legislativo ganhe TRÊS VEZES mais do que um oficial especializado das FFAA?
Eu só vejo uma: o comportamento predatório, mandarinesco (no mau sentido da palavra) ou nababesco, de nossas elites políticas, que aliás não merecem esse substantivo. 
Paulo Roberto de Almeida 

Defesa

Forças Armadas perdem seus cérebros

Baixos salários e atraso tecnológico fazem com que 653 oficiais da elite militar do país pendurem as fardas

Lucas Souza
Veja.com, 6/04/2014
O ex-capitão Victor Dalton
O ex-capitão Victor Dalton (Cristiano Mariz/VEJA)
Aos quinze anos, o baiano Victor Dalton já tinha o desejo de seguir a carreira militar. Deixou a casa dos pais em Porto Seguro (BA) e viajou sozinho a Campinas (SP) para ingressar na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em 1999. Após uma passagem na Academia Militar das Agulhas Negras, foi aprovado no vestibular de engenharia da computação do Instituto Militar de Engenharia (IME), um dos mais difíceis do país. “Recebi uma promoção para o posto de capitão quando me formei. Sempre gostei do meu trabalho. Mas, depois que me casei, os gastos aumentaram e eu tive de dar um jeito na situação”, conta. Victor tinha onze anos de Exército, e pouco mais de um ano de casado, quando decidiu batalhar por outro emprego. Quando passou no concurso para ser analista legislativo na Câmara dos Deputados, seu salário triplicou, de pouco mais de 5.000 para 16.000 reais. 
A história do ex-capitão ilustra a fuga de cérebros que atinge as Forças Armadas brasileiras. Nos últimos três anos, outros 652 oficiais pediram baixa das três Forças. A debandada aumentou 63% de 2011 a 2013. Esse grupo inclui a elite militar do país, formada em centros de excelência, como o IME e o ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica). O número de engenheiros que deixaram a farda, por exemplo, cresceu 153% e chegou a 92 no ano passado. Só no primeiro mês deste ano, outros onze já abandonaram a carreira militar em busca de salários maiores na iniciativa privada e de uma ascensão profissional mais rápida. No total, restam pouco mais de 1.700 engenheiros entre os mais de 500.000 militares brasileiros.
Essa “deserção” tem impacto direto em grandes projetos no país com participação dos militares, seja porque nenhuma empreiteira se interessou ou porque as empresas contratadas não conseguiram cumprir o contrato. Obras como a construção da BR-163 (que liga o Pará ao Rio Grande do Sul) e a recuperação da BR-319 (do Amazonas a Rondônia), tocadas por batalhões de engenharia do Exército, foram paralisadas por problemas operacionais. A primeira apresentou “deficiência” no projeto de execução, enquanto a segunda teve falhas no estudo do impacto ambiental, de acordo com o Tribunal de Contas da União. 
Jefferson Coppola/VEJA

O ex-coronel da FAB Nehemias Lacerda
Uma das promessas da campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010, a transposição do Rio São Francisco tornou-se um verdadeiro vexame para a gestão petista e para os militares brasileiros. Até o projeto básico de um trecho sob responsabilidade do Exército, o da Bacia do Nordeste Setentrional, foi considerado deficiente pelo TCU. Para a realização de um projeto hidroviário no rio, o governo teve de contratar, em 2012, o Exército americano.
Outro fator de preocupação é a defesa cibernética brasileira. Embora um centro militar de estudos no setor tenha sido criado em 2012, o país permanece frágil perante os ataques. Apenas no ano passado, os sites da Polícia Federal, Senado, IBGE, Ministério dos Esportes, Cultura e Cidades foram atacados e deixados momentaneamente fora do ar. O próprio ministro da Defesa, Celso Amorim, chegou a ressaltar a dificuldade de manter profissionais dentro das Forças. “Precisamos ter formação de pessoal e garantir que eles continuem trabalhando para nós. Frequentemente se ouve sobre alguém que era muito bom e foi trabalhar em uma multinacional”, afirmou em novembro.
A questão salarial é, de fato, um dos motivos que levam a essa fuga. Em 2000, um capitão da Marinha ganhava o equivalente a dezoito salários mínimos. Hoje, o poder de compra caiu pela metade. Enquanto isso, a revolução tecnológica e o fenômeno das start-ups também atraem os profissionais mais qualificados para a iniciativa privada. “Conforme eu crescia na hierarquia militar, passei a receber atribuições administrativas. Mas a minha vocação era trabalhar como pesquisador”, conta o ex-coronel da FAB Nehemias Lacerda. Formado em engenharia pelo ITA, depois de trinta anos na Aeronáutica ele decidiu abrir sua própria empresa. Na carteira de clientes em busca de soluções de engenharia estão Embraer, Vale, Votorantim e multinacionais como General Motors, Ford e Philips.
A competição entre a carreira militar e a iniciativa privada é uma guerra desigual, com enorme vantagem para o campo adversário das Forças Armadas. Neste ano, o Ministério da Defesa foi o que sofreu o maior corte entre as pastas. O orçamento caiu de 4,5 bilhões em 2013 para 3,5 bilhões de reais neste ano. A perspectiva de grandes inovações vindas dos militares é tão distante quanto as suas principais realizações – como a primeira transmissão de telégrafo no país, em 1851, na Escola Militar do Rio de Janeiro.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Israel: um pais sitiado... pela alta tecnologia


ISRAEL: DESTAQUE EM ALTA TECNOLOGIA!
Jorge Castro
Clarín, 12/01/2014

O rápido crescimento da plataforma global de computação ("cloud computing", a nuvem"), nos últimos cinco anos, revelado pelo boom dos telefones celulares (smartphones), mudou a natureza da indústria de alta tecnologia e concedeu a seus núcleos decisivos - entre eles, Israel – um poderio qualitativamente superior.  A estrutura de custos da indústria de alta tecnologia (high tech) cai 20% / 30% por ano e no horizonte da "nuvem", isso pode chegar a quase zero (0%). 
     
O surgimento da "nuvem" significa para Israel ter deixado para trás sua condição de inovador primário ("nação start-up"), dotado de uma extraordinária capacidade de criação de novos negócios, mas geralmente de curta duração, prontas para serem compradas por grandes empresas dos EUA (Apple, Cisco, Google, Intel, HP). Atualmente tornou-se um gerador de empresas próprias de projeção global, o que coloca Tel Aviv no mesmo patamar, apenas um pouco menor do que o Vale do Silício.
     
Israel investe 4,3% do PIB no desenvolvimento científico e tecnológico (I & D), o dobro da média da OCDE (1,8%) e os investimentos estrangeiros de alta tecnologia alcançaram 11 bilhões de dólares nos últimos 10 anos, duas vezes o obtido pela Índia, e metade do investido pela China, e todas as grandes empresas de alta tecnologia dos EUA levaram laboratórios de pesquisa e desenvolvimento para o território de Israel.
      
A Indústria israelense de alta tecnologia é focada em telecomunicações, principalmente em aplicações móveis, e sua especialização principal é tecnologia ligada à segurança da comunicação (segurança cibernética). Todo este complexo, incluindo a "Unidade 8200", mudou-se agora para o deserto de Negev, com eixo na Universidade de Beersheba, perto de Eilat, no Mar Vermelho.
     
O objetivo é fazer com que Israel se transforme em líder da segurança cibernética do mundo, abrangendo nesse papel de vanguarda as indústrias adjacentes. Na política internacional do século XXI, o poder não depende de território, população, arsenais militares ou produto bruto. Israel também é um ator global, somente com 8 milhões de pessoas, mas que lidera uma das principais correntes do século.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Inovacao tecnologica no Brasil: estagnando ou recuando - estudo do Ipea

INOVAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
IPEA (05/12/2013) – NOTA TÉCNICA SOBRE INOVAÇÃO

NOTA TÉCNICA ABORDA DESEMPENHO DO BRASIL EM INOVAÇÃO. 
A CRISE INTERNACIONAL, INICIADA EM 2008, SERIA UMA DAS RESPONSÁVEIS PELA ESTAGNAÇÃO DOS INDICADORES DE INOVAÇÃO. 

O Ipea publicou nota técnica com análise preliminar dos principais resultados da última edição da Pesquisa de Inovação (PINTEC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com a Nota Técnica Análise dos dados da PINTEC 2011, considerando apenas o setor industrial, a pesquisa mostra que, após um crescimento sistemático da taxa de inovação nas quatro edições anteriores (de 31,52% para 38,11%), houve uma queda para 35,56% no período 2009-2011. 
No que diz respeito aos indicadores de investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), os dados apontam gastos que representam 0,59% do PIB. O resultado revela uma estagnação na comparação com 2008 (0,58%). A paralização nos indicadores de inovação no Brasil está relacionada, em grande parte, à crise internacional iniciada em 2008, mas também a uma conjuntura desfavorável e a características do próprio setor produtivo brasileiro. 
Destacam-se aí, a estrutura produtiva especializada em segmentos de menor intensidade tecnológica, a baixa escala de produção das empresas brasileiras e a existência de poucas companhias de capital nacional em segmentos mais intensivos em tecnologia. 
O documento chama a atenção para o fato de que setores intensivos em tecnologia estão perdendo espaço na estrutura produtiva do país. O esforço tecnológico aumentou nos últimos anos nos segmentos importantes da indústria, mas a participação deles na economia diminuiu. Isso explica porque o crescimento dos investimentos em P&D na indústria de transformação (de 0,75% do faturamento líquido, em 2008, para 0,83% em 2011) não se traduziu em ampliação na relação P&D/PIB. A pesquisa do IBGE trouxe ainda dados preocupantes sobre a carência de mão de obra qualificada na área de P&D. 
Segundo a diretora de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação do Instituto, a situação atual reflete a falta, no passado, de políticas públicas de incentivo a formação de profissionais.


domingo, 24 de março de 2013

Brasil: um anao tecnologico - Editorial Estadao

O editoral sequer cita a criação da Embrapii, anunciada com estardalhaço pelo governo, em mais uma demonstracao, junto com o Ciencia Sem Fronteiras, de que o ogro estatal continua torrando dinheiro inutilmente e acreditando que as solucoes estatais sao as unicas ou melhores para o pais. Continuaremos a nos arrastar penosamente em direcao ao futuro.
A unica garantia que temos desse governo é a de que a educação continuará a se deteriorar continuamente, aliás, à inagem e semelhança do próprio governo.
Paulo Roberto de Almeida

Brasil fica para trás em inovação
24 de março de 2013
Editorial O Estado de S.Paulo

Os países emergentes reduziram consideravelmente a distância que os separa das potências no que diz respeito à pesquisa e à inovação, áreas fundamentais para dar sustentação ao razoável desempenho econômico que essas nações tiveram nos últimos anos. O Brasil apresentou alguns avanços, como mostra um levantamento da empresa de informação Thomson Reuters, mas o perfil do País indica atraso em áreas essenciais, como engenharia, química e física. Para os autores da pesquisa, essa deficiência pode significar uma limitação importante para o desenvolvimento econômico no futuro. O problema é o de sempre: o investimento em inovação, tanto público quanto privado, é baixo e direcionado apenas para certas áreas do conhecimento, normalmente ligadas à natureza, negligenciando setores que possibilitariam um salto estrutural importante, como tecnologia e ciências físicas.

O levantamento da Thomson Reuters mostra que, há 40 anos, dois terços das pesquisas publicadas se originavam de países do G-7, o grupo dos sete países mais desenvolvidos do mundo. Hoje, o G-7 responde por menos da metade. O quadro mudou graças ao crescimento acelerado das pesquisas em cinco países emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e Coreia do Sul.

Para os padrões europeus e da OCDE, o investimento em pesquisas, num país desenvolvido, deve ser de algo em torno de 2% do PIB. Com exceção da Coreia do Sul, que investe mais até do que a Alemanha, os países emergentes citados no estudo ainda não estão nesse patamar, mas seus autores salientam que não é apenas uma questão de dinheiro - isto é, não basta construir laboratórios ou pagar bons salários aos pesquisadores. O importante é que o sistema educacional desses países seja transformado para criar uma geração intelectualmente preparada para esse desafio, e isso leva tempo e requer políticas de Estado firmes e contínuas. Alguns emergentes já tomaram essa providência há algum tempo, e o caso sul-coreano é o mais notável, enquanto outros patinam, como o Brasil, a Índia e a Rússia.

A dependência de investimento público para a inovação também é uma importante diferença entre Brasil e Coreia do Sul. Enquanto a indústria brasileira banca menos da metade dos recursos destinados à pesquisa, o setor privado sul-coreano responde por quase 75%. O estudo considera "anormalmente baixo" o aporte privado para a inovação no Brasil e atribui esse fenômeno à oferta oficial de incentivos fiscais para a indústria. Ou seja, o setor privado fica à espera de que o investimento seja feito pelo governo.

Além disso, a julgar pela produção científica registrada em revistas especializadas, o Brasil concentra suas pesquisas na área de ciências biológicas - ou, para usar um termo cunhado pelo estudo, "economia do conhecimento da natureza". Os demais emergentes também vão bem em biologia e em bioquímica, mas apresentam um cardápio bem mais variado de interesses e um pesado investimento em ciências físicas, voltadas para o desenvolvimento tecnológico, que o Brasil não prioriza. Em seus planejamentos quinquenais, a China já deixou claro que pretende passar de manufatureira a geradora de conhecimento - em 2010, 84% das patentes requeridas entre os emergentes eram chinesas e sul-coreanas. Desse modo, o futuro próximo indica um ambiente muito mais competitivo do que o atual.

No Brasil, contudo, observa-se uma errática política de incentivo à inovação em tecnologia, limitando-se a programas estatais - no último deles, o governo anunciou R$ 32,9 bilhões, até 2014, para financiar projetos. O estudo divulgado agora comprova que, entre os emergentes, há aqueles que investem de modo sistemático e permanente para mudar seu status global, tentando ombrear com as grandes potências em inovação, e há os que se querem "desenvolvidos" apenas pela força de belas palavras. Já passou da hora de decidir se o Brasil quer continuar a ser um mero emergente, escorando-se em assistencialismo voluntarista e no paternalismo estatal, ou se vai investir para ser uma verdadeira potência.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Um debate sobre inovacao: DARPA e "darpobras" - Mansueto Almeida, e outros (eu...)

Um debate muito relevante sobre inovação tecnológica e o papel das encomendas militares no caso dos EUA.
Estou ali no meio dos comentários...
Paulo Roberto de Almeida 

Lições de Inovação: Defense Advanced Research Projects Agency” (DARPA)
Mansueto Almeida
20/10/2012
Apesar de ser um país liberal com um discurso tradicional contra intervenção do Estado na economia, o que muitos não percebem é que, mesmo nos EUA, o governo tem uma importância fundamental no incentivo à inovação. E o melhor exemplo desse papel ativo do governo no fomento à inovação é uma agência criada pelo presidente Eisenhower, em 1958, em resposta ao lançamento do satélite soviético Sputnik, em 1957.
Essa agência se chama “Defense Advanced Research Projects Agency” (DARPA), uma agência do governo americano com um orçamento anual de US$ 3 bilhões – 0,5% do orçamento do Departamento de Defesa de US$ 651 bilhões, em 2009- que se destaca no financiamento de tecnologias novas para uso militar cuja aplicação transborda para uso comercial.
Escrevi recentemente uma nota técnica sobre o assunto a partir de um livro que que li sobre essa agência de fomento à inovação nos EUA. Há varias coisas interessantes no formato dessa agência (leiam a nota técnica anexa) e o Brasil poderia fazer algo semelhante. Essa agência tem as seguintes características: (1) não tem um corpo de funcionários permanentes, trabalha com pesquisadores recrutados por um contrato de três anos; (2) a agência fomenta redes de pesquisa para dar o ponta pé inicial no desenvolvimento de tecnologias novas, (3) há um casamento no desenvolvimento de tecnologias para uso militar e sua aplicação em uso comercial; (4) a agência aprende com suas experiências mal sucedidas – o fracasso é essencial no desenvolvimento de inovação radical.
Infelizmente, no caso do Brasil, não há nada remotamente semelhante a DARPA. Por exemplo, no nosso caso, o orçamento da defesa executado, em 2011, foi de R$ 61,2 bilhões, subdividido da seguinte forma: (1) R$ 17,5 bilhões com gasto de pessoal ativo; (2) R$ 29,1 bilhões com aposentados e pensionistas, (3) R$ 8 bilhões com custeio, e (4) R$ 6,5 bilhões com investimento.
Se no Brasil houvesse uma agência de inovação ligada ao orçamento das Forças Armadas nos moldes da DARPA dos EUA, essa agência teria um orçamento perto de R$ 300 milhões – 0,5% do orçamento da defesa. Um valor que seria muito pequeno. Na verdade, poderíamos ser muito mais audaciosos e pegar recursos do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI) e parte dos recursos que hoje mandamos para o BNDES para investir em inovação a fundo perdido.
No Brasil de hoje, quase metade dos recursos anuais dos Fundos Setoriais (orçamento anual perto de R$ 3 bilhões) não são executados e os contínuos empréstimos do Tesouro ao BNDES, apenas em 2011, tiveram um custo fiscal perto de R$ 23 bilhões.
O governo brasileiro poderia ser muito mais ousado na sua agenda de inovação sem precisar aumentar a despesa primária ou criar novos impostos. Bastaria redefinir o que é prioritário e encarar uma verdade simples – investimento em inovação deve ser feito a fundo perdido, por meio da formação de redes de pesquisa, inclusive com a participação de empresas privadas.
Mas isso por enquanto não é consensual. Por enquanto, muito acham que promover crescimento é dar crédito subsidiado para empresas que não precisam de subsídio para continuarem a fazer mais do mesmo. O que sempre escuto de pessoas, em geral arrogantes, é que: “O Brasil precisa promover empresas grandes para exportar mais e promover o crescimento sustentável”. Sinceramente, não é isso que o Brasil precisa.
O que o Brasil precisa é investir mais em educação, em todos os níveis de ensino, reduzir o papel do BNDES na oferta de recursos e gastar mais a fundo perdido com o fomento à inovação nos moldes da DARPA – com as melhores cabeças do país pensando em inovação. Não é fácil, mas esse é o desafio.

13 Respostas

  1. em 20/10/2012 às 19:27 | ComentarRodrigo Medeiros
    Mansueto,
    Você leu “Economics and World History: Myths and Paradoxes” (University Of Chicago Press, 1993), de Paul Bairoch? Pois bem, lá consta que os EUA foram a pátria mãe do protecionismo para o desgosto dos nossos (neo)liberais. O livro também discute como o protecionismo tem sido a norma e o liberalismo econômico o desvio na economia mundial.
    Cordialmente,
    • em 21/10/2012 às 5:13 | Comentarmansueto
      Não li esse livro. Mas o ponto que faço aqui é muito mais simples do que o debate protecionismo vs não protecionismo. Na verdade, meu ponto aqui é que mesmo em uma sociedade liberal, o fomento à inovação depende fortemente de recursos públicos como é o caso dos EUA.
  2. Como se sabe, todos os governos praticam intervenções em seus países. O livre mercado ou ingerência estatal mínima, só existe nos manuais de economia e livros de filosofia. Já que na prática é impossível que governos não intervenham, é desejável que essa se dê da maneira inteligente ou sensata, tal como fazem aí os EUA. No Brasil, infelizmente como vc bem pontuou, ainda não temos uma agência desse tipo mas temos a EMBRAPA, uma estatal muito bem sucedida, que elevou os níveis de produção de nossa agricultura a patamares de excelência mundial, e que agora, segundo li na Revista Exame, vai investir em parceria com a iniciativa privada em novas pesquisas para produção de uma semente de milho que seja extremamente resistente ao clima seco.
    Mas um dia chegaremos lá meu nobre Mansueto. Para isto basta apenas vontade política e uma mudança de mentalidade.
    acredito nisso
    • em 21/10/2012 às 5:18 | Comentarmansueto
      O caso da Embrapa e mesmo do complexo ITA-CTA-Embraer são bons exemplos. Gosto mais do caso da Embrapa pela característica de inovação que beneficia um grande numero de produtores.
      A Embrapa é uma instituição que tem algumas semelhanças com esse exemplo da DARPA que quis destacar. Trabalha com redes de pesquisa, aprende com os casos de fracasso e “faz apostas radicais”.
      Mas no caso da Embrapa a elite da pesquisa no setor foi trazida para dentro da Embrapa que faz a pesquisa. No caso da DARAP, os pesquisadores vieram por um período de tempo limitado para fazer apenas coordenar a pesquisa.
  3. em 20/10/2012 às 21:58 | ComentarHilario Muylaert
    Caro Mansueto,
    A propósito do desenvolvimento tecnológico americano, podemos dizer que a “Guerra Fria”, no período pós- 2ª guerra mundial, foi o seu principal fator motivador. O “chamado” complexo militar-industrial-acadêmico — em que participaram o MIT, Stanford, Harvard, Columbia, dentre outras, aliadas à GE, Boeing, ATT..etc, e a nata da elite (NASA……projeto guerra nas estrelas………..etc…..) militar americana — foi uma estratégia vencedora, que acabou por deixar “a nu” a extinta União Soviética.
    Num 2º momento, ou seja, como desdobramento, a estratégia previa a transferência das novas tecnologias para o mundo dos negócios privados, com fins civis e comerciais. Então, a internet, por exemplo, não surgiu de investimentos de pesquisas de mercado. Surgiu, sim, de orçamentos fiscais destinados à guerra, à expansão do imperialismo americano.
    Assim, como as tecnologias de ponta que atualmente dispomos (celular, fibras óticas, satélites…etc… ) são oriundas de investimentos públicos para fins militares.
    Em suma, o domínio americano da tecnologia militar e comercial foi alcançado dada uma estratégia de governo, e financiada com recursos públicos.
    Interessante seu artigo, Mansueto, pois abre uma janela para desmistificarmos a lenda americana do livre mercado. Particularmente aos liberais ortodoxos que pouco abordam a economia política, e a história econômica.
    Um abraço
    Hilario Muylaert
    • em 21/10/2012 às 5:24 | Comentarmansueto
      Caro Hilário,
      não sei se o meu artigo desmistifica a lenda americana do livro mercado. O meu ponto é algo mais simples: inovação nos EUA está ligado sim ao complexo militar-industrial-acadêmico como você bem colocou.
      Mesmo a literatura sobre o Vale do Silício mostra como os contratos militares forma importantes para a pesquisa e para a formação de novas empresas na região ao longo de todo o século XX.
      Não quero dizer com isso é claro que o Brasil precisa entrar em guerras para fomentar inovação. O que quero destacar é a estrutura organizacional de fomento a inovação vai DARPA, uma agencia que trabalha na formação de redes de pesquisa e com flexibilidade para apostar em tecnologias radicais e o uso de recursos a fundo perdido.
      Acho que neste campo há lições para nós. Abs,
  4. Não gosto da falta de recursos com que os militares lidam hoje, mas gosto menos ainda de ver os incentivos à inovação no Brasil serem liderados por um modelo militar-bélico à la Estados Unidos. O tamanho do gasto de pesquisa deles nas áreas militar (incomparável com qualquer outro país do mundo até então – China tem aumentado essa despesa também) é reflexo também da “inclinação” do país para se envolver em conflitos armados e efetuar gastos militares.
    Não ignoro a importância, mas preferiria ver um investimento mais próximo do que o MITI representou para o Japão na descentralização dos incentivos à inovação e de programas como o norte-americano SBIR que financia (a fundo perdido, claro) projetos de pesquisa com vistas à desenvolvimento em através de um modelo de seleção competitiva (tipo edital) e tem resultados animadores. No Brasil a iniciativa já foi copiada pela FAPESP (programa PIPE), mas a diferença de escala ainda é brutal, uma vez que lá esse é um programa Federal e aqui se limita a um Estado.
    Acho interessante ver o quanto a inovação (e a educação em grande medida) vem sendo negligenciada nas políticas públicas e é bom ver a blogosfera repercutir isso em bom nível, mas, ainda assim, não acredito que o ‘modelo DARPA/DoD’ seria uma boa opção para o Brasil.
    • em 21/10/2012 às 5:37 | Comentarmansueto
      Mas nunca o nosso incentivo à inovação será liderado por um modelo militar bélico como no caso dos EUA. Talvez eu tenha passado a falsa impressão que estava defendendo esse tipo de modelo militar-bélico.
      O ponto é que no Brasil, o fomento à inovação baseia-se fortemente na concessão de crédito subsidiado via FINEP e os mecanismos de subvenção à inovação são para vários projetos desconexos e pulverizados.
      O que acho interessante no caso DARPA/DoD é a organização institucional da inovação: (1) se pega os melhores pesquisadores de cada tema e os convidam para coordenar ou participar de uma rede de pesquisa; (2) a ideia é mostrar para militares e setor privado que o desenvolvimento de uma nova tecnologia é possível, (3) os projetos surgem de um simples rascunho de um desses pesquisadores, que têm profundo conhecimento da área de pesquisa que atuam; (4) há vários fracassos (com aprendizado) para se chegar a um caso de sucesso, etc.
      No Brasil, as nossas políticas de fomento à inovação, com exceção da Embrapa, não envolvem nada disso. Como falo na p10-11 da nota técnica:
      “Há no setor público brasileiro um grupo de pesquisadores de reconhecida competência na sua área de atuação que definem em quais tecnologias o país vai apostar? No caso do Brasil, há esse fluxo constante de migração de pesquisadores de empresas privadas, academia, e centros de pesquisa para uma agência pública de fomento à inovação e vice-versa? Em outra palavras, é possível falar que o sistema de promoção de CT&I no Brasil está inserido em um sistema nacional de inovação como parece ser o caso da DARPA nos EUA? Os gestores públicos têm flexibilidade de tomar a decisão do que financiar a fundo perdido? Há no caso brasileiro nos projetos apoiados pela FINEP e MCTI a dinâmica de avaliação e aprendizado a partir de casos de fracasso no desenvolvimento de novas tecnologias?”
      Assim, não o desafio não é repetir o complexo de pesquisa militar bélico dos EUA mas aprender com a organização institucional de uma instituição que por mais de 50 anos parece funcionar bem. E mesmo esse aprendizado será limitado, pois aqui não temos a excelência da rede de pesquisa das universidades que existe por lá.
      • Nesse sentido eu concordo, mas não consigo pensar numa instituição no Brasil que tenha a competência que tem o DARPA para liderar um projeto desse tamanho. Alguns colegas do MCT estão cada vez mais desestimulados com o aparelhamento da estrutura e a relativa falta de rumo do ministério.
        Inovação é uma agenda parada no Brasil, infelizmente. Acho que o modelo pode servir de inspiração sim, mas os obstáculos são muitos, uma vez que os Estados dificilmente conseguirão recursos com o vulto necessário para impactar essa realidade, além do problema de perdas já mencionado por conta da pulverização das políticas.
        Vale lembrar que mesmo em São Paulo, só o custeio do Ensino Superior estadual, leva algo em torno de 10% da cota parte do ICMS. É uma parcela muito grande do orçamento para uma esfera relativamente pequena (se comparada ao ensino médio, por exemplo) e ter que elevar a mais via políticas de inovação se torna algo proibitivo.
        É bom ver você propor essa discussão por aqui, mas é triste não conseguir enxergar eco dessas preocupações no governo federal.
  5. Discordo da maior parte dos argumentos aqui apresentados, inclusive da visao do Mansueto, mas nao tenho tempo ou condicoes de desenvolver os meus agora. Apenas ouso dizer que as pessoas confundem orcamento militar voltado para aplicacoes especificas com o processo de inovacao que permeia TODA a sociedade americana e confundem a superestrutura desses gastos do Pentagono (em grande medida inuteis e perdularios) com a “infraestrutura” da boa formacao educacional, que na verdade comeca com a professorinha de aldeia. O Pentagono nao poderia fazer absolutamente NADA se ja nao encontrasse na sociedade americana pessoas preparadas (engenheiros, fisicos, tecnologos em geral) para desenvolver ideias, e isso nao comeca e nao termina com ele. O Pentagono e’ apenas a ponta, alias deformada, de um imenso iceberg de inovacao.
    Isso nao tem NADA a ver com liberalismo, protecionismo, neoliberalismo e outras bobagens, totalmente desconectadas dos fundamentos do “modo inventivo de producao” em vigor nos EUA, que tem a ver com estimulos adequados que vem em primeiro lugar da propria sociedade, nao do Estado.
    Um dia desenvolverei estes pontos.
    Paulo Roberto de Almeida 
    • em 21/10/2012 às 6:04 | Comentarmansueto
      Na verdade, até entendo o seu ponto de vista. Mas o meu ponto, como já falei nos outrso comentários acima, não é defender que precisamos aumentar gastos com defesa ou mesmo subordinar a politica de fomento a CT&I ao complexo militar.
      É fato que inovação é algo que está no DNA dos EUA e não tem paralelo em nenhum outro país do mundo. Mas grande parte da agenda de inovação dos EUA está historicamente ligada ao esforço de pesquisa militar , mesmo o caso do Vale do Silício.
      A formação do Vale do Silicio (que na verdade só passa a ser chamado por esse nome a partir de 1973) foi muito dependente de contratos com o DoD e do esforço de inovação de um grupo de acadêmicos que participaram de um grupo de pesquisa financiado pelo governo americano na segunda guerra mundial, entre os quais, o famoso diretor da escola de engenharia de Stanford, Frederick Terman.
      Dito isso, não acredito que precisamos fomentar o complexo bélico para inovar e uma agência como a DARPA teria dificuldades de funcionar no Brasil justamente pelos pontos que você apontou: nosso sistema educacional é ruim e não dá para inovar com um sistema educacional que não funciona e com empresas que estão protegidas da livre concorrência.
      Da mesma forma, o exemplo da DARPA não tem absolutamente nada a ver com o debate protecionismo versus liberalismo. O que acho importante do aprendizado aqui é a forma que essa instituição funciona: (1) os melhores pesquisadores de cada tema são convidados para coordenar ou participar de uma rede de pesquisa; (2) o setor público atua apenas na fase inicial do desenvolvimento de uma nova tecnologia para sensibilizar setor privado (e militar no caso dos EUA), (3) os projetos surgem de um simples rascunho de um desses pesquisadores, que têm profundo conhecimento da área de pesquisa que atuam; (4) há vários fracassos (com aprendizado) para se chegar a um caso de sucesso, etc.
      No Brasil, independentemente da qualidade da nossa educação, já utilizamos recursos públicos para fomentar inovação e acho que os resultados são pífios e quem tem a palavra muitas vezes sobre o que será financiado são burocratas que não participam de pesquisa. E acho também que a organização institucional dos órgãos de fomento à inovação não tem paralelo com o tipo de organização institutional que se encontra na DARPA.
      Assim, o meu ponto é muito mais destacar a “organização institucional” de uma agencia voltada para o fomento à inovação. Vou deixar isso mais claro na revisão na nota técnica. Abs,
      Mansueto Almeida
      • em 21/10/2012 às 11:33Rodrigo Medeiros
        Este debate é muito importante! Desculpem-me pela insistência, mas o protecionismo integra parte relevante desse imbróglio da inovação. Vejamos um caso recente e que virou matéria da revista The Economist:
        Penso ser ingênuo acreditar que se pode fazer inovação em larga escala sem alguma forma de protecionismo. Afinal, o que não seria estratégico para os EUA? O Brasil não tem condições de bancar essa posição por diversos motivos e a regulação ruim das atividades econômicas entre nós aponta para esse quadro de dificuldades de se regular adequadamente os gigantes transnacionais.
        Dica de leitura sobre o dual complexo industrial-militar dos EUA: “The Closed World: Computers and the Politics of Discourse in Cold War America” (The MIT Press, 1996), de Paul N. Edwards.
        Cordialmente,