Estou ali no meio dos comentários...
Paulo Roberto de Almeida
Lições de Inovação: Defense Advanced Research Projects Agency” (DARPA)
Mansueto Almeida
20/10/2012
Apesar de ser um país liberal com um discurso tradicional contra intervenção do Estado na economia, o que muitos não percebem é que, mesmo nos EUA, o governo tem uma importância fundamental no incentivo à inovação. E o melhor exemplo desse papel ativo do governo no fomento à inovação é uma agência criada pelo presidente Eisenhower, em 1958, em resposta ao lançamento do satélite soviético Sputnik, em 1957.
Essa agência se chama “Defense Advanced Research Projects Agency” (DARPA), uma agência do governo americano com um orçamento anual de US$ 3 bilhões – 0,5% do orçamento do Departamento de Defesa de US$ 651 bilhões, em 2009- que se destaca no financiamento de tecnologias novas para uso militar cuja aplicação transborda para uso comercial.
Escrevi recentemente uma nota técnica sobre o assunto a partir de um livro que que li sobre essa agência de fomento à inovação nos EUA. Há varias coisas interessantes no formato dessa agência (leiam a nota técnica anexa) e o Brasil poderia fazer algo semelhante. Essa agência tem as seguintes características: (1) não tem um corpo de funcionários permanentes, trabalha com pesquisadores recrutados por um contrato de três anos; (2) a agência fomenta redes de pesquisa para dar o ponta pé inicial no desenvolvimento de tecnologias novas, (3) há um casamento no desenvolvimento de tecnologias para uso militar e sua aplicação em uso comercial; (4) a agência aprende com suas experiências mal sucedidas – o fracasso é essencial no desenvolvimento de inovação radical.
Infelizmente, no caso do Brasil, não há nada remotamente semelhante a DARPA. Por exemplo, no nosso caso, o orçamento da defesa executado, em 2011, foi de R$ 61,2 bilhões, subdividido da seguinte forma: (1) R$ 17,5 bilhões com gasto de pessoal ativo; (2) R$ 29,1 bilhões com aposentados e pensionistas, (3) R$ 8 bilhões com custeio, e (4) R$ 6,5 bilhões com investimento.
Se no Brasil houvesse uma agência de inovação ligada ao orçamento das Forças Armadas nos moldes da DARPA dos EUA, essa agência teria um orçamento perto de R$ 300 milhões – 0,5% do orçamento da defesa. Um valor que seria muito pequeno. Na verdade, poderíamos ser muito mais audaciosos e pegar recursos do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI) e parte dos recursos que hoje mandamos para o BNDES para investir em inovação a fundo perdido.
No Brasil de hoje, quase metade dos recursos anuais dos Fundos Setoriais (orçamento anual perto de R$ 3 bilhões) não são executados e os contínuos empréstimos do Tesouro ao BNDES, apenas em 2011, tiveram um custo fiscal perto de R$ 23 bilhões.
O governo brasileiro poderia ser muito mais ousado na sua agenda de inovação sem precisar aumentar a despesa primária ou criar novos impostos. Bastaria redefinir o que é prioritário e encarar uma verdade simples – investimento em inovação deve ser feito a fundo perdido, por meio da formação de redes de pesquisa, inclusive com a participação de empresas privadas.
Mas isso por enquanto não é consensual. Por enquanto, muito acham que promover crescimento é dar crédito subsidiado para empresas que não precisam de subsídio para continuarem a fazer mais do mesmo. O que sempre escuto de pessoas, em geral arrogantes, é que: “O Brasil precisa promover empresas grandes para exportar mais e promover o crescimento sustentável”. Sinceramente, não é isso que o Brasil precisa.
O que o Brasil precisa é investir mais em educação, em todos os níveis de ensino, reduzir o papel do BNDES na oferta de recursos e gastar mais a fundo perdido com o fomento à inovação nos moldes da DARPA – com as melhores cabeças do país pensando em inovação. Não é fácil, mas esse é o desafio.
Mas um dia chegaremos lá meu nobre Mansueto. Para isto basta apenas vontade política e uma mudança de mentalidade.
Assim, como as tecnologias de ponta que atualmente dispomos (celular, fibras óticas, satélites…etc… ) são oriundas de investimentos públicos para fins militares.
Hilario Muylaert
Isso nao tem NADA a ver com liberalismo, protecionismo, neoliberalismo e outras bobagens, totalmente desconectadas dos fundamentos do “modo inventivo de producao” em vigor nos EUA, que tem a ver com estimulos adequados que vem em primeiro lugar da propria sociedade, nao do Estado.
Um dia desenvolverei estes pontos.