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sábado, 2 de janeiro de 2016

Recordar (2014) e' viver: o que "elles" prometiam entre os dois turnos

Permito-me postar novamente aqui comentários que fiz em resposta a "argumentos" feitos em defesa da candidata que ganhou no segundo turno de outubro de 2014, apenas para constatar o que se prometia, e comparar com o que efetivamente ocorreu.
Os argumentos vão em tipo regular, os meus comentários em negrito.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 2 de janeiro de 2016



Paulo Roberto de Almeida

Encontrei, num dos inúmeros sites que trabalham apaixonadamente pela causa companheira, uma postagem em defesa do voto na candidata do continuísmo, cuja introdução enaltece as qualidades daquele que foi Secretário-Geral do Itamaraty nos primeiros sete anos do governo Lula (deixando o governo para continuar servindo o regime em outras posição). Nela ele é chamado de “maior diplomata brasileiro”, o que pode até ser verdade – pelo menos nesse regime – mas não tenho condições de corroborar essa afirmação comparativamente: deve ter outros que concorrem à mesma distinção (ver a introdução neste link: http://www.ocafezinho.com/2014/10/15/maior-diplomata-brasileiro-enumera-razoes-para-votar-em-dilma/).
Mas isso não vem muito ao caso agora, pois logo após esse panegírico inaugural, vem transcrita uma lista, elaborada pelo dito maior diplomata brasileiro, contendo nada menos do que 31 razões que esse estupendo diplomata acredita que somente a sua candidata seria capaz de atender, para fazer do Brasil um país mais desenvolvidos, mais soberano, mais próspero, mais importante no mundo.
Como eu considero que a maior parte dessas razões são ridiculamente generalistas, ou seja, podem ser cumpridas por qualquer dirigente que tenha bom senso e uma boa equipe ministerial, vou separar, portanto, aquelas que não apresentam nenhuma “vinculação genética” com a candidata governista, daquelas que só ela, ou sua equipe partidária, seria capaz de perpetrar, e submetê-las, então a breves comentários de minha parte.
Ainda assim cabem observações sobre todas as supostas razões de sua lista. Resultou, dessa separação, que metade das razões são de propostas que poderiam ser cumpridas por QUALQUER presidente sensato, sendo que a outra metade, apresentada como contendo razões suscetíveis de serem preenchidas apenas pela candidata oficialista, demanda uma avaliação crítica, feita na lista B. Vejamos como se apresentaria a nova listagem dividida em duas partes, mas com seus números originais.

Lista A: obrigações ou propostas que QUALQUER presidente sensato seria capaz de cumprir (na redação dada pelo maior diplomata brasileiro), sobre as quais algumas pequenas coisas ainda podem ser ditas (por um diplomata menor):

01. para aumentar o emprego, que é a maior preocupação de cada brasileiro, com carteira assinada; [caberia registrar que empregos produtivos são geralmente criados pela iniciativa privada, uma vez que governos não criam riqueza, apenas distribuem a riqueza criada pela sociedade]

02. para controlar a inflação sem prejuízo do desenvolvimento; [parece que a candidata não foi muito feliz em nenhum dos dois objetivos: a inflação só fez elevar-se, em seu governo, passando inclusive do teto, e o crescimento desceu de elevador, para o subsolo do PIB]

03. para aumentar o salário mínimo de que depende a enorme maioria dos brasileiros; [salario mínimo costuma provocar desemprego, ou pelo menos diminuir a empregabilidade daquela fração da PEA que não possui qualificação técnica]

04. para garantir as conquistas dos trabalhadores em termos de horário, férias, licença maternidade, previdência social, aposentadoria; [meritório, mas os países mais regulados nesses aspectos podem igualmente apresentar alto desemprego se a produtividade não acompanha o nível de requerimentos legais]

06. para eliminar a pobreza e a indigência no Brasil; [bem, os companheiros vem tentando fazê-lo desde 2003 e não é seguro que consigam esse objetivo no horizonte previsível]

07. para reduzir cada vez mais a mortalidade infantil; [parece que isso já vem sendo feito desde o ancien régime, e vai continuar, em governos sensatos]

08. para aumentar a expectativa de vida de todos os brasileiros; [parece que esse processo não depende tanto de mandatos presidenciais, e sim de condições sistêmicas que vem ocorrendo naturalmente desde muito tempo; não pode portanto ser apresentado como favor governamental]

09. para eliminar o analfabetismo inclusive funcional; [se poderia começar pela própria candidata, que parece apresentar sérios problemas com as palavras]

10. para ampliar cada vez mais o número de vagas nas escolas técnicas e nas universidades; [que bom]

11. para fortalecer a cultura brasileira em todos os seus aspectos; [cultura patrocinada por burocratas costuma ser da pior espécie; por que não deixar a sociedade livre para se expressar espontaneamente?]

13. para reduzir a violência e o número de homicídios; [no ritmo atual, vai exigir um mandato de 100 anos... e contando]

18. para defender os direitos humanos de todos os brasileiros e combater toda a discriminação, preconceito e violência que tenha como origem a raça, a orientação sexual, o gênero, o nível de renda, a crença religiosa e a origem regional; [a mania de separar as pessoas por raça e todos os outros quesitos listados acaba criando uma sociedade fragmentada em direitos exclusivos de certas categorias, ao passo que o cidadão comum se sente desamparado]

19. para demarcar as terras indígenas e eliminar o desmatamento ilegal; [os indígenas já são os maiores latifundiários os país; os antropólogos politicamente corretos do partido companheiro e do governo idem pretende deixá-los eternamente numa redoma protetora?]

24. para construir mais ferrovias, mais rodovias, mais portos e aeroportos; [cabe continuar tentando, mas pela experiência acumulada até aqui em matéria de obras públicas, a fatura sempre vai ser três vezes maior do que o planejado, senão mais, e ainda tem os 3% do partido companheiro]

25. para expandir o transporte urbano público e gratuito; [só um dirigente maluco, ou que pretende repassar a conta para todos os brasileiros, inclusive os que não usam transporte público, poderia prometer uma irracionalidade econômica como o transporte gratuito]

26. para fazer a reforma agrária, fortalecer a agricultura familiar e expandir a produção e a exportação agrícola; [parece que os companheiros não gostam do agronegócio]

Lista B: obrigações ou propostas que o maior diplomata brasileiro acredita que só a sua candidata seria capaz de cumprir (na redação dada por ele), mas sobre as quais permanecem fundadas dúvidas (daí os comentários adicionais do diplomata menor, aqui DM: ):

05. para expandir o programa Minha Casa, Minha Vida que atende a aspiração fundamental da casa própria;
            DM: O programa constitui uma enorme propaganda governamental, com subsídios pouco transparentes, num esquema que diminui a capacidade dos mercados de ajustar a oferta da construção civil à demanda existente; só não ocorreu ainda uma bolha imobiliária porque o governo é incompetente até para licenciar o número de casas potencialmente no programa.

12. para dobrar o investimento público em ciência e tecnologia;
            DM: Impossível fazê-lo, a despeito das intenções; caberia, sim, aperfeiçoar o ambiente produtivo para estimular mais investimento privado em inovação.

14. para fazer a reforma política, com ampla participação popular, eliminar a influência do poder econômico e criar uma verdadeira democracia;
            DM: Quando alguém começa a falar em “verdadeira democracia” deve ser porque já tem problemas com a democracia sem adjetivos ou condições; a reforma política dos companheiros representaria uma deformação legal tendente a assegurar-lhes o reforço de sua hegemonia e monopólio sobre o poder.

15. para lutar de forma legal contra a corrupção, punindo tanto os corruptos como os corruptores;
            DM:  Deve ser uma grande piada!

16. para democratizar os meios de comunicação e garantir a possibilidade e a liberdade de expressão para todos os brasileiros;
            DM: A palavra “democratizar’, como no vocabulário orwelliano, significa exatamente o contrário; trata-se de uma velha obsessão companheira com o controle do que chamam de “mídia”.

17. para ampliar radicalmente as oportunidades de mulheres, negros e pobres em todas as esferas da sociedade e do Estado;
            DM: O que os companheiros mais fizeram foi fragmentar a sociedade em categorias especiais, criando várias tribos que reivindicam “direitos” específicos.

20. para reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil;
            DM: Outra tarefa impossível, ou muito difícil de ser feita pelo governo, por qualquer governo; normalmente, as regiões são adquirindo suas dinâmicas ricardianas e se desenvolvem naturalmente de acordo com processos únicos e exclusivos; a pretensão de moldar regiões e estruturas econômicas é própria de engenheiros sociais, ou de regimes autoritários vocacionados para o estatismo e o intervencionismo, duas doenças tipicamente companheiras.

21. para fortalecer a soberania do Brasil;
            DM: Pura retórica vazia, como sempre foi feita; na prática, os companheiros alienaram a soberania brasileira para regimes bolivarianos e em benefício de Cuba.

22. para promover a integração e a cooperação com os vizinhos da América do Sul e da África;
            DM: Qualquer governo poderia fazer isso, mas no caso dos companheiros virou uma tal de diplomacia míope orientada para o chamado Sul, uma obsessão geográfico-ideológica que consiste em andar com uma perna só.

23. para defender a paz, a auto determinação, a não intervenção, e a solução pacífica de controvérsias como os princípios fundamentais da ação internacional do Brasil;
            DM: Mais retórica vazia, que na prática não se aplica; intervenção nos assuntos internos de outros países é o mais foi praticado durante todos os anos de diplomacia companheira, a exemplo de Honduras, Paraguai e outros casos.

27. para alcançar a autonomia energética;
            DM: Objetivo ilusório; um país aberto ao comércio e aos investimentos vai diversificar sua matriz energética de maneira mais eficiente do que excesso de intervenção governamental no setor, como aliás ocorreu com etanol, com biodiesel, petróleo, gás, nuclear, todos eles em total desequilíbrio em relação aos dados do mercado atualmente; o Brasil exibe um custo da energia dos mais elevados.

28. para reconstruir a indústria brasileira;
            DM: Bem, até agora o que ocorreu foi uma destruição pouco reconstrutora; duvidoso que se consiga fazer coisa melhor; aqui existe apenas um artigo de fé.

29. para tornar o sistema tributário mais justo e menos concentrador de riqueza;
            DM: Mas, se era essa a intenção, por que nada se fez em 12 anos; nesse período, a carga fiscal aumentou 4 pontos do PIB e só uma quarta parte disso foi para as chamadas camadas mais modestas; o resto foi para quem já é rico.

30. para reduzir as taxas de juros e democratizar o credito;
            DM: Os juros estão mais altos agora do que no início do governo, e os consumidores muito mais endividados.

31. para realizar uma Olimpíada ainda melhor do que a Copa.
            DM: Deve ser outra piada...

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 18 de outubro de 2014.

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