O problema de ficar revirando velhas listas de trabalhos é que se (re)descobre coisas interessantes há muito esquecidas, e que eventualmente não tiveram divulgação suficiente.
O texto que segue abaixo é de 2009, e se trata de respostas livres a um questionário recebido de estudante universitária de uma federal, que pretendia seguir a carreira diplomática, e que portanto me enviou uma série de perguntas para fins de um trabalho acadêmico.
Como acredito que a maior parte das respostas permanece inteiramente válida, mesmo após seis anos de sua escrita, posto novamente, sem necessidade de indicar o questionador.
Deve interessar outros interessados na carreira, que porventura tenham interesse nos meus interesses pela carreira.
Muitos "interesses" não é mesmo?
Em todo caso, vou postar primeiramente as perguntas recebidas, depois minhas respostas.
Divirtam-se os que tiverem tempo e paciência para revisar a totalidade das respostas.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de janeiro de 2016
Msg de 24.04.2009:
Boa tarde!
Sou acadêmica da última
fase de graduação em administração na UFXX, e tenho interesse em seguir a
carreira diplomática.
Como trabalho da
disciplina de planejamento de carreira preciso fazer uma entrevista com
profissional da área que pretendo atuar.
Se houver
disponibilidade, eu tenho interesse que o entrevistado seja o sr., para tanto
solicito que responda as perguntas abaixo.
1. Como você se
sente por ter escolhido essa profissão (área de atuação)?
2. Como você
descreveria a sua profissão?
3. Qual sua formação
acadêmica? Você considera que ela foi fundamental para o sucesso profissional?
4. Quais as
principais dificuldades enfrentadas para conseguir passar no concurso?
5. Quando você
iniciou sua carreira você tinha definido alguns objetivos e metas de onde
queria chegar?
6. Como você integra
as diversas esferas de sua vida (trabalho, família, lazer, esporte, cursos,
etc.)? Está satisfeito?
7. Quais os períodos
de sua carreira que você mais gostou?
8. Quais os períodos
de sua carreira que você menos gostou?
9. Dentro da
perspectiva de sua carreira tem alguma coisa que você gostaria especialmente de
evitar?
10. Você tem
objetivo em longo prazo na sua carreira? Você tem uma visão de futuro
profissional?
11. Você se
considera realmente bom (boa) em quê? Quais são seus pontos fortes? E como você
aproveita seus pontos fortes no seu trabalho?
12. Quais são seus
pontos fracos?
13. O que você mais
deseja na sua carreira?
14. O que você pensa
que acontecerá à sua carreira nos próximos dez anos?
15. O que você
aconselharia para alguém que estivesse iniciando na mesma área?
=========
Agora as minhas respostas:
Carreira Diplomática:
respondendo a um questionário
Respostas a questões colocadas por:
(...)
graduanda em administração na UFXX.
1. Como você se sente por ter escolhido essa profissão (área de
atuação)?
PRA: Bastante bem: de certa forma, a profissão me
escolheu, pois que desde muito cedo comecei a viajar, primeiro pelo Brasil,
depois pela América do Sul e, finalmente, ao completar 21 anos, decidi estudar
na Europa, por meus próprios meios e obtendo meus próprios recursos. Foi uma
escolha que me preparou para uma vida nômade e aventureira e nunca me arrependi
de ter-me lançado ao mundo em fase ainda precoce e sem sequer ter terminado o
segundo ano da graduação. Como minha intenção era estudar fora do Brasil, pode-se
dizer que realizei meu intento. Quando regressei ao Brasil, depois de quase
sete anos na Europa, eu já estava preparado, digamos assim, para tornar-me
diplomata. Mas, antes, não tinha pensado: “tropecei” com a carreira, se ouso
dizer. Até então, eu só queria derrubar o governo militar.
2. Como você descreveria a sua profissão?
PRA: Uma burocracia de alto nível de qualificação
técnica com ampla abertura para as humanidades e o conhecimento especializado.
Trata-se, simplesmente, da mais intelectualizada carreira na burocracia
federal, combinando aspectos da carreira acadêmica, da pesquisa aplicada e da
elaboração de decisões em ambiente altamente competitivo, tanto interna, quanto
externamente. Uma elite, como se costuma dizer.
3. Qual sua formação acadêmica? Você considera que ela foi fundamental
para o sucesso profissional?
PRA: Ciências Sociais, ou humanidades, no sentido
lato, e acredito que ela foi fundamental no ingresso e sucesso na carreira
escolhida. Desde muito cedo inclinei-me para os estudos sociais, com forte
ênfase na história, na política e na economia, complementados por uma dedicação
similar a geografia, antropologia, línguas e cultura refinada, de uma maneira
geral. Sou basicamente um autodidata e creio que isso facilitou-me enormemente
o ingresso na carreira, pois quase não necessitei de muito estudo para os
exames de ingresso. Aliás, entre a decisão de fazer o concurso (direto, no meu
caso) e o ingresso efetivo, decorreram pouquíssimos meses (três).
4. Quais as principais dificuldades enfrentadas para conseguir passar
no concurso?
PRA: Direito e Inglês, posto que eu havia estudado
amplamente todas as demais matérias, mas não Direito, e todos os meus estudos
foram feitos em Francês, que eu dominava amplamente. Mas, meu Inglês era muito
elementar, servindo tão somente para leituras. Acho que passei raspando nessas
duas matérias, nas outras fui bem.
5. Quando você iniciou sua carreira você tinha definido alguns
objetivos e metas de onde queria chegar?
PRA: Não especialmente: nunca fui carreirista, no
sentido tradicional do termo, e não me preocupava em ser embaixador ou ocupar
qualquer posto de distinção. O que me seduzia era a profissão em si, a
mobilidade geográfica, o conhecimento de novos países, a possibilidade de estar
sempre aprendendo, estudando, viajando. Sou basicamente um estudioso, um
observador da realidade, um “compilador” de informações e análises e um
escritor improvisado. Todo o resto me é secundário.
6. Como você integra as diversas esferas de sua vida (trabalho,
família, lazer, esporte, cursos, etc.)? Está satisfeito?
PRA: Imenso sacrifício para consegui fazer tudo
aquilo que tenho vontade, pela simples razão que eu tenho vontade de ler tudo,
o tempo todo, em qualquer circunstância, assim como tenho vontade de viajar, de
participar de atividades acadêmicas e intelectuais, tendo ao mesmo tempo de me
desempenhar em funções atribuídas pela burocracia no meio de tudo isso. Ora, é
praticamente impossível conciliar tantas vontades, e ainda ser um marido perfeito,
um pai de família perfeito e outras coisas da vida social e relacional. Em
síntese, esses outros aspectos foram de certa forma sacrificados no empenho
pessoal em ler, estudar e escrever. Reconheço essas imperfeições, mas não se
pode ter tudo na vida: escolhas são inevitáveis, e as minhas estão do lado da
leitura, do saber e da escrita. São atividades nas quais eu me realizo
plenamente. Em outros termos, ninguém consegue integrar todos os seus
interesses perfeitamente, e algum aspecto (ou vários) acaba sempre sendo
sacrificado; no meu caso, são horas de sono, de lazer, de simples far niente, e também certa negligência
familiar, reconheço. Não pratico esportes, a não ser caminhadas moderadas, já
em idade madura. Pratico leituras, com alguma intensidade, eu diria
intensíssima, e sobretudo o gosto da escrita. No mais, sou um pouco eremita...
7. Quais os períodos de sua carreira que você mais gostou?
PRA: Todos, pois em todos e em cada um eu fiz
aquilo que mais gosto: viajar, muito, intensamente, ler, também intensamente,
escrever, observar, aprender, em toda e qualquer circunstância, mesmo em
situações difíceis de abastecimento, conforto, restrições monetárias ou outras.
Toda a minha carreira me trouxe algo de bom, mesmo em situações temporariamente
de sacrifício. Nunca deixei de fazer aquilo que mais gosto, e que já foi
descrito anteriormente.
8. Quais os períodos de sua carreira que você menos gostou?
PRA: Numa ou noutra situação, alguns postos
apresentam dificuldades materiais, desconfortos psicológicos, desafios
razoáveis: por pequenos momentos, chega-se a desejar voltar ao Brasil e
retornar à rotina burocrática do cerrado central, onde os atrativos são
menores, mas também as surpresas. De toda forma, sempre aproveitei os momentos
de dificuldade para refletir e escrever, como sempre, aliás.
9. Dentro da perspectiva de sua carreira tem alguma coisa que você
gostaria especialmente de evitar?
PRA: Sim, talvez eu devesse ter dedicado menos
atenção aos livros e mais às pessoas, mas essas são escolhas que fazemos
deliberadamente, por opções próprias, pensadas ou não. Quem tem a compulsão
pela leitura e pela escrita, não consegue acalmar-se a menos de satisfazer o
seu “vicio”, daí o sacrifício de outros aspectos da vida social que muita gente
valoriza em primeiro lugar. Por outro lado, nunca, na carreira, fui obrigado a
assumir obrigações que eu mesmo não desejasse assumir, como por exemplo
trabalhar em áreas para as quais eu não me sinto talhado nem tenho a mínima
vontade de experimentar: administração, por exemplo, ou cerimonial, ou talvez
ainda consular. São áreas nas quais eu provavelmente me sentiria infeliz, pois
o meu terreno natural são os estudos, de qualquer tipo: geográfico, político,
econômico, cultura, antropológico, no sentido amplo. Todas as áreas funcionais
de caráter geográfico, político ou sobretudo econômico me servem perfeitamente.
Aliás, nunca me pediram para trabalhar em áreas nas quais eu não gosto, e se me
pedissem eu não teria nenhuma hesitação em recusar, mesmo podendo incorrer em
alguma falta funcional ou ser sancionado por isto. Sou um pouco anarquista, e
não gosto de fazer o que me mandam e sim o que eu decido e gosto de fazer.
Por outro lado, jamais me pediram para escrever ou
dizer algo que violentasse minha consciência, e eu não hesitaria um segundo em
recusar-me terminantemente, como algumas vezes me recusei a defender
determinados pontos de vista, que não eram os meus. Por outro lado, jamais
enfrentei a obrigação de escrever naquele estilo clássico, ou chatérrimo, que é
o diplomatês habitual, cheio de adjetivos hipócritas e de pura formalidade
vazia: não tenho espírito, paciência nem disposição para esse tipo de
enrolação. Costumo escrever o que penso, sem qualquer concessão a formalismos.
Sobretudo, não costumo produzir bullshits,
muito freqüentes nesta profissão...
10. Você tem objetivo em longo prazo na sua carreira? Você tem uma
visão de futuro profissional?
PRA: Acredito que o diplomata deve servir antes à
Nação do que a governos, deve defender valores, e não se subordinar a teses
momentaneamente vitoriosas que por alguma eventualidade confrontem esses
valores. Já escrevi algo a esse respeito, e remeto a meu trabalho: “Dez Regras Modernas de Diplomacia” (Chicago,
22 jul. 2001; São Paulo-Miami-Washington 12 ago. 2001, 6 p., n. 800; ensaio
breve sobre novas regras da diplomacia; revista eletrônica Espaço Acadêmico, a. 1, n. 4, setembro de 2001; link: http://www.espacoacademico.com.br/004/04almeida.htm).
11. Você se considera realmente bom em quê? Quais são seus pontos
fortes? E como você aproveita seus pontos fortes no seu trabalho?
PRA: Creio que sou capaz de fazer análises
contextuais que envolvam conhecimento histórico, embasamento econômico e
situação política, ou seja, tenho instrumentos analíticos e amplos
conhecimentos que me permitem situar qualquer problema (ou quase) em um
contexto mais amplo, e daí extrair alguns elementos de informação para a
instrução de um processo decisório que tenha em conta o interesse nacional.
Toda a minha vida eu estudei o Brasil e o mundo, visando tornar o primeiro
melhor, num mundo que nem sempre é cooperativo. Registre-se que eu não pretendo
tornar o Brasil melhor para si mesmo, ou seja, uma grande potência ou qualquer
pretensão desse gênero, que encontro simplesmente ridícula. Eu pretendo tornar
o Brasil melhor para os brasileiros, ponto. Contento-me apenas com isso. Minha
perspectiva, a despeito de ser um funcionário de Estado, não é a do Estado. Não
pretendo trabalhar no Estado, para o Estado, com o Estado: minha perspectiva é
a dos indivíduos concretos, e meus objetivos são promover os indivíduos, se
preciso for contra o Estado. Não tenho nenhum culto ao Estado e nem pretendo
torná-lo maior ou mais poderoso, apenas mais eficiente para servir aos
indivíduos, não a si mesmo. Desespera-me essas pretensões nacionalistas
estatizantes, pois elas se fazem, em geral, em detrimento do bem-estar
individual da maior parte dos cidadãos.
Por outro lado, não me considero patriota, no
sentido corriqueiro do termo. Sou brasileiro por puro acidente geográfico, pois
poderia ter nascido em qualquer outro país ou em qualquer outra época, por puro
acaso. Gostaria de reiterar esse ponto, com toda a ênfase que me é permitida.
Não sou dado a patriotismos, nem a chauvinismos ultrapassados e ridículos. A
nacionalidade, repito, é um acidente geográfico, ou talvez seja a naturalidade,
da qual decorre a primeira. Parto do pressuposto da unidade fundamental e
universal da espécie humana. Sou brasileiro, como poderia ter sido esquimó,
hotentote ou pigmeu, e ninguém seria responsável por esses acasos demográficos,
nem mesmo meus pais, posto que ninguém “fabrica” uma pessoa com base em
especificações pré-determinadas. Somos em parte o resultado da herança genética
(em grande medida, talvez mais do que o indicado ou desejável, mas talvez não a
parte mais decisiva de nossas personalidades); em parte o resultado do meio
social e cultural no qual crescemos, e das influências que experimentamos
involuntariamente em diversas etapas formativas de nosso caráter; e em parte
ainda (o que espero mais substancial ou importante), somos o produto de nossa
própria formação ativa, dos estudos empreendidos e dos esforços que fazemos nós
mesmos para moldar nossas vidas, nosso estilo de comportamento e nossa maneira
de pensar, com base em escolhas e preferências que adotamos ao longo da vida.
Devemos sempre assumir responsabilidade pelo que somos, e jamais atribuir ao
meio ou a qualquer herança genética determinados traços que podem eventualmente
revelar-se menos funcionais para nosso desempenho profissional ou intelectual.
Meus pontos fortes, portanto, são minha capacidade
analítica, meus conhecimentos acumulados e meu devotamento à causa dos
indivíduos, não dos Estados, e sempre tento passar esses pontos à frente de
qualquer outra consideração. Não hesito em defender meus pontos de vista, mesmo
contra meus interesses imediatos, que poderiam recomendar uma acomodação com a
situação presente – a lei da inércia é uma das mais disseminadas na humanidade
– ou com autoridades de qualquer tipo. Não costumo fazer concessões a
autoridades apenas para obter vantagens pessoais, e acho essa atitude basicamente
correta (ainda que a um custo por vezes enorme no plano pessoal). Talvez seja
teimosia de minha parte, mas considero isso antes uma virtude, do que um
defeito. Enfim, tendo concepções fortes sobre determinados temas, me é muito
mais fácil preparar e expor posições do interesse do Brasil, com base em
conhecimentos previamente acumulados, o que me dispensa de longas pesquisas ou
buscas em arquivos.
12. Quais são seus pontos fracos?
PRA: Devo ter (e tenho) vários, sendo os mais
evidentes essa introversão habitual, essa preferência ao convívio com os
livros, mais do que a convivência com pessoas, uma certa arrogância intelectual
(que reconheço plenamente), derivada de leituras intensas e de uma imensa
acumulação de conhecimentos e informações – que em excesso podem ser
prejudiciais, dizem alguns – essa pretensão a saber mais do que os outros (o
que em parte é verdade, pela simples intensidade de leituras, mas os outros não
gostam que se lhes confronte os argumentos, obviamente). Por outro lado, não
tenho nenhum respeito pela hierarquia ou pela autoridade, o que muitos
consideram um defeito (mas não eu, dado meu anarquismo particular). Não sou de
respeitar o argumento da autoridade, mas apenas a autoridade do argumento, a
lógica impecável, e a decisão bem formulada, posto que empiricamente embasada,
tecnicamente sólida, com menor custo-oportunidade ou a melhor relação
custo-benefício. Enfim, sou um racionalista, e detesto impressionismos e
subjetivismos, o que é muito fácil de encontrar em quaisquer meios. Daí choques
inevitáveis com determinadas pessoas que pretendem mandar a partir de sua
vontade exclusiva, não de um estudo aprofundado de situação. Enfim, ser rebelde
assim deve ser um defeito...
13. O que você mais deseja na sua carreira?
PRA: Todos somos egocêntricos ou narcisistas em
certa medida. Todos queremos reconhecimento e prestígio, por mais que se diga o
contrário. Todos queremos ser elogiados e premiados (no meu caso não
monetariamente ou em qualquer aspecto material). Assim, desejo ser reconhecido
não necessariamente como um bom diplomata, mas simplesmente como um bom
cidadão, alguém que cumpre seus deveres e atua conscienciosamente em benefício
da maioria (que calha de ser o povo brasileiro, mas poderia ser qualquer outro,
pois como disse, eu me coloco do ponto de vista dos indivíduos, não do Estado).
Gostaria de ser reconhecido como estudioso, como esforçado e, sobretudo, como
alguém comprometido com o bem comum. Pode ser vaidade, mas é assim que vejo
minha carreira, que para mim não é uma simples carreira de Estado, mas sim uma
atividade que me coloca no centro (ou pelo menos numa das agências) do Estado,
ali colocado para servir a pessoas, não a instituições abstratas.
Gostaria que se dissesse de mim, em algum momento
futuro: foi um funcionário dedicado, foi um homem bom, esforçado, devotado ao
bem comum, sobretudo foi correto consigo mesmo e com todas as instâncias de
interação social ou profissional. Praticou a honestidade intelectual e se
esforçou para fazer do Brasil e do mundo lugares melhores do que aqueles que
encontrou em sua etapa inicial de vida.
14. O que você pensa que acontecerá à sua carreira nos próximos dez
anos?
PRA: Nada de muito relevante, posto que não sou
carreirista e não faço da carreira o centro de minhas preocupações intelectuais
ou sequer materiais. Estou na carreira diplomática, como poderia estar na
academia ou em alguma outra atividade que tenha a ver com o estudo, o esforço
intelectual, a análise e a elaboração de propostas. Sou basicamente um intelectual
e a carreira para mim é secundária. Provavelmente vou me aposentar nos próximos
dez anos, e aí dispor de todo o meu tempo livre para me dedicar àquilo de que
mais gosto: leitura, redação, um pouco de aulas e palestras, viagens, alguns
prazeres materiais (como a gastronomia, ou a gourmandise, por exemplo) e espero ter condições físicas de
continuar escrevendo, ensinando e colaborando com a elevação intelectual da
sociedade pelo maior tempo possível. Se me sobrar tempo gostaria de consertar
algumas coisas que encontro muito erradas no Brasil, como por exemplo: a
corrupção (generalizada em todas as esferas), a desonestidade intelectual nas
academias, a miséria material de grande parte da população (que decorre, em
minha opinião, de políticas erradas e do excesso de poderes conferidos ao
Estado), enfim, tudo aquilo que sabemos errado em nosso País.
15. O que você aconselharia para alguém que estivesse iniciando na
mesma área?
PRA: Seja estudioso, dedicado, honesto
intelectualmente, esforçado no trabalho, um pouco (mas apenas um pouco)
obediente, inovador, curioso, questionador – mas ostentando um ceticismo sadio,
não uma desconfiança doentia –, tente aprender com as adversidades, trate todo
mundo bem (e, para mim, da mesma forma, um porteiro e um presidente), não seja
preguiçoso (embora dormir seja sumamente agradável), cultive as pessoas, mais
do que os livros (o que eu mesmo não faço), seja amado e ame alguém, ou mais de
um... Enfim, seja um pouco rebelde, também, pois a humanidade só avança com
aqueles que contestam as situações estabelecidas, desafiam o status quo, tomam novos caminhos,
propõem novas soluções a velhos problemas (alguns novos também). No meio de
tudo isso, não se leve muito a sério, pois a vida é uma só – sim, sou
absolutamente irreligioso – e vale a pena se divertir um pouco. Tudo o que eu
falei ou escrevi acima, parece sério demais. Não se leve muito a sério, tenha
tempo de se divertir, de contentar a si mesmo e os que o cercam.
Brasília, 21 de maio
de 2009.
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