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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Quilombo da razao: continuando na resistencia intelectual - Paulo Roberto de Almeida


Um texto de 2010,  que reflete a atmisosfera da época, mas que é interessante rever hoje, para constatar o que mudou, para melhor, no ambiente intelectual brasileiro.
Naquela época, o chefe da máfia que tomou de assalto o Brasil dois mandatos antes, tinha acabado de eleger sua sucessora, e parecia gozar do status de um semi-deus -- ou seja, bem mais que o carisma -- com quatro quintos de aprovação popular e uma capacidade de continuar engabelando as pessoas como nunca antes vista no Brasil.
O texto reflete, portanto, os sentimentos de isolamento em face da maré triunfante, quando era necessário, exatamente, que os poucos resistentes, como o que aqui escrevia então, se organizassem em quilombos de resistência em face da agressividade dos vitoriosos.
Creio que a situação mudou bastante, já não vivemos mais em quilombos, e a maré se inverteu. Mais um pouco serão os companheiros que deverão se concentrar em suas fortalezas, pois a massa da população vai se voltar contra eles, cada vez mais.
Transcrevo novamente para que se tenha uma ideia, cinco anos depois, dos sentimentos predominantes entre os poucos resistentes à tropa de bárbaros.
Paulo Roberto de Almeida  

Quilombo de resistência intelectual

Paulo Roberto de Almeida
Blog Diplomatizzando

Em situações de quase completa unanimidade, torna-se difícil, praticamente impossível, manter uma posição dissidente, discordante da maioria. Somos olhados como pessoas estranhas, suspeitos de alguma arrogância intelectual ou de elitismo social, o que aos olhos da maioria aparece como um pecado capital.
No entanto, esparsos na comunidade, existem muitos outros indivíduos que também mantêm as mesmas reservas e restrições à ordem dominante, pessoas que se ressentem dos consensos impostos e que gostariam de contribuir para um ambiente de pluralidade e, sobretudo, de respeito à livre expressão de suas discordâncias e propostas alternativas.
É o momento, talvez, de se congregarem esforços na resistência intelectual, de agrupar as forças contrárias atualmente existentes naquele conjunto que foi chamado, em conformidade ao título desta nota, de quilombo, um espaço de racionalidade, de defesa da razão, de não conformismo ou de não conformidade com a aparente unanimidade (que pode ter sido construída por meios de instrumentos espúrios). Trata-se, como alertado, de um foco de resistência, de preservação da racionalidade em meio ao oceano de aprovação, de aparente contentamento com a situação existente, de falsas utopias e de soluções enganosas.
Um quilombo é isso: uma fuga da ditadura dominante, uma pequena ilha de liberdade nas trevas das paixões desatadas, uma centelha de esperança na libertação futura, a preservação da autonomia em momentos de opressão, mesmo virtual ou potencial. Todos os fascismos – e os socialismos não deixam de ser modalidades dessa grande espécie – requerem a unanimidade. O quilombo da razão recusa a unanimidade. Por enquanto é apenas isso...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 6.09.2010)

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