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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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segunda-feira, 11 de junho de 2018

Um Quilombo de resistencia intelectual - Paulo Roberto de Almeida


Em 2010, depois de alguns anos de travessia do deserto, e aproximando-ser mais um escrutínio eleitoral, durante o qual todas as mentiras seriam mobilizadas pelos mesmos mentirosos que ocupavam o poder desde o início da década, eu resolvi, parcialmente estimulado por meu amigo Vinicius Portela, criar um espaço de livre posicionamento, mais incisivo do que este meu blog habitual, considerado sempre um mero divertissement intelectual.
O blog deveria ser mais combativo no afrontamento às ideias perversas, deliberadamente mentirosas, e também deveria representar, como o nome indicava, um bastião de resistência aos descaminhos que eu observava desde o início do governo celerado dos companheiros, que eu tinha certeza de que iria destruir o país (como de fato ocorreu, embora um pouco mais tarde).
Por diferentes razões, inclusive e principalmente por falta de tempo, o blog não foi continuado, mas algumas postagens iniciais evidenciavam seu propósito e seu comprometimento.
Reproduzo aqui algumas poucas postagens desse fase inicial, e final...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de junho de 2018


Minha visao sobre o Quilombo da Razao - Paulo R Almeida

Quilombo de resistência intelectual
Paulo Roberto de Almeida (6.09.2010)

Em situações de quase completa unanimidade, torna-se difícil, praticamente impossível, manter uma posição dissidente, discordante da maioria. Somos olhados como pessoas estranhas, suspeitos de alguma arrogância intelectual ou de elitismo social, o que aos olhos da maioria aparece como um pecado capital.
No entanto, esparsos na comunidade, existem muitos outros indivíduos que também mantêm as mesmas reservas e restrições à ordem dominante, pessoas que se ressentem dos consensos impostos e que gostariam de contribuir para um ambiente de pluralidade e, sobretudo, de respeito à livre expressão de suas discordâncias e propostas alternativas. 
É o momento, talvez, de se congregarem esforços na resistência intelectual, de agrupar as forças contrárias atualmente existentes naquele conjunto que foi chamado, em conformidade ao título desta nota, de quilombo, um espaço de racionalidade, de defesa da razão, de não conformismo ou de não conformidade com a aparente unanimidade (que pode ter sido construída por meios de instrumentos espúrios). Trata-se, como alertado, de um foco de resistência, de preservação da racionalidade em meio ao oceano de aprovação, de aparente contentamento com a situação existente, de falsas utopias e de soluções enganosas. 
Um quilombo é isso: uma fuga da ditadura dominante, uma pequena ilha de liberdade nas trevas das paixões desatadas, uma centelha de esperança na libertação futura, a preservação da autonomia em momentos de opressão, mesmo virtual ou potencial. Todos os fascismos – e os socialismos não deixam de ser modalidades dessa grande espécie – requerem a unanimidade. O quilombo da razão recusa a unanimidade. Por enquanto é apenas isso...

Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 6.09.2010)

PS.: A ideia do Quilombo da Razão é inteiramente devida ao amigo Vinicius Portella, mas desde o início concordei com o projeto e me coloquei à disposição para colaborar. Pretendo elaborar, oportunamente, o que poderia servir de "carta de princípios" do "QR".

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Existem momentos na vida de uma nação...

...em que ocorre aos mais lúcidos a nítida noção de que a vaca foi para o brejo...
Desculpem a expressão corriqueira, mas eu queria me referir a algo mais profundo, um processo histórico de dimensões toynbeeanas...
Bem, talvez não seja para tanto, tanto porque não conformamos, exatamente, uma "civilização" no sentido pleno da expressão.
Mas a sensação é a mesma se vocês querem saber.

São momentos em que...

1. O sentimento de mal-estar se torna generalizado na sociedade, ainda que possa ser difuso.
2. Os avanços econômicos são lentos, ou menores, em relação a outros povos e sociedades.
3. Os progressos sociais são igualmente lentos ou repartidos de maneira desigual.
4. A lei passa a não ser mais respeitada pelos cidadãos ou pelos próprios agentes públicos.
5. As elites se tornam autocentradas, focadas exclusivamente no seu benefício próprio.
6. A corrupção é disseminada nos diversos canais de intermediação dos intercâmbios sociais.
7. Há uma desafeição pelas causas nacionais, com ascensão de corporatismos e particularismos.
8. A cultura da integração na corrente nacional é substituída por reivindicações exclusivistas.
9. A geração corrente não se preocupa com a seguinte, nos planos fiscal, ambiental ou outros.
10. Ocorre a degradação moral ou ética nos costumes, a despeito mesmo de “avanços” materiais.


OK, fiz essa pequena seleção a partir de um trabalho mais amplo que redigi em 2007, sem no entanto me referir uma única vez ao Brasil.
Mas é claro que eu pensava obsessivamente no Brasil.
Estas são as referências de meu trabalho, para quem desejar lê-lo:

Pequeno manual prático da decadência (recomendável em caráter preventivo...)
Brasília, 31 janeiro 2007, 11 p.
Digressões sobre formas e modalidades de declínio econômico e social, sem qualquer referência ao Brasil.
Colaboração a número especial sobre “O Brasil que saiu das urnas”, da revista Digesto Econômico, revista da Associação Comercial de São Paulo (ano 62, n. 441, jan-fev 2007, p. 38-47; ISSN: 0101-4218; disponível na Revista Espaço Acadêmico (ano 6, n. 71, abril 2007).
Feita versão resumida em 14.04.07, para o boletim Via Política (15.04.2007).
Lista de originais: 1717.
Paulo Roberto de Almeida

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Uma colaboração bem vinda, do amigo Vinicius Portela, em meu "quilombo". 



Algumas palavras sobre o Quilombo da Razão

Um quilombo é, por excelência, um lugar de inconformados. Este não é exceção. À época da escravidão, muitos escravos fugidos reuniam-se em lugares que lhes permitiam livrarem-se do jugo de seus senhores e dos maus tratos a que estavam submetidos. Não se conformavam àquela ordem e lutaram para escapar de sua esfera. Para esses locais dirigiam-se não só negros, mas brancos, índios, mestiços que também não se enquadravam na ordem vigente. Dada a atual flexibilidade quanto à "autodeclaração de coisas sobre si próprio incontestavelmente  verdadeiras ", quanto à criação de quilombos ou de outros entes sem lastro histórico ou real, resolvi também arriscar um novo significado ao termo "quilombola". Defini-o da seguinte maneira: "sujeito refugiado no quilombo da razão a resistir aos assaltos dos irracionalismos". Meu amigo Paulo Roberto de Almeida, para quem eu escrevera tais palavras, julgou a expressão "quilombo da razão" boa como metáfora, mas  deficiente como prática ao pensar que ela implicava uma atitude defensiva e renunciadora do bom combate de ideias. Em esclarecimento,   afirmei-lhe: "Nada de renúncias e se assim pareceu complemento: nosso quilombo da razão é apenas uma posição fortificada, uma base de operações para incursões contra os irracionalismos, seja lá a cor que tiverem". E foi com esse espirito que, enfim, resolvemos empreender este quilombo. Um local a salvo do politicamente correto, esse "moralismo descolado" que nos tem sido posto goela abaixo e que busca intimidar e sufocar qualquer crítica pelas mais diversas "condenações". Daqui partiremos em muitas incursões. Como dizia Goya: "o sono da razão produz monstros". Não esqueçamos disto. 

Vinícius Portella 

Porto Alegre, 11 set 2010.

domingo, 3 de setembro de 2017

Diplomatizzando: um quilombo de resistencia intelectual: 18 mil postagens, 5 milhoes de visualizacoes

Este blog, que é apenas o de maior constância e longevidade entre dez outros que iniciei, mantive ou administrei (alguns a título temporário), já tem mais de dez anos de existência, e, se as estatísticas de postagens são confiáveis, já elaborei 17.844 postagens de todos os tipos, sendo 17.790 publicadas (e 54 ainda em formato de rascunho).
Segundo outras estatísticas de visualização, minhas postagens já perfizeram 5 milhões e 650 mil visualizações, sendo que o blog é seguido por exatamente 777 pessoas (mas creio que sua disseminação alcança uma audiência maior, em função das ferramentas de comunicação social, como Twitter e Facebook).
Uma consulta às estatísticas de acesso revela que minha principal audiência se encontra mesmo no Brasil, com mais de três milhões de visitantes, mas outros países também comparecem em número significativo:
EntryPageviews
Brazil
3.018.786
United States
821.289
Germany
676.975
Russia
180.191
France
104.986
China
72.041
Portugal
51.186
Ukraine
47.445
United Kingdom
27.549
India
23.981
 
Esta imagem confirma o crescimento constante dos acessos, em diminuição relativa no período recente devido a uma maior utilização de um concorrente: o Facebook: 

O público universitário brasileiro predomina, sem qualquer dúvida, o que é aliás confirmado pela natureza das postagens mais vistas.
 
Pode-se dizer, portanto, que em termos exclusivamente volumétricos, ele representa um sucesso relativo, para um blogueiro totalmente isolado, trabalhando em perfeita autonomia, sem obedecer a qualquer outro critério de postagem que não minhas próprias preferências intelectuais. Sou totalmente independente, e não peço licença a ninguém para postar coisas que me interessam, mas tampouco remeto sistematicamente a qualquer lista de recipiendários as postagens que aqui efetuo.
Como diria um cantor anarquista francês, Leo Ferré, "Ni Dieu, ni maître".

Mas isto não é o mais importante, que considero ser a função educativa, ou didática, deste blog.
Como indicado em seu cabeçalho, ele pretende ser: 
"Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org."

Resumindo, o blog se ocupa de: 
"Temas de relações internacionais e de política externa do Brasil, políticas econômicas, viagens, livros, cultura em geral."

Ou seja, um blog puramente informativo, uma espécie de "gabinete de curiosidades", nos temas que mais mobilizam minha atenção, e eles são muitos, como confirmado acima.
Durante algum tempo, porém, que coincidiu com o regime companheiro no Brasil (2003-2016), este blog se converteu -- não apenas ele, mas principalmente ele -- em uma espécie de quilombo de resistência intelectual, contra o que me pareceu ser um "assalto de bárbaros" contra a democracia e as instituições no país, por um grupo organizado de militantes políticos animados das piores intenções com respeito à construção de um país livre (de influências externas), democrático (no sentido mais formal e completo da palavra, sem qualquer adjetivo), dotado de uma economia de mercado aberta às iniciativas privadas e à interdependência global e propenso a valorizar a responsabilidade individual, contra qualquer espírito coletivista mesquinho e intelectualmente medíocre, como era o dos companheiros.
O fato de resistir ao assalto dos "bárbaros" às instituições democráticas do Brasil trouxe-me um imenso desgaste profissional e funcional, com um isolamento administrativo durante todo o período companheiro, numa espécie de longa travessia do deserto, na qual todavia persisti, não apenas para ficar em paz com minha própria consciência, como também para lutar contra o rebaixamento de padrões e contra a mediocridade intelectual na qual o país viveu nesse grande período.

Pretendo reunir os meus mais significativos exemplos de resistência intelectual à barbárie companheira -- nem todos aqui postados, et pour cause -- e fazer um balanço desses anos duros, nos quais estive praticamente isolado na minha atitude de desafio à indigência política, à corrupção nos costumes, à fraude acadêmica, quando não à delinquência pura e simples.

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 3 de setembro de 2017

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Quilombo da razao: continuando na resistencia intelectual - Paulo Roberto de Almeida


Um texto de 2010,  que reflete a atmisosfera da época, mas que é interessante rever hoje, para constatar o que mudou, para melhor, no ambiente intelectual brasileiro.
Naquela época, o chefe da máfia que tomou de assalto o Brasil dois mandatos antes, tinha acabado de eleger sua sucessora, e parecia gozar do status de um semi-deus -- ou seja, bem mais que o carisma -- com quatro quintos de aprovação popular e uma capacidade de continuar engabelando as pessoas como nunca antes vista no Brasil.
O texto reflete, portanto, os sentimentos de isolamento em face da maré triunfante, quando era necessário, exatamente, que os poucos resistentes, como o que aqui escrevia então, se organizassem em quilombos de resistência em face da agressividade dos vitoriosos.
Creio que a situação mudou bastante, já não vivemos mais em quilombos, e a maré se inverteu. Mais um pouco serão os companheiros que deverão se concentrar em suas fortalezas, pois a massa da população vai se voltar contra eles, cada vez mais.
Transcrevo novamente para que se tenha uma ideia, cinco anos depois, dos sentimentos predominantes entre os poucos resistentes à tropa de bárbaros.
Paulo Roberto de Almeida  

Quilombo de resistência intelectual

Paulo Roberto de Almeida
Blog Diplomatizzando

Em situações de quase completa unanimidade, torna-se difícil, praticamente impossível, manter uma posição dissidente, discordante da maioria. Somos olhados como pessoas estranhas, suspeitos de alguma arrogância intelectual ou de elitismo social, o que aos olhos da maioria aparece como um pecado capital.
No entanto, esparsos na comunidade, existem muitos outros indivíduos que também mantêm as mesmas reservas e restrições à ordem dominante, pessoas que se ressentem dos consensos impostos e que gostariam de contribuir para um ambiente de pluralidade e, sobretudo, de respeito à livre expressão de suas discordâncias e propostas alternativas.
É o momento, talvez, de se congregarem esforços na resistência intelectual, de agrupar as forças contrárias atualmente existentes naquele conjunto que foi chamado, em conformidade ao título desta nota, de quilombo, um espaço de racionalidade, de defesa da razão, de não conformismo ou de não conformidade com a aparente unanimidade (que pode ter sido construída por meios de instrumentos espúrios). Trata-se, como alertado, de um foco de resistência, de preservação da racionalidade em meio ao oceano de aprovação, de aparente contentamento com a situação existente, de falsas utopias e de soluções enganosas.
Um quilombo é isso: uma fuga da ditadura dominante, uma pequena ilha de liberdade nas trevas das paixões desatadas, uma centelha de esperança na libertação futura, a preservação da autonomia em momentos de opressão, mesmo virtual ou potencial. Todos os fascismos – e os socialismos não deixam de ser modalidades dessa grande espécie – requerem a unanimidade. O quilombo da razão recusa a unanimidade. Por enquanto é apenas isso...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 6.09.2010)

domingo, 20 de setembro de 2015

O Diplomatizzando vai hibernar (temporariamente): aviso aos leitores e navegantes

O "quilombo de resistência intelectual" entra em férias...
(na verdade, um quilombo da razão, mas solitário, individual, sem recursos)

 Mais ou menos isso, ou não exatamente isso. Esta pequena aldeia de resistência aos invasores -- sim, considero os alienígenas do sistema político brasileiro que atualmente ocupam o poder como um punhado de invasores bárbaros de nossa institucionalidade, como os hunos e vândalos de outras épocas -- se vê obrigada a diminuir seu ritmo pelas razões que exponho abaixo.

Em respeito ao (aparentemente) grande número de "membros" (assim diz a coluna da direita) deste blog Diplomatizzando (mas não acredito que todos eles sejam leitores constantes) e às 728 pessoas (e organizações?, não sei, talvez o FSB, a CIA e o Mossad também) que me mantêm em seus "círculos" (como o Google+ designa essas vinculações unilaterais e aleatórias), gostaria de registrar, antecipadamente, que este distinto blog, que se mantém impávido desde meados de 2006 aproximadamente (mas ele teve várias encarnações anteriores, desde 2004 pelo menos, como registro na mesma coluna da direita, e nada a ver com orientações ideológicas, e sim com a organização do blog), gostaria de registrar, dizia eu, e de anunciar previamente que, tchan, tchan, tchan...

o Diplomatizzando vai hibernar por uns tempos...

Pois é, a despeito do seu relativo sucesso, com quase 4 milhões de acessos ao longo do período, como revelado nas estatísticas abaixo,


Pageviews today
:    1,251
Pageviews yesterday:   
1,838
Pageviews last month:   
73,607
Pageviews all time history
:   3,909,987

o que significa mais ou menos, 35 mil acessos por mês, ou mais de mil acessos por dia (mas temos de descontar todos os acessos automáticos, e compulsórios, dos instrumentos de busca, e dos ditos serviços de informação, FSB, CIA, Mossad, e outros, que também são filhos de Deus e fazem o seu trabalho direitinho, menos a ABIN, que deveria ser fechada, por inoperante, ineficaz e castrada),  e entendo que esse sucesso relativo se deva à variedade de matérias aqui postadas, como se pode também depreender da amostra abaixo (de várias épocas, embora a maior parte recente):


Entry
Pageviews
218
98
87
83
79
77
75
74
72
69

Ou seja, nenhum, a rigor, tem a ver com o outro, cada um se destina a um público diferente, e não há especialização nas postagens, a não ser uma, ou duas: a matéria precisa trazer algo de relevante, ou seja, o que está no debate público no momento, e representar um ponto de vista inteligente. Mesmo quando eu coloco uma matéria estúpida -- e tem muito disso também -- a intenção é a de manter um debate inteligente sobre problemas reais da nossa época e do nosso país (o mundo entra de rabeira).

Mas, a despeito de uma interação razoável com o público leitor -- o que constato pelas mensagens enviadas e pelas retransmissões via Google+, além de muitos acessos não identificados -- eu vou ter de diminuir o ritmo de postagens, e isto por uma razão muito simples: preciso parar de ficar no computador para começar a arrumar a imensa bagunça em que estão meus livros, papéis e outros objetos, num escritório em que nem mais entro, pois tem livro espalhado por todo canto. Vou ter de começar a arrumar todo esse caos, para preparar a mudança, em mais ou menos um mês, e a volta ao Brasil, e tudo isso vai exigir um triste e infeliz afastamento dos meios de comunicação e de informação.

Digo isto tendo consciência de minha própria relutância em deixar de lado, ainda que temporariamente, o que eu próprio chamei de "quilombo de resistência intelectual" ao que considero ser um verdadeiro afundamento do Brasil pelos companheiros mafiosos, uma obra de Grande Destruição que não encontra paralelos em nossa história. Tivemos vários presidentes incompetentes em nossa história -- e Goulart certamente foi um deles, e acredito que ele caiu mais por ser um completo inepto do que por "comunista" ou amigo de esquerdistas -- e alguns francamente fraudulentos -- o que foi objeto de impeachment certamente se enquadra -- mas não me lembro de nenhum empreendimento tão vasto de destruição do país por uma organização criminosa.
Vou continuar minha obra de denúncia, de esclarecimento, de debate público, mas a um ritmo diminuído a partir de agora.
Nunca deixarei de expor o que penso e o que sinto a respeito dos problemas do país, à margem e independentemente de quaisquer outras conveniências funcionais, burocráticas ou administrativas. Posso ser qualquer coisa no mundo profissional, mas como cidadão ninguém conseguirá me fazer deixar de pensar e de expressar o que penso, e o que tenho a dizer sobre essas questões.
Esta é a função deste espaço de liberdade, de informação e de reflexão (em qualquer ordem que se queira arrumar essas noções), e esta é a minha intenção intelectual, um pequeno espaço sem grande importância na vastidão dos meios de informação e de comunicação, mas que cumpre o seu papel: ser o vetor de resistência ao empreendimento bárbaro a que estamos submetidos temporariamente.

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 20 de setembro de 2015

domingo, 5 de setembro de 2010

Quilombo de resistência intelectual

Quilombo de resistência intelectual
Paulo Roberto de Almeida

Em situações de quase completa unanimidade, torna-se difícil, praticamente impossível, manter uma posição dissidente, discordante da maioria. Somos olhados como pessoas estranhas, suspeitos de alguma arrogância intelectual ou de elitismo social, o que aos olhos da maioria aparece como um pecado capital.
No entanto, esparsos na comunidade, existem muitos outros indivíduos que também mantêm as mesmas reservas e restrições à ordem dominante, pessoas que se ressentem dos consensos impostos e que gostariam de contribuir para um ambiente de pluralidade e, sobretudo, de respeito à livre expressão de suas discordâncias e propostas alternativas.
É o momento, talvez, de se congregarem esforços na resistência intelectual, de agrupar as forças contrárias atualmente existentes naquele conjunto que foi chamado, em conformidade ao título desta nota, de quilombo, um espaço de racionalidade, de defesa da razão, de não conformismo ou de não conformidade com a aparente unanimidade (que pode ter sido construída por meios de instrumentos espúrios). Trata-se, como alertado, de um foco de resistência, de preservação da racionalidade em meio ao oceano de aprovação, de aparente contentamento com a situação existente, de falsas utopias e de soluções enganosas.
Um quilombo é isso: uma fuga da ditadura dominante, uma pequena ilha de liberdade nas trevas das paixões desatadas, uma centelha de esperança na libertação futura, a preservação da autonomia em momentos de opressão, mesmo virtual ou potencial. Todos os fascismos – e os socialismos não deixam de ser modalidades dessa grande espécie – requerem a unanimidade. O quilombo da razão recusa a unanimidade. Por enquanto é apenas isso...

Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 6.09.2010)

PS.: Devo a ideia do quilombo da razão a meu amigo Vinicius Portella.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Quilombo da Razao contra o Marxismo Mediocre e Embrutecedor

Meu amigo Vinicius Pereira Portella, partilhando minhas preocupações com a mediocrização crescente do ensino brasileiro, criou o Quilombo da Razão, um espaço de resistência contra os ataques à racionalidade. Já fiz um post saudando sua inauguração, e sou o primeiro "refugiado" -- ou melhor, guerrilheiro -- desse quilombo que promete lutar contra todos os irracionalismos existentes no sistema educacional brasileiro.
Atenção: não estou falando da escola pública de primeiro grau, sequer das escolas de segundo grau em geral, onde a mediocridade impera há muito tempo, para desespero daqueles que gostariam de ver a qualidade da educação melhorar no Brasil progressivamente, e não recuar, como ocorre hoje.
Estou falando do ensino que se constuma chamar superior, mas que hoje mereceria o título de inferior, especialmente nas faculdades de humanidades das universidades públicas.
Há muito tempo que já comprei uma briga contra esses medíocres professores de marxismo esterilizado, uma mistura insossa do que possa haver de mais anacrônico no velho bolchevismo redivivo, no neostalinismo imorredouro, nos sectarismos de tribos trostquistas perdidas no século 21, enfim, todos esses órfãos do socialismo esclerosado e do comunismo surrealista.
Atenção: não combato esses marquissistas de opereta porque eles teriam a pretensão de ser marxistas acadêmicos, o que eu também já fui e ainda conservo minhas ferramentas do ofício. Eu os combato porque eles são medíocres, apenas isso, e praticam uma religião embolorada, cheirando a naftalina ideológica, ou mais simplesmente porque eles são inacreditavelmente ruins na sua defesa mal construída de uma crença que não fez o seu aggiornamento.
Isso começou lá atrás, em 2005, quando escrevi um texto chamado:

A cultura da esquerda: Sete pecados dialéticos que atrapalham seu desenvolvimento
Espaço Acadêmico (ano 5, n. 47, abril 2005).

Creio que a acusação de serem irracionais deve ter chocado os mais sensíveis, que imediatamente vestiram a carapuça; um deles tentou me responder, pretendendo fazer uma "réplica", mas de forma tão... medíocre, que não tive dificuldade alguma em desmantelar o "interlocutor" em questão, daí resultando este meu outro texto:

Um intercâmbio acadêmico: a cultura da esquerda em questão
Espaço Acadêmico (ano 5, n. 49, junnho 2005).

Acho que o pessoal se acalmou um pouco, ou então me colocaram na categoria de "inimigo de classe" (seja lá o que isso queira dizer) e me esqueceram.
Até que eu fui provocá-los novamente. Elaborei uma resenha sobre um livro medíocre dessa tropa de religiosos nostálgicos, e eles se desesperaram:

Marxistas totalmente contornáveis
[Resenha de Jorge Nóvoa (org.): Incontornável Marx (Salvador/São Paulo: Unesp/UFBA, 2007, 407 p.)]
Espaço Acadêmico (ano 7, n. 84, maio 2008).

Reparem que eu não escrevi que Marx era contornável, apenas que os pretensos "marquissistas" que escreveram sobre o próprio eram muito ruins; eu recomendava então aplicar o dinheiro em uma ou duas pizzas, o que seria melhor do que comprar um livro indigesto.
Para que?!! Eles se sentiram profundamente magoados, e montaram um pelotão de fuzilamento que só não passou à ação porque eu estava longe do alcance de suas armas enferrujadas. Ao tomar conhecimento da troca de mensagens entre os membros da tribo em risco de extinção, redigi, preventivamente um texto humorístico-corrosivo, que foi publicado como:

Manifesto Comunista, ou quase...: dedicado a “marquissistas” à beira de um ataque de nervos (a propósito de uma simples resenha)
Espaço Acadêmico (ano 8, n. 85, junho de 2008). Via Política (08.06.2008).

Bem mais tarde, praticamente poucos dias atrás, é que vim a tomar conhecimento de que um dos autores daqueles textos medíocres sobre o marquissismos de pacotilha havia tomado o cuidado, e um imenso trabalho, ao que pude julgar, de responder à minha resenha. Quase que escrevo ao autor em questão para agradecer, sinceramente, pela atenção dada à minha pequena resenha, da qual largos extratos eram citados no seu "trabalho" -- enfim, a coisa que deveria servir de réplica -- mas achei que a mediocridade do debate não valia sequer mais uma linha minha.

Não pretendo voltar a esse debate, que só me veio à mente, hoje, ao ler o texto que segue abaixo de um jornalista que se auto-intitula filósofo (o que para mim já é uma espécie de empulhação). Ele toca em questões reais, mas de modo muito superficial e sem aquela lógica de raciocínio que deveria caracterizar os filósofos. Enfim, acho que vocês podem se divertir um pouco.
Quanto a mim, vou continuar no Quilombo da Razão, fazendo algumas incursões ocasionais em campo inimigo para combater os irracionalismos contemporâneos, dos quais os "marquissistas" de opereta se constituem em legítimos representantes.
Por que o faço?
Não por alguma compulsão pessoal. Apenas sinto pena de todos os estudantes que me escrevem para dizer que "o professor pediu um trabalho para demonstrar esta ou aquela perversidade do capitalismo", o que para mim não é apenas tortura mental, mas uma verdadeira campanha de embrutecimento deliberado.
Bem, fico por aqui hoje.
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 8.06.2010)

Sem esperança
LUIZ FELIPE PONDÉ
Folha de S.Paulo, 7.06.2010

Pergunto-me por que não proíbem professores de pregar o marxismo e toda a bobagem de luta de classes

RESPONDO ASSIM, de bate-pronto, a um aluno: "Não, não tenho nenhum ideal". Silêncio. Talvez um pouco de mal-estar. Todos ali esperavam uma resposta diferente porque todo mundo legal tem um ideal.
Eu não tenho. É assim? Confesso, não sou legal, nem quero ser. Duvido de quem é legal e que tem um ideal. Esperança? Tampouco. E suspeito de quem queira me dar uma.
De novo respondo assim, de bate-pronto, a outro aluno: "Não, não quero mudar o mundo, nem mudar o homem, muito menos a mulher, a mulher, então, está perfeita como é, se mudar, atrapalha, gosto dela assim, carente, instável, infernal, de batom vermelho e de saia justa".
Mentira, esta última parte eu acrescentei agora, mas devia ter dito isso também. Outro silêncio. Talvez, de novo, um pouco de mal-estar. Espero que falhem todas as tentativas de mudar o homem.
Não saio para jantar com gente que quer mudar o mundo e que tem ideais. Prefiro as que perdem a hora no dia que decidiram salvar o mundo ou as que trocam seus ideais por um carro novo. Ou as que choram todo dia à noite na cama.
Tenho amigos que padecem desse vício de ter ideais e quererem salvar o mundo, mas você sabe como são essas coisas, amigo é amigo, e a gente deve aceitar como ele (ou ela) é, ou não é amizade.
Perguntam-me, estupefatos: "Mas você é professor, filósofo, escritor, intelectual, colunista da Folha, como pode não ter ideal algum ou não querer mudar o mundo?".
Penso um minuto e respondo: "Acordo de manhã e fico feliz porque sou isso tudo, gosto do que faço, espero poder fazer o que faço até o dia da minha morte".
Perguntam-me, de novo, mais estupefatos: "Mas você está envolvido no debate público! Pra quê, se você não quer mudar o mundo?".
Sou obrigado a pensar de novo, outro minuto (afinal, são perguntas difíceis), e respondo: "Participo do debate público pra atrapalhar a vida de quem quer mudar o mundo ou de quem tem ideais".
Os intelectuais e os professores pegaram uma mania de ser pregadores, e isso é uma lástima. Inclusive porque são pessoas que leem pouco e que são muito vaidosas, e da vaidade nunca sai coisa que preste (com exceção da mulher, para quem a vaidade é como uma segunda pele, que lhe cai bem).
O que você faria se algum professor pregasse o evangelho ao seu filho na faculdade? Provavelmente você lançaria mão de argumentos do tipo que os intelectuais lançam contra o ensino religioso: "O Estado é laico e blá-blá-blá... porque a liberdade de pensamento blá-blá-blá...". Se for para proibir Jesus, por que não proibir qualquer pregação?
Pergunto-me por que não proíbem professores de pregar o marxismo em sala de aula e toda aquela bobagem de luta de classes e sociedade sem lógica do capital? Isso não passa de uma crendice, assim como velhas senhoras creem em olho gordo.
Nas faculdades (e me refiro a grandes faculdades, não a bibocas que existem aos montes por aí), torturam-se alunos todos os dias com pregações vazias como essas, que apenas atrapalham a formação deles, fazendo-os crer que, de fato, "haverá outro mundo quando o McDonald"s fechar e o mundo inteiro ficar igual a Cuba".
Esses "pastores da fé socialista" aproveitam a invenção dessa bobagem de que jovem tem que mudar o mundo para pregarem suas taras. Normalmente, a vontade de mudar o mundo no jovem é causada apenas pela raiva que ele tem de ter que arrumar o quarto.
E suspeito que, assim como fanáticos religiosos leem só um livro, esses pregadores também só leem um livro e o deles começa assim: "No princípio era Marx, e Marx se fez carne e habitou entre nós...".
Reconhece-se uma pregação evangélica quando se ouve frases como: "Aleluia, irmão!". Reconhece-se uma pregação marxista quando se ouve frases como: "É necessário destruir o mundo do capital e criar uma sociedade mais justa onde o verdadeiro homem surgirá"."
Pergunto, confesso, com sono: "E quem vai criar essa sociedade mais justa?". Provavelmente o pregador em questão pensa que ele próprio e os seus amigos devem criar essa nova sociedade.
Mentirosos, deveriam ser tratados como pastores que vendem Jesus e aceitam cartão Visa.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Criado o Quilombo da Razao - Vinícius Pereira Portella

Lançamento (virtual):

Sob sugestão de meu amigo e correspondente virtual Vinícius Pereira Portella, fica criado (ainda virtualmente) o:

Quilombo da Razão

que poderia ser definido como um espaço de resistência intelectual contra todo tipo de falácia e de inconsistências lógicas, contra todos os tipos de irracionalismos.
Mas, segundo o Vinicius, ele não é apenas passivo, e sim "uma posição fortificada, uma base de operações para incursões contra os irracionalismos, seja lá a cor que tiverem" (apud Vinícius Pereira Portella).

Bem, fica registrada a ideia e lançado o empreendimento, a ser expandido e promovido, em defesa da lógica, da racionalidade, das boas práticas da honestidade intelectual e da moralidade acadêmica.
Os que me lêem, sabem do que estou falando...

Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 4. de maio de 2010)

Addendum:
Sei que o quilombo da razão leva um combate de retaguarda, de resistência, e tenho plena consciência de que seu espaço de atuação é extremamente restrito, limitadíssimo, restrito aos poucos foros que ainda cultivam a inteligência e o "raisonnement" bem construido.
Infelizmente, o Brasil recua no caminho da inteligência, e só posso constatar que o "mal" já está feito.
O mal para mim é o culto da irracionalidade, a prevalencia dos ilogismos, o culto das falácias, o gabar-se da incultura, o predominio da desonestidade intelectual e a preservação dos equívocos.
Infelizmente o Brasil afunda na mediocridade intelectual e na irracionalidade da governança.
Nada mais necessário, portanto, do que o quilombo da razão, um espaço virtual que cultiva a inteligência e preza os raciocínios lógicos.