A Gazeta do Povo, de Curitiba, publicou uma lista de dissertações de mestrado e teses de doutorado defendidas em universidades públicas na área de ciências sociais e humanidades. Impera o relativismo cognitivo e epistemológico: vale tudo. Já começou o berreiro contra a matéria de Gabriel de Arruda Castro:
O ambiente universitário, por definição, deve ser um espaço aberto à criatividade e à inovação. Toda forma de conhecimento é válida. Por outro lado, algumas teses desenvolvidas por alunos de mestrado e doutorado em universidades públicas brasileiras são difíceis de explicar ao contribuinte, que arca com todas as despesas. A opção por temas pouco ortodoxos, especialmente nos cursos de ciências humanas e sociais, talvez ajude a explicar por que o Brasil nunca recebeu um prêmio Nobel – ao contrário de Argentina, Chile, Colômbia, Venezuela, México, Costa Rica, Peru e Guatemala.
Veja uma lista de dez dissertações de mestrado e teses de doutorado sobre temas pouco usuais, todas apresentadas em universidades públicas.
1) Fazer banheirão: as dinâmicas das interações homoeróticas na Estação da Lapa e adjacências.
Curso: Mestrado em Antropologia na Universidade Federal da Bahia.
Trecho: “Percebo que, para além de um simples terminal com um sanitário, a Estação da Lapa é ressignificada como espaço de práticas sexuais de desejos dissidentes, na direção de interesses tão diversificados quantos são os sujeitos que interagem na cena e que só são reunidos aqui pelo traço em comum dos desejos, diversificadamente, homo-orientados”.
Autor: Tedson da Silva Souza.
2) A estética Funk Carioca: criação e conectividade em Mr. Catra.
Curso: Doutorado em Sociologia e Antropologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Trecho: “Mr. Catra é um feixe de relações, que catalisa caminhos e dá acesso a um mundo que mistura funk, favela, elite, poder oficial e crime”.
Autora: Mylene Mizrahi.
3) Mulheres perigosas: uma análise da categoria piriguete.
Curso: Mestrado em Sociologia e Antropologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Trecho: “A piriguete representa, primeiramente, uma mulher que não se adéqua às normas de conduta feminina – ela expressa sua sexualidade e seu desejo, sua liberdade e seu poder”.
Autora: Larissa Quillinan Machado Larangeira.
4) A Zuadinha é tá, tá, tá, tá: representação sobre a sexualidade e o corpo feminino negro.
Curso: Mestrado em Ciências Sociais na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
Trecho: “Embora aproxime-se do pagofunk, tanto pelas letras sexualizadas como pelas coreografias, o pagode de elite, ainda que apresente letras menos sexualizadas, tem um estilo mais voltado para a suingueira – que o aproxima do pagodão”.
Autor: Wellington Pereira Santos.
5) Erótica dos signos nos aplicativos de pegação: processos multissemióticos em performances íntimo-espetaculares de si.
Curso: Mestrado em Linguística Aplicada na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Trecho: “Erótica dos signos denota a emergência de romper a divisão cartesiana entre mente e corpo e considerar o componente erótico na pesquisa para fazer ciência com corpo e alma. Também alude à sensualidade típica dos apps de pegação e evidencia o cuidado com a imagem de si, a pornificação de si como arena de embate político, a necessidade de uma metodologia que considere o corpo do pesquisador na pesquisa”.
Autor: Gleiton Matheus Bonfante.
6) Personagens emolduradas: os discursos de gênero e sexualidade no Big Brother Brasil 10.
Curso: Mestrado em Antropologia Social na Universidade Federal de Goiás.
Trecho: “Ao aproximar meu estudo com os de Fischer (2001) concordo que os meios de comunicação, no caso aqui analisados o programa de televisão e sítios de notícias do BBB, mostram-se como lócus privilegiado de informação, de ‘educação’ das pessoas, ao que a autora chamou de dispositivo pedagógico da mídia, pois, por meio das diversas estratégias de linguagem as mídias fazem a mediação da produção e da circulação de uma série de ‘verdades’ e, no caso do interesse desta pesquisa, ’verdades’ sobre homens, mulheres e gays”.
Autora: Katianne de Souza Almeida.
7) “Agora eu fiquei doce”: o discurso da autoestima no sertanejo universitário
Curso: Mestrado em Linguística e Língua Portuguesa na Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Trecho: “A canção Camaro Amarelo é um enunciado no qual estão presentes valores relacionados à ideologia capitalista do consumismo, tais como os valores das marcas famosas de produtos, da ascenção (sic) social e do amor por interesse”.
Autor: Schneider Pereira Caixeta.
8) O herói na forma e no conteúdo: análise textual do mangá "Dragon Ball" e "Dragon Ball Z"'
Curso: Mestrado em Comunicação e Cultura Contemporânea, Universidade Federal da Bahia.
Trecho: “Dessa maneira, notamos que essas passagens narrativas, em que um personagem faz referência ao outro no que diz respeito à morfologia, têm a função de criar uma situação de humorística maior do que necessariamente um espanto no sentido de uma impossibilidade de mundo em que eles habitam. Afinal, nesse mundo, encontramos tartarugas e porquinhos falantes, assim como sereias convivendo com personagens com a morfologia parecida com a nossa".
Autor: André Luiz Souza da Silva.
9) Experimenta-te a ti mesmo: Felipe Neto em performance no YouTube
Curso: Mestrado em Comunicação Social na Universidade Federal de Minas Gerais
Trecho: “Para fins desta dissertação, entendemos que as audiências dos dois canais de Felipe Neto no YouTube se referem a grupos de falantes que se vinculam temporariamente em uma situação específica de enunciação e circunscrita à ambiência midiática operada pelo site”.
Autor: Tiago Barcelos Pereira Salgado.
10) A pedofilia e suas narrativas: uma genealogia do processo de criminalização da pedofilia no Brasil
Curso: Doutorado em Sociologia na Universidade de São Paulo
Trecho: "Por tudo que foi visto nesta tese, não é possível afirmar que a pedofilia seja, em sua totalidade, sinônimo de violência sexual contra a criança, embora os termos sejam usados de modo indiscriminado e intercambiável em quase todos os domínios do saber. Os diversos textos apresentados aqui demonstram que muito pedófilos nunca violentaram sexualmente uma criança; e que muitos agressores sexuais infantis não podem ser considerados pedófilos, por não se enquadrarem na definição psiquiátrica da categoria".
Autor: Herbert Rodrigues.
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