O professor João Carlos Espada observa que a democracia liberal ocidental enfrenta a crise mais grave desde a II Guerra Mundial:
Depois das eleições francesas de ontem e do caos que se instalou na política britânica após as eleições de 8 de Junho, a capa da mais recente edição de The Economist resume tudo: Emmanuel Macron caminhando sobre o mar, ao lado da afundada Theresa May (só com os tornozelos e os inconfundíveis sapatos à superfície).
Em editorial, a revista argumenta que Macron, em França, e Merkel, na Alemanha, (a chamada “dupla Merkron”) reúnem agora as esperanças dos “centristas” europeus. Mas a capa da revista emite uma dupla mensagem. Caminhar sobre as ondas não é propriamente uma faculdade humana. Se as retumbantes vitórias de Macron e do seu novíssimo partido fizerem esquecer os sérios problemas que a França, a Europa e o Ocidente enfrentam, esses mesmos problemas irão reaparecer em breve com maior intensidade.
Este é certamente um alerta contra o triunfalismo e a complacência. Mas é sobretudo um apelo para que os problemas euro-atlânticos sejam seriamente analisados e discutidos pelos euro-atlantistas — incluindo nesse diálogo as suas diversas disposições políticas, mais ao centro-direita e mais ao centro-esquerda.
Há duas semanas, dei aqui conta do chamado Apelo de Praga para a Renovação Democrática, que apelava exactamente nesse sentido. Vários dos subscritores — Marc Plattner, Larry Diamond, Christopher Walker, entre outros — estarão presentes na próxima semana no Estoril Political Forum, dedicado precisamente à defesa da “tradição ocidental da liberdade sob a lei”. Tratar-se-á de uma primeira concretização do Apelo de Praga para a re-união de diferentes sensibilidades dos defensores do Ocidente.
Opinião talvez ainda mais drástica é defendida por Douglas Murray, colaborador da revista The Spectator, no seu livro mais recente: The Strange Death of Europe: Immigration, Identity, Islam(Bloomsbury). O diagnóstico é aqui centrado no declínio demográfico europeu, nas vagas crescentes de imigração, sobretudo de origem muçulmana, e no estranho fenómeno que parece incapacitar os europeus para a defesa das suas próprias instituições e dos seus valores ocidentais.
Não é provável que estes três autores e os mais de 60 subscritores do Apelo de Praga concordem entre si no diagnóstico e, sobretudo, na terapêutica. Mas é visível que todos concordam com a gravidade dos desafios que a ideia ocidental hoje enfrenta. Reconhecer essa gravidade é o primeiro passo para a defesa da tradição ocidental da liberdade sob a lei.
*A tragédia do incêndio de Pedrógão Grande enlutou todos os Portugueses. Será certamente necessário vir a esclarecer as condições que terão permitido tão elevado número de vítimas. Mas a tragédia não deve agora dar lugar a recriminações. O momento é de luto, solidariedade e compaixão.(Observador).
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