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segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Bolsonaro dá guinada em propostas para Itamaraty e abraça o "globalismo" no programa de governo - André Duchiade (O Globo)

 Bolsonaro dá guinada em propostas para Itamaraty e abraça o "globalismo" no programa de governo

Bolsonaro caminha na direção contrária de política diplomática empenhada pelo órgão nos últimos quatro anos

O Globo
Por André Duchiade — Rio de Janeiro
22/08/2022

Em agosto de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro prometeu que, se chegasse ao Planalto, o Brasil abandonaria as Nações Unidas.

— Se eu for presidente eu saio da ONU, não serve para nada esta instituição — afirmou. — É uma reunião de comunistas, de gente que não tem qualquer compromisso com a América do Sul.

Na campanha à reeleição, o discurso sobre política externa deu um giro de 180 graus. No capítulo dedicado ao tema do programa de Bolsonaro entregue ao TSE, está o contrário do que se lia há quatro anos, isto é, uma enfática defesa do sistema internacional multilateral. O Brasil agora “se destaca como defensor histórico de uma ordem global multipolar, alicerçada no direito internacional e centrada na Carta das Nações Unidas”.

O abraço ao chamado “globalismo” — termo empregado pela extrema-direita mundial para se referir ao multilateralismo — contrasta não só com a campanha de há quatro anos, mas também com a prática diplomática liderada pelo presidente em boa parte de seu mandato, sobretudo quando o ex-chanceler Ernesto Araújo chefiava o Itamaraty.

Os planos para política externa dos demais principais candidatos à Presidência não trazem surpresas. Lula (PT) promete o resgate com poucas atualizações da linha adotada em seus dois governos, enquanto Ciro Gomes (PDT), especialmente, e Simone Tebet (MDB) são mais sucintos ou genéricos, numa evidência, na avaliação de alguns analistas, de que o tema terá pouco peso na disputa eleitoral deste ano.

O governo Bolsonaro em imagens

Se não chegou a tentar tirar o país da ONU, o governo Bolsonaro ainda assim mudou o rumo histórico da política externa brasileira. O discurso encampado por Araújo e outros assessores presidenciais denunciava a existência de uma “ditadura climática” global e buscava aproximar o país, por exemplo, da Hungria e da Polônia, onde houve ascensão da nova direita, em detrimento de China, Alemanha e França.

Bolsonaro mudou, e agora reconhece a crise climática, mas o ex-chanceler ainda pensa o mesmo. Após deixar o Itamaraty, Araújo criou um canal no YouTube em que critica a gestão mais moderada das relações internacionais pedindo que o país adote “posições pró-Ocidente” em questões como o conflito na Ucrânia.

Em 2022, o programa de governo promete continuar “seguindo o conceito universalista de nossa política externa”.

— Bolsonaro fez muitas promessas. Prometeu uma revolução e uma refundação do Itamaraty. Isso, no entanto, é muito difícil de fazer — avalia Dawisson Belém Lopes, professor de Política Internacional na UFMG. — O novo programa é a comprovação de que, depois uma política externa revolucionária que fracassou, o Itamaraty volta ao curso normal.

Das 48 páginas do programa de Bolsonaro, o capítulo “Política externa e defesa nacional” ocupa três e meia. Além da diplomacia, as propostas abordam a indústria de defesa e parcerias comerciais. O documento também diz que o “Brasil constitui parte incontornável da solução dos principais desafios do planeta”.

Discurso e prática

A despeito do tom mais baixo, um eventual segundo governo do candidato do PL terá o desafio de amenizar certo isolamento do país nos últimos anos. O atual governo tem a imagem arranhada em temas centrais da política global, como política ambiental e climática, direitos humanos e respeito à democracia. Para Carlos Milani, professor de Relações Internacionais do Iesp-Uerj, a solução estará menos na diplomacia e mais na prática do futuro governo.

— Uma imagem não se projeta só com palavras, mas sim com ações concretas. Como o Brasil vai dizer que é uma solução para os problemas do planeta enquanto aumenta o desmatamento? — indaga.

No programa de Lula, a linguagem do programa remete à empregada pelo Itamaraty durante os seus dois governos, quando o ministério esteve sob o comando de Celso Amorim. “Defender nossa soberania exige recuperar a política externa ativa e altiva que nos alçou à condição de protagonista global”, diz o documento. A cooperação com países do Sul Global, sobretudo na América Latina e na África, tem destaque. O documento também se refere ao fortalecimento de Mercosul, Unasul, Celac e Brics.

Segundo Milani, as promessas carecem de detalhamento sobre como conduzir essa política em um contexto global diferente, de rivalidade entre grandes potências.

— Não fica muito claro como o novo governo conceberá um retorno à cooperação estratégica sem pensar que o mundo mudou. A China ascendeu desde então, e agora não há mais nenhuma decisão que o Brasil tome sem que intervenha a rivalidade entre EUA e China, e às vezes entre EUA e Rússia — avalia. — Não fica claro quais são as ferramentas que tornarão essa política externa “ativa e altiva” factível. Não que não seja, mas não há explicação.

Além dos quatro parágrafos dedicados explicitamente à política externa no documento de 21 páginas, há vários temas que exigem negociações internacionais e aparecem de forma transversal ao longo do programa petista, como sustentabilidade, enfrentamento das mudanças climáticas e transição energética.

Há ainda uma inovação: o realce oferecido ao atendimento consular aos brasileiros fora do país. “São milhões de pessoas que trabalham, estudam e vivem fora do país e contribuem para a economia e desenvolvimento do Brasil. Retomaremos as políticas públicas para a população brasileira no exterior a partir de acordos bilaterais”, diz o texto. De acordo com Belém Lopes, a atenção à diáspora exprime uma busca por esse eleitorado.

— Em outros países, como o Equador, com frequência os candidatos vão fazer campanha no exterior. No Brasil, nunca se tentou mirar no eleitor expatriado — disse Belém Lopes. — O Brasil virou um país de emigrantes, com mais de 4 milhões de cidadãos vivendo fora. Estamos falando de 2% da população brasileira, e o PT percebeu essa mudança.

Entre outros candidatos, o programa de Ciro Gomes se caracteriza por uma ausência de trechos que abordem diretamente a política externa, com duas menções à noção de soberania nas negociações entre países. Assuntos internacionais aparecem em outros itens, como quando o documento se refere ao meio ambiente, ao fortalecimento de complexos industriais nacionais, a uma política de incentivo à cultura nacional e à intenção de transformar o Brasil em uma potência educacional.

No plano de Tebet as propostas aparecem numa página no eixo “Governo parceiro da iniciativa privada”. Com ênfase no comércio internacional, ela propõe “implementar plano de redução gradual de tarifas aduaneiras”. O texto defende ainda “consolidar e aprofundar o Mercosul”.

A despeito dos programas, que se tornaram menores e mais vagos nos últimos ciclos eleitorais, é improvável que a política externa vá desempenhar papel crucial nestas eleições, ao contrário de há quatro anos, quando Bolsonaro foi a Taiwan, hostilizou a China e deixou claro que se aproximaria do então líder americano Donald Trump.

— O tema externo deve aparecer bem pouco nas campanhas. Talvez um pouco no contexto ambiental, mas, de resto, não antecipo uma discussão mais ampla sobre a temática — afirmou Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV-SP. — Em 2018, havia a narrativa anti-China, a promessa de aproximação a Trump, e também uma discussão proeminente sobre a Venezuela. Dessa vez, o Brasil está mais focado em assuntos internos, em questões econômicas e nas guerras culturais.

https://oglobo.globo.com/politica/eleicoes-2022/noticia/2022/08/bolsonaro-da-guinada-em-propostas-para-itamaraty-e-abraca-o-globalismo-no-programa-de-governo.ghtml


sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Finalmente o Great Reset, que deve deixar o chanceler acidental mais maluco ainda - Ishaan Tharoor (WP)

Pronto: está armado o circo para o chanceler acidental deitar mais um daqueles discursos impagáveis, sobre como os globalistas pretendem dominar o mundo aproveitando-se da pandemia e colocando todos os seus embustes em proveito do projeto maléfica do Grande Recomeço. George Soros paga a festa, e Klaus Schwab anima o picadeiro para submeter as bravas nações independentes como o Brasil bolsonarista sob o tacão malvado do globalismo perverso, um projeto mancomunado entre burocratas da ONU, milionários de esquerda e os últimos marxistas existentes no mundo.

Vai ser uma batalha tão decisiva para o futuro do mundo ocidental judaico-cristão, quanto foi a batalha naval de Salamina, que evitou a escravização da gloriosa democracia ateniense contra aqueles persas malvados, antecessores dos aiatolás iranianos da atualidade.

Tudo o que chanceler acidental mais aprecia...

Paulo Roberto de Almeida

 

Ishaan Tharoor By Ishaan Tharoor
with Ruby Mellen
 Email 
The Washington Post, January 28, 2021

World leaders pledge a ‘great reset’ after the pandemic

Klaus Schwab, left, the founder and executive chairman of the World Economic Forum, listens to German Chancellor Angela Merkel, shown on a video screen, as part of the group's annual conference in Davos, Switzerland, on Jan. 26. (Salvatore Di Nolfi/Keystone/AP)

Klaus Schwab, left, the founder and executive chairman of the World Economic Forum, listens to German Chancellor Angela Merkel, shown on a video screen, as part of the group's annual conference in Davos, Switzerland, on Jan. 26. (Salvatore Di Nolfi/Keystone/AP)

Greetings from the snowy slopes of virtual Davos. No, Today’s WorldView did not make the trek up the mountain to the World Economic Forum’s annual gathering of global political and business elites. Because of the pandemic, there was no physical event to attend, no schmoozing with the great and the good, no rubbing shoulders with policymakers at pop-up espresso bars, no foraging for canapés in the pavilions of big tech firms.

But, through its digital platform, the forum’s organizers nevertheless set out an agenda that’s arguably more ambitious than before. Klaus Schwab, WEF’s founder and executive chairman, invoked the need to help provoke a “great reset” around the world in the wake of the pandemic. “The covid-19 crisis has shown us that our old systems are not fit anymore for the 21st century,” he said in a podcast ahead of events this week.

What does that reset look like? Schwab and his colleagues are pushing the concept of “stakeholder” capitalism — an approach to business and economic policymaking that looks beyond the interests of shareholders and toward the well-being of society (and fleshed out now in a new book by Schwab and his colleague Peter Vanham). For many years, WEF has embraced this sort of socially conscious language, urging corporate leaders to be more politically minded and governments to better collaborate with the private sector on a swath of development projects and social programs. WEF points to a growing catalogue of positive initiatives taken by governments and commitments made by major corporations thanks to the convening power of Davos.

 

But at this year’s conference, the toll of the pandemic has hammered home a new urgency. At least 225 million jobs disappeared worldwide over the past year — losses that were four times larger than what was exacted by the global financial crisis more than a decade ago — according to a report published Monday by the International Labor Organization. Oxfam, the anti-poverty nonprofit, separately found that while the world’s 1,000 richest people recouped their losses during the pandemic in a matter of months, it could take more than a decade for the world’s poorest to recover from its economic impact.

 

Faced with these grim conclusions, world leaders, at least rhetorically, rose to the occasion. French President Emmanuel Macron declared Tuesday that “we will get out of this pandemic only with an economy that thinks more about fighting inequalities.” He argued that the financialization of the economy had led to a focus on “profits that are not linked to innovation or work” and that liberal democracies needed to move beyond a now-outdated reverence for deregulation and hostility toward state intervention.

“The capitalist model together with this open economy can no longer work in this environment,” said Macron.

Kristalina Georgieva, managing director of the International Monetary Fund — a global institution once synonymous with neoliberalism — said that “unless capitalism globally brings people closer together, we won’t be winners after this crisis.” She added that the pandemic had widened the gap between wealthy and poorer nations and that global cooperation on addressing a crisis that knew no borders was “not up to par.”

 

Those sentiments were echoed by German Chancellor Angela Merkel, who once more used her bully pulpit at Davos to decry nationalism and called attention to the new challenges posed by unequal vaccine distribution around the world. “Let’s not kid ourselves: The question of who gets which vaccine in the world will of course leave new wounds and new memories, because those who get such emergency help will remember that,” she said.

Of course, reasons for skepticism abound over the utility of such gatherings. In the United States, the controversy over the GameSpot stock — where ordinary retail investors organized online to dramatically upend the schemes of a clutch of hedge funds — is a reminder of the deep populist contempt among many Americans for the sort of institutional investors who populate Davos each year. Meanwhile, some on the far right have cast Schwab and the forum’s efforts as part of a broader globalist conspiracy.

“The right sees the WEF arguments about restructuring the global economy as a dangerous attempt to impose ‘socialism’ and dismantle the traditional society, or what remains of it,” summarized the Indian geostrategist C. Raja Mohan. “The left scoffs at the Davos Man’s talk on the crisis of capitalism. It points to the complicity of the Davos forum in promoting policies that have brought the world to the current impasse and question its capacity to produce solutions.”

Today’s WorldView moderated a virtual session of Davos attendees eager to bring the world out of this impasse. Gabriela Bucher, Oxfam’s executive director, said that the yawning inequities revealed by her organization ought to make us “think of taxing differently.” She pointed to a new one-off wealth tax passed in Argentina that will raise funds for the country’s pandemic recovery efforts.

 

“This should be now the norm,” said Bucher. “We can’t think of small adjustments. We need to fund a fair and just recovery that is redistributing at the same time as it enables all the participants of the economy to remain active.”

Sadiq Khan, the mayor of London, spoke of how his city’s experience of the virus revealed gaps along socioeconomic, racial and gender lines, with Black Londoners statistically more vulnerable than others and mothers more likely to have lost their jobs than fathers. “Not only has this pandemic exposed those structural inequalities, but it’s exacerbated them,” said Khan.

(You can watch the whole discussion here, where the panelists also talked through a slate of solutions to reversing these trends of inequity.)

Darren Walker, president of the Ford Foundation, argued that “if capitalism is to be sustained, we must intentionally put the nail in the coffin” of the neoliberal orthodoxy championed by the late American economist Milton Friedman, which, Walker said, has left the “ideological scaffolding” for policies and worldviews that are deepening inequality.

That world that existed before the pandemic “is over,” said Walker, and that “means that many of the norms and understandings and structures of that world in a post-coronavirus world must be reorganized and dismantled.”


segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Ah, esse globalismo opressor... - Paulo Roberto de Almeida

Ah, esse globalismo opressor...

Paulo Roberto de Almeida

O chanceler acidental remete a um livro sobre o glorioso triunfo do império americano (do bem, evidentemente) e da sua absoluta necessidade para a preservação da civilização judaico-cristã.

Ele diz que “o comunismo soviético fracassou no projeto” de destruir a América, e no final pergunta, de forma aparentemente aflitiva:

“Estaria o globalismo conseguindo?”

Esse cara tem uma obsessão, e uma paúra, com o tal de globalismo que só pode ser trauma de infância — mas o termo ainda não estava na moda — ou então é fixação doentia no catch-word preferido dos atuais conspiradores da extrema-direita (mas isso por necessidade de manutenção do cargo).

O Trump já fez boa parte do serviço, ao colocar em cheque metade das instituições multilaterais que seus antecessores criaram desde Bretton Woods. 

O Bolsovirus não tem capacidade, nem poder, para destruir qualquer uma: ele só deixa de pagar as dotações do Brasil, com a aquiescência canalha do chanceler acidental, para maior vergonha dos diplomatas.

Este último vai continuar lutando contra o globalismo depois que for defenestrado do Itamaraty, ou era tudo figuração, para se legitimar aos olhos dos amadores ineptos que mandam nele?

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 11/01/2021

sábado, 5 de dezembro de 2020

O chanceler acidental e as teorias conspiratórias (Deutsche Welle)

 Acredito, realmente, que o chanceler acidental acredita, realmente, na realidade real de uma conspiração de elites não muito bem identificadas — mas uma delas está ligada a Klaus Schwab, do Foro Econômico Mundial — que acreditam realmente na necessidade de um Grande Recomeço (Great Reset), que nada mais seria do que uma maneira dessas elites totalitárias, a pretexto de salvaguardar vidas, subtrairem nossas liberdades, ademais da soberania nacional, uma vez que elas são globalistas e querem impor uma dominação mundial. 

Acredito, realmente, que o chanceler acidental acredita realmente em tudo isso, do contrário não ousaria expor o Brasil ao ridículo de invocar teorias conspiratórias numa reunião multilateral — “oh my God, quando escaparemos disso?” —, como realmente aconteceu, e se encontra descrito nesta matéria da Deutsche Welle, que expressa realmente a realidade. 

Agora que o grande salvador do Ocidente está saindo, quem mais poderá nos salvar dessa ameaça das elites totalitárias?

Paulo Roberto de Almeida

Link para a matéria da Deutsche Welle:

https://m.dw.com/pt-br/ministro-ara%C3%BAjo-evoca-teoria-de-conspira%C3%A7%C3%A3o-sobre-covid/a-55832656?maca=bra-GK_RSS_Chatbot_Brasil-31509-xml-media 

Ministro Araújo evoca teoria de conspiração sobre covid

Deutsche Welle, 5/12/2020
Após discursar em conferência da ONU sobre a pandemia, ministro brasileiro das Relações Exteriores tuíta sobre um "Great Reset", suposto projeto secreto de elites para impor controle econômico e social às massas.

O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Ernesto Araújo, mencionou nesta sexta-feira (04/12), num tuíte, a teoria de conspiração do "Great Reset" (grande recomeço ou zeragem), sobre a origem da covid-19, após participar de uma conferência da Organização das Nações Unidas. 

"A pandemia não pode ser pretexto p/ controle social totalitário violando inclusive os princípios das Nações Unidas. As liberdades fundamentais não podem ser vítima da Covid. Liberdade não é ideologia. Nada de Great Reset", escreveu na rede social Twitter, acrescentando o link para um vídeo da "minha fala em sessão ONU s/ Covid".


A pandemia não pode ser pretexto p/ controle social totalitário violando inclusive os princípios das Nações Unidas. As liberdades fundamentais não podem ser vítima da Covid. Liberdade não é ideologia. Nada de Great Reset. Minha fala em sessão ONU s/ Covid: youtu.be/nikOlQVm6vc

Na véspera, Araújo participara de uma conferência extraordinária das Nações Unidas sobre a pandemia do vírus Sars-Cov-2. O encontro, visando alcançar um compromisso global face à pandemia, contou com a participação de mais de 90 chefes de Estado e governo.

Mito do "grande recomeço"

Popular em plataformas de extrema-direita, a "grande zeragem" é uma teoria da conspiração segundo a qual a pandemia da covid-19 teria se originado num projeto secreto de elites corruptas, com o fim de impor seu controle econômico e social às massas.

Em maio, a teoria tomou impulso após o fundador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, anunciar a intenção de reunir líderes mundiais, num encontro denominado "Great Reset", para discutir as mudanças climáticas e a reconstrução sustentável de economias prejudicadas pela pandemia. Isso deu margem a rumores sobre elites que manipulariam a economia e a sociedade mundiais.

Apesar de não citar diretamente o termo em seu discurso na ONU, o chanceler do Brasil falou de "uma armadilha" para suprimir liberdades durante a atual pandemia. Há mais de 66 milhões de casos confirmados de covid-19, em todo o mundo, resultando em 1,5 milhão de óbitos, segundo dados mais recentes da Universidade Johns Hopkins.

"Aqueles que não gostam da liberdade sempre tentam se beneficiar dos momentos de crise para pregar o cerceamento da liberdade. Não caiamos nessa armadilha. O controle social totalitário não é o remédio para nenhuma crise. Não façamos da democracia e da liberdade mais uma vítima da covid-19", afirmou na ONU, sem especificar a quem se referia, o diplomata, indicado por Bolsonaro e também admirador de Donald Trump.

Conspiração à moda brasileira

"A covid-19 não pode servir como pretexto para avançar agendas que extrapolam a estrutura constitucional das Nações Unidas", insistiu Ernesto Araújo, comentando a situação da pandemia no Brasi. Com mais de 6,5 milhões de casos e quase 176 mil vítimas, o país apresenta a segunda maior mortalidade de covid-19, depois dos Estados Unidos.

Entre os que advogam o "Great Reset" conta o QAnon, um movimento surgido nos Estados Unidos em 2017, combinando várias teorias da conspiração, e que já ganhou uma versão brasileira a qual se tem espalhado rapidamente entre apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.

O movimento nasceu em fóruns na internet da extrema direita americana, onde um anônimo (QAnon) passou a alegar que possuía informações secretas de agências de segurança sobre um grupo liderado por uma elite corrupta de pedófilos satanistas, os quais sequestrariam e sacrificariam crianças.

No Brasil, o QAnon adaptou-se à narrativa conspiratória local. Alegando defender valores cristãos e conservadores, seus disseminadores usam as redes sociais para espalhar falsidades contra críticos ao governo bolsonarista.

AV/lusa,ots


sábado, 18 de julho de 2020

O globalismo e seus descontentes - Paulo Roberto de Almeida


O globalismo e seus descontentes: notas de um contrarianista – Paulo Roberto de Almeida



O artigo a seguir é uma participação especial de Paulo Roberto de Almeida, doutor em Ciências Sociais pela Université Libre de Bruxelles, mestre em Planejamento Econômico pela Universidade de Antuérpia e licenciado em Ciências Sociais pela Université Libre de Bruxelles


  1. Fixando os termos do debate: a contracorrente do pensamento único
Todo processo social, todo movimento econômico, toda tendência política, sendo o produto da ação consciente ou inconsciente, deliberada ou involuntária, de indivíduos, de grupos humanos ou de qualquer entidade organizada burocraticamente, despertam naturalmente a reação adversa dos mesmos entes ou personagens, quando os processos, movimentos ou tendências contrariam benefícios consolidados, situações estabelecidas, ganhos reais ou esperados ou quaisquer outras vantagens e privilégios existentes ex ante ou simultaneamente à percepção de uma ruptura do status quo. Trata-se de fenômeno secular, senão milenar, ou seja, forças sociais emergentes provocam, inevitavelmente, sua cota de descontentes, os seus frustrados, os seus órfãos, os seus perdedores.
A revolução industrial produziu o seu quinhão de luddistas, os revoltados contra a modernização da tecelagem, com alguma destruição de teares mecânicos até que se conseguisse empregar os anacrônicos dos teares manuais nas fábricas movidas a caldeiras a vapor. A lâmpada elétrica deixou quase todos os fabricantes de velas sem crescimento da demanda e, logo, sem clientes de qualquer tipo. O automóvel aposentou cavalos, estrebarias, recolhedores de esterco nas cidades e vários outros servidores cavalares. O computador desempregou antigas datilógrafas e operadores de máquinas de calcular, presentes antigamente em quase todas as corporações e escritórios de governo. Vários outros exemplos poderiam ser citados, aliás indefinidamente.
Não foi diferente com a globalização, embora ela seja um fenômeno mais do que antiquíssimo, propriamente existente desde a pré-história, como já revelado no livro de Nayan Chanda: Bound Together: How Traders, Preachers, Adventurers, and Warriors Shaped Globalization (New Haven: Yale University Press, 2007). Mas, após décadas de alternativas antimercado, sob o socialismo real, a nova onda da globalização trouxe consigo certo número de perdedores, como resultado da nova divisão internacional do trabalho e da deslocalização de empresas e investimentos. Ela criou os descontentes da globalização, como já tinha alertado muitos anos atrás o economista indiano Jagdish Bhagwati: In Defense of Globalization (New York: Oxford University Press, 2004; edição brasileira: Em Defesa da Globalização: como a globalização está ajudando ricos e pobres; Rio de Janeiro: Elsevier-Campus, 2004).
Com o globalismo, ocorre o mesmo: assim como a expansão das economias de mercado, supostamente capitalistas (mas não se deve confundir as duas coisas, como poderia lembrar o historiador Fernand Braudel), produziu a sua cota de altermundialistas, mais conhecidos como antiglobalizadores, o monstro metafísico do globalismo também produziu o seu pequeno grupo de antiglobalistas, como é natural existir em qualquer fenômeno social, como já adiantado no primeiro parágrafo. Os antiglobalistas são, assim como os luddistas da globalização, seres deslocados pelo multilateralismo contemporâneo, aspirando defender antigas concepções de tempos passados, o nacionalismo estreito do período pré-onusiano, o bilateralismo estrito dos antigos acordos de comércio e navegação, e que pretendem, parafraseando Marx, fazer rodar para trás a roda da História.
Os conceitos e argumentos acima já balizam o espírito sob o qual foi redigida esta nota sobre os inimigos do globalismo, que eu considero um exército brancaleônico de templários, que estaria mais à vontade no terreno mitológico dos unicórnios e das sereias, ou seja, seres bizarros que pretendem se contrapor às correntes de vento ou às marés dos oceanos. Não tenho nenhuma hesitação em revelar desde já meu julgamento sobre esse patético ajuntamento de novos cruzados, depois de já ter enfrentado as hostes mais caóticas de antiglobalizadores, como exemplificado em meu livro Globalizando: ensaios sobre a globalização e a antiglobalização (Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2011), pela simples razão que eu mesmo estou acostumado a nadar contra a corrente. A caução preliminar a ser introduzida aqui é a identificação de qual globalismo se está falando: a versão “paranoica” é a que se vai discutir aqui, se é que ela tem condições de persistir em um mundo aparentemente entregue a uma marcha irrefreável de conquistas científicas. Quanto ao globalismo “normal”, é propriamente patético constatar que se pretenda lutar, num ambiente diplomático, contra a essência fundamental do trabalho dos diplomatas, o ambiente natural de nosso ganha-pão diário.
  1. Nota pessoal do ponto de vista de quem pratica ativamente o ceticismo sadio
Independentemente do tema, assunto, questão ou problema que se apresente em face de minhas aventuras intelectuais aleatórias, sou um praticante ativo, desde a adolescência pelo menos, daquela atitude que foi, pela primeira vez, sintetizada, por um professor de arqueologia ao grupo de estudantes de ginásio que o visitava na USP, pelo conceito de “ceticismo sadio”. Ele explicava a postura como sendo feita de indagações sucessivas ao objeto em exame, ou seja, questionamentos, perguntas, exame acurado das origens e dos fundamentos do problema com o qual se confronta um pesquisador qualquer, o que até parecia inadequado para um “arqueólogo”, sempre pautado pelas evidências da geologia, paleontologia e outras vertentes das ciências naturais. Nunca esqueci a lição, e sempre a cultivei, inclusive instruído desde muitos anos antes pelas leituras de Monteiro Lobato, pois resolvi ater-me à modesta racionalidade desta regra básica no trabalho intelectual: apresentado a qualquer proposição, tese ou argumento no terreno das ciências sociais aplicadas e das humanidades, busque os fundamentos, anote as evidências empíricas, questione os dados, aprofunde a pesquisa antes de aderir a qualquer proposta ou opinião que se lhe apresente, por mais “racionais” ou “evidentes” que possam parecer essas proposições oferecidas para o seu “consumo”.
Devo, entretanto, alertar que a minha atitude cética em face de questões que me são apresentadas não é doentia, ou sistematicamente aplicada a todos os problemas em análise; ela apenas se manifesta de forma racional (pelo menos espero) e de forma compatível com os dados da questão em exame. Continuei aprofundando e refinando o meu “ceticismo sadio” ao longo de toda uma vida dedicada aos estudos e pesquisas nos meus campos de interesse intelectual, que vão de uma ponta a outra das ciências humanas e sociais (inclusive ciências naturais, paleontologia, biologia e outras áreas afins ou vinculadas). Pois foi armado da mesma atitude cética que fui apresentado, não muito tempo atrás, ao tal de antiglobalismo, um movimento para o qual minha atenção foi despertada no contexto de uma diatribe involuntária mantida com o autoproclamado “filósofo” Olavo de Carvalho, a quem eu comecei a chamar de “sofista da Virgínia”, quando eu sequer desconfiava que existisse qualquer tipo de problema com a sua suposta base conceitual, o globalismo, que sempre considerei como uma espécie de equivalente ao processo bem mais conhecido da globalização (termo que os franceses rejeitam, por anglofobia visceral, preferindo o conceito de mundialização, e o seu contrário, o altermundialismo). Vou relatar brevemente como foi essa confrontação, antes de voltar a tratar do globalismo e do antiglobalismo.
No segundo semestre de 2017 – tendo já concedido uma entrevista individual, um ano antes, sobre política externa e economia do Brasil a um novo grupo de mídia – fui solicitado pelo mesmo grupo, Brasil Paralelo, a conceder uma nova entrevista, via hangout, para um programa especial, desta vez sobre o processo de globalização e o conceito de globalismo. Concordei, uma vez que costumo atender essas demandas de caráter didático, colocando minhas pesquisas acadêmicas e minha experiência de vida a serviço de um círculo maior de interessados, e para tal preparei algumas notas, seguindo um roteiro feito pelos organizadores. Essas notas sumárias – “Globalismo e globalização: os bastidores do mundo”, disponíveis no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/12/globalizacao-e-globalismo-como.html) – foram divulgadas no próprio dia da “entrevista”, que afinal revelou-se um “diálogo” com aquele a quem passei a chamar de “Rasputin de subúrbio”: Academia.edu (link: https://www.academia.edu/39178804/Globalismo_e_globalizacao_os_bastidores_do_mundo). No seguimento do “diálogo”, o dito sofista entendeu ser seu dever ofender-me sob diversos epítetos, no que foi seguido por uma horda de seguidores fanáticos, com aqueles impropérios escatológicos que também se tornaram doravante marca registrada do próprio guru da seita, e por ele aplicados a diversos militares do governo Bolsonaro.
Num sentido inverso ao de Buffon, meu “debate” involuntário com Olavo de Carvalho demonstrou como o “estilo faz o homem”, uma vez que ele ocupou-se de me ofender em seus canais próprios, sempre endossado pelos fundamentalistas de uma nova crença: o fantasma do globalismo, como registrei em nova postagem no Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2018/01/olavo-de-carvalho-o-estilo-faz-o-homem.html). Já enfastiado por esse entrevero surrealista e inútil, dei por encerrado esse exercício desprovido de qualquer charme e interesse num “dossiê” por meio do qual disponibilizei o conjunto dos materiais relativos ao assunto, disposto a não mais voltar ao tema: “Dossiê Globalismo: Brasil Paralelo e seu seguimento”, Academia.edu (http://www.academia.edu/35667769/Dossi%C3%AA_Globalismo_Brasil_Paralelo_e_seu_seguimento). Mas, admito, o assunto é tão aborrecido que não merece atenção.
  1. Globalização real e globalismo surreal: da física à metafísica
Venho agora ao objeto principal deste texto: o globalismo e os “anti”. Não creio ser necessário discutir qualquer aspecto real – inclusive porque ele não existe – do chamado “globalismo”, em vários trabalhos considerado um sinônimo virtual do processo de globalização, este sim abundantemente mapeado na literatura acadêmica e jornalística. Na verdade, o globalismo é geralmente considerado nas diatribes dos “anti” como um tipo particular de globalização, aquela produzida sorrateiramente nas fímbrias da governança global e que se destina, na concepção dessa tribo, a retirar soberania dos Estados nacionais e atribuir toda a potestade a uma “ordem global” dotada de características similares aos grandes organismos multilaterais da atualidade, dentre eles a ONU. Não é possível discutir aqui o tema da globalização, mas permito-me uma referência a um pequeno texto meu, no qual faço uma distinção entre a globalização real, de nível “micro”, e sua vertente “macro”: “Globalização micro e macro: o que é isso?” (blog Diplomatizzandohttp://diplomatizzando.blogspot.com.br/2018/01/globalizacao-economica-e-globalizacao.html).
A primeira forma, de caráter individual ou empresarial, considero a verdadeira globalização: impessoal, irrefreável, não administrada por qualquer poder ou Estado organizado, já que correspondendo justamente ao que Adam Smith chamou de “mão invisível”, o trabalho empreendido pelos agentes econômicos diretos visando objetivos privados absolutamente egoístas, mas não coordenados entre si. A segunda forma não deveria, normalmente, corresponder ao conceito de globalização, uma vez que comporta a ação de Estados e de organismos internacionais com vistas a ordenar e controlar esse processo, não administrável por nenhuma força identificada com um objetivo predeterminado, embora se acredite que ele possa ser objeto de normas e regulamentos instituídos por burocratas nacionais ou internacionais; ou seja, se poderia classificar a forma “macro” da globalização como um esforço de antiglobalização, ou pelo menos de contenção, esforços de controle, por parte de “planejadores sociais” dos efeitos mais evidentes – alguns nefastos para certas categorias sociais – desse processo irrefreável.
Vejamos agora o conceito de “globalismo”, que é praticamente, como já dito, um sinônimo de globalização. Contudo, aos olhos de certos adeptos das teorias da conspiração, ele assume um sentido ideológico, uma vez que costuma despertar reações de cunho soberanista ou nacionalista, que é aquilo que eu costumo chamar de “metafísica do antiglobalismo”. Tanto a esquerda quanto a direita alimentaram suas versões respectivas do antiglobalismo. Na visão da esquerda, mais identificada com os franceses de um conhecido movimento anti ou altermundialista, a globalização (ou mundialização) só trouxe desgraças ao mundo: pobreza, desigualdade social, destruição da natureza e dos recursos da biodiversidade, discriminação racial e de gênero, reforço dos “poderes do grande capital” contra os interesses dos trabalhadores (argumento mais utilizado nas denúncias dos sindicatos de países avançados contra a “deslocalização”, ou seja, os investimentos diretos em países periféricos, de baixos salários), enfim um conjunto de efeitos negativos que precisam ser ativamente combatidos pelos movimentos sociais.
 Estes de fato tentaram, durante vários anos, nas manifestações ruidosas dos anos 1990 e 2000, contra as reuniões das organizações de Bretton Woods (FMI e Banco Mundial), contra as rodadas de negociações do GATT e contra a própria OMC, contra as reuniões do G7, G8, G20 e todas as cúpulas supostamente identificadas com o “capitalismo global”, como as reuniões empresariais anuais do World Economic Forum (em Davos, na Suíça), mas também nos inúmeros convescotes ruidosos reunidos sob a égide do Fórum Social Mundial (um contraponto ao Fórum de Davos), realizados durante vários anos em capitais teoricamente identificadas com suas teses “progressistas” e “por um outro mundo possível”; Porto Alegre (durante muitos anos dominada por governos do PT), Caracas durante a presidência de Hugo Chávez, e outras capitais “alternativas” serviram de cenário para esses convescotes barulhentos, mas pouco efetivos, tanto no plano doutrinal, quanto no que se refere a recomendações práticas para governos.
Como as piores desgraças da globalização não se manifestaram de forma tão evidente quanto o pretendido pelos adeptos do altermundialismo – e como, ao contrário, diversos países da periferia, especialmente na Ásia Pacífico, progrediram de modo espetacular, arrancando milhões de pessoas de uma miséria ancestral para levá-las a uma situação de pobreza aceitável, e até de moderada prosperidade –, esse movimento foi perdendo força, de modo que o antiglobalismo de esquerda deixou de ter aquele charme muito pouco discreto que ele exibia nos anos 1990 e 2000, para se prolongar apenas em pequenos núcleos de irredutíveis anticapitalistas, mais evidentes na academia do que nos movimentos políticos reais.
O que mais contribuiu para provar o fracasso prático dos antiglobalizadores – objeto de muitos artigos meus e até de um livro já referido Globalizando: ensaios sobre a globalização e a antiglobalização, reunindo o essencial do que escrevi sobre eles – e a consequente progressiva perda de influência desses “anti” de esquerda nos tempos mais recentes? Algo muito evidente: o mundo deixou de ser caracterizado pela “Grande Divergência” – o processo de aumento das disparidades de renda entre países avançados e economias periféricas, grosso modo entre a segunda revolução industrial e os anos 1980 do século XX – para adentrar no que parece ser uma “Convergência Parcial”, pelo menos envolvendo aqueles países e regiões que se inseriram de modo mais assertivo no processo de globalização capitalista. A diminuição das desigualdades entre os países não impediu, porém, um aumento (temporário?) das desigualdades dentro dos países, o que abriu uma janela de oportunidade para um economista socialista (francês, of course) que pretendeu navegar sobre glórias passadas de Karl Marx: o magnum opus de Thomas Piketty, O Capital no Século XXI, opera um mau diagnóstico sobre as origens da nova concentração de renda (considerada em sua forma unicamente financeira) e prescrições ainda piores para a superação dessa desigualdade, pela taxação dos ricos obviamente.
Estudos econométricos de um outro economista, o catalão Xavier Sala-i-Martin, professor na Columbia University, demonstraram amplamente que a desigualdade – evidente em diversos indicadores de distribuição de renda, especialmente no coeficiente de Gini – diminuiu sensivelmente a partir da terceira “onda” da globalização a partir dos anos 1980, que corresponde aproximadamente à volta da China à divisão mundial do trabalho com as reformas de Deng Xiaoping, seguida pouco depois por igual adesão por parte da Índia aos princípios mais elementares da economia de mercado, da qual ela tinha se afastado desde seu entusiasmo pelo planejamento estatal ainda nos anos 1950. A implosão final da União Soviética, em 1991, e a transição de praticamente todos os países socialistas ao velho e duro capitalismo de modo mais ou menos rápido terminou por encerrar o culto beato que mantinham acadêmicos e sindicalistas ao estatismo e à “soberania econômica nacional”, inclusive porque a volta à prosperidade de alguns desses países congelados na estagnação socialista foi real e espetacular (sobretudo na Europa).
Na América Latina, sempre alimentada por velhas teorias e doutrinas ditas “desenvolvimentistas” com muita influência nas academias e, portanto, entre as elites econômicas igualmente, os resultados foram bastante contraditórios, inclusive porque o fracasso da “década perdida” (a crise da dívida externa nos anos 1980) não foi seguido por reformas realmente profundas na maior parte dos países. Poucos dentre eles aderiram ao novo “cânone” liberal, supostamente simbolizado nas regras do “Consenso de Washington”, de modo que a conversão a economias livres de mercado foi apenas parcial – em parte no México, moderadamente na Colômbia, mais decisivamente no Chile, e tardiamente no Peru –, ao passo que grandes economias, como Argentina, Brasil e também a Venezuela, experimentaram um pouco de “neoliberalismo”, mas tornaram a recorrer às velhas receitas do estatismo e do populismo econômico, mais uma vez guiadas por demagogos de esquerda (os Kirchner, na Argentina; Lula, no Brasil; Hugo Chávez na Venezuela). De forma não surpreendente, aqueles quatro países da franja do Pacífico se engajaram mais resolutamente na globalização, e passaram a experimentar taxas de crescimento mais robustas, ao passo que os demais estagnavam, quando não recuavam no caminho da prosperidade e da inserção na economia global.
  1. Do lado da direita: todo globalismo será castigado, mesmo sem doutrina
Tudo indica, portanto, que o antiglobalismo de esquerda perdeu relevância, mantendo-se apenas em poucos nichos acadêmicos, eventualmente influentes em alguns movimentos políticos e sociais, mas desprovidos de maiores evidências capazes de sustentar uma nova escalada ascensional ao poder, como talvez tenha sido o caso localmente em certos países. Abriu-se então uma janela de oportunidade para o antiglobalismo de direita, de certa forma alimentado pelo efeitos da globalização em países avançados, nos quais as velhas indústrias da segunda revolução industrial deixaram de representar parte relevante do PIB, para abrir espaço às novas economias de serviço, apoiadas bem mais no oferecimento de bens intangíveis do que na produção de manufaturados (que foi deslocada para os países periféricos, ou “emergentes”, em grande parte na Ásia).
Ao mesmo tempo, o fracasso econômico de algumas grandes regiões, assoladas por guerras civis, como na África e no Oriente Médio, ou pelo velho populismo como na América Latina, realimentou novos fluxos migratórios, alguns espetaculares, como resultado de guerras prolongadas e afundamento econômico em Estados falidos. O fato desses novos imigrantes acudirem aos borbotões e de forma frequentemente ilegal às portas de países avançados da Europa e da América do Norte despertou – ao lado de alguns ataques espetaculares de terroristas islâmicos no próprio coração dessas velhas metrópoles coloniais, ou imperialistas – como seria de se esperar, reações xenófobas, e até racistas, por parte das populações brancas, cristãs, e relativamente afluentes nesses países. O fato de que a ONU e suas agências especializadas tendem a assumir uma postura política tendencialmente favorável ao fenômeno migratório, e pragmaticamente assistencialista no tocante ao acolhimento de refugiados econômicos e de catástrofes humanitárias, também contribuiu para a formação de uma reação negativa, por parte das populações dos países “assediados”, o que alimentou o crescimento e o reforço político de partidos e movimentos de direita, excludentes por definição, nacionalistas em sua essência, e manifestamente “antiglobalistas” no que tange à expansão contínua do multilateralismo ao longo dos primeiros setenta anos da ONU e seus órgãos assessórios.
Não existe uma “doutrina” unificada do antiglobalismo, pela simples razão de que as situações nacionais são substancialmente diversas, tanto em termos de “pressões” advindas de fluxos migratórios “não-cristãos”, quanto como resultado de trajetórias políticas nacionais bastante diferentes entre si, mesmo numa Europa supostamente “comunitária”, exibindo algumas políticas comuns de “segurança” ou de política externa, como o “espaço Schengen”, por exemplo, compreendendo, em teoria, 26 dos 28 países membros da União Europeia. Nos Estados Unidos, já pressionados por algumas dezenas de milhões de imigrantes ilegais, a maior parte latino-americanos, a situação política também se modificou sensivelmente a partir da eleição de Donald Trump, e sua assunção à presidência em janeiro de 2017; deliberadamente contrário às políticas de imigração já relativamente restritivas da administração anterior, o novo presidente começou uma ofensiva anti-imigratória simbolizada na construção de um muro na fronteira com o México, até o momento ainda não materializado por inteiro.
No plano mais global das ideias políticas é certo que o multilateralismo, em vigor durante mais de meio século sob a égide da ONU, e dos grandes empreendimentos comunitários ao estilo da EU, encontram-se temporariamente sob os ataques dos novos movimentos de direita, com seus diversos componentes políticos, étnicos, religiosos e culturais, que assumiram algum poder em diversos desses países “assediados”, com a perspectiva de que alguma associação mais flexível entre esses diversos movimentos se manifeste de forma mais ruidosa no plano político-eleitoral, sobretudo na Europa. Os casos mais evidentes se referem à Itália, à Hungria e à Polônia, não por acaso sob a vigilância das instâncias comunitárias que examinam atentamente a evolução de suas políticas nacionais nos terrenos da democracia política, das liberdades de expressão e do respeito aos direitos humanos. Talvez também não por acaso são os países escolhidos como novos “aliados políticos” do novo governo brasileiro, assumidamente de direita e partidário de uma pouco explicada adesão a valores “judaico-cristãos” que estavam, pelo menos aparentemente, esquecidos nas últimas décadas em nosso país.
  1. Teorias conspiratórias sobre o globalismo: déjà vu, all over again
Mais até que no âmbito das políticas nacionais em matéria educacional ou de direitos humanos – que praticamente não existem ou são suficientemente confusas para desafiar qualquer interpretação a respeito –, é no âmbito da política externa que se tem manifestado a mais espetacular inversão de tendências das últimas décadas, ou, mais exatamente, desde sempre, ao se ter evidências fáticas, ainda que igualmente confusas, sobre o antiglobalismo notório da nova administração diplomática brasileira. Ela está a cargo de um funcionário pouco experiente no exercício de funções de alta chefia, muito devotado às ideias da “nova direita” europeia – na verdade, de extrema direita –, e especialmente submisso aos eflúvios antiglobalistas expelidos pelo já referido “sofista da Virgínia”, que não possui nenhum discurso articulado sobre o fenômeno.
Ainda que Olavo de Carvalho não possua nenhum estudo academicamente respeitável sobre o pretenso fenômeno do globalismo, não há dúvida de que ele está na origem da formação de um pequeno grupo de discípulos, organizados em forma de seita antiglobalista, seguidores de suas diatribes – na verdade, reproduzindo tendências já presentes na nova direita americana – contra a globalização e o suposto globalismo. De fato, sem produzir qualquer conhecimento original, na completa ausência de pesquisas baseadas em fontes credíveis, ele vocaliza suspeitas há muito disseminadas em certos meios esotéricos, e as transmite a seus “discípulos” propensos a acreditar na ação obscura de determinados grupos supostamente influentes na sociedade. Completamente desprovidos de fundamentação empírica, reproduzindo verdadeiros absurdos do ponto de vista da história econômica, os poucos escritos e afirmações esparsas de Olavo de Carvalho a propósito desse globalismo fantasmagórico não apresenta nenhum dos requerimentos básicos para eventual submissão a algum journal peer-reviewed.
Sua reação epidérmica, próxima da indigência subintelectual, se parece muito com as teorias conspiratórias de alguns grupos, eventualmente conectados em rede, já detectados em algumas obras de especialistas acadêmicos, dentre eles o historiador escocês (radicado nos EUA), Niall Ferguson, em especial em um livro recente: The Square and the Tower: Networks and Power, from the Freemasons to Facebook(Londres: Penguin Books, 2018), aqui transcrito:
A suspeita cresce [entre os deslocados do mercado de trabalho] de que o mundo é controlado por redes poderosas e exclusivas: os banqueiros, o Establishment, o Sistema, os Judeus, os Maçons, os Illuminati. Quase tudo o que se escreve nessa linha é lixo. Mas seria improvável que as teorias da conspiração fossem tão persistentes se redes desse tipo não existissem.
O problema com os teóricos da conspiração é que, como deslocados ressentidos, eles invariavelmente não compreendem e deformam os meios pelos quais as redes operam. Em especial, eles tendem a acreditar que redes de elites controlam, disfarçadamente, mas facilmente, as estruturas formais de poder. Minha pesquisa – assim como minha experiência – sugere que esse não é o caso. Ao contrário, redes informais frequentemente exibem uma relação altamente ambivalente com respeito às instituições estabelecidas, e em muitos casos mesmo uma relação hostil. (tradução livre do prefácio: “O historiador em rede”)
Mas, o historiador britânico também alerta logo em seguida: “Frequentemente, grandes mudanças na história são o resultado de grupos informalmente organizados de pessoas, parcamente documentados.” Ele também indica, imediatamente, dois nos quais é formalmente envolvido, o World Economic Forum e encontros do grupo Bilderberg, este último frequentemente citado nas diatribes antiglobalistas de Olavo de Carvalho. A despeito de pertencer a muitos outros grupos e redes, na Grã-Bretanha e nos EUA, Niall Ferguson confessa candidamente que não tem “quase nenhum poder” (idem). No entanto, alguns dos exemplos examinados em seu livro chegaram a ter essa ilusão de conseguir mudar o mundo, começando, no século XVIII, pela Illuminatenorden, a Ordem dos Iluminados, na qual circularam intelectuais como Goethe e Herder. Seu fundador a chamava de Liga dos Perfeitabilistas – Bund der Perfektibilisten –, cujo objetivo era assegurar a “vitória da virtude e da sabedoria sobre a estupidez e a malícia” (Cap. 1: “The Mystery of the Illuminati”). Alcançando os Estados Unidos depois da revolução francesa, os Illuminati podem ter estado na origem do “estilo paranoico na política americana”, segundo o historiador Richard Hofstader; eles também teriam tido um papel na fundação da John Birch Society, a mais anticomunista das associações políticas americanas, assim como certa influência na obra do maior conservador cristão do país, Pat Robertson, autor do livro New World Order (1991), uma das possíveis bases do pensamento antiglobalista de Olavo de Carvalho.
Em meu debate involuntário com Olavo de Carvalho fui “presenteado” com a descrição completa do “alto comando” que, segundo essa teoria conspiratória, manda soberanamente nos destinos do mundo, já tendo colocado na teia do globalismo as mais influentes associações e os mais ricos magnatas cooptados para esse projeto sinistro. Ele me citou os Bilderbergers, os Rockefellers e os Rothschilds, além da Fabian Society e uma cesta inteira de think tanks e ONGs, todos eles engajados na consolidação da Ordem Global, inclusive por meio da ONU. Niall Ferguson resume de forma magnífica essa “teoria da conspiração” numa das passagens mais representativas de seu livro – sobre as redes que circulam em volta do poder –, ilustrando aliás seus parágrafos sobre a coalizão dos Illuminati contemporâneos com um quadro apropriado, que já reproduzimos abaixo, seguido de seu texto-síntese sobre a “conspiração para dominar o mundo”:
Um painel bastante representativo descreve os Illuminati como uma ‘elite super rica do Poder com a ambição de criar uma sociedade escrava’:
Os Illuminati possuem todos os bancos internacionais, as companhias de petróleo, as mais poderosas empresas da indústria e do comércio, eles se infiltram na política e na educação e eles dominam quase todos os governos – ou pelo menos controlam-nos. Eles possuem até mesmo Hollywood e a indústria da música… [O]s Illuminati comandam também a indústria do comércio de drogas… Os principais candidatos à Presidência são cuidadosamente escolhidos dentre as linhas ocultas de sangue de treze famílias de Illuminati… O maior objetivo é o de criar um Governo Único Mundial, com seus membros no topo para dominar o mundo na direção da escravidão e da ditadura… Eles querem criar uma ‘ameaça externa’, uma falsa Invasão Extraterrestre [a fake Alien Invasion], de forma a que os países deste mundo se declarem dispostos a se unir num Único.
A versão padrão da teoria da conspiração vincula aos Illuminati a família Rothschild, a Távola Redonda, o Grupo Bilderberg e a Comissão Trilateral – sem esquecer o administrador de fundos de risco, doador político e filantropista George Soros. (Cp. 1 de FERGUSON, ““The Mystery of the Illuminati”, in: The Square and the Tower, p. 3)
  1. A contrafação dos neoilluminati no Brasil: globalismo, climatismo, marxismo
Aqueles dispostos a assistir à “entrevista-diálogo” que mantive com Olavo de Carvalho em dezembro de 2017 ouvirão de sua própria voz as mesmas referências a esse sinistro projeto conspiratório globalista, com o desfilar nominativo daqueles mesmos personagens suspeitos de financiar dezenas de organizações – inclusive várias de esquerda, uma vez que se sabe que Soros é um “homem de esquerda” – com a meta de instaurar um governo mundial. O representante en titredo antiglobalismo no Brasil se exerce com toda a sua arrogância autosapiente neste vídeo gravado pela equipe do Brasil Paralelo, disponível no Canal YouTube (link: https://youtu.be/6Q_Amtnq34g).
Segundo os neoilluminati e seus representantes no Brasil qualquer projeto que tenda a retirar poderes dos Estados soberanos para colocá-los nas mãos de burocratas não eleitos está irremediavelmente contaminado pela ideia globalista, e deve, portanto, ser rejeitado in limine.  Encontra-se nessa situação, obviamente, o projeto comunitário da União Europeia, aliás desde sua origem no Tratado de Paris (1951) e nos tratados de Roma de 1957 e todas as suas derivações posteriores, até o de Maastricht, que criou a União Europeia em 1993, e que inclusive tentou instituir uma espécie de “governo central”, com presidente e constituição escrita. Para ser fiel a esse credo soberanista, os novos responsáveis pela política externa do Brasil deveriam, presumivelmente, recusar não só o acordo de liberalização comercial Mercosul-União Europeia, como o próprio princípio do Mercosul, cujo tratado constitutivo – assinado em Assunção, em 1991 – prevê o coroamento do atual processo de consolidação da união aduaneira por meio de um mercado comum, como no precedente europeu de 1957. O nome oficial do bloco, aliás, é “Mercado Comum do Sul”, aparentemente uma insustentável renúncia de soberania, na visão dos antiglobalistas.
O fato de que todo e qualquer tratado internacional, seja ele bilateral, regional ou multilateral, implique necessariamente uma renúncia de soberania por parte dos Estados signatários – no sentido em que eles concordam em fazer e deixar de fazer certas coisas de comum acordo, se comprometendo, portanto, a não aplicar medidas unilaterais nas áreas cobertas pelo tratado – deveria fazer com que os antiglobalistas convictos recusem a essência mesma da diplomacia, que é justamente a arte de estabelecer convivência e cooperação entre Estados, num exercício de autolimitação de seus poderes soberanos. O extremo nacionalismo, como já observado em algumas trajetórias históricas, termina por resultar na autarquia, isto é, a tentativa de se libertar de qualquer dependência com respeito a fornecedores estrangeiros, amigos ou inimigos. Exemplos conhecidos na era moderna compreendem a União Soviética – “socialismo num só país” –, a economia nazista na Alemanha sob Hitler e o próprio Brasil, em diversos períodos sob dominação militar (na era Vargas e sob a ditadura militar, 1964-85), quando também se praticou uma espécie de “stalinismo industrial”, com indústrias verticalmente integradas e basicamente dedicadas a se abastecer e a fornecer produtos para o mercado interno.
Os principais inimigos dos antiglobalistas brasileiros são, sem qualquer ordem predeterminada, os adeptos do marxismo cultural, do aquecimento global (chamado de climatismo), do comercialismo (ou seja, o comércio sem alma), do multilateralismo, do universalismo e, evidentemente, do globalismo. Todos eles passaram a ser combatidos, em nome da pureza na adesão ao novo credo oficial, muito próximo das mesmas posturas já exibidas pela nova direita europeia e pelo presidente Trump, objeto dos maiores elogios do novo chanceler ao ser considerado o “salvador do Ocidente”, em especial em sua vertente “judaico-cristã”. Ao lado dessas ameaças, persistem diversos outros equívocos teorizados especialmente para o caso do Itamaraty pelo encarregado da diplomacia bolsonarista: o nominalismo, o tematismo, o isolamento do Itamaraty da sociedade brasileira e das demais políticas públicas, e uma suposta indiferença dos diplomatas no tocante aos valores profundos do povo brasileiro, que seria conservador por excelência e, ipso facto, partidário de todas essas posturas quase que naturalmente.
Trata-se de uma agenda demolidora, stricto et lato sensi, pois para colocar o Itamaraty no mesmo diapasão que vigorou no Império até a gestão do Barão do Rio Branco – uma vez que todo o período posterior, até o governo Bolsonaro, é considerado um desvio em relação aos verdadeiros valores da sociedade brasileira –, é preciso desmantelar, literalmente, os padrões culturais e ideológicos seguidos durante esse largo período intermediário, quando a política externa e a diplomacia distanciaram-se da real identidade do povo brasileiro, praticando o terceiro-mundismo, o antiamericanismo e o antiocidentalismo.
Suprema ironia: todo esse combate contra as más ideias – de fato, a destruição da inteligência no Itamaraty – tem como justificativa a luta contra as ideologias. Soit!
Paulo Roberto de Almeida
2019