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domingo, 20 de janeiro de 2019

A Diplomacia na Construcao da Nacao - Rubens Ricupero (Resenha: Osmar M. Visibelli)

RESENHA:
RICUPERO, Rubens: 
A diplomacia na construção do Brasil (1750-2016)
Rio de Janeiro, Versal, 2017. 


Osmar M. Visibelli
Revista de Economia Política e História Econômica
número 41, janeiro de 2019, pp. 231-239


O livro “A diplomacia na construção do Brasil: 1750 – 2016”, do diplomata Rubens Ricupero, publicado pela Versal Editores em 2017 contribui para a ampliação da bibliografia disponível em relação à história da diplomacia no Brasil, englobando desde 1750, período colonial no qual a diplomacia é ditada por Portugal, até o ano de 2016, no período imediatamente anterior ao impeachment de Dilma Rousseff. Segundo o autor, baseado em suas anotações e registros quando de sua atuação como professor da disciplina de História das Relações Diplomáticas do Brasil, a obra foi concebida para ampliar fonte de estudo sobre a evolução da política externa, agregada aos demais fatores políticos e econômicos ocorridos nos períodos analisados. 
Segundo o autor, as obras disponíveis sobre a história do Brasil tendem a dedicar sua atenção nos eventos internos do país, com relativo menor destaque aos eventos internacionais e da política externa, “como se a história de um país constituísse um todo suficiente e fechado em si mesmo...” (pg. 21). Em tais obras, a estrutura geral seria comprometida em sua coerência interna, pois a dispersão dos temas nacionais entre os elementos internos e externos geraria certa fragilidade para o conjunto do texto. 
Por outro lado, obras relativas à história diplomática, de acordo com Ricupero, incidem em erro oposto, ou seja, isolam a diplomacia dos fatores políticos, econômicos e sociais que a determinam, não reproduzem de forma adequada um processo que afinal é determinado em dois níveis distintos, interno e externo. 
Sua visão do mundo e dos eventos que relata não prescinde do rigor técnico necessário à elaboração do trabalho, enfatizando o uso de fontes nacionais e estrangeiras, sem o uso abusivo de cifras e estatísticas e texto que revela amplo domínio da norma culta da língua, sem a necessidade da linguagem acadêmica que, por vezes, em outras obras, apenas oculta a falta de conteúdo apreciável. São fontes nacionais para a diplomacia e política autores como Hélio Viana, Delgado de Carvalho, Renato de Almeida, Araújo Jorge, Ricardo Seitenfus, Amado Cervo, Clodoaldo Bueno. 
Já para a evolução da economia nacional, além das incontornáveis citações de Caio Pardo Júnior e de Celso Furtado, o autor destaca como referência a obra organizada por Marcelo Paiva de Abreu, A ordem do progresso: dois séculos de política econômica no Brasil, quer na edição de 1990, quer na de 2014. 
A intenção revelada pelo autor em relação à obra é a construção de diálogo com a academia e todos os demais interessados pelo tema relacionado à história diplomática nacional, independentemente de sua área específica de pesquisa. 
Não há nenhuma tese ou possível conclusão que deseje, segundo ele, provar ao leitor. Entretanto destaca-se, ao longo de todo o texto, o papel exercido pela política externa na construção de valores que, hoje, são comuns ao povo brasileiro, característica elaborada e construída especialmente pela gestão de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco e a inspiração de Joaquim Nabuco, ambos egressos da escola política do Império. 
Com a publicação de sua obra, o autor pretende apresentar fonte de consulta que permita aos pesquisadores e interessados em história diplomática obter em um mesmo texto recursos que atendam à necessidade da compreensão de um quadro sistêmico, formado pelo conjunto do ambiente interno e externo à diplomacia, avaliando o processo decisório sob o enfoque de um jogo formado pelas pressões internas, formadas pelos diversos interesses em conflito e as diversas situações, oriundas do sistema internacional, identificando campos formados pelos aspectos econômicos e políticos dos agentes. 
A obra não exige do leitor conhecimentos prévios específicos de política externa, pois desenvolve com consistência e método o tema; ao mesmo tempo possui a densidade estrutural necessária para constituir-se em material de referência para pesquisa e utilização como bibliografia de suporte. As notas de rodapé e as obras sugeridas como complementares estão adequadas ao propósito da edição, com a inserção ao final de cada capítulo das referências bibliográficas nele contidas, facilitando o contato do leitor com as mesmas e, eventualmente pesquisa referencial. 
Não é necessário perfil acadêmico específico em Relações Internacionais para a leitura e desfrute da obra, que cumpre adequadamente também o papel de divulgação científica. Plenamente acessível a um amplo público poderá, eventualmente, até mesmo inspirar novas vocações junto ao Itamaraty. 
O tratamento dado ao tema constitui agradável leitura, amparada não apenas na ampla erudição do autor como da citação de fontes diversas que contribuirão para o interessado aprofundar-se nos temas tratados ao longo da obra, desde o Tratado de Madri até as políticas mais recentes adotadas pelos diferentes governos nacionais, respeitado o escopo temporal da obra. 
O conjunto de ilustrações – mapas, quadros e fotografias – mereceria maior amplitude, especialmente o quanto ao primeiro item, uma vez que a evolução das fronteiras brasileiras toma especial grandeza, não apenas da obra, mas da construção da imagem nacional perante o sistema internacional e no imaginário coletivo brasileiro. Nada que comprometa a qualidade do trabalho. 
Quadros e fotografias também poderiam ser inseridos como anexos interessantes, permitindo ao leitor um imediato contato com imagens que o remetam ao momento histórico descrito em cada um dos distintos períodos. Certamente o uso intensivo de meios eletrônicos pode preencher tal lacuna, imagens e mesmo vídeos podem ser encontrados com facilidade, contudo creio que uma obra impressa possui não apenas um interesse diferenciado, constitui-se um registro diferenciado. 
O cuidado editorial é perceptível ao primeiro contato. A edição conta com um primeiro lote com acabamento diferenciado, utilizando capa dura; os lotes seguintes, segundo a editora, serão disponibilizados com capa mole. Impresso em papel Pólen e com diagramação bem realizada, a obra terá longo prazo de vida útil, ainda que intensivamente manuseada. 
Certamente o leitor poderá aliar o prazer da aquisição do conhecimento com o lúdico manuseio da obra, tanto o leitor que busca informações gerais e curiosas, como o pesquisador especializado, que poderá usufruir das fontes abundantemente citadas ao longo da obra. 
Contribuindo para a leitura e análise da obra, destaco que o autor não está limitado a explorar exclusivamente os aspectos da política externa. Enfatizando a relação desta com o ambiente interno do país, o texto navega com grande familiaridade, amparado por pesquisa fundamentada em amplas referências bibliográficas, nas questões políticas e econômicas de cada momento, como comentado nos registros a seguir. 
A obra apresenta a história diplomática dividida entre períodos identificados como Colônia, Império e República, esta última identificando separadamente a política externa adotada nos diferentes momentos: Primeira República, a Revolução de 1093 e a ditadura varguista, a República Populista, o período Militar e a Redemocratização, com ênfase especial em temas específicos a cada um dos momentos históricos. 
O autor justifica a inclusão do período colonial - o qual, a princípio não registra a existência de um Estado brasileiro e, por consequência, uma política externa nacional - face à grande importância dos tratados de definição de fronteiras assinados entre as Coroas espanhole e portuguesa: o tratado de Madri (1750) e o de Santo Idelfonso (1777). Segundo Ricupero, a importância do fenômeno do bandeirantismo foi responsável pela implementação do conceito luso/brasileiro de que a posse física do terreno justificava a delimitação fronteiriça, conceito que mais tarde embasará a política de definição de fronteira implementado pelo Barão do Rio Branco no início do século XX. Ainda para o período colonial, a obra destaca a interessante política externa portuguesa, que face à sua fraqueza em relação aos instrumentos de poder, utiliza com eficiência estratégia baseada em aliança política e militar desigual com a Inglaterra, ao mesmo tempo que explora ao máximo as possibilidades de postergar decisões, amparada pelas dificuldades logísticas de comunicação. Como maior exemplo deste conjunto de ações, destaca-se a negociação entre o regente Dom João, Napoleão e Canning. Já com a corte portuguesa sediada no Rio de Janeiro, Ricupero destaca a continuidade do confronto luso/espanhol na Bacia do Prata, que será herdado pelo Império. 
A política externa do Império recebe atenção do autor, focando os recorrentes atritos e intervenções na Bacia do Prata, culminando com a Guerra do Paraguai, bem como os atritos com a Inglaterra devido à questão Christie, na qual o Império utiliza da estratégia portuguesa de força moral ante um poder muito maior, para obter ressarcimento político onde a força favorável ao lado britânico. A questão da escravatura e das alternativas políticas empregadas pelos estadistas imperiais para retardar a abolição, frente às crescentes pressões externas inglesas, recebe também a atenção do autor. 
A República, com o golpe de Estado de Deodoro, surge da convulsão jacobina dos quartéis e de sua aliança com os grupos republicanos civis, inaugurando a participação do chamado partido fardado – conforme Oliveiros Ferreira – na história política do país. 
Em seus passos iniciais, a política externa republicana é focada em negociação financeiras com a banca inglesa para o novo regime, bem como solucionar as pendências fronteiriças. Neste último caso, destaca-se inicialmente a confusa gestão Quintino Bocaiúva, como ministro das Relações Exteriores da República frente à questão do território de Palmas, em litígio com a Argentina. 
Como não poderia deixar de ser em qualquer análise ou descrição sobre o período da Primeira República, a figura de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, assume grande destaque. Não apenas pela resolução das questões em si, mas, principalmente, pelo respaldo que as negociações que consolidam as fronteiras nacionais assumem perante a validação do novo regime perante a opinião pública. A política externa confere e respalda a legitimidade do regime, nascido de um golpe militar. Ao longo da Primeira República, o Ministério das Relações Exteriores passa por reorganização estrutural; ainda que permeado por indicações políticas, o corpo diplomático começa a instrumentalizar profissionalmente sua atuação, desafiado constantemente pela penúria financeira. 
A instabilidade interna dos arranjos políticos, exemplificada pelo governo Arthur Bernardes, aliada à crise financeira do final dos anos de 1920, resulta na revolução de 30, mais uma intervenção do Partido Fardado, a qual abre caminho para a ditadura caudilhista de Vargas, a qual antes de inspirar-se em fascistas italianos ou portugueses, deve sua filiação à inspiração de Borges de Medeiros e Júlio de Castilhos. Em relação ao período da ditadura do Estado Novo, o autor destaca a questão financeira nacional como um dos motivos para a aproximação com a economia alemã, baseando as transações entre os dois países com os marcos de compensação, que evitavam o uso das poucas reservas em moedas fortes disponíveis no país, evitando a armadilha que situa admiradores de um Estado centralizado, como o General Góes Monteiro, como simpatizantes do regime nazista alemão. 
Após o afastamento de Getúlio Vargas em 1945, inicia-se o que Oliveiros Ferreira sarcasticamente intitula de “república risonha e franca” e sua confusa legislação eleitoral. 
O alinhamento com os Estados Unidos, durante o governo Dutra (1946/1950) é visto sob o impacto da decepção decorrente do rompimento da expectativa de auxílio norte americano, especialmente no campo econômico, para o desenvolvimento brasileiro. 
A comparação da ação americana na Europa e no Japão, elaborada sob o signo do Plano Marshall e do desafio político da URSS, e a relativa perda de importância da América Latina no novo cenário de poder mundial, gera ambiente de frustração com a aliança, supostamente próxima, firmada entre EUA e Brasil durante o conflito mundial. Este novo ambiente forma a base da qual a candidatura de Getúlio Vargas à presidência da República pode ser apresentada: personagem que havia dado dois golpes de Estado (1930 e 1937), que atuou como ditador durante os oito anos de duração do Estado Novo (1937 a 1945), apresenta-se como opção ao eleitorado, gerando o início de conturbado período da vida política, pois divide a sociedade entre os que o haviam combatido desde 1932 e, finalmente, o expulsado do poder em 1945, e os que forneceram suporte político e militar no mesmo período. 
Agosto de 1954 representa um dos momentos nos quais estes dois grupos medem forças de forma direta, alternando entre ambos a balança de poder. Este processo culmina em dois golpes militares seguidos, em defesa da legalidade constitucional, a novembrada de 1955 do General Lott, sustentando a posse do presidente eleito, Juscelino Kubistchek. 
O governo Juscelino, segundo Ricupero, representa o sonho de um país desenvolvido amparado por processo formado por duas mãos, o início de forte processo de urbanização e desenvolvimento de indústria de consumo, sustentado por descontrole dos gastos governamentais e aumento das taxas inflacionárias. O impacto do período mais conflituoso da Guerra Fria na política externa nacional é destacado pelo lançamento da OPA (Operação Pan Americana) em 1958, por iniciativa do governo Juscelino, com a pretensão de obter auxílio econômico dos EUA, sem resultados imediatos. 
O descontrole econômico do período Kubistchek influencia as opções de candidatos nas eleições de 1960, sendo vencedor Jânio Quadro. Ricupero enfatiza a política externa independente (PEI), inaugurada, segundo ele, por Jânio Quadros, com o objetivo de criar espaço próprio brasileiro na arena internacional. O curto governo de Jânio Quadros evidencia a política externa pautada pelo jogo de poder entre as forças internas, com o presidente utilizando em benefício de seu projeto pessoal de poder o impacto da condecoração a Guevara para angariar apoio em ambos os lados do cenário político; de um lado os simpatizantes da revolução cubana e da URSS pelo gesto em si e de outro lado sinalizando aos demais a possibilidade de que, sem apoio direto, poderia tender à posição contrária à tradicional postura da diplomacia nacional. 
A possibilidade de ampliação das relações comerciais com a URSS, seus satélites e também com a China continental serve como principal justificativa e fundamento econômico da PEI pois a balança comercial apresenta saldo negativo e o desequilíbrio fiscal e inflacionário é grave; com novos parceiros comerciais e mercados, eventualmente o desenvolvimento nacional poderia adquirir maior impulso. O autor registra que, em seus momentos iniciais, a PEI não causa maior questionamento por parte dos EUA, principal parceiro comercial à época, uma vez que não gera em si efeitos práticos de afastamento brasileiro do conjunto latino americano e ocidental. 
A renúncia de Quadros – provocada pelo seu temperamento intempestivo ou por projeto de obtenção de poderes especiais delegados pelo Congresso e/ou Forças Armadas - leva o processo político interno a elevado grau de tensão, pela questão do veto dos ministros militares à posse do vice-presidente, João Goulart, dividindo o estamento militar e levando o país à beira de um conflito. O compromisso de implantação imediata do parlamentarismo - mantendo amplos poderes presidenciais - com referendo de consulta posterior em relação ao regime (se presidencialista ou parlamentarista), permite a redução da tensão interna. 
A partir deste ponto, o autor enfatiza sua admiração pessoal pela figura do ministro das Relações Exteriores, San Thiago Dantas, como um formulador estratégico de políticas públicas e dotado de fina sensibilidade política. Ao longo do texto é curioso como a defesa do prestígio de San Thiago Dantas e de sua possível competência analítica, contrasta com o registrado à página 434 da obra: 
A informação ou a capacidade analítica ao alcance do Itamaraty e do governo sobre as prováveis tendências da evolução do castrismo nunca haviam podido antecipar as decisões de Fidel. 
Ricupero destaca a reunião realizada entre Goulart e Robert Kennedy em dezembro de 1962 como sendo um ponto de inflexão da relação entre Brasil e EUA. O autor não está pessoalmente presente, mas analisa os efeitos do encontro a partir de anotação da diplomacia norte americana e de suas conclusões pessoais em relação à política interna. Percebe-se, segundo o autor, a simpatia pessoal de Goulart em relação a posturas nitidamente contrárias aos EUA, ainda que manifestadas diretamente por elementos de seu entorno político e familiar, como a encampação de empresa de capital norte americano, sem a respectiva indenização adequada, realizada por Leonel Brizola, seu cunhado. Esta reunião ocorre antes da realização do plebiscito que reinstaura o presidencialismo no Brasil e marca a relação de relativo antagonismo entre os dois governos, até a deposição de Goulart. 
O autor destaca sua preocupação quanto ao real compromisso democrático do governo Goulart, evidenciado pela solicitação de decretação do estado sítio, em outubro de 1963, como resposta ao desafio oposicionista representado, principalmente, pelo governador do então estado da Guanabara, Carlos Lacerda. 
Os governos militares sucedâneos não apresentam, segundo Ricupero, um único modelo de política externa, ainda que compartilhem a origem castrense. O autor discute os diferentes períodos e as distintas orientações de política externa, iniciando com comentários sobre o governo Castelo Branco, envolvendo os anos de 1964 a 1967, no qual a Guerra Fria domina conceitualmente as ações externas, inclusive a participação brasileira na questão dominicana. 
O governo Costa e Silva teria como mandato o intervalo de 1968 a 1973. Contudo, afastado em 1969 por problemas de saúde, seu sucessor, Emílio Médici, completa o período presidencial que apresenta o endurecimento do regime, caracterizado pelo recrudescimento da guerrilha interna, pelo paulatino isolamento internacional e, especialmente, pelo crescimento e desenvolvimento econômico, que marca o período como Milagre Econômico. Registra aqui uma fissura no Estamento militar entre dois grupos; um desejando retirar-se do poder após os ajustes que julga necessários e outro procurando manter-se no poder e implementar os conceitos e estratégias discutidos internamente nas Forças Armadas desde o movimento tenentista. 
O momento seguinte de 1974 a 1979, correspondente ao governo Geisel, possui, segundo Ricupero, como elemento diferencial, o início de processo de distensão política junto ocorrido conjuntamente ao início da crise do modelo econômico. Em relação à política externa, o acordo nuclear com a Alemanha Ocidental opõe diretamente os interesses nacionais, ditos pragmáticos, com a política de inspiração wilsoniana do governo Carter nos EUA, o qual, utilizando instrumentos de pressão que vão desde o questionamento à política de direitos humanos até a questões econômicas, bem como seu encontro pessoal com Geisel em 1977, procura ativamente intervir nas questões internas brasileiras. Curiosamente, gerou efeito de certa aproximação tática das diferentes forças políticas brasileiras, legais e clandestinas, face ao desafio externo. 
Para Ricupero, o acordo nuclear seria o símbolo maior de que a política externa de Geisel não emula a de Castelo Branco, uma vez que representa momento de forte e direta confrontação com os EUA. Para o período citado, destaca ainda a intensa colaboração com o Japão, visando o desenvolvimento de pesquisa agrícola que representará, no futuro, o desenvolvimento da cultura de soja no ambiente ecológico do cerrado, base do agronegócio brasileiro em meados do século XXI. O encaminhamento da negociação do aproveitamento de rios da bacia hidrográfica sul para geração de energia hidroelétrica, envolvendo Brasil, Argentina e Paraguai, ainda que finalizado no governo Figueiredo, é outro ponto de relevo da diplomacia brasileira, demonstrando capacidade de pressão e negociação, aplicadas em doses distintas ao longo do período e produzindo resultados aceitáveis aos envolvidos. 
O governo Figueiredo é apresentado sem nenhuma distinção especial em política externa, caracterizado que é pela crise econômica do modelo de desenvolvimento, aliada à perda de sustentação interna do regime militar. 
O acidental governo Sarney, sob o impacto da elaboração da nova constituição e conduzindo com exemplar incompetência a gestão econômico-financeira, mergulha o país em seguidos planos heterodoxos que apenas agravam ainda mais o processo hiperinflacionário em curso, somando ainda a perda de confiança na estrutura institucional que as seguidas intervenções no mercado geram no empresariado e nos trabalhadores, culminando na declaração de moratória da dívida, apresentada aos brasileiros como ato de soberania quando, em verdade, constituía-se em simples falta de disponibilidade de caixa. 
Ações políticas ampliam o protecionismo do mercado interno, como a política de informática criando uma reserva exclusiva do mercado nacional, fato que, no futuro imediato, impactará negativamente a produtividade nacional, reduzindo a possibilidade de que produtos industriais possam competir adequadamente no mercado internacional. 
No meio externo, o governo Sarney inicia uma maior aproximação com a Argentina copiando – infelizmente - as exóticas estratégias econômicas de Buenos Aires, mas, ao longo do tempo, obtém a redução da tensão da corrida nuclear entre ambos, dando os passos iniciais para uma maior integração econômica entre ambos os países, os quais, devido à realidade geopolítica regional, acabam por incluir Paraguai e Uruguai em um bloco econômico denominado de Mercosul. 
Estratégias formuladas no exterior (Plano Brady) permitem o início do encaminhamento da questão da dívida externa, não apenas a brasileira, processo que impactava negativamente a concessão de créditos internacionais necessários devido à baixa capacidade de formação de capital interna. 
A eleição de 1990, ocorrida no esgotamento do modelo nacional desenvolvimentista, resulta no governo Collor, entendido como de inspiração favorável ao mercado, mas que inicia não apenas mais um congelamento de preços, mas inova acrescentando o confisco de investimentos e poupança. Como entende Ricupero, nada mais distante de qualquer postulado liberal. Como a abertura econômica realizada cria condições econômicas diferenciadas, o mercado interno é exposto à concorrência internacional, gerando redução de custos e evidenciando a perda de competitividade nacional, especialmente na indústria, com consequente fechamento de plantas fabris, perda de empregos e queda da participação da indústria na formação do PIB do Brasil e perda de mercados externos. 
O autor entende o movimento de abertura comercial realizado no governo Collor como uma adaptação, ainda que tardia, do que intitula como movimento liberal ocorrido nas economias dos EUA e Reino Unido, em especial; uma evidência que como as transformações ocorridas na “...história mundial exercem influência irresistível sobre o Brasil e seus vizinhos...”, ainda que deslocados em termos temporais. 
Para Ricupero, a ação diplomática realizada sob o signo da Rio-92, abre oportunidade para que o país possa apresentar-se ao sistema internacional com roupagens distintas. Não mais palco de exóticas experiências econômicas, mas como importante ator no campo do desenvolvimento sustentável, destacando que, desde o evento, ainda não desenvolvemos adequadamente tal postura. 
Ao impedimento de Collor, segue-se o governo Itamar o qual, contrariamente ao que seria de se esperar de seu perfil político, executa não apenas uma política de privatização – ainda que questionável – como, principalmente, favorece o desenvolvimento de plano econômico diferenciado, pois sem intervenções governamentais diretas no ambiente econômico – por exemplo, congelamentos e sequestro de ativos - implantando de forma paulatina o Plano Real, permitindo ao mercado tempo de adequação ao novo modelo desenvolvido pela equipe econômica coordenada inicialmente por Fernando Henrique Cardoso. 
Ricupero passa a atuar diretamente na gestão do plano econômico, assumindo o Ministério da Fazenda, uma vez que seu antecessor se apresenta como candidato à Presidência. Entretanto, sua função ministerial encerra-se devido a comentários inadequados, relacionados aos efeitos da política econômica, gravados e divulgados ao público sem seu conhecimento. 
A eleição de Fernando Henrique em 1995, impulsionada pelo relativo sucesso do Plano Real, ocorre no período das discussões relativas à proposta da ALCA, intercalada com crises financeiras internacionais (Rússia e Ásia). No mesmo período de governo, o Brasil assina o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, permitindo o acesso a tecnologias de uso pacífico. 
Internamente, o controle inflacionário provocou a necessidade de ações de saneamento do setor financeiro, uma vez que a alavancagem da correção monetária ocultava graves ineficiências. Contudo, a frouxidão fiscal e o uso de âncora cambial criam condições para que a recém obtida estabilidade inflacionária seja comprometida ao final do primeiro governo Cardoso. 
Sua reeleição, em 1998, ainda apoiada pelas lembranças e expectativas de estabilidade monetária, permitiu alavancar a tentativa de obtenção de vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, vista como objetivo importante, mas não prioritário da política externa. As medidas econômicas adotadas no início do segundo governo Cardoso geram desequilíbrio cambial e rompimento do acordo político de sustentação, apenas parcialmente recuperado pela ação da nova gestão do Banco Central e da implantação do tripé econômico (fiscal, monetário e cambial) entretanto, sem conseguir ampliar o desenvolvimento econômico nacional, que ainda sofre com os efeitos do racionamento de energia elétrica em 2001, que afeta produção e consumo. 
Para Ricupero, a eleição presidencial seguinte, vencida por Luiz Inácio da Silva, em termos de política externa, apresenta o surgimento de uma diplomacia paralela ao Itamaraty, gerando efeitos dispersivos e, por vezes, contraditórios, face a condução de processos que submetem interesses nacionais à condução ideológica, exemplificada na nacionalização de ativos da Petrobras por parte do governo boliviano em 2006. Registre-se ainda a omissão da diplomacia nacional quanto a ações como a devolução de atletas cubanos que solicitaram asilo político ao Brasil durante os Jogos Pan-americanos de 2007 e a política de empréstimos, via BNDES, a governos simpáticos ideologicamente, ainda que os referidos projetos e investimentos trouxessem pouca ou nenhuma vantagem econômica ao Brasil. 
Apoiado na explosão dos preços internacionais de commodities provocada pela entrada da China em posição compradora e aliado à estabilidade relativa alcançada anteriormente, o governo de Luiz Inácio da Silva pode apresentar quadro econômico geral de crescimento do PIB. A política interna sofre o impacto da denúncia do mensalão, estrutura de aliciamento de votos por meio da compra de apoio político, algo não exatamente novo em termos de processo, mas distinto no sentido de amparo à construção de um projeto de poder institucionalizado. 
O desastre econômico que abaterá no futuro o governo Dilma é construído durante o segundo governo de Luiz Inácio da Silva, com o abandono das estratégias de racionalização, parcialmente mantidas até 2008, em favor de conceito entendido sob um amplo guarda chuva temático intitulado de Nova Matriz Econômica, novo nome para o velho processo intervencionista e regulador do Estado nas estruturas de mercado. 
A diplomacia conduzida pelo Itamaraty, limitada pelo desenvolvimento de estrutura paralela orientada para o conceito de aproximação Sul-Sul, pouco contribui para a ampliação dos laços comerciais e econômicos. Esta estrutura paralela simula uma política externa ativa que, segundo seus propositores, permitiria posicionar o Brasil de forma diferenciada no sistema internacional, assumindo papel de protagonista. Entretanto, sem o amparo dos fatores de poder nacional (Política, Econômica, Psicossocial, Militar e Científico-Tecnológico), tal estratégia passa a ser expressão de desejo, com pouca ou nenhuma consequência em relação à ação efetiva no sistema internacional. 
O governo Dilma apresenta extraordinário voluntarismo na condução econômica e completa anemia em relação à política exterior, em sua dupla expressão – tanto a diplomacia paralela, quanto a oficial, conduzida pelo Ministério das Relações Exteriores. A grande diferença na execução da agenda de governo, entre a dinâmica intervenção interna e a apatia externa, é um diferencial da administração Dilma em relação aos governos anteriores. Excetuando-se a ação conjunta com Argentina e Uruguai, articulando a suspensão temporária do Paraguai para a inclusão da Venezuela no Mercosul, pouco mais pode ser destacado quanto a diplomacia. 
Já em relação ao citado voluntarismo econômico e suas consequências, destaca a edição da Medida Provisória 579 de 2012, a qual rompe com regras e contratos vigentes no marco regulatório do setor elétrico, tendo como consequência a perda de confiabilidade na estrutura institucional firmada a duras penas desde o governo Itamar, tendo em vista a intervenção governamental. À chamada Nova Matriz Econômica é acrescentada criatividade contábil, oriunda da Secretaria do Tesouro, contribuindo para a depressão que assola a economia brasileira até o presente momento, face ao descontrole das despesas públicas. 
A obra é encerrada comentando sobre a singularidade do momento atual, face ao sistema político internacional, destacando os limites de uma política amparada exclusivamente em critérios de poder do Estado, bem como a impossibilidade prática em reduzir tais critérios a parâmetros de menor importância. 
A eventual consolidação do conceito de segurança coletiva, como registra Ricupero, poderá reduzir a importância da noção de grande potência associada fundamentalmente ao poder militar, abrindo oportunidade para que o Brasil possa participar ativamente do jogo amparado em posições de relevo em objetivos tais como a política ambiental, o posicionamento do agronegócio e consequente grande fornecedor de alimentos, dentre outros, impulsionando o desenvolvimento nacional sob um sistema internacional colaborativo. 
Em sua conclusão, o autor registra que, em sua opinião, a diplomacia, considerando o conjunto das ações tomadas ao longo dos séculos face à construção do Brasil, apresenta como saldo resultados positivos. 
Os elementos do jogo de poder interno, tratados com tamanho destaque ao longo do texto, permitem compreender a forma pela sociedade trata dos desafios que lhe são apresentados. 
A formação institucional brasileira, transformada quer por meio de negociação/acomodação entre as forças políticas, quer pelo rompimento abrupto das regras, por meio de golpes de Estado, é entendida como obra inacabada, não necessitando apenas de reformas, como de efetivo erguimento de instituições sólidas, a serem constituídas pelo processo de aprendizagem, tentativa, erros e ajustes. 
O autor consegue manter ao longo do texto, o foco inicialmente proposto para a obra, sem deixar de considerar aspectos relevantes que contribuem para a história diplomática nacional. 
A meu ver, o objetivo da elaboração de obra de consulta, englobando aspectos políticos e econômicos, tanto do sistema internacional quanto do jogo político interno é atingido plenamente. 
A partir de sua publicação, o público acadêmico e o leitor interessado nos temas abordados, passará a contar com referencial bibliográfico que contribuirá para a discussão e estudos. 
Osmar M. Visibelli Mestre em Ciências Sociais, Professor na Universidade Anhembi Morumbi, nos cursos de Comércio Internacional, Relações Internacionais e Ciências Econômicas. 

sábado, 1 de dezembro de 2018

Biografia de Rio Branco por Villafane - Resenha de Marcos Guterman (OESP)

Biografia avalia influência do Barão de Rio Branco na diplomacia atual

O Barão inventou uma tradição diplomática brasileira que, de tão sólida, parece resistir a qualquer grupo que esteja no poder

Marcos Guterman, O Estado de S.Paulo 
01 Dezembro 2018 | 16h00

Houve considerável burburinho em torno da nomeação de Ernesto Araújo para o cargo de ministro das Relações Exteriores do futuro governo de Jair Bolsonaro. As controvertidas opiniões externadas no passado recente por esse jovem diplomata a propósito de grandes questões globais — e do lugar do Brasil no mundo — ganharam enorme destaque, não somente porque serviram para revelar algo do pensamento do futuro chefe da diplomacia nacional, mas principalmente porque, na avaliação de vários especialistas, tal pensamento, se convertido em ação, ameaçaria romper a preciosa tradição diplomática brasileira.  
Para começar, Ernesto Araújo manifestou admiração incondicional pelo atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que, para o chanceler de Bolsonaro, é nada menos que o salvador do Ocidente – espécie de instrumento de Deus para impedir a completa corrupção dos valores nacionais e cristãos pelo que ele chama de “globalismo”. Diferentemente da globalização, o “globalismo” seria a expressão de um império burocrático supranacional, de inspiração marxista, capaz de ditar normas em outros países, muitas vezes à revelia dos seus povos. Esse império se manifestaria na forma de organizações multilaterais, como a Organização das Nações Unidas ou a Organização Mundial do Comércio, e de entidades políticas, como a União Europeia, mas também na forma de imposição de valores globais supostamente contrários aos costumes mais caros de cada nação. Portanto, não seriam apenas os Estados-nação que estariam sob ameaça; é a própria ideia de família, na acepção cristã e ocidental, que correria risco mortal. 

Ilustração do Barão do Rio Branco na capa da revista 'O Malho' de agosto de 1908 Foto: O Malho

Não é preciso detalhar mais essa visão de mundo para supor que, se transformada em guia da política externa brasileira, faria do Itamaraty algo radicalmente diferente do que é hoje e do que foi quase sempre desde a instauração da República. Por esse motivo, mais do que nunca, é preciso saber que tradição diplomática brasileira é essa para se ter uma noção do que o País está prestes a perder, caso a ideologia antiglobalista seja convertida em orientação oficial para os embaixadores do Brasil ao redor do mundo.
Um excelente começo é a leitura do livro Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco, biografia daquele que é considerado o fundador da diplomacia nacional tal como a conhecemos. O autor do trabalho é o diplomata e historiador Luís Cláudio Villafañe G. Santos, que já produziu outras obras importantes baseadas na vida e na trajetória desse imenso personagem da história do Brasil. Seu novo livro, contudo, é bem mais ambicioso, pois está claro que o biografado não é apenas o Barão do Rio Branco, mas a própria doutrina que rege as relações do Brasil com o resto do mundo. 
Assim, Villafañe não deixa de contar em detalhes as agruras financeiras do perdulário Juca Paranhos, suas aventuras boêmias no cabaré Alcazar, no Rio de Janeiro, e seu rumoroso relacionamento com uma dançarina belga, com quem teve cinco filhos e cujo matrimônio só oficializou depois de 17 anos de relacionamento. Essas saborosas informações conferem humanidade à imagem do calvo e bigodudo senhor que estampou a cédula de mil cruzeiros, que circulou de 1978 a 1989 e, apropriadamente, era conhecida como “barão”. Mas a biografia de Rio Branco vai muito além das questões pessoais ou de sua fama; lá está a gênese da essência do pensamento diplomático brasileiro. 
Essa essência, conforme demonstra Villafañe, está na suposta indisposição atávica do Brasil para o confronto. A genialidade de Rio Branco, a julgar pelo que vai nas páginas dessa biografia, foi a de transformar em virtude a evidente fragilidade brasileira – sempre às voltas com magros orçamentos para o setor de Defesa e com o crônico despreparo de suas Forças Armadas para a eventualidade de uma guerra. Sem ter condições de se impor pela força, a despeito de seu gigantismo, o Brasil de Rio Branco, entre o final do século 19 e o início do século 20, apresentou-se ao mundo como uma nação inclinada à “bonomia”, isto é, com espírito naturalmente voltado para o diálogo. 
Ao protagonizar algumas das mais importantes negociações de fronteiras com vizinhos e com as potências imperialistas da época, Rio Branco não somente ajudou a desenhar o Brasil – o que por si só já lhe garantiria um lugar de destaque no panteão nacional –, mas principalmente forjou no imaginário brasileiro a ideia de que o País repudia o uso da força, resolve litígios na base dos acordos, não tem alinhamento automático com nenhum outro país e advoga firmemente pela não intervenção. Foi assim que os países derrotados pela habilidade de Rio Branco nos contenciosos em que ele se envolveu não se tornaram inimigos; ao contrário, são até hoje firmes parceiros diplomáticos e comerciais, sendo a Argentina o caso mais notável. 
Tudo isso foi possível porque Rio Branco de fato acreditava que o Brasil podia fazer valer seus direitos territoriais pela via da negociação, bastando para isso construir argumentos sólidos – algo que demandava trabalho árduo, ampla investigação em documentos históricos e profundos conhecimentos geográficos. Rio Branco, ainda antes de se tornar chanceler, havia se revelado infatigável estudioso das questões fronteiriças nas quais se envolveu. Era, no dizer do autor, o “exército de um homem só” da diplomacia brasileira nesses contenciosos. E o resultado de tamanho esforço foi recompensado pelo reconhecimento de seus contemporâneos por seu trabalho como “reintegrador do Brasil”, nas palavras de Rui Barbosa. 
Rio Branco, contudo, hesitou em aceitar o cargo de chanceler quando lhe foi oferecido em 1902 pelo então presidente Rodrigues Alves. Ele temia envolver-se na chamada política dos governadores, que deu poder às oligarquias estaduais – algo que Rio Branco, como bom monarquista, abominava. Tornou-se então ministro das Relações Exteriores com o compromisso de servir não aos partidos políticos resultantes daquele arranjo de poder, e sim ao Brasil – ou, ao menos, às suas convicções pessoais sobre o chamado “interesse nacional”, algo que demandaria uma formulação acima das paixões partidárias. Villafañe demonstra que é justamente esse discurso, a que se pode dar o nome genérico de “evangelho do Barão”, que baliza a ideia consagrada hoje no Itamaraty segundo a qual a política externa não pode se dobrar à política partidária e que a diplomacia é atividade para diplomatas profissionais, e não para políticos. 
A importância de Rio Branco na definição das fronteiras nacionais e principalmente no estabelecimento de uma doutrina para a diplomacia brasileira, ajudando o País a encontrar seu “lugar no mundo”, fez do Barão uma figura muito popular em sua época, e além dela.  
Mas Rio Branco foi um herói improvável. Monarquista empedernido, saudoso dos tempos da ordem emanada da figura do imperador, aceitou trabalhar pelo fortalecimento da nascente República, e o fez no campo em que se revelaria um gigante, isto é, na busca pela paz duradoura com os vizinhos, o que facilitou o desenvolvimento econômico do regime que ele, a princípio, combatia. Também abdicou de seu europeísmo aristocrático em favor de uma aproximação com os Estados Unidos, que ele via como contraponto ao perigoso imperialismo europeu e como natural e necessária “polícia” para enquadrar os países instáveis da América Latina.  
No fundo, Rio Branco nunca abandonou uma visão oligárquica do mundo, segundo a qual certos países, por serem civilizados, tinham a prerrogativa de “civilizar” os que teimavam em não compartilhar os valores ocidentais. Portanto, bastava ao Brasil andar na linha – isto é, respeitar e disseminar esses valores – para nada ter a temer em relação aos Estados Unidos. Mas esse pensamento de Rio Branco é fruto tão somente de seu tempo – em que o imperialismo era a norma. Seu legado extrapola em muito essas circunstâncias. Conforme demonstra Villafañe com brilhantismo, o Barão inventou uma tradição diplomática brasileira que, de tão sólida, parece existir desde sempre e resistir a qualquer grupo que esteja no poder – mesmo aos governos do PT, que com tenacidade pretenderam reduzir a política externa aos fundamentos terceiro-mundistas do lulopetismo. 
Com Jair Bolsonaro no poder, essa notável tradição será mais uma vez duramente testada.

domingo, 30 de setembro de 2018

Juca Paranhos, biografia do Barao do Rio Branco, de L.C. Villafanne G. Santos, por Mariana Alvim (BBC)

Caça a mapas antigos e espionagem: as aventuras do Barão de Rio Branco pelas fronteiras do Brasil

"Estão aí os traços característicos do segundo Rio Branco: genuíno patriotismo, culto amoroso ao pai, organização conservadora (...) São impulsos de um mesmo motor, o amor ao país."
As palavras do diplomata Joaquim Nabuco descrevem o Barão do Rio Branco, ou José Maria da Silva Paranhos Júnior (1845-1912) - filho do Visconde do Rio Branco, primeiro-ministro do Brasil e deputado conservador. Os elogios são o testemunho do momento em que o barão saía do desconhecimento para a exaltação após vencer uma disputa territorial contra a Argentina, em 1895 - cumprindo tardiamente um projeto de ascensão social traçado desde o nascimento pelo pai.
A imagem de um diplomata que só abre mão da timidez para colocar a erudição à serviço da pátria é pintada aí, perdurando até hoje na personificação do barão, uma das figuras históricas mais reverenciadas do país.

Mas um novo livro que acaba de chegar às livrarias mostra que essa é uma entre as várias versões possíveis do Barão do Rio Branco. Há também o Paranhos Júnior boêmio, decepcionado com seus rumos profissionais ou ainda às voltas com o sustento financeiro da família.
"Havia uma expectativa imensa em cima dele. Ele nasceu durante o Antigo Regime: naquele momento, a ideia de sucesso era fazer com que as famílias transcendessem. O pai, o visconde, é um filho ilegítimo que consegue uma ascensão social muito grande mas que só poderia ser completa ao transformar os Paranhos em uma das grandes famílias do império. Ele não conseguiria fazer isso sozinho, precisava dos filhos. E era (o barão do) Rio Branco quem seria o próximo patriarca da família", explica Luís Cláudio Villafañe, autor da biografia Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco, da Companhia das Letras.
A história de Juca Paranhos se entrelaça com marcos de importantes mudanças no Brasil - da transição da monarquia para a República ao fim da escravidão. Mas é só depois dos 50 anos de idade, em sua atuação em disputas por fronteiras contra a Argentina, França e Bolívia, que o barão do Rio Branco consegue imprimir sua digital na história do país.

Deputado pelo Mato Grosso sem nunca ter pisado lá

A biografia escrita por Villafañe detalha como, desde pequeno, cada passo de Juca Paranhos foi planejado com esmero pelo visconde. Esta trajetória incluiu a formação em Direito e o patrocínio do pai à carreira parlamentar, em que o barão assumiu uma cadeira na Câmara dos Deputados pelo Mato Grosso sem sequer pisar naquela província - algo que só seria feito na véspera de um segundo mandato. O voto censitário se reduzia a algumas dezenas de pessoas: homens e com rendimentos acima de uma determinada faixa.
Membro do Partido Conservador, Juca carregaria consigo este posicionamento ideológico ao longo da vida. Era monarquista convicto também, tendo que se conformar e readaptar à chegada da República em 1889.
"Os Paranhos chegam no final da festa do Antigo Regime, e esta festa está acabando. Tudo o que eles não querem é que isso aconteça: eles partilham dos valores daquele regime e querem validá-los", explica Villafañe, que pesquisa a biografia do barão desde 2012. "O Barão do Rio Branco é uma grande janela deste mundo que está caindo e aquele que está surgindo."
'O Barão do Rio Branco é uma grande janela deste mundo que está caindo e aquele que está surgindo', aponta Luís Cláudio Villafañe
Nessa transição, o fim da escravidão expõe também a postura conservadora e aversa às rupturas de Juca. A promulgação da Lei do Ventre Livre levava a assinatura do pai, o visconde - correspondendo a uma vertente do Partido Conservador que via riscos de violência e imprevisibilidade na insistência à manutenção do trabalho escravo.
O filho teve atuação discreta neste processo e, posteriormente, defendeu uma transição gradual ao fim da escravidão - para ele, idealmente extinta somente com a morte do último cativo nascido antes da Lei do Ventre Livre. Nisso também foi vencido, já que a Lei Áurea é assinada em 1888.

Casamento tardio e a contragosto

Sem sorte no jogo da política, as coisas também não eram pacíficas no amor.
Se nos grandes planos do visconde para o filho estava a ascensão social, o casamento era um ponto crucial nesta trajetória. A realidade mostrou, porém, um cenário muito diferente da expectativa.
Juca Paranhos frequentava aquela que era uma das casas de espetáculos mais polêmicas do Rio de Janeiro, o Alcazar Lyrique du Père Arnaud, fundado na década de 1860 na atual rua Uruguaiana e uma afronta ao moralismo da época. Ali, Juca conheceu a jovem belga Marie Philomène Stevens, que foi tentar a vida no Rio se apresentando no palco do cabaré. Começou ali um relacionamento que nunca seria aprovado pelo visconde e se estendeu por mais de duas décadas, até a morte dela.
Eles tiveram cinco filhos, mas a belga nunca foi celebrada com uma parceira à altura por Juca. Por muitos anos, o barão era "oficialmente" solteiro e mantinha a família em outra casa. O casamento só veio 17 anos depois de relacionamento. No fim da vida, uma carta de Marie reproduzida na biografia escrita por Villafañe expõe as dores de um relacionamento conturbado - pelo qual, em outro documento, diz ter "pago muito caro por sua coroa de baronesa". 
"Eu já sofri tanto por ti que me é impossível responder com calma, já que tu só sabes me dizer coisas desagradáveis como quando me disse que todos seus filhos são desequilibrados porque eu sou a mãe deles e, além disso, não se discute com uma mulher que se crê louca", diz a carta.
A biografia mostra também que a vida privada e a fama de farrista pesou no círculo social e político no entorno de Juca - sendo quase um consenso que emperrou, por exemplo, sua nomeação como cônsul-geral do Brasil em Liverpool, posição que acabou por ocupar por quase duas décadas.

Visconde: morte com desgosto

É esta página da vida do filho a última que o Visconde do Rio Branco pôde ver. Há sinais de que ele morreu frustrado em suas expectativas de ascensão familiar, vendo o filho como um obscuro cônsul e longe de um "bom casamento".
"Tem até uma coisa até freudiana. O barão só vai brilhar depois que o pai morre", aponta Villafañe, atualmente diplomata do Brasil na Nicarágua.
Buscando uma recolocação na República e o contorno de dificuldades financeiras, o barão acaba conquistando de forma improvável a chefia da defesa do Brasil em uma arbitragem contra a Argentina, mediada pelos Estados Unidos, na disputa conhecida como a Questão de Palmas.
A Argentina reivindicava os territórios que hoje compõem parte do oeste do Paraná e Santa Catarina, argumentando que tratados do século 18 apontavam para uma divisão entre Portugal e Espanha definida pelos rios Jangada e Chapecó, e não pelo Pepiri-Guaçu e Santo Antônio - como seria favorável ao Brasil.
Com a assistência de auxiliares, o barão recuperou documentos e mapas em locais como o Arquivo Geral de Simancas, na Espanha, e o Depósito Geográfico do Ministério dos Negócios Estrangeiros da França. Com cálculos matemáticos e interpretações historiográficas - como a de que a cartografia portuguesa era mais avançada que a espanhola no século 18 -, Juca conseguiu reunir evidências para a versão brasileira. 

Depois de se debruçar sobre montanhas de papéis em meio a noites mal dormidas, o barão tratou de conquistar também, nos Estados Unidos, autoridades e a opinião pública. Para isso, contratou um consultor jurídico nos EUA, John Bassett Moore, que abriria espaço para o acesso a membros da arbitragem americana.
"O lobby, como se comprova, é uma atividade com larga tradição nos Estados Unidos", diz a biografia de Villafañe.
Com o "trabalho inegavelmente brilhante", como classifica o autor, Paranhos Júnior foi vitorioso na disputa e finalmente consagrado por seu talento como geógrafo e historiador. Para um Brasil que se via às voltas com a violenta Revolução Federalista, a vitória contra a Argentina veio como uma redenção para o país e o presidente Floriano Peixoto. Juca foi recebido como herói nacional em meio ao carnaval de 1895, em que foi homenageado pelo Clube dos Fenianos, uma das grandes sociedades carnavalescas do Rio.
"Obviamente, ele era um grande erudito, mas ninguém sabia. Ele foi atrás (dessa conquista). E não é ilegítimo: ele foi se reconstruir como personagem. Isso é contrário às biografias em que ele aparece como um sujeito que nasceu pronto", aponta o escritor de Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco.

Frente a frente com o maior geógrafo do mundo

A fama com a Questão de Palmas o impulsionaria como principal representante brasileiro em outro imbróglio: a Questão do Amapá.
Tratava-se também de uma guerra de versões sobre rios acordados em tratados. Na prática, o Brasil poderia perder parte importante da região Norte, sobretudo na fronteira entre o Amapá e a Guiana Francesa. Em arbitragem mediada pela Suíça, Brasil e França foram à mesa. 
Rio Branco enfrentava um jogo mais desafiador do que o de Palmas: a proximidade histórica e cultural entre França e Suíça; além do verdadeiro exército de diplomatas, advogados e especialistas no outro lado da mesa, incluindo Vidal de la Blanche, o maior geógrafo da época.
O barão dedicava horas sem dormir desvendando documentos antigos 
Juca também empreendeu mais uma caça a mapas por arquivos na Inglaterra, Espanha e França; no caso do Amapá, adotou ainda uma nova estratégia. Infiltrou Emílio Goeldi, naturalista suíço estabelecido no Pará, para assessorar os conselheiros da Suíça em sua decisão - sanando dúvidas ou coletando impressões desfavoráveis.
"Por ora o que desejo é que v. sa. Trate de ir fazendo relações em Berna (...) é indispensável que v. sa. Não seja considerado um auxiliar meu, e sim como um cientista que apenas veio tratar de estudos ou trabalhos que nenhuma relação têm com a causa que vai ser julgada", diz um documento reproduzido na biografia, que classifica a atuação de Goeldi como um "espião sem licença para matar, mas eficaz".
"Rio Branco atuava como um exército de um só homem nas questões dos limites. Era ao mesmo tempo o pesquisador que escarafunchava arquivos em busca de velhos mapas e documentos empoeirados, o historiador que desvendava os manuscritos e criava uma narrativa consistente (...) e o advogado implacável, munido da jurisprudência e do conhecimento do direito para construir argumentos irrefutáveis", afirma o livro.
Na Suíça, a arbitragem foi favorável ao Brasil, mais uma vez fazendo do barão o centro de uma aclamação geral.
"Do Amazonas ao Prata há um nome que parece irradiar por todo o círculo do horizonte num infinito de cintilações: o do filho do emancipador dos escravos, duplicando a glória paterna com a de reintegrador do território nacional", diria Rui Barbosa sobre a conquista em 1900.

Disputa por fronteiras como chanceler

Dali para frente, Rio Branco imaginava um futuro em confortáveis postos europeus, mas teve que ceder à pressão do presidente Rodrigues Alves para assumir o Ministério das Relações Exteriores.
O Acre, região que o Brasil reconhecia como pertencente à Bolívia por três décadas, passou a atrair hordas de brasileiros pela extração da borracha. Os planos do país andino em arrendar aquele território a uma companhia com capital americano e britânico catalisou a pressão para que o Brasil reivindicasse-o. Para completar, parte daquela região era demandada também pelo Peru.
Diferentemente dos outros episódios em que foi consagrado, Paranhos apostou em um acordo direto, e não na arbitragem, para o caso. O Tratado de Petrópolis previa o pagamento, pelo Brasil, de indenização, favores e até cessão de partes do território à Bolívia. Este aceno, com perdas para o Brasil, colocou o barão sob forte escrutínio na imprensa e na opinião pública.
Rio Branco resolveu, então, escrever artigos para jornais sob um pseudônimo. "Kent", entre outros argumentos, defendia que a arbitragem seria demorada e teria um resultado incerto. Afinal, o Brasil havia reconhecido a soberania da Bolívia sobre aquele território de 1867 a 1902.
Após muitas quedas de braço, o Congresso aprovou o Tratado de Petrópolis - depois também de forte mobilização política empreendida por Rodrigues Alves e por Rio Branco.
"Sem dúvida alguma a negociação do Acre foi o desafio mais difícil enfrentado pelo chanceler; a solução alcançada, vista à distância de mais de um século, pode ser considerada um sucesso espetacular", diz Villafañe na biografia. 
O próprio Barão registraria em um dos seus escritos: "para mim vale mais esta obra (...) do que as duas outras, julgadas com tanta bondade pelos nossos cidadãos".

Um barão para a posteridade

A "bondade" a que se referiu Jucá de fato corresponde à imagem heroica que ficou de sua figura. Para Villafañe, isto é tributário de suas inegáveis qualidades, mas também é perpetuada por outras condições históricas do país.
"Uma ideia base da nacionalidade brasileira é a do território. O Rio Branco está muito associado a essa ideia. Nesse sentido, Rio Branco é um grande pai da pátria, deslocado um século (após a independência)", aponta o biógrafo.
Villafañe afirma também que, como Winston Churchill fez em relação ao conhecimento sobre a Segunda Guerra, o Barão de Rio Branco também pautou a historiografia à sua maneira - interpretação endossada com o fortalecimento do Itamaraty e a formação do Estado Novo.
Se empresta a sua figura ao país, Juca também se preocupou durante toda a vida com a imagem do país no exterior.
"Ele era elitista, mas seria injusto dizer que isso fosse pura vaidade. Nessa Era dos Impérios (expressão cunhada pelo historiador Eric Hobsbawm para resumir a dinâmica geopolítica do período entre 1875 e 1914), a visão que determinado país projetava no mundo dizia como esse país seria tratado. A África foi partilhada pelas potências europeias com a ideia de que ali não tinha nada de civilizado, então era terra de ninguém", aponta o diplomata.
"Para Rio Branco, era importante projetar para o Brasil uma ideia de estabilidade, modernidade, civilização - isso garantia uma tratamento melhor nesse mundo."

terça-feira, 31 de julho de 2018

Resenha de "Novos Olhares sobre a Política Externa Brasileira" - livro org. Gustavo Westmann

Contexto Internacional

Print version ISSN 0102-8529On-line version ISSN 1982-0240

Contexto int. vol.40 no.1 Rio de Janeiro Jan./Apr. 2018

http://dx.doi.org/10.1590/s0102-8529.2017400100010  

BOOK REVIEW

Novos Olhares Sobre a Política Externa Brasileira
Leonardo Augusto Peres1  
http://orcid.org/0000-0002-0261-8408
1Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre-RS, Brazil; lperes15@gmail.com. ORCID iD 0000-0002-0261-8408.
Westmann, Gustavo. Novos Olhares Sobre a Política Externa Brasileira. 2017. São Paulo: Contexto, 272p.
The idea that foreign policy is not only a policy for the state, but for its society – foreign policy as ‘public policy’ – surfaces in every essay in Novos Olhares sobre a Política Externa Brasileira. The argument arising from it is that foreign policy should serve all citizens, rather than just political elites who run the state. To achieve that, Brazilian Foreign Policy must be more democratic, open to participation from civil society, accountable, representative. This idea is clear in Part 1 of the book, which presents essays on broad contemporary challenges faced by Brazilian Foreign Policy. Those challenges arise both from a dynamic international arena and from changing domestic politics. Part 2 consists of essays on specific substantive topics of international concern for Brazil. The argument for a plural foreign policy permeates them as well.
In times of political turmoil such as the one Brazil is currently going through, this argument for a plural foreign policy is a necessary realisation, and a powerful argument. Repression against protesters, suppression of social rights, and other acts from the government seem to counteract all previous efforts from the Foreign Affairs Ministry towards a democratic Foreign Policy. Since the early 2000s, the Ministry had sought to broaden its strategic partnerships and bilateral relations. It prioritized South-South relations, multilateralism, and reaching countries in Africa, in Asia, and in the Middle East. Social themes were paramount in the agenda. For example, states and international organisations praised and replicated the ‘Fome Zero’ program. In return, such Foreign Policy increased Brazil’s social capital around the world. It opened new markets and brought new partnerships that reflected in Brazilian society. The Brazilian economy improved to become the sixth largest in the world. Furthermore, the Food and Agriculture Organization (FAO) removed the country from the world hunger map.
Six essays make up the first part of the book. Felipe Antunes de Oliveira opens the book discussing the concept of ‘development’ for Brazilian Foreign Policy. He points out the changes it went through from the end of the last century to the beginning of this century, when it must serve ‘social transformation’. The second essay is by Guilherme Casarões, who seeks to contextualise Brazilian Foreign Policy in a world in crisis. He warns against abandoning foreign policy projects because of their alleged ‘ideology’. In the fast pace of Brazilian politics today, Casarões’ essay, although of great analytical power, unfortunately became dated too soon. It would be interesting to see what the author would say about further developments in the Ministry of Foreign Affairs. Gustavo Westmann then discusses new challenges to Brazilian diplomacy. He argues for a more transparent foreign policy and for reforming Itamaraty cadres, among other changes. Those are clear opportunities for democratisation of Brazilian Foreign Policy. In his essay, Dawisson Belém Lopes highlights the elitist and oligarchical bases of Brazilian Foreign Policy through a historical and theoretical perspective. It is a fundamental work for understanding its current state, and a warning for its future. In Tiago Ribeiro dos Santos’ essay the argument for a more democratic foreign policy is less explicit. He argues for applying ‘slow thinking’ to the formation of diplomatic knowledge. One can add, though, that broad civil society participation is essential in this process. Finally, Hayle Gadelha reflects on Brazilian soft power. The logical conclusion of his essay is that to maintain such soft power would require a policy that takes into account not only the state, but also its people.
Part 2 of the book comprises eight essays dealing with relevant themes for Brazil’s Foreign Policy agenda. The first two concern specific geographic areas that must be of paramount attention for Brazil if the country seeks to have more diversified strategic partnerships. The first of them is Africa, which is the focus of Patricía Campos Mello’s attention in her essay about the ‘melancholic decline’ of Brazil’s policy of establishing closer ties to the continent. She warns against the decline of soft power gained by Brazil in Africa during Lula’s administration. The second area is Asia. In his essay, Flávio Campestrin Betarello argues for Brazil’s quick insertion in the region. Based on the adaptability of Brazilian Foreign Policy, and on the example from other states that are already celebrating deeper Asian partnerships, Brazil must aim at closer ties with China. The next six essays focus on a diversified agenda per se, to include the following themes: cooperation for development, food security, sustainable development, climate change regime, international organisations, and internet governance. What all these themes have in common is Brazil’s potential – made clear by the authors – to become a reference in each one of them. For that to happen, developments in Brazilian Foreign Policy during the beginning of the twenty-first century must not regress. Foreign policy cannot be relegated to a secondary place in public administration.
Improvements in Brazilian international projection in the last decades show the need for more diversified and plural Foreign Policy thought and practice. Novos Olhares provides that in its first and second parts, respectively. The book makes the case for a more democratic Brazilian Foreign Policy. It is fundamental for those who wish to think about its future as a public policy aiming at improving Brazilian state and society. This is indispensable in this moment in which Brazil becomes increasingly disengaged not only internationally, but with its own society as well.
REFERENCES
Westmann, Gustavo (ed). 2017. Novos Olhares Sobre a Política Externa Brasileira. São Paulo: Contexto. [ Links ] 
Received: September 22, 2017; Accepted: November 29, 2017
Leonardo Augusto Peres is a PhD candidate in Political Science-International Politics and Defense at the Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS) and Assistant Researcher at the Brazilian Centre for Strategy & International Relations (NERINT), working in the research projects “Brazilian Grand Strategy for the 21st Century” and “World System: Hegemony, Crisis, and Transformation”. He is also editorial assistant for the quarterly journal Boletim de Conjuntura NERINT and has a Master’s Degree in International Relations-International and Comparative Politics from the University of Brasília (UnB), and a Bachelor’s Degree in International Relations from the Federal University of Santa Maria (UFSM). Research interests include Genocide Studies, Brazilian Foreign Policy, and International Relations Theory.