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quinta-feira, 11 de março de 2021

As leis fundamentais da estupidez humana, em edição brasileira - Carlo Maria Cipolla; resenha de Paulo Roberto de Almeida

 Descubro agora, comprando livros na Amazon, que uma de minhas leituras preferidas – já li em francês, em italiano e em inglês – está agora disponível ao público brasileiro: 


O que eu já escrevi sobre esse livro? Basicamente dois textos em dois momentos diferentes. O primeiro, de número 1576, foi feito em caráter anônimo, uma vez que eu ainda estava trabalhando para o governo, por isso publicado com outro nome em blogs de terceiros (dois), nos quais os links originais já não funcionam mais. Mas em 2019 eu o publiquei neste blog, onde ele ainda pode ser encontrado...

O segundo texto, uma verdadeira resenha, foi feito em 2012, a partir de uma confrontação de três edições, e também está disponível no link referido. Vou transcrever mais abaixo.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 11 de março de 2021


1576. “As Leis Fundamentais da Estupidez Humana”, Brasília, 12 abril 2006, 4 p. Considerações sobre as leis do historiador econômico italiano Carlo Maria Cipolla, sobre a estupidez humana, aplicadas ao Brasil; publicadas no blog do Instituto Millenium em 17 de abril de 2006. [Registro original na lista de trabalhos sob outros nomes suprimido] Publicado no blog Diplomatizzando (26/01/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/01/as-leis-fundamentais-da-estupidez.html).


2397. “As Leis Fundamentais da Estupidez Humana”, Paris, 20 maio 2012, 5 p. Digressões em torno do livro: Carlo M. Cipolla: Les Lois Fondamentales de la Stupidité Humaine (Traduit de l’Anglais par Laurent Bury; Paris: Presses Universitaires de France, 2012, 72 p.; ISBN: 978-2-13-060701-4; 7 euros). Postado no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.fr/2012/05/as-lei-fundamentais-da-estupidez-humana.html).


As Leis Fundamentais da Estupidez Humana

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orgpralmeida@me.com)

 

Finalmente, consigo colocar as mãos, ou os olhos mais exatamente, numa tradução mais conforme da famosa obra do historiador econômico Carlo Maria Cipolla. O texto tinha sido publicado em inglês, em edição de autor, de forma limitada, portanto, em 1976, por uma improvável editora chamada Mad Millers (os “moleiros loucos”, o que só pode ter sido uma brincadeira do medievista italiano). Poucos exemplares circularam, e eu só tinha conseguido aceder a uma versão em francês, a partir da primeira edição italiana de 1988, da Il Mulino (o que parece sugerir um complô entre moleiros malucos).

A edição que eu possuía tinha alguns outros textos, e apareceu sob o título de “Allegro Ma Non Troppo” (aliás, transformado em peça de teatro, a que assisti em Paris no século passado (eh oui!). Aparentemente era uma tradução improvisada, tanto que a categoria dos “cretinos”, agora oficializada, aparecia nessa versão como sendo apenas “crédulo”, o que é, digamos, muito generoso, mas não traz a força do atual cretino (nem aliás, o conceito original em inglês de “helpless”). Em todo caso, o livro era este: Allegro ma non troppo: Les lois fondamentales de la stupidité humaine (Paris: Balland 1992); confesso que ainda não consegui reencontrar esse livro em minha biblioteca caótica, para confrontar as duas versões do texto principal, mas prometo fazê-lo, assim que retornar ao Brasil. 

Agora, a versão francesa que já vou citar foi feita a partir do original em inglês, The Basic Laws of Human Stupidity, mas o copyright pertence à Società editrice Il Mulino, de Bolonha (aha!, os moleiros malucos sempre aparecem), e o ano indicado é o de 1988. Estranho, ma, cosi è, si vi pare. O copyright da tradução francesa, agora oficial, é de maio de 2012, da grande editora universitária, este que tenho em mãos: 

 

Carlo M. Cipolla: 

Les Lois Fondamentales de la Stupidité Humaine

(Traduit de l’Anglais par Laurent Bury; Paris: Presses Universitaires de France, 2012, 72 p.; ISBN: 978-2-13-060701-4; 7 euros). 

 

Mas a edição do Kindle, que acabo de carregar da Amazon (me custou US$ 5,83 e foi recebido em menos de 10 segundos), traz como edição impressa em inglês, da Il Mulino, o ano de 2011 (vá lá entender moleiros malucos), o mesmo para a edição Kindle (cujo ISBN é este: 978-88-15-30700-2). Vou conferir as versões, para poder confrontar linguajar e conceitos, em francês e em inglês, embora os argumentos sejam bem mais importantes do que as palavras usadas.

Creio já ter resumido, em trabalhos anteriores, o essencial do pensamento de Cipolla sobre quão perigosa é nossa existência num planeta que tem uma quantidade fixa, talvez relevante, de pessoas perfeitamente estúpidas. Não vamos nos enganar, os estúpidos não são os incultos – como eu sempre alerto a propósito dos “meus” idiotas – já que pessoas que não tiveram oportunidade de estudar são simplesmente ignorantes, mas podem ser pessoas perfeitamente normais, afáveis e até sensatas (embora sempre propensas a cair no risco de resvalar na idiotice ou na estupidez). Carlo Maria Cipolla é absolutamente categórico: estúpidos podem ser encontrados nos meios universitários, e até mesmo entre os prêmios Nobel (do que não duvido, pois de vez em quando eu ouço besteiras das grossas de um ou outro literato que se mete a falar de economia ou de política). 

Talvez eu deva agora simplesmente resumir o “pensamento” – eu até diria o “divertimento” – de Cipolla em torno dessa questão relevante para o futuro da humanidade, e selecionar alguns trechos que mais me impactaram nesta nova versão agora lida e apreciada (como desde o primeiro contato). Somos primos filosóficos, eu e Cipolla, ele bem mais famoso do que eu, obviamente, mas creio que dividimos concepções quase idênticas sobre os perigos que nos rondam, com tantos estúpidos soltos por aí. Em todo caso, já adianto que concordo inteiramente com sua quinta (e derradeira) lei fundamental, que sintetiza o conjunto da análise extremamente rigorosa que ele conduz em seu opúsculo, que alguns chamariam de textículo: 

O indivíduo estúpido é o tipo de indivíduo mais perigoso que existe.”

 

Retomemos, porém, do início, com as cinco leis fundamentais em sua sequência lógica. Cipolla começa dizendo que a humanidade está em estado lamentável, o que, aliás, sempre foi o caso: desde Darwin sabemos que temos origens comuns com seres inferiores do reino animal. Mas os humanos têm de suportar uma dose ainda maior de problemas, cuja fonte é uma categoria especial de sua raça: “Esse grupo é muito mais poderoso do que a Máfia, o complexo militar-industrial ou a internacional comunista; se trata de um grupo desprovido de estatuto, sem estrutura nem constituição, sem chefe nem presidente, que consegue, no entanto, funcionar de maneira perfeitamente coordenada, de tal maneira que a atividade de cada membro contribui para ampliar e tornar mais forte e mais eficaz a de todos os outros.” (p. 13-14). 

A primeira lei já é de uma brutalidade desconcertante: 

Todos nós subestimamos sempre inevitavelmente o número de indivíduos estúpidos existentes no mundo.

Essa lei parece muito vaga e simplista, mas o fato é que pessoas que julgávamos racionais e inteligentes se revelam espantosamente estúpidas; e, todos os dias, sem esperar, somos assediados, nos lugares e circunstâncias mais imprevistos, por pessoas estúpidas. Vamos fazer alguns testes para saber se é verdade?

A segunda lei, parece incrível, recusa a igualdade fundamental do ser humano:

A probabilidade de que um indivíduo seja estúpido é independente de quaisquer outras características desse mesmo indivíduo.

Cipolla chegou à conclusão, depois de muita pesquisa e estudo, de que existe um número constante e regular de indivíduos estúpidos em toda e qualquer categoria de grupos humanos, ou seja, o mesmo percentual, independentemente de ser grande ou pequeno esse grupo; os estúpidos existem entre trabalhadores manuais e entre universitários, da mesma forma e inapelavelmente. 

Como ele diz: “Mais impressionante ainda é o resultado entre os professores. Que a universidade seja grande ou pequena, de prestígio ou obscura, eu constatei que uma mesma fração, constante, era constituída de seres estúpidos. Isto me surpreendeu tanto que eu procurei estender a pesquisa a um grupo especialmente escolhido, uma autêntica elite: os laureados do Prêmio Nobel. O resultado confirmou esse poderio supremo da Natureza: uma mesma proporção de prêmios Nobel era formada de estúpidos.” (p. 23-24). A ideia foi difícil de digerir, reconhece ele, mas os resultados empíricos ofereciam a prova dessa verdade incontornável. “A Segunda Lei é uma lei de ferro, que não admite exceções”. 

Cipolla faz então um intervalo técnico para apresentar em forma gráfica suas descobertas, distribuindo a raça humana em quatro grandes categorias em eixos vertical e horizontal, como se faz habitualmente com a pesquisa científica. Na direita superior dos eixos Y e X, com sinais positivos, estão os seres inteligentes; à esquerda deles figuram os cretinos, aqueles que podem fazer o bem aos demais, sem no entanto beneficiar-se disso (mas a situação pode variar, como veremos); abaixo dos inteligentes, situam-se os bandidos, os que buscam seu próprio benefício causando prejuízo aos demais, mas também existem bandidos estúpidos. Finalmente, no canto inferior esquerdo, com dois sinais amplamente negativos, estão os estúpidos, aqueles que causam danos aos demais, sem jamais retirar qualquer benefício para si próprios. Os ganhos e perdas podem, portanto, ser expressos graficamente, e o pesquisador poderá conduzir uma análise de custo-benefício dessas categorias (e como!).

Passemos, portanto, à Terceira Lei Fundamental (que é também, segundo Cipolla, uma regra de ouro): 

É estupido aquele que causa danos a um outro indivíduo ou um grupo de indivíduos, ao mesmo tempo em que não retira de sua ação nenhum benefício para si mesmo, podendo inclusive incorrer em prejuízos.

Seres racionais, como eu e você, podemos ficar céticos ante essa lei, mas ela parece confirmada por todas as pesquisas de Cipolla. 

O capítulo V do pequeno livro de Cipolla é dedicado a uma questão técnica: a distribuição de frequências, o que dá um triste resultado para os estúpidos. Passons...

O capítulo VI, extremamente curto, trata de uma questão relevante: “Estupidez e Poder”. Estamos falando aqui da condição de todos nós, que podemos ser afetados profundamente pelos estúpidos que ascendem a posições de mando na sociedade. No mundo moderno, os conceitos de casta e classe foram eliminados, a religião tem pouco poder, e assim, no sistema democrático, aquela fração constante e regular de estúpidos pode se encontrar entre aqueles que foram chamados a exercer o poder.

O Capítulo VII, também reduzido, trata da potência da estupidez, o que, mais uma vez, comprova que esse tipo de relação pode contribuir para reforçar os vínculos entre esses indivíduos e as perdas que eles ocasionam; eles geralmente nos surpreendem, ao surgir inopinadamente e cometer seus atos estúpidos; mesmo que tomemos consciência do ataque, não podemos fazer nada, argumenta Cipolla, pois ele é feito de maneira não racional.

Agora chegamos à Quarta Lei Fundamental, que estipula que: 

Os não-estúpidos sempre subestimam a potência destruidora dos estúpidos. Em especial os não-estúpidos esquecem sempre que em todos os tempos, em todos os lugares, em quaisquer circunstâncias, tratar ou se associar com pessoas estúpidas se revela ser, inapelavelmente, um erro custoso.

Finalmente, o último capítulo, de macroanálise, chega à Quinta Lei Fundamental:

O indivíduo estúpido é o tipo de indivíduo o mais perigoso.

E o corolário dessa lei é esta aqui:

O  indivíduo estúpido é mais perigoso que o bandido.

Após algumas análises de distribuição, Cipolla reconhece que cretinos inteligentes e bandidos inteligentes podem, eventualmente, causar algum benefício para si mesmos ou até o bem-estar numa dada sociedade, mas jamais isso pode ocorrer com os verdadeiramente estúpidos. Como eles causam perdas para todos, a sociedade se empobrece e é conduzida à ruína.

Resumindo, os países dinâmicos conseguem controlar os seus estúpidos, mantê-los isolados, evitando, assim, males maiores. Mas, nos países menos dinâmicos, a fração de cretinos e bandidos se aproxima do canto inferior esquerdo, o que se revela fatal para a sociedade: “Essa mudança na composição da população não-estúpida reforça inevitavelmente a potência destruidora da fração estúpida e o declínio torna-se inelutável. É o desastre”. (p. 63)

O livro se termina por algumas páginas com gráficos em branco, para que cada leitor possa anotar e classificar os seres humanos com os quais ele tem de tratar.

Eu, sinceramente, me vi tentado a, imediatamente, preencher as seções em branco com alguns nomes daqueles que ascenderam, por assim dizer, a posições de mando e prestígio, mas me contive. Não tanto por falta de tempo, mas por falta de espaço. Eu tenho antes de fazer várias cópias dessas últimas páginas...

 

 

Paris, 2396: 20 maio 2012.

Postado no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.fr/2012/05/as-lei-fundamentais-da-estupidez-humana.html).

 


Bolsonaro atropela projetos do próprio governo em sua obsessiva sanha eleitoreira: desastre para o país - Ricardo Bergamini, OESP

Copio do Ricardo Bergamini: 

Prezados Senhores

 

Sob a liderança do líder sindicalista  Bolsonaro a votação em 1º turno da PEC Emergencial, isentou trabalhadores de 1ª classe (servidores públicos) de qualquer sacrifício.

 

A matéria abaixo é por si só explicativa da magnitude do estrago econômico que Bolsonaro, líder sindical da (CUT da segurança), vai implodir esse país.

 

Roberto Campos Neto perdeu a luta contra o líder sindical Bolsonaro, mas honrou o seu avô, além de ser mais um aliado confesso na defesa do Brasil, não de governantes.

 

O efeito cascata dessas liberações populistas é monstruoso para a economia.

 

O ex- ministro da economia Paulo Guedes, nem participa mais desses debates, tendo em vista que atualmente está se dedicando apenas ao cargo de tesoureiro da campanha de Bolsonaro.

 

“Foi o próprio presidente Jair Bolsonaro que deu sinal verde para que a concessão fosse feita na Câmara, um aceno à sua principal base de apoio eleitoral. Vitor Hugo praticamente acampou no Palácio Planalto ao lado de parlamentares da bancada da bala e representantes sindicais das diversas categorias de policiais, na tentativa de executar o que vem sendo chamado de “quinto capítulo” da estratégia de manter as forças de segurança a salvo de medidas duras do ajuste fiscal. A estratégia bem-sucedida em angariar o apoio do presidente começou na reforma da Previdência e continuou na reforma administrativa e terminou na votação da lei 173, de socorro a Estados e municípios, que teve como contrapartida o congelamento do salário dos servidores”.

 

Aguardo o silêncio abissal e sepulcral dos liberais na defesa do Brasil.

 

 

Auxílio emergencial: Presidente do BC age junto a Lira contra posição de Bolsonaro

 

Estadão, 10/03/21

 

O anúncio feito no início da tarde desta terça, 9, pelo relator da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do auxílio emergencial, deputado Daniel Freitas (PSL-SC), de que manteria o texto aprovado pelo Senado, foi o primeiro resultado prático da intensa negociação nas últimas 24 horas para evitar uma desidratação maior das medidas de controle de despesas, os chamados “gatilhos”, previstas no texto.

 

E quem atuou como porta-voz da equipe econômica foi o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, escalado para tentar reverter o risco de mudanças na PEC – que deve ser votada nesta quarta, 10, na Câmara. Campos se reuniu com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e com líderes da base aliada do governo na residência oficial da presidência da Câmara, no Lago Sul, bairro nobre da capital federal.

 

Preocupado com a piora do humor no mercado financeiro, Campos Neto alertou para os riscos de mais perdas nas contrapartidas fiscais da PEC, consideradas essenciais pela equipe econômica para mostrar uma sinalização de compromisso do País com o equilíbrio das contas públicas e evitar a disparada da inflação e dos juros. O horário do encontro foi logo cedo, após a abertura do mercado, quando o dólar à vista batia em R$ 5,8593 – uma alta de 1,40%.

 

Depois da reunião, se seguiram as falas de Freitas e do próprio Lira em defesa da previsibilidade das ações e confirmando que o relator havia concordado com a posição dos líderes de não desidratar o texto. O encontro entre Campos Neto e Lira só entrou na agenda do presidente do BC depois.

 

Até a noite de segunda-feira, 8, o placar da PEC parecia ser favorável ao movimento liderado pelo deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), que desde o final de semana trabalhou intensamente para blindar as forças policiais da União e dos Estados do alcance dos gatilhos. Uma vez acionados, eles impedem aumento de gastos de pessoal e colocam em prática o congelamento de promoções, reajustes e novas contratações. 

 

Foi o próprio presidente Jair Bolsonaro que deu sinal verde para que a concessão fosse feita na Câmara, um aceno à sua principal base de apoio eleitoral. Vitor Hugo praticamente acampou no Palácio Planalto ao lado de parlamentares da bancada da bala e representantes sindicais das diversas categorias de policiais, na tentativa de executar o que vem sendo chamado de “quinto capítulo” da estratégia de manter as forças de segurança a salvo de medidas duras do ajuste fiscal. A estratégia bem-sucedida em angariar o apoio do presidente começou na reforma da Previdência e continuou na reforma administrativa e terminou na votação da lei 173, de socorro a Estados e municípios, que teve como contrapartida o congelamento do salário dos servidores.

 

Reação

 

Lideranças governistas ficaram irritadas com o movimento do ex-líder do governo e da sua tropa de parlamentares, passando por cima do acordo fechado com o Senado para que a proposta fosse aprovada com urgência e sem maiores ruídos por causa do cenário de alta volatilidade e incerteza que os indicadores do mercado financeiro têm retratado nos preços. O assunto comentado é que essa blindagem poderia descredenciar o acordo político, que marcou uma articulação mais azeitada entre as presidências da Câmara e do Senado.

 

O tema é delicado por conta do envolvimento direto de Bolsonaro, passando por cima da proposta da equipe econômica. E ninguém quer bater de frente com Bolsonaro. Na véspera, o presidente já tinha anunciado a intenção de blindar os militares e retirar mais dois itens do texto, motivo de abertura em queda da Bolsa ontem.

 

Como mostrou o Estadão, também foi o presidente que deu aval para negociação no Congresso para retirar o orçamento do Bolsa Família do teto de gastos, a regra que impede que as despesas cresçam em ritmo superior à inflação, com o objetivo de ter mais recursos para gastar em ano pré-eleitoral. Depois da repercussão negativa dos investidores, parlamentares do Centrão desistiram de levar adiante a ideia, já que cairia neles o carimbo de fura-teto.

Coube a Lira dar um recado, por vias indiretas, ao comentar como o presidente reagiu à decisão do relator de manter as contrapartidas como foram aprovadas no Senado. “Recebeu muito bem, tranquilo e sereno, porque sabe que a PEC tem e teve origem no Legislativo, é de autoria de um senador, foi votada no Senado, será votada na Câmara e promulgada pelo Congresso.”

 

A avaliação no momento entre lideranças governistas e integrantes da área econômica, que defendem a PEC sem desidratação, é que o placar do jogo ainda não está definido, mas a situação não está mais como na segunda-feira à noite, tranquila para Vitor Hugo e sua tropa. “O jogo está virando”, resumiu uma dessas fontes com esperança de uma vitória final. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

Ricardo Bergamini


Sobre projetos para mudar o Brasil: muitas prioridades podem ser sinal de nenhuma - Paulo Roberto de Almeida (2004 e 2021)

Um exercício "rememorativo" de um texto de 2004, redescoberto em 2021

Paulo Roberto de Almeida

Brasília,  11 de março de 2021

Ao início do governo Lula, ainda em 2003, vetado para trabalhar na Secretaria de Estado (por razões que não convêm explicar agora), fui convidado por um dos membros da "troika" do governo petista para integrar um novo órgão de "planejamento" da "flamante" nova administração, o Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, funcionando junto ao CGEE, criado na segunda Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, no segundo mandato do governo FHC. 

Eu mesmo sugeri que o Brasil se antecipasse nas metas que haviam sido fixadas em conferência diplomática da ONU para 2015 (um primeiro exercício dessas grandes ambições, antes consolidadas nas Metas do Milênio, agora nas metas do Desenvolvimento Sustentável para 2030). Sempre desconfiei das grandes ambições e das dezenas de prioridades, mas propus que o Brasil tentasse cumprir até 2008 (200 anos de administração do país no próprio país, até então uma colônia, mas que passou a abrigar a corte e a sede do vasto Império ultramarino português) as metas fixadas para 2015, para que em 2022, data do bicentenário ele se apresentasse como país finalmente desenvolvido. 

Nesse entrechoque de muitas datas, 2006, 2007, 2008, 2015 e 2022, acabou saindo o projeto "Brasil Três Tempos", que depois cresceu além da minha conta, pois pensava concentrar tudo em pouquíssimas metas, menos de cinco, todas elas concentradas na educação das crianças e jovens. Fui derrotado e acabou saindo um projeto "monstro", com mais de cinquenta "prioridades", ou seja, de fato nenhuma.

Descubro agora, sem que tivesse jamais retornado ao texto (e ainda não o reli, agora), que naquele momento, já descontente com o projeto gigantesco que militares e mandarins do Estado pensavam empreender, eu fiz um "registro preventivo", para ser conferido ao final do governo Lula (que eu, equivocadamente como todo acadêmico, imaginava que não passaria de um mandato). Vou reler agora, e postar aqui, para ver o que de inteligente eu possa ter escrito sobre um projeto do qual participei meio a contragosto, pois a despeito de ser um estudioso do planejamento estatal no Brasil, sempre desconfiei de "projetos para reformar o Brasil". 

1325. “Registro Preventivo: Sobre projetos para mudar o Brasil”, Brasília, 5 de setembro de 2004, 6 p. Nota consignando formalmente minha interpretação e sentimento em relação ao projeto “Brasil 3 Tempos”, como forma de deixar registro antecipado do que penso poderá ocorrer em relação ao projeto e, de modo geral, em relação às políticas públicas e setoriais do governo atual (2003-2006). A conferir em 2007. [O que nunca fiz.]

Pois bem, vejamos o que escrevi em setembro de 2004, menos de um ano depois de voltar ao Brasil em outubro de 2003. Ao que eu saiba, esse registro preventivo NUNCA foi publicado, inclusive porque este blog Diplomatizzando só passou a existir em meados de 2006, já no final do primeiro mandato de Lula, portanto.

Registro Preventivo

Sobre projetos para mudar o Brasil

 

Paulo Roberto de Almeida

Feito em Brasília, 2-5 de setembro de 2004

 

Participo, no presente momento (isto é, meados de 2004), da concepção, elaboração e montagem de um projeto tentativo de planejamento estratégico governamental, “Brasil 3 Tempos: 2007, 2015, 2022”, organizado em torno de um processo de gestão articulado para o desenvolvimento futuro, de médio e longo prazo, do Brasil, trabalho feito no âmbito do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Secom-PR, órgão no qual estou lotado desde novembro de 2003. Esse projeto, cuja exposição sintética pode ser conferida mediante texto de apresentação compilado no número inicial do Cadernos NAE (01, 2004; http://www.planalto.gov.br/secom/nae/index.htm) [Nota em 11/03.2021: link desabilitado], deveria ter como objetivo estratégico a construção de uma trajetória de desenvolvimento sustentável no Brasil, com redução significativa das desigualdades sociais, por meio da sociedade do conhecimento, segundo uma definição que eu mesmo formulei para esse projeto (existem outras definições alternativas, formuladas por outros colegas envolvidos no projeto, nomeadamente o Coronel Oswaldo Oliva, coordenador do projeto, Marcio de Miranda Santos, diretor do CGEE, e Lélio Fellows, diretor técnico no mesmo centro).

Não existe, ainda, nenhum documento descritivo de cada uma das sete dimensões nas quais foi dividido o esforço de elaboração conceitual desse projeto – institucional, conhecimento, econômico, ambiental, sociocultural, territorial e global –, assim como não existe, na presente fase, nenhuma integração dessas várias dimensões em algum texto-síntese, dotado ou não dos princípios metodológicos que foram definidos para a montagem desse projeto em consonância com o instrumental analítico selecionado para tal fim (software Puma, de Raul Grumbach, adaptado especialmente para o projeto). Em outros termos, todas as possibilidades, de processo ou de substância, estão abertas neste processo de elaboração do “Brasil 3 Tempos”, com o que soam arriscadas e prematuras quaisquer previsões ou descrições antecipatórias quanto a seu formato final ou recomendações substantivas.

Não pretendo, nesta simples nota de registro factual e pessoal, arriscar-me em tal tipo de exercício especulativo, mas tão simplesmente deixar constância de minha posição de princípio quanto ao que deveria constar desse projeto, sem dúvida assaz complexo, bem como assinalar meu sentimento preventivo quanto ao que poderá resultar desse esforço governamental, sem dúvida meritório, de organização tentativa do processo de desenvolvimento no Brasil. Farei alguns comentários de ordem formal, isto é, quanto ao método mobilizado para conseguir tal finalidade, e tentarei alinhar, em seguida, alguns argumentos de natureza substantiva, ou seja, quanto ao objeto mesmo da presente iniciativa de planejamento estratégico governamental.

Não creio ser novidade para ninguém se afirmar, mais uma vez, o fato de que, no Brasil, o Estado constitui, hoje, o centro incontornável da vida nacional. Essa realidade, por vezes, não é sequer percebida, tal a sensação de uma permanente onipresença do Estado em nossa vida diária, desde muitas décadas aliás. Dai deriva o fato consequente de que as pessoas, em geral, e os funcionários públicos, em particular, não percebam esse fato – permito-me sublinhar e enfatizar esse conceito – como algo surpreendente, não desejável, evitável ou sequer anômalo, do ponto de vista das possibilidades alternativas de organização social e política. Trata-se de um fato, ponto. Não se vincula esse fato a qualquer elemento perverso, indesejável ou nocivo da organização social, em termos de organização política, de desempenho econômico ou de mecanismos de inclusão social. Não se chega tampouco a cogitar a possibilidade de que pudesse ser de outro modo, que o Estado não precisaria ocupar o centro da vida social, ou constituir-se na instância última (e suprema) de organização política, social e econômica. 

O que desejo ressaltar é que tudo, no Brasil, é feito no Estado, pelo Estado e para o Estado, e tem no Estado a referência incontornável dos modos possíveis de organização social. Vale dizer, em relação ao projeto “Brasil 3 Tempos”, que ele também não conseguirá subtrair-se a essa realidade avassaladora e propriamente totalizadora: o projeto acabará sendo mais uma forma de o Estado produzir ações que tenderão a reproduzir a capacidade que tem o Estado de trabalhar para si mesmo, girando em torno do seu próprio eixo e sugando as energias sociais em função de processos, iniciativas e programas que continuarão a ter no Estado o seu centro organizador e a sua referência básica de implementação e controle de desempenho.

Não tenho, portanto, ilusões de que, com o projeto “Brasil 3 Tempos”, isto seja diferente ou passível de se dar de outra maneira. O Estado continuará sendo o pivô central das formas de se pensar e de se fazer políticas públicas e políticas setoriais no Brasil, com muito pouco espaço, se algum, deixado para a própria sociedade ou para os grupos de interesse organizados em torno dos grandes eixos produtivos do país. A bem da verdade, o projeto até poderá prever ações a serem empreendidas pela própria sociedade, mas não creio que essas “concessões” pontuais sejam acompanhadas, em outras instâncias, de um verdadeiro processo de “recuo estratégico” do Estado das posições conquistadas nas últimas décadas de itinerário econômico e político nacional.

Hoje, no Brasil, o Estado controla os “centros de comando” da política e da economia, quando não das formas de organização social e de redistribuição de benefícios do processo econômico, e não mantenho nenhuma ilusão de que isso possa ser revertido a curto ou médio prazo, inclusive porque os atuais altos servidores do Estado e seus líderes políticos concordam – mesmo inconscientemente – em que tal situação perdure, por não ver nisso nenhuma deformação ou anomalia do processo social. Isto quanto à forma, ou método, pelo qual será conduzido o projeto “Brasil 3 Tempos”. Vejamos agora alguns aspectos substantivos do desenho e implementação desse projeto. 

Não creio, tampouco, ser novidade para ninguém o fato de que o Brasil apresenta-se hoje como um país totalmente industrializado, basicamente desenvolvido no que se refere ao acabamento de sua estrutura produtiva e razoavelmente avançado no que concerne a capacidade de seu sistema científico e tecnológico em responder às necessidades de seu sistema produtivo, seja produzindo localmente, seja importando e adaptando de forma inteligente todos os métodos e procedimentos utilizados pela indústria moderna (o que compreende também, obviamente, o chamado agronegócio, os serviços e toda a parafernália de tecnologia de comunicações e de informação). Se alguém ainda duvidar disso é porque não está suficientemente informada sobre os progressos alcançados pelo Brasil no plano da estrutura material, ainda que se possa contestar os avanços alegados ou argumentar quanto ao caráter ainda insuficiente da produção própria de ciência e tecnologia. Não importa: o essencial é que o Brasil já “chegou lá” e qualquer avanço adicional nessas áreas representa apenas um problema “técnico”, não estrutural, ou seja, não há impedimentos a progressos ulteriores e contínuos nas áreas ainda hoje insuficientemente desenvolvidas (e temporariamente em situação de atraso relativo). Um economista “otimista” poderia dizer que chegamos ao “fim do desenvolvimento”, mas este não é o caso, pois o processo não tem limites, contornos ou barreiras precisas que permitam definir um limiar a partir do qual um país deixa de estar na condição de subdesenvolvido, ou em desenvolvimento, e passa a ser classificado como “desenvolvido”. Não estamos num concurso e não nos interessa atribuir medalhas de bom desempenho econômico: nosso problema é social e é disso que pretendo falar. 

Assim como acredito que o Brasil já “terminou”, no essencial, seu processo de construção de uma estrutura econômica moderna no país, acredito igualmente que o país não chegou ainda a um patamar sequer razoável de desenvolvimento social, cultural e, sobretudo, educacional. Desse ponto de vista, acho que estamos ainda no século XIX, mas esse tipo de analogia histórica pode ser enganoso, além de anacrônico nos seus próprios termos. O Brasil dispõe, sim, de um bom nível cultural, de altos padrões de ensino e de um bom avanço social em diversas áreas de importância substantiva para a vida nacional. O único problema é que esses níveis e padrões estão desigualmente distribuídos e apresentam, de fato, uma estrutura distributiva iníqua, para não dizer inaceitável do ponto de vista moral e ético. 

De fato, acredito que o que distingue o Brasil de todos os demais países em situação similar (ou até inferior) de desenvolvimento material é o grau anormalmente elevado de miséria social, de exclusão cultural de embrutecimento educacional, atinge faixas expressivas de sua população. Não preciso aqui referir-me às estatísticas, pois a situação salta aos olhos em cada esquina, está presente no cotidiano das grandes cidades e perpassa, como sabemos, a situação escolar de milhões de indivíduos que entram todos os anos na rede pública de ensino para ser expurgada mais adiante na grande tragédia da evasão escolar e da não formação técnico-profissional em padrões compatíveis com as necessidades do mercado de trabalho e dos requerimentos de competitividade econômica.

Corrijo parcialmente este último argumento: o Brasil consegue ser competitivo em vários ramos industriais, do agronegócio e dos serviços, mas mobilizando apenas uma fração mínima de sua mão-de-obra, com um imenso desperdício de contingentes inteiros de trabalhadores não preparados sequer para integrar o exército industrial de reserva. Em outros termos, estamos utilizando apenas uma parte, e não a mais importante, de nossa mão-de-obra potencial (o que não tem nada a ver, a não ser parcialmente, com o fato de 60% da população economicamente ativa estar no setor informal). 

O que caracteriza o Brasil, portanto, é o seu número “excessivo” de pobres, um número não compatível, e até anômalo, em relação ao seu desenvolvimento econômico. O outro aspecto a ser ressaltado é o grau também anormalmente elevado da concentração de renda, o que tem a ver, obviamente, com o “excesso” de pobres. Ambas as situações são devidas, fundamentalmente, à não educação do povo brasileiro, fator que por outro lado dificulta o sistema econômico-produtivo alcançar patamares mais elevados de produtividade, o que se traduziria, de maneira correlata, em melhores condições de competitividade externa, integrando de forma mais intensa o sistema econômico nacional à economia mundial. Somos um país de muitos pobres, dispondo de uma renda inferior à de outros pobres em países de desenvolvimento similar (ou inferior), devido a um sistema educacional deficiente e excludente, o que nos exclui igualmente de uma maior participação nos circuitos econômicos internacionais. 

Estes são, a meu ver, os problemas básicos do Brasil, que um projeto como o “Brasil 3 Tempos” poderia equacionar de modo correto e depois se esforçar para corrigir no menos prazo de tempo possível. No que depender de mim, estes problemas, ao lado do crescimento exagerado do ente estatal, receberão atenção prioritária no processo de formulação do diagnóstico de base do projeto e, depois, na fase de elaboração de propostas de ação de médio e longo prazo para correção das gritantes desigualdades já assinaladas e das mais importantes deformações de nossa estrutura sócio educacional. Este seria meu empenho básico, como condição de fazer o Brasil eliminar, no mais breve prazo possível, os fatores negativos mais vergonhosamente iníquos de nossa estrutura social e cultural, que também concorrem para diminuir o potencial de desenvolvimento econômico e tecnológico.

Temo, porém, que esses problemas simples, meridianamente claros do meu ponto de vista, permaneçam não resolvidos, ou insuficientemente tratados nos meses e anos à frente, como resultado da implementação do projeto “Brasil 3 Tempos” ou de qualquer outro plano, esforço, iniciativa ou ação governamental, neste e nos próximos governos. Meu temor principal é que, ao fim e ao cabo de um governo supostamente identificado com a mudança social no Brasil e com a correção de suas mais gritantes desigualdades, essas deformações de nossa estrutura socioeconômica não sejam de fato resolvidas, ou sequer arranhadas pela política social ou educacional do governo (ou seja, estou falando da conjuntura de 2006-2007). Acredito que poderá até haver algum progresso na frente educacional, com a ampliação dos contingentes mobilizados nos diferentes níveis do sistema formal de ensino – público e privado –, mas que isso não seja suficiente para corrigir um décimo de centésimo sequer do coeficiente de Gini, o indicador que mede o grau de concentração de renda no Brasil. 

Gostaria, sinceramente, de estar errado, mas é o que sinto que pode ocorrer, não apenas em relação ao “Brasil 3 Tempos”, como no que se refere a diversos outros planos de ação governamentais nas áreas social, cultural, educacional, de emprego, de segurança e de distribuição de renda. Acredito que, nas condições atuais do Brasil, um governo seriamente comprometido com a correção das suas mais gritantes desigualdades – que são obviamente as de distribuição de renda e de oportunidades educacionais – deveria estar promovendo um conjunto de ações relativamente simples com foco principal nestas áreas: educação fundamental – isto é, primária, secundária e técnico-profissional –, inclusão digital dos estratos mais pobres da população, garantia de segurança aos cidadãos das grandes aglomerações urbana, redução do excessivo regulacionismo estatal e da carga tributária igualmente excessiva, promoção do empreendedorismo em direção das camadas de menor renda. 

Tenho consciência de que todo Estado, dada a complexidade atual da máquina estatal e o crescimento das responsabilidades governamentais em diversas áreas, teria de fazer muito mais em muitas outras frentes de trabalho, mas por uma simples razão de economia de meios, e de necessidade de se ter um foco preciso para a ação pública, eu concentraria meus meios e recursos disponíveis – que aliás não são muitos – naqueles pontos prioritários apontados acima. De resto, eu procuraria libertar as energias da sociedade, de modo a que ela mesma pudesse empreender nos mais diversos campos abertos ao engenho e arte de um povo operoso, maleável, inventivo e bastante esperto. 

Este é o meu registro preventivo, feito em toda honestidade intelectual, com a promessa de uma conferência honesta e objetiva no primeiro semestre de 2006. 

 

Paulo Roberto de Almeida (Brasília, 5 de setembro de 2004)



Retomo: Em conversas no NAE eu insistia que o projeto deveria se concentrar na educação dos mais jovens, mas o que saiu na questão educacional tampouco me satisfez, pois correspondia a tudo o que governo petista vinha fazendo em educação, e que eu considerava totalmente equivocado. Fui vencido, mas deixei minha opinião registrada em dezenas de textos que elaborei na sequência, tornando-me, por assim dizer, em um precoce opositor conceitual do governo lulopetista (que retaliou, deixando-me sem qualquer cargo na diplomacia ativa no decorrer dos 13,5 anos de sua duração, que terminou pior do que eu imagina, na Grande Destruição econômica de Madame Pasadena).

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 11/03/2021

Visões de uma nova geopolítica mundial em construção - Frederick Kempe, Janan Ganesh, Fareed Zakaria, Samir Puri (book)

 Dois artigos e uma resenha que vale por um artigo, para tentar penetrar nos meandros de um novo cenário estratégico ainda em definição. 

 

The Atlantic Council, Washington DC  - 10.3.2021

Who is going to organize the world? And what forces and whose interests will shape the global future?

That’s what is at stake in the Biden-Xi contest

Frederick Kempe

 

Those were the underlying questions behind two events this past week, one in Washington and the other in Beijing, that set the stage for the geopolitical contest of our times.

The Washington piece was President Joe Biden’s release of the “Interim National Security Strategic Guidance,” which is unprecedented at this stage in a new administration.Biden’s purpose was to provide early clarity about how he intends to set and execute priorities in a fast-changing world.

Secretary of State Antony Blinken laid out the thinking behind the guidance in his first major speech since entering office. It was a compelling one, underscoring the urgent need to shore up US democracy and revitalize America’s alliances and partnerships.

“Whether we like it or not, the world does not organize itself,” Blinken said. “When the U.S. pulls back, one of two things is likely to happen: either another country tries to take our place, but not in a way that advances our interests and values; or, maybe just as bad, no one steps up, and then we get chaos and all the dangers it creates. Either way, that’s not good for America.”

Relations with China, which Blinken called “the biggest geopolitical test of the 21st century,” are the wrench in this organizational thinking.

Said Blinken: “China is the only country with the economic, diplomatic, military, and technological power to seriously challenge the stable and open international system—all the rules, values, and relationships that make the world work the way we want it to, because it ultimately serves the interests and reflects the values of the American people.”

Biden’s biggest departure from former President Donald Trump’s approach to China is his emphasis on working with partners and allies. This week’s move by the United States and European Union to ease trade tensions, suspending a long list of tariffs related to the Airbus-Boeing dispute over government subsidies, underscores Biden’s seriousness of purpose.

 

China’s take on organizing the world

 

Unsurprisingly, Beijing is offering up a different view of the future around the second key event this past week: China’s National People’s Congress that convened Friday and will continue this coming week.  

Chinese President Xi Jinping sees momentum building for Beijing in a world where “the East is rising, and the West is declining.” His argument was that China offers order, in contrast to the United States’ chaos, and effective governance, in contrast to Washington’s ineffectiveness, demonstrated by how much better it has handled the pathogen it unleashed.

Xi’s most comprehensive swipe at how China would organize the world came in late January at this year’s virtually convened World Economic Forum. The speech’s title underscored its all-embracing ambition: “Let the Torch of Multilateralism Light up Humanity’s Way Forward.”

If Biden’s vision is for the United States to create a band of reinvigorated democratic sisters and brothers, inspired by the country’s revitalization, Xi’s vision is for a world where each country’s political system, culture, and society are its own business.

In this world, America’s value judgments are passé.

The subtext for Xi is simple: How countries organize themselves internally, along with whatever authoritarian strictures and human rights violations they include—whether against the Uighur minority in Xinjiang, democracy activists in Hong Kong, or perhaps even ultimately Taiwan’s independence—just is not Washington’s business.

Each country is unique with its own history, culture and social system, and none is superior to the other,” Xi told the virtual Davos crowd. “The best criteria are whether a country’s history, culture and social system fit its particular situation, enjoy people’s support, serve to deliver political stability …” Xi made clear this approach is meant to “avoid meddling in other countries’ internal affairs.”

By contrast, in a letter that accompanied the strategic guidance this week, President Biden wrote, “I firmly believe that democracy holds the key to freedom, prosperity, peace, and dignity… We must prove that our model isn’t a relic of history; it’s the single best way to realize the promise of our future. And if we work together with our democratic partners, with strength and confidence, we will meet every challenge and outpace every challenger.”

As democracy weakens globally, the world’s democracies must act

The context for these competing visions was this week’s release of Freedom House’s annual survey that said, “less than 20 percent of the world’s population now lives in a Free country, the smallest proportion since 1995.”

In the study, called “Democracy under Siege,” Sarah Repucci and Amy Slipowitz wrote, “as a lethal pandemic, economic and physical insecurity, and violent conflict ravaged the world in 2020, democracy’s defenders sustained heavy new losses in their struggle against authoritarian foes, shifting the international balance in favor of tyranny.”

It was the fifteenth successive year in which countries with declines in political rights and civil liberties outnumbered those with gains. The report said that nearly 75 percent of the world’s population lived in a country that faced a deterioration of democratic freedoms last year.

It may seem that this is absolutely the wrong time to expect the world’s democracies to rally to shape the global order. Yet just the opposite is true: At a time when democracy is being tested across the world, there’s no better time to work together to address these challenges and ensure that the global gains in freedom over the past seventy-five years don’t continue to erode.

Chastened by the global situation, the Biden administration knows its work must begin at home. Blinken also was modest in how the United States would go about advancing democracy.

“We will use the power of our example,” he said. “We will encourage others to make key reforms, overturn bad laws, fight corruption, and stop unjust practices. We will incentivize democratic behavior.”

What the United States won’t do is promote democracy “through costly military interventions,” said Blinken, “or by attempting to overthrow authoritarian regimes by force. We have tried these tactics in the past. However well intentioned, they haven’t worked.”

In the end, the world is not going to be organized either by Chinese or American fiat, but rather by a concert of national interests influenced by the trajectory of the world’s two leading powers.

Xi’s bet is that China’s momentum is unstoppable, that the world is sufficiently transactional, and that his economy has become indispensable to most US allies. Biden must not only shift that narrative but also work in common cause to reverse the reality of democratic weakening.

 

Frederick Kempe is president and chief executive officer of the Atlantic Council.

 

*

 

Financial Times, Londres – 11,3,2021

The decline of democracy is not America’s responsibility

The spread of freedom after the cold war was the exception to the autocratic norm

Janan Ganesh

 

Were it not for Israel, a rash motorist could drive from Russia’s north-eastern, Alaska-facing tip to the south-western point of Angola without passing through a “free” or even “partly free” country. That daunting map alone earns Democracy Under Siege, a report by the Freedom House watchdog, its lurid title.

The authors then lather on the sombre details. In no year since 2005 have more countries improved their democratic institutions than weakened them. Recent malefactors include the strongest nation (the US) and the second most populous (India). China, the potential master of the century, scores nine out of 100 for overall freedom.

Methodological snags abound here. Should “punitive” immigration tactics bring down the US score? And what’s all this about “exacerbated income inequality” in a civic review? Still, to the extent that values are quantifiable, the liberal style of government is in well-charted decline. The US and the wider west have just one consolation. Most of the crisis is not their fault. It follows that its alleviation is a task beyond them.

There is nothing strange, or even new, about unfreedomIt was the democratic boom after the cold war that constitutes the historic aberration. Countries with little or no experience of free institutions trialled them at last. While the subsequent backsliding is tragic, it takes a special kind of innocence to feel much shock. If there is a “democratic recession”, it began from a unique, never-sustainable high. Like most recessions, it has not undone all the gains of the prior expansion. If anything, the real news is how tenaciously democracy has stuck in much of ex-communist Europe and South America. There, despite qualms about Brazil, only Venezuela is “not free”.

Tellingly, the world’s de-liberalisation goes on regardless of what the US does. If the process began in 2006, then what Freedom House calls the “eclipse of US leadership” under Donald Trump cannot bear the explanatory weight. Presidents over the period include a warlike democracy-spreader (George W Bush), an orthodox liberal (Barack Obama) and, in Trump himself, an amoral nationalist. Whether America was using righteous force, upholding the global order or flattering strongmen, the life signs of democracy did not flicker in response. At some point, Washington may have to entertain the possibility that other countries possess free will. The state of the world is not the sum of US foreign policies, whether brutish, well-meaning or brutishly well-meaning.

It is hard to know which political party needs the lesson more. Among Democrats, the delusion is that Trump, either directly or through neglect, had much to do with the world’s democratic malaise (beyond advancing it at home). On the martial right, the belief in cause-and-effect foreign policy extends to the stunningly persistent notion that America “lost” China to communism in 1949. 

For all its blandness, the alternative view feels almost subversive to put forward. That is, democracy need not be the teleological destiny of all countries.Means of stoking it from outside are often reckless (war) or patchily effective (sanctions). And if the west could not entrench freedom as the global standard when it was ascendant, it is hardly likely to as the balance of world power tilts increasingly eastward. 

It is not even as if leadership through example achieves much. There is a line doing the rounds that President Joe Biden can help democracy abroad by securing it at home. It is a sweet thought, one that allows for a measure of idealism without the violent fiascos of Iraq and Libya. It also feels intuitively true.

The trouble is squaring the theory with the facts. American democracy was plainly healthier in 1971 than it is in 2021. But the number of democracies elsewhere was much lower. Through the 1960s, as the US enfranchised millions of black voters, a watching world “should” have been inspired. Instead, autocracies proliferated. Even if we allow for a lag, and squint really hard, it is hard to spot a correlation, much less a causal link, between the internal life of the US and the fate of freedom on earth. The reason to shore up democracy at home is that it is an innate good. That it makes the slightest difference abroad has become one of those tenets that survive only with repetition. 

The universal franchise is just a century or so old. Republics as established as India and America knew the Emergency and Jim Crow before their more recent lapses. Aged 39, I predate several democracies in Europe. When the liberal system is not under siege, that is news. Despair at its decline is only natural. Amazement at its survival is more fitting.

 

*

 

The New York Times – 9.3.2021

Books

How the Dead Hand of Imperialism Continues to Influence World Politics

Fareed Zakaria

 

THE SHADOWS OF EMPIRE

How Imperial History Shapes Our World

By Samir Puri

 

We are all in the throes of a hangover, Samir Puri writes, a “great imperial hangover.” He explains in “The Shadows of Empire” that we are living in the “first empire-free millennium” in history and yet the legacy of these empires still powerfully shapes our times. He is aware of the notion of informal empires but makes a strong case that there was something distinct and notable about formal empires, which existed from the days of the oldest human civilizations until 1991, when the Soviet Union collapsed. This juxtaposition — imperial legacies in a postimperial world — is an intriguing idea that proves a clever prism through which to look at the world. Russia’s annexation of Crimea, Britain’s exit from the European Union and the breakdowns in Iraq and Syria all have deep roots in an imperial past that still casts shadows on the present.

Once you start to think along these lines, you see the shadows of empires everywhere. The day I began the book, I had been reading about a topic that Puri does not discuss but is one more example of his thesis: the roiling debate about what to do with the hundreds of thousands of artifacts that were, over the centuries, taken from across the globe and now sit proudly in the great museums of the West. In recent history, because of the reach of Western power, most countries have either acted as imperialists or found themselves subjugated, and in both cases their national identity was profoundly shaped by the experienceEven the United States has been deeply affected by imperialism, Puri says, arguing that American slavery was an idea imported from Europe’s empires and was “the ultimate manifestation of colonization, not of land but people.” In fact, the MSNBC anchor Chris Hayes has described the historical circumstance of African-Americans as “a colony within a nation.”

Puri, an expert on armed conflict who has worked in the British Foreign Office, makes the case that Britain’s two pivotal decisions of the last several decades — joining the United States in the Iraq war and Brexit — were both crucially conditioned by the country’s imperial hangoverOnce the world’s greatest imperial power, Britain clung to the idea that it had the military strength, the diplomatic skill and above all the ambition to shape far-flung parts of the globe. In addition, modern-day Iraq was a British creation, cobbled together in 1920 out of three provinces of the collapsing Ottoman Empire. London could once again decide Baghdad’s fate.

Brexit was animated by a view that Britain was not a country defined by its proximity to Europe. In fact, what had often characterized British nationalism was its separation from the Continent(In Shakespeare’s “Richard II,” John of Gaunt gives voice to a deep-rooted English nationalism when he describes the island nation as “this precious stone set in the silver sea / Which serves it in the office of a wall / Or as a moat defensive to a house, / Against the envy of less happier lands.”)The leading Brexiteers, including now-Prime Minister Boris Johnson, often spoke about a “global Britain,” continuing its historical mission around the world, forging closer ties in particular with its old colonies and dominions from Canada to India to Australia.

The Russian case is in some ways even easier to make. Puri points out that “the evolution of Russia was inextricably linked to its expansion, so much so that it is unclear whether Russia created an empire or the process of imperialism created Russia.” He dates the start of Russia’s European-facing empire to the kingdom of Kievan Rus, which began in the ninth century in Kyiv, the present-day capital of Ukraine. From those modest beginnings grew an empire that at its height, after the Soviet Union’s victory in World War II, spanned 11 time zones and comprised almost 200 million people. When you consider this history, Vladimir Putin’s remark that the collapse of the Soviet Union was “a major geopolitical disaster of the century” makes sense, especially if you listen to what he said immediately after: “Tens of millions of our co-citizens and co-patriots found themselves outside Russian territory. Moreover the epidemic of disintegration infected Russia itself.” These deep imperial ties with Ukraine help explain why Putin’s brazen annexation of Crimea was broadly popular within Russia.

We enter the postimperial 21st century with an unusual geopolitical dynamic. The two leading powers on the planet, the United States and China, both derive a great deal of their internal legitimacy and purpose from the notion that they are anti-imperial nations. In America’s case, its identity is tied to its birth story of rebelling against the British Empire. In China’s case, every schoolchild is taught that the country’s modern history began with Western imperialism humiliating and crippling the Middle Kingdom for over a century. And yet both countries have informal empires. The American one is a vast network of economic alliances and military bases scattered around the world. China, for its part, is trying to develop something quite similar with its huge Belt and Road Initiative, which may swell to 10 times the size of the Marshall Plan.

How will these two distinctive postimperial superpowers interact in the 21st century? What will be the consequences of the imperial shadows cast in this new, emerging bipolar era? Unfortunately, Puri does not have much to say about any of this. Having provided a fresh perspective on all the issues I have raised above, he offers brief and intelligent speculation, but mostly proceeds to simply recount the imperial histories of major countries or parts of the world. Much of this is well written, comprehensive and judicious, but it is still potted history. Having introduced a fascinating subject, Puri declines to fully engage and explore his own thesis. He seems to imply that this task is left to the reader, but that leaves too much to us, and lets the author of this stimulating book off the hook too easily.