O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

1678) EUA observam o Brasil - Council on Foreign Relations

Os EUA e a emergência do Brasil
Cristiano Romero
Valor Econômico, 13/01/2010, pág. A2

Centro de estudos sobre assuntos internacionais mais influente dos Estados Unidos, o "Council on Foreign Relations (CFR)" decidiu criar uma força-tarefa para estudar o Brasil. O grupo começa a trabalhar em março e terá duração de nove meses. O objetivo é produzir um relatório com recomendações, ao governo Obama, sobre como lidar com o Brasil, em particular com o Brasil que está emergindo no cenário mundial. O contexto é a sucessão presidencial brasileira. Por isso, o CFR planeja entregar o documento à Casa Branca no fim do ano, às vésperas da mudança de governo por aqui.

Não é a primeira vez que o conselho chama a atenção de autoridades americanas para o Brasil. Em 2001, uma outra força-tarefa apresentou relatório ao então presidente George W. Bush, recém-empossado, mostrando a importância do país e sugerindo que o governo americano o tratasse como uma prioridade da política externa. Bush ignorou o documento. Em 2008, num documento mais amplo, que tratava de toda a América Latina (AL), o CFR propôs a Obama que aprofundasse as relações dos EUA com o México e o Brasil.

Os dois documentos diziam que era preciso prestar mais atenção no Brasil por se tratar de um ator relevante para questões regionais e internacionais de interesse dos americanos. Possivelmente, o próximo relatório não perderá tempo falando da relevância do país. "Não é mais necessário justificar a importância do Brasil. Entretanto, não há atenção nem conhecimento sobre o país, então, o que deve prevalecer é a ideia de que 'não podemos errar novamente ao não interpretar o Brasil; precisamos gerar capacidade em Washington de interpretar o que os brasileiros estão fazendo'", diz o professor Matias Spektor, coordenador do Centro de Estudos sobre Relações Internacionais da FGV e estudioso das relações Brasil-EUA - no ano passado, ele publicou o livro "Kissinger e o Brasil" (Zahar), resultado de uma pesquisa monumental.

Em dezembro, a FGV e o CFR promoveram, no Rio, seminário sobre o "rising Brazil" (Brasil emergente) e suas implicações para a ordem mundial e as instituições internacionais. A realização do evento já foi uma prova de que o país voltou a figurar no radar dos americanos. Coincidentemente, as discussões ocorreram em meio à crise de Honduras e às repercussões da visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, a Brasília. "Foi uma sorte histórica o seminário ter acontecido nesse contexto. Aqui, são duas instâncias em que o governo americano não consegue entender qual é a lógica que governa o processo decisório brasileiro. Para eles, não é óbvio o que a gente faz", observa Spektor.

A pouca compreensão está refletida na diatribe de Susan Purcell, diretora do Centro de Política Hemisférica da Universidade de Miami. Na semana passada, ela publicou artigo sobre o "curso independente" adotado pelo Brasil. No texto, confirma a percepção de que o país é visto hoje como um ator mais relevante no cenário global. Ao mesmo tempo, lança dúvidas sobre sua confiabilidade como parceiro dos EUA.

O tema é quente. No seminário FGV-CFR, prevaleceram três conjuntos de argumentos. O primeiro diz respeito ao papel do Brasil na América do Sul e, no limite, na AL. Há muito tempo existe nos EUA a expectativa de que o Brasil se comporte como uma potência regional. Por isso, aplaudiu-se a criação do Conselho Sul-Americano de Defesa. Os americanos não entendem, no entanto, por que o país não tem uma política assertiva em relação às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). "O seminário avançou bastante ao mostrar aos americanos qual é a lógica de o Brasil não adotar uma política de potência regional tradicional. Essa expectativa vem de longe e continua presente. Kissinger, nos anos 70, avisou aos brasileiros que, 'à medida que vocês ficarem mais fortes, vão sentir aquilo que nós, americanos, sentimos: vão ser mais respeitados, mas menos queridos.'"

Um segundo argumento debatido no seminário trata do Brasil como parte dos Brics. Na concepção americana, ser um Bric significa participar dos tabuleiros centrais para a manutenção da ordem mundial. Para os EUA, o Brasil já está lá porque é um ator importante em temas como sistema financeiro internacional, mudança do clima, comércio mundial, não proliferação nuclear, democracia. "Para os americanos, se você é um Bric, está disposto a ser alicerce dessa ordem internacional, ou seja, a pagar os custos de manter a ordem. É por isso que eles não conseguem entender por que o Brasil não tem uma postura de condenação do programa nuclear iraniano", diz Spektor.

O terceiro grupo de argumentos diz respeito aos obstáculos à melhora das relações entre Brasil e EUA. Há muitos ruídos na comunicação, embora ela esteja, na avaliação do professor da FGV, num momento historicamente inigualável. "De fato, nunca o diálogo foi tão fluido como agora. O Brasil é bem recebido tanto no Departamento de Estado quanto na Casa Branca, há um genuíno interesse americano em ouvir o que o Brasil tem a dizer, mas há conflitos de interesse reais", pondera Spektor.

Na questão da não proliferação nuclear, os dois países não conseguem concordar, por exemplo, sobre os limites do programa nuclear iraniano. A defesa brasileira se ampara no TNP, o tratado de não proliferação que prevê, em uma de suas cláusulas, licença para o desenvolvimento tecnológico. Os EUA alegam que o Irã já deu provas de que esconde parte do jogo. A réplica do Brasil é que, nesse caso, deve-se lidar com a questão da confiança sem impedir que o governo iraniano, um membro do TNP, tenha acesso à tecnologia. A preocupação é com o precedente: o Brasil se espelha no Irã. Os americanos acham essa argumentação hipócrita.

"Mesmo que os dois sejam a favor da não proliferação, a maneira como interpretam a letra e o espírito do acordo é muito diferente", diz Spektor. O mesmo ocorre com o tema da democracia. Tanto o Brasil quanto os EUA são firmemente pró-democracia. Na visão americana, porém, a Venezuela está longe de ser uma democracia e, na brasileira, como disse o presidente Lula, há "excesso de democracia" no país vizinho.

Cristiano Romero é repórter especial e escreve às quartas-feiras.

E-mail cristiano.romero@valor.com.br

1677) America do Sul: mais um Conselho politico

Não se pode dizer que faltem estruturas para o dialogo político, a cemeçar pela velha OEA (com esse único incômodo de que ela fica em Washington). Faltam, talvez, condições para o diálogo. Por outro lado, crises políticas por vezes emergem internamente, o que sempre traz o espectro da não-intervenção.

Brasil quer criar conselho na América do Sul para resolver crises políticas
Sergio Leo
Valor Econômico, 13.01.2010

Os desdobramentos internacionais e regionais das crises políticas na região sul-americana devem levar o Brasil a propor aos países vizinhos a criação de um novo conselho regional, o Conselho de Paz e Segurança da América do Sul, informou ao Valor o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim.

Temos esse esforço todo de criação de confiança, com o Conselho de Defesa da Unasul, temos o Conselho de Defesa e o Conselho de Combate ao Narcotráfico, devemos trabalhar intensamente na questão de paz e segurança na região, comentou Amorim, ao revelar que cogita a criação do novo conselho, para tratar dos desdobramentos políticos relacionados aos problemas de segurança dos países da Unasul. Na região, há ideias parecidas, comentou.

Amorim não deu detalhes do projeto, que será discutido com os governos sul-americanos, mas indica que as discussões no novo conselho cuidariam dos atritos provocados entre países andinos devido à atuação das guerrilhas colombianas, divergências como os bloqueios de fronteira entre Argentina e Uruguai ou ameaças à integridade dos países.

Tudo tem seu lado político, os países, na prática fizeram isso (as tarefas de um futuro conselho) na crise da Bolívia e em outras situações, menciona Amorim, fazendo referência à ameaça de separatismo ocorrida, no ano passado, na Bolívia, após uma crise política provocada pela disputa em torno da nova constituição do país. Os atuais conselhos da Unasul seriam mais técnicos, com alcance limitado para discussão intergovernamental das ameaças à paz e à segurança, argumenta.

Amorim acredita que, apesar dos atritos políticos entre os países da região, o Conselho de Defesa da Unasul tem servido para aproximar os governos. Ele dá como exemplo a decisão da Colômbia de formalizar, em documento ao Conselho, os compromissos assumidos contra o uso de suas bases militares para ações fora de suas fronteiras. Segundo notou o ministro, o compromisso mencionou, de maneira inédita, que o governo colombiano assumia formalmente as declarações das autoridades da Colômbia feitas à imprensa sobre o tema. Não resolve todos os problemas, há questões psicológicas, mas já se avançou muito, diz, otimista.

Do ponto de vista econômico, uma das prioridades do governo neste ano, segundo Amorim, é fazer um diagnóstico completo das razões para a queda nas exportações brasileiras para os países do continente. Em 2009, as exportações brasileiras para a América Latina e Caribe caíram 32% e foram verificadas quedas de 30% nas vendas ao Mercosul e de 33,7% aos demais países da região.

A América do Sul sempre será prioridade sob esse aspecto, temos de pensar mais profundamente como estar mais presente, comentou o ministro, que quer ver análises detalhadas sobre o efeito da crise econômica e da maior competitividade chinesa sobre o desempenho das vendas de empresas brasileiras à região. Amorim acredita que o país também não pode descuidar das iniciativas voltadas à África, onde empresas brasileiras têm encontrado boas oportunidades, e ele vê grande espaço para a cooperação, inclusive com terceiros países como Estados Unidos e as nações europeias.

O governo pretende mudar a política em relação à China, que, no ano passado, passou a ser o principal mercado para os produtos brasileiros e o segundo maior fornecedor do Brasil, só atrás dos EUA. A China tem de aprofundar o sentido de nossa parceira estratégica, diz Amorim. O Brasil não pode ter uma parceria em que praticamente só vende commodities e compra manufaturas, diz ele, que não prevê atritos com os chineses.

Eles entendem isso, temos de fazer grande esforço para grandes investimentos de conteúdo tecnológico no Brasil, argumenta. O Brasil tenta marcar com os chineses uma reunião da Cosban, a comissão de alto nível entre os dois governos, para discutir esse tema. A intenção dos brasileiros é realizar a reunião em abril, talvez coincidindo com outro encontro, o dos Brics - Brasil, Rússia, Índia e China. O encontro dos Brics, a ser realizado no Brasil, provavelmente em Brasília, depende ainda de confirmação dos outros países.

1676) Meu melhor amigo é um... banqueiro

Não precisa (ou não preciso) dizer as razões; isso é evidente. Eles são os mais bonzinhos, os mais generosos, os mais (como diria?) comprometidos com a causa que também defendemos, a saber, o enriquecimento da população em geral, ainda que alguns segmentos fiquem mais ricos antes, a começar pelos próprios banqueiros e seus amigos preferenciais.
A nota abaixo foi retirada de um boletim one peut plus petista...

Ações de bancos brasileiros têm as maiores altas nas Américas em 2009
Boletim da Liderança do PT na Câmara dos Deputados, n. 4399, 13.01.2010

As ações de bancos brasileiros foram as mais rentáveis em 2009 entre estabelecimentos da América Latina e dos Estados Unidos, segundo levantamento feito pela consultoria Economatica.

As quatro primeiras posições no ranking pertencem a bancos brasileiros (veja tabela abaixo). A maior rentabilidade da lista foi do BicBanco (BICB4), que em 2009 teve retorno de 535,7%. Em seguida, vêm as ações do Banco Panamericano (BPNM4) com 483,5%, Banrisul (277,7%) e Banco do Brasil (191,2%). A Economatica calculou a rentabilidade percentual de todas as cotações em dólares, para poder comparar com os papéis estrangeiros.

Os bancos nacionais bateram com folga instituições gigantes estrangeiras, como Goldman Sachs (em 13º lugar, com ganhos de 102,7%), Morgan Stanley (17º, 85,4%) e JP Morgan Chase (22º lugar e avanço de 36% no valor de suas ações).

Entre as 25 ações mais rentáveis, há nove de instituições brasileiras, nove dos EUA, três do Chile, duas da Colômbia e duas do México. Entre as 25 ações, 14 tiveram rentabilidade superior a 100%.

Outras quatro ações de bancos brasileiros presentes na lista são as do ItauUnibanco (ITUB4, em 7º lugar, e ITUB3, em 9º lugar ) e do Bradesco (BBDC4, em 8º colocação, e BBDC3, em 10º). Em compensação, o banco latino-americano com menor rentabilidade da amostra também é brasileiro: as ações da Nossa Caixa (BNCA3) apresentaram rentabilidade de 34% em 2009, na 23ª colocação. A ação com a menor rentabilidade de toda amostra em 2009 é a do banco dos EUA First Horizon National Corp (FHN), com 30,7%.

A Economatica calculou a rentabilidade de todas as ações do setor bancário da América Latina e dos Estados Unidos em 2009. Para a analise, foram consideradas somente ações com presença superior a 70% nos pregões e volume médio diário maior que US$ 1 milhão por dia em 2009.

Os bancos mais rentáveis da América Latina e EUA, em 2009, com variação % em dólar

Banco País Ganhos em %

1.Bicbanco Brasil 535,7
2.Panamericano Brasil 483,5
3. Banrisul Brasil 277,7
4. Banco do Brasil Brasil 191,2
5. Compartamos México 190,8
6. American Express Brasil 124,1
8. Bradesco (PN) Brasil 122,1
9. Itau Unibanco (ON ) Brasil 111,9
10. Bradesco (ON) Brasil 107,5
13. Goldman Sachs EUA 102,7
17. Morgan Stanley EUA 85,4
22. JP Morgan Chase EUA 36
23. Nossa Caixa Brasil 34

Fonte: Economatica

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

1675) Bananas voadoras (quero dizer, "rafales" de insensatez...)

Rafale, para quem não sabe francês, é um vento forte, capaz de carregar muita coisa.
De alguns, ele carrega até a capacidade de pensar, o cérebro, sabe-se lá o que mais...
Bem, chega de filosofia, fiquemos com o concreto, com esse jornalista gozador...

NEGOCIATA NO AR. OU: REPÚBLICA DE BANANAS
Reinaldo Azevedo, 12/01/10

Nas democracias, como sabemos, não são os militares a decidir a hora de fazer a guerra ou de selar a paz. Essas são tarefas de governos civis, eleitos pelo povo. Mas não há democracia no mundo em que um presidente ou primeiro-ministro, mesmo sendo o comandante-em-chefe das Forças Armadas, interfira na tática puramente militar ou na melhor maneira de empregar o equipamento de guerra. Os soldados são treinados para isso. Só para que a situação seja ainda mais bem-compreendida: quando está no Aerolula, o presidente da República é, lá também, a autoridade máxima. Menos para os assuntos que dizem respeito ao vôo: aí, quem decide, é o comandante do avião; nesse particular, Lula é seu subordinado. Se der uma ordem contrária à segurança e à boa técnica de vôo, a obrigação do comandante é obedecer a lei, não obedecer a autoridade.

No caso da compra dos caças, tem-se uma situação parecida. A decisão do governo democrático, eleito pelo povo, é comprar ou não comprar os aviões, fazer a concorrência internacional, dizer o que pretende, quanto pode gastar etc. Mas é evidente que o mérito técnico dos aparelhos deve ser avaliado por quem entende da área: a Aeronáutica. E, por isso, ela foi chamada a opinar, num longo e exaustivo processo, produzindo milhares de páginas de análise técnica. Observem: a sua análise não é mandatária, claro! Mas recomenda o bom senso que as autoridades civis sigam o que dizem seus especialistas na área.

E qual foi a avaliação da Força Aérea Brasileira? Das três opções, a feita pelo governo Lula, a compra dos caças Rafale, é a pior. O sueco Gripen foi o preferido, e o americano F/A-18 ficou em segundo lugar. Acontece que Lula já havia prometido comprar os aviões franceses, e agora o ministro Nelson Jobim (Defesa) se esforça para arranjar uma boa desculpa técnica para justificar uma escolha muito mais cara e que ficou em último lugar na avaliação de quem entende do assunto. A operação envolve uma montanha de dinheiro: de R$ 7,7 bilhões a R$ 10 bilhões, por um lote inicial de 36 aeronaves.

O governo não tem como explicar a sua escolha além do compromisso assumido com o governo francês, sabe-se lá em que condições — compromisso este firmado enquanto a Aeronáutica fazia a sua avaliação. O máximo que Jobim consegue dizer é que decisões desse tipo são também políticas, seja lá o que isso signifique. Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores (que mal consegue distinguir um avião de um jumento), saiu-se com a máxima do clichê: “O barato, às vezes, sai caro”. Samuel Pinheiro Guimarães, o ministro da Sealopra, filosofou: “Não é só o preço que conta…”.

Repito aqui o convite que faço às vezes. Imaginem a seguinte situação: governo tucano decide comprar caças, com o PT na oposição. A Aeronáutica escolhe um modelo mais barato, considerado pela Força mais adequado às necessidades do Brasil. Os tucanos ignoram a recomendação e ficam com o modelo mais caro porque o presidente da República já prometeu, ao arrepio de qualquer análise, comprar o equipamento francês. Lula já teria dado umas 10 coletivas para denunciar a negociata. Ora, então não seria assim? Lembram-se quando os petistas mentiam dizendo que a Telebras fora vendida a preço de banana? Pois é! Petista não vende estatal a preço de banana; prefere comprar banana a peso de ouro.

Lula faz o que bem entende do dinheiro público e usa como quer os marcos legais quando se trata de lidar com potentados privados. O caso mais escandaloso de sua gestão foi a compra da Brasil Telecom pela Oi. A operação, quando realizada, era ilegal — embora tenha contado com apoio do BNDES. Lula mudou a lei só para “legalizar” a operação, o que levou este escriba a formular a frase que, para mim, define este governo: nas democracias, os negócios são feitos de acordo com a lei; nas republicas de bananas, as leis são feitas de acordo com os negócios.

Lula já fez o negócio com os franceses. Agora, o governo corre atrás de uma justificativa. República de bananas.

1674) Militaristas agressivos dos anos 1930, jihadistas do século 21: mesmo combate, mesmas ameaças...

Nineteen Thirty Something
Clifford D. May
Foundation for the Defense of Democracy, January 7, 2010

A few days of vacation in the Rocky Mountains is a good time to catch up on one's reading. But if I was looking for escape from the issues on which I spend most of my time, I didn't find it in "Churchill," the brief but penetrating biography by Paul Johnson, among the world's greatest living historians. In particular, Johnson's account of the 1930s holds up an eerie mirror to the present.

Johnson notes that when Hitler and the Nazis came to power in Germany in 1933, most Europeans failed to recognize either the nature or the gravity of the threat. Winston Churchill - retired soldier, popular writer, not very popular politician -- was the exception. He understood that unless free peoples acted decisively, they would come under attack, sooner or later.

Churchill was derided as an alarmist, or even a "warmonger." The well-known economist, John Maynard Keynes, argued that Hitler had legitimate grievances: in particular the unjust Versailles Treaty that had held Germany down since the conclusion of the first great war of the 20th century. Clifford Allen, a prominent British politician, "applauded Hitler," saying: "I am convinced he genuinely desires peace." Archbishop Temple of York agreed. Hitler had made "a great contribution to the secure establishment of peace," he said.

Today, of course, it is the ruling Islamists of Iran who candidly express their aggressive and even genocidal intentions. In speeches and sermons, they pledge to wipe Israel off the map, and vow to bring about "a world without American." For three decades, "Death to America!" has been the regime's rallying cry, inscribed also on the sides of missiles whose range and accuracy increase year after year.

And once again, those who would take these threats seriously and act decisively are dismissed as alarmists, or denigrated as warmongers by foreign policy mandarins. Once again, they insist that grievances must be addressed: Did not the CIA meddle in Iranian domestic politics in the 1950s? With American troops in Iraq and Afghanistan, don't Iran's rulers have cause for concern?

In the 1930s, the Nazis bought heavy weapons from Joseph Stalin, the Soviet dictator, who could not imagine that Hitler would use those weapons against him a few years later.

Iran's Khomeinists have been working feverishly to acquire nuclear weapons and the means to protect and deliver them. They have had little difficulty buying what they can't develop on their own from Russia, as well as from Western European countries whose leaders have persuaded themselves that a nuclear-armed Iran will be someone else's problem.

Hitler made common cause with Fascists in Italy and Spain, and with the militarists in Japan. Iranian President Mahmoud Ahmadinejad has established close alliances with such anti-American leftist strongmen as Venezuela's Hugo Chavez and Bolivia's Evo Morales.

Iran's war machine includes Hizbollah, which has developed not just as an armed militia inside Lebanon but also as an international terrorist proxy. Our intelligence community appears to know little about Tehran's relations with al-Qaeda. But there can be no doubt that Shia militants and Sunni militants collaborate on occasion against their common enemies. The recent revelation that Osama bin Laden's closest relatives -- including one of his wives, six of his children, and 11 of his grandchildren -- have been living in a compound outside Tehran provides additional evidence, if any were needed.

Johnson recounts that in 1930s Britain, the elites wanted to "leave everything to the League of Nations." As German military strength grew, such top British government officials as Anthony Eden insisted that the armies of the United Kingdom and France should not expand, as Churchill urged, but should shrink instead, in order "to secure for Europe that period of appeasement which is needed."

Finally, in 1938, British Prime Minister Neville Chamberlain engaged the German Führer - "supreme leader" would be a reasonable translation of that title -- at Munich, returning home to announce that through his diplomatic efforts common ground had been found, and that "peace in our time" had been assured.

Churchill saw through this fog of self-deception. Chamberlain's diplomacy, he said, had resulted in "total and unmitigated defeat." Churchill anticipated that the nations of Central and Eastern Europe would recognize how weak the democracies had become and "make the best terms they can with the triumphant Nazi power." Hitler would then absorb those nations, and "sooner or later he will begin to look westward."

Today, foreign policy elites want to rely on the United Nations -- which is more corrupt and dysfunctional than the League of Nations ever was. President Obama continues to extend his hand to Iran's rulers, apparently not perceiving the significance when a spokesman for Supreme Leader Ayatollah Ali Khamenei calls it "the hand of Satan in a new sleeve," and -- adding racist insult to injury -- tells the world: "The Great Satan now has a black face."

Adjustments are being made in the Middle East. In recent days, Ali Larijani, a top aide to Khamenei, has met with Egyptian President Hosni Mubarak. Turkey's leaders have signed multiple agreements with Syrian President Bashar al-Assad, who serves Khamenei, much as Mussolini served Hitler.

Lebanese Prime Minister Saad Hariri has just spent two days with Assad. He paid this visit, noted journalist Michael J. Totten, with "Hizbullah's bayonet in his back. Assad's regime assassinated Saad Hariri's father, Rafik, in 2005. There is no alternate universe where Saad Hariri is OK with this or where his generically ‘positive' statements at a press conference were anything other than forced. ... When Hariri went to Damascus, everyone in the country, aside from useless newswire reporters, understood it meant Syria has re-emerged as the strong horse in Lebanon."

The United States, Europe, the U.N. --- all had vowed that Hariri's murderers would be brought to justice. But they haven't been. The "international community" pledged it would not permit political benefit to derive from assassinations ordered in foreign capitals. But that's exactly what has been permitted - and licensed for the future.

After Munich, Churchill experienced moments of intense despair. In the past, he wrote to a friend, "the peace-loving powers have been definitely stronger than the Dictators, but next year we must expect a different balance." Indeed, he said, the democracies were unlikely to survive "unless by a supreme recovery of moral health and martial vigour, we arise and take our stand for freedom as in the olden time."

Today, taking a stand for freedom would require less. We would need to impose serious sanctions on Iran: A strong bipartisan majority in Congress already has voted for legislation that would put that arrow into Obama's quiver. The question is: Will he use it?

In addition, it would be useful to provide - at long last -- moral and material support to Iran's courageous anti-regime dissidents. Measures could be taken to isolate and ostracize those most responsible for Iran's oppression at home and terrorism abroad: the leaders of the Iranian Revolutionary Guard Corps, which may be seen as a kind of Iranian Gestapo. Military measures should remain on the table, in case all peaceful means of restraint prove inadequate.

In the end, Johnson's "Churchill" is inspiring and distressing. Inspiring because Churchill was, finally, vindicated. The Anglo-American alliance recovered its "moral health and martial vigour" and took its stand for freedom. Hitler and the Nazis were decisively defeated. But it's distressing because Churchill's spirit is so little in evidence these days, while the views and values of his detractors echo in the speeches of too many Western policy makers.

Just after September 11th, 2001, the British government loaned the White House a bronze bust of Churchill created by the great sculptor, Sir Jacob Epstein. Not long after he entered the Oval Office, President Obama sent it back.

Clifford D. May, a former New York Times foreign correspondent, is president of the Foundation for Defense of Democracies, a policy institute focusing on terrorism.

1673) Journal of Globalization and Development, number 1

A new kid in the field...

Journal of Globalization and Development

Editors: José Antonio Ocampo, Columbia University; Dani Rodrik, Harvard University; Joseph E. Stiglitz1, Columbia University; M. Shahe Emran, George Washington University

Journal of Globalization and Development is a new journal devoted to academic research and policy analysis on globalization, development, and in particular the complex interactions between them.

The journal publishes alternative perspectives from academics and practitioners on all aspects of development and globalization, and attempts to integrate the best development research from across different fields with contributions from scholars in developing and developed countries. Submissions benefit from fast decision time and publication (as little as 10 weeks), and extensive electronic dissemination to readers around the world.

Current Issue: Volume 1, Issue 1 (2010)

Research Foundations

Democracy, Autocracy and Bureaucracy
Avinash K. Dixit

Incomes in South Africa after the Fall of Apartheid
Murray Leibbrandt, James A. Levinsohn, and Justin McCrary

Poverty and Disequalization
Dilip Mookherjee and Debraj Ray

Dysfunctional Finance: Positive Shocks and Negative Outcomes
Karla Hoff

Policy Analysis

Impact of Political Reservations in West Bengal Local Governments on Anti-Poverty Targeting
Pranab K. Bardhan, Dilip Mookherjee, and Monica Parra Torrado

Rethinking Global Economic and Social Governance
Jose Antonio Ocampo

Public Finance and Economic Development: Reflections based on Experience in China
Roger H. Gordon

International Rules for Trade in Natural Resources
Paul Collier and Anthony J. Venables

Macro Crises and Targeting Transfers to the Poor
Ravi Kanbur

Symposium

Symposium: The Return of Counter-cyclical Policy - Editorial Preface
Jose Antonio Ocampo

Asia: Counter-Cyclical Policies: Indian Experience and Some General Observations
YV Reddy

Asia: China's Policy Responses to the Global Financial Crisis
Yongding Yu

Latin America: Counter-Cyclical Policy in Brazil: 2008-09
Nelson Barbosa

Latin America: The Structural Fiscal Balance Policy in Chile: A Move Toward Counter-Cyclical Macroeconomics
Ricardo Ffrench-Davis

Latin America: Comments on Financial Regulation and International Capital Flows in Latin America
Leonardo Villar

Africa: Africa's Counter-Cyclical Policy Responses to the Crisis
Louis Kasekende, Zuzana Brixova, and Leonce Ndikumana

Europe: How Deep Is a Crisis? Policy Responses and Structural Factors Behind Diverging Performances
Jean Paul Fitoussi and Francesco Saraceno

Europe: Counter-Cyclical Policies in Light of the Global Financial Crisis: The Case of Turkey
Fatih Ozatay

1672) El Pais: Programa de Derechos Humanos de la Izquierda de PT

¿Un programa de izquierdas en Brasil?
JUAN ARIAS
El Pais, 12/01/2010

El nombre es de lo más inocente: Programa Nacional de Derechos Humanos, un nuevo proyecto del Gobierno brasileño, que preside Luiz Inácio Lula da Silva. Y, sin embargo, sus 73 páginas se han convertido de repente en un plan de la discordia, que ha sido calificado de "disfraz de un Gobierno de izquierdas bolivariano", de "golpe blanco", de "vuelta al pasado"; que ha acabado enfrentando a varios ministros entre sí y que ha alarmado a la clase media. Pero lo que la gente de la calle se pregunta es si realmente le han metido un gol al Gobierno.

Según los principales analistas políticos de Brasil, lo que más ha chocado es que el texto en su conjunto es casi una copia del que el ala izquierda del Partido de los Trabajadores (PT) propuso a Lula como base de su programa en las elecciones de 2002. El entonces candidato acabó rechazándolo de plano con su famosa Carta al Pueblo de Brasil, en la que se comprometía, si era elegido, a mantener la política económica neoliberal de su antecesor, Fernando Henrique Cardoso, y ofrecía todo tipo de garantías jurídicas y políticas sobre la propiedad privada, la libertad de expresión y la defensa de las instituciones democráticas, como realmente ha hecho hasta ahora.

El programa izquierdista y populista que Lula rechazó fue elaborado por quien era alcalde de Santo André, en el Estado de São Paulo, Celso Daniel, que iba a ser el responsable de la campaña de Lula y que fue misteriosamente asesinado. Tomó su relevo Antonio Palocci, inspirador de la Carta al Pueblo y más tarde su ministro fuerte de Economía.

La pregunta que se hace incluso la gente de a pie es si la izquierda más dura de su partido, que nunca vio con buenos ojos la política económica del Gobierno de Lula, le ha marcado un tanto al presidente bajo el disfraz de la defensa de los derechos humanos, como afirma un editorial del diario O Globo.

De ahí una cierta expectación sobre lo que Lula pueda decir ahora en respuesta a la catarata de análisis y de editoriales sobre la sorpresa de un programa político y económico que contradice los siete años de Gobierno que le han dado una popularidad superior al 80%.

La primera señal de alarma sobre el nuevo programa fue lanzada por el ministro de Defensa, Nelsom Jobim, quien, junto con los tres comandantes del Ejército, presentaron a Lula sus dimisiones porque en el plan está incluida la posibilidad de revisar la ley de amnistía de 1979, que dio paso a la democratización del país tras la dictadura militar. Lula, que el día de las dimisiones se iba de vacaciones, confesó a Jobim que no había leído el texto y le prometió revisarlo. Ya de regreso en Brasilia, el presidente ha admitido que fue un error haber introducido el asunto de la amnistía. Pero el ministro de los Derechos Humanos, Paulo Vannuchi, declaró enseguida al diario Folha de São Paulo que, si se elimina del texto lo concerniente a la amnistía, también él presentará su dimisión.

Los ministros de Agricultura, Reinhold Stephanes, y de Desarrollo Agrario, Guilherme Cassel, también han acabado enfrentados. Para Stephanes, el programa aumenta la inseguridad jurídica, ya que concede más poderes a los Sin Tierra para poder invadir haciendas. El texto, según el ministro, es "un golpe a la agricultura".

En el mundo de las comunicaciones, las asociaciones de periodistas y empresarios se han unido a las duras críticas al programa. Según dichas instituciones, con el pretexto de defender los derechos humanos se propone limitar la libertad de expresión volviendo a la propuesta, que ya había sido derrotada, de crear un órgano del Gobierno que controle a las empresas del sector y decida hasta qué punto cada una de ellas está comprometida con los derechos humanos. El texto prevé retirar la concesión a las empresas de radio y televisión que no sigan las directrices oficiales del Gobierno en materia de derechos humanos. Una nota firmada por varias entidades del sector de la comunicación recuerda que la libertad de prensa es un derecho de los ciudadanos y no puede ser tutelada por órganos gubernamentales.

La posibilidad de una "democratización de la propiedad" ha alarmado a la clase media, que ha visto en el texto el eco de la "propiedad social" predicada por el presidente venezolano, Hugo Chávez. Y, por último, el énfasis que el programa pone en la posibilidad de gobernar el país a través de plebiscitos ha sido visto como una forma implícita de ataque al sistema democrático de los partidos y a la independencia de los tres poderes.

Una gran incógnita es qué parte ha podido tener en la redacción y aprobación del programa Dilma Rousseff, ministra de la Casa Civil y candidata favorita de Lula como aspirante a la presidencia, y si ésa va a ser su línea política en el caso de que en octubre gane las elecciones.

Y, entretanto, la oposición ha encontrado una mina en la ambigüedad del texto para avivar la alarma que despierta la posibilidad de que Brasil, ya sin Lula en el poder, siga la línea de los llamados países del eje bolivariano.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

1671) Zelaya: home alone

De fato, mais um pouco será possivel dizer: "Esqueceram de mim?"
Bem, acho que ele não vai precisar lutar contra bandidos invasores, nem inventar armadilhas para aprisionar e empastelar seus inimigos e eventuais atacantes.
Se ninguém fizer nada, ele fica quieto onde está, já que seu protetor, patrocinador e financiador já tem problemas demais. Chávez, eu quero dizer...
Sim, e o Brasil?
Não tenho a menor idéia; parece que cansaram do Zelaya; pelo menos pararam de tocar no assunto.
Abaixo, uma pequena crônica jornalística sobre estes dias tranquilos em Tegucigalpa...
Paulo Roberto de Almeida

Zelaya, só um sem-teto
Por João Bosco Rabello
Blog do João Bosco, 6 de janeiro de 2010

No próximo dia 27, termina o mandato que Zelaya estaria exercendo não tivesse sido deposto sob a acusação de descumprir a Constituição hondurenha. Assume Porfírio Lobo, eleito recentemente.
Zelaya permanecerá na embaixada brasileira, já na condição de ex-presidente. Será uma voz autista a exigir a renúncia de Micheletti, que não estará mais no cargo.
Resta a hipótese de transferir a exigência de renúncia ao novo presidente, com base na tese da ilegitimidade das eleições. Será ainda mais quixotesco, para não dizer surrealista.
O subsecretário adjunto dos EUA para o Hemisfério Ocidental, Craig Kelly, está em Tegucigalpa pela quinta vez, mas isso a cada dia parece ter menos importância efetiva no processo.
E o Brasil… bem, o Brasil espera que Zelaya se disponha a sair da embaixada. Mas se não o fizer, não haverá ação de despejo. Fica lá como sem-teto.

1670) Eficiência da Presidência no Governo Lula aumenta 550%

Ops, dito assim, parece um milagre de eficiência.
Mas este seria o resultado em termos de aumento da produtividade do trabalho na Presidência da República caso aplicássemos aos gastos secretos da PR, ou seja, aqueles feitos com cartões corporativos, os mesmos critérios que o Ipea usou recentemente para avaliar o aumento da produtividade do setor público no Brasil, e que constatou um fantástico aumento da produtividade em Roraima de nada menos do que 246%, ao passo que estados mal administrados como São Paulo tiveram crescimento zero, ou até negativo.
Sim, porque os sábios do Ipea usaram como critério aferidor do crescimento da produtividade do setor público o aumento de gastos com a máquina, daí resultando essa maravilha de expansão fantástica do setor público, contra um crescimento pífio ou irrisório do setor privado.
Bem, é o que eu posso concluir, quando leio uma matéria como esta:

Gastos secretos nas alturas
Chico de Gois e Luiza Damé
O Globo, 11.01.2010

Pela matéria constato que os gastos (secretos por definição) com cartões corporativos (um nome apropriado) na Presidência da República passaram de R$ 1.045.110 em 2002, último ano da gestão neoliberal de FHC, para R$ 5.606.183 já no ano seguinte, para R$ 6.462.148 em 2004 e, finalmente, R$ 6.785,519, o que corresponde a um aumento de 550% nesses gastos (que não sabemos exatamente quais sejam, pois eles são matéria de segurança nacional).
Apenas de 2008 a 2009, o aumento de gastos na Presidência da República foi de 38,9%, apenas um pouco mais do que o crescimento da inflação e do PIB, como sabem os meus leitores bem informados...

Bem, se aplicarmos o critério do Ipea a esses gastos, chegaremos à conclusão de que o aumento da produtividade na Presidência da República tem sido fantástico, nunca antes neste país e jamais igualado em qualquer país do mundo, em qualquer época histórica...

Ou será que não, caros leitores?
Cada um tire a sua conclusão...

1669) Protecionismo: a ilusão que passa por esperteza

Livre-comércio e protecionismo: algumas considerações pessoais
Paulo Roberto de Almeida

Todo economista sensato é – ou deveria ser – a favor do livre comércio. Digo ‘deveria ser’ pois que não existem argumentos econômicos contrários ao princípio, e os economistas (insensatos?) que se posicionam contrariamente, o fazem por outras razões que não as de ordem propriamente econômica: defesa do emprego nacional, ausência de reciprocidade por parte dos parceiros comerciais, desequilíbrios setoriais devidos a externalidades negativas em outros setores, etc.; ou seja, argumentos de natureza puramente política, quando não oportunista ou meramente conjuntural.
Todos os políticos sensatos afirmam ser – por vezes enganosamente – a favor do livre comércio, mas de fato praticam o mais deslavado protecionismo; eles o fazem sob o argumento de que “a teoria é perfeita, mas na prática não funciona”; na verdade, geralmente, eles estão apenas atrás de reeleição no seu curral eleitoral, eventualmente ameaçada se a competição estrangeira destruir muitos empregos localmente.
É compreensível que a lógica (inatacável) do livre comércio não seja muito compreensível ao cidadão comum (com perdão pela redundância): pessoas sem maior instrução econômica – ou sem um simples conhecimento da história – não conseguem compreender que comprar produtos mais baratos do exterior sempre será melhor do que tentar fazer tudo localmente, empregando-se os fatores nacionais na produção de bens para os quais se dispõe de vantagens comparativas relativas, posto que, dessa forma, a renda aumentará para todos os parceiros no negócio, tanto exportadores quanto importadores. O cidadão comum só consegue ver a “perda” dos empregos locais e a “transferência” de renda para o exterior, deixando de perceber os benefícios evidentes da especialização produtiva segundo a dotação (não estática) de fatores.
É menos compreensível que políticos, em geral cidadãos mais educados do que a média – ops, talvez não em todos os países... –, sejam contra o livre comércio, posto que eles (ou os seus assessores) estariam em condições de comprovar o quanto o livre comércio contribui para o aumento dos índices de produtividade, para os níveis de competitividade e, portanto, para a geração de riqueza nacional, medidos direta ou indiretamente quanto aos seus resultados de médio e de longo prazos. Mas talvez não se possa pedir a políticos que sejam sempre racionais e coerentes com a realidade.
É menos compreensível ainda, ou talvez não seja racionalmente admissível, que economistas inteligentes se posicionem contra o livre comércio, quando, mesmo decidido unilateralmente, ele só traz benefícios aos países que o praticam. Como dito acima, os argumentos contra o livre comércio por parte de ‘economistas’ não são de natureza econômica, mas de ordem essencialmente política. Mesmo um economista reputado inteligente como Paul Samuelson produziu um ‘teorema’ e caiu na esparrela de opor-se a ele sob a justificativa de que o livre comércio diminuía os salários dos trabalhadores menos qualificados... nos Estados Unidos (sic!).
Talvez os economistas que assim procedem tampouco querem, a exemplo dos políticos oportunistas, ser acusados de contribuir para a perda de empregos nacionais, ou para o aumento do déficit comercial, seja lá o que for mais importante. Mas nada explica a construção de argumentos aparentemente sérios contra o livre comércio, quando essa oposição causa, objetivamente, perda de renda nacional, perda de oportunidades de especialização produtiva – e portanto de ganhos de produtividade em setores com demanda externa potencialmente maior – e perda de nichos de integração na economia internacional, a maior provedora possível de tecnologias inovadoras, know-how, capitais e receitas de exportação. Não se pode esquecer que, por definição, a soma do conhecimento externo sempre será maior do que qualquer conhecimento interno, mesmo para a maior e mais poderosa economia nacional (o que é evidente pelos dados de licenciamento tecnológico e de registro de patentes).
O livre comércio, aliás, é um pouco como a tecnologia: ele destrói alguns empregos localizados, setorialmente e temporariamente, ao mesmo tempo em que cria novos empregos, em setores mais avançados e geralmente de melhores salários. Pode ocorrer, claro, que as perdas sejam mais amplas, de mais longa duração, e que os novos empregos não sejam, localmente, de mais alta remuneração. Mas isto se deve a outros fatores causais, talvez externalidades negativas ainda não revertidas pela economia nacional, e não propriamente aos mecanismos do livre comércio, que sempre tendem a produzir ganhos de renda na economia como um todo.
Sendo isso verdade – e não vejo argumentos contrários a essas idéias que sejam racionalmente defensáveis – é surpreendente que o livre comércio não seja ainda mais disseminado – ou seja, universal e unilateral – do que os poucos exemplos parciais, quase em formato de arquipélago ou de colcha de retalhos, dos acordos que podem ser legitimamente classificados sob essa rubrica e como tal registrados na OMC. Com efeito, a maior parte dos acordos ditos de livre comércio são, na verdade, de liberalização comercial, deixando ainda largas frações das economias nacionais – geralmente agricultura e indústrias labor-intensive – ao abrigo da concorrência estrangeira.
O outro argumento – de natureza política, sublinhe-se mais uma vez – que busca refrear o avanço dos acordos de livre comércio é o de que os seus ganhos (ou perdas), do ponto de vista da renda dos cidadãos, seriam muito pequenos e difusos (ou seja, disseminados por toda a sociedade), ao passo que seu impacto negativo é geralmente concentrado numa indústria ou num setor específico, podendo produzir, portanto, efeitos devastadores numa cidade ou numa região inteira. Se isso é verdade, por isso mesmo políticos responsáveis deveriam ser a favor do livre comércio, posto que os ganhos (ou perdas) para a economia e a sociedade como um todo são incomensuravelmente maiores do que o argumento do foco concentrado, por definição parcial e limitado a uma parte apenas da economia ou da sociedade.
Um simples cálculo de contabilidade nacional permitiria comprovar que o efeito de uma tarifa elevada ou de uma salvaguarda – mesmo temporária – sobre um produto ou serviço qualquer oferecido em competição a um similar nacional é muito mais relevante do que os custos setoriais e limitados do livre comércio, por vezes em dígitos de milhões, contra simples dezenas ou centenas de milhares. Da mesma forma, os empregos perdidos (ou não criados) pela ausência de livre comércio são mais relevantes, no plano da qualidade e dos vencimentos, do que os poucos empregos preservados temporariamente pela sanha de algum político protecionista.
Este é, finalmente, o último argumento em favor do livre comércio: os empregos assim ‘salvos’, estão irremediavelmente condenados, posto que eles não poderão se manter indefinidamente num mundo irremediavelmente globalizado (mas, de certa forma, ele sempre o foi, pelo menos para as economias de mercado). A indústria assim protegida corre um risco ampliado de, mais cedo ou mais tarde, perecer completamente, quando não se lhe oferece a oportunidade (e a chance) de enfrentar a concorrência pela qualificação tecnológica, pela reconversão produtiva, pela inovação incremental.
Não existem, repito, argumentos racionais, economicamente defensáveis, contra o livre comércio; tudo o que se disser contra ele tem causas e fundamentação essencialmente políticas. Ainda aguardo o teorema que irá provar o contrário, eu e David Ricardo...

1668) Protecionismo: doença infantil dos mercantilistas

Um leitor deste meu blog pediu-me que comentasse esta notícia do Estadão de hoje:

Protecionismo teria salvo 500 mil empregos na Argentina
Ariel Palácios
O Estado de S. Paulo, 11.01.2010

As principais vítimas da política argentina foram os produtos Made in Brazil

BUENOS AIRES - Um relatório do ministério da Economia da Argentina indicou que mais de meio milhão de postos de trabalho - um total de 542.370 - foram "salvos" pelas medidas protecionistas aplicadas intensamente ao longo de 2009 para impedir as denominadas "invasões" - ou "avalanches" - de produtos estrangeiros. As principais vítimas das licenças não-automáticas do governo da presidente Cristina Kirchner foram os produtos Made in Brazil destinados ao mercado argentino.

Segundo o ministério, outros 21.510 postos de trabalho foram protegidos pela aplicação de medidas anti-dumping. Desta forma, um total de 563.880 postos de trabalho salvaram-se da concorrência de produtos estrangeiros.

O ministério da Economia indicou que os setores mais beneficiados pelas medidas protecionistas foram o têxtil, móveis, e bens de capital.

A ofensiva protecionista do governo Kirchner - que também englobou a imposição de auto-limitações "voluntárias" de exportações brasileiras para a Argentina - afetou a entrada de calçados, eletrodomésticos, móveis, têxteis, brinquedos, baterias, toalhas, denim, copos de vidro, máquinas de lavar roupa, geladeiras, fogões, entre outros.

Segundo a consultoria Abeceb, além da crise econômica, que desacelerou a economia argentina, que entrou em recessão - levando à queda das importações - as restrições do governo da presidente Cristina Kirchner aos produtos Made in Brazil foram um fator de peso para a queda das vendas brasileiras para a Argentina.

A Abeceb indica que o Brasil registrou em 2009 um superávit comercial de US$ 738 milhões com a Argentina. Isso equivale a 83% a menos de saldo favorável do que em 2008. O superávit de 2009 foi o menor com o vizinho ao longo dos últimos sete anos.

O ministério da Economia sustenta que as medidas protecionistas permitiram que alguns setores econômicos argentinos se recuperassem em 2009. Esse foi o caso da produção têxtil, que começou o ano com 62,6% de sua capacidade instalada, e conclui 2009 com 87% de sua capacidade.

Segundo o ministério, o setor de calçados esportivos também foi estimulado graças às medidas protecionistas. As autoridades sustentam que as empresas do setor anunciaram investimentos de US$ 80 milhões, que geraram 4 mil postos de trabalho no ano passado.

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Eu o farei no post seguinte.

1667) Nova geografia comercial

Segundo leio no Estadão desta segunda, 11.01.2010,

Commodity domina venda para os EUA

Matéria da correspondente Raquel Landim confirma que a participação dos manufaturados brasileiros nas exportações aos EUA caiu de 67% para 47% no Governo Lula, ou seja, uma queda de 20 pontos percentuais.
A mudança na estrutura das exportações corresponde, em parte, ao impacto da crise nas importações dos EUA: em lugar de aviões, celulose, em lugar de carros, café. Os especialistas atribuem parte dessa queda ao câmbio, que de fato afetou a competitividade dos produtos manufaturados brasileiros, mas se eles não fossem agravados por uma enorme carga fiscal, esse fator poderia ser ao menos em parte compensado.
Segundo a mesma jornalista, desde 2001, quando ingressou na OMC, a China duplicou sua presença nos EUA: de 8,6% das importações americanas, a China tem hoje 18,8%, dez pontos a mais, ao passo que o Brasil meramente manteve sua presença (de 1,2% em 2001, para 1,38% em 2009, mas com a mudança estrutural assinalada acima).
Transcrevo parte da matéria:

"Conforme dados fornecidos pelo Itamaraty, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva liderou 64 missões empresariais desde 2003 até julho de 2009: 18 para a América do Sul e Central, 17 para a Europa, 14 para a África e 10 para a Ásia - mas nenhuma para os Estados Unidos".

Deve ser a nova geografia comercial...

1666) Uma loucura gentil

Sobre meus métodos de trabalho
Paulo Roberto de Almeida

Um leitor de minhas mal traçadas linhas no meu blog, me escreve diretamente, com toda a sua vocação de empresário, para perguntar se eu tinha um método para “administrar o meu tempo”, ou seja, como eu fazia para ler tanto e escrever tanto. Suponho que eles esteja em busca do Santo Graal, o método infalível para ler muito, escrever mais ainda, e ainda assim viver perfeitamente feliz, com mulher, filhos, trabalho, lazer, gato, cachorro, férias, etc...
Bem, fui obrigado a dizer para ele, confessar, na verdade, que eu não dispunha de método algum, pelo menos não de algum que pudesse ser apresentado de forma convenientemente racional, à la Peter Drucker, organizado e servindo a propósitos ordenados e dispostos logicamente em alguma linha do tempo diário. Não, isso nunca fui capaz de ter. Ou talvez tenha um, mas não sei se exemplar, mas que venho seguindo ao longo dos anos e que talvez ainda mereça algum desenvolvimento escrito e maior “elaboração intelectual”.
Vamos ser claros: eu sou um perfeito anarquista, e não posso dizer que tenho algum método recomendável, pelo menos não para as pessoas “normais”. Vamos ver se ele serve: confesso que sou um leitor compulsivo, e passo o tempo todo lendo, escrevendo, anotando livros, revistas, jornais, fazendo arquivo eletrônico de tudo o que acho de interessante na internet (notícias, estudos, relatórios) e algumas outras coisas mais. Claro, durmo pouco, muito pouco, pois estou o tempo todo escrevendo, sob encomenda, mas faço isso por meu próprio prazer. Não ganho nada, ou quase nada com o que escrevo, mas apenas escrevo o que eu quero, não o que os outros querem. Só aceito “encomendas” que me interessem, não o que interessa a outros.
Se eu pudesse descrever o meu método seria este: nunca saia de casa sem algo na mão ou no bolso: livro, revista, jornal, bula de remédio (ok, brincadeira...), para ler em qualquer ocasião, a qualquer momento, em qualquer lugar possível (às vezes até dirigindo o carro, ou na parada do semáforo, mas não recomendo). Portanto, nunca saia de casa sem algo para ler; mas, em casa também: espalhe livros por toda a parte: na sala, óbvio, no escritório (eles já ocuparam todas as estantes e começam a se esparramar pelo chão), na varanda, na cozinha, wherever... Para onde você estender a mão, tenha certeza de que ali haverá um livro ou revista, esperando para ser terminado, liquidado, acabado, por vezes no sentido literal...
Depois: nunca saia de casa sem um caderninho de anotações, ou mais de um: eu sempre tenho dois comigo, o tempo todo, um pequeno, no bolso da camisa, e um médio, que vai no bolso do paletó (e claro, pelo menos uma caneta; mas eu costumo levar duas ou três). Tenho dezenas de cadernos, usados e os intactos, esperando sua cota de tinta. Considero ideais para esse tipo de trabalho rápido os Moleskine, pequenos cadernos de notas (ou de desenho) que são famosos no mundo inteiro. Pois bem, anoto tudo o que vejo, leio, falam, etc.; tudo o que me vem à cabeça, vai primeiro para o caderninho, antes de ser repassado ao computador, e acabar em um blog ou revista. Essas anotações me servem, portanto, para fazer meus trabalhos escritos, mas não apenas isso, eles servem para guardar “coisas”, por vezes um simples telefone, endereço, uma programação de viagem.
Claro, não preciso dizer que anoto livros em livraria, e em bibliotecas também (elas são feitas para isso); li muita coisa em livraria, pois não poderia comprar tudo, tanto para poupar dinheiro (a despeito de gastar muito com livros e revistas), como por falta de espaço, o eterno problema dos book lovers terminais, como é o meu caso. Já comprei um escritório apenas para acomodar livros, mas vou precisar de outro, ou de um maior, talvez, quando eu for rico (deveria ter uma loteria apenas para leitores compulsivos, que assim ajudariam o governo a ficar mais rico às nossas custas)
Como fazer para me manter atualizado?: assino revistas, jornais, recebo dezenas de boletins diários no computador (New York Times, Le Monde, Washington Post, The Economist, tudo enfim...); eu não busco informações, ela me chega em doses maciças, impossíveis de processar, daí essas limpezas periódicas na caixa de entrada, deletando todos os boletins atrasados e não lidos. Enfim, um dia a gente espera ter tempo de fazê-lo, mas o fato é que esse dia nunca chega, e a informação vai se acumulando em camadas geológicas, desde o pré-Cambriano até o Pleistoceno.
Ok, uma vez lida e processada a informação que me interessa, sento no computador e escrevo, até dormir em cima do teclado (ou quase), mas isso a partir de 23hs, quando a noite ainda é uma criança. Quando estou na sala acompanhando minha mulher, que também fica lendo ou assistindo um filme interessante na TV, levo o meu laptop e continuo trabalhando, um olho em cada tela (não acreditem...). Sim, devo dizer que minha mulher também esta o tempo todo lendo e isso é essencial para a boa sanidade mental e familiar. Creio que Carmen Lícia lê muito mais do que eu, apenas não tem essa compulsão pela escrita que eu mantenho, a despeito de escrever de forma prolixa, fazendo construções por vezes longas demais para leitores rápidos.
Não tenho, portanto, nenhum ordenamento racional em minha loucura gentil, apenas um compulsão “normal” (para os meus padrões) para a leitura e a escrita. Uma vez terminado o trabalho, registro o número (do contrário me perderia), o local e a data e uma breve descrição desse trabalho nas minhas listas anuais de originais, havendo uma lista paralela apenas para os publicados (de vez em quando esqueço um, ou me perco, ou não me avisam, whatever...). Para isso é preciso um mínimo de organização, que são as pastinhas onde vou acumulando tudo o que está acabado, juntado o resto numa grande pasta de Working, subdivida em pastas temáticas. Sim, tenho muito mais working files no computador (trabalhos que pretendo terminar um dia), do que trabalhos terminados.
Eis, portanto, o meu método ou métodos, que não recomendo a ninguém, mas que me serve perfeitamente. Deve ser maluco viver assim, mas ainda não fui diagnosticado como insano; virá, um dia, talvez...

PS.: Acho que assustei meu correspondente, em todo caso, ele ainda não me respondeu...

Brasília, 11 de janeiro de 2010.

1665) Depoimento: Ginasio Vocacional Oswaldo Aranha, SP

What a difference a school makes...
O traço todo de minha vida no Vocacional Oswaldo Aranha

Paulo Roberto de Almeida
Aluno da primeira turma (1962-1965) do Ginásio Estadual Vocacional Oswaldo Aranha (Avenida Portugal, Brooklin, São Paulo, SP)

“O traço todo da vida é para muitos um desenho da criança esquecido pelo homem, mas ao qual ele terá sempre que se cingir sem o saber...”, escreveu Joaquim Nabuco no começo de Minha Formação (1900), quando ele se refere ao período transcorrido no Engenho Massangana, no qual passou os primeiros oito anos de sua vida e onde recolheu suas primeiras impressões sobre o mundo. Nabuco continua dizendo que esses anos teriam sido decisivos na constituição de sua personalidade: “Pela minha parte acredito não ter nunca transposto o limite das minhas quatro ou cinco primeiras impressões...”
De minha parte, o traço todo de minha vida foi indelevelmente marcado pelos quatro anos que passei, adolescente, no Ginásio Estadual Vocacional Oswaldo Aranha, inaugurado em 1962 justamente pela minha turma, pioneiríssima de uma experiência inédita no Brasil, de educação integral e radicalmente diversa de tudo o que se fazia até então em matéria de formação de jovens. A “minha formação”, se eu tivesse de escrever um livro equivalente de memórias, teria de reservar um largo espaço ao Vocacional, tão importante ele foi para a formação de meu caráter, para a definição de minhas orientações intelectuais, das minhas quatro ou cinco primeiras impressões do Brasil e do mundo. Ao “Ginásio” devo o que sou, hoje, e o reconheço plenamente, com toda a saudade que uma memória fugidia pode trazer para a mente do homem maduro, que sou hoje, esses anos de juventude passados num ambiente verdadeiramente excepcional para o jovem que eu era no começo dos anos 1960.

Leia o texto completo neste link.

domingo, 10 de janeiro de 2010

1664) Depois das reticências, as entrelinhas, e as exclamações...

Um leitor anônimo, esperando me contrariar, enviou um comentário depreciativo sobre minha mania de escrever com reticências.
Não sou exatamente um repentista, mas se fosse teria respondido do mesmo jeito: retaliei com um mini-tratado das reticências, que ele provoca dizendo que não leu (e eu tenho certeza de que não apenas leu, como ficou com raiva, embora com um sorriso nos lábios, ao ler certas passagens alusivas a situações intensamente relacionais que estou certo de que ele não apenas vivenciou, como suspirou com reticências virtuais).
Continuo a provocá-lo, com este novo...

Mini-tratado das entrelinhas

Tratados, em geral, costumam ser solenes, como convém aos grandes textos declaratórios, escritos em tom impessoal e devendo refletir alguma realidade objetiva, uma relação entre Estados...

Mini-tratados, por suposição, deveriam ser versões reduzidas de seus irmãos maiores...

Ler a suite deste mini-tratado neste link.

...e também respondo com mais este...

Mini-tratado das interrogações

Interrogantes são inerentes à espécie humana, e talvez mesmo a certos primatas. Determinadas escolhas, ou caminhos, nos levam a uma situação de melhor conforto material ou de maior segurança pessoal, sem que, no entanto, saibamos, ou tenhamos certeza, ao início, que aquela opção selecionada é, de fato, a de melhor retorno ou benefício possível. Dúvidas, questionamentos, angústias, em face das possibilidades abertas em nossa existência, são inevitáveis em todas as etapas e circunstâncias da vida. Daí a interrogação, normalmente simbolizada pelo sinal sinuoso que colocamos ao final de certas frases: ?

Ler a suite deste mini-tratado neste link.

Fico devendo, neste momento, um conto sobre o ponto e vígula e uma poesia sobre os dois pontos.
Sugestões sempre são bem vindas...
Podem mandar para cá, com ou sem reticências...

Paulo Roberto de Almeida (10.01.2010)

1663) Books, books, books...


(com reticências, para indicar continuidade, aliás interminável...)



Books, books, books...
Paulo Roberto de Almeida

Desde que aprendi a ler, na "tardia" idade de sete anos, os livros têm me acompanhado e feito parte de uma vida em grande medida ocupada em sua atenta leitura, em alguma forma contemplação ou em tentativas repetidas (e não de todo fracassadas) de redação.
A despeito de ter começado tarde, creio que desde então recuperei um pouco do atraso acumulado. Tenho, assim, me empenhado em ler tudo de bom que a humanidade pôde oferecer até aqui. Em todo caso, acho que ainda estou longe de ter completado a leitura de, pelo menos, 0,0000000000001% de tudo o que foi produzido de interessante desde tempos imemoriais, ou mesmo desde que Gutenberg inventou a imprensa.
Bem pensado, não creio que deva desistir antes de chegar à meta de ler, pelo menos, algo como 0,0000000000002% dos livros interessantes disponíveis.
É verdade que, hoje, essa tarefa é tremendamente facilitada pelo fato de que praticamente 99,99% de tudo o que a humanidade já produziu de interessante está fácil e livremente disponível na internet, algo que nunca existiu em minha infância e adolescência.
Os jovens (e também os mais velhos) de hoje em dia são portanto duplamente felizes: têm a possibilidade de aceder ao conhecimento humano mediante um simples click de mouse.
Este meu blog pode (ou pelo menos tem a pretensão de) ajudar alguns desses jovens (e alguns outros mais velhos também) a conhecer alguns dos livros que no meu entender contribuem para a elevação material e moral da humanidade.

1662) Reticencias, entrelinhas, exclamacoes, ponto e virgula...

A propósito de meu post 1659 e do debate, entrecortado, sobre as entrelinhas, uma leitora de meus posts e outros escritos, escreveu o seguinte:

As reticências são amabilidades do escritor para com seus leitores para instigar as idéias e emoções destes.
Regina Caldas (10.01.2010)

Não apenas concordei, entusiasticamente, como pedi licença para transcrever, posto que isso exprime, com perfeita acuidade, o sentido que pretendo imprimir a frases minhas, que, com enorme frequencia, terminam por reticências...
Justamente, pretendo deixar ao leitor a faculdade de estender o meu e o seu pensamento, divagar sobre o que poderia vir depois, sem impor-lhe o fechamento (brutal?) de um ponto final.

Voltarei ao tema, tão pronto reflita sobre minhas novas reticências...

Paulo Roberto de Almeida (10.01.2010)

1661) Relacoes Brasil-EUA: melhorando cada vez mais...

As relações melhoraram tanto, no atual governo, que nem temos mais um relatório de barreiras protecionistas americanas aos produtos brasileiros. Parece que desapareceram, nao as barreiras, mas os relatórios.
É isso que deixa entender este editorial de um jornal reacionário...

Silêncio sobre as barreiras
Editorial O Estado de S.Paulo, Sábado, 09 de Janeiro de 2010

Mais uma vez o governo deixou de publicar o relatório sobre barreiras comerciais americanas, um importante instrumento de informação para exportadores, políticos e demais interessados em acompanhar as condições do comércio Brasil-Estados Unidos. Sem explicação, a divulgação foi interrompida em 2008, embora o governo americano tenha continuado a praticar sua habitual política protecionista. Segundo a embaixada brasileira em Washington, o relatório de 2009 ainda não está pronto e, quando for concluído, o Itamaraty decidirá sobre sua divulgação. Ou, naturalmente, sobre a não divulgação, como no ano anterior. A nova orientação adotada pelos diplomatas de Brasília, em relação aos entraves comerciais impostos por Washington, é incompreensível. Deve ser parte de alguma das estranhas concepções estratégicas desenvolvidas no Palácio do Planalto e no Itamaraty a partir de 2003, quando a diplomacia nacional abandonou seu profissionalismo para se sujeitar à mais amadorística e fantasiosa orientação partidária.

O relatório sobre as barreiras comerciais americanas foi publicado regularmente entre 1993 e 2007, com exceção de um único ano, 2004. A grande mudança de orientação ocorreu em 2007, quando a embaixada em Washington foi finalmente enquadrada, de forma completa, nos novos padrões do Itamaraty. O resultado foi muito estranho. O texto de apresentação, tradicionalmente crítico em relação ao protecionismo americano, foi atenuado e, mais que isso, ganhou tonalidades quase positivas. Tudo isso foi recebido com surpresa pelos leitores habituais do relatório, até porque o governo petista não havia deixado de contestar, legalmente, a política de comércio dos Estados Unidos, marcada por forte protecionismo em algumas áreas e muitos subsídios à agricultura.

A única explicação parecia estar na boa relação pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com seu colega George W. Bush. Teriam os estrategistas do Planalto e do Itamaraty enxergado nessa relação a base de alguma nova estratégia internacional de projeção do Brasil - ou de seu presidente?

O mistério nunca foi desfeito. Nunca se explicou por que a embaixada brasileira deveria dar uma tonalidade rósea à velha e sempre reiterada tendência protecionista de Washington - protecionista pelo menos em relação aos produtos de maior interesse para o comércio brasileiro. O mistério apenas ficou mais denso com a decisão de suspender a divulgação do relatório nos dois anos seguintes.

Documentos desse tipo são no entanto normais, e muito úteis, na relação diplomática entre grandes parceiros comerciais. Como lembra a correspondente do Estado em Washington, Patrícia Campos Mello, os europeus dispõem do Market Access Database, um canal de divulgação de barreiras de qualquer país contra produtos da União Europeia. Dispõem também de uma base de dados especial para o registro de barreiras impostas pelo governo dos Estados Unidos. Os americanos têm o National Trade Estimate, com informações sobre barreiras a produtos, entraves a investimentos e ameaças à propriedade intelectual.

Num aspecto, pelo menos, o governo petista não se desviou da orientação de seus antecessores. Manteve a disposição de contestar legalmente o protecionismo americano e os subsídios pagos pelo governo de Washington. Mas inovou, de forma errada, em dois pontos. Em primeiro lugar, quando desprezou as possibilidades de um acordo bem negociado para a formação da Alca. Hoje, as condições para fazer um acordo de livre comércio com os Estados Unidos são mais complexas, porque o presidente Barack Obama tem fortes compromissos com grupos sindicais e empresariais protecionistas.

Errou, em segundo lugar, quando resolveu suspender, em nome de alguma obscura estratégia, a divulgação anual do relatório sobre barreiras. Deixou-se, com isso, de prestar um serviço importante às empresas brasileiras e a todos os interessados no comércio bilateral.

A discussão franca sobre as condições de comércio é sempre útil e nunca prejudicou a boa relação entre os dois países. Prejudiciais têm sido outras escolhas, igualmente injustificáveis, como a recusa de uma solução conciliadora para a crise em Honduras, a aliança com o regime autoritário de Teerã e a desastrada intromissão nos complexos problemas do Oriente Médio.

1660) Homenagem a Lincoln Gordon, Embaixador americano no Brasil (1964-1966)

A propósito da morte, em dezembro último, do Embaixador Lincoln Gordon, meu amigo recifense Clovis Cabral, que tinha conhecido o embaixador quando da formatura de sua turma no Recife, em 1964, escreveu a seguinte homenagem, que transcrevo abaixo.
Ainda estou devendo a minha homenagem, o que prometo fazer assim que me libertar de outros encargos "escriturais".
Paulo Roberto de Almeida

ADEUS, EMBAIXADOR LINCOLN GORDON
Clovis Cabral (Janeiro de 2010)

Com o falecimento do ex-embaixador Lincoln Gordon, em 19 de dezembro de 2009, nos Estados Unidos, aos 96 anos de idade, perde o país, um dos melhores diplomatas dos últimos tempos. Lincoln Gordon foi embaixador dos Estados Unidos no Brasil de 1961 a 1966. O Programa Aliança Para o Progresso, foi trazido para o Nordeste pelo Embaixador, que foi responsável por grandes projetos na região, fazendo intercâmbios com técnicos brasileiros e americanos. O Dr. Lincoln, era um profundo conhecedor dos problemas brasileiros e esteve à frente da Embaixada do seu país na época do golpe militar no Brasil, quando foi retirado do poder, o Presidente João Goulart. Para se ter uma idéia da personalidade e tirar algumas dúvidas a respeito de sua participação no Movimento Militar e de sua grande amizade pelo Brasil , é necessária a leitura do seu livro de economia: Brasil Segunda Chance: A Caminho do Primeiro Mundo, escrito em 2001, lançado em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Recife. O apresentador do livro foi o sociólogo, professor do Centro Universitário de Brasília, Ministro-Conselheiro da Embaixada Brasileira nos Estados Unidos, o Dr. Paulo Roberto de Almeida, que analisa o trabalho, sem nenhuma paixão política, seguindo uma linha de profundo equilíbrio científico da história.

Até hoje, os saudosistas das esquerdas acusam Lincoln Gordon, chamando-o de embaixador do golpe militar, quando na verdade, o movimento foi cem por cento brasileiro, em defesa da democracia. Como não poderia deixar de ser, os Estados Unidos com os seus interesses no Brasil, com milhões de dólares de investimentos, teria que tomar uma posição de apoio à democracia e o fez claramente, impedindo que a Rússia entrasse no páreo, a favor dos comunistas das esquerdas brasileiras pensando que o poder estava em suas mãos...

Certa vez, questionei Lincoln Gordon a respeito da possível invasão das tropas americanas no Brasil e ele me respondeu que tinha notícias verdadeiras da aproximação dos russos e, como o quadro se desenhava, a alternativa era para quem chegasse primeiro, cuja decisão de acautelamento cabia a ele, como embaixador dos EUA. Entretanto, não houve nenhuma invasão, mas, os russos ficaram na espreita dos acontecimentos. Assim, quem quiser saber algo a respeito de Lincoln Gordon e de sua amizade ao Brasil, procure ler A Segunda Chance do Brasil: A Caminho do Primeiro Mundo.

A nossa amizade com o Lincoln Gordon, foi quando a Turma de Economia da Universidade Federal de Pernambuco, em 1964, o recebeu, representando o Presidente Kennedy. O nosso grupo pressionado pelos comunistas, foi obrigado a fazer a divisão em dois, mostrando claramente o jogo ideológico – Democratas versus Comunistas, com muitas desavenças. Desta forma, constituímos a nossa turma e convidamos para Paraninfo, o Presidente John Kennedy e o Patrono Juscelino Kubitschek de Oliveira, ex-Presidente do Brasil. O convite foi aceito, mas, infelizmente o Presidente Kennedy foi assassinado. Como já havia a confirmação dos EUA, com o desaparecimento do Presidente, foi indicado para representá-lo, o Embaixador Lincoln Gordon, bem como Juscelino, que estiveram na formatura, realizada em 1964. A cerimônia foi realizada no Clube Internacional do Recife.

Encerrado este capítulo da formatura, com a orientação do Embaixador Gordon, viajou para os Estados Unidos um Grupo de oito formandos para uma visita ao país, onde foram recebidos pelas autoridades americanas, com uma estada oficial, para uma programação de trinta e seis dias, conhecendo as instituições em todo o país, incluindo San Juan de Puerto Rico, Estado Livre Associado.

Em 2001, Lincoln, lançou o seu livro: Brazil’s Second Chance: En Route Toward The First World, nos Estados Unidos . Então, sugeri para que ele o fizesse em Português e depois de marchas e contramarchas, o Embaixador resolveu fazê-lo e lançar no Brasil. Com a ajuda do então Ministro-Conselheiro da Embaixada Brasileira nos Estados Unidos, o Dr. Paulo Roberto de Almeida. Em 2002, o livro foi lançado no Brasil, primeiro em São Paulo, depois no Rio, Brasília e Recife. No salão nobre do SENAC-Recife, foi feito o lançamento, onde Lincoln Gordon foi apresentado por Clovis Cabral, com a coordenação do Prof. Dr. Marcos A. G. de Oliveira, PhD, do NEA – Núcleo de Estudos Americanos, seguindo-se um debate sobre o livro.
Registramos o comparecimento de muitas autoridades, destacando a presença do Dr. Aluisio Alves, ex-Governador do Estado do Rio Grande do Norte, vindo especialmente de Natal, para abraçar o seu amigo, parceiro da Aliança para o Progresso. Dando continuidade à visita ao Recife, o Embaixador, recebeu da Associação Comercial de Pernambuco -ACP, um certificado de reconhecimento por serviços prestados, entregue pelo Presidente da ACP, Dr. Dagoberto Lobo, durante um almoço no Cabanga Iate Clube, presentes os familiares da Turma Kennedy. Visitando o Instituto Brennand, o embaixador foi homenageado pelo Sr. Ricardo Brennand. Encerrando sua estada no Recife, juntamente com o Economista Pedro Paulo da Silva conhecendo a cidade de Olinda. A parte social, foi organizada pelo economista Rodolfo Mario Maranhão Moreira, pertencente à Turma Kennedy. Devemos ressaltar o trabalho desempenhado pelo Dr. Paulo Roberto de Almeida, comandando de Washington, toda a programação do Dr. Lincoln Gordon para o lançamento do seu livro no Brasil. Não tivemos o prazer da presença do Paulo Roberto aqui no Recife, mas o seu trabalho organizacional foi de suma importância para a efetivação do acontecimento de gratidão ao amigo Lincoln Gordon.

LANÇAMENTO DO LIVRO – SENAC/RECIFE – 22 de novembro de 2002
Apresentação: Clovis Cabral - Coordenador dos Debates: Marcos Guedes

A Turma Presidente Kennedy de Economistas de 1963, a Associação Comercial de Pernambuco, o Senac de Pernambuco, a Gráfica do Senac de São Paulo e o Núcleo de Estudos Americanos-UFPE, têm a honra e a satisfação de apresentar o ilustre diplomata americano, Economista, Pesquisador Convidado da Brookings Instituiton de Washington DC., Dr. Lincoln Gordon, que lançou na semana passada em São Paulo, a edição brasileira do seu livro sobre o Brasil: A SEGUNDA CHANCE DO BRASIL, A caminho do Primeiro Mundo.

Sem esquecer a sua última estada em Recife, há 38 anos, quando representou o Pres. Kennedy na colação de grau da Turma Kennedy de Economistas de 1963, da UFPE e, que agora volta para abraçar os seus amigos, trazendo as melhores mensagens para um futuro promissor do Brasil, país que tanto tem respeito e admiração.

Devido ao forte interesse ao Brasil pelos eventos do começo dos anos 60, definida a retirada do Presidente João Goulart, por um golpe de estado militar (1964), Dr. Gordon agregou um capítulo à edição brasileira do seu livro, detalhando a evolução das políticas dos EUA nesses anos sobre a base material recentemente desativado (relatórios da Embaixada e outros documentos oficiais e suas lembranças pessoais). O original em inglês desse capítulo adicional está sendo publicado como opúsculo (booklet) pela Brookings Institution sob o título, Brazil, 1961-64 The United States and the Goulart Regime.

O Embaixador Lincoln Gordon, tem uma longa carreira acadêmica e diplomata, a primeira iniciada na Universidade Harvard (1936-61), onde nos últimos seis anos atuou como professor de Relações Econômicas Internacionais, cargo desincumbido na Escola Superior de Administração Pública e no Centro de Negócios Internacionais. Entre outros postos acadêmicos, destacam-se o de Presidente da Universidade Johns Hopkins (1967-1971), membro do Centro Internacional Woodrow Wilson, para especialistas do Instituto Smithsonian (1972-1974) e Sênior Fellow da Fundação de Recursos para o futuro (1975-1980.

A atuação do professor Lincoln Gordon no serviço público americano, teve inicio na Junta de Planejamento de Recursos Nacionais (1939-1949), na Junta de Produção de Guerra(1942-1945), na Delegação dos Estados Unidos, na Comissão de Energia Atômica da ONU. Entre 1947 e 1950, participou da Administração de Cooperação Econômica do Departamento de Estado relacionada com o Plano Marshall e a OTAN, passando a servir na Casa Branca, como assessor econômico de W. Averell Harriman, como seu suplente na Comissão do Conselho Temporário da OTAN. De 1952 a 1955, o diplomata Gordon foi diretor da Missão do Plano Marshall no Reino Unido e Ministro para assuntos Econômicos da Embaixada Americana em Londres. Em 1961, atuou como consultor do Departamento de Estado sobre o processo do Presidente John Kennedy, tendo então sido nomeado embaixador dos Estados Unidos no Brasil, cargo que deixou no começo de 1966, para assumir em Washington, DC, o de Secretário de Estado Assistente para Assuntos Inter-Americanos.

Em sua longa carreira literária, o professor Gordon é autor e co-autor de inúmeros livros, entre os quais se incluem: The Public Corporation in Great Britain (1938); Government and the American Economy (1941, 1948, 1959); United States Manufacturing Investment in Brazil (1962); A New Deal for Latin America (1963); From Marshall Plan to Global Independence (1979); Growth Policies and the International Order (1979); Energy Strategies for Developing Nations (1981); Eroding Empire: Western Relations with Eastern Europe (1987) e o mais recente Brazil’s Second Chance: En route toward the First World, publicado em maio do ano passado pela Brookings Institution Press. cuja tradução portuguesa acaba de ser lançada pela Editora Senac em São Paulo e hoje no Recife.

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A turma Pres. Kennedy, da UFPE – do Recife – Brasil, lamenta pelo falecimento do seu amigo – Lincoln Gordon, e transmite aos seus familiares, as suas condolências.-*Clovis Cabral de Sousa, Rodolfo Mario Maranhão Moreira, Ricardo Essinger, José Mateus Filho, Orlando Coelho, Nericinor Ferreira, Wilson Gomes(+) e Ivancir Castro(+)

* Clovis Cabral – Janeiro 2010

1659) Mini-tratado das reticencias

Um texto retaliatório, se me permitem a expressão, se é que existe retaliação apenas pela via das palavras (mas não conheço outra forma, sinto muito).
Digo isto a propósito de um gaiato, evidentemente anônimo (todo mundo que tem vergonha, medo ou qualquer outra incapacidade estrutural escolhe ser anônimo, já reparei), escreveu isto, a propósito do meu post anterior, sobre a Arte da Escrita (e enfatizei: "bem, nem tanto...), posto que ele se enraiveceu pelo meu uso de reticências.

Anônimo disse...
Isso vindo de um cara que não consegue escrever um texto sem usar reticências.
Amigo, já viu alguém que escreve bem ficar usando reticências?
Sábado, Janeiro 09, 2010 8:24:00 PM


Minha resposta, retaliatória, e tenho certeza de que ele vai ler até o fim, é este...

Mini-tratado das reticências...
(em defesa de uma inutilidade necessária…)

Paulo Roberto de Almeida

Pouca gente dotada de uma certa familiaridade com a palavra escrita consegue atribuir real importância às reticências, inclusive este cidadão que aqui escreve. Quero falar das reticências stricto sensu, isto é, os famosos três pontinhos ao final de alguma frase ou expressão da linguagem diária (elas parecem ser menos usadas nos textos ditos “sérios”, nos quais a necessária precisão “científica” deixa pouco espaço para as dúvidas ou indecisões que são (e estão) inevitavelmente associados aos três pontinhos). No mais das vezes, elas passam despercebidas, quando não são solenemente ignoradas e deixadas num espaço menor das figuras de linguagem. Os cientistas, francamente, parecem considerá-las uma total inutilidade no processo de elaboração do seu discurso “realista”.
No entanto, as reticências são fundamentais, sobretudo naqueles casos – agora lato sensu – de duplo sentido, nos muitos subentendidos das conversas vagas, nas promessas indefinidas, nas situações pouco claras, nas esperanças falsamente criadas, nas aberturas ao contraditório, nos convites a “algo mais”, enfim, em todas as circunstâncias nas quais a precisão e o cuidado com o verdadeiro não figuram entre as prioridades do autor do discurso ou de seu eventual interlocutor. Não é apenas no teatro ou na literatura que elas aparecem, pois eu, que sou dado a escritos sociológicos, encontro amplo espaço para reticências nas minhas elocubrações pretensamente acadêmicas. Nem preciso lembrar seu amplo uso nas estatísticas oficiais, com tabelas cheias de três pontinhos para dados inexistentes ou incompletos (sobretudo naquelas áreas chamadas, apropriadamente, de “terras incógnitas”, geralmente referidas na expressão em latim).
Minha intenção é fazer aqui uma defesa circunspecta das reticências (daí o título de “mini-tratado”), além de ressaltar-lhes a importância discursiva, como a própria essência do discurso humano. Eu, pessoalmente, gosto de reticências, sobretudo pela liberdade que elas permitem, mas entendo perfeitamente os que as abominam e querem vê-las extirpadas da face da terra (ou pelo menos da superfície do papel, atualmente, mais bem da tela do computador…).

Voilà, acabo de usar reticências pela primeira vez depois de muitas frases e dois parágrafos inteiros sem necessidade de empregá-las. Isto é uma prova, justamente, de que as reticências são úteis e necessárias e por mais que queiramos evitá-las. Pois eu falava daqueles que detestam reticências e são a favor das situações totalmente definidas, do correto discurso tipo “pão, pão, queijo, queijo”, mas que, em algum momento, também tropeçam com alguma reticência que se imiscuiu no discurso aparentemente correto e totalmente claro.
Admito, preliminarmente, que as reticências parecem incompatíveis com a lógica formal, aquela que deriva uma consequência necessária de duas afirmações anteriores, tipo “todo homem é mortal, Sócrates é um homem, logo… etc., etc.”. Mas, mesmo aqui, como acaba de constatar o preclaro leitor, fui levado a usar reticências, pois eu não precisava terminar a frase, por uma dedução lógica do imediatamente precedente.

Eu poderia, nesta minha defesa pouco reticente das reticências, empregar uma derivação do famoso moto cartesiano: “penso, logo sou reticente…”, mas não pretendo abusar do meu direito a ser reticente, nem da paciência do leitor. Prefiro ater-me a um discurso coerente, ainda que algo impressionista, sobre a importância das reticências na atividade argumentativa e até na organização da vida diária. Serei breve, como convém a um “mini-tratado”, marcado por algumas reticências terminológicas, vários duplos-sentidos e outras tantas dúvidas conceituais.

Admito, antes de mais nada, que as reticências passam quase despercebidas nos manuais de estilo e mesmo nos livros de gramática. Meu dicionário Aurélio, por exemplo, na introdução relativa às instruções da Academia Brasileira de Letras (de 1943) para a organização do vocabulário ortográfico da língua portuguesa, passa solenemente por cima, quando não à côté, desses simpáticos sinais, objeto de meu tratado, ignorando-os por completo. Com efeito, na parte relativa aos sinais de pontuação, a douta Academia, zelosa guardiã da boa expressão e da correção de linguagem, registra apenas e tão somente as aspas, os parênteses, o travessão e o ponto final, assim, não mais do que isso. Mas o MEC foi vigilante, e na portaria nº 36, de 28 de janeiro de 1959, registrou na Nomenclatura Gramatical Brasileira os seguintes sinais de pontuação: aspas, asterisco, colchetes, dois-pontos, parágrafo, parênteses, ponto-de-exclamação, ponto-de-interrogação, ponto-e-vírgula, ponto-final, reticências, travessão, vírgula.

Voilà, aí estão nossas simpáticas reticências, cuja definição “científica”, constante do mesmo dicionário Aurélio, apresenta-se como a seguir: “[Pl. de reticência.] S. f. pl. Sinal de pontuação: série de três ou mais pontos que, num texto, indicam interrupção do pensamento (por ficar, em regra, facilmente subentendido o que não foi dito), ou omissão intencional de coisa que se devia ou podia dizer, mas apenas se sugere, ou que, em certos casos, indica insinuação, segunda intenção, emoção. [Sin.: pontos de reticência, pontos de suspensão e (fam.) pontinhos. Cf. reticencias, do v. reticenciar.]” (p. 1229, da 15ª impressão da 1ª edição da Nova Fronteira, sem data).
Pois eu acabo de ficar sabendo da existência do verbo reticenciar, que passarei a utilizar agora, em toda a extensão do que me for permitido pelos bons costumes e reais necessidades de expressão. Trata-se de um verbo transitivo direto, que tem o significado, justamente, de colocar reticências em algo ou exprimir de modo reticente, incompleto, como em: “A testemunha reticenciou os fatos”. Mas, não pretendo reticenciar meu mini-tratado sobre as reticências.

Dito isto, retenho da definição aureliana sobretudo a última parte, pois que a interrupção de pensamento é tão evidente que nem precisaria ser explicada. A última parte refere-se à omissão intencional, que pode querer dizer insinuação, segunda intenção ou emoção. Aqui estão a essência, o caráter fundamental, o âmago e a alma profunda, se ouso dizer, das reticências, que parecem ter sido trazidas ao mundo para acomodar todas as situações ambíguas e os propósitos não declarados.
Aliás, o singular da palavra em questão já trazia essas “más intenções” inscritas em sua definição original. O substantivo vem do latim reticentia, que quer dizer “silêncio obstinado”. O enunciado remete a uma “omissão intencional de uma coisa que se devia ou podia dizer”, o que nos confirma o caráter de subterfúgio do conceito em questão. E o que é subterfúgio?: segundo o mesmo dicionário, trata-se de “ardil empregado para se esquivar a dificuldades; pretexto, evasiva”. Pois todos nós, na vida diária, nas atividades literárias, no jogo da política (sobretudo) e nas coisas do amor (aqui parece fundamental) necessitamos, em algum momento, de utilizarmo-nos de algum subterfúgio. Para evitar confrontar o interlocutor com alguma mensagem muito direta, fazemos apelo a essas figuras de linguagem pouco claras e a esses conceitos ambíguos que brotam, justamente, da complexidade natural do ser humano e do mundo que o cerca (estou sendo muito antropocêntrico, talvez, mas é que os animais, por exemplo, não precisam de reticências, pois eles costumam ir direto ao assunto, sobretudo os predadores carnívoros).

O recurso aos três pontinhos é por vezes absolutamente necessário para evitar algum conflito maior, e parece estranho que as reticências sejam tão pouco usadas no vacabulário diplomático, na letra dos tratados, nos discursos oficiais (justamente os que mais necessitariam de alguma “ambiguidade construtiva”). Não sei se existe espaço para o uso de reticências no curso de “linguagem diplomática” do Itamaraty, mas deveria haver, para acomodar todas essas situações difíceis nas negociações internacionais: parece evidente que as conferências terminariam mais cedo se todos pudessem ir para casa sobraçando o seu exemplar de algum tratado, cheio de pontos suspensivos…
O único problema (aparente) das reticências é que elas não aparecem de modo claro na linguagem oral, só naqueles “balõezinhos” acima da cabeça das pessoas nos desenhos de revistas ou diretamente nos textos escritos. Na linguagem coloquial elas são imperfeitamente traduzidas nas hesitações da expressão, nas frases não acabadas, nas terminações muito lentas, que se arrastam ao longo de um sorriso por vezes embaraçoso. Vamos deixar, justamente, um espaço aberto à criatividade e à imaginação humanas, que não podem ficar só na lógica binária dos programas de computador ou na rigidez das fórmulas matemáticas que pretendem encerrar o mundo numa única expressão: E=mc2.
O mundo não é feito só de cartesianismos, muito menos de fórmulas einsteinianas ou newtonianas totalmente abrangentes, que funcionam no estrito limite dos fenômenos identificados pelas forças conhecidas da natureza. Existem outras forças que ainda não foram devidamente mapeadas pela ciência moderna (ou antiga, ou medieval, ou de todos os tempos), a começar, obviamente, pelo amor. Pois eu pergunto: o que seria do amor sem as reticências? O que seria dos namorados se eles precisassem dizer tudo de forma clara, absolutamente sem ambiguidades, sem essas “sugestões construtivas”, sem essas omissões convenientes, sem os subentendidos de linguagem? Certamente haveria muito mais brigas, e as taxas de separação (e de divórcio) seriam infinitamente superiores…

Tomemos, por exemplo, o caso de Penélope, interminavelmente a fiar e a tecer a sua tela, ela mesma uma permanente reticência, pois que desfeita a cada noite para evitar o confronto indesejado com os pretendentes ao trono de Ulisses. O que mais ela poderia fazer na ausência do seu amado, ele mesmo preso nas reticências dos troianos, que hesitaram um pouco antes de arrastar para dentro da fortaleza o cavalo de madeira que ele tinha sugerido aos gregos? O próprio herói não ficou quase retido nas reticências dos montros marinhos, nos encantos reticentes e nas promessas enganosas das lindas sereias? Se Penélope não fosse reticente, Ulisses ainda teria de enfrentar uma nova odisséia para garantir o seu lugar original no comando da ilha de Ítaca. Poderíamos, assim, dizer que a situação de Ulisses foi salva pelo uso das reticências…
Assim, mesmo concordando em que o discurso “científico” precisa livrar-se de toda e qualquer ambiguidade explicativa, sou franca e resolutamente a favor das reticências e de seu uso da forma mais ampla possível nas circunstâncias cambiantes que são as da vida humana. Reticências nos ajudam, nos confortam, nos salvam de situações embaraçosas. Elas, sobretudo, nos permitem construir relações que podem frutificar de modo amplamente satisfatório mas que só sobreviveriam, em face de adversidades e dos muitos imponderáveis da vida humana, caso a flexibilidade por elas permitida seja efetivamente empregada para estender os limites do entendimento até esses situações limites de acomodação de contrários. A vida é contraditória e cheia de surpresas: não podemos tolher as possibilidades infinitas do nosso itinerário futuro com frases cortantes que encerram apenas as limitações do presente.

As reticências significam, essencialmente, liberdade de escolha. Nisso elas estão inteiramente de acordo com a “economia” do nosso modo de ser, sobretudo nas situações intensamente relacionais. Vivam as reticências…

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 28 de novembro de 2004

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Não gostaria de repetir, segundo o ditado popular, mas vou fazê-lo:
"Conheceu, papudo?"
Fique com minhas reticências, e passe a usá-las...
Não cobrarei copyright por isso...

sábado, 9 de janeiro de 2010

1658) A arte da escrita (bem, nem tanto...)

O texto que segue abaixo foi escrito mais de dois anos atrás, mas permaneceu relativamente obscuro, posto que foi publicado uma única vez no Observatório da Imprensa. Creio que o escrevi depois de tropeçar, não numa pedra, mas em vários blocos graníticos de ignorância redacional manifesta, esculpidos (se ouso dizer) em algumas dissertações ou teses acadêmicas. Creio que voltava de uma banca no Rio de Janeiro: um sacrifício de viagem para um grande desprazer intelectual, não apenas quanto à substância do trabalho, mas igualmente quanto à sua forma, ou seja, a escrita.
Daí escrevi o texto prometendo a mim mesmo nunca mais aceitar participar de uma banca se a redação do trabalho em questão me parecesse deficiente. Uma decisão difícil, pois sempre quem convida é um professor amigo, que foi também o que "orientou" (provavelmente mal) o trabalho em questão.
Enfim, se ainda não revisei na prática a minha política de participação em bancas, pelo menos posso deixar aqui o desabafo...
Paulo Roberto de Almeida (9.01.2010)

Por que é difícil encontrar quem saiba escrever
Paulo Roberto de Almeida
Observatório da Imprensa - 05/06/2007

O texto a seguir, sobre a obscuridade de certos escritos que encontramos nas páginas literárias de jornais e revistas, foi inspirado pela seguinte frase de Stefan Zweig, em correspondência particular, frase que "pesquei" na fabulosa biografia desse autor escrita por Alberto Dines:

"As pessoas que fazem ou falam literatura são totalmente incompreensíveis, parece-me mais um defeito da natureza do que uma virtude, mas talvez a arte tenha sido sempre condicionada por tais deficiências."
[Stefan Zweig, carta a Friderike Maria von Winterniz (ex-Zweig), em 7/12/1940, citado por Alberto Dines, Morte no Paraíso: a tragédia de Stefan Zweig (3ª ed. ampliada; Rio de Janeiro: Rocco, 2004), p. 326.]

Stefan Zweig referia-se, obviamente, aos escritores como ele, romancistas ou literatos em geral, homens de letras, no sentido amplo, cuja prosa lhe parecia pertencer a um universo de referências escondidas, de significados obscuros, cuja compreensão talvez só estivesse ao alcance de outros membros da République des Lettres – que ele evitava freqüentar seja por comodismo ou timidez, seja por medo de entrar em polêmica a respeito de suas próprias convicções literárias ou a propósito do seu estilo de escrita.

Ele queria ser compreendido e amado pelo grande público e por isso buscava a concisão literária, a correção na forma, a perfeição na linguagem, a simplicidade no discurso, para que seu argumento atingisse o maior número possível de leitores. Sem deixar de ser profundo, e de fazer apelo à sua vasta cultura humanista, ele pretendia ser um escritor popular, o que requeria, obviamente, um cuidado especial com a linguagem escrita, de maneira a aproximá-la do cidadão comum, do leitor médio, do público cultivado mas não pretensioso, que refugava os maneirismos e preciosismos de linguagem de muitos dos seus colegas de pluma.

Erros primários [o intertítulo é do Observatório da Imprensa]
De minha parte, entendo que a frase de Zweig aplica-se ainda com maior acuidade e rigor ao trabalho dos filósofos, dos sociólogos, dos cientistas sociais em geral, cujo objeto de análise e de reflexões se volta para os campos mais ou menos subjetivos da organização social, das motivações políticas, das políticas econômicas; em síntese, dos assuntos humanos. Tenho encontrado, em muitos trabalhos de colegas, grandes doses de prolixidade na escrita, um desejo inconfessado de parecer sofisticado pelo rebuscamento inútil da linguagem, pela profusão nos conceitos e pela adjetivação exagerada das análises. Parece que eles acabaram de fazer um curso completo de redação obscura com um desses filósofos franceses adeptos do desconstrucionismo verbal, êmulos de Jacques Derrida e de Jean Baudrillard.

Isso pelo lado bom. Pelo lado ruim, o que mais tenho encontrado, na verdade, é a simples redação deficiente, uma linguagem caótica e rebarbativa, que por sua vez revela um pensamento desorganizado, uma confusão de idéias que passa longe do que se convencionou chamar de brain storming. Pelo lado catastrófico, então, cada vez mais deparo-me com a miséria da escrita, com uma linguagem estropiada por incorreções gramaticais, impropriedades estilísticas, quando não barbaridades ortográficas de tal monta que seriam capazes de fazer fundir um desses corretores automáticos de computador que detectam todos os erros de digitação. Mas, mesmo depois de o perpetrador em questão ter aplicado o seu corretor ortográfico informático e eliminado todos os erros de digitação, ainda sobram frases incompreensíveis, expressões sem sentido, reflexos de uma linguagem tortuosa e torturada que seria capaz de confundir o mais paciente revisor de estilo pago para fazer essa tarefa.

A pobreza da linguagem escrita no Brasil – já nem mais falo da linguagem coloquial, irrecorrivelmente contaminada pelo dialeto televisivo das novelas e programas de auditório – tem progredido a olhos vistos, acompanhando a rápida deterioração da educação no país. Acredito que não haja mais espaço, atualmente, para aqueles programas ao vivo voltados para testar o conhecimento de concorrentes sobre fatos gerais da história ou em destreza na língua escrita, que premiavam verdadeiras enciclopédias ambulantes, dicionários vivos da língua pátria. Tudo isso é passado, eu sei, mas será que não se consegue, ao menos, ter pessoas que consigam escrever ao menos num Português normal, desprovido de erros primários e de barbarismos estilísticos?

Deterioração generalizada [o intertítulo é do Observatório da Imprensa]
Não estou falando de profissionais "normais", mas de aspirantes a um título universitário de pós-graduação, que constitui a minha "clientela" mais freqüente. Tenho encontrado cada vez mais, nessas dissertações para as quais sou convidado para a banca julgadora, um tamanho volume de atentados à linguagem que penso seriamente em desistir de aceitar o convite, por mais que o título ou o tema possam me atrair. Vou pedir para ver o trabalho primeiro, antes de me decidir se aceito ou não participar. Não quero compactuar, nem que seja indiretamente, com as barbaridades lingüísticas e os atentados à boa escrita.

Não se trata de arrogância intelectual ou elitismo lingüístico, mas uma simples questão de coerência. Uma linguagem confusa, quando não incorreta, revela, antes de tudo, confusão nas idéias. Assim sendo, ao menor sinal de impropriedade redacional pode-se estar seguro de que a qualidade intrínseca do trabalho tampouco será superior ao estilo de redação. Como não pretendo deixar nem autor nem orientador constrangidos na hora da avaliação pública do trabalho, vou desistir preventivamente de participar. Acho que é o melhor que eu tenho a fazer nesta fase de deterioração generalizada da educação no Brasil.

Fica, portanto, dado o aviso. Antes de me convidar, favor procederem à revisão do Português (e revisem as idéias também).

[Texto também reproduzido no Blog do Galeno: por um Brasil que lê mais: http://www.blogdogaleno.com.br/texto_ler.php?id=587&secao=25, que foi onde eu acabei reencontrando um ensaio praticamente esquecido.]