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quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Ouro brasileiro foi a maior catástrofe econômica e política de Portugal - João Pereira Coutinho (Folha de S. Paulo)

 Ouro brasileiro foi a maior catástrofe econômica e política de Portugal

João Pereira Coutinho

Folha de S. Paulo, 2/01/2024


Saberá Flávio Dino que a descoberta das minas na antiga colônia foi motivo de atraso para o desenvolvimento do país

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Amigos brasileiros, meio a sério, meio a brincar, costumam pedir de volta "o ouro do Brasil". De início, ficava pasmo. Ouro? Qual ouro? Não uso joias. Sempre achei que um homem com joias é um erro de casting.

Não, não são joias, Little Couto. Eles querem de volta o ouro que os portugueses levaram do país a partir de finais do século 17.

 

Tempos atrás, por causa de um lamentável episódio xenófobo com uma brasileira em Portugal, o ministro Flávio Dino até deu cobertura oficial à exigência. Se os portugueses não gostam de brasileiros, podem devolver também o ouro de Minas Gerais!

Calma, ministro. A estupidez de um patrício não define um povo inteiro. E, sobre o ouro, saberá o senhor que a descoberta das minas foi, provavelmente, a maior catástrofe econômica e política de Portugal? E que o atraso do país na era contemporânea se explica, precisamente, pelo ouro que o senhor reclama?

A tese está contida num dos melhores livros de 2023, que merecia uma edição brasileira, até para acalmar os ânimos. O autor é Nuno Palma, historiador português e professor da Universidade de Manchester, que analisa com rigor "As Causas do Atraso Português" (D. Quixote/Leya, 408 págs.).

 

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No século 19, esse atraso consumiu os melhores espíritos e ficou célebre a conferência de Antero de Quental sobre as "Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos".

O atraso dos ibéricos, segundo o filósofo e poeta, era explicado, entre outros fatores, pelo catolicismo obscurantista que impediu o progresso material, institucional e mental.

Nuno Palma não compra essa versão: países católicos, como a Bélgica ou a França, foram casos de sucesso na Europa oitocentista. Se queremos encontrar as raízes do atraso temos de viajar até ao século 18, quando o ouro começou a chegar em quantidades apreciáveis.

Sim, no curto prazo, Portugal enriqueceu. Mas a "maldição" desse recurso distorceu a economia de forma profunda, levando ao abandono das fábricas (a industrialização do país que era promissora no último quartel do século 17), ao favorecimento das importações e ao colapso da competitividade pátria.

Em meados do século 18, quando o ouro ainda chegava, a economia portuguesa estagnou e Portugal perdia o trem da Revolução Industrial. Estavam abertas as portas para o medonho século 19, feito de guerras civis e bancarrotas.

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Mas o ouro do Brasil não teve apenas um impacto econômico nocivo. Argumenta Nuno Palma que, politicamente falando, o atraso institucional foi comparável. Quem pensa que o absolutismo régio português emergiu na passagem da Idade Média para a Idade Moderna, desconhece o papel das cortes na limitação do poder do rei para lá desse período.

Esse elemento "protoliberal", que em Inglaterra só se afirmou verdadeiramente com a Revolução Gloriosa de 1688-1689, sempre fez parte da cultura institucional portuguesa desde a fundação.

Se o rei queria cobrar impostos, por exemplo, tinha de ouvir os representantes municipais, eleitos pelos seus pares. Para usar um célebre bordão americano, "no taxation without representation". A convocação das cortes era a expressão institucional desse princípio.

No século 18, com o ouro brasileiro, as cortes não se reuniram uma única vez. Para quê? A liquidez de que a Coroa dispunha permitia-lhe atuar sem prestar contas a ninguém.

No fundo, permitia-lhe atuar sem freios e contrapesos, cultivando antes as suas clientelas parasitárias e venais. O Marquês de Pombal e seus sucessores representaram bem essa nova cultura despótica e "iluminada".

Moral da história?

O iliberalismo português, que obviamente contagiou o Brasil, não começa com Salazar e a ditadura do Estado Novo no século 20. Começa antes, muito antes, na experiência absolutista de 700, que se espraiou até aos nossos dias.

Devolver o ouro?

Ó, meus amigos, ó meus irmãos: pudesse eu viajar no tempo para influenciar as cabeças dos meus antepassados e o ouro ficaria escondido nas entranhas de Minas Gerais.

Pelo menos, até que portugueses ou brasileiros tivessem atingido um patamar de desenvolvimento político e econômico a partir do qual o ouro seria uma benesse, e não uma ruína.

 

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Brics ampliado nasce com 80% de autocracias - Redação revista Crusoé

 Brics ampliado nasce com 80% de autocracias Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Irã e Etiópia passam a fazer parte do Brics nesta segunda, 1º de janeiro de 2024. 

Redação revista Crusoé

 Com isso, o bloco passa a contar com dez membros. Em alguns lugares, o grupo tem sido chamado de Brics 10. A Argentina, que estava cotada para entrar no bloco, desistiu após a eleição do presidente Javier Milei. O Brics 10 nasce com uma maioria de ditaduras e autocracias. É o que se pode concluir após analisar como os dez membros se encaixam nas quatro categorias do V-Dem, o instituto que mede as democracias no mundo e fica em Gotemburgo, na Suécia. 

 Dos dez países do Brics 10, nenhum se encaixa na categoria de democracias liberais em que, além de eleições, há ampla liberdade de expressão e liberalismo econômico. Na categoria das democracias eleitorais estão apenas Brasil e África do Sul. No time das autocracias eleitorais, em que regimes fechados realizam eleições protocolares, estão quatro países: Índia, Egito, Etiópia e Rússia. Entre as autocracias fechadas estão mais quatro: China, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. De acordo com o último ranking do V-Dem, pela primeira vez desde 1995, há mais autocracias fechadas no mundo que democracias liberais. 

O Brics ampliado, portanto, é um reflexo desse mundo cada vez mais autocrata. Um dos maiores entusiastas do Brics ampliado é o ditador chinês Xi Jinping. Em declarações que deu em agosto, na cúpula dos Brics que aconteceu na África do Sul, Xi disse que a expansão do bloco é histórica e um novo começo para a cooperação entre os países. No mesmo evento, Lula também enalteceu a ampliação do grupo, que foi criado por iniciativa do petista Celso Amorim e do russo Sergey Lavrov. “Nós éramos chamados de terceiro mundo, depois cansaram e começaram a chamar de países em via de desenvolvimento e agora nós somos o Sul Global. Veja a mudança de nome, que pomposo. 

O que é importante nisso é que o mundo está mudando. A economia também começa a mudar, a geopolítica começa a mudar porque as coisas vão acontecendo e a gente vai ganhando consciência de que nós temos que nos organizar”, disse Lula. “O nosso [bloco, o Brics] não pensa só economicamente, o nosso também pensa politicamente. E é por isso que eu acho que o Brics está consolidado como uma referência. 

Qualquer ser humano, jornalista, cientista político que quiser discutir a geopolítica econômica, a geopolítica científica e tecnológica, a geopolítica de qualquer coisa vai ter que conversar com o Brics também, não é só com Estados Unidos e G7 [grupo de sete dos países mais industrializados do mundo]”, afirmou o presidente. Como afirmou Lula, o Brics também pensa politicamente. E seu pendor é claramente pelas autocracias do mundo.  


Contra as sanções (a estranha amizade e proteção do Brasil a Putin e à Rússia) Duda Teixeira Crusoé

Contra as sanções 

Duda Teixeira
Crusoé, 2/01/2024

 E essa nem foi a primeira vez que Vieira fez o jogo de Moscou. Em abril, o ministro recebeu Lavrov pela primeira vez, em Brasília. O russo estava tentando angariar apoio internacional em um roteiro que incluiu países aliados, como Cuba, Venezuela e Nicarágua. De Vieira e dos ditadores latino-americanos, Lavrov ouviu o que queria: críticas às sanções impostas ao Ocidente por causa da invasão da Ucrânia. “Reiterei a posição brasileira contra a aplicação de sanções unilaterais. 

Tais medidas, além de não contarem com a aprovação do Conselho de Segurança da ONU, têm impacto negativo sobre as economias de todo mundo, em especial dos países em desenvolvimento”, disse Vieira à época. A esperança de que o Conselho de Segurança da ONU não faz sentido algum, uma vez que a Rússia integra o órgão e jamais concordaria com algo que iria contra os próprios interesses. Após falar com Vieira, Lavrov se encontrou com o presidente Lula. Apenas dois meses depois, em junho, Vieira recebeu novamente Lavrov dizendo que “estava com saudades“. 

 A depender de Lula e dos seus subordinados, o Brasil sempre estará “muito contente” em fazer o jogo de Putin e criticará qualquer sanção imposta à Rússia, sem importar para a ficha criminal do autocrata. Ministério de Relações Exteriores, Itamaraty, deveria ter como prerrogativa básica a defesa dos interesses nacionais. Sendo um órgão do Executivo, cabe ao presidente da República, eleito pelo povo, indicar que interesses seriam esses. No terceiro mandato de Lula, contudo, o Itamaraty parece mais empenhado em defender os interesses da Rússia que os do Brasil. 

 Na quarta, 27, o chanceler de ofício do Itamaraty, Mauro Vieira (foto), afirmou em entrevista à rede britânica BBC que o Brasil ficaria agradecido caso o presidente da Rússia, Vladimir Putin, viesse ao país para a cúpula do G20, agendada para novembro de 2020. “Se ele (Putin) quiser vir, nós estaremos muito contentes que esteja presente e nas reuniões do Brasil“, disse Vieira. A declaração de Vieira, que teoricamente está no topo da diplomacia brasileira, é assombrosa ao denotar completo desprezo pelo direito internacional.

 O Tribunal Penal Internacional, TPI, emitiu um mandado de prisão contra Putin por crimes contra a humanidade. Ele é suspeito de ter ordenado o sequestro de crianças ucranianas. Elas foram afastadas dos pais e receberam nova cidadania na Rússia. Vieira ainda aventou que o Brasil não seria obrigado a cumprir a ordem de prisão, o que é falso. O país é signatário do Tratado de Roma, que foi validado pelo Legislativo e pelo Supremo Tribunal Federal. Em respeito às instituições brasileiras e ao direito internacional, não há alternativa a não ser cumprir o que manda o TPI. “Obrigado a cumprir? Não. Tem que haver a ordem. Senão seria como o TNP (Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares) que é sobre não proliferação e desarmamento e só se pensa no desarmamento, na proliferação ninguém dá importância. Enfim… não é assim. Cada circunstância é uma circunstância“, disse Vieira na entrevista. É um acinte. 

O que temos é nada mais do que um ministro dizendo que os tratados internacionais não precisam ser respeitados. Se tudo varia com a circunstância, de que valem as negociações diplomáticas? O Acordo de Paris, em que os países adotaram voluntariamente cortes de emissão de gases de efeito estufa também não tem importância? A fala do chanceler, mesmo absurda, está infelizmente em linha com as de Lula, do assessor Celso Amorim, do ministro da Justiça Flávio Dino e do ministro de Direitos Humanos Silvio Almeida. Para justificar a acolhida ao autocrata russo, todos eles não titubearam em colocar em dúvida a legitimidade do TPI. Contra as sanções E essa nem foi a primeira vez que Vieira fez o jogo de Moscou. Em abril, o ministro recebeu Lavrov pela primeira vez, em Brasília.

 O russo estava tentando angariar apoio internacional em um roteiro que incluiu países aliados, como Cuba, Venezuela e Nicarágua. De Vieira e dos ditadores latino-americanos, Lavrov ouviu o que queria: críticas às sanções impostas ao Ocidente por causa da invasão da Ucrânia. “Reiterei a posição brasileira contra a aplicação de sanções unilaterais. Tais medidas, além de não contarem com a aprovação do Conselho de Segurança da ONU, têm impacto negativo sobre as economias de todo mundo, em especial dos países em desenvolvimento”, disse Vieira à época. 

 A esperança de que o Conselho de Segurança da ONU não faz sentido algum, uma vez que a Rússia integra o órgão e jamais concordaria com algo que iria contra os próprios interesses. Após falar com Vieira, Lavrov se encontrou com o presidente Lula. Apenas dois meses depois, em junho, Vieira recebeu novamente Lavrov dizendo que “estava com saudades“. A depender de Lula e dos seus subordinados, o Brasil sempre estará “muito contente” em fazer o jogo de Putin e criticará qualquer sanção imposta à Rússia, sem importar para a ficha criminal do autocrata. 


A maior IMBECILIDADE da tecnocracia brasiliense é transformar salários em dólares no exterior em "renda" em reais para fins de texto salarial

 Eu não sei quem foi o idiota do Planalto que "inventou" essa transposição de salários em dólares em "renda" no Brasil, esquecendo que as despesas são feitas no exterior, em dólares ou outras moedas conversíveis. Nunca entenda imbecilidade da conversão e aplicação dos valores no teto salarial.

Quem são os servidores que ganharam mais de R$ 1 milhão em salários e indenizações em 2023 Lista dos maiores rendimentos líquidos no Poder Executivo federal é liderada por diplomatas no exterior, com salários e auxílios em dólar. 

Estadão, 2/01/2024

Itamaraty diz que servidores vivem ‘circunstâncias excepcionais’ganharam mais de R$ 1 milhão em salários e indenizações em 2023 Lista dos maiores rendimentos líquidos no Poder Executivo federal é liderada por diplomatas no exterior, com salários e auxílios em dólar. Itamaraty diz que servidores vivem ‘circunstâncias excepcionais’ 

 BRASÍLIA - Ao menos 12 servidores públicos do Poder Executivo federal receberam o equivalente a mais de R$ 1 milhão, entre salário líquido e verbas indenizatórias, ao longo do ano de 2023. Todos são diplomatas do topo da carreira do Itamaraty e ocuparam postos no exterior. Os rendimentos são puxados para cima pelo fato de ganharem seus salários em dólares americanos e por receberem um auxílio-moradia polpudo, necessário para alugar moradias em capitais estrangeiras. Apesar dos montantes elevados, não há nenhuma irregularidade nos pagamentos. 

 O primeiro lugar na lista ficou com o diplomata Octávio Henrique Dias Garcia Côrtes, atual embaixador do Brasil no Japão. Entre salário e auxílio-moradia, ele recebeu o equivalente a R$ 1,11 milhão entre janeiro e novembro deste ano – os dados de dezembro ainda não foram divulgados. Em agosto, por exemplo, o total de verbas indenizatórias recebidas pelo embaixador foi de US$ 13.617, o equivalente a R$ 65,7 mil na cotação desta quarta-feira, 27. 

O salário após descontos foi de US$ 11,5 mil, o equivalente a R$ 55,6 mil. Abaixo de Côrtes aparece Rafael de Mello Vidal, diplomata e atual embaixador do Brasil em Angola, também com R$ 1,1 milhão recebidos entre salário após descontos e verbas indenizatórias. Assim como Côrtes, Vidal recebe seus vencimentos em dólares, conforme determina a lei de 1972 que trata do assunto. 

Em terceiro lugar está Eduardo Botelho Barbosa, atual cônsul-geral do Brasil em Zurique, capital da Suíça – o país é considerado um dos mais caros da Europa. Quem também vive na Suíça é Guilherme de Aguiar Patriota, atual representante do Brasil na Organização Mundial de Comércio (OMC), em Genebra. Ele recebeu o equivalente a R$ 1,08 milhão ao longo de 2023 e está em quarto lugar na lista. É irmão do também diplomata Antonio Patriota, que foi ministro das Relações Exteriores do Brasil no governo de Dilma Rousseff (PT), de 2011 a 2013. Em quinto lugar aparece o diplomata Hélio Vitor Ramos Filho – até meados deste ano, era o embaixador do Brasil em Roma, na Itália. Em 2022, chegou a ser indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como embaixador em Buenos Aires, mas a indicação acabou sendo retirada da pauta do Senado Federal após a vitória de Lula (PT) em outubro passado. 

Para assumir a chefia de postos no exterior, diplomatas precisam ser indicados pelo presidente da República e aprovados pelo Senado. O levantamento foi feito pelo Estadão com base nos dados abertos do Portal da Transparência. As informações são parciais, pois só abrangem os meses de janeiro a novembro – os dados sobre dezembro ainda não foram publicados. Não são considerados militares nem servidores do Banco Central, cujas informações são publicadas separadamente. O primeiro servidor na lista dos mais bem-pagos que não pertence ao Itamaraty é Leonardo Correia Lima Macedo, um auditor-fiscal da Receita Federal. Ele está na 67ª posição, tendo recebido R$ 814,3 mil entre janeiro e novembro, considerando salário após descontos e verbas indenizatórias. 

O motivo, porém, é bem parecido com o dos diplomatas: até agosto deste ano, ele recebia parte do salário em dólares, por atuar como adido tributário na Embaixada do Brasil em Buenos Aires, na Argentina. Depois dele, o próximo não diplomata na fila aparece na 104ª posição e pelo mesmo motivo: trata-se de outro auditor fiscal da Receita, adido tributário na Embaixada do Brasil em Washington (EUA). Procurado, o Itamaraty ressaltou que os pagamentos em dólares seguem a legislação e que os valores não são atualizados desde 2015, “a despeito dos processos inflacionários em diversos países onde estão lotados os servidores do MRE”. “Por servirem no exterior, suas despesas para custeio de suas vidas e de seus familiares são igualmente realizadas em moeda estrangeira. 

Nessas condições, a simples conversão desses valores para o real para fins de comparação da remuneração com demais servidores não parece ter sentido”, diz a nota. “Nessas condições, a inclusão dos servidores lotados no exterior na listagem dos maiores salários pagos ao funcionalismo público gera distorções de percepção, à luz das circunstâncias excepcionais em que vivem”, informa o órgão. Brasil gasta quase 9% do PIB com salários de servidores O Brasil é um dos países que mais gastam com salários de servidores públicos no mundo. Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), as despesas com salários nos três níveis – União, Estados e municípios – somam 8,9% do PIB, o que coloca o Brasil como um dos países que mais gastam com salários no mundo, à frente de economias desenvolvidas, como França (8%), Reino Unido (7,3%) e Alemanha (5,9%). 

A proporção também é praticamente igual à de países com serviços públicos muito melhores que os brasileiros, como Espanha e Áustria (9%). Em 2020, um estudo realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) utilizando os mesmos dados do FMI para 2018 mostrou que o País gastava cerca de 13,4% do PIB com salários de servidores nas três esferas. O gasto colocava o Brasil na 7ª posição dos países que mais gastam com servidores, entre 70 países analisados. Há evidências de que este gasto vem caindo nos últimos anos como proporção do PIB, no que diz respeito à União. O número de servidores em si não é tão grande quando comparado com outros países: são 11,35 milhões de pessoas, ou 12,45% do total dos trabalhadores formais, segundo a organização República.org

A proporção é menor que em vários países da OCDE e é comparável à de outros países latinoamericanos. A maioria dos servidores públicos está nos Estados e nos municípios. Em geral são trabalhadores que recebem salários equivalentes aos pagos pela iniciativa privada para as mesmas funções. As distorções se concentram entre os servidores da União, em Brasília: estudo do Banco Mundial elaborado a pedido do governo federal mostra que profissionais do Direito chegam a ganhar 80% a mais na União em relação à iniciativa privada. Em novembro, o Poder Executivo Federal tinha 512,4 mil servidores civis, excluídos os ligados ao Banco Central. A remuneração média dessas pessoas foi de R$ 11,684 mil, já após os descontos (como Imposto de Renda e a contribuição previdenciária) e sem contar verbas indenizatórias.

 Os altos salários dos servidores da União – tanto no Executivo quanto no Judiciário e no Legislativo – tornam o Distrito Federal a Unidade da Federação mais rica do Brasil, em termos de renda per capita.  

A Ucrânia desapareceu da agenda de política externa do Itamaraty e do governo Lula? Nota sobre o terremoto no Japão

 Seria interessante, a exemplo desta Nota do MRE a propósito do terremoto no Japão, ter uma Nota, uma notinha que fosse, do Itamaraty, se solidarizando com o povo ucraniano pelos constantes bombardeios criminosos contra a população civil da Ucrânia, com objetivos deliberadamente de destruição e morticínio. Em lugar disso, o que temos tido até agora é uma completa ausência de qualquer manifestação sobre o drama ucraniano. A Ucrânia simplesmente DESAPARECEU da agenda de política externa do Itamaraty e do governo Lula.

Paulo Roberto de Almeida

Ministério das Relações Exteriores
Assessoria Especial de Comunicação Social
Nota nº 1
1º de janeiro de 2024

Terremoto no Japão

O governo brasileiro expressa solidariedade ao governo e ao povo do Japão pelas vítimas, pessoas afetadas e danos causados pelo forte terremoto que atingiu o país nesta segunda-feira, 1º de janeiro. Não há, até o momento, notícia de brasileiros mortos ou feridos.

O Itamaraty, por meio de sua embaixada em Tóquio e de seus consulados-gerais no Japão, está em contato com a comunidade brasileira no país e com autoridades locais.

Os plantões consulares do Consulado-Geral em Nagoia (080-8255-2410) e em Tóquio (090-6949-5328) estão em funcionamento para atender nacionais em situação de emergência. O plantão consular geral do Itamaraty também pode ser contatado por meio do telefone +55 (61) 98260-0610.

[Nota publicada em: https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/terremoto-no-japao-1

A oposição ao governo Milei começa a se organizar na Argentina - Raúl Montenegro

 A oposição ao governo Milei começa a se organizar na Argentina

PRA: É uma organização da resistência e da oposição política e constitucional ao novo rei da Argentina, Milei I; a coisa vai piorar muito, antes de eventualmente melhorar.


PRIMER DÍA DEL AÑO 2024

PODRAN CORTAR TODAS LAS FLORES, PERO NO PODRÁN DETENER LA PRIMAVERA.

PODRÁN IMPONER UN DNU 70/2023 Y PRESENTAR UN MEGAPROYECTYO DE LEY, PERO NO PODRÁN TRANSFORMAR NUESTRO PAÍS EN UNA CORPORACIÓN PRIVADA, NI EN UNA MANADA DE OVEJAS. 

Por Prof. Dr. Raúl Montenegro, Biólogo (*) 

Buen día todas y todos, feliz primer día del año nuevo! Ya estamos en el baile humano de 2024. Pocas veces en Argentina, excepto en tiempos de dictadura, hubo tantas amenazas apiladas. Años de luchas, campañas, trabajo parlamentario y debates públicos produjeron la Ley de Tierras, la Ley de Bosques Nativos, la Ley de Glaciares, la Ley de Semillas que excluye su patentamiento, el Código Penal, el Código Civil, y la lista sigue. Hoy este ADN administrativo y legal sufren los embates del DNU 70/2023 y del megaproyecto de Ley de la gestión Milei. Su aberrante colectividad de derogaciones de normas y cambios de redacción, tanto los aprobados por el DNU, como los propuestos en el megaproyecto de ley, recrean una pesadilla dictatorial pero en plena democracia. Pero no se trata de un mal sueño. Es la cruda y dramática realidad. El DNU y el megaproyecto de ley pisotean lo bueno que había en la mayoría de las normas vigentes e instituciones en marcha, pese a que eran perfectibles, y pese también a las malas gestiones presidenciales previas. Dependemos ahora de legisladores que en su mayoría no participaron de la elaboración de esas leyes, y que nunca podrán equiparar la experiencia y trabajo duro de parlamentos, instituciones,  participación ciudadana e historiales de lucha de los últimos 40 años. 

En el colmo de la irresponsabilidad, y de un sospechoso acompañamiento, muchos de esos legisladores -de distintos partidos políticos- anunciaron que "revisarían" los artículos de esa ley, y hasta el DNU (en vigencia desde el 29 de diciembre, y que el mega proyecto de ley, disimulado en uno de sus artículos finales, valida). 

Es una burla parlamentaria inédita y peligrosa  creer que diputados y senadores, en 30 días de sesiones extraordinarias, podrá "mejorar" lo que produjeron, con todos sus errores y aciertos, 40 años de democracia parlamentaria y participativa. 

Argentina no es un conejillo de Indias para que un presidente sin suficiente formación para serlo, y sus ministros,  experimenten con la gente, las instituciones, el ambiente, la salud, la educación, los alquileres y cientos de otros temas vitales. Es inadmisible que la la torpeza sectaria de quienes redactaron esas dos herramientas incluyan, además, cesión de más poderes a la presidencia. 

En un país serio tanto el DNU 70/2023 como la totalidad del megaproyecto de Ley serían rechazados enteramente por inconstitucionales, y por representar un intento pseudodemocrático de totalitarismo. 

Ningún enojo de mayorías, y ningún porcentaje de votos en elecciones generales, otorga derechos para que se destroce el ADN administrativo y legal de un país. 

Resulta ofensivo cómo el DNU en vigencia, y la mega ley en tratamiento,  entregan poder a minorías corporativas y económicas; cómo abren el país a la extranjerización impune de tierras, mares y territorios, y cómo le ponen bandera de remate a sus ecosistemas, organizaciones y trabajadores. Haciéndonos creer, falsamente, que todo esto se hace para que Argentina esté mejor. 

En el colmo del desquicio no se trata solamente del intento por darle legalidad a un experimento descabellado. Sabiendo las tensiones y crisis que enfrenta la sociedad y cada familia ante la incertidumbre, y el salvese quien pueda de la vida cotidiana, la inefable Corte Suprema de Justicia de la Nación, ante urgentes presentaciones cautelares, comunicó, desde su trono con cuatro reyes, que analizarán esas cautelares "en febrero". Fácil para cuatro señores del privilegio supremo descansar en enero, mientras un país se desarma y cruje. Con sus sueldos, estabilidad y privilegios imperiales olvidan que deben trabajar para la sociedad con urgencia y responsabilidad, no con pereza y desprecio por la angustia de la gente. Pareciera que viven en otro país. Una Corte Suprema que  actúa con semejante parcialidad y elitismo debería ser sometida a Juicio Político. 

Si tuviéramos cuatro jueces supremos capaces en lugar de cuatro reyes llenos de soberbia y torpeza, hoy 1 de enero ya deberían estar analizando las cautelares. 

Pero vivimos en una Argentina inédita, con un presidente que llegó al poder con el símbolo de una motosierra, la misma que en toda nuestra América Latina, ultrajada, arrasó con bosques y vida de inocentes. En un país donde la misma persona responsable de habernos endeudado por más de 50 mil millones de dólares (Luis Caputo en la gestión Macri), es hoy Ministro de Economía (gestión Milei). Una Argentina donde la mayoría de los ministros designados para cuidar gallineros públicos son zorros privados. Una Argentina dónde, sin que la mayoría de la sociedad lo sepa, Bayer-Monsanto, Barrick Gold, Elon Musk, ejércitos extranjeros, flotas de pesca de otros países, compradores ansiosos de tierrras con alta biodiversidad, y una larga lista de predatores internacionales, tiene hoy -como su mejor representante- al mismísimo presidente de la Nación. 

Lamento escribir esto el 1 de enero de 2024, pero la realidad que enfrentamos es dramática. Claro que esta situación no tiene como único responsable a Javier Milei. La responsabilidad va también para atrás, hacia cada uno de los presidentes y presidenta anteriores. Pero lo real y dramático es que todos esos mandatarios, e incluso ex dictadores (siendo los dictadores por definición delincuentes y genocidas), nunca presentaron un sistema de derogaciones de leyes y de cambios de redacción tan amplio en los primeros días de gobierno. Peor aún cuando de su lectura surge, claramente, falta de conocimientos, ignorancia supina de temas claves para el ambiente y la sociedad, y una descarada entrega de poder a las corporaciones y sectores financieros. 

Nuestro Jair Bolsonaro local ha logrado batir un record de omnipotencia legislativa digno del Libro Guiness. Gracias a tanta irresponsabilidad no nos convertimos en una Republiqueta Bananera. Fuimos más allá. Nos transformamos en una Republiqueta Legislera. Una nueva, patética y peligrosa categoría. Pero como escribió Pablo Neruda, y podía leerse en los muros del Mayo Francés, "podrán cortar todas las flores, pero no podrán detener la primavera".

Podrán imponer un DNU 70/2023, y presentar un megaproyecto de ley, pero no podrán transformar nuestro país en una corporación privada, ni en una manada de ovejas. 

(*) FUNAM y Campus Córdoba del Colegio de los Premiados con el Nobel Alternativo (Right Livelihood College). Premio Nobel Alternativo 2004 (Estocolmo, Suecia). 

Email: biologomontenegro@gmail.com

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Geoeconomics: Joint Conference Kiel Institute and CEPR in Berlin (November 30, December 1, 2023)

https://www.ifw-kiel.de/institute/events/conferences/geoeconomics/

Joint Conference Kiel Institute and CEPR in Berlin

Geoeconomics

 The global economic order is undergoing a fundamental transformation, characterized by growing competition between China, Europe, and the United States, and a shift from a rules-based to a more power-based system. Geopolitical considerations now increasingly dictate policy decisions and the extent of economic openness. Despite these major shifts, however, rigorous research on the link between economics and geopolitics remains scarce.

To foster cutting-edge research on the topic, CEPR and the Kiel Institute for the World Economy have launched a joint new Research Policy Network (RPN) on Geoeconomics, which will be hosted in a new Berlin research hub.

This conference, jointly organized by the Kiel Institute and CEPR in cooperation with the Federal Foreign Office and Sciences Po, brought together world-leading scholars working at the intersection of geopolitics and (international) economics. Speakers included Javier Bianchi (Minneapolis Fed), Linda Goldberg  (NY Fed, CEPR and Geoeconomics RPN), Gita Gopinath (IMF), Sergei Guriev  (Sciences Po, CEPR and Geoeconomics RPN),Ethan Ilzetzki  (LSE and CEPR), Adam Tooze  (Columbia University) and David Yang (Harvard).

The presentation of the 2023 Kiel Institute Bernhard Harms Prize to IMF economist Gita Gopinath and of the Excellence Awards in Global Economic Affairs were part of the conference. The Bernhard Harms Prize, one of Europe’s leading awards in the field of international economics, is awarded every 2 years. The prize honors scholars for exceptional research in global economics and for exceptional efforts to promote global economic relations. The Excellence Awards in Global Economic Affairs are presented to the brightest young researchers in the field of global economic affairs. 

Os melhores livros de economia de 2023, segundo Martin Wolf - Financial Times, Valor

Os melhores livros de economia de 2023, segundo Martin Wolf 

Financial Times

 

História do capitalismo, 'Chicago boys' e economia da China estão entre os temas das obras selecionadas 

Liberalismo, história do capitalismo, 'Chicago boys' e economia da China são alguns dos temas abordados pelos livros de economia do ano, segundo o comentarista-chefe do jornal britânico Financial Times, Martin Wolf.

Veja abaixo as obras sugeridas, seguidas pelos comentários do colunista.

 

Plunder: Private Equity’s Plan to Pillage America

[Pilhagem: O Plano do Private Equity para Saquear os Estados Unidos]

por Brendan Ballou, PublicAffairs, 368 pp., R$ 251 e R$ 48,58 (ebook)

Sempre houve duas maneiras de ganhar dinheiro: criação de valor e pilhagem. Uma boa sociedade é aquela em que a primeira supera a última. Neste livro poderosamente argumentado, Ballou, atualmente na divisão antitruste do Departamento de Justiça dos EUA, insiste que os retornos dos investimentos em private equity derivam em grande parte da pilhagem. Isso é particularmente provável onde esses lucros são obtidos às custas dos impotentes —prisioneiros, pacientes ou idosos. Dados os incentivos, os resultados que ele descreve parecem inevitáveis.

 

Digital Empires: The Global Battle to Regulate Technology

[Impérios Digitais: A Batalha Global para Regular a Tecnologia]

por Anu Bradford, Oxford University Press, 607 pp., R$ 131,27 (ebook)

A chegada da economia digital, agora acelerada pelo surgimento da inteligência artificial, inevitavelmente —e corretamente— criou uma resposta política e regulatória. Neste livro abrangente e importante, Bradford, da Faculdade de Direito de Columbia, esclarece as abordagens contrastantes da China, dos EUA e da UE. Ela observa que os dois últimos confrontam a China, "em nome de salvar a democracia da autocracia". Mas há uma batalha para salvar a democracia do poder da tecnologia desenfreada também. Este é crucial: trata-se de saber se a tecnologia controla a democracia ou a democracia controla a tecnologia.

 

A Crash Course on Crises: Macroeconomic Concepts for Run-ups, Collapses, and Recoveries

[Curso Intensivo sobre Crises: Conceitos Macroeconômicos para Crescimentos, Colapsos e Recuperações]

por Markus Brunnermeier e Ricardo Reis, Princeton University Press, 136 pp., R$ 188,72 e R$ 171 (ebook)

"As economias às vezes passam por crises macrofinanceiras." De fato, elas passam, como aprendemos dolorosamente nas últimas décadas. Neste excelente e felizmente breve livro, dois estudiosos renomados atualizam estudantes e profissionais ocupados sobre o melhor pensamento sobre como essas crises se originam e se desenrolam e como os formuladores de políticas precisam responder. Um guia valioso para aqueles que precisam entender o que a economia contemporânea tem a dizer sobre esse tópico vital.

 

Economics in America: An Immigrant Economist Explores the Land of Inequality

[Economia nos EUA: Um Economista Imigrante Explora a Terra da Desigualdade]

por Angus Deaton, Princeton University Press, 280 pp., R$ 171,25 e R$ 84,99 (ebook)

Deaton, vencedor do prêmio Nobel, é também um imigrante nos EUA. Neste livro altamente agradável de ensaios, ele se concentra principalmente no país em que agora vive. Ele também condena a ajuda internacional. Isso é surpreendente e também muito amplo. No entanto, Deaton emerge do livro como um ser humano decente que deseja tornar o mundo um lugar melhor. Infelizmente, ele também chegou à conclusão de que a economia e os economistas não são tão bons nisso quanto ele gostaria.

 

The Chile Project: The Story of the Chicago Boys and the Downfall of Neoliberalism

[O Projeto Chile: A História dos Chicago Boys e a Queda do Neoliberalismo]

por Sebastián Edwards, Princeton University Press, 376 pp., R$ 132 e R$ 108,99 (ebook)

"A história das reformas de livre mercado no Chile pode ser resumida em duas palavras: sucesso e negligência." Assim resume Edwards, ele mesmo de origem chilena, o resultado deste "experimento". Essas reformas tiveram origem na ditadura, tornaram o Chile "em uma geração a estrela mais brilhante da América Latina", pelo menos economicamente, e, de forma um tanto surpreendente, sobreviveram à transição para a democracia e finalmente naufragaram em reação popular contra a desigualdade e injustiças percebidas. Edwards conta essa história complexa e controversa de forma excelente.

 

The Eight Per Cent Solution: A Strategy for India's Growth

[A Solução de Oito Por Cento: Uma Estratégia para o Crescimento da Índia]

por Nikhil Gupta, Bloomsbury, 400 pp., R$ 231,23 e R$ 48,79 (ebook)

Este é um livro excepcional. O autor, economista-chefe da Motilal Oswal Financial Services, explica e aplica a abordagem dos "saldos setoriais" à economia indiana. Essa análise ilumina a fraca posição financeira e a deterioração das economias das famílias e, mais recentemente, também do setor corporativo de capital fechado. Diante da provável fraqueza do consumo das famílias, dos gastos do governo e das exportações, há pouca chance de um boom desejado nos investimentos. O equilíbrio desta década deve ser, argumenta ele, um tempo de cura, antes que o crescimento possa acelerar.

 

Legacy: How to Build the Sustainable Economy

[Legado: Como Construir a Economia Sustentável]

por Dieter Helm, Cambridge University Press, 265 pp., R$ 245 e R$ 50,42 (ebook)

Helm, da Universidade de Oxford, apresenta um caso apaixonado para a transição para uma economia sustentável com base no princípio de que cada geração lega um estoque de capital —físico e, muito mais importante, natural— tão bom quanto o que herdou. Para tornar essa abordagem operacional, devemos abraçar as ideias gêmeas de "quem polui paga" e o "princípio da precaução". Helm argumenta que a implementação dessas ideias requer um conceito de cidadania. Infelizmente, os desafios de fazer essa ideia funcionar globalmente são assustadores.

 

The Trade Weapon: How Weaponizing Trade Threatens Growth, Public Health and the Climate Transition

[A Arma do Comércio: Como a Arma do Comércio Ameaça o Crescimento, a Saúde Pública e a Transição Climática]

por Ken Heydon, Polity, 204 pp., R$ 49,06 (ebook)

O comércio se tornou uma arma. Heydon, ex-funcionário do comércio australiano, argumenta que essa abordagem —na forma de sanções comerciais, busca de autossuficiência nas cadeias de valor, uso de medidas comerciais em nome da "segurança nacional" e restrição de importações necessárias para a transição climática— é "prejudicial para a economia mundial, pois diminui e distorce os benefícios do fluxo internacional de bens e serviços". Um livro corajoso e necessário.

 

Seven Crashes: The Economic Crises That Shaped Globalization

[Sete Crashes: As Crises Econômicas Que Moldaram a Globalização]

por Harold James, Yale, 376 pp., R$ 296 e R$ 157,73 (ebook)

Neste fascinante livro, James, um renomado historiador de economias e políticas econômicas, analisa o impacto de sete crises econômicas na história da globalização: as fomes da década de 1840, a crise financeira de 1873, a Primeira Guerra Mundial e as hiperinflações subsequentes de 1914-23, a Grande Depressão dos anos 1930, a inflação dos anos 1970, a Grande Recessão de 2008 e os lockdowns de 2020-22. Sua conclusão surpreendente é que os choques de oferta promovem a globalização, enquanto os choques de demanda a inibem.

 

Freedom from Fear: An Incomplete History of Liberalism

[Liberdade a partir do Medo: Uma História Incompleta do Liberalismo]

por Alan Kahan, Princeton University Press, 528 pp., R$ 424 e R$ 228,58 (ebook)

As raízes tanto da economia de mercado quanto do estado democrático estão no liberalismo. Neste livro notável, Kahan narra em detalhes persuasivos a história desse conjunto transformador de ideias. Hoje, como frequentemente antes, o liberalismo enfrenta inimigos, essencialmente porque "o projeto liberal de criar uma sociedade onde ninguém precise ter medo assusta aqueles que pensam que algumas pessoas e/ou alguns grupos devem ter medo." Os liberais não podem ceder nisso. Mas, ele sugere, eles devem adicionar um pilar moral/religioso aos seus pilares políticos e econômicos mais tradicionais.

 

Ours Was the Shining Future: The Story of the American Dream

[Nosso Futuro Foi Brilhante: A Ascensão e Queda do Sonho Americano]

por David Leonhardt, Riverrun/Random House, 528 pp., R$ 139,34 e R$ 50,10 (ebook)

Leonhardt demonstra o fracasso do capitalismo americano em gerar prosperidade amplamente compartilhada desde 1980, rotulando isso como a "Grande Estagnação Americana". A história não é apenas econômica. A expectativa de vida, por exemplo, ficou bem abaixo dos níveis de outros países de alta renda, enquanto a expectativa de vida daqueles que não foram para a universidade realmente diminuiu. Leonhardt, um escritor sênior do The New York Times, dá vida a essas realidades. Em parte como resultado das tendências que ele descreve, a democracia americana está em risco. Este é um livro importante.

 

Visions of Inequality: From the French Revolution to the End of the Cold War

[Visões da Desigualdade: Da Revolução Francesa ao Fim da Guerra Fria]

por Branko Milanovic, Belknap Press, 368 pp., R$ 213,42 e R$ 159,92 (ebook)

A desigualdade está de volta, como um tópico político e como foco de estudo. Neste livro fascinante, Milanovic, um dos estudiosos mais influentes do mundo sobre desigualdade, examina o que os principais economistas do passado tinham a dizer sobre essa questão. Ele passa de Quesnay a Kuznets, passando por Smith, Ricardo, Marx e Pareto. No final, ele analisa o trabalho de Thomas Piketty. Hoje, ele argumenta, temos mais teorias, mais dados e um foco mais amplo tanto na desigualdade nacional quanto global. Também temos mais preocupação. O campo está em pleno crescimento.

 

The Capitalist Manifesto: Why the Global Free Market Will Save the World

[O Manifesto Capitalista: Por Que o Livre Mercado Global Salvará o Mundo]

por Johan Norberg, Atlantic, 304 pp., R$ 265 e R$ 53,49 (ebook)

Norberg é talvez o defensor mais eficaz do capitalismo de livre mercado do mundo. Neste livro, ele retorna ao tema de que "liberdade de escolha e competição" são os motores do progresso econômico. Ele está, é claro, correto. Além disso, a evidência também mostra que sociedades mais prósperas são, em geral, mais felizes. No entanto, o que ele diz está longe de ser totalmente verdadeiro. Não apenas as bases sociais e políticas dos mercados livres são difíceis de construir, mas suas consequências sociais e políticas podem ser prejudiciais: o capitalismo é bom; o capitalismo desenfreado não é.

 

My Journeys in Economic Theory

[Minhas Jornadas na Teoria Econômica]

por Edmund Phelps, Columbia University Press, 248 pp., R$ 242,98 e R$ 98,90 (ebook)

Neste adorável livro, Phelps, vencedor do Prêmio Nobel de Economia, descreve sua jornada de criatividade intelectual. Ele é famoso por sua contribuição, junto com Milton Friedman, para a ideia da "taxa natural" de desemprego. Posteriormente, ele se envolveu em ideias de justiça econômica encabeçadas pelo filósofo John Rawls e, assim, recomendou subsídios salariais. Mais recentemente, ele se concentrou na ideia de que o progresso econômico é o fruto da criatividade dispersa. Sociedades que incentivam isso alcançam um "florescimento em massa"; mas aquelas que não o fazem, não.

 

Making Sense of China’s Economy

[Compreendendo a Economia da China]

por Tao Wang, Routledge, 295 pp., R$ 349,99 e R$ 160,34 (ebook)

Este é um livro indispensável para aqueles que tentam entender a economia chinesa. A autora cresceu na China continental e atualmente é economista-chefe da China no banco de investimentos UBS em Hong Kong. Sua análise é bem informada e penetrante. Ela conclui que a taxa de crescimento anual da China provavelmente ficará entre 4% e 4,5% entre 2021 e 2030, uma queda acentuada em relação aos 8% alcançados de 2010 a 2019. Mas pode até ser tão baixa quanto 3%, à medida que as restrições domésticas e externas interagem. É muito improvável que ultrapasse 5%.

 

Revitalizing the World Trading System

[Revitalizando o Sistema de Comércio Mundial]

por Alan Wolff, Cambridge University Press, 588 pp., R$ 471,38 e R$ 194,59 (ebook)

Wolff, ex-vice-diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), escreveu o guia definitivo sobre o passado, presente e possível futuro do sistema multilateral de comércio. Surpreendentemente, dada a crescente hostilidade à OMC e ao comércio em si nos EUA, seu próprio país, e a falta de apoio entusiasmado em outros lugares, especialmente da China e da UE, ele é otimista: "A autarquia não pode ser alcançada... Não pode haver desacoplamento das principais economias, exceto a um custo inaceitavelmente alto." A OMC é o único lugar onde a cooperação internacional necessária pode ser sustentada, porque ela, assim como o comércio em si, é global.

 

Age of the City: Why Our Future Will Be Won or Lost Together

[Era da Cidade: Por que Nosso Futuro Será Ganho ou Perdido Juntos]

por Ian Goldin e Tom Lee-Devlin, Bloomsbury Continuum, 256 pp., R$ 223 e R$ 94 (ebook)

"Em 1800", observam Goldin, de Oxford, e Lee-Devlin, do The Economist, "havia 1 bilhão de seres humanos compartilhando nosso planeta, aproximadamente 70 milhões dos quais habitavam cidades. Hoje, a população global é de 8 bilhões, com mais de 4,5 bilhões de pessoas vivendo em cidades." Isso representa um aumento de 6.300% na população urbana do mundo. Até o final deste século, a população urbana pode ter dobrado novamente. As cidades são, sem dúvida, nossa criação mais extraordinária. Elas são fontes de criatividade deslumbrante. Também são lugares de imensa desigualdade. Este livro fascinante explica os desafios que elas representam e o que precisa ser feito para torná-las melhores para todos os seus habitantes.

 

Techno-Feudalism: What Killed Capitalism

[Tecnofeudalismo: O que Matou o Capitalismo]

por Yanis Varoufakis, Vintage, 287 pp., R$ 260 e R$ 112,19 (ebook)

Varoufakis é uma notável combinação de analista e sonhador. Neste livro, o ex-ministro das Finanças grego afirma que algo novo, que ele chama de "tecnofeudalismo", substituiu a economia capitalista tradicional. Nesta nova economia, os grandes monopólios de tecnologia, proprietários onipresentes da "nuvem", são vistos como senhores feudais, cobrando de todos nós "aluguéis da nuvem" pelo direito de acessar o que eles possuem. Certamente, isso não está completamente errado. Se suas propostas para transformar esse novo sistema em uma utopia moderna fazem sentido é outra questão. Mas, como sempre, Varoufakis faz seus leitores pensarem. Isso é uma conquista importante.

 

Livros organizados, editados e publicados por Paulo Roberto de Almeida (1992-2024)

 Livros editados por Paulo Roberto de Almeida

Organização, publicação

 

Lista compilada em 1/01/2024


 

15) Intelectuais na diplomacia brasileira: a cultura a serviço da nação (Brasília: 15 maio 2023, 310 p.; em publicação. Relação de trabalhos n. 4397)

14) Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro, Sérgio Eduardo Moreira Lima; Paulo Roberto de Almeida; Rogério de Souza Farias (organizadores); Brasília: Funag, 2017; volume 1, 568 p.; ISBN: 978-85-7631-696-1; link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=913; volume 2, 356 p.; ISBN: 978-85-7631-697-8; link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=914. Relação de Publicados n. 1271.

13) A Constituição contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988 (São Paulo: LVM, 2018, 448 p.; ISBN: 978-8593751394; Amazon)

12) O Homem que pensou o Brasiltrajetória intelectual de Roberto Campos (Curitiba: Appris, 2017, 373 p.; ISBN: 978-85-473-0485-0; Amazon.com.br).

11) Carlos Delgado de Carvalho: História Diplomática do Brasil (Brasília: Senado Federal, 2016, 504 p.; ISBN: 978-85-7018-696-6; Livraria do Senado Federal).

10) The Drama of Brazilian Politics: From 1814 to 2015 (with Ted Goertzel; 2015, 278 p.; ISBN: 978-1-4951-2981-0; Kindle, ASIN: B00NZBPX8A).

09) Relações Brasil-Estados Unidos: assimetrias e convergências (com Rubens Antonio Barbosa; São Paulo: Saraiva, 2016, 326 p.; edição digital; ISBN: 978-85-0212-208-6; Amazon.com.br).

08) Guia dos Arquivos Americanos sobre o Brasil: coleções documentais sobre o Brasil nos Estados Unidos (com Rubens Antônio Barbosa e Francisco Rogido Fins; Brasília: Funag, 2010, 244 p.; ISBN: 978-85-7631-274-1; Biblioteca Digital da Funag). 

07) Envisioning Brazil: A Guide to Brazilian Studies in the United States, 1945-2000 (with Marshall C. Eakin; Madison: Wisconsin University Press, 2005, 536 p.; ISBN: 0-299-20770-6; Amazon.com).

06) Relações Brasil-Estados Unidos: assimetrias e convergências (com Rubens Antonio Barbosa; São Paulo: Saraiva, 2005, 328 p.; ISBN: 978-85-02-05385-4; esgotado).

05) O Brasil dos Brasilianistas: um guia dos estudos sobre o Brasil nos Estados Unidos, 1945-2000 (com Marshall C. Eakin e Rubens Antônio Barbosa; São Paulo: Paz e Terra, 2002; ISBN: 85-219-0441-X; Academia.edu).

04) Mercosul, Nafta e Alca: a dimensão social (com Yves Chaloult; São Paulo: LTr, 1999; Estante Virtual). 

03) Carlos Delgado de Carvalho: História Diplomática do Brasil (edição fac-similar: Brasília: Senado Federal, 1998; Coleção Memória brasileira n. 13; 420 p.; esgotado; 2ª edição: 2016).

02) José Manoel Cardoso de Oliveira: Actos Diplomaticos do Brasil: tratados do periodo colonial e varios documentos desde 1492 (edição fac-similar, publicada na coleção “Memória Brasileira” do Senado Federal; Brasília: Senado Federal, 1997; 2 volumes; Volume I: 1493 a 1870; Volume II: 1871 a 1912; Amazon.com.br; forgotten books). 

01) Mercosul: Textos Básicos (Brasília: IPRI-Fundação Alexandre de Gusmão, 1992, Coleção Integração Regional nº 1; Biblioteca Digital da Funag

 

Uma reflexão sobre o mundo real e o mundo acadêmico dos nossos tempos - Paulo Roberto de Almeida

 Uma reflexão sobre o mundo real e o mundo acadêmico dos nossos tempos

Parece que boa parte do mundo acadêmico, geralmente em ciências sociais, não tem consciência de que o mundo em que se vive atualmente foi justamente construido pelo liberalismo capitalista dos últimos séculos, onde este existiu de forma livre.
O socialismo nunca construiu nada de relevante, a não ser opressão e miséria! Basta revisar os registros históricos dos últimos 100 anos para verificar essa realidade: mais povos e nações SAÍRAM do socialismo nas últimas três décadas, do que adotaram soluções e regimes declaradamente socialistas, ou anticapitalistas, inclusive a China e a Índia, os dois melhores exemplos de diminuição de uma miséria ancestral, agravada pelo socialismo que adotaram na segunda metade do século XX.
Muito da produção intelectual nessas áreas é feita de críticas acerbas ao capitalismo e ao liberalismo, e de prescrições para mais estatismo e mais intervencionismo, como se o mundo resultante fosse mais eficiente para se criar riqueza e bem-estar, à margem das liberdades capitalistas já enunciadas por Adam Smith no século XVIII.
Alguma dúvida sobre isso?
A despeito das reiteradas críticas ao capitalismo e ao liberalismo no mundo acadêmico, poucos experimentos efetivos nas últimas décadas se traduziram em movimentos tendentes a implantar regimes anticapitalistas em sua plenitude. Mas boa parte do mundo acadêmico ainda persiste em acreditar que um mundo regulado burocraticamente por instituições estatais seria melhor para a vida de pessoas reais do que a saudável anarquia do sistema capitalista, que sempre foi tendencialmente liberal, a despeito de controles de regulações, inerentemente instáveis e ineficientes.
E por que isso ocorre? A resposta é muito simples. A maior parte dos acadêmicos que pensam assim está apartada do mundo da contabilidade, das tabelas de ganhos e perdas, da lenta acumulação de riquezas vinculada ao esforço constante de controlar ativos e passivos, coisas que estão indissoluvelmente ligadas ao mundo capitalista. São acadêmicos alheios a esse mundo, ou porque são funcionários públicos de universidades ou mesmo quando trabalham em instituições privadas não são ligadas ao departamento de contabilidade, e podem assim dedicar-se a devaneios alheios ao mundo dos recursos que pagam seus salários.
Brasília, 1/01/2024