A propósito da atribuição de ordens, medalhas, títulos de honra e outras comendas e homenagens a personalidades que se tenham distinguido a serviço do país, de uma corporação qualquer -- que se julga detentora de nobres tradições -- ou que tenham prestado relevantes contribuições para o bem-estar do país, a felicidade da nação, ou até mesmo da humanidade, leio, num post do blog de meu amigo Francisco Seixas da Costa, embaixador português em França, como ele mesmo se denomina (o que é absolutamente fiel), esta nota acauteladora:
"Cada vez acho mais importante que este tipo de reconhecimento do Estado português seja feito com grande rigor e com fortes critérios seletivos, a fim de ficar garantido, na memória comum, que o gesto tem significado e não constitui um mero sinal de natureza protocolar. As condecoração são, de certo modo, a forma contemporânea de nobilitação. Devem, por essa razão, corresponder a uma leitura muito ponderada das qualidades daqueles a quem são atribuídas e, muito em especial, da contribuição por eles dada ao prestígio da comunidade que os distingue."
Por acaso me recordei agora que, quando da atribuição, pelo presidente da República do Brasil, sob a recomendação do Ministério das Relações Exteriores, da insígnia da Ordem do Rio Branco ao então presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, que logo depois renunciaria do cargo, e do mandato, para não ser eventualmente cassado por corrupção, eu escrevi uma carta ao Chefe do Cerimonial do Itamaraty para devolver a minha medalha e diploma de membro da Ordem (ainda que na categoria de membro da carreira, e não personalidade externa, como o inacreditável presidente da CD, aliás acerbamente defendido pelo presidente e seu partido).
Só não o fiz, na ocasião, porque fui dissuadido do gesto por amigos e colegas, que ponderaram ser exagerada a minha reação, que não se situava no mesmo plano de uma comenda entregue por razões puramente políticas ao chefe de um outro poder.
Justamente, tive vontade de argumentar: se uma Ordem como a de Rio Branco, grande servidor da República em seu tempo, é entregue a qualquer um, mesmo um cidadão pessoalmente ordinário, e notoriamente corrupto, apenas porque ele exerce um cargo público, então estou em má companhia, pois a Ordem já se rebaixou às conveniências políticas do momento, e não me sinto confortável com determinadas companhias.
Em ocasião oportuna, revelarei a carta que escrevi na ocasião, ainda guardada em meus arquivos, para ser usada quando a oportunidade se apresentar.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
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2 comentários:
parabéns pela iniciativa mesmo que inconclusa, professor.
O Brasil precisa de mais atitudes e pensamentos assim.
Alexandre, meu caro,
Para suportar certas companhias é preciso ter estômago, como se diz.
Eu, sinceramente, não tenho estômago para essas companhias. Prefiro me afastar e evitar esse tipo de promiscuidade.
O abraco do
Paulo Roberto de Almeida
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