O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Onde o Brasil poderia ser melhor?; nossa contribuicao para o mundo

Meu mais recente artigo publicado no site do Ordem Livre, o 24. da série "Volta ao Mundo em 25 Ensaios", faltando, portanto, apenas um para completar a série. É o que vou fazer agora mesmo...
Paulo Roberto de Almeida

Nossa contribuição para o mundo: onde o Brasil pode ser melhor
Paulo Roberto de Almeida
Ordem Livre, 06 de Dezembro de 2010

Sem qualquer ufanismo, pretendo apenas tecer considerações sobre o quê, da experiência brasileira, considero relevante para o mundo. Dito assim, parece que o Brasil tem enormes contribuições a dar – ou, quem sabe, até já deu – para o progresso da humanidade e o avanço geral da civilização. Certo ufanismo pretende, justamente, que o Brasil seja um exemplo para o mundo, pelo caráter plástico de sua sociedade – mesmo sem a, hoje recusada, mítica "democracia racial" –, pela convivência tranquila de muitos povos e religiões, pela adesão do país aos princípios tradicionais do direito internacional, pelas disposições pacifistas e humanitárias de sua Carta constitucional, enfim, pelo caráter cordial do povo brasileiro.

Não sou desses, e ainda que eu possa, por acaso, subscrever a alguns desses mitos, não vou me estender nessa direção para detectar o que o Brasil possivelmente poderia oferecer ao mundo, como seu..., ou seja, algo construído para fora, não já existente a partir de dentro (e que seria uma característica, não uma contribuição). Não é fácil detectar contribuições geniais do Brasil para a humanidade: não temos um Nobel, nem grandes avanços do pensamento filosófico, da produção científica ou do desenvolvimento tecnológico; com exceção do soro antiofídico e do diagnóstico do mal de Chagas, não existem muitas outras contribuições dignas de registro nos anais do progresso mundial. Alberto Santos Dumont e o Padre Landell de Moura podem ter sido "geniais" em suas respectivas áreas, mas não conseguiram transpor suas inovações para o único terreno que verdadeiramente interessa no plano material: a produção em série de bens e serviços para consumo de massa.

Mesmo nossa alegada originalidade étnica – qual seja, a de ser uma espécie de "cadinho da humanidade", não apenas um país "multinacional", mas igualmente multirracial – pode ser um valor relevante para o Brasil, mas não se sabe como isso será oferecido como know-how ao resto da humanidade. A exuberância das florestas, a grandiosidade dos rios, a abundância dos recursos naturais, tudo isso pode impressionar em alguma peça publicitária do "ministério da propaganda", mas não representa, de fato, algo de que o mundo careceria, se por acaso o Brasil viesse a faltar no fornecimento de matérias primas ou outros produtos básicos. Outros países poderiam acomodar nosso "desaparecimento" repentino, com pequenos esforços de adaptação e de crescimento da produtividade em outras regiões. Afinal de contas, não nos distinguimos pela exportação de produtos inovadores ou de tecnologia exclusiva (como podem ser farmacêuticos ou a eletrônica de alta definição, por exemplo).

Talvez devêssemos começar por indicar o que NÃO deveríamos fazer para tornar o mundo um lugar mais ameno e agradável: melhor seria, por exemplo, que não participássemos do circuito mundial de trânsito e comercialização de drogas, ao manter fronteiras tão vulneráveis e permitir a corrupção nos órgãos de controle (sem mencionar, está claro, o próprio consumo nacional em ascensão); seria preferível não “exportar” tantos ilegais que podem morrer na travessia do Rio Grande ou no deserto do Arizona, antes de serem capturados e mofar alguns meses na cadeia antes da inevitável expulsão; seria preferível não oferecer ao mundo o espetáculo das crianças de rua, da corrupção impune, dos desastres urbanos anunciados ou esperando para acontecer, ou manter estranhas alianças com ditadores e outros personagens pouco frequentáveis. Não precisaríamos, tampouco, exibir as maiores estatísticas de morte juvenil nas periferias urbanas, de acidentados e vítimas em estradas esburacadas, ou de desperdício alimentar por pura desorganização e ineficiência nos transportes.

Em outros termos, tudo o que fazemos contra nós mesmos – já que todos os problemas indicados são "made in Brazil" – diminui na mesma proporção nosso prestígio no mundo, e nos deixa ainda distantes de alguns objetivos alegadamente nacionais de influência e participação nos negócios mundiais, como a tal aspiração a um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU e uma ainda mais bizarra mudança nas relações de força ou na geografia comercial do mundo. As torturas de prisioneiros comuns, o desmatamento selvagem, a mentira oficial, a corrupção pública, a fraude política, o sindicalismo mafioso e os sindicatos patronais de ladrões, as falsas soluções para problemas verdadeiros, o culto da ignorância, a recusa da educação formal e o elogio do despreparo, o enorme desperdício de esforços em direções erradas, todas essas disfunções são contribuições do Brasil aos seus desvios éticos e ao seu próprio retrocesso moral. Nada que possamos “mostrar” ao mundo.

Tão melhor seria para o Brasil e para o mundo, se pudéssemos empreender as reformas capazes de aproximar o país dos projetos de alguns de seus pais fundadores, torná-lo mais conforme às promessas feitas por alguns reformadores, numa palavra, convertê-lo em país “normal”. Um país normal, em primeiro lugar, tem um estado, ou antes, um governo que cumpre a lei, e não se constitui objeto de maior parte dos casos que ascendem à Suprema Corte; da mesma forma, um país normal apresenta poderes perfeitamente separados e atuando segundo seus próprios mandatos constitucionais, sem qualquer subordinação indevida ou tratativas pecuniárias; um estado normal não tosquia os seus cidadãos e empresas muito acima da capacidade contributiva desses agentes econômicos primários; um país normal assegura os direitos elementares dos seus cidadãos mais simples, antes de tudo o direito à segurança, a uma escola de qualidade, a saneamento básico, mas também o direito de ser representado por pessoas plenamente responsáveis pelos recursos que administram e, se corruptos, puníveis como qualquer eleitor comum.

Acredito que o Brasil ainda está longe desses simples objetivos típicos de um país normal. Acredito, também, que o Brasil daria uma grande contribuição ao mundo sendo um país normal, especialmente se ele pretende exercer a liderança regional e passar a influenciar a agenda diplomática mundial de modo mais afirmado. Ser um país normal significa converter-se em um país melhor, sobretudo para seus próprios cidadãos, o que o habilitaria quase naturalmente a contribuir para tornar o mundo um lugar melhor do que é atualmente.

O Brasil, de fato, poderia ser melhor em muitas coisas, tantas são as possibilidades de contribuir para o bem-estar da humanidade, infinitas, na verdade, nos campos da medicina, do meio ambiente, da literatura, da música e da cultura universal, de modo geral; mas ele começaria bem sendo, simplesmente, melhor consigo mesmo...

7 comentários:

Cleiton Machado disse...

Esse foi um dos textos mais lúcidos que já li a respeito do nosso Brasil, que bom seria se nossos governantes gozassem dessa lucidez.

Danilo Belo disse...

Grande post, parabéns pelo texto.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Grato pelo cumprimento, caro Cleiton. Nada do que eu disse é extraordinário. Tudo é tão evidente, tudo é tão visível a nossos olhos, que eu apenas me contentei em olhar o Brasil e escrever o que vejo.
Acho que ainda estamos longe de ser um país normal, e pelo andar da carruagem, vai demorar outro tanto para sequer nos aproximarmos do ideal, ou simplesmente do necessário.
O abraco do
Paulo Roberto de Almeida

Pedro Carrer disse...

Olá Caro Dr. Paulo Roberto,

Parabéns pelo texto tão lúcido e verdadeiro. Acredito fielmente que essa consciência deveria ser expandida a todos os demais brasileiros em especial aos governantes. O desenvolver de uma maturidade com relação ao nosso comportamento habitual, frente a diversas situações – como as citas em seu texto - é condição primordial para o desenvolvimento de um país melhor e isso, condição para se tornar um exemplo para o Mundo.
Entretanto tenho que fazer uma ressalva ao texto frente ao destaque de alguns brasileiros no cenário mundial com contribuições efetivas para o desenvolvimento do homem. Há um distinto compatriota que vem se tornando referência no mundo – especialmente entre os indivíduos mais ligados à cultura – em si tratando de filosofia e comportamento. Seu nome, DeRose, tem se tornando símbolo de uma maturidade comportamental única, desenvolvida com base em uma filosofia ancestral – de origem não brasileira – que propõem o desenvolvimento humano sustentado em conceitos tais como: boa qualidade de vida; boas maneiras; boas relações humanas; boa alimentação; boa cultura entre outros.
A proposta principal dessa filosofia – denominada Método DeRose - é o desenvolvimento de um indivíduo mais lúcido que seja capaz de exercer melhor o seu trabalho, sua posição na família e seu engajamento em qualquer ideal, seja ele político, humanitário, filantrópico, artístico ou outro qualquer. Ocorre que, com o desenvolvimento de uma superlativa lucidez o indivíduo quebra a pseudo idéia de um mundo dividido entre o “eu e os outros” e percebe que na verdade somos todos uma coisa só, estamos todos interligados não apenas dentro da espécie humana, mas entre todas as espécies e com o próprio planeta.
Sem partir à demagogia, nem à tentativa de convencer ninguém, o Método se desenvolve baseado no exemplo, na convivência com pessoas que já portam tais ideais e os expressam na vida diária. Somando-se a essa “egrégora” técnicas extremamente eficazes tais como respiratórios, descontração, técnicas corporais, concentração e meditação.
Cito este brasileiro e seu Método, pois tive a oportunidade conhecer seu trabalho – desenvolvido a cinquenta anos – e o percebi como uma referência para o mundo. Para ilustrar o que digo, hoje encontramos profissionais ensinando o método em quase vinte países – a maioria vem ao Brasil para se formar - e em vários de nossos estados. É o Brasil exportando cultura.
Assim, o que vejo é que, além de tudo o que o senhor explicitou, falta, aos brasileiros, duas outras coisas: a primeira é o apoio do governo e suas instituições às iniciativas menos integradas com os meios econômicos – ou melhor, menos rentáveis ao governo - e a segunda é o reconhecimento dos próprios brasileiros de seus distintos compatrícios, os quais muitas vezes são massacrados em sua “Mãe gentil” e precisam do reconhecimento internacional para, somente então, ser aqui valorizados.

Para saber masi sobre ele:
www.metododerose.org/blog

Um grande abraço

Pedro Carrer

Pedro Carrer disse...

A proposta principal dessa filosofia – denominada Método DeRose - é o desenvolvimento de um indivíduo mais lúcido que seja capaz de exercer melhor o seu trabalho, sua posição na família e seu engajamento em qualquer ideal, seja ele político, humanitário, filantrópico, artístico ou outro qualquer. Ocorre que, com o desenvolvimento de uma superlativa lucidez o indivíduo quebra a pseudo idéia de um mundo dividido entre o “eu e os outros” e percebe que na verdade somos todos uma coisa só, estamos todos interligados não apenas dentro da espécie humana, mas entre todas as espécies e com o próprio planeta.
Sem partir à demagogia, nem à tentativa de convencer ninguém, o Método se desenvolve baseado no exemplo, na convivência com pessoas que já portam tais ideais e os expressam na vida diária. Ao somar-se a essa “egrégora” técnicas extremamente eficazes tais como respiratórios, descontração, técnicas corporais, concentração e meditação, desenvolveu-se uma Cultura que vem conquistando destaque cada vez maior no cenário mundial.

Pedro Carrer disse...

Cito esse brasileiro e seu Método, pois tive a oportunidade conhecer seu trabalho – desenvolvido a cinquenta anos – e o percebi como uma referência para o mundo. Para ilustrar o que digo, hoje encontramos profissionais ensinando o método em quase vinte países – a maioria vem ao Brasil para se formar - e em vários de nossos estados. É o Brasil exportando cultura.
Assim, o que vejo é que, além de tudo o que o senhor explicitou, falta, aos brasileiros, duas outras coisas: a primeira é o apoio do governo e suas instituições às iniciativas menos integradas com os meios econômicos – ou melhor, menos rentáveis ao governo - e a segunda é o reconhecimento dos próprios brasileiros de seus distintos compatrícios, os quais muitas vezes são massacrados em sua “Mãe gentil” e precisam do reconhecimento internacional para, somente então, ser aqui valorizados

Pedro Carrer disse...

os meios econômicos – ou melhor, menos rentáveis ao governo - e a segunda é o reconhecimento dos próprios brasileiros de seus distintos compatrícios, os quais muitas vezes são massacrados em sua “Mãe gentil” e precisam do reconhecimento internacional para, somente então, ser aqui valorizados.