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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Brasil quer que China cometa os mesmos pecados protecionistas em que incide...

Não se trata, obviamente, de alguma frase usada e abusada do tipo "é a homenagem que o vício presta à virtude", mas sem dúvida o governo brasileiro quer obrigar os companheiros chineses -- são companheiros, pois não? -- a cometerem os mesmos pecados contra seus interesses nacionais a que ele obriga os industriais brasileiros -- para desgosto da FIESP, por exemplo -- no confronto com o protecionismo deslavado argentino: conter "voluntariamente" as exportações, um eufemismo tosco para dizer o seguinte: "olha aqui pessoal, se vocês não se comportarem, vou ser obrigado a usar meu arsenal protecionista e anti-ricardiano".
Patético, não é mesmo?
Sobretudo quando, como informa a matéria da BBC, o superávit bilateral brasileiro equivale a quase dois quintos de todo o superávit comercial brasileiro (mas, shrinking fast...).
Mas é a isso a que estamos assistindo nesse balé pouco diplomático, feito de meias palavras e intenções plenas, mas que não vão dar resultado, obviamente.
Ou alguém imagina o governo chinês dizendo a seus dinâmicos capitalistas: "Olha aí, pessoal, contenham-se, não exportem muito para o Brasil porque senão o governo deles vai querer abusar do protecionismo contra vocês" ?
Não imagino, eu pelo menos não. No máximo ele pode dizer: calma, pessoal, não façam dumping muito deslavadamente, pois isso pode virar contra vocês. De resto, virem-se, o mundo é de vocês e viva a globalização...
Paulo Roberto de Almeida 

Brasil e China discutem temas sensíveis sem chegar a acordo
Terra Notícias, 13 de fevereiro de 2012 • 18h55 •  atualizado 19h49

Os problemas comerciais entre Brasil e China foram amplamente discutidos nesta segunda-feira durante a segunda reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), mas nenhum acordo foi anunciado pelos dois países, que apesar de terem incrementado a corrente de comércio acumulam reclamações recíprocas.
O vice-presidente Michel Temer, que representou o governo brasileiro, pediu que os chineses façam um "dimensionamento voluntário das exportações" para o Brasil, principalmente em setores sensíveis. "Nos preocupamos com o aumento maciço e indiscriminado de produtos chineses no mercado brasileiro e somos obrigados a registrar que ocasionam deslocamentos da produção brasileira", discursou Temer para a comitiva chinesa.
O dimensionamento voluntário pedido pelo Brasil serve justamente para proteger setores como o têxtil e calçadista e evitar que sejam adotadas medidas drásticas como a adoção de salvaguardas contra produtos chineses, segundo disse a jornalistas um diplomata que participou das negociações da Cosban.
O vice-primeiro ministro chinês, Wang Qishan, que chefiou a delegação chinesa, assumiu o compromisso de aumentar as importações de bens manufaturados brasileiros para a China, mas não se comprometeu publicamente a controlar as exportações chinesas. "A parte chinesa vai continuar a aumentar a importação de produtos de alto valor agregado do Brasil", afirmou em breve declaração à imprensa no final do encontro.
Segundo um diplomata, que pediu para não ter seu nome revelado, o governo chinês entendeu "perfeitamente" o recado brasileiro e se comprometeu tratar a questão com "urgência". Apesar disso não ficou acertado nenhum mecanismo ou cotas. Ele contou que os chineses reclamaram das recentes medidas adotadas pelo governo brasileiro na área automobilística, aumentando o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre carros que não tenham pelo menos 60% de conteúdo nacional. "Dissemos que essa era uma medida temporária", disse o diplomata brasileiro.
Brasileiros e chineses também falaram sobre problemas específicos da Vale e da Embraer, mas nos dois casos também não houve grande avanço. No caso da Embraer, o governo brasileiro voltou a pedir que a China acelere as liberações de entrada dos aviões já encomendados e que a autorização para produção do jato Legacy naquele país seja concedida. Os chineses disseram que estão analisando os pedidos e que já tinham permitido a entrada de 14 aeronaves E-190, segundo uma fonte do governo que participou das reuniões.
O governo brasileiro também pediu que os chineses permitissem a atracação dos supercargueiros usados pela mineradora Vale e argumentaram que as embarcações tinham sido fabricadas na China e, portanto, não havia motivo para restrições. Segundo relato da fonte do governo, que falou sob condição de anonimato, os chineses alertaram que eram responsáveis "pelo aço e a pela mão-de-obra" usados para fabricar os supernavios, mas não pelo seu projeto. A fonte diplomática disse que há espaço para negociações em relação aos supercargueiros, dependendo de cada transporte, e que as restrições são por questões técnicas e não comerciais.
Economia internacional
Os dois países voltaram a reafirmar que querem ter posições conjuntas no âmbito internacional e nos fóruns do G20 e no grupo dos Brics, que também inclui Índia, Rússia e África do Sul.
"As duas partes concordaram que na atual conjuntura internacional de grande complexidade a tarefa mais importante é assegurar a recuperação da economia mundial. A China e o Brasil como dois grandes emergentes devem reforçar a nossa cooperação", afirmou Qishan. Na reunião que manteve com a presidente Dilma Rousseff, o chinês informou que o primeiro-ministro Wen Jiabao comandará a comitiva chinesa na Cúpula da Rio+20 no Brasil.
O governo brasileiro tem se esforçado para atrair o maior número de chefes de Estado e de governo para a Conferência das Nações Unidas Sobre o Desenvolvimento Sustentável, que será realizada no Rio de Janeiro em junho.
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Brasil pede à China que controle exportações ao país

Atualizado em  13 de fevereiro, 2012 - 19:18 (Brasília) 21:18 GMT
Wang Qishan e Michel Temer. ABr
Qishan e Temer participaram da segunda reunião da Cosban; eles voltarão a se reunir ainda este ano
O vice-presidente Michel Temer cobrou nesta segunda-feira a China a controlar o fluxo de produtos chineses vendidos ao Brasil, para evitar prejuízos à indústria nacional.
"Nos preocupamos com o aumento maciço e indiscriminado de produtos chineses no mercado brasileiro, o que, somos obrigados a registrar, ocasiona o deslocamento da produção brasileira", afirmou Temer, em discurso durante o segundo encontro da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), em Brasília.
Em seu discurso, antes do almoço com o vice-premiê chinês, Wang Qishan, Temer disse ter solicitado à China que considere um "eventual dimensionamento voluntário" das exportações chinesas ao Brasil.
Segundo um diplomata brasileiro, o Brasil está preocupado com os efeitos de exportações chinesas de baixo custo sobretudo nos setores têxtil e calçadista, num momento em que a crise na Europa e nos EUA faz com que exportadores recorram ao mercado brasileiro para escoar sua produção.
O diplomata diz que, no encontro, o governo brasileiro defendeu que os dois países orientem seu comércio bilateral de modo a explorar a "complementariedade das economias". Em outras palavras, o Brasil gostaria que as exportações chinesas se concentrassem nas áreas em que a indústria nacional não é capaz de atender às demandas do mercado doméstico.
Temer também se queixou do predomínio de matérias-primas (commodities) nas exportações brasileiras à China. A reclamação ecoa posição expressa pela presidente Dilma Rousseff em viagem a Pequim em abril de 2011
À época, Dilma afirmou que o Brasil gostaria de exportar aos chineses mais produtos industrializados, com maior valor agregado. Hoje, os principais itens exportados pelo Brasil à China são minério de ferro, soja e petróleo, responsáveis por quase 80% das vendas brasileiras ao país asiático.
Segundo um diplomata brasileiro, durante a reunião da Cosban, a comitiva chinesa se comprometeu a trabalhar para atender às duas reivindicações do Brasil.
Antes do almoço e da declaração à imprensa, Wang se reuniu com a presidente Dilma Rousseff e com empresários brasileiros.

Queixas chinesas

No encontro com os chineses, o governo brasileiro também ouviu queixas. De acordo com o Itamaraty, o Brasil foi cobrado pela decisão de aumentar em 30 pontos percentuais o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para veículos importados que não usem ao menos 65% de componentes fabricados no Mercusul.
Adotada em setembro, a medida afetou principalmente montadoras chinesas e coreanas.
Segundo o Itamaraty, o governo chinês afirmou que gostaria de dialogar sobre a decisão e sobre formas de aumentar o uso de componentes fabricados no Mercosul em carros chineses.
No encontro, Temer disse ainda ter tratado do interesse brasileiro em ampliar a venda de carnes de frango, boi e porco à China, bem como da venda de aviões da Embraer ao país asiático.
Segundo o Itamaraty, já foi confirmada a compra de 13 das 35 aeronaves da Embraer cuja venda foi acordada na viagem de Dilma à China, em 2011.
Outros temas tratados no encontro, de acordo com Temer, foram a facilitação à instalação de empresas brasileiras na China, o andamento de acordo para que a China receba ao menos cem estudantes brasileiros intercambistas (no âmbito do plano Ciências Sem Fronteiras) e a crição de centros culturais Brasil-China.

Cosban

Criada em 2004, a Cosban é a comissão de mais alto nível entre os governos do Brasil e da China, responsável pelo acompanhamento de diferentes áreas do relacionamento bilateral. Integram sua estrutura onze subcomissões, encarregadas dos campos político; econômico-comercial; econômico-financeiro; de inspeção e quarentena; de agricultura; de energia e mineração; de ciência, tecnologia e inovação; espacial; de indústria e tecnologia da informação; cultural e educacional.
A comissão deveria se reunir a cada dois anos, mas este foi o segundo encontro – o anterior ocorreu em 2006. Nesta segunda-feira, Temer disse ter solicitado que o próximo encontro ocorra até o fim de 2012. Segundo ele, o vice-premiê chinês concordou com a sugestão.
Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do Brasil. Em 2011, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as trocas bilaterais alcançaram US$ 77,1 bilhões, com superavit brasileiro de US$ 11,5 bilhões.
O superávit comercial brasileiro com a China equivale a 38% do superavit global do Brasil.

4 comentários:

Anônimo disse...

Sobre Mantega e o aumento do IPI:
http://www.cristianomcosta.com/2012/02/mantegada-semanal-22.html

Paulo Roberto de Almeida disse...

O Ministro Mantega realmente é uma pessoa impagável (com o meu dinheiro pelo menos...),
Transcrevo o que ele disse:

Mantegada Semanal #22

O Ministro Guido Mantega deu uma entrevista para Guilherme Barros na revista Isto É Dinheiro. Lá pelas tantas, ao discutir o aumento de IPI para os carros importados, o seguinte diálogo aconteceu:

Isto É Dinheiro: Os preços não cairiam mais para o consumidor se o mercado fosse livre?

Mantega: Se o mercado fosse livre, iria acabar com a indústria nacional. Só haveria produção na China, na Coreia, e o Brasil se tornaria só um grande importador. Voltaríamos ao Brasil da Primeira República.

Ele não respondeu a pergunta! A resposta é: sim, cairiam mais. Mas o ministro preferiu não responder e ainda debochar dos leitores falando que o país regrediria mais de 100 anos.

É brincadeira ou não é?

Tiago Moreno disse...

concordo que ele não respondeu...
concordo que os preços cairiam (ou pelo menos assim acredito)...
mas também sou obrigado a concordar que nossa indústria sumiria.. ou não? não temos igualdade competitiva para uma abertura dessa, temos?

Paulo Roberto de Almeida disse...

Eu diria que nossa industria se transformaria, e se integraria nos circuitos produtivos mundiais.
O que esse pessoal rustico anda fazendo é stalinismo industrial, ou seja, pretendendo que a nossa indústria viva em circuito fechado, isolada do mundo, protegida e vendendo só para o mercado interno.
Isso funciona um pouco, mas não se sustenta.
Paulo Roberto de Almeida