Qishan e Temer participaram da segunda reunião da Cosban; eles voltarão a se reunir ainda este ano
O vice-presidente Michel Temer cobrou nesta segunda-feira a China a controlar o fluxo de produtos chineses vendidos ao Brasil, para evitar prejuízos à indústria nacional.
"Nos preocupamos com o aumento maciço e indiscriminado de produtos chineses no mercado brasileiro, o que, somos obrigados a registrar, ocasiona o deslocamento da produção brasileira", afirmou Temer, em discurso durante o segundo encontro da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), em Brasília.
Em seu discurso, antes do almoço com o vice-premiê chinês, Wang Qishan, Temer disse ter solicitado à China que considere um "eventual dimensionamento voluntário" das exportações chinesas ao Brasil.
Segundo um diplomata brasileiro, o Brasil está preocupado com os efeitos de exportações chinesas de baixo custo sobretudo nos setores têxtil e calçadista, num momento em que a crise na Europa e nos EUA faz com que exportadores recorram ao mercado brasileiro para escoar sua produção.
O diplomata diz que, no encontro, o governo brasileiro defendeu que os dois países orientem seu comércio bilateral de modo a explorar a "complementariedade das economias". Em outras palavras, o Brasil gostaria que as exportações chinesas se concentrassem nas áreas em que a indústria nacional não é capaz de atender às demandas do mercado doméstico.
Temer também se queixou do predomínio de matérias-primas (commodities) nas exportações brasileiras à China. A reclamação ecoa posição expressa pela presidente Dilma Rousseff em viagem a Pequim em abril de 2011
À época, Dilma afirmou que o Brasil gostaria de exportar aos chineses mais produtos industrializados, com maior valor agregado. Hoje, os principais itens exportados pelo Brasil à China são minério de ferro, soja e petróleo, responsáveis por quase 80% das vendas brasileiras ao país asiático.
Segundo um diplomata brasileiro, durante a reunião da Cosban, a comitiva chinesa se comprometeu a trabalhar para atender às duas reivindicações do Brasil.
Antes do almoço e da declaração à imprensa, Wang se reuniu com a presidente Dilma Rousseff e com empresários brasileiros.
Queixas chinesas
No encontro com os chineses, o governo brasileiro também ouviu queixas. De acordo com o Itamaraty, o Brasil foi cobrado pela decisão de aumentar em 30 pontos percentuais o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para veículos importados que não usem ao menos 65% de componentes fabricados no Mercusul.
Adotada em setembro, a medida afetou principalmente montadoras chinesas e coreanas.
Segundo o Itamaraty, o governo chinês afirmou que gostaria de dialogar sobre a decisão e sobre formas de aumentar o uso de componentes fabricados no Mercosul em carros chineses.
No encontro, Temer disse ainda ter tratado do interesse brasileiro em ampliar a venda de carnes de frango, boi e porco à China, bem como da venda de aviões da Embraer ao país asiático.
Segundo o Itamaraty, já foi confirmada a compra de 13 das 35 aeronaves da Embraer cuja venda foi acordada na viagem de Dilma à China, em 2011.
Outros temas tratados no encontro, de acordo com Temer, foram a facilitação à instalação de empresas brasileiras na China, o andamento de acordo para que a China receba ao menos cem estudantes brasileiros intercambistas (no âmbito do plano Ciências Sem Fronteiras) e a crição de centros culturais Brasil-China.
Cosban
Criada em 2004, a Cosban é a comissão de mais alto nível entre os governos do Brasil e da China, responsável pelo acompanhamento de diferentes áreas do relacionamento bilateral. Integram sua estrutura onze subcomissões, encarregadas dos campos político; econômico-comercial; econômico-financeiro; de inspeção e quarentena; de agricultura; de energia e mineração; de ciência, tecnologia e inovação; espacial; de indústria e tecnologia da informação; cultural e educacional.
A comissão deveria se reunir a cada dois anos, mas este foi o segundo encontro – o anterior ocorreu em 2006. Nesta segunda-feira, Temer disse ter solicitado que o próximo encontro ocorra até o fim de 2012. Segundo ele, o vice-premiê chinês concordou com a sugestão.
Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do Brasil. Em 2011, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as trocas bilaterais alcançaram US$ 77,1 bilhões, com superavit brasileiro de US$ 11,5 bilhões.
O superávit comercial brasileiro com a China equivale a 38% do superavit global do Brasil.
Sobre Mantega e o aumento do IPI:
ResponderExcluirhttp://www.cristianomcosta.com/2012/02/mantegada-semanal-22.html
O Ministro Mantega realmente é uma pessoa impagável (com o meu dinheiro pelo menos...),
ResponderExcluirTranscrevo o que ele disse:
Mantegada Semanal #22
O Ministro Guido Mantega deu uma entrevista para Guilherme Barros na revista Isto É Dinheiro. Lá pelas tantas, ao discutir o aumento de IPI para os carros importados, o seguinte diálogo aconteceu:
Isto É Dinheiro: Os preços não cairiam mais para o consumidor se o mercado fosse livre?
Mantega: Se o mercado fosse livre, iria acabar com a indústria nacional. Só haveria produção na China, na Coreia, e o Brasil se tornaria só um grande importador. Voltaríamos ao Brasil da Primeira República.
Ele não respondeu a pergunta! A resposta é: sim, cairiam mais. Mas o ministro preferiu não responder e ainda debochar dos leitores falando que o país regrediria mais de 100 anos.
É brincadeira ou não é?
concordo que ele não respondeu...
ResponderExcluirconcordo que os preços cairiam (ou pelo menos assim acredito)...
mas também sou obrigado a concordar que nossa indústria sumiria.. ou não? não temos igualdade competitiva para uma abertura dessa, temos?
Eu diria que nossa industria se transformaria, e se integraria nos circuitos produtivos mundiais.
ResponderExcluirO que esse pessoal rustico anda fazendo é stalinismo industrial, ou seja, pretendendo que a nossa indústria viva em circuito fechado, isolada do mundo, protegida e vendendo só para o mercado interno.
Isso funciona um pouco, mas não se sustenta.
Paulo Roberto de Almeida