Deve representar, por baixo, algo como 10% do PIB e pelo menos metade das nossas mais dinâmicas exportações.
Não??!!
Incrível!
Pensei que o alho fosse um produto tão estratégico, tão indispensável na nossa cozinha, na nossa defesa contra os maus espíritos -- e eles abundam, reconheçamos, no Brasil -- na preservação do emprego e da renda nacionais, enfim, tão relevante que ele justificasse, realmente, que fosse acerbamente defendido, integrasse todas as listas de exceções do Mercosul e todo esse protecionismo comercial estratégico.
Suponho -- enfim, apenas imagino -- que os produtores de alho do Brasil conformem um lobby poderoso, formado por magnatas da economia nacional, integrado por ricaços que sempre vão a Brasília pedir, e obter, proteção contra essa insidiosa concorrência estrangeira, seja dos vizinhos do Mercosul, seja da mais distante China.
Se não é por isso, por que seria, por que as autoridades nos obrigam a pagar um alho mais caro, quando o poderíamos ter mais barato?
Por que esse recurso contínuo à proteção?
Ou os custos se ajustam, ou as pessoas vão plantar batatas, ou o que for mais competitivo...
Mas, não, isto é o Brasil...
Paulo Roberto de Almeida
O Globo, 22/02/2012
Setor quer prorrogação de medida antidumping
Nem o alho escapa da lista de produtos chineses que incomodam o Brasil. Desde 2007, os produtores brasileiros conseguiram garantir a sua fatia no mercado nacional com a aplicação de medida antidumping contra o similar chinês, que chega aqui por um preço menor do que aquele praticado no país de origem. Mas a medida perde a validade este ano e a Associação Nacional de Produtores de Alho (Anapa) está elaborando um pedido de prorrogação da restrição.
- Sem a medida antidumping, os produtores podem mudar de profissão. Não será possível mais produzir alho aqui. Trata-se de uma cultura muito artesanal, que demanda muita mão de obra, o que na China é bem mais barato do que aqui por razões conhecidas - afirma Rafael Corsino, presidente da Anapa e diretor da Wehrmann, uma das maiores empresas do Brasil no segmento.
Corsino lembra que na China existem 20 milhões de produtores, uma cidade de São Paulo, enquanto no Brasil o setor é bem menor:
- Aqui, não passamos de três mil. Por sorte, eles são grandes consumidores de alho e, por isso, só exportam 5% do que produzem. Se vendessem 10%, acabavam com a cultura no resto do mundo.
Desde os anos 90, com a abertura do mercado brasileiro ao comércio exterior, o país importa alho. Os produtores brasileiros, que forneciam 90% do que era consumido internamente à época, hoje só abastecem o mercado local com 30% do total. Em janeiro último, foram importadas no Brasil um total 941.414 caixas de alho da Argentina, enquanto da China vieram 271.176 caixas.
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