Tratado
Geral dos Minitratados
Reflexões sobre algumas
contradições humanas
Já inseri no meu blog DiplomataZ minha série de minitratados, uma coleção de pequenos textos curtos, aleatórios
na temática e esparsos no tempo, sobre aquilo que alguns filósofos poderiam chamar de
"grandes questões da humanidade".
Trata-se claramente de um divertissement, mas que não deixa de ter
um significado -- aliás vários -- que é complementar ao, ou diverso do, objeto
efetivamente tratado em cada um desses minitratados (aleatórios mas
cuidadosamente escolhidos).
Ou alguém acha que reticências, ou entrelinhas, constituem grande problemas
filosóficos da humanidade?
É uma maneira divertida, para os que apreciam ironias e sutilezas, para falar
dos sentimentos humanos, meus ou dos outros.
Listo abaixo a relação dos minitratados produzidos so far, aqui sem
transcrição completa, mas remetendo aos links para sua leitura integral.
Não tenho certeza de que coloquei todos os minitratados; pode ser que eu tenha
esquecido algum no caos de meus arquivos eletrônicos. Tenho de pesquisar: esses
minitratados são espertos, fugidios, eles se escondem nas mais surpreendentes
reentrâncias do pensamento...
Tenho vários outros planejados no pipeline, e aceito sugestões dos leitores
para novos minitratados, mas apenas sobre os mais graves problemas da
humanidade, como alertei anteriormente.
Mas de maneira divertida, como também coloquei, o que não deixa de ser
relevante, mesmo se constitui uma simples distração na leitura de coisas
verdadeiramente sérias...
Paulo Roberto de Almeida
(Texto escrito em 16 de abril de 2011)
Pouca gente dotada de
uma certa familiaridade com a palavra escrita consegue atribuir real
importância às reticências, inclusive este cidadão que aqui escreve. Quero
falar das reticências stricto sensu, isto é, os famosos três pontinhos ao final
de alguma frase ou expressão... (...)
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deste minitratado neste link.
Tratados, em geral,
costumam ser solenes, como convém aos grandes textos declaratórios, escritos em
tom impessoal e devendo refletir alguma realidade objetiva, uma relação entre Estados...
Minitratados, por suposição, deveriam ser versões reduzidas de seus irmãos
maiores... (...)
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Interrogantes são
inerentes à espécie humana, e talvez mesmo a certos primatas. Determinadas
escolhas, ou caminhos, nos levam a uma situação de melhor conforto material ou
de maior segurança pessoal, sem que, no entanto, saibamos, ou tenhamos certeza,
ao início, que aquela opção selecionada é, de fato, a de melhor retorno ou
benefício possível. Dúvidas, questionamentos, angústias, em face das
possibilidades abertas em nossa existência, são inevitáveis em todas as etapas
e circunstâncias da vida. Daí a interrogação, normalmente simbolizada pelo
sinal sinuoso que colocamos ao final de certas frases: ? (...)
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O
subserviente é aquele que se dobra às conveniências de uma autoridade superior,
mesmo quando essa autoridade atua manifestamente em detrimento de seus próprios
interesses pessoais; o subserviente prefere submeter-se às inconveniências
cometidas por aquela autoridade, e o faz de livre e espontânea vontade, ainda
que de modo vergonhoso, a ter de corrigir, mesmo gentilmente, essa mesma
autoridade. O subserviente, que também pode ser considerado um sabujo, no
sentido estrito, não hesita em desmentir-se, a posteriori, negar
declarações suas, previamente tornadas públicas, ou em afastar-se de posições
anteriormente assumidas, ou defendidas historicamente, apenas para se conformar
à vontade, muitas vezes irracional e inexplicável, dessa mesma autoridade
superior. Obviamente, ele não seria subserviente sem essa degradação moral.
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Há
muito tempo pretendia escrever um minitratado sobre o anonimato, mais uma peça
de relativa inutilidade substantiva, apenas para me distrair e para fazer
companhia a meus outros minitratados (um primeiro sobre as reticências, outro
sobre as entrelinhas, um terceiro sobre as interrogações, e um adicional, que
aliás não sei se já foi terminado, sobre as exclamações). Não se inquietem os
curiosos, pois tenho vários outros no pipeline, ou pelo menos nos meus
circuitos mentais, e a coleção deve ser enriquecida com algum besteirol
gratificante, cuja única função, pelo menos para mim, é servir a meu
próprio divertissement intelectual.
A imaginação não é um
simples sentido natural, e sim um ato da vontade, embora não possamos impedir
nossa própria consciência de imaginar “coisas”. Mas essas coisas imaginadas são
instruídas, orientadas, criadas e administradas por nós, como se fossemos um
diretor de cinema ou de teatro, quando eles dizem aos atores como o script deve
ser realmente lido e interpretado. (...)
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7) Minitratado
da reencarnação (28/02/2011)
Não, não quero falar
da reencarnação "real", aquela na qual acreditam piamente hindus e
tibetanos, pelo menos os religiosos, nisso seguindo, ao que parece, os antigos
egípcios, que já não estão mais entre nós para contar como a sua, supostamente
rica, experiência nessa matéria. Os primeiros são radicais, capazes até de
interromper a construção de um templo por uma minhoca que apareceu no canteiro
de obras; afinal, nunca se sabe: pode ser a mãe de alguém. Enfim, se os
egípcios ainda nos assustam com múmias de Hollywood, os outros nunca provaram o
que afirmam. (...)
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8) Minitratado
das Improbabilidades (16-17/03/2011)
Uma improbabilidade é algo
que, como o conceito indica, não corre nenhum risco de acontecer; constitui,
assim, um não-evento, uma impossibilidade prática. Poucas pessoas, salvo as
muito sonhadoras, ficam atrás, ou se colocam em busca, de coisas impossíveis,
ou seja, de improbabilidades. Aqueles que o fazem, de verdade, ou sinceramente,
costumam ser chamados de utopistas, ou talvez até, dependendo da natureza de
seus sonhos, de românticos incuráveis. (...)
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9) Minitratado
dos desencontros (2/04/2011)
O que é um
desencontro? Dito simplesmente, é uma defasagem, no tempo ou no espaço, entre
dois corpos, cada um seguindo vias próprias e diferenciadas, sem qualquer
possibilidade de cruzamento. Para fins deste minitratado, no entanto, o
desencontro é um descompasso entre dois sentimentos, um pretendendo resposta e
reação, o outro permanecendo desatento ou distraído, o que pressupõe alguma
instância de reciprocidade ou linha de cruzamento, mesmo virtual. (...)
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10) Minitratado
dos reencontros (14/04/2011)
O reencontro pode ser
considerado a inflexão da curva de dispersão, ou da linha de divergência, que
tinha sido formada, ou que existia, por ocasião do desencontro. Com efeito, o
reencontro só se justifica, na maior parte dos casos, após um desencontro ter
acontecido, salvo se a separação anterior foi uma obra do acaso, uma contingência
inesperada, um acidente de percurso ou seja lá qual fator acidental. (...)
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11) Minitratado
das corporações de ofício (9/07/2011)
Um amigo meu me escreve para dizer que está sendo perseguido por uma
poderosa corporação de ofício; enviou-me seu protesto por escrito: “Sou Réu”
(até me forneceu o número do processo). Bem, não vou poder ajudá-lo como eu (ou
ele) gostaria, pois não tenho esse poder; aliás, nem sou advogado, o que por
acaso me lembra que eu tampouco pertenço, profissionalmente, a qualquer uma dessas
poderosas organizações dedicadas a preservar o seu monopólio profissional (e,
adicionalmente, a achacar consumidores, como eu e você). Sou apenas da modesta
tribo dos sociólogos, não tão poderosa nem tão bem organizada quanto a dos
advogados, a dos engenheiros, a dos arquitetos, a dos médicos, a dos
economistas e as de muitas outras corporações dedicadas ao fechamento dos
mercados, de forma a converter todos os demais cidadãos em seus obrigados
clientes (mais propriamente em servos indefesos).
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O que
é o inusitado? Como diz o próprio conceito, trata-se de algo fora do normal,
além do padrão costumeiro das coisas, que só ocorre de forma imprevista, em
momentos não esperados, como uma surpresa. Diz-se, assim, dos acontecimentos
raros, ou mesmo inéditos, que rompem com o processo habitual dos fenômenos
correntes, ou de eventos pouco frequentes, que literalmente “caem do céu”,
qualquer que seja sua qualidade – boa ou má – e seu impacto circunstancial.
Sendo inusitado, sempre haverá um impacto, temporário ou permanente em função
de sua intensidade.
Saindo
do trabalho além da hora, cruzei com um colega no corredor, ele numa direção,
eu na oposta. Trocamos apenas as palavras habituais de cortesia, sem parar a
não ser por um rápido aperto de mão, “olá, como vai?, trabalhando muito?”;
“Pois é, é o jeito!”, ele disse, acrescentando ao final: “Vamos esperar pela
aposentadoria”, ou algo do estilo (sou péssimo para memorizar certas coisas,
além de edições de livros). Havia, evidentemente, certo sentido de cansaço
naquelas palavras, algo de desalento ou coisa do gênero. Enfim, nos despedimos
e fui para casa sem pensar mais naquele encontro. Mas de alguma coisa serviram
aquelas palavras, retidas em minha consciência, aparentemente.
Sempre
me intrigaram as dedicatórias, especialmente as estranhas (e, reparem bem,
existem as mais bizarras). Afinal de contas, para um leitor inveterado como eu,
impossível não tropeçar com elas bem no começo de um livro qualquer. Os bons
autores, maridos dedicados, pais extremosos, amantes amantíssimos, nunca deixam
de honrar seus amados, oferecendo-lhes a obra que você tem nas mãos, com
palavras obsequiosas, atenciosas, gentis. Normal tudo isso.
(Planejados para escrever)
15. Minitratado das renúncias inevitáveis
16. Minitratado da decadência
17. Minitratado dos impulsos criativos
18. Minitratado
dos impulsos destrutivos
19. Minitratado do contrarianismo
Conclusão: sobre as razões e as causas de algumas das
contradições humanas e sobre alguns modos de remediá-las...
Pensou num tema relevante? Indique...
Paulo Roberto de Almeida
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