Rubens
Ricupero
Folha de S.Paulo, 26/05/2014
Nada
na política brasileira para a América Latina possui a urgência de conceder
finalmente ao México a prioridade que merece. Nesse sentido, é uma pena que
os ciclos políticos dos dois países estejam sempre fora de sincronia.
Agora
mesmo o México vive os primeiros tempos de um presidente jovem e dinâmico. Em
poucos meses, o país votou cinco ou seis reformas que se consideravam
impossíveis, inclusive a do petróleo.
Prepara
terreno para vigoroso ciclo de crescimento com base em algo inimaginável no
Brasil de hoje: um pacto negociado entre os três maiores partidos com vistas
apenas ao interesse nacional.
O
presidente Enrique Peña Nieto visitou o Brasil logo depois de eleito,
suprimiu a exigência de vistos, mostrou-se convencido de que deveríamos nos
tratar como sócios estratégicos preferenciais.
Nomeou
para isso uma embaixadora de luxo, Beatriz Paredes, intelectual respeitada,
ex-governadora de seu estado, ex-presidente do PRI, o partido no poder.
Havendo
vontade política, seria a pessoa ideal para inaugurar a relação privilegiada
que faz falta entre os dois países latino-americanos de maior população e
economia mais expressiva.
Infelizmente,
por aqui se vive clima de fim de reino, vazio de esperança e de sonho. O
Brasil parece imitar o pior do México do passado, quando o PRI mantinha
perpétuo controle do poder por meio da co-optação e da corrupção.
O
nosso monstruoso presidencialismo de coalizão pode contar com 80 % do
Congresso (em teoria), mas jamais seria capaz de aprovar um pacto em
favor do Brasil.
Quando
comecei a lidar como diplomata com os assuntos mexicanos, nos anos 1970,
possuíamos indústria e capacidade empresarial incomparavelmente mais
adiantadas.
Tudo
isso acabou. Hoje, o México é o maior exportador de automóveis para os EUA e
o terceiro maior para o resto do mundo. Enfrentou e venceu o choque de
competitividade da China: conseguiu a proeza de ter custo de trabalho 15%
inferior ao chinês.
Quatro
anos atrás era moda exaltar o Brasil, onde se tinha a impressão de que tudo
dava certo e descartar o México, à beira do colapso devido à guerra bárbara
que o governo parecia estar perdendo contra o narcotráfico.
Hoje
a situação se inverteu: o México ganha aplausos enquanto o Brasil só
comparece na mídia internacional em razão das atrocidades dos presídios ou da
incompetência nos preparativos da Copa.
Altos
e baixos desse tipo ora favorecem um país, ora o outro. O importante é não
ceder a uma rivalidade infantil e perceber que entre o maior latino-americano
da Aliança do Pacífico e o maior do Mercosul deve haver coordenação em
benefício mútuo e dos demais.
Não
será com a China e a Ásia que vamos integrar nossas cadeias produtivas. Com o
México, que já dispõe de acesso privilegiado ao mercado dos EUA e do Canadá,
o projeto seria exequível.
Desde
que não se repita o "diktat" da presidente Dilma que, em março de
2012, impôs ao México uma cota restritiva de automóveis, fazendo com os
mexicanos o que fazem conosco os argentinos. O resultado, dois anos depois, é
que não conseguimos mais vender automóveis nem à Argentina, nem ao México,
nem a ninguém.
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Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
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