Não sei como – ou melhor, sei, foi escrevendo um artigo sobre os "intelectuais" – acabei caindo nesta antiga resenha de um jornalista da Veja, que fala sobre a destruição de bibliotecas inteiras.
De ordinário sou pacífico, mas acho que eu seria capaz de esganar quem dá ordens de eliminar livros...
Leiam.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de fevereiro de 2019
Recomendação: A História universal da destruição dos livros
Este artigo foi publicado originalmente em Veja On-line no dia 31/05/2006.
Autor: Jerônimo Teixeira
Os livros são objetos frágeis. Suscetíveis a diversas ameaças naturais – traças, inundações, incêndios –, têm de enfrentar ainda as mais destrutivas paixões humanas: o fanatismo religioso e a censura ideológica. História Universal da Destruição dos Livros (tradução de Léo Schlafman; Ediouro; 438 páginas; 49,90 reais), do ensaísta venezuelano Fernando Báez, é um assustador painel histórico da eliminação de bibliotecas. São documentados cinco milênios do que Báez chama de "memoricídio". Nunca houve uma época histórica sem alguma forma de perseguição aos livros (e, por extensão, a seus autores). Mais perturbador é constatar que não são só os brutos e ignorantes que acendem as fogueiras. O típico biblioclasta (destruidor de livros), pelo contrário, é um erudito que conhece em profundidade determinada tradição religiosa ou ideológica – e que por isso mesmo deseja banir qualquer dissidência. Até mesmo Platão teria destruído, segundo testemunhos, a obra de filósofos rivais.
O patriarca cristão Teófilo provavelmente foi responsável pela destruição de um anexo da biblioteca de Alexandria, no século IV. A religião sempre foi uma das principais motivações dos biblioclastas. Durante a Contra-Reforma, o rigor da Inquisição foi tal que até Bíblias em língua corrente eram queimadas, pois a Igreja Católica só admitia o livro sagrado em latim. O fanatismo político tem tanto poder destrutivo quanto o religioso. No século XX, não há imagem mais simbólica do obscurantismo biblioclasta do que as fogueiras de livros na Alemanha, em 1933 – um prelúdio sinistro do genocídio que os nazistas promoveriam na Europa. Joseph Goebbels, ministro da Propaganda nazista e mentor ideológico da destruição, estudou filologia na Universidade de Heidelberg. O livro de Báez registra outras ironias do mesmo naipe – como, por exemplo, a censura e a queima de livros promovidas na China comunista por um movimento que se intitulava Revolução Cultural.
Um comentário:
Muito bem, Paulo! Devia haver uma Declaração Universal sobre a Preservação do Património Bibliográfico! Acho que quem tivesse a estupidez de facilitar, propor ou promover a destruição de livros deveria ser condenado a ter o seu bãrbaro nome inscrito, a letras de infâmia, num “Hall of Shame” digital, uma espécie de bestiário onde esses palermas ganhassem o opróbrio eterno.
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