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terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Um debate sobre o papel de Kennan na doutrina da Guerra Fria - W. Gregory Perett

William D. Leahy as the father of containment

1) Comments, in lieu of Book review, by W. Gregory Perett
From: W. Gregory Perett, George Washington University
December 31, 2019, in H-Diplo

I am new to H Diplo. A couple of my colleagues at George Washington University recommended it as the most effective way to reach those interested in diplomatic history regarding a questionable representation of the role of George Kennan in post-World War II diplomacy.
The book in question is Phillips Payson O’Brien's _The Second Most Powerful Man in the World: The Life of Admiral William D. Leahy, Roosevelt’s Chief of Staff_ (Penguin, 2019).
The author makes a good case for Leahy’s influential role, but does so to the exclusion of almost every else in President Franklin Roosevelt’s entourage. The author suggests that even the influence of key foreign policy advisor Harry Hopkins faded during the war, and that Army Chief of Staff George Marshall did not count for much. On many occasions, Leahy outmaneuvers the not-so-bright Marshall. For example, in terms of Marshall’s call for a cross-Channel invasion in 1943 (Roundup), the author notes that Leahy opposed it and made sure that was never official U.S. policy.

My question for the H-Diplo community of scholars involves the role of George Kennan, which is also downplayed.
The author questions the State Department Office of the Historian’s claim that “Kennan ‘formulated’ the containment policy," and that Kennan’s ideas "became the basis of the Truman Administration’s foreign policy” (372).
He argues that "It is a bizarre view, as there is no evidence that President Truman ever read, or was even interested in, the Long Telegram. Leahy was aware of the document but paid it scant attention, not even mentioning Kennan’s existence in his diary until 1947...In truth, Kennan was a marginal figure in White House thinking” (372).
The author then writes that in 1946 Truman called for “one document combining the ideas of the top people in his administration” regarding the U.S.-Soviet relationship. He notes that Leahy “had more influence over its final shape than any other policy maker...The paper that Leahy wrote with his own ideas is one of the most revealing documents he ever produced.” The author includes a discussion of how Leahy organized his thoughts. Leahy analyzed Soviet behavior and then produced a set of policy recommendations, “a more subtle policy than was offered by anyone else close to the president.” The final document “was the real precursor document to the policy of containment...It was also the high point of Leahy’s influence over the road into the Cold War” (398-401).
Leahy’s memo contributing to the final report is reproduced as Appendix C to the book. Amazingly, what is reproduced, in fact, is the Long Telegram, reduced to bullet format. It was not “inspired by” the Long Telegram, it is a summary of the Telegram itself. While some sections are omitted, every single idea that Leahy included is in the precise order used in the Telegram, in always similar and often precisely the same language.
How do the experts on the topic out there react to this line of argument?
I would appreciate some guidance from the community on this point, because I lecture about it.
W. Gregory Perett
George Washington University,

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Grande estrategia e idiossincrasias corporativas: George Kennan - Paulo Roberto de Almeida

uma reflexão a partir da experiência de George Kennan

Paulo Roberto de Almeida

Lendo a biografia de John Lewis Gaddis, sobre o grande diplomata e historiador americano, que dominou a segunda metade do século XX, George F. Kennan: An American Life (New York: The Penguin Press, 2011), deparo-me com um trecho, relativo ao ano de 1943, quando Kennan era encarregado de negócios na legação dos Estados Unidos em Lisboa; negociações eram conduzidas na capital portuguesa para assegurar o uso, por forças americanas, dos Açores, como plataforma absolutamente indispensável para conduzir as operações europeias da Segunda Guerra Mundial em sua vertente norte-atlântica:
“[George Kennan] began to develop... a new sense of responsibility within the duties assigned to him: at several points over the next few years Kennan took risks that jeopardized his own Foreign Service career because he thought that the nationalinterest demanded that he do so. Obliged to operate for the first time at the level of grand strategy, he found the rules oh his profession falling short. He chose, successfully but dangerously, to violate them.” [Loc 3387 of 18204 Kindle edition, Amazon].
Gaddis informa ainda, na sequência dessa passagem, as circunstâncias em que Kennan decidiu assumir vários riscos em sua carreira, violando deliberadamente várias regras do jogo, tal como definidas por instituições excessivamente burocráticas ou muito conservadoras, quanto o Departamento de Estado ou o comando das Forças Armadas, como se pode depreender desta transcrição adicional:
During the Azores base negotiations [com o próprio Primeiro-Ministro português Antonio de Oliveira Salazar], Kennan violated at least four rules, any one of which could have him sacked from the Foreign Service. He exceeded his instructions in a conversation with a foreign head of government. He refused to carry out a presidential order. He lied, to another government, about the position of his own. And he went over the heads of his superiors in the State Department – as well as the secretary of war and the Joint Chiefs of Staff – to make direct appeal to the White House.” (Loc 3436 of 18204 Kindle edition, Amazon).

Estas passagens chamaram-me obviamente a atenção, ou “struck a cord on me”, como diria o próprio Gaddis, provavelmente o maior historiador vivo da Guerra Fria e o único biógrafo autorizado de George Kennan. Explico por que, já que isso tem a ver com a mesma sensação de barreiras burocráticas e conservadoras, em assuntos que demandariam uma visão mais larga dos processos diplomáticos, que eu já enfrentei na carreira. Não querendo me comparar a George Kennan, possivelmente o maior especialista diplomático americano em assuntos russos que jamais existiu nos anais daquele serviço diplomático, mas eu também adquiri, ainda antes de ingressar no serviço diplomático, uma percepção histórica e estrutural de muitos dos temas que compõem, burocraticamente, a agenda diplomática corrente. 
Tendo começado a estudar os assuntos brasileiros desde muito cedo – compulsando uma bibliografia de nível universitário, ou de pesquisa especializada, ainda quando estava em meio aos estudos do ciclo médio – desenvolvi provavelmente de maneira muito precoce um cuidado com a análise do contexto, dos precedentes históricos, e dos impactos estruturais ou implicações políticas de cada um dos problemas com que me deparava em minhas leituras ou pela leitura dos jornais de maior qualidade em suas edições dominicais (invariavelmente o velho jornal conservador O Estado de São Paulo, ainda quando discordasse profundamente de seus editoriais, que julgava representativos das opiniões da “classe dominante”). Foram anos, em meados da década de 1960, em que eu lia os grandes mestres da teoria social brasileira, entre eles os representantes da “escola paulista de Sociologia” – que pouco depois se tornaria minha alma mater, ao ter ingressado no curso de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP – e através dos quais eu filtrava minhas reações aos editoriais “reacionários” do Estadão, combinando todas essas leituras para refletir sobre os caminhos do desenvolvimento econômico e político brasileiro, no quadro das crises contínuas que agitavam o período que se tinha iniciado com o golpe de 1964, e que eu imaginava combater pela via do socialismo e de um governo comprometido com a “ditadura do proletariado”. 
Independentemente dessas ilusões e descaminhos ideológicos – que foram sendo corrigidos tão pronto eu deixei o país, no final de 1970, para conhecer o triste cenário do socialismo real do leste europeu e as nuances dos capitalismos realmente existentes na Europa, durante quase sete anos – eu adquiri, a partir desses hábitos juvenis de leitura, um sentido de abrangência analítica e de inserção contextual que me acompanharia pelo resto da vida, sobretudo no domínio profissional, quando ingressei na carreira diplomática, poucos meses depois de voltar da Europa em 1977. Mas o que isso quer dizer, no quadro desta seleção de trechos da biografia de Kennan por Lewis Gaddis? Explico-me agora mais detalhadamente. 
Ingressei no Itamaraty ainda na era militar, quando ainda pensava em derrubar o regime, embora não mais pela via das armas e sim pela via da pressão democrática. Tampouco pretendia converter o Brasil em uma nova Cuba ou uma nova China, como talvez fosse a intenção em meados dos anos 1960; mas o modelo ainda seria algo bem próximo do socialismo democrático europeu, que eu julgava bem mais propenso a empreender a correção das tremendas injustiças sociais em vigor no Brasil, desde sempre, do que, alternativamente, a visão mais pró-mercado que não tenho hesitação em defender atualmente. Nessa época, eu ainda era obrigado a escrever artigos com algum nom de plume, já que minhas “convicções radicais” provavelmente chocariam meus colegas e superiores diplomáticos – que eu considerava todos alinhados ao regime – e chamariam a atenção dos órgãos de segurança, especialmente ativos naquela conjuntura, quando a repressão física tinha amainado, mas o controle de inteligência continuava atento a todas as manobras da oposição ao governo militar.
Tendo iniciado minha carreira no Itamaraty por uma divisão secundária, a do Leste Europeu (então todo ele dominado pela União Soviética), pude distinguir-me rapidamente em alguns trabalhos analíticos, inclusive porque, ademais dos boletins da Radio Free Europe e da Radio Liberty – ambas financiadas pela CIA, obviamente – que líamos na DE-II, eu possuía um conhecimento interno, se ouso dizer, sobre o funcionamento desses regimes autoritários, já que tinha militado na esquerda marxista durante tempo suficiente para aprender – e apreender – todos os trejeitos vocabulares e as muitas peculiaridades políticas do mundo comunista. Recordo-me, em todo caso, de uma informação que preparei sobre o quadro político no leste europeu, em especial sobre a situação da Polônia, no imediato seguimento, em 1978, da surpreendente eleição do cardeal Karol Wojtila como o novo papa, de nome João Paulo II. Ao que parece, minha análise abrangente das implicações dessa escolha para todo o leste europeu e para o poder comunista foi devidamente apreciada pelos meus superiores, para ascender ao conhecimento do Gabinete do ministro, o que constitui, no Itamaraty, uma marca de distinção a dividir os assuntos que permanecem na “senzala”—como sempre foram depreciativamente chamados os serviços setoriais das divisões, no Anexo – e os que ascendem ao conhecimento da Casa Grande, como se designavam, respeitosamente, os dois gabinetes do Palácio. 
Não exatamente por esse episódio específico, mas talvez mais pelo meu jeito histórico-intelectual de interpretar cada iniciativa ou resposta do serviço diplomático brasileiro, em função de um contexto mais vasto, no tratamento dos assuntos da agenda corrente, fui sendo considerado um diplomata especial, ou diferente, talvez bizarro, em todo caso colocado num clube à parte, não necessariamente melhor, dessa tribo de elite dos servidores do Estado. De um lado, nunca tive que mendigar postos ou posições no curso da carreira, já que em geral recebia convites para servir em tal posto ou tal unidade da Secretaria de Estado; de outro lado, jamais me dediquei a “pescar” votos de colegas ou implorar apoio de chefes para ser promovido na escala funcional, o que ofenderia meus princípios pessoais, ou minha maneira de ser, mas que pode ter irritado muita gente da corporação. 
Tampouco pedia permissão para escrever à minha maneira – e não naquele burocratês diplomático que tanto desprezo – ou sequer me desculpava por pensar de forma muito diferente da maior parte dos colegas ou mesmo dos superiores, e mais de uma vez ousei contestar opiniões de chefes em reuniões de coordenação, quando os fundamentos de minha posição me pareciam suficientemente sólidos para levantar o dedo e exclamar – algumas vezes na estupefação dos colegas e alguns superiores – uma frase do tipo: “Não é bem assim [Fulano]!” Acho que isso talvez não tenha ajudado no curso ulterior, ou superior, da carreira. Já ao ingressar na carreira, revoltei-me contra a exigência, que sempre julguei absurda – e anticonstitucional, em todo caso violadora dos direitos individuais, que invariavelmente coloco acima dos interesses do Estado –, de ter de pedir permissão às autoridades pertinentes para contrair matrimônio com minha esposa: um abuso e uma indignidade, a que meu espírito anarquista jamais consentiu por princípio. Numa etapa intermediária, cansado do ritual de ter de pedir permissão para publicar que fosse uma simples resenha de livro sobre temas da diplomacia, deixei de submeter textos à apreciação superior, e passei a publicar o que julgava apropriado e conveniente (ainda que exercendo algum grau de autocensura no que era cabível dizer de público sobre tão augusta Casa e tão distinguido Serviço Exterior). 
De fato, se ouso julgar, agora, as características do serviço em prol do qual exerci meus talentos nas últimas três décadas e meia, eu diria que o Itamaraty tem uma cultura muito especial, em todo caso diferente das demais corporações a serviço do Estado. Confessadamente, eu nunca fui muito adepto das manias e trejeitos dos meus colegas diplomatas: trata-se de uma carreira ultra competitiva, com altas doses de autocontenção, marcada por dogmas de disciplina e hierarquia que nunca se encaixaram bem ao meu natural libertário, exigindo ainda certo enquadramento nos rituais internos para que essa competição seja bem sucedida no plano individual, ou seja, para que ela se reflita na progressão funcional, na atribuição de postos e outras distinções. Visivelmente, eu nunca pretendi me enquadrar no estilo de rigor. Sempre mantive meus hábitos de trabalho, em parte isolado, estudando e escrevendo, de outra parte falando com sinceridade aquilo que me parecia negativo do ponto de vista da pura racionalidade instrumental dos objetivos diplomáticos. Ainda que tal tipo de atitude possa suscitar admiração em certas áreas, acredito que essas não são as qualidades requeridas para se triunfar numa Casa que faz da obediência estrita aos superiores a pedra de toque para a inserção no inner circledos premiados oficiais.
Tomando como base o que acima vai descrito, não tenho qualquer restrição mental em confessar que, em diversas ocasiões, dissenti das opiniões oficiais da Casa – ou seja, aprovadas em alguma instância superior – no tratamento de temas específicos ou na condução de algumas negociações para as quais eu me julgava especialmente preparado, em função, justamente, dos estudos que eu conduzia paralelamente à carreira, para aprofundar-me nos assuntos que me eram atribuídos. Uma atitude desse tipo não é fácil de ser assumida, quando se trata, não das preliminares para a formulação de uma posição negociadora, mas de instruções formais, consubstanciadas em telegrama da série, com base na qual a resposta invariável do diplomata obediente deve ser: “Cumpri instruções”, e o chefe do posto passa a relatar como ele se ateve fielmente às ordens emanadas da Santa Casa.
Pessoalmente, já passei por esse tipo de situação, envolvendo uma negociação internacional de um tratado multilateral. Tendo me ocupado do tema durante meses e meses, eu literalmente dominava o assunto, técnica e diplomaticamente, e as instruções formuladas em Brasília, de nítido corte tradicional, eram claramente inadequadas. Os argumentos que poderiam ser mobilizados em favor de teses diferentes ou alternativas, por mais racionais ou “probatórios” que sejam (com base numa análise histórica, nos dados da economia, numa visão de longo prazo), nem sempre são convincentes ou suficientes para “dobrar” o burocrata na outra ponta do processo ou até fazer com que a instituição como um todo se mova em outra direção. Esse tipo de situação pode ser terrível, pois aparentemente (ou concretamente) o diplomata em causa pode estar se colocando contra as instruções da sua instituição.
Não tive medo de fazê-lo, naquele momento preciso, assim como em outras circunstâncias posteriores. De certa forma, esse tipo de atitude me prejudicou, pois fiquei com fama de rebelde, de dissidente, de arrogante, de pretencioso “sabe-tudo” e outros qualificativos mais, que nem são do meu conhecimento. Se insisto em certas teses é, contudo, com base num estudo profundo das problemáticas das quais me é dado ocupar. Sou por excelência um estudioso compulsivo, e não costumo me dobrar a nenhum argumento de autoridade, e sim à autoridade do argumento. Numa casa “feudal”, como é o Itamaraty, isso é quase um crime de lesa-majestade.
Mas o assunto supera as atitudes individuais de um diplomata, para adentrar no terreno mais complicado das questões macro-políticas, ou se quisermos, no eterno debate sobre como interpretar o chamado “interesse nacional”, um conceito altamente difuso para permitir qualquer tipo de argumento não fundamentado ou especioso. Não vou tratar das bases epistemológicas do que, exatamente, constituiria o interesse nacional nos limites desta reflexão, mas vou tratar da questão no contexto da própria formação e educação dos diplomatas. Acredito, com base numa avaliação puramente subjetiva, que poucos diplomatas têm uma cultura econômica verdadeira, ou seja, o instrumental analítico de cunho histórico e econômico que poderia levá-los a analisar uma questão qualquer de política externa do ponto de vista daquilo que os economistas chamam de custo-oportunidade do capital, ou seja, a eficiência paretiana dos meios e fins, que não se restringe ao melhor emprego dos recursos, ou a um cálculo sobre o retorno dos investimentos, mas envolve todos os “fatores de produção” de um determinado assunto diplomático. Tudo, ou quase tudo, na diplomacia, é feito de forma muito politizada e, por vezes, de forma irracional, já que levando em conta circunstâncias imediatas e as preferências políticas de quem manda, não necessariamente os interesses de mais longo prazo da nação.
Teríamos inúmeros exemplos de decisões claramente absurdas, no contexto mais vasto das tradições diplomáticas brasileiras, tomadas em certo período, e que no entanto foram tomadas, ao arrepio de qualquer racionalidade administrativa ou mesmo política; eximo-me, por razões diversas, mas claramente compreensivas, de discorrer sobre elas neste momento. O fato é que, em momentos como esses, o ator em questão tem várias escolhas, todas elas difíceis: submeter-se passivamente a instruções que ele pode julgar prejudiciais ao país ou ao serviço, no contexto dos interesses de mais longo prazo; negar cumprimento e argumentar alternativamente ao que julga contrário a suas convicções ou avaliação do tema em apreço; afastar-se do processo, com prejuízo pessoal ou fricção funcional. 
Minhas próprias atitudes sempre foram pautadas em função de minha trajetória habitual de estudos e de busca de coerência lógica no processo decisório, esforçando-me por manter minha indispensável integridade intelectual, em face de eventuais adversidades momentâneas, que sempre julgo devam ser afrontadas com serenidade e com a dignidade funcional que devem guiar o comportamento de membros de uma corporação como esta à qual pertenço. Em tempos difíceis de submissão a vocações autoritárias essas atitudes cobram um preço por vezes difícil em termos pessoais, mas a coerência e a honestidade na defesa de certos princípios, que reputamos mais elevados do que a acomodação servil, e a consciência de se estar defendendo causas mais altas do que as escolhas sectárias do momento constituem os prêmios mais gratificantes que se possa ter num itinerário de vida. 
Vale persistir, como aliás demonstrou o próprio George Kennan, ao abandonar a carreira diplomática, para ingressar numa categoria à parte da história intelectual de seu país, como um grande pensador das relações internacionais dos Estados Unidos. Sem aspirar a tanto, e sem renunciar a uma carreira que me trouxe tantos benefícios intelectuais e pessoais, vou persistir na defesa da coerência com o livre pensamento mesmo nos tempos sombrios e tristes de um outro regime autoritário.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 2409: 14 de julho de 2012.
Postado novamente no Diplomatizzando em 4/01/2016 (link: http://www.diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/01/george-kennan-era-um-contrarianista.html).


segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

George Kennan era um contrarianista? Provavelmente! Eu tambem... - Paulo Roberto de Almeida


uma reflexão a partir da experiência de George Kennan

Paulo Roberto de Almeida


Lendo a biografia de John Lewis Gaddis, sobre o grande diplomata e historiador americano, que dominou a segunda metade do século XX, George F. Kennan: An American Life (New York: The Penguin Press, 2011), deparo-me com um trecho, relativo ao ano de 1943, quando Kennan era encarregado de negócios na legação dos Estados Unidos em Lisboa; negociações eram conduzidas na capital portuguesa para assegurar o uso, por forças americanas, dos Açores, como plataforma absolutamente indispensável para conduzir as operações europeias da Segunda Guerra Mundial em sua vertente norte-atlântica:
“[George Kennan] began to develop... a new sense of responsibility within the duties assigned to him: at several points over the next few years Kennan took risks that jeopardized his own Foreign Service career because he thought that the national interest demanded that he do so. Obliged to operate for the first time at the level of grand strategy, he found the rules oh his profession falling short. He chose, successfully but dangerously, to violate them.” [Loc 3387 of 18204 Kindle edition, Ó Amazon].
Gaddis informa ainda, na sequência dessa passagem, as circunstâncias em que Kennan decidiu assumir vários riscos em sua carreira, violando deliberadamente várias regras do jogo, tal como definidas por instituições excessivamente burocráticas ou muito conservadoras, quanto o Departamento de Estado ou o comando das Forças Armadas, como se pode depreender desta transcrição adicional:
During the Azores base negotiations [com o próprio Primeiro-Ministro português Antonio de Oliveira Salazar], Kennan violated at least four rules, any one of which could have him sacked from the Foreign Service. He exceeded his instructions in a conversation with a foreign head of government. He refused to carry out a presidential order. He lied, to another government, about the position of his own. And he went over the heads of his superiors in the State Department – as well as the secretary of war and the Joint Chiefs of Staff – to make direct appeal to the White House.” (Loc 3436 of 18204 Kindle edition, Ó Amazon).

Estas passagens chamaram-me obviamente a atenção, ou “struck a cord on me”, como diria o próprio Gaddis, provavelmente o maior historiador vivo da Guerra Fria e o único biógrafo autorizado de George Kennan. Explico por que, já que isso tem a ver com a mesma sensação de barreiras burocráticas e conservadoras, em assuntos que demandariam uma visão mais larga dos processos diplomáticos, que eu já enfrentei na carreira. Não querendo me comparar a George Kennan, possivelmente o maior especialista diplomático americano em assuntos russos que jamais existiu nos anais daquele serviço diplomático, mas eu também adquiri, ainda antes de ingressar no serviço diplomático, uma percepção histórica e estrutural de muitos dos temas que compõem, burocraticamente, a agenda diplomática corrente.
Tendo começado a estudar os assuntos brasileiros desde muito cedo – compulsando uma bibliografia de nível universitário, ou de pesquisa especializada, ainda quando estava em meio aos estudos do ciclo médio – desenvolvi provavelmente de maneira muito precoce um cuidado com a análise do contexto, dos precedentes históricos, e dos impactos estruturais ou implicações políticas de cada um dos problemas com que me deparava em minhas leituras ou pela leitura dos jornais de maior qualidade em suas edições dominicais (invariavelmente o velho jornal conservador O Estado de São Paulo, ainda quando discordasse profundamente de seus editoriais, que julgava representativos das opiniões da “classe dominante”). Foram anos, em meados da década de 1960, em que eu lia os grandes mestres da teoria social brasileira, entre eles os representantes da “escola paulista de Sociologia” – que pouco depois se tornaria minha alma mater, ao ter ingressado no curso de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP – e através dos quais eu filtrava minhas reações aos editoriais “reacionários” do Estadão, combinando todas essas leituras para refletir sobre os caminhos do desenvolvimento econômico e político brasileiro, no quadro das crises contínuas que agitavam o período que se tinha iniciado com o golpe de 1964, e que eu imaginava combater pela via do socialismo e de um governo comprometido com a “ditadura do proletariado”.
Independentemente dessas ilusões e descaminhos ideológicos – que foram sendo corrigidos tão pronto eu deixei o país, no final de 1970, para conhecer o triste cenário do socialismo real do leste europeu e as nuances dos capitalismos realmente existentes na Europa, durante quase sete anos – eu adquiri, a partir desses hábitos juvenis de leitura, um sentido de abrangência analítica e de inserção contextual que me acompanharia pelo resto da vida, sobretudo no domínio profissional, quando ingressei na carreira diplomática, poucos meses depois de voltar da Europa em 1977. Mas o que isso quer dizer, no quadro desta seleção de trechos da biografia de Kennan por Lewis Gaddis? Explico-me agora mais detalhadamente.
Ingressei no Itamaraty ainda na era militar, quando ainda pensava em derrubar o regime, embora não mais pela via das armas e sim pela via da pressão democrática. Tampouco pretendia converter o Brasil em uma nova Cuba ou uma nova China, como talvez fosse a intenção em meados dos anos 1960; mas o modelo ainda seria algo bem próximo do socialismo democrático europeu, que eu julgava bem mais propenso a empreender a correção das tremendas injustiças sociais em vigor no Brasil, desde sempre, do que, alternativamente, a visão mais pró-mercado que não tenho hesitação em defender atualmente. Nessa época, eu ainda era obrigado a escrever artigos com algum nom de plume, já que minhas “convicções radicais” provavelmente chocariam meus colegas e superiores diplomáticos – que eu considerava todos alinhados ao regime – e chamariam a atenção dos órgãos de segurança, especialmente ativos naquela conjuntura, quando a repressão física tinha amainado, mas o controle de inteligência continuava atento a todas as manobras da oposição ao governo militar.
Tendo iniciado minha carreira no Itamaraty por uma divisão secundária, a do Leste Europeu (então todo ele dominado pela União Soviética), pude distinguir-me rapidamente em alguns trabalhos analíticos, inclusive porque, ademais dos boletins da Radio Free Europe e da Radio Liberty – ambas financiadas pela CIA, obviamente – que líamos na DE-II, eu possuía um conhecimento interno, se ouso dizer, sobre o funcionamento desses regimes autoritários, já que tinha militado na esquerda marxista durante tempo suficiente para aprender – e apreender – todos os trejeitos vocabulares e as muitas peculiaridades políticas do mundo comunista. Recordo-me, em todo caso, de uma informação que preparei sobre o quadro político no leste europeu, em especial sobre a situação da Polônia, no imediato seguimento, em 1978, da surpreendente eleição do cardeal Karol Wojtila como o novo papa, de nome João Paulo II. Ao que parece, minha análise abrangente das implicações dessa escolha para todo o leste europeu e para o poder comunista foi devidamente apreciada pelos meus superiores, para ascender ao conhecimento do Gabinete do ministro, o que constitui, no Itamaraty, uma marca de distinção a dividir os assuntos que permanecem na “senzala”—como sempre foram depreciativamente chamados os serviços setoriais das divisões, no Anexo – e os que ascendem ao conhecimento da Casa Grande, como se designavam, respeitosamente, os dois gabinetes do Palácio.
Não exatamente por esse episódio específico, mas talvez mais pelo meu jeito histórico-intelectual de interpretar cada iniciativa ou resposta do serviço diplomático brasileiro, em função de um contexto mais vasto, no tratamento dos assuntos da agenda corrente, fui sendo considerado um diplomata especial, ou diferente, talvez bizarro, em todo caso colocado num clube à parte, não necessariamente melhor, dessa tribo de elite dos servidores do Estado. De um lado, nunca tive que mendigar postos ou posições no curso da carreira, já que em geral recebia convites para servir em tal posto ou tal unidade da Secretaria de Estado; de outro lado, jamais me dediquei a “pescar” votos de colegas ou implorar apoio de chefes para ser promovido na escala funcional, o que ofenderia meus princípios pessoais, ou minha maneira de ser, mas que pode ter irritado muita gente da corporação.
Tampouco pedia permissão para escrever à minha maneira – e não naquele burocratês diplomático que tanto desprezo – ou sequer me desculpava por pensar de forma muito diferente da maior parte dos colegas ou mesmo dos superiores, e mais de uma vez ousei contestar opiniões de chefes em reuniões de coordenação, quando os fundamentos de minha posição me pareciam suficientemente sólidos para levantar o dedo e exclamar – algumas vezes na estupefação dos colegas e alguns superiores – uma frase do tipo: “Não é bem assim [Fulano]!” Acho que isso talvez não tenha ajudado no curso ulterior, ou superior, da carreira. Já ao ingressar na carreira, revoltei-me contra a exigência, que sempre julguei absurda – e anticonstitucional, em todo caso violadora dos direitos individuais, que invariavelmente coloco acima dos interesses do Estado –, de ter de pedir permissão às autoridades pertinentes para contrair matrimônio com minha esposa: um abuso e uma indignidade, a que meu espírito anarquista jamais consentiu por princípio. Numa etapa intermediária, cansado do ritual de ter de pedir permissão para publicar que fosse uma simples resenha de livro sobre temas da diplomacia, deixei de submeter textos à apreciação superior, e passei a publicar o que julgava apropriado e conveniente (ainda que exercendo algum grau de autocensura no que era cabível dizer de público sobre tão augusta Casa e tão distinguido Serviço Exterior).
De fato, se ouso julgar, agora, as características do serviço em prol do qual exerci meus talentos nas últimas três décadas e meia, eu diria que o Itamaraty tem uma cultura muito especial, em todo caso diferente das demais corporações a serviço do Estado. Confessadamente, eu nunca fui muito adepto das manias e trejeitos dos meus colegas diplomatas: trata-se de uma carreira ultra competitiva, com altas doses de autocontenção, marcada por dogmas de disciplina e hierarquia que nunca se encaixaram bem ao meu natural libertário, exigindo ainda certo enquadramento nos rituais internos para que essa competição seja bem sucedida no plano individual, ou seja, para que ela se reflita na progressão funcional, na atribuição de postos e outras distinções. Visivelmente, eu nunca pretendi me enquadrar no estilo de rigor. Sempre mantive meus hábitos de trabalho, em parte isolado, estudando e escrevendo, de outra parte falando com sinceridade aquilo que me parecia negativo do ponto de vista da pura racionalidade instrumental dos objetivos diplomáticos. Ainda que tal tipo de atitude possa suscitar admiração em certas áreas, acredito que essas não são as qualidades requeridas para se triunfar numa Casa que faz da obediência estrita aos superiores a pedra de toque para a inserção no inner circle dos premiados oficiais.
Tomando como base o que acima vai descrito, não tenho qualquer restrição mental em confessar que, em diversas ocasiões, dissenti das opiniões oficiais da Casa – ou seja, aprovadas em alguma instância superior – no tratamento de temas específicos ou na condução de algumas negociações para as quais eu me julgava especialmente preparado, em função, justamente, dos estudos que eu conduzia paralelamente à carreira, para aprofundar-me nos assuntos que me eram atribuídos. Uma atitude desse tipo não é fácil de ser assumida, quando se trata, não das preliminares para a formulação de uma posição negociadora, mas de instruções formais, consubstanciadas em telegrama da série, com base na qual a resposta invariável do diplomata obediente deve ser: “Cumpri instruções”, e o chefe do posto passa a relatar como ele se ateve fielmente às ordens emanadas da Santa Casa.
Pessoalmente, já passei por esse tipo de situação, envolvendo uma negociação internacional de um tratado multilateral. Tendo me ocupado do tema durante meses e meses, eu literalmente dominava o assunto, técnica e diplomaticamente, e as instruções formuladas em Brasília, de nítido corte tradicional, eram claramente inadequadas. Os argumentos que poderiam ser mobilizados em favor de teses diferentes ou alternativas, por mais racionais ou “probatórios” que sejam (com base numa análise histórica, nos dados da economia, numa visão de longo prazo), nem sempre são convincentes ou suficientes para “dobrar” o burocrata na outra ponta do processo ou até fazer com que a instituição como um todo se mova em outra direção. Esse tipo de situação pode ser terrível, pois aparentemente (ou concretamente) o diplomata em causa pode estar se colocando contra as instruções da sua instituição.
Não tive medo de fazê-lo, naquele momento preciso, assim como em outras circunstâncias posteriores. De certa forma, esse tipo de atitude me prejudicou, pois fiquei com fama de rebelde, de dissidente, de arrogante, de pretencioso “sabe-tudo” e outros qualificativos mais, que nem são do meu conhecimento. Se insisto em certas teses é, contudo, com base num estudo profundo das problemáticas das quais me é dado ocupar. Sou por excelência um estudioso compulsivo, e não costumo me dobrar a nenhum argumento de autoridade, e sim à autoridade do argumento. Numa casa “feudal”, como é o Itamaraty, isso é quase um crime de lesa-majestade.
Mas o assunto supera as atitudes individuais de um diplomata, para adentrar no terreno mais complicado das questões macro-políticas, ou se quisermos, no eterno debate sobre como interpretar o chamado “interesse nacional”, um conceito altamente difuso para permitir qualquer tipo de argumento não fundamentado ou especioso. Não vou tratar das bases epistemológicas do que, exatamente, constituiria o interesse nacional nos limites desta reflexão, mas vou tratar da questão no contexto da própria formação e educação dos diplomatas. Acredito, com base numa avaliação puramente subjetiva, que poucos diplomatas têm uma cultura econômica verdadeira, ou seja, o instrumental analítico de cunho histórico e econômico que poderia levá-los a analisar uma questão qualquer de política externa do ponto de vista daquilo que os economistas chamam de custo-oportunidade do capital, ou seja, a eficiência paretiana dos meios e fins, que não se restringe ao melhor emprego dos recursos, ou a um cálculo sobre o retorno dos investimentos, mas envolve todos os “fatores de produção” de um determinado assunto diplomático. Tudo, ou quase tudo, na diplomacia, é feito de forma muito politizada e, por vezes, de forma irracional, já que levando em conta circunstâncias imediatas e as preferências políticas de quem manda, não necessariamente os interesses de mais longo prazo da nação.
Teríamos inúmeros exemplos de decisões claramente absurdas, no contexto mais vasto das tradições diplomáticas brasileiras, tomadas em certo período, e que no entanto foram tomadas, ao arrepio de qualquer racionalidade administrativa ou mesmo política; eximo-me, por razões diversas, mas claramente compreensivas, de discorrer sobre elas neste momento. O fato é que, em momentos como esses, o ator em questão tem várias escolhas, todas elas difíceis: submeter-se passivamente a instruções que ele pode julgar prejudiciais ao país ou ao serviço, no contexto dos interesses de mais longo prazo; negar cumprimento e argumentar alternativamente ao que julga contrário a suas convicções ou avaliação do tema em apreço; afastar-se do processo, com prejuízo pessoal ou fricção funcional.
Minhas próprias atitudes sempre foram pautadas em função de minha trajetória habitual de estudos e de busca de coerência lógica no processo decisório, esforçando-me por manter minha indispensável integridade intelectual, em face de eventuais adversidades momentâneas, que sempre julgo devam ser afrontadas com serenidade e com a dignidade funcional que devem guiar o comportamento de membros de uma corporação como esta à qual pertenço. Em tempos difíceis de submissão a vocações autoritárias essas atitudes cobram um preço por vezes difícil em termos pessoais, mas a coerência e a honestidade na defesa de certos princípios, que reputamos mais elevados do que a acomodação servil, e a consciência de se estar defendendo causas mais altas do que as escolhas sectárias do momento constituem os prêmios mais gratificantes que se possa ter num itinerário de vida.
Vale persistir, como aliás demonstrou o próprio George Kennan, ao abandonar a carreira diplomática, para ingressar numa categoria à parte da história intelectual de seu país, como um grande pensador das relações internacionais dos Estados Unidos. Sem aspirar a tanto, e sem renunciar a uma carreira que me trouxe tantos benefícios intelectuais e pessoais, vou persistir na defesa da coerência com o livre pensamento mesmo nos tempos sombrios e tristes de um outro regime autoritário. 
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 2409: 14 de julho de 2012.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

A frase da semana: o obvio e o obscuro


We need education in the obvious more than investigation of the obscure.

Oliver Wendell Holmes, citado por John Lewis Gaddis, in Kennan (2011)

sábado, 14 de julho de 2012

Uma reflexao baseada em George Kennan - Paulo Roberto de Almeida


Grande estratégia e idiossincrasias corporativas:
uma reflexão a partir da experiência de George Kennan

Paulo Roberto de Almeida

Lendo a biografia de John Lewis Gaddis, sobre o grande diplomata e historiador americano, que dominou a segunda metade do século XX, George F. Kennan: An American Life (New York: The Penguin Press, 2011), deparo-me com um trecho, relativo ao ano de 1943, quando Kennan era encarregado de negócios na legação dos Estados Unidos em Lisboa; negociações eram conduzidas na capital portuguesa para assegurar o uso, por forças americanas, dos Açores, como plataforma absolutamente indispensável para conduzir as operações europeias da Segunda Guerra Mundial em sua vertente norte-atlântica:
“[George Kennan] began to develop... a new sense of responsibility within the duties assigned to him: at several points over the next few years Kennan took risks that jeopardized his own Foreign Service career because he thought that the national interest demanded that he do so. Obliged to operate for the first time at the level of grand strategy, he found the rules oh his profession falling short. He chose, successfully but dangerously, to violate them.” [Loc 3387 of 18204; Kindle edition, Amazon].
Gaddis informa ainda, na sequência dessa passagem, as circunstâncias em que Kennan decidiu assumir vários riscos em sua carreira, violando deliberadamente várias regras do jogo, tal como definidas por instituições excessivamente burocráticas ou muito conservadoras, quanto o Departamento de Estado ou o comando das Forças Armadas, como se pode depreender desta transcrição adicional:
During the Azores base negotiations [com o próprio Primeiro-Ministro português Antonio de Oliveira Salazar], Kennan violated at least four rules, any one of which could have him sacked from the Foreign Service. He exceeded his instructions in a conversation with a foreign head of government. He refused to carry out a presidential order. He lied, to another government, about the position of his own. And he went over the heads of his superiors in the State Department – as well as the secretary of war and the Joint Chiefs of Staff – to make direct appeal to the White House.” (Loc 3436 of 18204).

Estas passagens chamaram-me obviamente a atenção, ou “struck a cord on me”, como diria o próprio Gaddis, provavelmente o maior historiador vivo da Guerra Fria e o único biógrafo autorizado de George Kennan. Explico por que, já que isso tem a ver com a mesma sensação de barreiras burocráticas e conservadoras, em assuntos que demandariam uma visão mais larga dos processos diplomáticos, que eu já enfrentei na carreira. Não querendo me comparar a George Kennan, possivelmente o maior especialista diplomático americano em assuntos russos que jamais existiu nos anais daquele serviço diplomático, mas eu também adquiri, ainda antes de ingressar no serviço diplomático, uma percepção histórica e estrutural de muitos dos temas que compõem, burocraticamente, a agenda diplomática corrente.
Tendo começado a estudar os assuntos brasileiros desde muito cedo – compulsando uma bibliografia de nível universitário, ou de pesquisa especializada, ainda quando estava em meio aos estudos do ciclo médio – desenvolvi provavelmente de maneira muito precoce um cuidado com a análise do contexto, dos precedentes históricos, e dos impactos estruturais ou implicações políticas de cada um dos problemas com que me deparava em minhas leituras ou pela leitura dos jornais de maior qualidade em suas edições dominicais (invariavelmente o velho jornal conservador O Estado de São Paulo, ainda quando discordasse profundamente de seus editoriais, que julgava representativos das opiniões da “classe dominante”). Foram anos, em meados da década de 1960, em que eu lia os grandes mestres da teoria social brasileira, entre eles os representantes da “escola paulista de Sociologia” – que pouco depois se tornaria minha alma mater, ao ter ingressado no curso de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP – e através dos quais eu filtrava minhas reações aos editoriais “reacionários” do Estadão, combinando todas essas leituras para refletir sobre os caminhos do desenvolvimento econômico e político brasileiro, no quadro das crises contínuas que agitavam o período que se tinha iniciado com o golpe de 1964, e que eu imaginava combater pela via do socialismo e de um governo comprometido com a “ditadura do proletariado”.
Independentemente dessas ilusões e descaminhos ideológicos – que foram sendo corrigidos tão pronto eu deixei o país, no final de 1970, para conhecer o triste cenário do socialismo real do leste europeu e as nuances dos capitalismos realmente existentes na Europa, durante quase sete anos – eu adquiri, a partir desses hábitos juvenis de leitura, um sentido de abrangência analítica e de inserção contextual que me acompanharia pelo resto da vida, sobretudo no domínio profissional, quando ingressei na carreira diplomática, poucos meses depois de voltar da Europa em 1977. Mas o que isso quer dizer, no quadro desta seleção de trechos da biografia de Kennan por Lewis Gaddis? Explico-me agora mais detalhadamente.
Ingressei no Itamaraty ainda na era militar, quando ainda pensava em derrubar o regime, embora não mais pela via das armas e sim pela via da pressão democrática. Tampouco pretendia converter o Brasil em uma nova Cuba ou uma nova China, como talvez fosse a intenção em meados dos anos 1960; mas o modelo ainda seria algo bem próximo do socialismo democrático europeu, que eu julgava bem mais propenso a empreender a correção das tremendas injustiças sociais em vigor no Brasil, desde sempre, do que, alternativamente, a visão mais pró-mercado que não tenho hesitação em defender atualmente. Nessa época, eu ainda era obrigado a escrever artigos com algum nom de plume, já que minhas “convicções radicais” provavelmente chocariam meus colegas e superiores diplomáticos – que eu considerava todos alinhados ao regime – e chamariam a atenção dos órgãos de segurança, especialmente ativos naquela conjuntura, quando a repressão física tinha amainado, mas o controle de inteligência continuava atento a todas as manobras da oposição ao governo militar.
Tendo iniciado minha carreira no Itamaraty por uma divisão secundária, a do Leste Europeu (então todo ele dominado pela União Soviética), pude distinguir-me rapidamente em alguns trabalhos analíticos, inclusive porque, ademais dos boletins da Radio Free Europe e da Radio Liberty – ambas financiadas pela CIA, obviamente – que líamos na DE-II, eu possuía um conhecimento interno, se ouso dizer, sobre o funcionamento desses regimes autoritários, já que tinha militado na esquerda marxista durante tempo suficiente para aprender – e apreender – todos os trejeitos vocabulares e as muitas peculiaridades políticas do mundo comunista. Recordo-me, em todo caso, de uma informação que preparei sobre o quadro político no leste europeu, em especial sobre a situação da Polônia, no imediato seguimento, em 1978, da surpreendente eleição do cardeal Karol Wojtila como o novo papa, de nome João Paulo II. Ao que parece, minha análise abrangente das implicações dessa escolha para todo o leste europeu e para o poder comunista foi devidamente apreciada pelos meus superiores, para ascender ao conhecimento do Gabinete do ministro, o que constitui, no Itamaraty, uma marca de distinção a dividir os assuntos que permanecem na “senzala”—como sempre foram depreciativamente chamados os serviços setoriais das divisões, no Anexo – e os que ascendem ao conhecimento da Casa Grande, como se designavam, respeitosamente, os dois gabinetes do Palácio.
Não exatamente por esse episódio específico, mas talvez mais pelo meu jeito histórico-intelectual de interpretar cada iniciativa ou resposta do serviço diplomático brasileiro, em função de um contexto mais vasto, no tratamento dos assuntos da agenda corrente, fui sendo considerado um diplomata especial, ou diferente, talvez bizarro, em todo caso colocado num clube à parte, não necessariamente melhor, dessa tribo de elite dos servidores do Estado. De um lado, nunca tive que mendigar postos ou posições no curso da carreira, já que em geral recebia convites para servir em tal posto ou tal unidade da Secretaria de Estado; de outro lado, jamais me dediquei a “pescar” votos de colegas ou implorar apoio de chefes para ser promovido na escala funcional, o que ofenderia meus princípios pessoais, ou minha maneira de ser, mas que pode ter irritado muita gente da corporação.
Tampouco pedia permissão para escrever à minha maneira – e não naquele burocratês diplomático que tanto desprezo – ou sequer me desculpava por pensar de forma muito diferente da maior parte dos colegas ou mesmo dos superiores, e mais de uma vez ousei contestar opiniões de chefes em reuniões de coordenação, quando os fundamentos de minha posição me pareciam suficientemente sólidos para levantar o dedo e exclamar – algumas vezes na estupefação dos colegas e alguns superiores – uma frase do tipo: “Não é bem assim [Fulano]!” Acho que isso talvez não tenha ajudado no curso ulterior, ou superior, da carreira. Já ao ingressar na carreira, revoltei-me contra a exigência, que sempre julguei absurda – e anticonstitucional, em todo caso violadora dos direitos individuais, que invariavelmente coloco acima dos interesses do Estado –, de ter de pedir permissão às autoridades pertinentes para contrair matrimônio com minha esposa: um abuso e uma indignidade, a que meu espírito anarquista jamais consentiu por princípio. Numa etapa intermediária, cansado do ritual de ter de pedir permissão para publicar que fosse uma simples resenha de livro sobre temas da diplomacia, deixei de submeter textos à apreciação superior, e passei a publicar o que julgava apropriado e conveniente (ainda que exercendo algum grau de autocensura no que era cabível dizer de público sobre tão augusta Casa e tão distinguido Serviço Exterior).
De fato, se ouso julgar, agora, as características do serviço em prol do qual exerci meus talentos nas últimas três décadas e meia, eu diria que o Itamaraty tem uma cultura muito especial, em todo caso diferente das demais corporações a serviço do Estado. Confessadamente, eu nunca fui muito adepto das manias e trejeitos dos meus colegas diplomatas: trata-se de uma carreira ultra competitiva, com altas doses de autocontenção, marcada por dogmas de disciplina e hierarquia que nunca se encaixaram bem ao meu natural libertário, exigindo ainda certo enquadramento nos rituais internos para que essa competição seja bem sucedida no plano individual, ou seja, para que ela se reflita na progressão funcional, na atribuição de postos e outras distinções. Visivelmente, eu nunca pretendi me enquadrar no estilo de rigor. Sempre mantive meus hábitos de trabalho, em parte isolado, estudando e escrevendo, de outra parte falando com sinceridade aquilo que me parecia negativo do ponto de vista da pura racionalidade instrumental dos objetivos diplomáticos. Ainda que tal tipo de atitude possa suscitar admiração em certas áreas, acredito que essas não são as qualidades requeridas para se triunfar numa Casa que faz da obediência estrita aos superiores a pedra de toque para a inserção no inner circle dos premiados oficiais.
Tomando como base o que acima vai descrito, não tenho qualquer restrição mental em confessar que, em diversas ocasiões, dissenti das opiniões oficiais da Casa – ou seja, aprovadas em alguma instância superior – no tratamento de temas específicos ou na condução de algumas negociações para as quais eu me julgava especialmente preparado, em função, justamente, dos estudos que eu conduzia paralelamente à carreira, para aprofundar-me nos assuntos que me eram atribuídos. Uma atitude desse tipo não é fácil de ser assumida, quando se trata, não das preliminares para a formulação de uma posição negociadora, mas de instruções formais, consubstanciadas em telegrama da série, com base na qual a resposta invariável do diplomata obediente deve ser: “Cumpri instruções”, e o chefe do posto passa a relatar como ele se ateve fielmente às ordens emanadas da Santa Casa.
Pessoalmente, já passei por esse tipo de situação, envolvendo uma negociação internacional de um tratado multilateral. Tendo me ocupado do tema durante meses e meses, eu literalmente dominava o assunto, técnica e diplomaticamente, e as instruções formuladas em Brasília, de nítido corte tradicional, eram claramente inadequadas. Os argumentos que poderiam ser mobilizados em favor de teses diferentes ou alternativas, por mais racionais ou “probatórios” que sejam (com base numa análise histórica, nos dados da economia, numa visão de longo prazo), nem sempre são convincentes ou suficientes para “dobrar” o burocrata na outra ponta do processo ou até fazer com que a instituição como um todo se mova em outra direção. Esse tipo de situação pode ser terrível, pois aparentemente (ou concretamente) o diplomata em causa pode estar se colocando contra as instruções da sua instituição.
Não tive medo de fazê-lo, naquele momento preciso, assim como em outras circunstâncias posteriores. De certa forma, esse tipo de atitude me prejudicou, pois fiquei com fama de rebelde, de dissidente, de arrogante, de pretencioso “sabe-tudo” e outros qualificativos mais, que nem são do meu conhecimento. Se insisto em certas teses é, contudo, com base num estudo profundo das problemáticas das quais me é dado ocupar. Sou por excelência um estudioso compulsivo, e não costumo me dobrar a nenhum argumento de autoridade, e sim à autoridade do argumento. Numa casa “feudal”, como é o Itamaraty, isso é quase um crime de lesa-majestade.
Mas o assunto supera as atitudes individuais de um diplomata, para adentrar no terreno mais complicado das questões macro-políticas, ou se quisermos, no eterno debate sobre como interpretar o chamado “interesse nacional”, um conceito altamente difuso para permitir qualquer tipo de argumento não fundamentado ou especioso. Não vou tratar das bases epistemológicas do que, exatamente, constituiria o interesse nacional nos limites desta reflexão, mas vou tratar da questão no contexto da própria formação e educação dos diplomatas. Acredito, com base numa avaliação puramente subjetiva, que poucos diplomatas têm uma cultura econômica verdadeira, ou seja, o instrumental analítico de cunho histórico e econômico que poderia levá-los a analisar uma questão qualquer de política externa do ponto de vista daquilo que os economistas chamam de custo-oportunidade do capital, ou seja, a eficiência paretiana dos meios e fins, que não se restringe ao melhor emprego dos recursos, ou a um cálculo sobre o retorno dos investimentos, mas envolve todos os “fatores de produção” de um determinado assunto diplomático. Tudo, ou quase tudo, na diplomacia, é feito de forma muito politizada e, por vezes, de forma irracional, já que levando em conta circunstâncias imediatas e as preferências políticas de quem manda, não necessariamente os interesses de mais longo prazo da nação.
Teríamos inúmeros exemplos de decisões claramente absurdas, no contexto mais vasto das tradições diplomáticas brasileiras, tomadas em certo período, e que no entanto foram tomadas, ao arrepio de qualquer racionalidade administrativa ou mesmo política; eximo-me, por razões diversas, mas claramente compreensivas, de discorrer sobre elas neste momento. O fato é que, em momentos como esses, o ator em questão tem várias escolhas, todas elas difíceis: submeter-se passivamente a instruções que ele pode julgar prejudiciais ao país ou ao serviço, no contexto dos interesses de mais longo prazo; negar cumprimento e argumentar alternativamente ao que julga contrário a suas convicções ou avaliação do tema em apreço; afastar-se do processo, com prejuízo pessoal ou fricção funcional.
Minhas próprias atitudes sempre foram pautadas em função de minha trajetória habitual de estudos e de busca de coerência lógica no processo decisório, esforçando-me por manter minha indispensável integridade intelectual, em face de eventuais adversidades momentâneas, que sempre julgo devam ser afrontadas com serenidade e com a dignidade funcional que devem guiar o comportamento de membros de uma corporação como esta à qual pertenço. Em tempos difíceis de submissão a vocações autoritárias essas atitudes cobram um preço por vezes difícil em termos pessoais, mas a coerência e a honestidade na defesa de certos princípios, que reputamos mais elevados do que a acomodação servil, e a consciência de se estar defendendo causas mais altas do que as escolhas sectárias do momento constituem os prêmios mais gratificantes que se possa ter num itinerário de vida.
Vale persistir, como aliás demonstrou o próprio George Kennan, ao abandonar a carreira diplomática, para ingressar numa categoria à parte da história intelectual de seu país, como um grande pensador das relações internacionais dos Estados Unidos. Sem aspirar a tanto, e sem renunciar a uma carreira que me trouxe tantos benefícios intelectuais e pessoais, vou persistir na defesa da coerência com o livre pensamento mesmo nos tempos sombrios e tristes de um outro regime autoritário.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 2409: 14 de julho de 2012.

sexta-feira, 9 de março de 2012

John Lewis Gaddis fala de seu biografado George Kennan


Biography Reveals Personality of Early Cold Warrior

CONTEXT

Wilson Center, Cold War History Project
George Kennan Main Image
What "The Father of Containment" Can Teach Us About Today's Challenges
Henry Kissinger, writing in the New York Times, had this to say about John Lewis Gaddis' epic biography of George F. Kennan: "His magisterial work, George F. Kennan: An American Life, bids fair to be as close to the final word as possible on one of the most important, complex, moving, challenging and exasperating American public servants."
Long before his death, Kennan selected Gaddis to be his biographer. And when Kennan died in 2005, Gaddis gained unprecedented access to personal diaries and other documents that helped him create a vivid portrait of the man considered by many to be the most influential foreign policy theorists of the Cold War era. In his New York Times essay, Kissinger said that, "no other Foreign Service officer ever shaped American foreign policy so decisively or did so much to define the broader public debate over America’s world role," than did George Kennan.
We spoke to John L. Gaddis not only to learn about Kennan's life and work, but also to find out if his world view was relevant to understanding today's foreign policy challenges.
John Lewis Gaddis is the Robert A. Lovett Professor of Military and Naval History at Yale University and is considered to be the nation's preeminent Cold War historian. In fact, the New York Times has called him, the "Dean of Cold War Historians." He is also the official biographer of the seminal 20th century statesman George F. Kennan.
How did you come to be Kennan's biographer and what was the nature of your relationship?
Did your sense of who he was and what motivated him change after reading through his personal diaries?
With the benefit of hindsight, what is most impressive about George Kennan's understanding of the Cold War?
On the flip side, what did he get wrong?
What can we learn from Kennan that is most relevant to today's world?

terça-feira, 22 de novembro de 2011

George Kennan biography by John Lewis Gaddis (NYRBooks)


Is This George Kennan?

The New York Review of books, DECEMBER 8, 2011

Frank Costigliola


George F. Kennan: An American Life
by John Lewis Gaddis
Penguin, 784 pp., $39.95                                                  
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George Kennan, 1984
It seemed like the perfect match. In the late 1970s John Lewis Gaddis was smart, sympathetic, and eager to write the biography. George F. Kennan admired Gaddis as probably “the best of the younger historians of American policy in the immediate postwar period.”1 Kennan had earned enormous respect over his long career as a diplomat, historian, public intellectual, and critic of US policy in the cold war. Yet he remained thin-skinned about any disparagement. Anxious to have his voice heard by future generations, Kennan worried that “weak and superficial”—and wrongheaded—biographies would garble his message and life story.2
The intellectual turmoil of the 1960s and 1970s amplified that concern. Some younger historians, spurred by their abhorrence of the Vietnam War and by the analyses of William A. Williams and others on the New Left, were critical of the foreign policy establishment, Kennan included, even though he had spoken out eloquently against the conflict in Southeast Asia. Kennan’s American Diplomacy, which had won widespread praise after its publication in 1951, was now being dismissed as “obscurantist and misleading,” a reviewer in these pages reported in August 1968.3
Gaddis, in contrast, praised the wisdom and necessity of Kennan’s famous doctrine arguing that the right approach to the USSR was “containment,” not aggressive military action. Kennan had articulated these ideas in his so-called Long Telegram of 1946 from the US embassy in Moscow, and his “Mr. X” article of 1947 inForeign Affairs, and while director of the State Department’s policy planning staff from 1947 to 1949. Gaddis’s widely read Strategies of Containment praised Kennan as the brilliant “grand strategist” of the late 1940s who had astutely assessed problems and had recommended the right mix of policies to deal with them. In 1977, Foreign Affairs published a retrospective essay by Gaddis lauding Kennan’s foresight, consistency, and caution regarding the use of US military force.
When two younger historians, citing recently declassified documents, charged in 1978 that the containment doctrine was dangerously vague, and that Kennan in 1948–1949 had in fact recommended military intervention to deal with political crises in Italy and Taiwan, Gaddis publicly mocked them for puffing up such “curiosities.”4 Kennan appreciated this defense. He confided to Gaddis that he was
appalled at the inability of many of our scholars to look carefully at the wording of official documents and to put them into the [proper] context…. [While] I have no desire to enter in a polemic with [those] whose opinion I do not greatly value, I do, however, value your own opinion.5
In the fall of 1981, Gaddis put to Kennan, who would soon turn seventy-eight, the possibility of his writing an authorized biography to be published posthumously. He asked for exclusive access to the Kennan diaries, letters, and other papers still closed to other scholars, and he wanted to be able to talk to Kennan about the past. Kennan accepted eagerly: “I can think of no one who…would be better qualified than yourself.” He added, “I value your contribution especially, because so much nonsense has been talked about ‘containment.’”6
There soon surfaced, however, hints of a disagreement that would cause the older man some anguish. Though Gaddis lauded Kennan’s “grand strategy” between 1946 and 1948 to contain the Soviet Union, he remained largely unsympathetic to Kennan’s efforts in the subsequent forty years to propose a changed relationship with the Soviets that would lead through negotiations to an easing of the cold war. Kennan tried to explain this position to Gaddis repeatedly. He had always regarded “successful containment not as an end in itself but as the prerequisite for the ultimate process of negotiation.” Since 1948, he had viewed the division of Europe into Soviet and American spheres as a dangerous “geopolitical anomaly.” The creation of NATO and the Warsaw Pact, the armies eyeballing each other across the West German–East German frontier, and the deadly weapons on hair-trigger alert—all this disturbed Kennan, who increasingly feared nuclear war.
He lamented his failure, particularly between 1948 and 1958, to convince Washington and its allies in Western Europe to trade their “‘positions of strength’” for a Soviet pullback from Eastern Europe, nuclear reductions, and a reknitting of divided Germany and Europe.7 Kennan never claimed that such negotiations would succeed. Rather he insisted, and in numerous articles and speeches pleaded, that the horrors of nuclear war made it foolhardy not to try. Gaddis, who regarded the cold war as a secure “long peace” and who edged to a more conventional hard-line view from the 1970s on, shared neither Kennan’s concerns nor his analysis. Though their relations remained cordial, Kennan’s letters and diaries show that the aging man was bothered by their differences. It would have been understandable if this disagreement caused some delay in Gaddis’s completion of his masterwork.
By 2000, Kennan, now ninety-six years old, despaired in his diary that Gaddis “had no idea of what was really at stake” in the “long battle I was waging…against the almost total militarization of Western policy towards Russia.” Looking back at the nuclear holocaust narrowly averted during the Cuban missile episode and the Berlin crisis of 1958 to 1961, and at the costly proxy wars waged in Vietnam and elsewhere, he believed that “had my efforts been successful,” they “could have obviated the vast expenses, dangers, and distortions of outlook of the ensuing Cold War.” Then, perhaps thinking of the time and faith invested in his chronicler, Kennan lamented:
That this battle should not be apparent even to the most serious of my postmortem biographers means that the most significant of the efforts of the first half of my career—namely, to bring about a reasonable settlement of the European problems of the immediate postwar period—will never find their historian or their understanding. And this is hard.8
Kennan, then approaching the end of his 101-year life, judged “the most significant effort” of his career not his helping to formulate the policies to contain the Soviet Union, but rather his subsequent push for Washington to establish workable relations with Moscow. He had, after all, predicted in his “Mr. X” article that Soviet communism would come to an end, and he had been proved right.
Despite its problems of perspective and balance, Gaddis’s George F. Kennanremains a monumental and absorbing book. His prose is elegant and lively. Though Kennan will likely attract other biographers, none will be able to match the research on display here. Not only has Gaddis pored through Kennan’s 20,000-page diary, a separate “dream diary” of reflections, and the 300-plus boxes of other papers by Kennan now open for research at Princeton, but he also conducted many interviews with the former diplomat and his associates. Most of those people are now gone. Gaddis had privileged access to family papers still in the possession of Kennan’s daughter. The cordial correspondence and discussions between “George” and “John” fill three manuscript boxes. Gaddis did extensive work in other US archives. There are some British and even a few Russian documents. He is often perceptive, sensitive, and reflective. And he is justifiably proud that George and his wife, Annelise, became for two decades “my companions.”
Gaddis’s political predilections—as evidenced by his enthusiasm for Kennan as cold warrior in 1946–1948 and his skepticism about Kennan as peacemaker in later years—shape this biography. He sides largely with Kennan’s critics, such as former secretary of state Dean Acheson, in the heated debate over Kennan’s advocacy in 1957–1958 for US “disengagement” from the cold war in Europe. Indeed, while quoting extensively from Acheson’s venomous assault on Kennan inForeign Affairs, Gaddis merely notes but does not quote Kennan’s rebuttal in the same journal.
In 1966–1968, Kennan articulated a set of cogent and prescient ideas and policies in response to the Vietnam War and other changes around the world. The former cold warrior had an important part in making opposition to the Vietnam War respectable. The biography, however, devotes only one paragraph to recounting the substance of Kennan’s testimony in February 1966 before Senator J. William Fulbright’s Foreign Relations Committee. Kennan’s strong testimony in January 1967 on the futility of the war, at a time when it had become a bitter national issue, goes unmentioned. Nor, curiously, does the book even mention Kennan’s early and influential endorsement of Senator Eugene McCarthy in the 1968 Democratic presidential primaries on grounds of McCarthy’s opposition to the war.
The biography suffers from this neglect. In the heated cross fire of the Senate hearings, Kennan outlined long-range principles grounded in history. He laid out a strategy that if not grand was certainly wise: scrutinizing old ideas and knee-jerk attitudes, insisting that the nation’s goals match resources, and guarding against both overinvolvement and timidity. He argued that much of China’s fierce rhetoric stemmed from that nation’s past humiliation by the West. “A new generation of Chinese leaders” would likely improve relations, he believed. He was also prescient in warning, a year before the Soviets crushed the Prague Spring, that such an uprising would induce the Soviets to march, just as “the Tsar’s government would have moved in.”9
As in the 1950s, Kennan worried about the military standoff along the border of the two Germanies. For him, serious danger lay not in far-off Vietnam but rather in the nuclear arms race. Washington’s primary challenge was in “the real possibilities for a genuine…exciting and constructive…understanding eventually between the Russian people and our people.” This lifelong lover of Russian culture remarked, “If I did not believe this was a possibility I wouldn’t have led the life I have for the last forty years.”10
Regarding Vietnam, where escalation was yielding only stalemate, Kennan urged securing enclaves in the south, halting military offensives and bombing, and inviting negotiations. He wanted a US withdrawal but not a precipitous and humiliating exit. As millions watched on television, Kennan argued before the Senate Foreign Relations Committee that Americans should neither forget that “we are a great nation” able to endure the loss of South Vietnam nor delude ourselves with “illusions about invincibility.” Americans were vulnerable to manipulation. “Practically everybody who wants our aid in the world claims that he wants it in the cause of freedom.” No matter the military arguments, “the spectacle of Americans” attacking “a poor and helpless people, and particularly a people of different race and color,” wreaked “psychological damage” to America’s global image. He stressed “that there is more respect to be won…by a resolute and courageous liquidation of unsound positions than by the most stubborn pursuit of extravagant or unpromising objectives.”11
Citing Woodrow Wilson’s futile promotion of elections in Russia in 1918–1919, Kennan argued that such empty rituals could not stabilize South Vietnam. In general, “it is very, very difficult for outsiders to come into a situation”—any foreign situation—”and to do good.” Moreover, “by our interference” in peripheral matters, “we raise questions of prestige which need not have been raised.” Far better to “bring our influence to bear…through the power of the example of our own civilization here at home.” He summed up his testimony by quoting John Quincy Adams’s famous speech of July 4, 1821: “While America stood as ‘the well-wisher to the freedom and independence of all,’ she should be ‘the champion and vindicator only of her own.’”12
This carefully argued position does not get adequate attention in Gaddis’s account. Nor, as has been said, does he recount how on February 29, 1968—between the beginning of the Tet Offensive on January 31 and the New Hampshire primary on March 12—Kennan, the originator of the containment doctrine supposedly justifying the Vietnam War, addressed a crowd in Newark, New Jersey. He attacked the war as a “grievously unsound” venture that had invested huge resources in a “single secondary theater of world events.” Escalation threatened nuclear conflict with China or Russia. The gravity of the situation approached “the first months of 1942.” The war was alienating America’s youth and much of the world. Kennan scorned the Johnson administration for forgetting that a country such as ours owed “a decent respect to the opinions of mankind.” His talk amounted to a devastating critique of the administration’s “grand strategy.”
Kennan finished with a strong endorsement of Eugene McCarthy, who deserved “our admiration, our sympathy, and our support.”13 At first McCarthy’s campaign had seemed a quixotic gesture, notable only for the enthusiasm of its young supporters. That Kennan came out for McCarthy—whose surprisingly high vote in the New Hampshire primary helped persuade Johnson not to run—was a remarkable moment in American political history, and it is hard to understand why Gaddis ignores it.
From the 1960s to the 1980s, with the nuclear arms race seemingly unstoppable, Kennan grew almost frantic about an imminent holocaust. “The only thing I have left in life,” he told Arthur Schlesinger Jr., “is to do everything I can to stop the war.” Appalled at President Ronald Reagan’s ramped-up arms spending and rhetoric about the “evil empire,” Kennan denounced the administration as “ignorant, unintelligent, complacent and arrogant; worse still is the fact that it is frivolous and reckless.” Even after Reagan reversed course and began serious arms reduction negotiations with Mikhail Gorbachev, Kennan remained skeptical about the President. Gaddis, for his part, admires Reagan as being “like Franklin D. Roosevelt…an instinctive grand strategist” and finds that Kennan’s “attitude bordered on the outrageous.” Yet at the time, many highly qualified scientists used just such words about Reagan’s insistence on pursuing an impracticable and immensely expensive system of “Star Wars.”
In 1981, when he made his agreement with Gaddis, Kennan wrote that while he thought Gaddis the most qualified historian “so far as the political-intellectual part of the biography is concerned,” he was unsure about Gaddis’s understanding of his personal life. Gaddis responded, rightly, that the personal sphere could not be separated from the political one.14 That Kennan struggled to control his emotions was obvious not only to his biographer but also to other close observers. The Russian expert Charles E. “Chip” Bohlen, who had known Kennan since the early 1930s, remarked that his friend could not always “divorce his visceral feelings from his knowledge of facts.” Another colleague saw him as emotionally fragile: “It was difficult for him to take unpleasant things.” Isaiah Berlin, who was with him in Moscow in 1945, recalled that Kennan “was terribly absorbed—personally involved, somehow—in the terrible nature of the [Stalin] regime.”
Kennan himself “stressed the importance of the psychological dimension” in his life.15 He told Gaddis that “the inner emotional life of any person, as Freud discovered, is a dreadful chaos. We all have vestiges of our animalistic existence in us.” Consequently, “good form,” whether it involved the ceremonies of diplomacy or the constraints of marriage, “is really the thing to live for.” He continued, “‘Thou shalt not covet thy neighbor’s wife.’ My God, I’ve coveted ten thousand of them in the course of my life, and will continue to do so into the eighties.” “All that has to be fought with. But the main thing is to try to play your role in a decent way.”16
Gaddis deals with the political implications of Kennan’s personal character in a bifurcated way. By characterizing Kennan as the cool Clausewitzian in 1946–1947, he plays down the sense of frustration that Kennan experienced in Russia—an emotional state that was reflected in his advocacy of containment and helped make the language of the Long Telegram and the “Mr. X” article so eloquent and persuasive. Quite different is the way that Gaddis emphasizes the emotional concerns with war that supposedly marred Kennan’s strategic thinking in the mid-1950s, when he sought negotiations to head off a nuclear confrontation in Europe, and again in the 1970s–1980s, when he sounded the alarm against the feverish nuclear arms race.
Though he captures much of the man’s complexity, Gaddis’s depiction of Kennan is ultimately clipped and flattened. Perhaps the problem is trying to frame within “an American life,” as the subtitle has it, the biography of someone who mused that even his friends did “not know the depth of my estrangement, the depth of my repudiation of the things [the American public] lives by.”17 As compared to the portrait in the biography, the personality revealed in Kennan’s diaries and letters—even the figure who emerges from the transcripts of Gaddis’s interviews—was more irreverent as a collegian, more deeply identified with Russian culture as a fledgling diplomat, more ambivalent about his marriage, more alienated from American life, more inclined to concealment, and more tortured by the limitations of old age. The Kennan of the letters and diaries is far less conventional and more complex and elusive than the person we encounter in Gaddis’s biography.
In his conclusion, Gaddis characterizes Kennan as a teacher, a word that Kennan himself used and that is certainly apt. But Kennan also said he was “a prophet. It was for this that I was born.” Gaddis makes little of this self-description. Prophets are more intense and more given to jeremiads than academic teachers. Kennan, perhaps worrying about Gaddis’s suitability for depicting his character, remarked to him: “People who are a little unusual—the Boheme—they understand me, better than do the regular ones.”18
Distinctly non-Bohemian, it seems fair to say, were both Gaddis and the late Annelise Sørensen Kennan, to whom the biography is dedicated. The author acknowledges that “Annelise had her way with this book.” She urged him to write about the personal as well as the professional side of her husband and to include his lighter moments. She stressed, and Kennan himself acknowledged, that he tended to write in his diary when he was feeling morose, and rarely when he was not. Annelise was by all accounts a strong-minded spouse. They were close and their marriage lasted seventy-three years. Nevertheless, Kennan once “went out of his way to say that she is not a particularly ‘intellectual’ woman.”19 Nor did she always empathize with her husband’s moods and worries. Perhaps as a consequence, he sometimes did not confide in her. When Gaddis asked Annelise what she remembered about the unhappiness with US policy that had spurred Kennan to write the Long Telegram, Annelise reflected. “I don’t know whether I took [the discontent] so entirely seriously…. I don’t think I was aware that he was so frustrated.”20
Kennan turned to other women for solace and to meet other needs. He had, as Gaddis tells us, a series of affairs, flirtations, and fantasies. He wrote sections of the diary, including some entries about other women, in Russian—at one point reminding himself that he had to perfect the art of hiding from his wife nothing but the big things. Annelise held her husband “down to earth.” As Gaddis puts it, she pulled him “to the center.”21
He does the same in this book. Such emphasis on the conventional misses some idiosyncrasies that were important to Kennan’s thinking. The older man once described to Gaddis his habit, going back to childhood, of picking up on seemingly disassociated sights, sounds, and other stimuli and then bringing them together with other elements in his experience to fashion a concept or a connection uniquely his own. Throughout his life he had “read all sorts of mystery and beauty and other things into landscapes and places, and also into music.” He sensed what most other people could not. “Every city that I went to had not only a different atmosphere but a different sort of music and intonation to it…. I was immensely sensitive and responsive to differences in the atmosphere of places.”
In his seventies, Kennan tried to describe this almost painful acuteness. Visiting Stockholm, “something in the light, the sunlight, the late Northern evening suddenly made me aware of…Latvia and Estonia,” not so far away, “and I suddenly was absolutely filled with a sort of nostalgia for…the inner beauty and meaning of that flat Baltic landscape and the waters around it. It meant an enormous amount to me.” He then added, “You can’t explain these things.”22Gaddis, perhaps understandably, did not try; such reflections do not appear in the biography.
Nonetheless, Kennan’s disclosure helps elucidate a central element of his political thinking: his intuitive yet often incisive and empathic descriptions of the inner worlds of the Russian people and of the Soviet regime—based both on his encyclopedic knowledge about Russia and his imaginative guesswork. To Kennan’s continuing frustration, the isolation of diplomats mandated by Kremlin policy made it impossible to talk intimately with top Soviet officials or most ordinary Russians. Kennan compensated by a mode of thought analogous to his sensing and feeling “the inner beauty and meaning” of the Baltic. Gaddis cites a revealing observation of Kennan by the China expert John Paton Davies:
It was a delight to watch him probe some sphinxlike announcement inPravda for what might lie within or behind it, recalling some obscure incident in Bolshevik history or a personality conflict within the Party, quoting a passage from Dostoevsky on Russian character, or citing a parallel in Tsarist foreign policy. His subtle intellect swept the range of possibilities like a radar attuned to the unseen.
Kennan was attuned to the seen and the unseen. He would tell audiences, “I can assure you” about some aspect of Soviet belief for which he could have little evidence.23 Kennan’s elegant expression and unparalleled expertise gave him enormous authority, especially when he was warning about the Soviet menace in 1946 and 1947. He was far less influential as the cold war hardened, but still could not be ignored when he argued that it was not necessary to accept appeasement or war as alternatives.
In the fall of 2002, as the Bush administration was gearing up for war against Iraq, Kennan, then ninety-eight, spoke with reporters for the last time. He was in the Washington home of his old ally, former Senator Eugene McCarthy. Castigating the administration’s policy of preemptive war and its intention to oust Saddam Hussein, he warned that “the history of American diplomacy” demonstrated that “war has a momentum of its own and it carries you away from all thoughtful intentions.”24 He appeared sharp and articulate as he sketched out a strategy for the twenty-first century. Playing down the drama and the wisdom of Kennan’s last public statement, Gaddis mentions this incident in only three terse lines. He would have been fairer to his subject if he had taken more account of the view Kennan expressed in these pages in 1999:
This whole tendency to see ourselves as the center of political enlightenment and as teachers to a great part of the rest of the world strikes me as unthought-through, vainglorious, and undesirable. If you think that our life here at home has meritorious aspects worthy of emulation by peoples elsewhere, the best way to recommend them is, as John Quincy Adams maintained, not by preaching at others but by the force of example. I could not agree more.


  1. 1
    George F. Kennan to Michael J. Lacey, October 11, 1977, Box 15, George F. Kennan papers, Mudd Library, Princeton University. 
  2. 2
    Kennan to Gaddis, April 3, 1984, Box 15, Kennan papers. 
  3. 3
    C. Vann Woodward, "Wild in the Stacks," The New York Review , August 1, 1968. 
  4. 4
    Gaddis, "Kennan and Containment: A Reply," SHAFR Newsletter (1978), copy in Box 15, Kennan papers. The historians were John W. Coogan and Michael H. Hunt. 
  5. 5
    Kennan to Gaddis, April 6, 1978, Box 15, Kennan papers. 
  6. 6
    Kennan to Gaddis, December 1, 1981, Box 15, Kennan papers. 
  7. 7
    See, for instance, Kennan to Gaddis, September 7, 1980, Box 15, Kennan papers. See also Kennan to Gaddis, September 28, 1986, ibid. 
  8. 8
    Kennan diary, May 2, 2000, Box 239, Kennan papers. 
  9. 9
    Hearing before the Committee on Foreign Relations United States Senate, 89th Congress, 2nd session, on S. 2793, February 10, 1966 [hereafter 1966 Senate Hearings], p. 371; Hearing before the Committee on Foreign Relations United States Senate, 90th Congress, 1st session, January 30, 1967 [hereafter 1967 Senate Hearings], p. 46. 
  10. 10
    1967 Senate Hearings, p. 10. 
  11. 11
    1966 Senate Hearings, pp. 338, 384, 334–335. 
  12. 12
    1966 Senate Hearings, pp. 414, 381, 418, 336. 
    1. 13
      Kennan, "Introducing Eugene McCarthy," The New York Review , April 11, 1968. 
    2. 14
      Kennan to Gaddis, December 1, 1981; Gaddis to Kennan, December 14, 1981, Box 15, Kennan papers. 
    3. 15
      Dilworth, interview with Gaddis, December 6, 1987, Box 15, Kennan papers. 
    4. 16
      Kennan, interview with Gaddis, August 25, 1982. 
    5. 17
      Kennan diary, October 21, 1955, Box 233, Kennan papers. 
    6. 18
      Kennan, interview with Gaddis, December 13, 1987, Box 16, Kennan papers. 
    7. 19
      Dilworth, interview with Gaddis, December 6, 1987, Box 15, Kennan papers. 
    8. 20
      Annelise Sorensen Kennan, interview with Gaddis, August 26, 1982, Box 16, Kennan papers. 
    9. 21
      Dilworth, interview with Gaddis, December 6, 1987, Box 15, Kennan papers. 
    10. 22
      Kennan, interview with Gaddis, August 24, 1982, Box 16, Kennan papers. 
    11. 23
      See, for instance, Kennan, "The Background of Current Russian Diplomatic Moves," December 10, 1946, in Measures Short of War , edited by Giles D. Harlow and George C. Maetz (National Defense University Press, 1991), p. 86. 
    12. 24
      Albert Eisele, "George Kennan Speaks Out About Iraq," The Hill , September 26, 2002.