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sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Lula é desafiado por novos líderes de esquerda - Lydia Medeiros (Congresso em Foco)

Lula é desafiado por novos líderes de esquerda

Congresso em Foco, 26.09.2024 12:54

https://congressoemfoco.uol.com.br/area/governo/lula-e-desafiado-por-novos-lideres-de-esquerda/

O presidente Lula vem sendo desafiado por uma nova geração de líderes regionais. Visões de mundo estão em choque, sobretudo no campo da esquerda. Num evento paralelo à cúpula da ONU, em Nova York, organizado pelo Brasil, o presidente do Chile, Gabriel Boric, afirmou que a esquerda fracassa ao usar medidas diferentes para criticar governos do mesmo campo. “Já conversamos muito com o presidente Lula sobre isso, como a ‘venezuelização’ da nossa política interna causou prejuízo muito grande para as esquerdas”, disse o chileno no encontro, que contou com outros líderes, como Emmanuel Macron (França), Pedro Sánchez (Espanha), Justin Trudeau (Canadá) e Xanana Gusmão (Timor Leste).

Não é a primeira divergência pública entre Lula e Boric sobre a posição brasileira de leniência em relação ao regime venezuelano e as violações a direitos humanos. Em maio do ano passado, quando Lula recebeu Nicolás Maduro como chefe de Estado no Planalto, o chileno confrontou declarações dele sobre a democracia venezuelana. Também tiveram opiniões distintas sobre a autodeclarada vitória de Maduro nas eleições presidenciais, condenada por Boric desde o primeiro momento, enquanto Lula anda dizia confiar na lisura do pleito. Na terça-feira, Lula não citou a Venezuela em seu discurso, ao abrir a Assembleia Geral da ONU.

Lula e Boric também tiveram posições distintas em relação à guerra na Ucrânia. No ano passado, o chileno classificou de “triste” o texto final da Cúpula da Celac-UE (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos com a União Europeia), por se restringir a uma única menção ao conflito, afirmando ter “preocupação profunda” com seus efeitos. Lula reagiu afirmando que Boric era jovem, não tinha experiência nesse tipo de reunião e, por isso, era mais “ansioso”.

Pesquisa realizada pelo Pew Research Center com 5.180 pessoas, entrevistadas entre janeiro e abril, mostra arranhões na imagem de Lula na América Latina. E os chilenos são os que menos confiam em Lula para “fazer a coisa certa” em relação aos assuntos mundiais: 62%. São seguidos pelos mexicanos (60%), peruanos (55%) e colombianos (53%). Na Argentina houve divisão — 49% não confiam; 40% confiam). Na média, a entrevista mostra que a influência global do Brasil continua a mesma — 49%. Entre os americanos, 64% pensam assim. No México, 57%, e na Colômbia, 50%. Já no Chile o índice cai para 33%.

 Boric não é candidato a líder da esquerda latinoamericana. As divergências expostas por ele, porém, evidenciam o desgaste de princípios que vêm norteando a política externa brasileira, especialmente antiamericanos, sob inspiração do embaixador Celso Amorim. O comportamento do governo brasileiro na crise da eleição venezuelana é o melhor retrato dessa corrosão.

 

domingo, 23 de janeiro de 2022

Eleições 2022: os Faria-Lulers - Helena Chagas, Lydia Medeiros (Capital Político)

 Lá vêm os “farialulers”

Helena Chagas, Lydia Medeiros

Uma análise da conjuntura 

Capital Político, Brasília, 23/1/2022 - no145

A entrevista do ex-presidente Lula aos sites independentes, afirmando que não quer voltar ao cargo para resolver os problemas do sistema financeiro e dos empresários, que pretende “botar os pobres no Orçamento e os ricos no Imposto de Renda” e que não dará prioridade a compromissos fiscalistas, mas, sim, a “pagar a dívida social”, não compõe exatamente uma narrativa agradável aos ouvidos do chamado mercado.

 Mas a boa repercussão da fala junto ao setor financeiro não surpreendeu seus analistas, porque tem origem num processo de aproximação que começou há semanas. Setores do mercado que leram as pesquisas da virada do ano, confirmando a liderança isolada do petista e as chances rarefeitas de uma terceira via, começam, pragmaticamente, a trabalhar com a possibilidade de vitória do ex-presidente. Isso vem implicando um esforço para ver o copo meio cheio em relação a Lula e buscar convergências.

No caso da entrevista, elas foram encontradas no discurso aliancista do ex-presidente, que praticamente confirmou Geraldo Alckmin como vice em sua chapa, enquadrou a ala petista contrária à parceria e mostrou que, se vencer, seu governo irá além do PT e da esquerda. A disposição de “conversar com todo mundo”, inclusive com o setor financeiro, foi o suficiente para “encher o copo” do mercado, com repercussão positiva no câmbio e nos negócios.

Não há data para essas conversas. A pauta desses “farialulers”, como estão sendo chamados de brincadeira, é complexa. Terá que ser reduzida a pontos básicos quando for apresentada a Lula — se é que já não foi, informalmente. Um deles passa pela recuperação da imagem externa do país, com a urgência de se criar um ambiente favorável ao retorno de investidores, como os fundos ambientais que fugiram de Bolsonaro. Analistas acham que, se o próximo presidente sinalizar com nomes experientes e respeitados para essa área, a reação positiva será imediata.

Há previsões também de que, eleito o petista, o mercado não vai confrontar sua prioridade aos investimentos públicos para retomada do desenvolvimento e a uma forte injeção de recursos no campo social. Aos olhos desse pessoal, esses gastos são comparativamente pequenos, e devem aumentar. Preocupam-se, sim, em compatibilizar princípios que sustentam a rentabilidade e a remuneração do setor com uma política desenvolvimentista. Vão lembrar a Lula que estão previstos investimentos

privados maciços no setor de infraestrutura — portos, ferrovias, energias renováveis — no próximo governo. Já contratados, podem fazer parte da retomada da economia, organizada e conduzida por quem ganhar a eleição.

Se a conversa avançar, certamente vai aflorar a ansiedade do pessoal do mercado em relação à escolha da futura equipe econômica. Nenhum dos nomes de petistas e antigos auxiliares que vêm circulando nas discussões sobre o programa de governo agrada ao setor — o que não chega ser novidade. Há torcida por um nome novo, técnico ou de político experiente, como, por exemplo, algum ex-governador que tenha fechado direitinho as contas do estado. Como a torcida do mercado financeiro pode ter efeito contrário, alguns acham melhor ficar calados.

As referências do petista à reforma tributária agradaram, bem como o tom contido em relação à rediscussão da reforma trabalhista. Outra grande apreensão dessa turma começou a se dissipar. Lula não falou em reverter a autonomia do Banco Central. Agradou ao dizer que chamará para conversar o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, hoje com mandato, e que “o BC tem que ter compromisso com o Brasil, e não comigo”.

Ao fim e ao cabo, ao falar para blogs de esquerda, o ex-presidente parece ter alcançado, mesmo sem mirar, inusitada sintonia com setores da direita no mercado. Foram tantos os recados considerados tranquilizadores que o serviço Scoop by Mover, um portal de notícias do ramo, chamou Lula de “roteador de sinais”.