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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Está difícil esse Prêmio Nobel da Paz? Lula e o segundo Fome Zero Universal

 Lula tenta pela segunda vez o seu Fome Zero Universal (já que o primeiro, no Brasil, em 2003, foi um fracasso completo). O primeiro Fome Zero Universal tampouco saiu do papel, pois que Lula insistia com a ONU em criar o SEU programa, com a sua logomarca de "pai dos pobres", e a ONU dizia que seria duplicar os esforços do programa já montando a muitos anos entre a FAO e o Pnud, "Programa Mundial de Alimentos". Como não deu certo com o seu nome, Lula desistiu da ideia e foi se ocupar de outras glórias (como a paz entre israelenses e palestinos e o programa nuclear iraniano; nenhum deles sequer decolou).

Agora, no G20 do RJ, ele conseguiu fazer uma Aliança Mundial Contra a Fome e a Pobreza. Quem poderia ser contra?
Adivinhem onde vai ser o Secretariado desse "novo" programa da ONU?
Em Roma, onde já funciona o PMA da FAO-Pnud.
Ou seja, a Aliança será um escritório burocrático do PMA, que já existe, mas Lula acha que com isso conseguirá seu ambicionado Prêmio Nobel da Paz, já que no caso da guerra Hamas/Hezbollah-Isreal e no da paz na guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia a coisa é mais dificil.

Paulo Roberto de Almeida
Bras´ˆlia, 20/11/2024

sábado, 9 de novembro de 2024

Coligação anti-Haddad - Tiberio Canuto

Coligação anti-Haddad

Tiberio Canuto

Formou-se uma coligação de ministros do governo Lula contra o ajuste fiscal  pretendido por Haddad.  Quanto mais  Lula demora em bater o martelo, mais resistências se articulam. Dentro e fora do governo. Duas consequências são previsíveis:

  1 - Em vez de  um ajuste estruturante como prometiam o ministro da Fazenda e Simone Tebet  teremos um ajustezinho que  levará o Brasil, no médio  prazo, a mais um voo de galinha, com um pibinho, aumento da inflação e dos juros. Lula cede às pressões  dos seus ministros e das corporações, mas pode ter de disputar a reeleição em um quadro inflacionário e de baixo crescimento econômico e a consequente volta do desemprego. Se a sua preocupação é não ver  sua imagem agastada por ser obrigado a tomar medidas de reajustes antipáticas, mais à frente  sofrerá um desgaste bem maior se, como é previsível,  venha disputar a reeleição  em um quadro de crise econômica e social.  Os brasileiros aprenderam a não ter tolerância com a inflação.  O s anos Dilma, particularmente os do seu segundo mandato  fazem parte da memória recente dos brasileiros.

Imaginem o tamanho do estrago Lula tendo de disputar a reeleição  com inflação  de 7% a 8%,  dólar valendo sete reais, taxa básica de juros  básico  superior a 14%, a dívida pública chegando a 84%  do PIB. Isso não é terrorismo. É o que acontecerá  se o ajuste fiscal for um traque. 

2 – Ao não  conseguir convencer o governo – e aí principalmente ao não conseguir convencer Lula da necessidade de tomar medidas estruturantes – Hadad sofre  uma derrota séria. Sairá bem menor deste embate com a imagem desgastada.  Só um governo esquizofrênico  conspira para enfraquecer seu próprio ministra da Fazenda. O que pode acontecer de pior para a política econômica é ter  um ministro da economia  sem autoridade, combatido pelos seus próprios pares. Isso afeta  as expectativas, que em economia são fundamentais. 

O fato é mais grave  quando se leva em consideração  que Haddad é a única alternativa  do PT e do seu campo para ser o sucessor de Lula.  É  muita autofagia expô-lo, publicamente,  ao desgaste. Toda a credibilidade e respeitabilidade  do ministro da Fazenda está indo de água abaixo  por erros de condução de Lula, na definição do pacote a ser adotado.

A estratégia de Lula de deixar seus ministros se digladiar para depois arbitrar que caminho  seguir leva a um assembleísmo como estamos vendo. Isso alimenta a leitura que o próprio Lula tem interesses em desidratar o pacote e estimula seus ministros da área social a oferecer tenaz resistência  às propostas de Haddad.   É um absurdo o presidente assistir em seu gabinete os .inistros do Trabalho e da Fazenda  baterem boca.Ou alguém acredita que Rui Costa lideraria a coligação anti-ajuste fiscal  à revelia de Lula?

O governo e a autoridade do presidente também se enfraquece. Instala-se a anarquia, com ministros  publicamente dizendo que em suas áreas não se mexe  a não ser que os demitam. Outros dizem que deixam o governo se houver corte em suas áreas.  Ora, ao não efetuar cortes nas áreas dos ministros  verborrágicos Lula passa recibo de  que cedeu à chantagem.

Lula deveria fazer o que faria um presidente a altura das exigências. Inquerir e questionar seu ministro da Fazenda, até  chegar  a um consenso com o responsável pela política econômica sore as medidas necessárias. A partir daí comunicar aos outros ministros, proibindo-os de torpedear  publicamente o pacote do reajuste, que deixaria de ser do ministro da Fazenda para ser do próprio presidente da República. 

Mas é exigir muito que Lula  atue como um estadista que pense no Brasil, mesmo que isto provoque desgastes momentâneos à sua imagem.

Em vez disso, deixou correr solto   a coligação anti-haddad , engrossada pelas centrais sindicais e pela direção do PT.

A aliança Rui Costa-Gleisi Hoffman está desmoralizando Haddad.

Trotsky dizia que a revolução era como a figura mitológica Cronos, o deus do tempo que comia os próprios filhos.  É o que o governo e o PT estão fazendo com o seu melhor quadro.

sábado, 2 de novembro de 2024

Maduro e Lula: relações perigosas, por Janaina Figueiredo - Clara Simão (CBN)

'Nunca foi tão ruim a relação de Lula com o chavismo e tende a piorar', afirma correspondente

No programa Viva Voz, comandado por Vera Magalhães, a colunista do O Globo e correspondente Janaina Figueiredo analisa as tensões entre Brasil e Venezuela, principalmente após a cúpula do BRICS.


Por Clara Simão, CBN, 1/11/2024

Em um novo episódio de tensões diplomáticas, nesta quarta-feira (30), Nicolás Maduro convocou o embaixador da Venezuela no Brasil para retornar a Caracas, além de chamar o encarregado de negócios brasileiros na capital venezuelana para expressar seu mal-estar em relação a declarações do assessor especial da Presidência, Celso Amorim.

O governo venezuelano afirmou que Amorim está se comportando como um mensageiro do imperialismo norte-americano e fazendo julgamentos de valor sobre processos que dizem respeito apenas à população da Venezuela e às instituições democráticas do país. 

No Viva Voz, comandado por Vera Magalhães, a colunista do O Globo e correspondente Janaina Figueiredo analisa a questão, destacando a quebra de confiança entre os países e as tensões após a cúpula do BRICS em Kazan. Ela apontou que o governo de Lula nunca esteve tão mal relacionada com o chavismo. 

Janaina afirmou que, neste momento, não existe interlocução do Brasil com a Venezuela, uma vez que Lula já está 'sem paciência' com o país desde as eleições de 28 de julho, que teve resultado contestado após Maduro se autodeclarar vencedor.

'Eu conversei com várias fontes e me disseram que o diálogo desde a cúpula de Kazan, na semana passada, na Rússia, é zero. Não há diálogo hoje entre Brasil e Venezuela. A interlocução está absolutamente suspensa, até que isso possa ou não ser recuperado. Eu acho que o presidente Lula perdeu totalmente a paciência com a Venezuela. Isso não é de hoje, isso já vem se arrastando. Eu acho que a eleição de 28 de julho foi o auge dessa irritação de Lula'

Figueiredo contou que, em reunião cordial em Caracas, entre o encarregado de negócios do Brasil na Venezuela e altas autoridades da chancelaria venezuelana foi afirmado que a relação com o Brasil é de grande importância para o país. No entanto, eles dizem não entender a posição de Celso Amorim. 

'Pelo que eu reconstruí da reunião, foi cordial, onde foi dito a eles que a relação com o Brasil é importante, mas que eles não entendem a posição de Celso Amorim. Então, a relação realmente está numa situação crítica para o governo Lula. Nunca foi tão ruim a relação de Lula com o chavismo e tende a piorar. Eu acho que ainda não é possível, nem realista, pensar numa ruptura. O Brasil não quer essa ruptura e a Venezuela também não quer, mas está escalando.

 Para a correspondente, é surpreendente ouvir os venezuelanos surpresos com a decisão do Brasil de fechar a porta do BRICS para o país: 

"Então, para mim, é surpreendente ouvir os venezuelanos, fontes minhas, pessoas que eu conheço: 'nossa, mas que absurdo! O Brasil fechou a porta do BRICS para a Venezuela, mas que absurdo! Como é que o Celso Amorim faz isso com a gente?'. Mas como não fazer? Ou seja, a Venezuela deu todos os elementos para que o Brasil dissesse, nessas condições: 'não aceitamos a Venezuela no BRICS'. Não é uma situação, não é uma incorporação oportuna. Celso Amorim, numa entrevista que eu fiz com ele semana passada, foi muito claro: 'quebrou-se a confiança entre Brasil e Venezuela'. Isso é muito, é uma declaração muito forte"

Ouça a análise completa:




segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Certas quedas são extremamente bem-vindas... - Lula ausente da reunião do Brics - Igor Gielow (FSP)

Certas quedas são extremamente bem-vindas... Ausência de Lula na cúpula do BRICS evita possíveis tensões diplomáticas com os EUA Igor Gielow Folha de S. Paulo, 21/10/2024 - 09h36 A ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na 16ª Cúpula do BRICS, realizada em Kazan, Rússia, pode ter evitado um cenário diplomático delicado para o Brasil, de acordo com especialistas em relações internacionais. Leonardo Trevisan, professor da ESPM, destacou que um encontro presencial entre Lula e o presidente russo Vladimir Putin poderia ter gerado tensões com os Estados Unidos, considerando o atual contexto de conflitos globais. Em análise publicada no Estadão, Trevisan afirmou que, diante das crescentes tensões entre o Ocidente e a Rússia, uma imagem de Lula ao lado de Putin poderia ser interpretada de forma negativa pelos Estados Unidos. “O aperto de mãos com Putin seria visto como um sinal de alinhamento em um momento de confronto entre o Ocidente e a Rússia”, explicou Trevisan. Segundo o especialista, isso poderia resultar em pressões diplomáticas adicionais para o Brasil, especialmente em sua relação com Washington e outros aliados ocidentais. A cúpula do BRICS, que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, discute uma série de temas, incluindo a desdolarização das economias do bloco. Essa pauta já provocou reações nos Estados Unidos, particularmente de Donald Trump, ex-presidente e atual candidato à presidência pelo Partido Republicano. Trump tem sido categórico em suas declarações sobre o tema, afirmando que, se retornar ao poder, buscará punir países que optarem por seguir esse caminho. Além disso, Trevisan comentou que outro aspecto sensível seria a possibilidade de um encontro entre Lula e o presidente do Irã. Para o professor, tal reunião poderia ser vista como um distanciamento do Brasil em relação a aliados tradicionais no Oriente Médio, como Israel. Embora o Brasil tenha mantido uma postura crítica em relação a Israel em diferentes ocasiões, uma reunião com o Irã, neste momento, poderia ser interpretada como uma mudança significativa na política externa brasileira. “Isso ultrapassaria um limite que o governo brasileiro tem evitado até agora”, destacou o especialista. Outra questão em debate na cúpula é a proposta de China e Índia de incluir a Nicarágua e a Venezuela no BRICS, uma ideia que, segundo Trevisan, não é vista com bons olhos pelo Brasil. Ele apontou que o governo brasileiro considera que essas inclusões não trariam benefícios estratégicos. “O Brasil não tem interesse em fortalecer suas relações com a Nicarágua, e a reaproximação com a Venezuela ainda é um processo delicado”, afirmou. Em meio a esses contextos, o Brasil será representado na cúpula pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Fontes diplomáticas indicaram que a ausência de Lula foi justificada como “força maior”, em razão de um acidente doméstico sofrido pelo presidente no fim de semana. O ministro Vieira, de acordo com essas fontes, terá plenos poderes para negociar e representar o Brasil em todas as discussões. A presença de Vieira na cúpula reflete a importância dada pelo governo brasileiro ao BRICS, ao mesmo tempo que busca evitar a associação direta de Lula com Putin, em um momento em que as relações entre Rússia e países ocidentais estão especialmente tensas. A participação do Brasil no BRICS é vista como uma oportunidade para fortalecer laços econômicos e políticos com outras potências emergentes, mas também exige cuidados na condução das relações internacionais, especialmente com os Estados Unidos. A estratégia de Lula parece ter sido calculada para manter o equilíbrio entre diferentes interesses geopolíticos. O Brasil, como membro do BRICS, está engajado nas discussões do bloco, que busca reduzir a dependência do dólar nas transações internacionais. Contudo, o país também mantém relações importantes com os Estados Unidos e a União Europeia, e um alinhamento explícito com a Rússia e a China poderia comprometer esses laços. A ausência de Lula, portanto, pode ser vista como uma medida preventiva para evitar confrontos diplomáticos que poderiam surgir em meio ao cenário internacional volátil. Embora o Brasil busque ampliar sua influência no BRICS, o governo parece estar ciente dos riscos de ser associado de forma muito próxima aos interesses de Rússia e China, especialmente em um momento em que os Estados Unidos demonstram grande sensibilidade em relação à postura de seus aliados em temas globais. Com isso, o papel do Brasil na cúpula do BRICS ficará nas mãos do ministro Vieira, que terá a tarefa de conduzir as negociações sem comprometer a posição de neutralidade que o país tem procurado manter. A decisão de Lula de não participar pessoalmente do encontro em Kazan pode ter sido um movimento estratégico para proteger a diplomacia brasileira de um embaraço internacional.

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Under Lula, Brazil Aims High But Falls Short - Richard M. Sanders (The Jerusalem Strategic Tribune)

Under Lula, Brazil Aims High But Falls Short by Richard M. Sanders The Jerusalem Strategic Tribune, October 24, 2024 When Luiz Inácio Lula da Silva returned to Brazil’s presidency in 2023, it was clear that he wished to restore the high international profile which Brazil had enjoyed during his first two terms, 2003-2010. International expectations were high given that his predecessor, Jair Bolsonaro, had been largely uninterested in foreign policy. However, Lula has faced significant obstacles and it appears that while Brazil may be ready to enter the world stage, the world is less ready for Brazil than Lula may have hoped. Bring Back the Good Old Days During his first two terms, Brazil’s economy was humming as its agricultural and mineral products found ready markets, especially in China. Brazilian banks and construction firms started to look outward, especially within Latin America. Brazil’s state development bank provided financial muscle for exporters and investors. Politically it appeared that the Southern Common Market (MERCOSUR) was consolidating into a bloc that could negotiate with global counterparts such as the European Union. Under Lula, Brazil midwifed the creation of the Union of South American Nations (UNASUR), a regional political entity which Brazil looked to lead by sheer weight of population, geographic size and economy. On the broader international stage, Brazil opened embassies throughout Africa and the Caribbean, with the evident goal of gaining support for Brazil’s effort to obtain a permanent seat on the United Nations Security Council. Many observers found his combination attractive: leftist politics and willingness to confront the developed West together with his impeccable democratic credentials. During his thirteen years out of office, Lula battled corruption charges which led to his imprisonment. (His conviction was ultimately reversed on procedural grounds.) And the good times over which he had presided vanished, as commodity prices tumbled and the country struggled with fiscal imbalances built up during the boom years of his administration. The failures of his successors, most recently the erratic right-wing Jair Bolsonaro, however, gave him another chance at power and with it, international prominence. A Failed Effort with Venezuela Within the Western Hemisphere, Lula’s most notable, although thus far unsuccessful, initiative has been his effort, together with Colombia’s Gustavo Petro and (initially at least) Mexico’s Andres Manuel López Obrador, to address the crisis in Venezuela. In Venezuela, Nicolás Maduro remains in power despite convincing evidence that he in fact lost the presidential election held on July 28. Lula had maintained a warm relationship with his predecessor Hugo Chávez. Brazil shares a common border with Venezuela and has a strong interest in limiting further refugee flows. And the Biden administration was prepared to support his diplomacy, since it wanted to avoid or postpone tough decisions regarding the re-imposition of sanctions on Venezuela it had earlier lifted in an effort to encourage free elections. Also, Brazil had played a role earlier in urging Maduro to back off from his threats against neighboring Guyana over the two countries’ border dispute. Lula sent Celso Amorim, former Brazilian foreign and defense minister, now a presidential adviser, to Caracas to broker a deal. He raised suspicions among Venezuela’s opposition and its supporters when he floated the idea of holding a second election at a later date as somehow being the solution. In any event Maduro’s unyielding insistence on the validity of his election and his arrests of opposition figures condemned this initiative to irrelevance. In a particular slight, the regime harassed opposition figures for whom Brazil had agreed to assume responsibility. It appears that Lula thought his personal prestige and history with Venezuela would be enough to persuade Maduro to accept a democratic outcome and leave power. As a result, Lula’s pretensions of hemispheric leadership have taken a hit. The subject was embarrassingly missing from his speech at the UN General Assembly which painfully contrasted with that of Chile’s Gabriel Boric, another left-leaning Latin leader, who called out Maduro’s actions in no uncertain terms. If Lula was incautiously bold in Venezuela, he took the opposite tack regarding Haiti, where he declined to support the creation of a multinational force to restore order. Brazil had been active in earlier UN-authorized peacekeeping missions, even providing a Brazilian general as leader. But Brazil is hardly alone in not wanting to return, especially as the earlier mission was marked by ugly accusations of sexual abuse of Haitian women by peacekeepers. His reluctance to undertake an admittedly hard, unrewarding effort does make claims of regional leadership ring somewhat hollow. Trying to Reanimate a Regional Bloc Lula’s broader efforts to recover Brazil’s position in Latin America have also fallen a bit flat. Shortly after returning to office he sought to revive the Union of South American Nations (UNASUR), a grouping created at a time when left-of-center governments seemed on the rise. But there is little enthusiasm today, with the ideological complexion of the region more varied. Chile’s Boric provided the coup de grâce, suggesting that ideologically based groupings such as UNASUR were unnecessary. We have yet to see new dynamism in the Southern Common Market (MERCOSUR) under Lula’s leadership. The bloc’s 25 year-long effort to conclude a free trade agreement with the European Union is always on the verge of a breakthrough which never actually happens. The parties are reportedly close to agreement on a text which addresses the issue of environmental commitments, always a sensitive subject for Brazil, but France reportedly is trying to create a blocking minority within the EU. While success cannot be ruled out, the outlook remains uncertain. Centrifugal forces within MERCOSUR are hard for Brazil to manage. Uruguay has started discussing a bilateral free trade agreement with China, though Brazil has always insisted that such negotiations be organized as a bloc. Brazil’s relations with Argentina, the cornerstone of MERCOSUR, have become complicated with the election of Argentina’s libertarian president, Javier Milei. Both Lula and Milei have traded barbs at each other, and relations reached a low point when Milei chose not to attend a recent semi-annual MERCOSUR summit, though he did make an unofficial visit to Brazil for a conference of regional conservative activists. Global Ambitions—Ukraine, BRICS and UN Security Council Lula’s ambitions go beyond Latin America. Perhaps drawing on his experience as a labor leader, he often views international issues as ripe for negotiation, with Brazil placed to act as a mediator. This is not new. In 2010 he had sought to engage in nuclear diplomacy between the United States and Iran, pushing a disarmament plan which the US found to be inadequate. Lula has sought a role in the Russo-Ukraine War, while following his predecessor’s position of condemning Russia’s invasion itself but not imposing any sanctions against Russia. He has repeatedly called for a negotiated solution, urging Ukraine to give up its claim to Crimea in the name of global “tranquility.” Brazil and China have made a joint proposal which includes an immediate ceasefire in place, though neither Ukraine nor Russia have accepted it, Regarding the Gaza war, Lula has been quick to denounce Israel’s response to the October 7 attack by Hamas, going so far as to term it “genocide” comparable to “when Hitler decided to kill the Jews.” He also recalled his ambassador in Tel Aviv. However, Brazil’s response following Iran’s missile attack on Israel was limited to a terse statement issued by the Foreign Ministry expressing “concern.” An important part of Brazil’s quest for an international role is its participation in BRICS (Brazil, Russia, India, China with South Africa joining later) a grouping which Russia initiated in a meeting in Yekaterinburg in 2009. While some effort has been made to institutionalize the BRICS as a forum for policy coordination and economic integration, beyond summit communiques which have a limited shelf life, the principal achievement has been the creation of the New Development Bank based in Shanghai, also known as the BRICS bank. Lula can claim one victory in the naming of Dilma Rousseff, his hapless successor as Brazil’s president, to be the Bank’s president. But in many ways Brazil is an outsider among the BRICS. Of the four founding members, it has the smallest gross domestic product. Geographically it is distant from Eurasia where Russia, China and India are located. Its military power is dwarfed by that of the other founding states. Other than its occasional and so far unsuccessful diplomatic forays, it is not consistently engaged outside of the Americas. BRICS appears to be widening rather than deepening, with Egypt, United Arab Emirates, Iran and Ethiopia having already joined. Saudi Arabia is considering an invitation, while Turkey has applied to join. Brazil had sponsored Argentina’s entry, but after the election of Javier Milei, who sees Argentina’s future lying with the West, it has declined. BRICS may evolve into a new version of the moribund Non-Aligned Movement with its 120 members. Brazil may be able to point to progress in gaining more power for the Global South vis-a-vis the US and Western Europe, but it runs the risk of becoming just one member state among many. All in all, the BRICS have been a net plus for Brazil, but its role should not be exaggerated The other pillar of Lula’s effort to carve out a major international role is his promotion of Brazil’s effort to obtain a permanent seat on the United Nation Security Council. He can take some satisfaction from the results of the recent meeting of the General Assembly which approved the “Pact for the Future” which called for increased representation for African, Latin American and Caribbean, and Asia-Pacific states. Welcome as this may have been in Brasilia, this does not mean that it is likely to happen soon. Any Brazilian claim based on its alleged leading role in Latin America would be challenged by other states in the region. Also, Brazil’s limited engagement in UN peacekeeping operations (although it has participated in some) and the lack of success from its occasional efforts as a mediator may also weigh against its candidacy. For Now, Brazil’s Reach Exceeds Its Grasp It is not news that Lula thinks big. In 2008 he said: “Brazil has finally found its destiny and intends to transform itself into a great nation.” Internationally at least, its time has not yet come. Its military is relatively small given its size and lacks capacity to project itself beyond its borders. It is yet to find a major international crisis where it can successfully act as a mediator. (Venezuela would have been a natural opportunity but Brazil’s hopes have collapsed in the face of Maduro’s stonewalling.) Its efforts to put itself at the center of regional groupings or the over-hyped BRICS have had unimpressive results. At the same time Brazil is more than just another country—its size, resources, and population are impressive. It is a true giant in agriculture, and is approaching that status in oil production. It manufactures aircraft and has a launch center allowing it to partner with other countries with space programs. It has a dynamic culture with many achievements in music and film/television. There are areas, such as the intersection of energy, environment and economics, where Brazil already has a large enough presence that it can now speak internationally with authority. But Brazil’s efforts to use diplomacy to bootstrap itself into the top rank of global leadership seem likely to meet with frustration for the foreseeable future. Richard M. Sanders Richard M. Sanders is Senior Fellow, Western Hemisphere at the Center for the National Interest and a Global Fellow of the Woodrow Wilson International Center for Scholars. A former member of the Senior Foreign Service of the State Department, he served as Director of the Office of Brazilian and Southern Cone Affairs, 2010-13.

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Lula, o amigo do Irã - Editorial (Gazeta do Povo)

Lula, o amigo do Irã Editorial Gazeta do Povo 06/10/2024 18:00 Na atual escala de valores do Itamaraty, comandado nominalmente por Mauro Vieira, mas que de fato segue as diretrizes de Celso Amorim, quando uma ação militar deve ser “deplorada” ou condenada “nos mais fortes termos”, e quando deve ser “acompanhada com preocupação”? Será pelo número de vítimas que deixa? Se mira apenas alvos militares, ou se pretende atingir deliberadamente a população civil? Se é um ataque gratuito, ou uma ação de defesa contra um agressor? A resposta, no governo Lula, é bem mais simples: o grau de veemência das notas do Itamaraty depende apenas de quem é o agressor: se um “dos nossos” ou um “dos deles”. Em 1.º de outubro, enquanto o mundo condenava inequivocamente o lançamento de quase 200 mísseis iranianos contra território israelense, a diplomacia brasileira se pronunciava “deplorando” os ataques aéreos de Israel contra alvos do Hezbollah no Líbano. Apenas no dia seguinte a ação do regime iraniano foi assunto de comunicado da chancelaria brasileira, que disse “acompanhar com preocupação” o episódio, limitando-se a “condenar a escalada do conflito”, sem nenhum palavreado mais duro sobre a ação iraniana em si. Em abril, quando do primeiro ataque direto ao Irã contra Israel, o texto do Itamaraty recorreu ao eufemismo, falando em “relatos de envio de drones e mísseis do Irã em direção a Israel”. Lula escolheu ficar ao lado de um regime assassino, que prega abertamente o fim de Israel, financia terroristas, e oprime mulheres, a população LGBT e outras minorias. O duplo padrão nos termos usados pelo Ministério das Relações Exteriores já se observa desde a barbárie terrorista do Hamas, que completa um ano nesta segunda-feira. A primeira nota do Itamaraty sobre o 7 de outubro nem sequer mencionava o Hamas (que já havia reivindicado a autoria do ato), nem usava a palavra “terrorismo”. Só após muita repercussão negativa é que ambos os termos entraram no vocabulário da chancelaria, e mesmo assim havia recaídas constantes, como nas notas publicadas por ocasião da confirmação de mortes de brasileiros, ocorridas ou durante o próprio ataque terrorista, ou posteriormente, no caso de reféns capturados pelo Hamas. Este é um caso em que nem se pode considerar propriamente que Lula esteja tentando exibir ao mundo uma postura de neutralidade enquanto, na prática, adota um lado. No Oriente Médio, o petista escolheu um lado e não faz a menor questão de disfarçar. Enquanto o Brasil está sem embaixador em Israel, o vice-presidente Geraldo Alckmin prestigiava a posse do novo presidente iraniano ao lado de chefões do terrorismo mundial. Contra a única democracia da região, que luta para se defender de ameaças à sua própria sobrevivência (embora não esteja livre de cometer excessos neste esforço de autodefesa), Lula escolheu ficar ao lado de um regime assassino, que prega abertamente o fim de Israel e financia os terroristas que levam o medo aos israelenses; e que, em seu território, oprime mulheres, a população LGBT e outras minorias, e reprime violentamente manifestações populares por liberdade. Esta aliança entre Lula e a teocracia islâmica iraniana vem de antes do 7 de outubro; no início do terceiro mandato do petista, em fevereiro de 2023, a permissão para navios de guerra iranianos atracarem no Rio de Janeiro causou mal-estar entre Brasil e Estados Unidos, cuja embaixadora em Brasília afirmara que “esses navios, no passado, facilitaram o comércio ilícito e atividades terroristas”. Lula também contribuiu para a adesão do Irã ao bloco dos Brics, durante reunião no ano passado. Mas a camaradagem é bem mais antiga, datando da primeira passagem do petista pelo Planalto, entre 2003 e 2010. O episódio mais notável foi o empenho de Lula em costurar um acordo que permitisse aos aiatolás seguir adiante com seu programa nuclear, que o mundo inteiro sabe ter como objetivo a obtenção de uma bomba atômica, o que por sua vez teria o potencial de lançar a região em uma espiral de instabilidade muito maior que a atual. Em nome de um antiamericanismo de DCE e da união de um suposto “Sul Global” – do qual o Brasil, a rigor, nem seria um dos líderes, bastando ver o papel de coadjuvante que o país assumiu na última cúpula dos Brics –, Lula afasta a diplomacia brasileira de todos os princípios da atuação internacional brasileira elencados no artigo 4.º da Constituição, especialmente a “prevalência dos direitos humanos”, a “defesa da paz” e o “repúdio ao terrorismo e ao racismo”. O Irã é um regime que nega explicitamente tais princípios. Um ano após a barbárie de 7 de outubro de 2023, perpetrada por um grupo apoiado por Teerã, e neste momento em que o regime islâmico assume diretamente o trabalho de fustigar Israel, dados os recentes sucessos israelenses na eliminação de líderes de Hamas e Hezbollah, este alinhamento promovido por Lula e Amorim apequena ainda mais o Brasil diante do mundo. Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/lula-amigo-ira/ Copyright © 2024, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Lula é desafiado por novos líderes de esquerda - Lydia Medeiros (Congresso em Foco)

Lula é desafiado por novos líderes de esquerda

Congresso em Foco, 26.09.2024 12:54

https://congressoemfoco.uol.com.br/area/governo/lula-e-desafiado-por-novos-lideres-de-esquerda/

O presidente Lula vem sendo desafiado por uma nova geração de líderes regionais. Visões de mundo estão em choque, sobretudo no campo da esquerda. Num evento paralelo à cúpula da ONU, em Nova York, organizado pelo Brasil, o presidente do Chile, Gabriel Boric, afirmou que a esquerda fracassa ao usar medidas diferentes para criticar governos do mesmo campo. “Já conversamos muito com o presidente Lula sobre isso, como a ‘venezuelização’ da nossa política interna causou prejuízo muito grande para as esquerdas”, disse o chileno no encontro, que contou com outros líderes, como Emmanuel Macron (França), Pedro Sánchez (Espanha), Justin Trudeau (Canadá) e Xanana Gusmão (Timor Leste).

Não é a primeira divergência pública entre Lula e Boric sobre a posição brasileira de leniência em relação ao regime venezuelano e as violações a direitos humanos. Em maio do ano passado, quando Lula recebeu Nicolás Maduro como chefe de Estado no Planalto, o chileno confrontou declarações dele sobre a democracia venezuelana. Também tiveram opiniões distintas sobre a autodeclarada vitória de Maduro nas eleições presidenciais, condenada por Boric desde o primeiro momento, enquanto Lula anda dizia confiar na lisura do pleito. Na terça-feira, Lula não citou a Venezuela em seu discurso, ao abrir a Assembleia Geral da ONU.

Lula e Boric também tiveram posições distintas em relação à guerra na Ucrânia. No ano passado, o chileno classificou de “triste” o texto final da Cúpula da Celac-UE (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos com a União Europeia), por se restringir a uma única menção ao conflito, afirmando ter “preocupação profunda” com seus efeitos. Lula reagiu afirmando que Boric era jovem, não tinha experiência nesse tipo de reunião e, por isso, era mais “ansioso”.

Pesquisa realizada pelo Pew Research Center com 5.180 pessoas, entrevistadas entre janeiro e abril, mostra arranhões na imagem de Lula na América Latina. E os chilenos são os que menos confiam em Lula para “fazer a coisa certa” em relação aos assuntos mundiais: 62%. São seguidos pelos mexicanos (60%), peruanos (55%) e colombianos (53%). Na Argentina houve divisão — 49% não confiam; 40% confiam). Na média, a entrevista mostra que a influência global do Brasil continua a mesma — 49%. Entre os americanos, 64% pensam assim. No México, 57%, e na Colômbia, 50%. Já no Chile o índice cai para 33%.

 Boric não é candidato a líder da esquerda latinoamericana. As divergências expostas por ele, porém, evidenciam o desgaste de princípios que vêm norteando a política externa brasileira, especialmente antiamericanos, sob inspiração do embaixador Celso Amorim. O comportamento do governo brasileiro na crise da eleição venezuelana é o melhor retrato dessa corrosão.

 

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

LULA O IRRELEVANTE - William Waack (O Estado de S. Paulo)

LULA O IRRELEVANTE 

William Waack

O Estado de S. Paulo, 26.09.2024

Lula oscila entre acreditar que a ordem mundial possa funcionar por respeito a princípios mutuamente acordados entre os países ou que é apenas o terreno do uso da força bruta. Como não possui nenhum dos dois, sua opção preferencial em política externa tem sido a da irrelevância.

Na guerra da Ucrânia, o princípio fundamental violado é o da integridade territorial. No caso da Venezuela, foram brutalmente pisados os princípios básicos de direitos humanos e liberdades individuais. Lula não reconhece essas violações em nenhum dos casos e acabou ficando com pouca autoridade moral para condenar o que acontece em Gaza ou no Líbano.

É isso que torna inócuos seus apelos por “justiça” ou por “inclusão” dos países pobres em instâncias que deveriam ser de “governança global”, ou quando denuncia condutas hipócritas de países ricos. São apelos morais feitos por quem abandonou a moralidade.

Para ser levado a sério, especialmente quando sugere uma reforma de todas as instituições internacionais, o presidente brasileiro poderia ter feito uso de uma longa tradição brasileira de formulação de política externa — e que até certo ponto soube fazer uso do destino que a geografia nos impôs (a de estar longe de grandes conflitos e ter um claro entorno de influência).

Na visão tosca que o conduz pelas relações internacionais — a de que se trata de uma “luta de classes” entre o Norte rico e o Sul pobre — Lula move-se para o que supõe ser seu lugar “natural”. É acompanhar a China e a Rússia na contestação da hegemonia americana.

O primeiro resultado prático dessa postura é diminuir, e não aumentar, as opções para uma potência média regional com escassa capacidade de projetar poder, como é a situação do Brasil. Ainda por cima dependente de mercados na Ásia e de insumos de todo tipo oriundos de países da ainda existente aliança ocidental capitaneada pelos Estados Unidos.

O segundo é condenar à irrelevância também o papel de “liderança global” que Lula pretendeu assumir desde o início de seu atual mandato. Por escolher um lado, jogou fora qualquer credencial de “mediador” em conflitos como o da Ucrânia — mas se acha “esperto” encostando-se no grupo de países que enxerga como “vencedores” (Rússia e China).

Por não aderir a princípios, esvaziou a pretensão de ser ouvido como uma “voz” com autoridade para exigir respeito a eles. A voz dos fracos, como ele gosta de ser visto, vitimizada pela brutalidade dos fortes. O Brasil nunca dispôs de grandes poderes de coerção. Perdeu também o de persuasão.

Lula: um líder sem condições morais - Augusto de Franco





domingo, 15 de setembro de 2024

Cinco perguntas fáceis de responder - Paulo Roberto Almeida

 Cinco perguntas fáceis de responder

1) Por que Lula não chama a ditadura chavista da Venezuela de ditadura?

2) Por que a diplomacia brasileira, ou a lulopetista, ignora completamente a guerra de agressão de Putin contra a Ucrânia?

3) Por que Lula insiste na vinda de Putin para a cúpula do G20 no RJ se ele sabia, ou foi avisado pelo Itamaraty, de que o lider russo está sendo requisitado pelo TPI como criminoso de guerra e por ser sequestrador de crianças?

4) Por que Lula insiste em gastar recursos inexistentes se o seu ministro econômico avisa que a situação fiscal é calamitosa?

5) Por que Lula teima em colocar a culpa do descalabro econômico no BC?


Essas são fáceis de responder; tenho outras mais difíceis…

Paulo Roberto Almeida

A Cúpula do Futuro de Lula esvaziada- Jamil Chade e Paulo Roberto de Almeida

A Cúpula do Futuro de Lula esvaziada

Jamil Chade e Paulo Roberto de Almeida 

Uma simples constatação: o sistema multilateral está irremediavelmente fraturado, enquanto ditadores se impuserem pela força, e enquanto lideres do chamado Sul Global forem complacentes ou coniventes com eles. A iniciativa de Lula estava condenada ao fracasso desde o início, pois que ele, entre muitos outros, se recusou a denunciar os violadores do Direito Internacional e nunca quis se juntar às nações democráticas, preferindo o seu protagonismo megalomaníaco. 

A diplomacia profissional se esforçou por angariar apoios entre os grandes e os menos grandes, mas o exercício estava condenado desde o início e isso era visível: falta de senso de realidade no chefe da diplomacia personalista e falta de coragem entre os profissionais para falar sinceramente dos riscos de um fracasso. Vão dizer que valeu o esforço. PRA


Da coluna de Jamil Chade:

Um pacto esvaziado

Era para ser o resgate da ONU e do sistema multilateral. Mas a Cúpula do Futuro, organizada para ocorrer a partir do dia 22 de setembro em Nova York, não contará com os líderes de nenhuma das potências e membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

A China, por exemplo, irá apenas com um vice-ministro, enquanto Rússia, Reino Unido, Estados Unidos e França designaram seus chanceleres para falar.

Mediadores estrangeiros que fizeram parte das negociações do acordo admitiram ainda que houve uma revisão das ambições, diante do profundo racha que existe na comunidade internacional.

O texto, originalmente com o objetivo de recuperar a importância da ONU e dar respostas para os desafios do século 21, foi transformado em uma lista de aspirações, com pouco impacto. Ainda assim, o impasse continua em alguns dos aspectos relacionados à segurança e outros temas.

Para muitos, o acordo, com o ambicioso nome de "Pacto do Futuro", não passa de um compromisso dos governos a compromissos já feitos no passado. E que nunca foram cumpridos.

Numa sangrenta disputa de poder, o pacto ameaça ser apenas mais um sinal do mal-estar que atravessa o mundo e a diplomacia.

Todos os detalhes em minha coluna deste domingo:  

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2024/09/15/cupula-da-onu-com-lula-e-esvaziada-por-lideres-de-potencias.htm 

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Escalada de Maduro na Venezuela pressiona Lula a subir o tom com o ex-aliado - Henrique Lessa (Correio Braziliense)

 Escalada de Maduro na Venezuela pressiona Lula a subir o tom com o ex-aliado

Henrique Lessa
Correio Braziliense - Online | Política
11 de setembro de 2024



Oposição venezuelana organizou protestos em frente à representação brasileira em Caracas. Para especialistas, o Brasil perdeu oportunidade de se posicionar de forma adequada em relação à postura autocrática do regime de Maduro

Com as ameaças de invasão da embaixada da Argentina em Caracas, hoje sob a guarda do , e o aumento da pressão internacional contra Nicolás Maduro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cada vez mais é pressionado para subir o tom com o regime bolivariano. Também a coalizão opositora ao governo atual protestou, nesta quarta-feira (11/9), em Caracas, em frente à embaixada brasileira no país, para pedir que Lula interceda pelos presos políticos do país.

"Nos mobilizamos, na Venezuela e no mundo, para a sede diplomática do governo brasileiro para solicitar sua mediação na libertação de todos os presos políticos e o fim da repressão", dizia uma das convocações nas redes sociais, atribuída a María Corina Machado, principal líder da oposição. O protesto ocorreu em uma praça do centro da cidade. Os manifestantes encerraram o protesto em frente da representação diplomática brasileira.

Com o recente cerco à embaixada da Argentina, sob responsabilidade do governo venezuelano, a situação do governo Lula fica ainda mais difícil, aponta o embaixador aposentado Paulo Roberto de Almeida. "O Lula tem a sua diplomacia personalista, diminuída sistematicamente desde que ele começou. Convocou uma reunião em maio de 2003, para refazer a Unasul, que foi um fracasso. O Celso Amorim e Lula têm uma postura dúbia em relação à , que se mantém até hoje", criticou o diplomata.



Itamaraty ressalta que o vem se posicionando contra os desmandos de Maduro, e alertam que a postura tem sido a do diálogo, e apontam como prioridade manter a inviolabilidade das instalações da embaixada da Argentina em Caracas. "O que nos cabe é manter a inviolabilidade das instalações e a integridade física de quem está ali dentro", disse ao Correio uma fonte da diplomacia, sob reserva.

Para a professora de relações internacionais da ESPM Denilde Holzhacker, a postura do governo é cautelosa, mas aponta que Lula falha em não cobrar de forma mais enfática a manutenção da democracia no país vizinho. "O governo brasileiro tem usado aí uma estratégia de manter uma certa cautela nas ações com relação a ao , para não ampliar ainda mais o conflito. Mas a gente já poderia ter, por exemplo, sinalizado um apoio maior para a oposição nos órgãos internacionais é ter feito uma nota mais contundente com relação a questão da embaixada", avalia a professora.

Para especialistas ouvidos pelo Correio, o cenário mais provável é a permanência de Maduro no comando da e um agravamento da situação no país vizinho.

"O cenário é a permanência do Maduro e o aumento da repressão criando mais fissuras, mas são impactos na oposição. A oposição deve se enfraquecer, a saída de (Edmundo) González (candidato da oposição) já demonstra uma fragilidade para a manutenção do processo (de oposição). A oposição, ainda que bastante unida e com capacidade de mobilização, com, cada vez mais, apoio internacional, pode gerar mais pressão e repressão", aponta a professora Holzhacker.

Segundo a organização não governamental venezuelana Foro Penal, o país contabiliza quase 1,8 mil prisões políticas - 1.659 desde o final de julho, após o início dos protestos contra os resultados divulgados da eleição dando a vitória a Nicolás Maduro.

O não reconhece a vitória de Maduro nem da oposição, como já fizeram os Estados Unidos e outros países. Mesmo com o interesse da diplomacia brasileira em preservar os canais de comunicação com o governo de Caracas, analistas avaliam que falta ao governo Lula uma postura mais enérgica e alinhada aos compromissos brasileiros com a democracia.

"Está feio, e o vai sair feio. Qualquer coisa que o faça agora em relação ao Maduro, perdeu o tempo, vai ficar feio. Muito tarde e muito pouco", disse o embaixador Paulo Roberto Almeida. Para o diplomata, ninguém espera que  Lula venha a romper as relações com o país vizinho.