O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Meus livros podem ser vistos nas páginas da Amazon. Outras opiniões rápidas podem ser encontradas no Facebook ou no Threads. Grande parte de meus ensaios e artigos, inclusive livros inteiros, estão disponíveis em Academia.edu: https://unb.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida

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sábado, 15 de novembro de 2025

Uma opinião puramente subjetiva sobre o mal absoluto - Paulo Roberto de Almeida

Uma opinião puramente subjetiva sobre o mal absoluto

Paulo Roberto de Almeida 

A Rússia não é um Estado normal, nunca foi, jamais passou por qualquer tipo de “iluminismo”, ou seja, uma concepção admitida de humanismo. É uma espécie de barbarismo que adotou a aparência de um Estado, mas que no fundo continua bárbaro, no sentido mais objetivo da expressão, um comportamento de animal predatório, selvagem, no mais alto grau: tudo lhe é permitido: matar, esfolar, decepar, esquartejar, trucidar, enfim, cometer todo tipo de barbarismo, não talvez o súdito comum, mas os chefes e seus imediatos servos submissos. Sempre foi assim desde os tempos de Ivan, o Terrível, continua sendo assim com Putin, o cleptocrata da KGB, o chefe de máfia de St. Petersburg, o tirano de Moscou, o invasor desapiedado da Ucrânia, o destruidor da ordem política criada em 1945, na Carta da ONU. O autocrata com pretensões a entrar para a história como o único senhor do maior Estado do planeta.

Paulo Roberto de Almeida

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Certezas e dúvidas - Paulo Roberto de Almeida

 Certezas e dúvidas 

Paulo Roberto de Almeida 

Todos sabem quem é, qual a natureza, quais as intenções de Putin. Creio que não há nenhuma dúvida quanto a isso. Também sabemos, com certeza, de que Trump tem muitas dúvidas e que ele desconhece completamente a natureza profunda e real de Putin.

Todos sabemos, também, que os europeus, em geral, acreditaram, clara e sinceramente, na natureza profundamente ocidental dos EUA, e que, com base nessa certeza, eles se dedicaram, durante 80 anos, a construir uma bela casa agradável de se viver, confiando (mais que isso: tendo certeza) na proteção do Big Cop americano, contra os homens maus que poderiam vir do Leste.

Agora, os europeus estão cheios de dúvidas, e não sabem com certeza se poderão confiar novamente no Big Cop, e têm certeza de que não poderão, sozinhos, guardar a bela casa que construíram nos últimos 80 anos, com flores no jardim, dispensa cheia e tudo mais. A dúvida é sobre quando aparecerão os homens maus.

Trump tem uma única certeza: a de que ele é o homem providencial que poderá arrumar um novo esquema para cuidar das casas dos homens bons, inclusive fazendo alguns negócios com os homens maus, que assim deixarão de ser maus.

Ele tem outra certeza: a de que ele saberá, por meio de tarifaços, de induções e de ameaças, trazer os EUA de volta para as glórias da segunda revolução industrial, aquela do carvão e do petróleo, do motor a explosão, das linhas de montagem cheias de operários felizes e bem pagos, ao estilo do Modern Times de Chaplin.

Putin tem muitas dúvidas sobre as reais capacidades de seu país, com um PIB que é hoje inferior ao de uma potência média como é hoje, por exemplo, o Brasil, ainda que com um PIB per capita maior e capacidade militar muitas vezes maior.

Mas Putin tem uma única certeza: a de que poderá continuar enganando Trump, até que os ucranianos se rendam à exaustão ou de que os europeus consigam convencer Trump de que ele está enganado, ou resolva repentinamente cortar o resto da mesada defensiva que ele ainda concede a esses aproveitadores espertos e temerosos europeus.

O mundo está cheio de dúvidas e de certezas, e assim continuará até que Putin e Trump desapareçam de cena.

Xi tem algumas poucas dúvidas e muitas certezas, por isso ainda espera um pouco para dar seu próximo bote.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 26/08/2025


segunda-feira, 14 de julho de 2025

Três impérios, três destinos - Paulo Roberto de Almeida

Três impérios, três destinos

Existem hoje, temporariamente, três impérios e meio no mundo.

O império chinês é guiado pela racionalidade instrumental dos mandarins tecnocráticos do PCC. 

O império russo é dominado pela obsessão expansionista de Putin. 

O império americano está sendo diminuído pela ignorância avassaladora de Trump.

Isso explica as trajetórias diferentes de cada um deles: sucesso sustentável no primeiro caso; impasses e disfunções no segundo caso, podendo levar a uma profunda crise estrutural da Rússia; aceleração do declinio no terceiro caso, mas que atinge não só os EUA, mas o mundo todo, dada a magnitude do ainda hegemônico império americano. 

De certa forma, o mundo econômico é uma vitima da extrema ignorância de um déspota eleito democraticamente.

O mundo político e geopolítico está sendo abalado pelo expansionismo obsessivo de um ditador totalitário.

O fabuloso Império do Meio do passado, que atraía comerciantes e aventureiros europeus da primeira globalização, a dos “descobrimentos”, está sendo pacientemente reconstruído pelos novos mandarins do PCC.

Em volta desses três impérios, e do meio império da UE, que não possui comando unificado no plano econômico ou militar, gira o destino de potências médias, como Índia e Brasil, assim como o de todos os demais países com alguma importância econômica ou política no mundo atual. 

Alguns destes são guiados por estadistas inteligentes e racionais; outros, infelizmente, o são por lideres impulsivos ou mal assessorados, que reagem de forma tão irracional quanto o atual candidato a déspota dos EUA; de certa forma, este último está facilitando o itinerário bem sucedido do primeiro império.

CQD!

Paulo Roberto de Almeida

São Paulo, 14/07/2025


terça-feira, 27 de maio de 2025

Uma postura inaceitável a todos os títulos - Paulo Roberto de Almeida

Uma postura inaceitável a todos os títulos

Paulo Roberto de Almeida 

Como diplomata, conhecedor, portanto, dos princípios básicos do Direito Internacional, assim como esse contrato humanitário e pacificador que é a Carta da ONU, eu fico me perguntando, todas as manhãs, como é possível a um chefe de Estado e chefe da diplomacia brasileira, ou de qualquer outra diplomacia de um país normalmente aderente ao eixo central do multilateralismo contemporâneo, baseado em regras claras contra toda guerra de agressão ou de conquista unilateral, como é possível a qualquer pessoa conhecendo o mínimo do Direito Humanitário, e até as leis da guerra, já codificadas em convenções aceitas universalmente, como é possível a um chefe de Estado e da diplomacia manter relações de amizade, e até de apoio, a um criminoso de guerra já condenado pelo TPI, inclusive sendo responsável por crimes contra a humanidade, sob a forma de sequestro de dezenas de milhares de crianças forçosamente entregues a famílias estrangeira?

Como foi possível chegarmos a esse nivel de indignidade moral, a essa vergonha diplomática?

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 27/05/2025


sexta-feira, 23 de maio de 2025

Uma Tríade Monstruosa e Nefasta para a Humanidade - Paulo Roberto de Almeida

Uma Tríade Monstruosa e Nefasta para a Humanidade

Paulo Roberto de Almeida

Existem, atualmente, três coisas e três pessoas absolutamente nefastas ao bem-estar de países e de toda a humanidade, insustentáveis no plano econômico, político, securitário ou simplesmente humano ou ético, mas que continuam a se desempenhar impunemente aos seus promotores, ao arrepio dos interesses dos respectivos povos e do Direito Internacional e do Direito Humanitário. São elas, equiparadas nos malefícios impostos às suas vítimas:

1) a cruel guerra de agressão de Putin contra o povo da Ucrânia, a pretexto de ameaças desta à segurança da Rússia e de russos étnicos de suas províncias orientais;

2) a guerra de eliminação sistemática de Netanyahu contra o povo palestino da faixa de Gaza, a pretexto de abrigar os terroristas do Hamas;

3) a insana guerra tarifária de Trump contra todos os demais países, em especial China, UE e membros do acordo de livre comércio com Canadá e México, a pretexto de superávits comerciais com os EUA, deixando de lado os superávits em serviços dos EUA contra todos esses países.

Esses três criminosos, de guerra, humanitário e comercial, Putin, Netanyahu e Trump, são, a despeito de eleitos, autocratas arrogantes e violadores do Direito Internacional, causando danos irreparáveis à paz e à segurança internacionais, em primeiro lugar a seus próprios povos, além de atos agressivos contra todas aquelas vítimas de suas ações nefastas.

Constatamos que as vidas, o bem-estar, a segurança, o patrimônio material, o próprio respeito às normas mais elementares do Direito e da ética na conduta da governança nacional estão sendo gravemente ameaçados por esses três criminosos seriais. 

Proponho que eles sejam chamados de “Inimigos da Humanidade” e como tal sancionados num tribunal especial de caráter ético e humanitário.

Paulo Roberto Almeida

Brasília, 23/05/2025


quarta-feira, 14 de maio de 2025

Hungria: como se monta uma ditadura, estilo Putin ou Chávez - ELENA GIORDANO (Politico)

Orbán’s Fidesz party proposes Russia-style crackdown on Hungary’s civil society

“foreign agent” law that the Kremlin uses to suppress NGOs and independent voices.

domingo, 11 de maio de 2025

Would You Be Ready to Meet Putin? - Viktor Kravchuk

Would You Be Ready to Meet Putin?

Zelenskyy won’t walk in with hope. He’s walking in with dignity.

VIKTOR KRAVCHUK
MAY 11, 2025

WOULD YOU WALK INTO A ROOM with the man who tried to destroy everything you love?

Would you sit across from the one who denied your very existence, while the people you swore to protect were still being killed?

Would you call that diplomacy?

Zelenskyy will. This Thursday.

In Turkey.

Face to face with Putin.

While the missiles still fall.

Our president asked for one thing. A ceasefire. Full. Unconditional. Real.

He didn’t ask for land. He didn’t ask for leverage. He asked for the violence to stop, just long enough to talk.

But Russia answered with 104 drones in one night, and they struck our cities while pretending to think about peace.

In Sumy, three more civilians died.

In Kyiv, well, same story. 3 years now.

Putin says he’s ready for talks.

But his idea of “talking” usually starts with a funeral.

Sometimes the person he meets becomes the next.

It’s one of the most dangerous things a human being can do. To meet the monster, while the monster still has the knife in his hand.

We’ve seen this story before.

Russia makes a promise. Breaks it. Lies about it. Then blames us for bleeding.

You know what this is.

Russia doesn’t want peace. It wants obedience.

It wants the photo, the quote, the illusion of reason.

And when it doesn’t get what it wants, it kills.


Still, Zelenskyy said yes.

“I’ll be there. Personally.”
“We expect a full ceasefire, starting now.”
“I hope Putin doesn’t find excuses this time.”

But Putin will find the excuses. He always does.

He doesn’t show up to talk. He shows up to stall. He shows up to control the script.

If he shows up at all.

But someone has to be in the room. Someone has to carry hope in, even when it might not come back out.

That’s not trust. That’s leadership.

Because Russia doesn’t talk. Russia deceives.

Every time we’ve met them at the table, they brought war in their pocket.

They signed “peace agreements” while printing maps for the next invasion. They pretended to listen, only to turn around and deny our right to exist.

Putin said Ukraine was a fiction. He said we were not real.

That this country did not deserve to stand.

So tell me, how do you negotiate with someone who doesn’t even believe you’re a person?

But at the same time, what choice do we have?

We are being attacked by the largest country on Earth.

A nation that covers one-seventh of the world’s surface, fueled by a fantasy of empire and backed silently, strategically, completely, by China.

Not loudly. But you know. We all do.

That’s not one enemy. That’s nearly two billion people, under regimes that see our democracy as a virus they must kill before it spreads.

And then there’s America.

A country that once led the free world, and now sadly needs to bow to a man who jokes about war crimes, calls our President a coward from behind a golf cart, and get applauded for that.

Trump.

The most cynical leader I’ve seen in my lifetime.

The kind who sells you out before breakfast, then blames the waiter for the price.

A man who will praise Putin for strength and mock Zelenskyy for courage.

That’s what cowards do when they see real courage.

They try to destroy it.

Because it reminds them of everything they are not.

So here we are.

Outnumbered. Surrounded. Lied to. And still, we go to Turkey.

We ask for a ceasefire. We say, “Let’s talk.”

Even when we know they probably won’t listen.

Even when we know they’ve used meetings like this before to regroup. To reload. To kill.

Even when we know the moment we pause, they’ll push harder.

Still. We go.

Because that’s what Ukrainians do.


Would you ever be ready to meet a man like Putin?

Could you sit across from the man who tried to bomb your country off the map, and still ask for peace?

Could you carry the weight of three years of war into that room, knowing that any handshake might be a setup?

Could you do that while your people are still being buried and and the sky above you is still screaming?

Because that’s what Zelenskyy is doing.

And whatever happens Thursday, history will remember that.

He’ll be there. Waiting.

What would you feel if your President walked into a room like that for you?

Because he is.

And not just for Ukraine.

But for every person who still believes peace is worth fighting for.

Or every nation that still holds democracy as a value we don’t have the option to give up.

This is about how we keep standing, even when so much of the world tells us to sit still.

You’re not just reading this.

You stayed.

You felt it.

You know that Zelenskyy is going to meet the monster for you, too.

That means you’re here. With us.

In attention. In memory.

In whatever part of you refused to walk away.

Thanks for not walking away.

sábado, 10 de maio de 2025

A farsa de Moscou e seus figurantes - Paulo Roberto Almeida

A farsa de Moscou e seus figurantes

Paulo Roberto Almeida

Lendo a lista nominal (abaixo) das personalidades presentes ao “show” montado por um criminoso de guerra para continuar enganando o seu próprio povo e, tentativamente, metade do mundo (menos as democracias liberais) sobre a fraude que representam as comemorações em torno da “grande guerra sobre o nazifascismo” (por parte de um outro fascismo, antes e agora), constato que o único que de fato possui alguma importância mundial é o líder chinês, que no atual contexto histórico escolheu fazer uma aliança circunstancial com o tirano de Moscou por conveniências de sua diplomacia prática em resposta às agitações agressivas do ainda grande Hegemon mundial que entretém o impossível projeto de deter a ascensão de um competidor real nos assuntos da política internacional.

Todos os demais, à exceção do pequeno líder regional do Brasil, não precisam sequer responder às críticas do seu próprio povo pelo fato de terem participado de uma farsa montada por um criminoso contra a humanidade (procurado pelo TPI pelo sequestro de milhares de crianças ucranianas) para dar a impressão de que possui qualquer credibilidade internacional pela monstruosa guerra de agressão contra a soberania de um país vizinho.

Lula responderá pelo seu inaceitável gesto de aceitar o convite do ditador assassino perdendo mais pontos de apoio por parte dos eleitores do Brasil que valorizam o respeito à vida de civis e sobretudo o respeito ao Direito Internacional, que ele acaba de conspurcar ao participar de uma fraude histórica e de um gesto de desrespeito à Carta da ONU que o Brasil democrático sempre acatou.

Todos os demais autocratas que foram a Moscou (com a possível exceção do representante eslovaco) não precisam se preocupar em responder a críticas dos seus próprios povos, mas o brasileiro e o eslovaco certamente pagarão o preço de sua aceitação ao convite do procurado pelo TPI por crimes imprescritíveis.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 10/05/2025


Lista de líderes mundiais que aceitaram o convite de Putin:


Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil)

Xi Jinping (China)

Nicolás Maduro (Venezuela)

Miguel Díaz-Canel (Cuba)

Mahmoud Abbas (Palestina)

Masoud Pezeshkian (Irã)

Tô Lâm (Vietnã)

Thongloun Sisoulith (Laos)

Aleksandr Lukashenko (Bielorrússia)

Aleksandar Vucic (Sérvia)

Robert Fico (Eslováquia)

Milorad Dodik (Bósnia e Herzegovina)

Nikol Pashinyan (Armênia)

Ilham Aliyev (Azerbaijão)

Kasym-Yomart Tokayev (Cazaquistão)

Sadyr Zhaparov (Quirguistão)

Shavkat Mirziyoyev (Uzbequistão)

Emomali Rahmon (Tajiquistão)

Serdar Berdimuhamedov (Turcomenistão)

Ibrahim Traoré (Burkina Faso)

Denis Sassou-Nguesso (República do Congo)

Abdelmadjid Tebboune (Argélia)

Abdul Fatah al-Sisi (Egito)


segunda-feira, 5 de maio de 2025

Uma escolha infame - Paulo Roberto de Almeida

Uma escolha infame

Lula deixará, neste mês de maio de 2025, uma marca vergonhosa para a diplomacia profissional brasileira ao visitar e apertar a mão de um criminoso de guerra em Moscou, confirmando, mais uma vez seu apoio objetivo ao violador deliberado da Carta da ONU e destruidor de vidas e de todo um país.

Um gesto indigno das tradições democráticas e humanistas da diplomacia brasileira.

Deveria estar comemorando, no dia 8 de maio, a memória da FEB e os 80 anos da vitória aliada contra o nazifascismo europeu. Em lugar disso, está escolhendo a companhia de um legítimo representante daqueles que iniciaram a guerra mundial em 1939, ao atacar conjuntamente a Polônia.

A Ucrânia de hoje é a Polônia de 1939.

Paulo Roberto Almeida

Brasília, 5/05/2025


terça-feira, 15 de abril de 2025

Viagens presidenciais - Paulo Roberto de Almeida

Viagens presidenciais

Paulo Roberto de Almeida

Planejar e executar uma viagem internacional pode ser uma rotina em blocos racionais e organizados como a UE, aparentemente o único “adulto na sala” atualmente. Outros líderes nacionais, como o novo imperador chinês, por exemplo, podem dispor de uma burocracia organizada em estilo weberiano e, portanto, recolhem beneficios para seus países.

E o que dizer de líderes personalistas ao extremo? Fazem o que desejam, com resultados variados em suas eventuais viagens, planejadas pela burocracia diplomática ou apenas impulsionadas pelo próprio ego.

Refiro-me, concretamente, a Putin e a Trump, dois líderes disfuncionais e DESTRUIDORES de seus próprios países (e do mundo, eventualmente): o primeiro constrangido pelo TPI, com razão, só viajando para países não membros e dispostos a recebê-lo, que são poucos. O segundo tem mais liberdade de movimento, mas deve ser o segundo líder mundial mais desprezado do mundo, pela enorme bagunça que faz na globalização.

E Lula, que se prepara para viajar à Rússia e à China, aqui para uma agenda multilateral (Celac) e bilateral, ambas positivas para o Brasil?

O que pretende fazer na Rússia?

Não sabemos, exatamente, mas aceitou convite do líder mais desprezado do mundo — pois é um criminoso de guerra, destruidor de vidas na Ucrânia — por um capricho UNICAMENTE PESSOAL, pois não imagino o Itamaraty recomendando uma viagem para apertar a mão de quem violou abertamente a Carta da ONU e as regras mais elementares do Direito Internacional e do Direito Humanitário, duas colunas fundamentais de nosso trabalho, espírito e razão na diplomacia. 

Por isso pergunto: QUAL O BENEFÍCIO PARA O BRASIL DA VIAGEM DE LULA AO ENCONTRO DE PUTIN?

Desculpem as maiúsculas, mas elas me parecem inteiramente necessárias. Por isso volto a dizer: LULA NÃO DEVERIA IR A MOSCOU!

Pela dignidade nacional, pelo menos a dignidade diplomática.

Paulo Roberto Almeida

Brasilia, 15/04/2025


quarta-feira, 9 de abril de 2025

Putin: eurasiano e antiocidental - Denis Lerrer Rosenfield (O Estado de S. Paulo)

Putin: eurasiano e antiocidental 

Denis Lerrer Rosenfield


O Estado de S. Paulo, segunda-feira, 7 de abril de 2025

Nessa ‘cruzada’, seus companheiros de luta seriam Irã, Venezuela, Síria, Nicarágua, Coreia do Norte, Bielorrússia e, de maneira mais cautelosa, a China

 

Qual seria o limite de Putin, uma vez estabelecido um cessar-fogo, patrocinado pelos EUA? Contentar-se-ia ele com a conquista de 20% do território ucraniano ou com o compromisso de que esse país não ingressaria na Otan?

Considerando a história russa, os comprometimentos de Putin e a ideologia eurasiana à qual adere, a resposta talvez fosse: acordos diplomáticos, por si sós, não limitam um país que se baseia numa concepção de mundo, e europeia em particular, expansionista. Uma conquista territorial, por mais importante que seja, não é suficiente, embora uma contenção possa surgir do fato de que a força militar russa se mostrou incapaz de uma vitória total – conquistando toda a Ucrânia, como era o seu projeto geopolítico. A sua aparência e narrativa não corresponderam à sua atuação no campo de batalha.

A Grande Nação Russa teria pretensões hegemônicas não apenas sobre a Ucrânia, mas também sobre os Países Bálticos e a Polônia, um tal projeto se escalonando no tempo, via preparação meticulosa, sobretudo na indústria de Defesa e no aprimoramento de suas Forças Armadas, aprendendo com seus erros recentes. A instabilidade e a insegurança se instalariam no longo prazo. No caso da Polônia, note-se, a contenção não seria diplomática, mas militar, visto que esse país, em 2024, gastou 4,2% de seu PIB em suas Forças Armadas e em seu rearmamento, já tendo alcançado em 2025 4,9%, o maior da Europa.

Putin oscilou, durante sua carreira política no Kremlin, entre o polo ocidental e o que se denomina eurasiano, tendo sido, num determinado momento, pró-ocidental, aproximando-se de Tony Blair e George W. Bush. Depois, tornou-se um defensor dos valores russos, da Igreja Ortodoxa e da Grande Rússia, que deveria ser resgatada, após o colapso – para ele uma “catástrofe geopolítica” – da União Soviética, quando teria perdido vários países, entre os quais a Ucrânia e os Países Bálticos. Um império colapsou, o outro teria, agora, de ser recriado, e por ele.

Em 2003, durante uma viagem à Escócia, chegou a declarar que a “Rússia é parte da Europa”. Em 2008, declarou a Bush que “a Ucrânia não é sequer um país”, por ela fazer parte da Rússia, em todo caso a Crimeia e as regiões do Leste. No mesmo ano, já estava totalmente convertido à doutrina eurasiana, eslavofista. Numa reunião com o então vice-presidente Joe Biden, teria dito: “Não somente ilusões (...) nós não somos como vocês. Só parecemos com vocês. Mas somos muito diferentes. Os russos e os norte-americanos só se parecem fisicamente, mas nossos valores são muito diferentes”.

Alexander Dugin, seu ideólogo, elaborou essa concepção. Segundo ele, a Rússia não é apenas um país, mas uma nação, leia-se uma civilização, com alma própria, em tudo distinta da ocidental. Sua filosofia seria conservadora, no sentido de conservação de seus valores, enraizados em seu povo ( narod), portador, por sua vez, de um ser próprio, o do camponês russo, em tudo distinto da concepção ocidental do povo, baseada nos direitos universais do cidadão. O homem não é indivíduo livre, mas membro de uma comunidade à qual presta obediência.

O conceito de conservadorismo, assim entendido, inclui em sua significação a noção de algo grandioso, de valores próprios que se alçariam a seu Zenith por meio da noção do homo maximus, tendo como resultado a noção de Império. Império vem a significar uma unidade territorial, um Estado em expansão, conduzido por um grande homem, capaz de encarnar esses valores máximos, levando-os para além de suas fronteiras. E, mais ainda, para seus territórios vizinhos como a Ucrânia, considerado um país artificial, ou os Países Bálticos, o que equivale a dizer que deveriam ser incorporados à Grande Rússia. Logo, Império não é somente uma entidade política, mas “religiosa”, imbuída de uma missão civilizatória.

“Conservadores são raramente pacifistas”, escreve ele.

Eles estão voltados para a guerra, não somente por uma necessidade geopolítica, mas religiosa. Trata-se de uma expansão ideologicamente fundada, uma espécie de necessidade da alma russa, dos valores de seu narod, corretamente interpretados por sua liderança política. Um povo que não se engaja numa guerra é um povo que decai, podendo vir a perder a sua alma. Um povo carente de alma nem mereceria existir.

Em seu antiocidentalismo, Dugin propõe uma guerra sem quartel contra o universalismo ocidental, sua noção de direitos, seu conceito de autodeterminação dos povos e os seus representantes políticos. Seu alvo são os liberais identificados aos inimigos. Comunistas e não comunistas antiocidentais se unem contra o inimigo comum, Putin e Dugin colocando-se em linha de continuidade com a União Soviética, em sua cruzada antidemocrática. Nesta sua cruzada, seus companheiros de luta seriam Irã, Venezuela, Síria (naquele então sob o jugo da família Assad), Nicarágua, Coreia do Norte e Bielorrússia, e, de maneira mais cautelosa, a China.

Eis o mundo reconfigurado na perspectiva russa! 

segunda-feira, 10 de março de 2025

Interpretando uma foto altamente simbólica

Putin deve estar dizendo para si próprio:

"Nunca pensei que fosse tão fácil enganar esse idiota, e com isso consigo desativar a política externa do meu outrora inimigo."

De fato não parece muito difíl, quando se é um tirano com grandes projetos em face de um aprendiz de ditador...


quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Na origem da atual ordem mundial: a desordem brutal criada por dois ditadores - Paulo Roberto de Almeida

Na origem da atual ordem mundial: a desordem brutal criada por dois ditadores

Paulo Roberto de Almeida

Lula se prepara para participar com Putin, no início de maio de 2025, das celebrações pelo final da II Guerra Mundial, 80 anos atrás, em grande medida vencida graças aos esforços do povo russo (não existe povo soviético) contra as tropas nazistas que invadiram o seu país em 1941.

De fato, a derrota das forças nazifascistas que deslancharam a guerra europeia e mundial em 1939, dominando grande parte da Europa nos dois primeiros anos, depois estendendo o conflito a outros territórios (URSS e EUA) a partir de 1941, foi o que determinou a articulação militar que acabou gerando, entre 1944 e 1945, a ordem mundial da ONU, que hoje está sendo abalada e fragmentada por repetidas demandas por uma “nova ordem global multipolar”.

Putin pretende fazer da comemoração dos 80 anos do final da guerra no coração da Europa uma espécie de triunfo continuado da Rússia em prol da construção de um mundo de paz baseada na força militar, e Lula faz questão de prestigiar o evento, com sua presença pessoal.

Ambos o fazem na ignorância deliberada de dois eventos que mistificam a data, ao esconder o essencial, tanto na história quanto na atualidade.

Esta última é marcada não pela paz, mas pela guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, que Lula prefere ignorar por completo, e que é o sinal mais evidente da fragmentação da ordem mundial criada 80 anos atrás, ao cabo da maior guerra global da humanidade (até o presente).

Mais importante ainda: Putin quer fazer esquecer — e Lula deve ignorar totalmente— que a IIGM terminada em 1945 só pôde ser iniciada pelo fato das duas grandes tiranias existentes em 1939, a União Soviética de Stalin e a Alemanha nazista de Hitler, terem concluido um pacto de não agressão oportunista, contendo como cláusula secreta a invasão e divisão da Polônia, o que permitiu o início da guerra uma semana depois.

Comemorar o fim de uma guerra esquecendo o que permitiu que ela começasse é um gesto sórdido de esquecimento deliberado da História, que Lula pretende praticar, ao lado de seu amigo Putin, companheiro no Brics e parceiro na tentativa de desmantelamento da atual “ordem ocidental”, o tirano de Moscou que já foi chamado, justamente, de “Hitler do século XXI”. 

Putin prefere negligenciar o papel dos dois ditadores responsáveis pelo início da mais horrenda catástrofe do século XX. 

Que Lula se junte a uma mistificação histórica, em nome do Brasil e do povo brasileiro, ademais em meio a uma nova guerra de agressão de certo modo similar à tragédia de 1939, 86 anos atrás, representa uma desonra para o povo brasileiro, que também sofreu as consequências da mais terrível guerra que abalou a humanidade e que destruiu a “ordem mundial” precedente.

Que Lula também pretenda, no mesmo contexto, ajudar a construir uma “nova ordem global”, proposta por um violador da Carta da ONU e das regras mais elementares do Direito internacional, buscado pelo TPI por crimes de guerra e crimes contra a humanidade, revela apenas sua imensa ignorância sobre os pilares fundamentais da ordem mundial atual que ele pretende substituir por algo tão vago quanto essa “nova ordem multipolar” proposta por dois líderes autocráticos.

O Brasil e o povo brasileiro não merecem essa consagração do atual destruidor da ordem mundial existente, pelos mesmos meios, a força bruta e a violação de direitos fundamentais vigentes na época (a Liga das Nações e o Pacto Briand-Kellog), pela adesão ingênua do atual dirigente brasileiro, desprovido de um adequado conhecimento histórico, mas animado de uma dispensável oposição à presente ordem mundial multilateral da qual o Brasil e sua diplomacia se consideram legítimos construtores, 80 anos atrás.

Não cabe esquecer o que motivou essa construção, seis anos antes da data agora mistificada para esconder os gestos sórdidos que estiveram em sua origem.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 29/01/2025

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Constatação simplória 2 - Paulo Roberto de Almeida

Constatação simplória 2

Paulo Roberto de Almeida

Constato, não sem certa tristeza, que não somos o único grande país no qual as elites dirigentes e dominantes se congratulam entre si, falam apenas para si próprias, embevecidas em seu mundo-fantasia, no qual nada deve mudar no futuro previsível.

De certa forma, além do Brasil, a Rússia de Putin e os EUA de Trump, parecem partilhar da mesma tendência à introversão num cenário construído para a autossatisfação.

Sorry pela nota deceptiva.

Paulo Roberto de Almeida 

SP, 3/01/2025


terça-feira, 24 de dezembro de 2024

As duas novas pragas da modernidade - Paulo Roberto de Almeida

As duas novas pragas da modernidade 

Paulo Roberto de Almeida

Putin, o Hitler do século XXI, é um destruidor da paz e da segurança na Europa, e tenta também mudar o mundo, mas não tem poder para isso. A China observa, tentando ver qual benefício consegue tirar para si das tresloucadas aventuras do tirano de Moscou.

Trump, o idiota que chegou ao poder, é uma ameaça ao mundo inteiro, pois é um desmantelador potencial das instituições multilaterais, ou seja, está destruindo, a marteladas, a ordem que Woodrow Wilson tentou criar em 1919 (e que o Congresso americano vetou), assim como a ordem que Franklin Roosevelt e Churchill criaram (a despeito de Stalin) em 1945, e que funcionou de forma precária por 80 anos.

Putin e Trump são as duas maiores ameaças à estabilidade mundial no momento presente. Cada um deles tem o seu cortejo de beócios, que os seguem bovinamente em suas respectivas obras de destruição material e institucional.

Existe certa convergência de intenções entre os dois patéticos personagens, ainda que contextos e circunstâncias de cada um deles sejam bastante diferentes, umas das outras.

O que os une, essencialmente, é uma falta total de empatia para com o mundo tal qual ele existe, uma raiva pessoal que se expressa em suas atitudes respectivas, fruto de um egocentrismo doentio e malévolo, no limite de uma psicopatia perversa. 

O caso deles é psiquiátrico, e se a ONU tivesse condições, guiada por estadistas democráticos, o destino de cada um deles seria o de serem levados numa ambulância, com camisa de força, diretamente a um asilo psiquiátrico, para sempre.

Neste Natal de 2024, não quero ser uma ave de mau agouro, mas prevejo os piores desastres humanitários, caso esses dois loucos continuem tendo poder.

Não creio que os europeus ocidentais, os membros da UE ou da Otan, tenham poder, capacidade ou vontade de deter esses dois personagens saídos diretamente de algum revival de Cassandra. 

O resto do mundo não conta muito no roteiro da tragédia, muito menos o tal de Sul Global, que de fato não existe. Não temos sequer alguma pitonisa délfica para desvendar o que poderiam nos antecipar os vapores do futuro. 

Recorrendo à filosofia popular, estamos no mato sem cachorro. 

Desculpem-me ser cético negativo quanto ao cenário imediato neste Dia de Natal, mas  creio que, mesmo neste 25/12/2024, teremos péssimas notícias vindas de uma ou outra das duas pragas, ou de ambas.

Fiquem bem, mas cruzem os dedos para 2025. Bom Ano a todos!

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 24 de dezembro de 2024


segunda-feira, 28 de outubro de 2024

A Georgia firmemente nos braços de Putin - Bloomberg’s Balance of Power

 Não creio que a oposição pró-Europa consiga reverter mais uma eleição fraudada em favor da Rússia na Georfia, que já sofreu intervenção armada direta em 2008.


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In November 2003, protests over disputed parliamentary elections in Georgia spiraled into the pro-Western Rose Revolution. Today may show whether the pendulum is swinging back.

After denouncing weekend elections won by the ruling party as rigged, Georgian President Salome Zourabichvili, whose powers are largely ceremonial, has called for protests to safeguard the country’s “European future.” She termed the election a “Russian special operation” to restore control over the country.

The Georgian Dream party, in power for 12 years, drew intense recent criticism for passing a “foreign agent” law that the US and the European Union said emulated one Russian President Vladimir Putin used to crush democratic dissent.

A demonstration against the “foreign influence” law in Tbilisi on April 16. Photographer: Vano Shlamov/AFP/Getty Images

Georgia has sought EU and NATO membership since the 2003 revolt, which was followed by pro-democracy “color revolutions” in other former Soviet republics including Ukraine. Moldova’s 2009 “Twitter” revolution was also sparked by disputed parliamentary elections.

Putin was convinced the US and its EU allies were ousting Kremlin-friendly regimes to tilt Moscow’s former satellites toward the West.

Now he’s fighting a war to subjugate Ukraine. Moldova’s pro-European President Maia Sandu faces a challenging election runoff against a Moscow-backed opponent on Sunday.

Georgian Dream has drawn closer to Moscow even as it says it’s still committed to EU integration. Hungarian Prime Minister Viktor Orban, widely seen as Russia’s closest ally in the EU, congratulated the party on winning only minutes after voting closed and may visit Georgia as soon as today.

Brussels suspended membership talks over the “foreign agent” law and Washington is reviewing relations with Georgia. After the Rose Revolution, they bet on Georgia as a vital gateway for energy and trade routes between Europe and Asia that bypass Russia.

Today’s protests will show the strength of popular will to defend Georgia’s pro-Western path — or whether Putin has successfully played the long game to restore Russia’s influence.

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Certas quedas são extremamente bem-vindas... - Lula ausente da reunião do Brics - Igor Gielow (FSP)

Certas quedas são extremamente bem-vindas... Ausência de Lula na cúpula do BRICS evita possíveis tensões diplomáticas com os EUA Igor Gielow Folha de S. Paulo, 21/10/2024 - 09h36 A ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na 16ª Cúpula do BRICS, realizada em Kazan, Rússia, pode ter evitado um cenário diplomático delicado para o Brasil, de acordo com especialistas em relações internacionais. Leonardo Trevisan, professor da ESPM, destacou que um encontro presencial entre Lula e o presidente russo Vladimir Putin poderia ter gerado tensões com os Estados Unidos, considerando o atual contexto de conflitos globais. Em análise publicada no Estadão, Trevisan afirmou que, diante das crescentes tensões entre o Ocidente e a Rússia, uma imagem de Lula ao lado de Putin poderia ser interpretada de forma negativa pelos Estados Unidos. “O aperto de mãos com Putin seria visto como um sinal de alinhamento em um momento de confronto entre o Ocidente e a Rússia”, explicou Trevisan. Segundo o especialista, isso poderia resultar em pressões diplomáticas adicionais para o Brasil, especialmente em sua relação com Washington e outros aliados ocidentais. A cúpula do BRICS, que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, discute uma série de temas, incluindo a desdolarização das economias do bloco. Essa pauta já provocou reações nos Estados Unidos, particularmente de Donald Trump, ex-presidente e atual candidato à presidência pelo Partido Republicano. Trump tem sido categórico em suas declarações sobre o tema, afirmando que, se retornar ao poder, buscará punir países que optarem por seguir esse caminho. Além disso, Trevisan comentou que outro aspecto sensível seria a possibilidade de um encontro entre Lula e o presidente do Irã. Para o professor, tal reunião poderia ser vista como um distanciamento do Brasil em relação a aliados tradicionais no Oriente Médio, como Israel. Embora o Brasil tenha mantido uma postura crítica em relação a Israel em diferentes ocasiões, uma reunião com o Irã, neste momento, poderia ser interpretada como uma mudança significativa na política externa brasileira. “Isso ultrapassaria um limite que o governo brasileiro tem evitado até agora”, destacou o especialista. Outra questão em debate na cúpula é a proposta de China e Índia de incluir a Nicarágua e a Venezuela no BRICS, uma ideia que, segundo Trevisan, não é vista com bons olhos pelo Brasil. Ele apontou que o governo brasileiro considera que essas inclusões não trariam benefícios estratégicos. “O Brasil não tem interesse em fortalecer suas relações com a Nicarágua, e a reaproximação com a Venezuela ainda é um processo delicado”, afirmou. Em meio a esses contextos, o Brasil será representado na cúpula pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Fontes diplomáticas indicaram que a ausência de Lula foi justificada como “força maior”, em razão de um acidente doméstico sofrido pelo presidente no fim de semana. O ministro Vieira, de acordo com essas fontes, terá plenos poderes para negociar e representar o Brasil em todas as discussões. A presença de Vieira na cúpula reflete a importância dada pelo governo brasileiro ao BRICS, ao mesmo tempo que busca evitar a associação direta de Lula com Putin, em um momento em que as relações entre Rússia e países ocidentais estão especialmente tensas. A participação do Brasil no BRICS é vista como uma oportunidade para fortalecer laços econômicos e políticos com outras potências emergentes, mas também exige cuidados na condução das relações internacionais, especialmente com os Estados Unidos. A estratégia de Lula parece ter sido calculada para manter o equilíbrio entre diferentes interesses geopolíticos. O Brasil, como membro do BRICS, está engajado nas discussões do bloco, que busca reduzir a dependência do dólar nas transações internacionais. Contudo, o país também mantém relações importantes com os Estados Unidos e a União Europeia, e um alinhamento explícito com a Rússia e a China poderia comprometer esses laços. A ausência de Lula, portanto, pode ser vista como uma medida preventiva para evitar confrontos diplomáticos que poderiam surgir em meio ao cenário internacional volátil. Embora o Brasil busque ampliar sua influência no BRICS, o governo parece estar ciente dos riscos de ser associado de forma muito próxima aos interesses de Rússia e China, especialmente em um momento em que os Estados Unidos demonstram grande sensibilidade em relação à postura de seus aliados em temas globais. Com isso, o papel do Brasil na cúpula do BRICS ficará nas mãos do ministro Vieira, que terá a tarefa de conduzir as negociações sem comprometer a posição de neutralidade que o país tem procurado manter. A decisão de Lula de não participar pessoalmente do encontro em Kazan pode ter sido um movimento estratégico para proteger a diplomacia brasileira de um embaraço internacional.

domingo, 20 de outubro de 2024

Uma declaração de invejável atualidade - Paulo Roberto de Almeida

Uma declaração de invejável atualidade Paulo Roberto de Almeida Parece, de fato, extremamente atual: "É necessário opormo-nos a todas as ideias tendentes à criação de sistemas que possam desfechar na hegemonia de uma nação sobre outras, tanto quanto no domínio dos fortes sobre os fracos. O mundo não mais tolera impérios cesaristas erigidos e suportados pela força e tendo a pretensão de submeter as outras soberanias. Passou o tempo em que a classificação das nações se fazia de acordo com a extensão e a qualidade do seu poderio militar... A força das armas cede caminho à da razão. A violência recua ante as prerrogativas da justiça. O egoísmo nacionalista se desvanece em face do impulso pela política de cooperação, fraternidade e paz." Parece atual, mas não é. A frase foi pronunciada por Afrânio de Melo Franco, pai de Afonso Arinos, ele chanceler do governo provisório de Getúlio Vargas, em 1934, em alocução feita no aniversário do armistício de 1918, em 11 de novembro de 1934, quando ele já tinha deixado a chancelaria brasileira, em cerimônia internacional promovida pela Columbia University, sob os auspícios da Fundação Carnegie para a Paz, para a qual tinha sido convidado em sua condição pessoal de grande estadista. Afonso Arinos de Melo Franco, filho de Afrânio, que também presidiu uma Comissão Constitucional prévia à Constituinte de 1987-88 – o pai tinha feita a sua, também no Itamaraty do Rio, em 1934 –, foi igualmente chanceler duas vezes nos anos 1960, a primeira no governo presidencial de Jânio Quadros, a segunda num dos gabinetes do governo parlamentarista de João Goulart. A despeito do otimismo de Afrânio, o despotismo dos fortes, antes Hitler, agora Putin, continua a prevalecer. Fonte: Afonso Arinos, Um Estadista da República, vol. III – Fase Internacional, 1955, p. 1518.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

O Brics só se move segundo os interesses da Rússia de Putin - Victor Farinelli (Opera Mundi)

Os requerimentos do Brics para aceitação de novos membros no bloco se encaixam perfeitamente nos condicionantes russos para total apoio à sua política externa. O único item que combina com os interesses do Brasil é a reforma da ONU, mas todos sabem que ela não tocará no CSNU. O Itamaraty examinou cuidadosamente a lógica intrínseca ao paradigma russo? PRA BRICS define não apoio a sanções do Ocidente como condição para aceitar novos membros no bloco Victor Farinelli Opera Mundi, 14 de outubro de 2024 A 16ª Cúpula dos líderes do BRICS deve definir, na Rússia, quais os critérios para que outros países possam se associar ao bloco como parceiros, modalidade diferente da exercida por membro pleno. Entre os critérios já definidos, estão a defesa da reforma das Nações Unidas (ONU), incluindo o Conselho de Segurança; ter relações amigáveis com os membros atuais, o que inclui Rússia, China e Irã; além de não apoiar sanções econômicas aplicadas sem a autorização da ONU. Nos próximos dias 22 a 24 de outubro, os chefes de estado dos países membros, incluindo o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, se reúnem em Kazan, na Rússia, para definir os critérios. Segundo o Itamaraty, a definição já está em fase avançada de negociação. "O Brasil tem adotado a posição de não indicar países porque nós entendemos que o importante é você discutir os critérios. Depois que você discute os critérios, você vê quais países se encaixam nesses critérios. Mas os critérios não vão fugir muito do que já existe para membros plenos", explicou nesta segunda-feira (14/10) o secretário do Itamaraty de Ásia e Pacífico, o embaixador Eduardo Paes Saboia, em entrevista à imprensa. Existem algumas dezenas de nações que demonstraram interesse em se unir ao bloco como parceiros associados. Atualmente, o grupo tem dez membros plenos. Além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, se uniram ao BRICS neste ano como membros permanentes o Irã, a Arábia Saudita, o Egito, a Etiópia e os Emirados Árabes. O embaixador brasileiro Eduardo Saboia destacou que, entre os critérios para aceitar estados associados, deve estar a questão de representação geográfica. "Você tem regiões que estão sub representadas no BRICS e outras que talvez estejam mais representadas", comentou. Rússia confirma que 24 chefes de Estado estarão presentes na cúpula do BRICS Cúpula do BRICS na Rússia mira negociações para reduzir dependência do dólar Presidência do Brasil no BRICS visa taxação de grandes fortunas e combate à pobreza A Argentina seria um membro permanente do BRICS representando a América Latina. Porém, com a vitória do ultradireitista Javier Milei no final do ano passado, o país desistiu de ingressar no bloco. O representante do Ministério das Relações Exteriores (MRE) para o BRICS acrescentou ainda que é importante que os países associados não imponham ou apoiem sanções sem autorização do Conselho de Segurança e que defendam a reforma da ONU. TV BRICSCúpula do BRICS acontecerá entre os dias 22 e 24 de outubro, na cidade russa de Kazan "O BRICS não pode ser uma força de transformação, que clama pela reforma da governança global, e não ter uma posição proativa em relação à reforma da ONU, particularmente a questão do Conselho de Segurança. Quem quer se associar ao BRICS tem que ter uma posição de vanguarda na questão da reforma do Conselho de Segurança. Esse é um ponto muito importante, não só para o Brasil, mas outros países também, como a Índia e a África do Sul que também têm enfatizado isso", acrescentou Eduardo Paes Saboia. Dólar e finanças Outro tema de destaque da Cúpula do BRICS, na Rússia, serão as negociações em torno das medidas para reduzir a dependência do dólar no comércio entre os países do bloco, além de medidas para fortalecer instituições financeiras alternativas ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial, controlados principalmente por potências ocidentais. "[O tema] tem sido tratado nas reuniões de ministros das Finanças e Bancos Centrais, e os nossos representantes nessas reuniões têm trabalhado com muito afinco. Espero que isso continue e certamente continuará na presidência brasileira e estará refletido de alguma forma na declaração de Kazan", comentou o embaixador brasileiro. A declaração de Kazan é o documento final que apresentará a posição dos líderes BRICS após a cúpula na Rússia. No próximo ano, o Brasil assume a presidência do bloco e, segundo o representante do Itamaraty, o país dará continuidade as negociações para aumentar o uso das moedas nacionais dos países membros no comércio internacional. Cúpula BRICS O governo russo informou que 32 países confirmaram presença no evento, sendo 24 representados por líderes de Estado. Dos dez membros do bloco, nove serão representados por chefes de Estado, incluindo o presidente Lula. A exceção é a Arábia Saudita, que vai enviar para a cúpula o ministro de Relações Exteriores. Estima-se que o BRICS concentre cerca de 36% do Produto Interno Bruto (PIB) global, superando o G7, grupo das maiores economias do planeta com Estados Unidos, França, Reino Unido e Alemanha, que concentra cerca de 30% do PIB mundial. O bloco surgiu em 2006, quando os representantes do Brasil, da Índia, da China e da Rússia formaram um fórum de discussões. O grupo começou como BRIC (que reúne as iniciais dos países fundadores). A primeira cúpula de chefes de Estado ocorreu apenas em 2009. Em 2011, a África do Sul ingressou na organização, que ganhou a letra 's' (do inglês South Africa) e virou BRICS.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Putin pode destruir o que quiser; os ucranianos só podem se defender, não atacar?

 As democracias ocidentais que apoiam a Ucrânia agonizam em torno das “linhas vermelhas” de Putin, que não tem nenhuma restrição em matar civis e destruir o país e acha que ninguém tem o direito de responder à altura:

Debate over Ukraine weapons restrictions divides allies, administration

By Isabelle Khurshudyan, Siobhán O'Grady, Michael Birnbaum and Ellen Francis (WP)

https://www.washingtonpost.com/world/2024/09/24/ukraine-weapons-limits-biden-permission-atacms/?utm_campaign=wp_todays_headlines&utm_medium=email&utm_source=newsletter&wpisrc=nl_headlines&carta-url=https%3A%2F%2Fs2.washingtonpost.com%2Fcar-ln-tr%2F3f15e0c%2F66f28dcce1d3e04a6f610643%2F596b79f3ade4e24119b43ed3%2F11%2F70%2F66f28dcce1d3e04a6f610643

KYIV — The United States’ lingering refusal to relax restrictions on Ukraine’s use of Western missiles for deeper strikes on Russian territory has exacerbated a growing divide between the allies — with Kyiv angry over yet another setback in slowing Russia’s assault across the country while its biggest backer considers the possibility of Moscow’s backlash. (…)