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quinta-feira, 3 de abril de 2025

Efeitos involuntários de desvio de atenção de Mister Trump - Paulo Roberto de Almeida

 Efeitos involuntários de desvio de atenção de Mister Trump

Paulo Roberto de Almeida
No meio da enorme bagunça mundial criada pela guerra de agressão tarifária criada por Trump, o mundo parece ter colocado em segundo plano as mortes, contínuas, incessantes, enormes, criadas pela guerra de agressão da Rússia à Ucrânia e pela guerra de agressão dos israelenses contra a população palestina de Gaza.
Ambos os criminosos são buscados pelo TPI, como criminosos de guerra e autores de crimes contra a humanidade.
No meio de tudo isso, fico chocado com a indiferença vergonhosa do assim chamado Sul Global, uma parte importante da comunidade internacional, mas que não se julga responsável por essas violações da Carta da ONU e do Direito Humanitário Internacional.
O presidente Lula, por exemplo, se prepara, alegremente, a participar das "comemorações" pelos 80 anos do final da IIGM na Rússia, ao lado de seu amigo Putin. O Brasil desonra os fundamentos jurídicos de sua diplomacia, assim como os valores e princípios de sua política externa.
Paulo Roberto de Almeida

sábado, 22 de fevereiro de 2025

Meu protesto contra a postura da diplomacia brasileira em face da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia (7/03/2022) - Paulo Roberto de Almeida

Uma renúncia infame: o abandono do Direito Internacional pelo Brasil

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

Breve ensaio para o blog científico International Law Agendas, do ramo brasileiro da International Law Association (ILA) (http://ila-brasil.org.br/blog/), para edição especial sobre “A política externa brasileira frente ao desafio da invasão russa na Ucrânia”, a convite de Lucas Carlos Lima, coeditor (31/9267-0430) do blog, com base nas notas e declarações do Itamaraty com respeito aos debates no CSNU e na AGNU. 

 

Quando se fala em Direito Internacional, a primeira conexão a ser feita seria aquela que vincula o Itamaraty a essa outra ferramenta das relações internacionais, o que, entretanto, seria parcialmente inexato. Não foi o Itamaraty que abandonou o Direito Internacional, ato que eu chamei de renúncia infame, até uma acusação bastante grave quando se pensa que a ordem internacional do sistema onusiano, sobretudo do pós-Guerra Fria, está efetivamente organizada em função da adesão comum dos Estados membros da ONU à Carta fundadora e aos demais rituais que são observados em todos os seus órgãos e agências, ou seja, a moderna diplomacia multilateral. Mas, tampouco, seria justo acusar o Brasil, como Estado ou como nação, por esse ato infame em conexão com a agressão militar da Rússia contra um Estado soberano, o que nos desqualificaria como país membro dessa ordem que ajudamos a fundar nos estertores da Segunda Guerra Mundial, inclusive nos campos de batalha da Itália, que aliás apressou nosso retorno à democracia depois de oito anos da ditadura do Estado Novo. 

Desde 1945, a despeito de altos e baixos, a diplomacia brasileira exibiu, manteve e desenvolveu uma notável adesão às bases conceituais e práticas de um dos princípios centrais do multilateralismo contemporâneo, que é a igualdade soberana dos Estados. Esse princípio foi expresso de maneira clara, em 1907, por Rui Barbosa, chefe da delegação brasileira à segunda conferência internacional da paz, realizada na Haia: ele defendeu praticamente sozinho esse eixo fundamental da ordem internacional, contra a vontade das grandes potências, que pretendiam criar, ou preservar, um sistema oligárquico de solução de controvérsias, no qual elas manteriam juízes permanentes, ao passo que as potências menores teriam apenas direito a cadeiras temporárias e rotativas. Esse princípio foi desenvolvido e defendido por todos os diplomatas brasileiros ao longo de décadas, notadamente por Oswaldo Aranha, no curso da Segunda Guerra Mundial, e, entre outras ocasiões, por San Tiago Dantas, na conferência interamericana de 1962 que decidiu, contra o voto do Brasil, pela suspensão de Cuba do sistema interamericano. 

O abandono pelo Brasil de sua adesão inviolável aos grandes princípios do Direito Internacional foi extremamente raro, tão raro que as poucas ocasiões podem ser identificadas precisamente. Ocorreu, por exemplo, logo no primeiro ano da ditadura militar, quando apoiamos os Estados Unidos em sua intervenção na guerra civil da República Dominicana, em 1965. Ainda assim, nossa diplomacia, contra a pressa dos militares em “pagar” o apoio recebido quando do golpe de 1964, exigiu que essa intervenção tivesse pelo menos uma cobertura multilateral, em função do que se aprovou uma resolução da OEA criando uma Força Interamericana de Paz, ao abrigo da qual nossos militares seguiram para a ilha do Caribe. Depois, durante a ditadura, e confirmando as paranoias da Guerra Fria, exibimos uma espécie de “diplomacia blindada” – apenas parcialmente conduzida pelo Itamaraty –, através da qual manobras foram feitas para sufocar ou claramente derrubar governos esquerdistas ou ameaças guerrilheiras na região. Independentemente da famosa Operação Condor – um esquema de informação e de coordenação entre órgãos repressivos da América do Sul –, militares e diplomatas brasileiros estiveram ativamente envolvidos em manobras golpistas ou diretamente em golpes de Estado em países do Cone Sul, notadamente na Bolívia e no Chile. 

O retorno à redemocratização eliminou por completo esse tipo de atitude que os vizinhos chamavam de “subimperialista”, mas também levou a um maior envolvimento, pelo menos pelo lado da integração, com todos os países da América do Sul, conceito que, em substituição ao de América Latina, passou a ser privilegiado pela diplomacia brasileira a partir dos governos de Fernando Henrique Cardoso (que promoveu uma reunião de todos os chefes de Estado e de governo em Brasília, em 2000, quando se criou a Iniciativa de integração Regional Sul-Americana, destinada a nos integrar fisicamente com todos os nossos vizinhos). Os governos seguintes, dominados pelo PT e pela figura de Lula, ainda que recusando uma suposta “herança maldita” da administração anterior, se apropriou das várias políticas internas e externas que estavam sendo conduzidas, as ampliou, sob novos rótulos, mas introduziu um elemento indesejável em nossa política externa, uma característica que já tinha sido denunciada pelo Barão do Rio Branco desde 1902, e que sempre recusamos ao longo de todo o século: a “diplomacia partidária”, que no caso do PT significou uma aliança, parcialmente administrada pelo Foro de São Paulo, com todas as forças de esquerdas da América Latina, sob o escrutínio cerrado e a direção firme dos comunistas cubanos. 

Pois foi nesse contexto que ocorreu uma grave violação do Direito Internacional, aceita de forma submissa, e até colaborativa, pelo governo petista, quando da nacionalização dos hidrocarburos na Bolívia de Morales, um aliado do PT. Esse ato, que poderia ter sido conduzido perfeitamente em consonância com normas do Direito Internacional e até com pleno respeito a dispositivos do tratado bilateral Brasil-Bolívia regulando a cooperação nessa área, foi feito com violência – invasão de instalações da Petrobras no país vizinho – e rasgando esse tratado, assim como um acordo entre a empresa brasileira de petróleo e o governo boliviano. Tal ato violador das boas normas do Direito Internacional ocorreu no dia 1º de maio de 2006; pois no dia seguinte, uma nota do governo petista – felizmente não do Itamaraty – não apenas não repudiou a violação da legalidade nesse caso, como a apoiou explicitamente, trazendo sérios prejuízos à Petrobras (que de resto foi também impedida, pelo governo brasileiro, de recorrer aos dispositivos de garantia de investimentos previstos num acordo de proteção de investimentos estrangeiros então acatados, depois denunciados, pela Bolívia). Tratou-se, portanto, de uma renúncia infame, um abandono completo de nossa adesão aos princípios do Direito Internacional, que também estavam sendo violados, como também os da própria Constituição brasileira, no capítulo da não intervenção nos assuntos internos de outros Estados, em vista da contínua, recorrente, abusiva “torcida” do chefe de Estado em favor de seus amigos e aliados quando de campanhas eleitorais nos países vizinhos: Lula não apenas apoiou, politicamente, como praticamente fez campanha por alguns desses líderes, entre eles Hugo Chávez, da Venezuela, aliás violador serial da própria Constituição que vigorava após manobras por seu governo iliberal. 

Ainda no terceiro governo petista, em 2014, assistiu-se a mais uma violação do Direito Internacional que ficou impune, pelo menos do ponto de vista moral, ao não se ter nenhuma nota, nenhuma denúncia, sequer um pronunciamento do governo brasileiro a respeito da invasão ilegal efetuada pelo governo de Vladimir Putin, ao sequestrar a península da Crimeia da soberania da Ucrânia, em total descumprimento de acordos efetuados quando da implosão da ex-União Soviética em 1991, seguida do surgimento de mais de uma dezena de repúblicas independentes, no lugar das antigas repúblicas federadas do finado império. Enquanto os membros da União Europeia e outros países ocidentais denunciavam a violação, e introduziam sanções contra a Rússia, o governo petista ficou silente a esse respeito. A razão aparente foi a existência do Brics, de toda forma um grupo informal, não dotado de qualquer instrumento definidor de seus princípios e objetivos de atuação, constituído justamente como uma espécie de espelho opositor ao G7 e aos países “hegemônicos” do Norte. 

O governo Temer, em 2016-2018, representou um breve retorno aos princípios e valores da diplomacia brasileira, tal como defendidos historicamente pelo Itamaraty, tanto que, em acordo com os demais três membros do bloco, decidiu suspender a Venezuela do Mercosul, alegadamente porque ele não tinha conseguido honrar nenhum dos dispositivos de política comercial que decidiu aceitar quando foi nele admitida – aliás ilegalmente – em 2012. A Venezuela não foi suspensa por se tratar de uma ditadura, o que em 2017 já estava claramente configurado – uma vez que o Protocolo de Ushuaia, que regula o princípio democrático no bloco e extremamente débil, no confronto, por exemplo, com o compromisso democrático da OEA –, mas por não cumprir normas básicas de funcionamento do Mercosul. O PT conduziu uma mentirosa campanha internacional contra o governo Temer, acusando-o de “golpe”, dando início a uma fase de rebaixamento de nossa imagem no mundo, mas que ficou muito aquém da verdadeira demolição da credibilidade da diplomacia brasileira a que assistimos a partir de 2019, quando teve início o governo que, mais do que qualquer outro em toda a nossa história, violou e desrespeitou cláusulas de nossa Constituição e princípios consagrados do Direito Internacional. 

Independentemente e em acréscimo a violações de ambos os instrumentos em várias ocasiões – notadamente em relação à Venezuela chavista, quando o chanceler desrespeitou tradições consagradas em nossa diplomacia desde Rio Branco, Rui Barbosa, Oswaldo Aranha e San Tiago Dantas –, o caso da invasão da Ucrânia pela Rússia configura um grave desrespeito, pelo governo Bolsonaro, de normas basilares do Direito Internacional, sendo que o Itamaraty atuou mais pelo silêncio e omissão do que pelo desrespeito claro a princípios e normas da Carta da ONU. Para todos os efeitos, o mundo em geral, as democracias do Ocidente em particular, já não consideram como legítima expressão do Brasil palavras incoerentes do presidente com respeito a uma suposta “solidariedade” à Rússia, antes da invasão e agressão à Ucrânia, depois uma ainda mais bizarra “neutralidade” em face do conflito, finalmente substituída, pelo novo chanceler, pela noção de “imparcialidade”. Tais contorcionismos verbais não são sequer considerados pelas democracias consolidadas como representando uma postura política aceitável por parte da diplomacia brasileira. O mundo já não presta atenção a Bolsonaro, já incorporado à categoria risível dos dirigentes bizarros. 

Em contrapartida, o mundo presta atenção ao que diz nosso representante nas Nações Unidos, suposto expressar a palavra e a postura oficial do Brasil no contexto das sérias discussões e tomadas de posição que são levadas a efeito no âmbito do seu Conselho de Segurança e no seio da Assembleia Geral. E o que vem dizendo esse representante ao longo da mais grave violação dos princípios do Direito Internacional e dos dispositivos da Carta da ONU desde o final da Segunda Guerra Mundial e da aprovação da Carta de San Francisco? Em nenhum momento se identificou e se qualificou o agressor, como tampouco se apontou a clara transgressão de artigos, quando não de capítulos inteiros da Carta da ONU, assim como o desrespeito mais brutal a normas consagradas do Direito Internacional, ou as condutas mais agressivas e desumanas registradas pela ofensiva guerreira, que de resto ferem as leis da guerra e até adentram no domínio dos crimes contra a humanidade. Em seu lugar, quais foram os posicionamentos mais comuns? 

O que se pode ler, nas burocráticas leituras do representante na ONU, certamente instruído por Brasília, foram banalidades patéticas, do tipo “cessação de hostilidades” – como se elas fosse recíprocas e igualmente conduzidas – ou “legítimas preocupações de segurança das partes” – como se ambas estivessem em pé de igualdade nessas “preocupações”, ou então desconformidade com a “aplicação de sanções” – pois que elas complicariam a busca de uma “solução pacífica”, ou ainda a contrariedade com o fornecimento de armas defensivas à parte agredida, sob a alegação absolutamente patética de que elas agravariam o sofrimento da população, como se a parte agredida devesse ser isolada de qualquer ajuda externa, pelo simples desejo de se defender. São várias as expressões tortuosas e torturadas que confirmam o total abandono, não pelo Itamaraty ou pelo Brasil, pelo governo Bolsonaro de nossa velha e atualmente enterrada adesão ao Direito Internacional. 

Trata-se de um momento de vergonha, para a nação, quando o seu governo, no seu círculo decisório mais relevante – que não compreende a diplomacia – resolve desrespeitar o Direito Internacional e cobrir com um véu de desprezo nossas mais caras tradições na área externa, os valores e princípios que foram defendidos durante décadas por estadistas que honraram a dignidade do Brasil. A renúncia infame ao Direito Internacional não foi feita pelo Brasil, nem pelo Itamaraty, mas pelo governo Bolsonaro, enxovalhando, cobrindo de opróbio a nossa diplomacia; em algum momento do futuro, estadistas terão de empreender enormes esforços para limpar as estrebarias da presidência desse tipo de degradação tão vexaminosa.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4098: 7 março 2022, 5 p.

Publicado, na condição de membro do Conselho Superior do ramo brasileiro da International Law Association, no blog eletrônico International Law Agendas (7/03/2022; link: http://ila-brasil.org.br/blog/uma-renuncia-infame/); divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/uma-renuncia-infame-o-abandono-do.html). Relação de Publicados n. 1442.

 


segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Boletim do CDS sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia: situação em 20 de janeiro de 2025

 Alguns poucos seguidores meus no blog Diplomatizzando, eventualmente no Facebook, onde posto alguns resumos sobre a barbárie de Putin contra a Ucrânia me perguntam por vezes onde me informo sobre a situação. Tenho várias fontes, sendo a principal o CDS, abaixo reproduzido o seu boletim deste dia 20 de janeiro. Mas também recebo os alertas diários da Al Jazeera, chamadas da Times Radio, postagens no YouTube do site Hoje no Mundo Militar, e várias outras fontes em todos os periódicos que recebo diáriamente. Também recebo, leio e jogo fora, alguma propaganda russa e brasileira paga pelo Putin, com muita desinformação, o que sei reconhecer.

Recomendo aos interessados que sigam este boletim e os muito fanáticos por guerra que façam alertas no Google, na Al Jazeera e outros boletins de informação, como eu faço.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 20/01/2025

Russia's war on Ukraine. 20.01.25

Operational situation

On the Kursk direction, Russian forces advanced on the eastern outskirts of Kurilovka, near Viktorovka, regrouped near Staraya and Novaya Sorochina, and attacked near Nikolaevo-Daryino and Viktorovka.

The “Siversk” Operational-Tactical Group (OTG) conducted reconnaissance near Mala Loknia and Viktorovka.

On the Kharkiv direction, Russian forces unsuccessfully advanced near Vovchansk.

On the Kupyansk direction, Russian forces attacked near Stroyivka, advanced north of Topoli, southwest of Stepova Novoselivka, and from Vyshneve to Zelenyi Hai. They attacked near Petropavlivka, Pishchane, Kolisnykivka, Zahryzove, Lozova, Nadiia, Pershotravneve, Kopanky, Novoyehorivka, and Novoserhiyivka.

On the Lyman direction, Russian forces advanced further west from Ivanivka and south of Terny, attacked near Novosadove, Novolyubivka, Kolodyazi, Zelena Dolyna, Zarichne, and the Serebriansk Forest.

Ukrainian Defense Forces conducted a successful counterattack.

On the Siversk direction, Russian forces unsuccessfully attacked near Verkhnokamianske and Ivano-Dariivka.

On the Kramatorsk direction, Ukrainian Defense Forces regained lost positions at the refractory materials plant in the center of Chasiv Yar and repelled assaults within the plant's territory.

Russian forces advanced along Tolstoy Street in Chasiv Yar, captured the "Novopivnichnyi" and "Desiatka" districts, and attacked near Predtechyne, Stupochky, and Bila Hora.

On the Toretsk direction, Ukrainian Defense Forces regained lost positions in southern Shcherbynivka.

Russian forces advanced north to the Toretsk mine area and northwest along Stepana Razina Street in the western part of the city, attacking near Dyliivka and Shcherbynivka.

On the Pokrovsk direction, Russian forces captured Kotlyne, but fighting continues in the northern part of the village. The enemy captured Mine No. 2 near Kotlyne, advanced and entrenched on the northern outskirts of Uspenivka, entered Novoandriivka, moved toward Sribne, and captured Vozdvyzhenka.

The enemy attacked near Pokrovsk, Zelenyi Polia, Baranivka, Tarasivka, Vodyane Druhe, Myroliubivka, Myrnohrad, Yelyzavetivka, Oleksandropil, Promin, Lysivka, Kotlyne, Zvirove, Udachne, Uspenivka, Nadiivka, Novotroitske, Zelenyi, and Shevchenkove. They carried out airstrikes with KAB bombs with UMPC near Kotlyne. Fighting continues on the western line of Novoukrainka–Lysivka–Sukhy Yar and for the heights near Zelenyi and Dachenske.

On the Novopavlivka direction, Russian forces slightly advanced southwest of Stari Terny and attacked near Slovyanka, Petropavlivka, Konstyantynopil, Andriivka, Dachne, Ulakly, and Yantarne.

Ukrainian Defense Forces counterattacked near Dachne and Zelenivka.

On the Vremivka direction, Russian forces made minor advances on the eastern outskirts of Velyka Novosilka and northeast of Velyka Novosilka, storming from positions in Shakhtarske toward Velyka Novosilka.

On the Prydniprovskyi direction, Ukrainian Defense Forces carried out a missile strike and destroyed a Nebo-SVU radar station in Kherson Oblast.

General conclusion:

  • Russian forces prioritize advancing on the Pokrovsk direction and attempt to exploit vulnerabilities in the defenses of the Armed Forces of Ukraine west of Pokrovsk.

  • Ukrainian Defense Forces have largely withdrawn from Toretsk but still hold positions in Krymske north of it and select positions on its western outskirts. The city is effectively occupied by the enemy. After grueling urban battles, the enemy's 3rd Combined Arms Army lacks reserves to continue the offensive.

  • Russian forces hold positions on the northern and eastern outskirts of Uspenivka. The pace of their advance in Uspenivka is similar to their progress near Nadiivka, Novoandriivka, and Sribne, as it takes them several days to capture small villages consisting of just two or three streets.

  • Russian forces attacking and slowly advance in the southern, eastern, and western parts of Velyka Novosilka, taking advantage of challenging weather conditions.

Change in the line of contact (LoC):

  • There were 189 combat engagements on various fronts.

  • On the Kharkiv direction, supported by aviation, the enemy attempted three times to breach Ukrainian defensive lines near Vovchansk.

  • On the Kupyansk direction, there were 13 enemy attacks. Ukrainian Defense Forces repelled assault actions near Stroyivka, Pishchane, Kolisnykivka, Zahryzove, Kutkivka, Nova Kruhlyakivka, and Lozova.

  • On the Lyman direction, the enemy attacked 17 times, attempting to break through defenses near Novoyehorivka, Nadiia, Novoserhiyivka, Pershotravneve, Zelenyi Hai, Makiivka, Novosadove, Zarichne, Kolodyazi, Zelena Dolyna, Terny, and in the Serebriansk Forest.

  • On the Siversk direction, the enemy carried out offensive actions in the areas of Ivano-Dariivka and Verkhnokamianske, with a total of 2 attacks repelled.

  • On the Kramatorsk direction, the occupiers attacked 7 times in the areas of Chasiv Yar and Bila Hora.

  • On the Toretsk direction, the enemy conducted 19 attacks near the settlements of Toretsk, Dyliivka, and Shcherbynivka.

  • On the Pokrovsk direction, Ukrainian Defense Forces stopped 89 enemy assault actions toward Zelene Pole, Oleksandropil, Vodyane Druhe, Yelyzavetivka, Myroliubivka, Promin, Lysivka, Myrnohrad, Pokrovsk, Zvirove, Shevchenko, Udachne, Uspenivka, Kotlyne, Nadiivka, Novotroitske, Novoandriivka, Slovyanka, Petropavlivka, Andriivka, Dachne, Ulakly, and Yantarne.

  • On the Novopavlivka direction, the enemy carried out 16 attacks in the directions of Konstyantynopil and Velyka Novosilka. Additionally, aviation was actively used.

  • On the Orikhiv direction, the occupation forces stormed the positions of the Ukrainian Defense Forces once in the area of Novoandriivka.

  • On the Prydniprovskyi direction, Ukrainian Defense Forces are making efforts to prevent the enemy from advancing deeper into Ukrainian territory, successfully repelling two enemy offensive actions

  • In the Black Sea-Azov naval operational area, the enemy naval group on combat duty consists of:

    • Mediterranean Sea: 6 ships, including 2 cruise missile carriers; the total salvo is 22 cruise missiles.

Supporting operation:

  • Ukrainian Defense Forces carried out airstrikes on the "Bryansknefteprodukt" oil depot, part of the "Rosneft" corporation, in the city of Klintsy, Bryansk Oblast; on the Gorbunov Kazan Aviation Plant, the sole producer of strategic bombers; and on the Kazan Helicopter Plant.

Possible operation situation developments:

  • The enemy command's plan for the Southwestern Theater of Military Operations during the winter campaign of 2025 may include an operation to capture Pokrovsk and the final occupation of Toretsk, Chasiv Yar, and Vovchansk. Another possible course of action could be the occupation of Kupyansk or simultaneous actions in several directions.

  • On the Kramatorsk direction, the "Khortytsia" OSG units will be forced to retreat to the Kostyantynivka area if the enemy reaches the Chervone–Stupochky line and simultaneously launches an offensive northward at the junction of its 41st and 51st Combined Arms Armies from the Novooleksandrivka–Arkhanhelske line, advancing to the Yablunivka–Oleksandro-Kalynove line on the Toretsk direction.

  • The enemy’s offensive on Pokrovsk may proceed according to two main scenarios:

    • A breakthrough to the city from the south and the gradual expulsion of Ukrainian Defense Forces from the city due to numerical superiority in forces and means (the enemy's tactics in Chasiv Yar).

    • A deep encirclement of Pokrovsk from the south, cutting the road to Mezhova, regrouping part of the 2nd Combined Arms Army's forces, encircling the city from the north as well, cutting the T0504 road to Kostyantynivka.

  • The 36th, 57th, and the 114th Separate Motorized Rifle Brigades, advancing from the south towards Sukhyi Yaly and Yantarne, might simultaneously, together with the actions of the 51st and 8th Combined Arms Armies, once again attempt to break through in the direction of Zelenivka – Ulakly and further towards Konstyantynopil.

  • Ukrainian Defense Forces will have to completely withdraw from the remnants of the Kurakhove bridgehead, engaging in fierce rear-guard battles, as the prospects of holding it worsen gradually with the enemy's steady advance in the zones of the 90th Tank Division and the 110th Separate Motorized Rifle Brigade.

Russian operational losses from 24.02.22 to 20.01.25

Personnel - almost 820,430 (+1,690);

Tanks 9,821 (+10);

Armored combat vehicles – 20,454 (+42);

Artillery systems – 22,074 (+19);

Multiple rocket launchers (MLRS) – 1,262 (0);

Anti-aircraft warfare systems – 1,049 (+3);

Vehicles and fuel tanks – 34,488 (+87);

Aircraft - 369 (0);

Helicopters – 331 (0);

UAV operational and tactical level – 22,768 (+153);

Intercepted cruise missiles – 3,051 (0)

Boats/ships – 29 (0).

Humanitarian + general:

  • On the night of January 20, Russian occupying forces attacked Ukraine with 141 strike drones. Air defense shot down 93 of them, 47 drone decoys were lost from radar, and two returned to the territory of the aggressor.

  • In Sumy Oblast, the enemy launched a missile strike on the Shostka community. As a result of the attack, residential multi-story buildings and an infrastructure facility were damaged. Preliminary reports indicate no casualties.

  • During the night of January 20, the enemy shelled a non-operational thermal power station belonging to PJSC "Centrenergo." The station had previously been completely destroyed by shelling. No injuries were reported.

  • Russian forces attacked Kherson Oblast with drones and artillery on the morning of January 20. A man in a shuttle bus was injured in the Tekstilnyi area of Kherson.

  • This morning, Russian troops shelled the village of Stepanivka in the Kherson community, injuring a 39-year-old woman. Additionally, Russian forces attacked a bus with a drone in the Dnipro district of Kherson, injuring the driver.

  • Around 11 p.m. on January 19, Russia dropped three guided bombs on the village of Zolochiv in Kharkiv Oblast. The strike destroyed three private houses, damaged 15 houses, utility structures, two cars, three shops, and power grids. Two people were injured.

  • An occupation "court" in the so-called "DNR" sentenced "Azov" fighter Ruslan Minagulov to 24 years in a maximum-security penal colony. The occupation authorities accused him of "cruel treatment of the civilian population" and the murder of more than two individuals.

  • As of January 20, the unified and state registers of the Ministry of Justice of Ukraine were restored after a large-scale cyberattack by Russia on December 19, 2024.

  • During Russia's full-scale invasion of Ukraine, at least 1,666 Russian soldiers from units stationed in occupied Crimea have died. Most of them were likely Ukrainian citizens, according to the Representative Office of the President of Ukraine in the Autonomous Republic of Crimea.

  • Ukrainian law enforcement agencies have in absentia issued charges against the directors of eight schools located in temporarily occupied territories of Zaporizhzhia and Kherson Oblasts for implementing educational programs according to Russian standards.

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quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

A insanidade de Putin ao sacrificar tantas vidas por alguns quilometros de terra ucraniana - CDS

A insanidade de Putin ao sacrificar tantas vidas por alguns quilometros de terra ucraniana - CDS

Copio, do relatório do início do ano de 2025 do Centre for Defense Strategies, uma ONG ucraniana, este trecho sobre o custo, em homens, da conquista de alguns poucos quilometros de território da Ucrânia, no contexto da guerra de agressão deslanchada em fevereiro de 2022 por Putin: 

Over the course of the year, Russian forces captured 4,168 square kilometers, losing an average of 102 servicemen for every square kilometer of Ukrainian territory seized.

Ou seja: para conquistar esses 4.168 kms2, Putin achou que a perda de mais de 425 mil soldados era um resultado aceitável. 

O resto do relatório é uma tristeza: 

·       During the night of January 1, Russia launched an attack on Ukraine with 111 strike UAVs, including Shahed drones and others. Ukrainian air defense destroyed 63 drones, while another 46 failed to reach their targets.

·       On the morning of January 1, debris from an enemy drone fell on a residential building in Kyiv's Pecherskyi district, partially destroying the top two floors and causing a fire. As a result of the Russian attack, two people died, and six were injured. Drone debris also caused a fire on the roof of one of the National Bank of Ukraine buildings. All operational systems and services of the National Bank are functioning fully and without disruption.

·       Two hours before the New Year in 2025, at least two explosions were heard in Zaporizhzhia during an air raid alert. The attack caused a fire in the private sector in the region. Before this, the occupiers attacked the area using guided bombs.

·       On January 1, Russian forces shelled the Dnipro district of Kherson, killing a man and injuring two women. The man was a volunteer who actively contributed to the community's recovery efforts.

·       In Kherson Oblast, Russian shelling on January 1 damaged at least 22 civilian objects. As of 5:30 PM, reports confirm one fatality and six injured civilians.

·       During the New Year's night, Russian forces shelled the center of the town of Semenivka in Chernihiv Oblast with artillery, damaging stores and an infrastructure facility.

·       Between September and November 2024, 574 civilians were killed, and 3,082 were injured as a result of Russian attacks in Ukraine, according to a report from the UN Human Rights Monitoring Mission in Ukraine.

·       On January 1, 2025, Ukraine officially became a full member of the Rome Statute of the International Criminal Court (ICC).

          According to the Center for National Resistance, in the occupied territories, Russian authorities banned the mention of Saint Nicholas, caroling, and traditional Ukrainian Christmas and New Year plays (vertep) in educational institutions. Only the characters of Ded Moroz (Father Frost) and Snegurochka (Snow Maiden) are allowed to appear at events.

Relatório das perdas russas nesse primeiro dia do ano: 

Russian operational losses from 24.02.22 to 01.01.25

Personnel - almost 790,800 (+1,250);

Tanks 9,672 (+4);

Armored combat vehicles – 20,043 (+13);

Artillery systems – 21,532 (+4);

Vehicles and fuel tanks – 32,675 (+49);

Helicopters – 330 (+1);

UAV operational and tactical level – 21,131 (+50);

Source: Centre for Defence Strategies (CDS) is a Ukrainian security think tank. We operate since 2020. 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia: situação em 11/12/2024 - CDS

 Guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia: situação em 11/12/2024:


A situação nas frentes de batalha do Donbas ucraniano se complicam para as Forças de defesa da Ucrânia, segundo leio no boletim do CDS desta quarta 11/12/2024:

"Approximately 150,000 Russian military personnel operate on the Pokrovsk, Kurakhove, and Vremivka directions, including over 70,000 on the Pokrovsk direction, 35,000-36,000 on the Kurakhove direction, and more than 40,000 on the Vremivka direction. (...)
If the enemy advances to the area where the Vovcha and Solona rivers converge near Dachne from the north, the position of Ukrainian Defense Forces units in Kurakhove will become critically complicated unless they manage to retreat in time. In the southern part of the Kurakhove bridgehead, Ukrainian Defense Forces units will soon have to abandon Hannivka and Uspenivka to avoid encirclement and retreat in a northwesterly direction.
On the Vremivka direction, intense battles for Velyka Novosilka are expected to unfold soon, as the enemy's future ability to organize and carry out a further offensive toward Rozlyv and Bahatyr, as well as to conduct a deep flanking maneuver against the Ukrainian Defense Forces' grouping from the south, depends on it. (...)
By the end of the current year, the enemy will not succeed in seizing the "belt of fortresses" Kostyantynivka – Druzhkivka – Kramatorsk – Sloviansk or occupying Donetsk Oblast. The upcoming battle for Pokrovsk will mark the apex of the enemy’s offensive operation in the Southwestern Theater of Operations in 2024.
The enemy's military command in the theater of operations until March 2025 will be creating conditions to achieve the military-political goal of the “Special Military Operation”: reaching the administrative borders of Donetsk and Luhansk Oblasts and the junction of Zaporizhzhia, Dnipropetrovsk, and Donetsk Oblasts near the village of Temyrivka.

Russian operational losses from 24.02.22 to 11.12.24

Personnel - almost 757,340 (+1,400);
Tanks 9,526 (+2);
Armored combat vehicles – 19,616 (+20);
Artillery systems – 21,067(+3);
Vehicles and fuel tanks – 31,073 (+36);
UAV operational and tactical level – 20,111 (+4).

Centre for Defence Strategies (CDS) is a Ukrainian security think tank.

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

A culpa da guerra é da Otan, como não poderia deixar de ser… - Paulo Roberto de Almeida

Não é a primeira, nem será a última vez, que leio mais um livro desses acadêmicos les plus en vue sobre a guerra da Ucrânia que, non variatur, atribuiu ao “avanço da Otan sobre as fronteiras russas” as causas da atua guerra de agressão de mil dias da Rússia contra a Ucrânia. Por acaso estou lendo ao mesmo tempo em que vejo no noticiário internacional as manifestações do povo georgiano contra seus proprios dirigentes que pretendem forçar uma aliança com s Rússia de Putin, na direção contrária do que deseja s maioria da população. Nem vou mencionar o nome do livro, publicado nos EUA, contendo esse absurdo de desconsiderar totalmente a vontade da população, da Ucrânia, da Georgia, da Moldova, de se juntar à UE e de buscar ardentemente s proteção da Otan contra a prepotência russa.

Como se a CIA, os serviços ocidentais fossem capazes de mobilizar milhares de cidadãos em protestos contra seus dirigente corruptos e lideres alinhados com os designios de Moscou. Surpreende-me a cegueira de certos acadêmicos.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 3/12/2924


terça-feira, 24 de setembro de 2024

Putin pode destruir o que quiser; os ucranianos só podem se defender, não atacar?

 As democracias ocidentais que apoiam a Ucrânia agonizam em torno das “linhas vermelhas” de Putin, que não tem nenhuma restrição em matar civis e destruir o país e acha que ninguém tem o direito de responder à altura:

Debate over Ukraine weapons restrictions divides allies, administration

By Isabelle Khurshudyan, Siobhán O'Grady, Michael Birnbaum and Ellen Francis (WP)

https://www.washingtonpost.com/world/2024/09/24/ukraine-weapons-limits-biden-permission-atacms/?utm_campaign=wp_todays_headlines&utm_medium=email&utm_source=newsletter&wpisrc=nl_headlines&carta-url=https%3A%2F%2Fs2.washingtonpost.com%2Fcar-ln-tr%2F3f15e0c%2F66f28dcce1d3e04a6f610643%2F596b79f3ade4e24119b43ed3%2F11%2F70%2F66f28dcce1d3e04a6f610643

KYIV — The United States’ lingering refusal to relax restrictions on Ukraine’s use of Western missiles for deeper strikes on Russian territory has exacerbated a growing divide between the allies — with Kyiv angry over yet another setback in slowing Russia’s assault across the country while its biggest backer considers the possibility of Moscow’s backlash. (…)


sábado, 21 de setembro de 2024

A guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia: postura de embaixadores brasileiros ao ínício da invasão (março de 2022)

 Agora que o Brasil se dispõe a apresentar, com a China, um "plano de paz" sobre a guerra de agressão da Rússua contra a Ucrânia, totalmente enviesado em favor do agressor, reproduzo abaixo postagem refletindo comentários de embaixadores brasileiros no início da insana guerra: 

segunda-feira, 14 de março de 2022

Brasil condena invasão russa, mas teme guerra econômica: ex-chanceleres e embaixadores opinam sobre a posição do Itamaraty - Janaína Figueiredo (O Globo)

 Brasil condena invasão russa, mas teme guerra econômica: ex-chanceleres e embaixadores opinam sobre a posição do Itamaraty


BUENOS AIRES 

Depois de ter acompanhado o voto de condenação da Rússia pela invasão da Ucrânia na Assembleia Geral e no Conselho de Segurança das Nações Unidas, em sintonia com a posição dos Estados Unidos e dos países da União Europeia (UE), entre muitos outros, o Brasil . Gera tensão, também, afirmaram fontes diplomáticas, o que alguns têm chamado de politização pelos principais adversários do governo de Vladimir Putin de organismos multilaterais, para acuar ainda mais a Rússia.

Na semana passada, depois de ter proibido a importação de vodca, caviar e diamantes russos e solicitado ao Congresso americano que interrompa o livre comércio com a Rússia, o governo de Joe Biden e seus aliados europeus começaram a articular uma jogada que visa suspender os direitos de voto de Moscou no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Bando Mundial (Bird).

A outra guerra:

O objetivo dos EUA e da União Europeia é cortar todo o acesso da Rússia a fontes de financiamento externo. Em palavras da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, vamos nos assegurar de que a Rússia não possa obter créditos ou qualquer outro tipo de benefícios nestas instituições. O objetivo final, caso um acordo que permita alcançar um cessar fogo seja alcançado nas próximas semanas, seria expulsar a Rússia da ordem econômica internacional. Nas sanções mais duras já aplicadas contra uma potência, o país que é a 11ª economia do mundo já teve muitos de seus bancos suspensos do sistema de transações internacionais Swift e as reservas de seu Banco Central depositadas nos EUA, na Europa e no Japão foram congeladas.

Limitações:

A ofensiva anti-Rússia em organismos internacionais deve avançar em âmbitos como a Organização Mundial de Comércio (OMC), onde os países do G-7 Alemanha, França, Reino Unido, Canadá, Japão e EUA pedirão que seja revogado seu status de nação mais favorecida (MFN, na sigla em inglês). Este estatuto é concedido aos 164 integrantes da OMC, para garantir a igualdade de condições a todos os países-membros cujos governos se comprometem a tratar uns aos outros em pé de igualdade e sem qualquer tipo de discriminação. Dessa forma, eles têm acesso a tarifas mais baixas, menos barreiras comerciais e cotas de importação mais elevadas.

Os EUA, a UE e outros aliados da Ucrânia no conflito estão, com essa atitude, afirmou uma fonte do Itamaraty, minando o funcionamento de organismos essenciais na governança econômica global e o avanço de processos considerados importantes para o Brasil em âmbitos como a OMC, FMI, Bird e G-20, entre outros. Essa ofensiva, ressaltou a fonte, vai trazer graves consequências não somente para Putin, mas para muitos outros países.

Por enquanto, o Brasil não expressou publicamente seus temores pela politização de organismos internacionais. Até agora, a delegação brasileira na ONU expressou questionamentos à dimensão das sanções econômicas anunciadas e, também, ao envio de armas à Ucrânia. Ou seja, houve aval à condenação, mas, também, críticas à frente contra Moscou liderada por EUA e UE.

Ciberguerra:

Ouvidos pelo GLOBO, os ex-chanceleres Celso Amorim e Celso Lafer e os embaixadores Rubens Ricupero e Marcos Azambuja avaliaram as posições adotadas até agora pelo Brasil e pelas partes envolvidas no conflito.

Na visão de Amorim, o ataque da Rússia à Ucrânia é uma ação condenável, além de um erro político. No entanto, se o Brasil quisesse ter alguma participação em esforços pela paz, seria melhor se abster nas votações, como fizeram os demais países do Brics, incluindo a Índia, que é parte do Quarteto, fórum asiático liderado pelos EUA. O ex-chanceler e Azambuja destacaram a necessidade de levar em consideração as preocupações da Rússia por sua segurança.

Já Lafer defendeu uma posição mais incisiva do Brasil, sem abrir espaço para a neutralidade abdicante que ele identifica nas declarações do presidente Jair Bolsonaro. Já Ricupero foi o mais crítico em relação à atuação da missão brasileira na ONU: Em termos concretos, ela equivale a condenar a vítima a ser massacrada.

Conheça as opiniões de Amorim, Lafer, Ricupero e Azambuja

 Celso Amorim: Invasão é condenável, mas em outro momento Brasil teria condições de mediação

"É uma situação muito complexa. A Rússia sempre se preocupou com a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que também foi criticada, mesmo condenada, por pensadores americanos. A Ucrânia não era apenas um país da Europa Oriental, era parte da antiga União Soviética e do Império Czarista. Diferentemente de outros países e regiões, tem um componente emocional muito forte para os russos.Mas isso não justifica a guerra, sou contra a ação militar unilateral. Fui embaixador na ONU e prezo especialmente por suas normas. A Carta da ONU foi construída em torno do não recurso à guerra para resolver problemas. Só admite o uso da força quando autorizada pelo Conselho de Segurança ou em legítima defesa. Diferentemente do que pregavam os EUA antes da Guerra do Iraque, não existe legítima defesa preventiva. Não tenho dúvida de que a ação é condenável, além de um erro político.

Como deveria ser a ação do Brasil? Não tenho certeza. Havia duas posições possíveis. A que foi adotada, votar a favor da condenação, mas dando uma explicação de que se é contra as sanções, defender uma solução pacífica, o que, devo admitir, é razoável. Mas, numa outra situação, em que o Brasil estivesse mais ativo internacionalmente, com a mesma justificação você poderia conceber um voto de abstenção. Continuaria condenando, mas considerando que há preocupações de segurança que são legítimas. Se o Brasil, de alguma maneira, quiser participar de algum esforço em favor da paz, é melhor se abster. Se fosse um governo que conversasse com todos, talvez tivesse sugerido uma abstenção. Na situação atual, não poderíamos esperar isso, até porque uma abstenção de Bolsonaro ficaria sob suspeita."

Celso Lafer: Posição deve ser mais incisiva ao condenar guerra de conquista

"A Rússia faz uso da força contra a integridade territorial e a independência da Ucrânia. Desrespeita o Artigo 2, parágrafo 4 da Carta da ONU e põe em questão um dos princípios básicos do direito internacional: o do respeito à soberania territorial dos Estados. A guerra resultou de uma decisão militar para alcançar fins políticos unilateralmente definidos por Putin: pôr termo à Ucrânia como país independente para alcançar a sua incorporação a uma expressão eslava da Rússia e atender preocupações de segurança. Ela denega aspirações majoritárias da população ucraniana a uma identidade nacional própria. A Assembleia Geral da ONU expressou em resolução a condenação da comunidade internacional à agressão da Rússia.

Brasil votou a favor da resolução. Seguiu a tradição diplomática brasileira em consonância com os princípios constitucionais que regem as relações internacionais do país. O Brasil é um país de escala continental que, em contraste com outros, definiu todas as suas fronteiras por arbitragem e negociações. É o que faz da defesa da integridade territorial e da condenação da guerra de conquista parte integrante do capital diplomático do Brasil. Rui Barbosa realçou que entre os que destroem a lei e os que a observam não há neutralidade admissível. (...) Não há imparcialidade entre o direito e a injustiça. Na sua lição, quando existem normas internacionais, como as da Carta da ONU, pugnar pela observância das normas não é quebrar a neutralidade: é praticá-la. Por isso, creio que a posição brasileira deve ser mais incisiva. Não cabe abrir espaço para a impassibilidade de uma neutralidade abdicante que identifico nas manifestações do presidente da República."

Rubens Ricupero: Criticar entrega de armas é deixar Ucrânia à mercê da Rússia

"Primeiro é preciso saber qual é a posição brasileira, se é a do Bolsonar ou se é a da missão do Brasil na ONU. A segunda questão é, se chegarmos à conclusão de que quem representa o Brasil é a missão, temos de analisar o conteúdo dessa posição. A posição que o governo tem expressado na ONU é oposta à de Bolsonaro. A posição do Brasil é de concordar e aprovar as duas resoluções que condenaram a invasão russa em todos os sentidos. O que se pode dizer dessa posição é que ela rigorosamente é correta. Mas, a partir daí, é preciso indagar sobre as consequências dessa posição. A delegação brasileira concordou em que a Rússia agrediu a Ucrânia sem provocação, atuando contra os princípios da Carta da ONU, ou seja, uma agressão indiscutível. Ao se declarar contrária ao fornecimento de armas, ela mostra uma incoerência. Se não se quiser o envolvimento direto, só há uma maneira, que é fornecer à vítima meios para se defender.

Por isso, eu chamaria a posição brasileira de ineficaz: ela equivale, no fundo, a deixar a Ucrânia à mercê da Rússia. Num caso como este, no qual mais de 140 países reconhecem que há uma agressão injusta, e, por outro lado, não se pode obter uma resolução do Conselho de Segurança porque a Rússia vai vetar, creio que a posição lógica e consequente seria aprovar as sanções e o fornecimento de armas. É a única maneira, embora insatisfatória, para ajudar o país agredido a se defender. Do ponto de vista legalista ao extremo, a posição brasileira é correta, mas é ineficaz. Em termos concretos, ela equivale a condenar a vítima a ser massacrada. No fundo, significa que perante a História estamos lavando as mãos."


Entrevista: 

Marcos Azambuja: O país tem que se equilibrar entre seus princípios e interesses

"O Brasil tem de ter em vista que essa guerra terá uma duração longa na vida internacional. O país deve fazer, e fez, a reafirmação dos seus princípios de convivência pacífica, de respeito à Carta das Nações Unidas, aos seus compromissos com a própria Constituição brasileira. O Brasil precisa dizer, e disse, que nos princípios e nos valores ele é fiel a sua tradição e a sua história. Mas ele também tem de cuidar dos seus interesses, que estão em jogo. Dos cinco países do Brics, China, Índia e África do Sul se abstiveram de votar na Assembleia Geral pela condenação da Rússia. Só o Brasil votou a favor. Minha preocupação é que o Brasil se reserve para ser valioso mais tarde, na procura de soluções.

Brasil deve manter suas posições de princípio e entender as razões que levaram a Rússia a fazer o que fez. A Guerra Fria terminou com uma derrota tão absoluta dos países do então socialismo real que os derrotados não tinham o que negociar. Agora, a Rússia voltou a ser uma grande potência que tem interesses estratégicos, políticos e econômicos. O Brasil é movido por duas forças que, de certa maneira, são contraditórias. Ao se separar dos Brics, mostrou que continua fiel a seus valores. Mas deve se reservar para um processo negociador que virá. Quem vai conduzir isso? Não podemos fazer nada que agrave mais ainda a situação. A Rússia tem de se dar conta que não pode pretender a recriação de um império. E a Ucrânia tem de se dar conta de que a Crimeia não voltará e a região de Donbass vai se separar. Diplomacia é negociação. O que vejo são gestos truculentos. A solução é que haja algum tipo de interlocução. A negociação, essência da diplomacia, é a procura por meios imperfeitos de soluções imperfeitas."


https://oglobo.globo.com/mundo/brasil-condena-invasao-russa-mas-teme-guerra-economica-ex-chanceleres-embaixadores-opinam-sobre-posicao-do-itamaraty-25430976

Guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia: A iniciativa de aceitar a imposição da Rússia teria que partir da Ucrânia - Demetrio Magnoli (FSP)

 A iniciativa de aceitar a imposição da Rússia teria que partir da Ucrânia

Em nome do "anti-imperialismo", o governo Lula escolhe o papel de amigo menor da China, oferecendo suas credenciais democráticas para conferir legitimidade à iniciativa diplomática de Xi Jinping

Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo, 21/09/2024

"O Brasil quer estar com a China, com a Índia, com os EUA, com a Venezuela, com a Argentina... Com todo mundo, de forma soberana, respeitável. Porque nós não aceitamos ser menores do que ninguém'.

Parte do desejo de Lula, expresso na formatura dos diplomatas, será realizado na cúpula dos Brics, em outubro. Xi Jinping e Putin articulam uma nova expansão do bloco, com o ingresso da Venezuela - e, de quebra, da Nicarágua. Os Brics tornam-se caixa de ressonância da China, enquanto o Brasil conforma-se com uma posição "menor" no seu interior.

"Nós queremos paz, não queremos guerra", proclamou Lula diante da mesma plateia, referindo-se à guerra na Ucrânia. Foi a senha para anunciar uma reunião patrocinada por Brasil e China, às margens da Assembleia-Geral da ONU, com o fim de divulgar um plano de paz sino-brasileiro às nações convidadas, do chamado Sul Global. Na forma delineada pela proposta, a paz interessa à Rússia, não à Ucrânia, e premia a guerra de agressão.

O plano não menciona, nem mesmo retoricamente, o conceito de soberania territorial ou as fronteiras ucranianas de 1991 reconhecidas pela Rússia no tratado de 1994. Como registrou Zelenski, seus pressupostos autorizariam a anexação dos territórios ucranianos ocupados pelas forças russas no momento de um cessar-fogo. Não foi por outro motivo que o Brasil, assim como a China, boicotou a conferência de paz realizada em junho, na Suíça, que operou com base nas normas do direito internacional.

Algum dia, a guerra terminará. Talvez, por falta de alternativa realista, a Ucrânia venha a ser obrigada a ceder territórios. Mas a iniciativa de aceitar a imposição imperial teria que partir do governo ucraniano, nunca de terceiros países. O plano sino-brasileiro representa, de fato, uma operação diplomática destina- da a reforçar a posição russa.

Os objetivos de Putin não se limitam à anexação do Donbass e do Sul ucranianos. A invasão foi deflagrada para, além disso, converter o país vizinho em Estado vassalo, nos moldes da Belarus. O Kremlin pretende inserir a Ucrânia na jaula do "mundo russo" (Russkiy Mir).

O plano sino-brasileiro contempla tal ambição, por meio de uma senha discursiva facilmente decifrável, que rejeita a "divisão do mundo em grupos políticos ou econômicos isolados". A paz que pregam China e Brasil proíbe a Ucrânia de, como qualquer Estado soberano, ingressar numa união político-econômica (União Europeia) e numa aliança militar (OTAN). Obviamente não haveria objeção a um futuro ingresso forçado na Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), a aliança militar comandada por Moscou.

O Brasil tem motivos geopolíticos e econômicos para praticar uma neutralidade ativa, evitando alinhamento a um dos polos da rivalidade global EUA-China. Contudo, em nome do "anti-imperialismo", o governo Lula escolhe o papel de amigo menor da China, oferecendo suas credenciais democráticas para conferir legitimidade à iniciativa diplomática de Xi Jinping.

A alegação "anti-imperialista" tem pernas curtas. Trump esclareceu que, de volta à Casa Branca, em purraria a Ucrânia a uma "paz chinesa" recebeu em troca um cumprimento de Putin. Nessa hipótese o Brasil estaria "com todo mundo" como deseja Lula, mas de modo pouco "respeitável".