Já em pré-venda, no Ateliê de Humanidades
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Meus livros podem ser vistos nas páginas da Amazon. Outras opiniões rápidas podem ser encontradas no Facebook ou no Threads. Grande parte de meus ensaios e artigos, inclusive livros inteiros, estão disponíveis em Academia.edu: https://unb.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida
Site pessoal: www.pralmeida.net.domingo, 10 de agosto de 2025
Vidas Paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil (2025) - Paulo Roberto de Almeida
quarta-feira, 6 de agosto de 2025
Vidas Paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil - novo livro de Paulo Roberto de Almeida (Ateliê de Humanidades)
Oyez, oyez, citoyens, enfin prêt:
Meu livro "Vidas Paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil", cuidadosamente revisto e editado pelo André Magnelli, da Editora Ateliê de Humanidades, ficou pronto e já está rodando nesse instante. Encomendas já podem ser feitas neste link:
https://ateliedehumanidades.com/produto/vidas-paralelas-rubens-ricupero-e-celso-lafer-nas-relacoes-internacionais-do-brasil-paulo-roberto-de-almeida/
quinta-feira, 24 de julho de 2025
Vidas Paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil - livro de Paulo Roberto de Almeida (Rio de Janeiro: Ateliê de Humanidades, 2025)
Próximo livro: quase pronto para impressão:
domingo, 20 de abril de 2025
A fotobiografia de JK - Celso Lafer (O Estado de S. Paulo)
A fotobiografia de JK
Celso Lafer
O Estado de S. Paulo,
JK teve a capacidade de compreender a complexidade da realidade do País, suas urgências e seus desafios
Juscelino Kubitschek – uma fotobiografia, organizada com dedicação e competência por Fábio Chateaubriand, foi recém-publicada (2024) sob os auspícios da Fundação Padre Anchieta (FPA). José Roberto Maluf, presidente da FPA, destacou o significado para o conhecimento da vida brasileira das imagens que o livro apresenta. Ele pontua que o norte e a âncora da trajetória de JK foram permeados pelos valores e pelas práticas da democracia. É o que configurou exemplarmente o parâmetro em cujo âmbito deu rumo às transformações do Brasil, que liderou como notável homem público.
A fotobiografia é um gênero pouco explorado entre nós. Tece a tradicional narrativa da palavra de uma biografia com o poder visual das fotos. As fotos compõem uma antologia que capta a experiência de uma vida. Esclarecem de onde veio, como veio e a que veio JK, e também o que padeceu no final, por conta do arbítrio do regime autoritário de 1964. Na edição comercial dessa fotobiografia, de próxima publicação, essa maior investigação iconográfica sobre JK estará distribuída em 13 capítulos, que dão o fio estruturador de um admirável trabalho de pesquisa.
JK foi presidente de 1956 a 1961. Faleceu em 1976. O tempo consolidou sua presença no imaginário político e a lembrança de seu período como anos dourados de criatividade, confiança, democracia e desenvolvimento. São anos que contrastam com a rudeza de uma apagada e vil tristeza camoniana que se seguiu e resultou da implantação do regime de 1964.
São vários os fatores que explicam a persistência histórico-política de JK. Um dos mais significativos é a lição da sua governança. JK teve a capacidade de compreender a complexidade da realidade do País, suas urgências e seus desafios. Soube descortinar o futuro do Brasil. Exerceu a tarefa primordial da liderança de estadista, que é a aptidão para imprimir construtivo rumo e sentido de direção para a vida nacional. Assim, levou adiante o impacto transformador dos 50 anos em 5 de seu Programa de Metas e da construção de Brasília.
JK criou o novo a partir do existente, como analisei na minha tese de PhD de 1970 em Cornell sobre o processo decisório do sistema político brasileiro no seu período – publicada em português em 2002.
JK soube enfrentar o imenso desafio a que se propôs de transformar interna e externamente a escala do País, coma competência de quem sabia formular e decidir, reunir talentos, entender-se com o Congresso, mobilizar confiança nos projetos a que deu andamento, conjugando maestria executiva, vocação democrática e imaginação política e administrativa. Nesta empreitada foi O Artista do Impossível, como o qualificou Claudio Bojunga na sua admirável biografia.
A atração que JK ainda desperta sobre os caminhos pelos quais infundia confiança e esperança no futuro do Brasil foi instigada pelos ares da redemocratização e pelo centenário de seu nascimento em 2002. Impulsionou biografias como adeBoju ng a e as docontí nu owork in progress da admirável devoção ao seu percurso de Ronaldo Costa Couto.
Na passagem da palavra para a imagem, instigou a minissérie JK da TV Globo, de 2006, que em roteiro de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira, combinou história e criação como o engenho da linguagem televisiva. As imagens em movimento norteiam os documentários sobre JK e muito especialmente o mais recente, o qualificado relato de 2023 preparado pela TV Cultura: JK - O Reinventor do Brasil. Os documentários são narrativas de um fluxo em andamento. Não possuem, no entanto, as características próprias das fotos, que são lascas do tempo que configuram, como diria Susan Sontag, um grande livro de citações, de relevante informação sobre um percurso.
Sontag aponta a diferença entre o pintor e o fotógrafo. O pintor, mesmo nos retratos, constrói. A fotografia, mesmo nas pousadas, revela. É o que se pode verificar nesta fotobiografia comparando os qualificados portraits de JK pintados por Portinari e Di Cavalcanti com as suas fotografias, inclusive as oficiais.
A capa é a chave da interpretação do livro. É JK em 1960 empunhando uma Rolleiflex num evento com jornalistas, assumindo o papel dos fotógrafos que cobriam a entrevista. É como se JK indicasse com a Rolleiflex que cabia aos fotógrafos e suas fotos darem testemunho das lascas do tempo do percurso de sua vida, numa antologia de citações. Estas partem da Diamantina de seu nascimento; das etapas de sua formação que, superando as dificuldades de menino pobre, o levaram à cursar Medicina; do prefeito-furacão de Belo Horizonte; do inovador governador do binômio energia e transportes de Minas Gerais; da afirmativa campanha e eleição à Presidência; da epopeia dos 50 anos em 5 e da construção de Brasília; dos registros de família; do afeto pela sua querência Diamantina; do senador cassado e exilado; de sua volta ao Brasil e suas penúrias; arrematado com a consagração do reconhecimento popular que foi o seu enterro em Brasília.
domingo, 16 de março de 2025
A morte do multilateralismo sob Trump e Putin: Tempo de tormenta e vento esquivo - Celso Lafer O Estado de S. Paulo
Tempo de tormenta e vento esquivo
Celso Lafer
O Estado de S. Paulo,
A erosão e a crise do multilateralismo comprometem o potencial de gestão cooperativa no âmbito da interdependência dos Estados
Pesa sobre a inserção internacional do Brasil a lógica das circunstâncias de relações cambiantes de um mundo de intensificados conflitos. São conflitos permeados pelas tensões de poder de alta voltagem que se dão no contexto do caleidoscópio da geopolítica.
Disso são exemplos o andamento da guerra na Ucrânia, guerra de conquista deliberada pela Rússia de Putin, e a intensidade bélica no Oriente Médio, cujo ponto de partida foi o ataque terrorista do Hamas a Israel. São conflitos que têm alcance geral. Apontam para uma renovada presença dos riscos da situação-limite paz/guerra na vida internacional, numa escala distinta dos chamados conflitos de baixa intensidade que emergiram no pós-Segunda Guerra, contidos na sua abrangência pelo precário equilíbrio da dissuasão nuclear da bipolaridade EUA/União Soviética.
A geopolítica, com sua ênfase no controle político dos espaços, insumos e matérias primas, é um componente das tensões internacionais, não apenas no campo estratégico-militar. Vem se desdobrando no campo econômico, na lógica de uma geoeconomia. Esta dá margem à ênfase no unilateralismo das preocupações dos Estados com sua segurança lato sensu. É o que coloca entre parênteses o multilateralismo das normas gerais orientadoras do comércio internacional. Daí, na vigência da geoeconomia, as tendências de renovados protecionismos de feitio autárquico, às quais Trump dá inequívoco ímpeto.
Trump, com o decisionismo desrespeitador de normas de seu modo inamistoso de atuar, vem traçando a vis directiva das guerras comerciais com sua elevação arbitrária de tarifas. Os demais atores econômicos vão e estão calibrando, na lógica da reciprocidade da equivalência, as contramedidas das suas respostas às iniciativas de Trump, com base nos recursos do poder de seus mercados e da interdependência do mundo. Assim, intensificam-se também no campo econômico os riscos da vida internacional, instigando a incerteza de difícil mensuração.
No campo dos valores, as tensões são multiplicadas pelo efeito da prevalência da geografia das paixões na Torre de Babel da agenda da opinião pública dos países. Para isso contribuem o advento e a consolidação dos fundamentalismos e de populismos nacionalistas e xenofóbicos e a sua rejeição ao “diferente” constitutivo da pluralidade do mundo.
É um dado instigador do aumento dos “deslocados do mundo” – imigrantes não documentados e refugiados – no espaço planetário e no seu âmbito as atitudes de lideranças políticas, voltadas para a corrosão dos valores da democracia e da vigência da tutela dos direitos humanos.
A máquina do mundo em que estamos inseridos – porque somos do mundo, e não estamos apenas nele –, como diz Hannah Arendt, movimenta-se num tempo de “tormenta e vento esquivo”, para recorrer às palavras de Camões, de múltiplas facetas e da escala planetária que alcança a todos na interdependente indivisibilidade atual dos campos estratégico-militar, econômico e dos valores.
O crescente desrespeito das normas do direito internacional é uma expressão da descontinuidade estrutural em relação ao que foi elaborado no pós-Segunda Guerra para operar a ordem mundial dentro de certa “normalidade” de previsibilidade.
A primeira regra de coexistência de uma ordem internacional interestatal é a da preservação estabilizadora da integridade territorial de Estados soberanos, consagrada na Carta da ONU. Tem como objetivo deslegitimar as iniciativas de valer-se de força militar para o que foi o unilateralismo da ampliação do “espaço vital” de um país – uma das grandes causas da Segunda Guerra.
A guerra na Ucrânia, conduzida por Putin e respaldado pela China, está voltada para ampliar o “espaço vital” da segurança geopolítica de uma grande potência nuclear. É um imenso precedente que coloca em questão a prévia ordem jurídica internacional. Abre espaço para o inaceitável da rediscussão da estabilidade das fronteiras. É no clima deste precedente que Trump se permite falar sobre o Canal do Panamá, o Canadá, a Groenlândia, a Faixa de Gaza e a cessão de território da Ucrânia para a Rússia.
As normas de mútua colaboração têm como fonte material a “ideia a realizar” proveniente da necessidade de lidar por meio do multilateralismo com a dinâmica das interações das sociedades num sistema internacional interdependente e interligado, não obstante sua heterogeneidade e suas assimetrias. É uma necessidade óbvia da indivisibilidade do mundo quando se pensa, por exemplo, em clima e meio ambiente.
A erosão e a crise do multilateralismo comprometem o potencial de gestão cooperativa no âmbito da interdependência dos Estados. Abrem espaço para o unilateralismo decisionista de soberanias que rejeitam se ver circunscritas por normas em função de um autocentrado solipsismo de curto prazo de seus interesses nacionais. Desconsideram o comitas gentium da diplomacia. Projetam também uma visão hobbesiana de polarização generalizada de uma guerra de todos contra todos.
quinta-feira, 9 de janeiro de 2025
Ex-chanceleres da AL rechaçam a ditadura venezuelana e pedem a instauração de um governo democrático; do Brasil, Celso Lafer e Aloysio Nunes
Dois ex-chanceleres do Brasil, Celso Lafer e Aloysio Nunes, se juntaram a dezenas de outros para rechaçar a ditadura venezuelana e pedir a instauração de um governo democrático.
domingo, 10 de novembro de 2024
Trump ‘não quer construir pontes’ e desafia diplomacia econômica brasileira, diz ex-ministro Celso Lafer - Leonardo Rodrigues (Istoé)
Trump ‘não quer construir pontes’ e desafia diplomacia econômica brasileira, diz ex-ministro Celso Lafer
Leonardo Rodriguesihttps://istoe.com.br/autor/leonardo-rodrigues/
Istoé, 10/11/2024
+Distância entre Lula e Trump não afetará proximidade do Brasil com os EUA, diz ex-chanceler
Depois que Donald Trump foi eleito para a Presidência dos Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem um histórico de declarações críticas ao republicano, não tardou a parabenizá-lo pelo resultado da eleição.
O gesto refletiu a preocupação do petista em preservar relações com o segundo maior parceiro comercial brasileiro, cujo mandatário eleito prometeu adotar uma agenda de conservadorismo político e protecionismo comercial. “Trump ressuscitou a corrente de isolacionismo dos EUA, movida por desconfiança no comércio internacional e nos engajamentos internacionais”, afirmou Celso Lafer, ex-ministro das Relações Exteriores, ao site IstoÉ.
Lafer chefiou o Itamaraty quando Fernando Collor (PRN) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) eram presidentes e ainda foi ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, em períodos que tinham políticos de diferentes orientações na Casa Branca. Nesta entrevista ao site IstoÉ, o ex-chanceler analisou os desafios impostos por Trump para a diplomacia brasileira e, dada a influência do país que governará, para as relações globais de poder.
Leia a seguir a íntegra:
IstoÉ O presidente Lula tem um histórico de manifestações críticas a Donald Trump. O senhor acredita que as divergências podem impactar as relações políticas e diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos?
Celso Lafer O presidente Lula não exerceu o realismo da prudência democrática ao manifestar publicamente simpatia pela candidatura de Kamala Harris. Sua manifestação é, no entanto, compreensível, e não apenas em função da sua identidade política, mas da existência de um terreno comum com o governo Biden, em matéria dos desafios da agenda global do meio ambiente, da transição energética e da importância atribuída à democracia e aos direitos humanos. Na campanha deste ano, Trump se contrapôs a esses itens de forma ainda mais incisiva do que no seu primeiro mandato.
Objetivamente, porém, é com o futuro governo Trump que a diplomacia de Lula precisará conviver, da melhor maneira possível, tendo em vista a relevância dos EUA no mundo. Daí a pronta clareza realista com a qual Lula transmitiu os seus cumprimentos a Trump, por uma eleição que teve o inequívoco respaldo do eleitorado americano.
“Havia um terreno em comum entre os governos de Lula e de Biden”.
A diplomacia americana comporta muitas facetas, o que dificulta a identificação de um foco privilegiado de atenção ao Brasil na próxima presidência de Trump — o que deve dar ao governo Lula uma margem de calibração para a moldura das relações entre os dois países. Nessa calibração, o presidente contará com os quadros do Itamaraty e sua capacidade de desdramatizar o potencial de tensões.
IstoÉ Tendo em perspectiva as diferentes experiências que o senhor teve no Itamaraty, qual é sua avaliação da postura diplomática do governo Lula 3?
Celso Lafer Fui ministro das Relações Exteriores em um momento distinto da sociedade brasileira, que não se caracterizava pelos atuais conflitos de polarização e por um movimento internacional de ascensão política autoritária da direita. Havia mais abertura à cooperação, mais condições para o exercício do nosso “soft-power” e, consequentemente, para a elevação do patamar de presença do Brasil no mundo.
O mundo com o qual o Lula 3 se confronta é permeado por tensões regionais e internacionais de poder, que propiciam o retorno do papel da geopolítica, das securitizações das economias nacionais e do impacto da geografia das paixões.
No meu período de Itamaraty e mesmo nos mandatos anteriores de Lula, não havia uma tensão de hegemonia como a que existe entre EUA e China e nem conflitos bélicos de alcance geral, como os que acontecem na Ucrânia e na Palestina.
“A sociedade brasileira não atravessava os conflitos da polarização e um movimento internacional de ascensão política autoritária da direita”.
A América do Sul, por sua vez, é mais fragmentada e heterogênea, e menos propícia a uma onda positiva verificada nos mandatos anteriores do presidente, o que aliás também caracterizou, em outros moldes, minha experiência como ministro.
Dito isso, concluo que o desafio diplomático de Lula 3 é calibrar a presença do Brasil no mundo, navegando sem intensificar conflitos entre próximos e distantes, e sem esbarrar nos rochedos subjacentes de um “Mar de Sargaços”. Essa calibração pressupõe equilíbrio e, igualmente, a constante melhoria da governança interna, cujo aprimoramento é sempre fonte de prestígio internacional.
IstoÉ Quanto a Trump, quais são os sinais dados pelo presidente eleito americano em relação à postura diplomática e às relações com outras nações para seu novo mandato?
Celso Lafer Neste contexto de um mundo crescentemente perigoso, Trump agrega a imprevisibilidade de seu modo de ser, um amplo controle sobre Washington que a amplitude de sua eleição lhe assegurou e a consequente erosão dos tradicionais freios e contrapesos do sistema político americano. A isto, se somam os novos perigos de alcance do relacionamento entre dinheiro e poder que a relação Elon Musk-Trump tem condição de propiciar.
Tudo isso tende a aumentar o desafio da gestão das independências e suas externalidades, criando novos obstáculos à construção de consensos internacionais. Esses foram sempre uma nota de atuação da competência diplomática brasileira, cujo espaço de permissibilidade está reduzido.
IstoÉ Trump manifestou, durante a campanha, a intenção de adotar políticas comerciais mais protecionistas e enrijecer políticas anti-imigração. Em que medida essa agenda afeta as relações com o Itamaraty?
Celso Lafer Lema de Trump, o “Make America Great Again” (“Faça a América Grande Novamente”, em português) é uma explicita condenação do internacionalismo americano, que teve um papel na construção da ordem mundial do pós-guerra e o respaldo de governos democratas e republicanos.
Essa condenação se viabilizou com as mudanças tecnológicas e a fragmentação das mídias que ensejaram as distorções e notícias falsas, que ensejaram notícias falsas e alcançaram setores da sociedade que se sentiam marginalizados pelas mensagens do Partido Democrata. Trump ressuscitou assim, em novos moldes, a corrente do isolacionismo dos EUA, movida por desconfiança no comércio internacional e nos engajamentos internacionais de todo tipo.
“Trump ressuscitou a corrente de isolacionismo dos EUA”.
Trump impulsionou a hostilidade em relação à imigração, aguçada pelo ímpeto que declaradamente dará a deportação de milhões que estão — ilegalmente — habitando o território americano. O republicano não quer construir pontes, mas vai se dedicar a construir muros com a ideia de colocar seu lema em prática.
No plano econômico, a elevação de tarifas é o instrumento de ação preferida para alcançar isso, o que abrirá espaço para guerras comerciais. Ao mesmo tempo, em seu governo haverá um esforço de contenção da penetração da economia chinesa no mundo, o que impactará todos os parceiros comerciais dos EUA, inclusive o Brasil, que é um importante exportador de produtos para a economia americana. Esse acesso será dificultado pela agenda de Trump, o que exigirá empenho redobrado na promoção competitiva e ajustes para a diversificação de nossas exportações. Em síntese, há um novo desafio para a diplomacia econômica brasileira.
domingo, 27 de outubro de 2024
Dois livros sobre intelectuais na diplomacia brasileira - Paulo Roberto de Almeida
Dois livros sobre intelectuais na diplomacia brasileira
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Nota contendo os sumários do livro publicado em 2001, O Itamaraty na Cultura Brasileira, e do livro preparado para a próxima edição de Intelectuais na Diplomacia Brasileira, duas obras essenciais sobre a contribuição diplomática e cultural dos intelectuais que moldaram o perfil intelectual do Itamaraty e da própria sociedade brasileira.
Desde quando foi publicado o livro organizado pelo saudoso embaixador Alberto da Costa e Silva, O Itamaraty na Cultura Brasileira (Brasília: Instituto Rio Branco, 2001; sumário ao final da postagem), fiquei fascinado pela amplitude da informação e análise das obras de alguns grandes nomes que enalteceram a diplomacia brasileira. Muitos deles, ou a maioria, se tornaram conhecidos não tanto pelos telegramas e ofícios preparados no exercício de suas funções oficiais, mas em lides paralelas, de caráter literário, cultural ou científico, atividades voluntárias (ou seja, não comandadas pela profissão que escolheram ou à qual se devotaram) que marcaram suas vidas na cultura brasileira como um todo, não apenas do lado da política externa ou da diplomacia.
Eu havia tomado conhecimento da preparação dessa obra antes mesmo de sua publicação, pois que, lotado na embaixada em Washington, recebi, em 2000, o historiador Carlos Guilherme Mota, que estava preparando o seu capítulo sobre o grande historiador diplomático Manuel de Oliveira Lima: tive o prazer de acompanhá-lo na visita à Biblioteca Oliveira Lima – na Catholic University of America, sempre frequentada por mim, desde os primeiros dias de estada na capital americana –, assim como ao cemitério Mount Olivet, no qual há uma tumba não identificada, cuja lápide contém apenas estas palavras: “Aqui jaz um amigo dos livros” (devo ter fotos que fiz em visita anterior, em alguma pasta de computador).
Desde a publicação da luxuosa primeira edição, eu aspirava por uma edição mais popular, facilitando o acesso a um público mais vasto do conteúdo da magnífica obra, prefaciada pelo chanceler Celso Lafer – mas sua encomenda e preparação tinham sido iniciadas sob a gestão do chanceler Luiz Felipe Lampreia –, o que foi felizmente efetuado logo no ano seguinte, pela Editora Francisco Alves, a mais antiga, longeva e educativa editora brasileira. Desde essa época, eu imaginava que a obra poderia ser complementada pela inclusão de novos nomes à lista – sobremodo restrita; apenas 18 nomes, um capítulo duplo e dois capítulos para o grande Vinicius de Moraes, merecedor –, alguns deles já sugeridos na própria introdução de Costa e Silva, como Euclides da Cunha, por exemplo (depois objeto de uma belíssima biografia por meu colega e amigo, o historiador Luiz Cláudio Villafañe Gomes Santos), outros em cogitação por ele mesmo, e por mim, já encantado com o empreendimento. A edição da Francisco Alves, em formato brochura (e, portanto, mais acessível), tinha até um capítulo a mais, uma complementação feita pelo diplomata José Roberto de Andrade Filho, de notas sobre a evolução da carreira diplomática, intitulado “Diplomacia no tempo”, ademais de uma quarta capa assinada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas, sem cargos na Secretaria de Estado durante largos anos, só pude iniciar meu projeto quando assumi, em agosto de 2016, o cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais da Fundação Alexandre de Gusmão, passando a desenvolver, até o final de 2018, um programa basicamente cultural e intelectual, bem mais do que diplomático-funcional.
Nasceu então o projeto que me ocuparia pelos dois anos seguintes, e que teve de aguardar mais quatro ou cinco, até que as condições ideais se apresentassem para uma boa edição voltada para o público em geral. Numa primeira fase, cogitou-se de uma terceira edição à obra original de 2001, embora sem a belíssima iconografia daquela, inclusive por razões orçamentárias. A ideia era a de reproduzir os textos dedicados aos dezoito autores constantes da edição organizada pelo embaixador Costa Silva, complementando-a por mais alguns nomes que tinha falecido nos anos subsequentes ao infeliz e precoce desaparecimento de José Guilherme Merquior (1991). Depois de um cuidadoso exame dos “candidatos” à inclusão nessa projetada 3a. edição, trabalho conduzido em consulta ao próprio Costa e Silva – a quem ofereci a coordenação desse volume complementar – e em conjunto com meus colegas do IPRI, Rogerio de Souza Farias, Antonio de Moraes Mesplé e Marco Tulio Scarpelli Cabral, nos fixamos inicialmente nos seguintes nomes: Wladimir Murtinho (entregue a seu grande amigo Rubens Ricupero); Vasco Mariz (para quem a autora convidada foi Mary Del Priore, sugerida pelo próprio Costa e Silva); Sergio Corrêa da Costa (assumido por quem o admirava, o próprio Antônio de Moraes Mesplé); Lauro Escorel (sendo Rogerio de Souza Farias o voluntário para a pesquisa); Meira Penna (a cargo de seu amigo e admirador Ricardo Velez Rodriguez), e Roberto Campos, sob minha própria responsabilidade, uma vez que eu já estava organizando O Homem que Pensou o Brasil (Appris, 2017), para comemorar o centenário de seu nascimento.
O projeto teve idas e vindas nos dois anos que antecederam o novo governo que sairia das eleições presidenciais de 2018, ao sabor das disponibilidades orçamentárias da Funag e da própria preparação dos originais pelos autores convidados. Eu mesmo pretendia que a nova edição tivesse uma repetição, no caso um novo capítulo dedicado a José Guilherme Merquior, por considerar que a bela contribuição do editor José Mario Pereira mais seguia a trajetória diplomática e editorial do grande intelectual eclético do que propriamente fazia a análise de sua contribuição à cultura brasileira. Num determinado momento, já avançado o projeto, e com a entrega de diversas contribuições naqueles primeiros nomes, consideramos que uma terceira edição incorreria em diversos obstáculos práticos e propriamente editoriais, com o que se cogitou de fazer uma obra independente, a partir de cuja opção se decidiu incorporar novos nomes, não exatamente de diplomatas profissionais, mas de personagens da vida política e cultural brasileira que tinham colaborado com a diplomacia, a um título ou outro. Estavam nessa categoria, por exemplo, Rui Barbosa, Afonso Arinos de Melo Franco, San Tiago Dantas, assim como a cientista Bertha Lutz, a única mulher finalmente incorporada ao time de novos representantes da diplomacia cultural. Também foi incluído o nome do filósofo e ensaísta Sergio Paulo Rouanet, falecido posteriormente à preparação dos novos originais.
O processo editorial enfrentou escolhos de tipos diversos, até que finalmente se obteve o apoio da diretora da Editora da Unifesp, Mirhiane Mendes Abreu, assim como a aceitação da nova edição por parte de Carlos Leal, o editor da Francisco Alves, já responsável pela 2a edição do livro original que inspirou esta obra, assim como de várias outras obras de cunho diplomático. Transcrevo a seguir o sumário da edição de 2001 – livro cujo conteúdo disponibilizei num arquivo reformatado na plataforma Academia.edu – e o sumário da obra que, finalmente, será publicado proximamente. Aproveito para, mais uma vez, desculpar-me junto aos primeiros colaboradores pelo longo tempo decorrido desde os idos de 2017, assim como para agradecer aos novos colaboradores – sobretudo ao chanceler Celso Lafer, em sua qualidade de duplo prefaciador – de uma obra que merece continuidade pela incorporação de novos nomes, diplomatas profissionais ou de “ocasião”, que abrilhantaram, diplomaticamente e culturalmente, o universo brasileiro da diplomacia de alto nível intelectual.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4771, 27 outubro 2024, 4 p.
Sumários de dois livros num mesmo universo
O Itamaraty na Cultura Brasileira
Organizador: Alberto da Costa e Silva
1ª edição, Brasília: Instituto Rio Branco, 2001 (edicão de luxo, ilustrada)
O Itamaraty na cultura brasileira - Celso Lafer
Diplomacia e cultura - Aberto da Costa e Silva (organizador)
Varnhagen, história e diplomacia – Arno Wehling
Brazílio Itiberê da Cunha. Músico e diplomata - Celso Tarso Pereira
Joaquim Nabuco - Evaldo Cabral de Mello
Luiz Guimarães Júnior e Luiz Guimarães Filho – Sergio Marzagão Gesteira
Aluízio Azevedo: A literatura como destino – Massaud Moisés
Domício da Gama – Alberto Venâncio Filho
Oliveira Lima e nossa formação – Carlos Guilherme Mota
Gilberto Amado: além do brilho – André Seffrin
A vida breve de Ronald de Carvalho - Alexei Bueno
Ribeiro Couto, o poeta do exílio - Afonso Arinos, filho
Viagem a Beira de Bopp - Antonio Carlos Secchin
Guimarães Rosa, viajante - Felipe Fortuna
Antônio Houaiss, cultura brasileira e língua portuguesa –- Leodegario Azevedo
Vinícius de Moraes: o poeta da proximidade - Miguel Sanches Neto
Vinícius, poeta e diplomata, na música popular - Ricardo Cravo Albin
João Cabral, um mestre sem herdeiros - Ivan Junqueira
O fenômeno Merquior - José Mário Pereira
2ª edição: Editora Francisco Alves, edicão brochura; Rio de Janeiro, 2002
Acréscimo do capítulo final: “Diplomacia no tempo: notas sobre a evolução da carreira diplomática”, por José Roberto de Andrade Filho
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Intelectuais na diplomacia brasileira: A cultura a serviço da nação
Organizador: Paulo Roberto de Almeida
Próxima publicação: São Paulo: Editora da Unifesp; Rio de Janeiro: Francisco Alves
Prefácio - Celso Lafer
Apresentação: intelectuais brasileiros a serviço da diplomacia - Paulo Roberto de Almeida
Bertha Lutz: feminista, educadora, cientista - Sarah Venites
Afonso Arinos de Melo Franco e a política externa independente - Paulo Roberto de Almeida
San Tiago Dantas e a oxigenação da política externa - Marcílio Marques Moreira
Roberto Campos: um humanista da economia na diplomacia - Paulo Roberto de Almeida
Meira Penna: um liberal crítico do Estado patrimonial brasileiro - Ricardo Vélez-Rodríguez
Lauro Escorel: um crítico engajado - Rogério de Souza Farias
Sergio Corrêa da Costa: diplomata, historiador e ensaísta - Antonio de Moraes Mesplé
Wladimir Murtinho: Brasília e a diplomacia da cultura brasileira - Rubens Ricupero
Vasco Mariz: meu tipo inesquecível - Mary Del Priore
José Guilherme Merquior, o diplomata e as relações internacionais - Gelson Fonseca Jr.
A coruja e o sambódromo: sobre o pensamento de Sergio Paulo Rouanet - João Almino
Apêndices:
1. O Itamaraty na cultura brasileira (2001), sumário da obra
2. Introdução de Alberto da Costa e Silva à edição de 2001
3. Alberto da Costa e Silva (1931-2023): Homenagem ao diplomata, poeta, historiador e ensaísta - Celso Lafer
Sobre os intelectuais na diplomacia
Sobre os autores
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4771. “Dois livros sobre intelectuais na diplomacia brasileira”, Brasília, 27 outubro 2024, 3 p. Nota contendo os sumários do livro publicado em 2001, O Itamaraty na Cultura Brasileira, e do livro preparado para próxima edição, Intelectuais na Diplomacia Brasileira, duas obras essenciais sobre o tema dos grandes intelectuais que moldaram o perfil intelectual do Itamaraty e da própria sociedade brasileira. Postado no blog Diplomatizzando, link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/dois-livros-sobre-intelectuais-na.html





