Dois livros
sobre intelectuais na diplomacia brasileira
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Nota contendo os
sumários do livro publicado em 2001, O
Itamaraty na Cultura Brasileira, e do livro preparado para a próxima edição
de Intelectuais na Diplomacia Brasileira,
duas obras essenciais sobre a contribuição diplomática e cultural dos
intelectuais que moldaram o perfil intelectual do Itamaraty e da própria
sociedade brasileira.
Desde quando foi publicado o livro
organizado pelo saudoso embaixador Alberto da Costa e Silva, O Itamaraty na Cultura
Brasileira (Brasília:
Instituto Rio Branco, 2001; sumário ao final da postagem), fiquei fascinado
pela amplitude da informação e análise das obras de alguns grandes nomes que
enalteceram a diplomacia brasileira. Muitos deles, ou a maioria, se tornaram
conhecidos não tanto pelos telegramas e ofícios preparados no exercício de suas
funções oficiais, mas em lides paralelas, de caráter literário, cultural ou
científico, atividades voluntárias (ou seja, não comandadas pela profissão que
escolheram ou à qual se devotaram) que marcaram suas vidas na cultura
brasileira como um todo, não apenas do lado da política externa ou da
diplomacia.
Eu havia tomado conhecimento da
preparação dessa obra antes mesmo de sua publicação, pois que, lotado na
embaixada em Washington, recebi, em 2000, o historiador Carlos Guilherme Mota,
que estava preparando o seu capítulo sobre o grande historiador diplomático
Manuel de Oliveira Lima: tive o prazer de acompanhá-lo na visita à Biblioteca
Oliveira Lima – na Catholic University of America, sempre frequentada por mim,
desde os primeiros dias de estada na capital americana –, assim como ao
cemitério Mount Olivet, no qual há uma tumba não identificada, cuja lápide
contém apenas estas palavras: “Aqui jaz um amigo dos livros” (devo ter fotos
que fiz em visita anterior, em alguma pasta de computador).
Desde a publicação da luxuosa
primeira edição, eu aspirava por uma edição mais popular, facilitando o acesso a
um público mais vasto do conteúdo da magnífica obra, prefaciada pelo chanceler
Celso Lafer – mas sua encomenda e preparação tinham sido iniciadas sob a gestão
do chanceler Luiz Felipe Lampreia –, o que foi felizmente efetuado logo no ano
seguinte, pela Editora Francisco Alves, a mais antiga, longeva e educativa
editora brasileira. Desde essa época, eu imaginava que a obra poderia ser
complementada pela inclusão de novos nomes à lista – sobremodo restrita; apenas
18 nomes, um capítulo duplo e dois capítulos para o grande Vinicius de Moraes,
merecedor –, alguns deles já sugeridos na própria introdução de Costa e Silva,
como Euclides da Cunha, por exemplo (depois objeto de uma belíssima biografia
por meu colega e amigo, o historiador Luiz Cláudio Villafañe Gomes Santos),
outros em cogitação por ele mesmo, e por mim, já encantado com o
empreendimento. A edição da Francisco Alves, em formato brochura (e, portanto,
mais acessível), tinha até um capítulo a mais, uma complementação feita pelo
diplomata José Roberto de Andrade Filho, de notas sobre a evolução da
carreira diplomática, intitulado “Diplomacia no tempo”, ademais de uma quarta
capa assinada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas, sem cargos na
Secretaria de Estado durante largos anos, só pude iniciar meu projeto quando
assumi, em agosto de 2016, o cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de
Relações Internacionais da Fundação Alexandre de Gusmão, passando a
desenvolver, até o final de 2018, um programa basicamente cultural e
intelectual, bem mais do que diplomático-funcional.
Nasceu então o projeto que
me ocuparia pelos dois anos seguintes, e que teve de aguardar mais quatro ou
cinco, até que as condições ideais se apresentassem para uma boa edição voltada
para o público em geral. Numa primeira fase, cogitou-se de uma terceira edição
à obra original de 2001, embora sem a belíssima iconografia daquela, inclusive
por razões orçamentárias. A ideia era a de reproduzir os textos dedicados aos
dezoito autores constantes da edição organizada pelo embaixador Costa Silva,
complementando-a por mais alguns nomes que tinha falecido nos anos subsequentes
ao infeliz e precoce desaparecimento de José Guilherme Merquior (1991). Depois
de um cuidadoso exame dos “candidatos” à inclusão nessa projetada 3a.
edição, trabalho conduzido em consulta ao próprio Costa e Silva – a quem
ofereci a coordenação desse volume complementar – e em conjunto com meus
colegas do IPRI, Rogerio de Souza Farias, Antonio de Moraes Mesplé e Marco
Tulio Scarpelli Cabral, nos fixamos inicialmente nos seguintes nomes: Wladimir
Murtinho (entregue a seu grande amigo Rubens Ricupero); Vasco Mariz (para quem
a autora convidada foi Mary Del Priore, sugerida pelo próprio Costa e Silva); Sergio Corrêa da Costa (assumido por quem o admirava, o próprio Antônio
de Moraes Mesplé); Lauro Escorel (sendo Rogerio de Souza Farias o
voluntário para a pesquisa); Meira Penna (a cargo de seu amigo e admirador
Ricardo Velez Rodriguez), e Roberto Campos, sob minha própria responsabilidade,
uma vez que eu já estava organizando O
Homem que Pensou o Brasil (Appris, 2017), para comemorar o centenário de
seu nascimento.
O projeto teve idas e
vindas nos dois anos que antecederam o novo governo que sairia das eleições
presidenciais de 2018, ao sabor das disponibilidades orçamentárias da Funag e
da própria preparação dos originais pelos autores convidados. Eu mesmo
pretendia que a nova edição tivesse uma repetição, no caso um novo capítulo
dedicado a José Guilherme Merquior, por considerar que a bela contribuição do
editor José Mario Pereira mais seguia a trajetória diplomática e editorial do
grande intelectual eclético do que propriamente fazia a análise de sua
contribuição à cultura brasileira. Num determinado momento, já avançado o
projeto, e com a entrega de diversas contribuições naqueles primeiros nomes, consideramos
que uma terceira edição incorreria em diversos obstáculos práticos e propriamente
editoriais, com o que se cogitou de fazer uma obra independente, a partir de
cuja opção se decidiu incorporar novos nomes, não exatamente de diplomatas
profissionais, mas de personagens da vida política e cultural brasileira que
tinham colaborado com a diplomacia, a um título ou outro. Estavam nessa
categoria, por exemplo, Rui Barbosa, Afonso Arinos de Melo Franco, San Tiago
Dantas, assim como a cientista Bertha Lutz, a única mulher finalmente
incorporada ao time de novos representantes da diplomacia cultural. Também foi
incluído o nome do filósofo e ensaísta Sergio Paulo Rouanet, falecido
posteriormente à preparação dos novos originais.
O processo editorial
enfrentou escolhos de tipos diversos, até que finalmente se obteve o apoio da
diretora da Editora da Unifesp,
Mirhiane Mendes Abreu, assim como a aceitação da nova edição por parte
de Carlos Leal, o editor da Francisco Alves, já responsável pela 2a
edição do livro original que inspirou esta obra, assim como de várias outras
obras de cunho diplomático. Transcrevo a seguir o sumário da edição de 2001 –
livro cujo conteúdo disponibilizei num arquivo reformatado na plataforma
Academia.edu – e o sumário da obra que, finalmente, será publicado
proximamente. Aproveito para, mais uma vez, desculpar-me junto aos primeiros
colaboradores pelo longo tempo decorrido desde os idos de 2017, assim como para
agradecer aos novos colaboradores – sobretudo ao chanceler Celso Lafer, em sua
qualidade de duplo prefaciador – de uma obra que merece continuidade pela
incorporação de novos nomes, diplomatas profissionais ou de “ocasião”, que
abrilhantaram, diplomaticamente e culturalmente, o universo brasileiro da
diplomacia de alto nível intelectual.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4771, 27 outubro 2024, 4 p.
Sumários de
dois livros num mesmo universo
O
Itamaraty na Cultura Brasileira
Organizador: Alberto da Costa e Silva
1ª edição, Brasília: Instituto Rio Branco, 2001 (edicão de luxo,
ilustrada)
O Itamaraty na cultura brasileira - Celso Lafer
Diplomacia e cultura - Aberto da Costa e Silva (organizador)
Varnhagen,
história e diplomacia – Arno Wehling
Brazílio Itiberê da Cunha. Músico e diplomata - Celso Tarso Pereira
Joaquim Nabuco - Evaldo Cabral de Mello
Luiz Guimarães Júnior e Luiz Guimarães Filho – Sergio Marzagão Gesteira
Aluízio Azevedo: A literatura como destino – Massaud Moisés
Domício da Gama – Alberto Venâncio Filho
Oliveira Lima e nossa formação – Carlos Guilherme Mota
Gilberto Amado: além do brilho – André Seffrin
A vida breve de Ronald de Carvalho - Alexei Bueno
Ribeiro Couto, o poeta do exílio - Afonso Arinos, filho
Viagem a Beira de Bopp - Antonio Carlos Secchin
Guimarães Rosa, viajante - Felipe Fortuna
Antônio Houaiss, cultura brasileira e língua portuguesa –- Leodegario
Azevedo
Vinícius de Moraes: o poeta da proximidade - Miguel Sanches Neto
Vinícius, poeta e diplomata, na música popular - Ricardo Cravo Albin
João Cabral, um mestre sem herdeiros - Ivan Junqueira
O fenômeno Merquior - José Mário Pereira
2ª edição: Editora Francisco Alves, edicão brochura; Rio de Janeiro, 2002
Acréscimo do capítulo final: “Diplomacia no tempo: notas sobre a evolução
da carreira diplomática”, por José
Roberto de Andrade Filho
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Intelectuais na diplomacia
brasileira: A cultura a serviço da nação
Organizador: Paulo
Roberto de Almeida
Próxima publicação: São Paulo: Editora da Unifesp; Rio de Janeiro: Francisco Alves
Prefácio - Celso Lafer
Apresentação: intelectuais
brasileiros a serviço da diplomacia - Paulo Roberto de Almeida
Bertha Lutz: feminista,
educadora, cientista - Sarah
Venites
Afonso Arinos de Melo Franco
e a política externa independente - Paulo Roberto de Almeida
San Tiago Dantas e a
oxigenação da política externa -
Marcílio Marques Moreira
Roberto Campos: um humanista
da economia na diplomacia - Paulo
Roberto de Almeida
Meira Penna: um liberal
crítico do Estado patrimonial brasileiro - Ricardo Vélez-Rodríguez
Lauro Escorel: um crítico
engajado - Rogério de Souza
Farias
Sergio Corrêa da Costa:
diplomata, historiador e ensaísta - Antonio de Moraes Mesplé
Wladimir Murtinho: Brasília
e a diplomacia da cultura brasileira - Rubens Ricupero
Vasco Mariz: meu tipo
inesquecível - Mary Del Priore
José Guilherme Merquior, o
diplomata e as relações internacionais - Gelson Fonseca Jr.
A coruja e o
sambódromo: sobre o pensamento de Sergio Paulo Rouanet - João Almino
Apêndices:
1. O Itamaraty na cultura brasileira (2001), sumário da obra
2. Introdução
de Alberto da Costa e Silva à edição de 2001
3. Alberto da
Costa e Silva (1931-2023): Homenagem
ao diplomata, poeta, historiador e ensaísta - Celso Lafer
Sobre os
intelectuais na diplomacia
Sobre os
autores
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4771. “Dois livros sobre intelectuais na diplomacia brasileira”, Brasília, 27 outubro 2024, 3 p. Nota contendo os sumários do livro publicado em 2001, O Itamaraty na Cultura Brasileira, e do livro preparado para próxima edição, Intelectuais na Diplomacia Brasileira, duas obras essenciais sobre o tema dos grandes intelectuais que moldaram o perfil intelectual do Itamaraty e da própria sociedade brasileira. Postado no blog Diplomatizzando, link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/dois-livros-sobre-intelectuais-na.html