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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

To be or not to be, member of China’s BRI: "Vale a pena o Brasil ficar de fora da Nova Rota da Seda?" - Vinicius Neder (O Globo)

O assunto é por demais importante para eu deixar de dar a minha opinião. Já estou elaborando. (PRA)

Vale a pena o Brasil ficar de fora da Nova Rota da Seda?*

_Marca da política externa e comercial chinesa já conta com cerca de 150 nações. País levou em conta relação com os EUA_

Vinicius Neder 

O Globo, 22/11/2024

 https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2024/11/22/vale-a-pena-o-brasil-ficar-de-fora-da-nova-rota-da-seda.ghtml 

Após a visita oficial a Brasília do presidente da China, Xi Jinping, ter terminado sem adesão formal do Brasil à Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês), foi reaberta discussão que se arrasta há alguns anos: afinal, o país deveria ou não aderir ao programa chinês de investimentos no exterior? Afinal, já foram investidos mais de US$ 1 trilhão. E o Brasil tem, ao mesmo tempo, infraestrutura carente e escassez de recursos para investir.

Nos bastidores, a diplomacia brasileira sugeriu cautela, diante do risco de uma adesão pegar mal com aliados ocidentais, sobretudo os EUA, enquanto analistas reconheceram que, mesmo fora da BRI, o Brasil recebe investimentos bilionários do gigante asiático.

Outros especialistas ouvidos pelo GLOBO explicaram que as parcerias no âmbito do programa têm nuances e seria possível ganhar com a adesão.

A BRI foi lançada em 2013, início do mandato de Xi. É a principal marca da política externa e comercial da China. O nome do programa é a abreviação de outras iniciativas — Cinturão Econômico da Rota da Seda e Rota da Seda Marítima do Século XXI.

A referência é a Rota da Seda, como ficaram conhecidas as estradas que, há cerca de 2 mil anos, conectavam o Império Romano à China — o tecido valorizado foi inventado pelos chineses e atraiu o desejo dos europeus quando chegou por lá.

O governo chinês não divulga números oficiais consolidados, mas, segundo o Centro de Finanças Verdes e Desenvolvimento da Universidade Fudan, em Xangai, de 146 a 151 países, dependendo do estágio do processo de adesão, já fazem parte. Segundo o Monitor do Investimento Global da China, do Instituto da Empresa Americana, o programa já investiu US$ 1,029 trilhão.

O lançamento e o crescimento da BRI devem ser entendidos no contexto do processo de desenvolvimento econômico e projeção geopolítica da China, disse Larissa Wachholz, sócia da consultoria Vallya Participações e pesquisadora do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), que é especialista nas relações sino-brasileiras. No processo, que ocorreu nas economias hoje ricas, investir no exterior é uma etapa.

No caso da China, o crescimento econômico dos últimos 40 anos teve como motores a construção de infraestrutura e a produção manufatureira para exportação. Hoje, a China é a fábrica do mundo, tem procurado posicionar sua produção no sentido da alta tecnologia, mas segue de olho na demanda externa.

Na infraestrutura, após construir rodovias, ferrovias, trens de alta velocidade, metrôs, portos e aeroportos, primeiro no território chinês, chega o momento em que é preciso buscar demanda no exterior.

— Chega um ponto em que a economia é muito grande, e as empresas de um país buscam contratos no exterior — disse Larissa.

*Abertura de mercados*

Assim, a BRI serve, inicialmente, para fomentar e abrir mercados a operadoras e construtoras chinesas de infraestrutura. E faz sentido que as operações sejam voltadas para conectar logisticamente a China a outros países — como a Rota da Seda da Antiguidade fazia —, facilitando o escoamento da produção industrial chinesa, motor da economia.

*Os países da Nova Rota da Seda*

Um exemplo da BRI é a construção do Porto de Chancay, no Peru. Antes de vir ao Brasil para a cúpula do G20, no Rio, e da visita a Brasília, Xi passou por lá para inaugurar o terminal, que permitirá a conexão da América do Sul com a China, via Pacífico, em 23 dias e a um custo 20% menor, segundo a agência de notícias Xinhua.

O projeto é da chinesa Cosco, gigante do transporte marítimo, e já recebeu US$ 1,3 bilhão de um total de US$ 3,5 bilhões de investimentos.

Nos cerca de 150 integrantes da BRI, estão praticamente todos os países da América do Sul — só Brasil, Colômbia e Paraguai (este último não tem relação diplomática com a China) estão de fora. A Índia está de fora, mas tem fronteira com a China e as relações têm tensões específicas, disse Larissa.

Embora os países mais ricos, em geral, estejam de fora, 17 membros da União Europeia fazem parte, como Portugal e Luxemburgo, segundo a Universidade Fudan. A Itália chegou a aderir, mas deixou a iniciativa em 2023.

Isso deve ser entendido no contexto geopolítico, segundo Evandro Carvalho, especialista nas relações Brasil-China, professor da FGV Direito Rio e da UFF. É normal as potências vigentes resistirem à ascensão de mais um país no clube dos grandes.

— Parece que os EUA adotam política de contenção econômica da China em todas as frentes — disse Carvalho.

Apesar da postura diplomática e comercial dos EUA, o professor viu com desconfiança a argumentação da diplomacia brasileira, de que foi melhor não aderir à BRI para evitar indisposição com americanos.

Se o objetivo maior da política externa do Brasil fosse esse, não deveria dar aval à ampliação do Brics, com direito à adesão do Irã, o que tende a ser visto como mais grave do que aderir ao programa chinês.

Tanto Carvalho quanto Larissa, do Cebri, ressaltaram uma característica da BRI: a flexibilidade. O programa abrange um largo espectro de projetos, de infraestrutura tecnológica à saúde. E o tipo de acordo que cada país firma com a China costuma variar.

Para Larissa, a adesão à BRI poderia ter poucos resultados para o Brasil. Dependeria dos termos dessa entrada e de que projetos seriam financiados.

Já Carvalho considera um erro olhar para a BRI apenas pela ótica do financiamento à infraestrutura. Para ele, o Brasil poderia atuar como coordenador regional, na América do Sul ou na comunidade de países de língua portuguesa, dos investimentos chineses:

— Perdeu-se uma oportunidade de o Brasil abrir um ramo na política externa, para projetar o interesse brasileiro no cenário internacional.


segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Dilma gastou mais que Bolsonaro para tentar se reeleger (O Globo)

 Dilma gastou mais que Bolsonaro para tentar se reeleger

Estudo estima as despesas dela em 3,1% do PIB e as dele em 0,2% — mas ambos recorreram a gastos ocultos

O Globo, 11/11/2024

 

O Brasil tem um longo e problemático histórico de incúria fiscal em anos eleitorais. Tanto Dilma Rousseff quanto Jair Bolsonaro, apesar das diferenças ideológicas, recorreram a gastos eleitoreiros em suas respectivas tentativas de reeleição. Ambos adotaram mecanismos de contabilidade criativa para ocultar despesas. Mas um olhar atento revela diferenças, constata um novo estudo dos economistas Alexandre Manoel, Marcos Lisboa, Marcos Mendes e Samuel Pessôa, recém-publicado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Para comparar os gastos, eles estimaram a variação entre os dois primeiros e os dois últimos anos de cada mandato. Constataram que, na tentativa de reeleição de Dilma em 2014, sua administração aumentara as despesas primárias em 1,4% do PIB. A maior extensão da prodigalidade fiscal, porém, ficou oculta. Pelos cálculos dos economistas, Dilma ainda acumulou 1,7% adicional do PIB em “gastos encobertos”, como adiamento de despesas para o próximo governo (restos a pagar) e manipulação da contabilidade das empresas estatais. Ao todo, entre o visível e o oculto, Dilma gastou 3,1% do PIB para se reeleger.

Bolsonaro adotou estratégia diferente em 2022. Em sua gestão, houve redução de 0,7% nos gastos primários visíveis, comparando o biênio 2021-2022 ao 2019-2020. Em contrapartida, ele também recorreu a “gastos encobertos” estimados em 0,9% do PIB. Isso inclui o atraso de pagamentos de precatórios no valor de R$ 27,2 bilhões ao longo de quatro anos e o aumento do estoque de contas não pagas em R$ 65,5 bilhões. Uma diferença crucial emerge na comparação: enquanto, sob Dilma, as despesas adicionais visíveis e ocultas atingiram 3,1% do PIB, sob Bolsonaro ficaram em apenas 0,2%.

Houve outra diferença crítica: a intervenção no mercado de câmbio. O governo Dilma, sem Banco Central (BC) independente, sustentou artificialmente o real antes da eleição de 2014, aumentando o estoque de contratos cambiais de zero para 4% do PIB entre 2013 e o terceiro trimestre de 2014, quando o déficit em conta-corrente comprovava a necessidade de desvalorização. Essa intervenção se revelou insustentável e prejudicou a economia. Em contraste, Bolsonaro se beneficiou da independência do BC, aprovada em 2021. Seu governo não se envolveu em manipulação cambial. A evolução institucional impôs uma restrição crucial ao populismo em ano eleitoral.

É verdade que é difícil definir com precisão gastos eleitorais. Para garantir uma comparação justa, os economistas exploraram vários ajustes nos cálculos, considerando fatores como subsídios aos combustíveis, incentivos fiscais, o ciclo econômico e diferentes classificações para as contas não pagas. Mesmo após aplicar os ajustes mais favoráveis a Dilma, concluem que os gastos dela antes da eleição superaram os de Bolsonaro.

Ambas as gestões priorizaram ganhos políticos de curto prazo em detrimento da estabilidade no longo prazo. Tanto Dilma quanto Bolsonaro exploraram fraquezas institucionais para manipular a política fiscal. O estudo revela a necessidade de maior transparência e de mecanismos de supervisão mais fortes para evitar a exploração de “gastos encobertos” à margem das regras fiscais, também frequentes agora, no governo Luiz Inácio Lula da Silva.

 

domingo, 29 de setembro de 2024

Liderança global de Lula entrou em declínio - Opinião, Editorial O Globo

 Opinião / Editorial  O Globo, 29/09/2024

Liderança global de Lula entrou em declínio

Passagem por Nova York mostra que passou o tempo em que o presidente encantava as plateias

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez o possível na semana passada para se projetar como liderança global em Nova York. Discursou na abertura da Assembleia Geral da ONU, participou de reunião do G20, disparou críticas contra seus desafetos Benjamin Netanyahu e Volodymyr Zelensky, manteve encontros bilaterais com Pedro Sánchez, Cyril Ramaphosa e Gustavo Petro, defendeu reformas na governança global e foi conversar até com representantes de agências de risco, na tentativa de melhorar a nota do Brasil. 

Não dá para negar seus esforços. Mas Lula está longe de alcançar os resultados que gostaria. A verdade é que, em seu terceiro mandato, ele é conhecido no exterior, mas não é mais o líder popular que já foi um dia. Um termômetro disso é uma pesquisa recente do Pew Research Center, com dados recolhidos entre janeiro e abril em cinco países da América Latina: Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru. Os resultados mostram que é baixa a confiança latino-americana em Lula fazer o que é certo em termos de política externa. Nem no próprio continente ele consegue atrair a simpatia da maioria. 

Os que mais confiam em Lula são os argentinos (das respostas, 40% foram positivas e 49% negativas). Os mais críticos são os chilenos (62% de respostas negativas), seguidos de mexicanos (60%), peruanos (55%) e colombianos (53%). As respostas são coerentes com a inclinação recente à direita na América do Sul, marcada pela ascensão do argentino Javier Milei à Casa Rosada. Em relação ao Brasil, em contraste, a percepção é positiva. Os argentinos têm a visão mais favorável do país (59% de respostas positivas), seguidos de peruanos (58%) e colombianos (55%) A pesquisa também foi feita nos Estados Unidos. Os americanos são mais reticentes com relação ao Brasil que os latino-americanos: 47% têm imagem favorável e 46% desfavorável. 

Sobre as pretensões de liderança global brasileira, os americanos são céticos: a maioria dos entrevistados (64%) acha que a influência do país no mundo se manteve a mesma nos últimos anos, e 16% acham que ela enfraqueceu. O Brasil está mais fraco no cenário internacional para 33% dos chilenos, 20% dos argentinos, 25% dos colombianos e 23% dos peruanos. 

É provável que haja nas respostas um reflexo dos quatro anos do governo Jair Bolsonaro, cuja política externa transformou o Brasil em “pária internacional”. Mas são evidentes também os efeitos das trapalhadas diplomáticas de Lula na reação às guerras na Ucrânia e no Oriente Médio. O sonho de ser um líder global, mais uma vez manifestado na ONU, leva Lula a se lançar em missões impossíveis diante da projeção do Brasil no mundo, com evidentes limitações na sua influência externa. 

Tampouco na América Latina Lula tem obtido resultados dignos de nota. Sua deferência inexplicável à ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela fez fracassar a tentativa de mediar uma saída para a crise desencadeada pela fraude nas eleições de julho. Até a Argentina de Milei, importante parceiro comercial do Brasil e segunda economia do Mercosul, ele tem procurado manter à distância, apesar da integração entre as duas economias. A passagem de Lula por Nova York deixou evidente aquilo que a pesquisa já mostrava: passou o tempo em que Barack Obama chamava Lula de “o cara” e ele despertava a simpatia de todos como liderança global.


sábado, 21 de setembro de 2024

A guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia: postura de embaixadores brasileiros ao ínício da invasão (março de 2022)

 Agora que o Brasil se dispõe a apresentar, com a China, um "plano de paz" sobre a guerra de agressão da Rússua contra a Ucrânia, totalmente enviesado em favor do agressor, reproduzo abaixo postagem refletindo comentários de embaixadores brasileiros no início da insana guerra: 

segunda-feira, 14 de março de 2022

Brasil condena invasão russa, mas teme guerra econômica: ex-chanceleres e embaixadores opinam sobre a posição do Itamaraty - Janaína Figueiredo (O Globo)

 Brasil condena invasão russa, mas teme guerra econômica: ex-chanceleres e embaixadores opinam sobre a posição do Itamaraty


BUENOS AIRES 

Depois de ter acompanhado o voto de condenação da Rússia pela invasão da Ucrânia na Assembleia Geral e no Conselho de Segurança das Nações Unidas, em sintonia com a posição dos Estados Unidos e dos países da União Europeia (UE), entre muitos outros, o Brasil . Gera tensão, também, afirmaram fontes diplomáticas, o que alguns têm chamado de politização pelos principais adversários do governo de Vladimir Putin de organismos multilaterais, para acuar ainda mais a Rússia.

Na semana passada, depois de ter proibido a importação de vodca, caviar e diamantes russos e solicitado ao Congresso americano que interrompa o livre comércio com a Rússia, o governo de Joe Biden e seus aliados europeus começaram a articular uma jogada que visa suspender os direitos de voto de Moscou no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Bando Mundial (Bird).

A outra guerra:

O objetivo dos EUA e da União Europeia é cortar todo o acesso da Rússia a fontes de financiamento externo. Em palavras da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, vamos nos assegurar de que a Rússia não possa obter créditos ou qualquer outro tipo de benefícios nestas instituições. O objetivo final, caso um acordo que permita alcançar um cessar fogo seja alcançado nas próximas semanas, seria expulsar a Rússia da ordem econômica internacional. Nas sanções mais duras já aplicadas contra uma potência, o país que é a 11ª economia do mundo já teve muitos de seus bancos suspensos do sistema de transações internacionais Swift e as reservas de seu Banco Central depositadas nos EUA, na Europa e no Japão foram congeladas.

Limitações:

A ofensiva anti-Rússia em organismos internacionais deve avançar em âmbitos como a Organização Mundial de Comércio (OMC), onde os países do G-7 Alemanha, França, Reino Unido, Canadá, Japão e EUA pedirão que seja revogado seu status de nação mais favorecida (MFN, na sigla em inglês). Este estatuto é concedido aos 164 integrantes da OMC, para garantir a igualdade de condições a todos os países-membros cujos governos se comprometem a tratar uns aos outros em pé de igualdade e sem qualquer tipo de discriminação. Dessa forma, eles têm acesso a tarifas mais baixas, menos barreiras comerciais e cotas de importação mais elevadas.

Os EUA, a UE e outros aliados da Ucrânia no conflito estão, com essa atitude, afirmou uma fonte do Itamaraty, minando o funcionamento de organismos essenciais na governança econômica global e o avanço de processos considerados importantes para o Brasil em âmbitos como a OMC, FMI, Bird e G-20, entre outros. Essa ofensiva, ressaltou a fonte, vai trazer graves consequências não somente para Putin, mas para muitos outros países.

Por enquanto, o Brasil não expressou publicamente seus temores pela politização de organismos internacionais. Até agora, a delegação brasileira na ONU expressou questionamentos à dimensão das sanções econômicas anunciadas e, também, ao envio de armas à Ucrânia. Ou seja, houve aval à condenação, mas, também, críticas à frente contra Moscou liderada por EUA e UE.

Ciberguerra:

Ouvidos pelo GLOBO, os ex-chanceleres Celso Amorim e Celso Lafer e os embaixadores Rubens Ricupero e Marcos Azambuja avaliaram as posições adotadas até agora pelo Brasil e pelas partes envolvidas no conflito.

Na visão de Amorim, o ataque da Rússia à Ucrânia é uma ação condenável, além de um erro político. No entanto, se o Brasil quisesse ter alguma participação em esforços pela paz, seria melhor se abster nas votações, como fizeram os demais países do Brics, incluindo a Índia, que é parte do Quarteto, fórum asiático liderado pelos EUA. O ex-chanceler e Azambuja destacaram a necessidade de levar em consideração as preocupações da Rússia por sua segurança.

Já Lafer defendeu uma posição mais incisiva do Brasil, sem abrir espaço para a neutralidade abdicante que ele identifica nas declarações do presidente Jair Bolsonaro. Já Ricupero foi o mais crítico em relação à atuação da missão brasileira na ONU: Em termos concretos, ela equivale a condenar a vítima a ser massacrada.

Conheça as opiniões de Amorim, Lafer, Ricupero e Azambuja

 Celso Amorim: Invasão é condenável, mas em outro momento Brasil teria condições de mediação

"É uma situação muito complexa. A Rússia sempre se preocupou com a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que também foi criticada, mesmo condenada, por pensadores americanos. A Ucrânia não era apenas um país da Europa Oriental, era parte da antiga União Soviética e do Império Czarista. Diferentemente de outros países e regiões, tem um componente emocional muito forte para os russos.Mas isso não justifica a guerra, sou contra a ação militar unilateral. Fui embaixador na ONU e prezo especialmente por suas normas. A Carta da ONU foi construída em torno do não recurso à guerra para resolver problemas. Só admite o uso da força quando autorizada pelo Conselho de Segurança ou em legítima defesa. Diferentemente do que pregavam os EUA antes da Guerra do Iraque, não existe legítima defesa preventiva. Não tenho dúvida de que a ação é condenável, além de um erro político.

Como deveria ser a ação do Brasil? Não tenho certeza. Havia duas posições possíveis. A que foi adotada, votar a favor da condenação, mas dando uma explicação de que se é contra as sanções, defender uma solução pacífica, o que, devo admitir, é razoável. Mas, numa outra situação, em que o Brasil estivesse mais ativo internacionalmente, com a mesma justificação você poderia conceber um voto de abstenção. Continuaria condenando, mas considerando que há preocupações de segurança que são legítimas. Se o Brasil, de alguma maneira, quiser participar de algum esforço em favor da paz, é melhor se abster. Se fosse um governo que conversasse com todos, talvez tivesse sugerido uma abstenção. Na situação atual, não poderíamos esperar isso, até porque uma abstenção de Bolsonaro ficaria sob suspeita."

Celso Lafer: Posição deve ser mais incisiva ao condenar guerra de conquista

"A Rússia faz uso da força contra a integridade territorial e a independência da Ucrânia. Desrespeita o Artigo 2, parágrafo 4 da Carta da ONU e põe em questão um dos princípios básicos do direito internacional: o do respeito à soberania territorial dos Estados. A guerra resultou de uma decisão militar para alcançar fins políticos unilateralmente definidos por Putin: pôr termo à Ucrânia como país independente para alcançar a sua incorporação a uma expressão eslava da Rússia e atender preocupações de segurança. Ela denega aspirações majoritárias da população ucraniana a uma identidade nacional própria. A Assembleia Geral da ONU expressou em resolução a condenação da comunidade internacional à agressão da Rússia.

Brasil votou a favor da resolução. Seguiu a tradição diplomática brasileira em consonância com os princípios constitucionais que regem as relações internacionais do país. O Brasil é um país de escala continental que, em contraste com outros, definiu todas as suas fronteiras por arbitragem e negociações. É o que faz da defesa da integridade territorial e da condenação da guerra de conquista parte integrante do capital diplomático do Brasil. Rui Barbosa realçou que entre os que destroem a lei e os que a observam não há neutralidade admissível. (...) Não há imparcialidade entre o direito e a injustiça. Na sua lição, quando existem normas internacionais, como as da Carta da ONU, pugnar pela observância das normas não é quebrar a neutralidade: é praticá-la. Por isso, creio que a posição brasileira deve ser mais incisiva. Não cabe abrir espaço para a impassibilidade de uma neutralidade abdicante que identifico nas manifestações do presidente da República."

Rubens Ricupero: Criticar entrega de armas é deixar Ucrânia à mercê da Rússia

"Primeiro é preciso saber qual é a posição brasileira, se é a do Bolsonar ou se é a da missão do Brasil na ONU. A segunda questão é, se chegarmos à conclusão de que quem representa o Brasil é a missão, temos de analisar o conteúdo dessa posição. A posição que o governo tem expressado na ONU é oposta à de Bolsonaro. A posição do Brasil é de concordar e aprovar as duas resoluções que condenaram a invasão russa em todos os sentidos. O que se pode dizer dessa posição é que ela rigorosamente é correta. Mas, a partir daí, é preciso indagar sobre as consequências dessa posição. A delegação brasileira concordou em que a Rússia agrediu a Ucrânia sem provocação, atuando contra os princípios da Carta da ONU, ou seja, uma agressão indiscutível. Ao se declarar contrária ao fornecimento de armas, ela mostra uma incoerência. Se não se quiser o envolvimento direto, só há uma maneira, que é fornecer à vítima meios para se defender.

Por isso, eu chamaria a posição brasileira de ineficaz: ela equivale, no fundo, a deixar a Ucrânia à mercê da Rússia. Num caso como este, no qual mais de 140 países reconhecem que há uma agressão injusta, e, por outro lado, não se pode obter uma resolução do Conselho de Segurança porque a Rússia vai vetar, creio que a posição lógica e consequente seria aprovar as sanções e o fornecimento de armas. É a única maneira, embora insatisfatória, para ajudar o país agredido a se defender. Do ponto de vista legalista ao extremo, a posição brasileira é correta, mas é ineficaz. Em termos concretos, ela equivale a condenar a vítima a ser massacrada. No fundo, significa que perante a História estamos lavando as mãos."


Entrevista: 

Marcos Azambuja: O país tem que se equilibrar entre seus princípios e interesses

"O Brasil tem de ter em vista que essa guerra terá uma duração longa na vida internacional. O país deve fazer, e fez, a reafirmação dos seus princípios de convivência pacífica, de respeito à Carta das Nações Unidas, aos seus compromissos com a própria Constituição brasileira. O Brasil precisa dizer, e disse, que nos princípios e nos valores ele é fiel a sua tradição e a sua história. Mas ele também tem de cuidar dos seus interesses, que estão em jogo. Dos cinco países do Brics, China, Índia e África do Sul se abstiveram de votar na Assembleia Geral pela condenação da Rússia. Só o Brasil votou a favor. Minha preocupação é que o Brasil se reserve para ser valioso mais tarde, na procura de soluções.

Brasil deve manter suas posições de princípio e entender as razões que levaram a Rússia a fazer o que fez. A Guerra Fria terminou com uma derrota tão absoluta dos países do então socialismo real que os derrotados não tinham o que negociar. Agora, a Rússia voltou a ser uma grande potência que tem interesses estratégicos, políticos e econômicos. O Brasil é movido por duas forças que, de certa maneira, são contraditórias. Ao se separar dos Brics, mostrou que continua fiel a seus valores. Mas deve se reservar para um processo negociador que virá. Quem vai conduzir isso? Não podemos fazer nada que agrave mais ainda a situação. A Rússia tem de se dar conta que não pode pretender a recriação de um império. E a Ucrânia tem de se dar conta de que a Crimeia não voltará e a região de Donbass vai se separar. Diplomacia é negociação. O que vejo são gestos truculentos. A solução é que haja algum tipo de interlocução. A negociação, essência da diplomacia, é a procura por meios imperfeitos de soluções imperfeitas."


https://oglobo.globo.com/mundo/brasil-condena-invasao-russa-mas-teme-guerra-economica-ex-chanceleres-embaixadores-opinam-sobre-posicao-do-itamaraty-25430976

domingo, 8 de setembro de 2024

A surpresa ucraniana - Demétrio Magnoli (O Globo)

A surpresa ucraniana 

Demétrio Magnoli

O Globo, 2/09/2024

Começou, à sombra da noite, nas primeiras horas de 6 de agosto. Ninguém sabia — nem as tropas mecanizadas envolvidas na operação, que receberam o aviso no último minuto, nem os Estados Unidos e os aliados europeus. As forças de elite da Ucrânia, cerca de 10 mil soldados, avançaram sobre a província russa de Kursk e, em duas semanas, ocuparam um saliente de mais de mil quilômetros quadrados e 92 povoados, inclusive a cidade de Sudja.

A ofensiva surpreendente foi descrita por analistas em termos que oscilam entre uma genial manobra tática e uma aventura desesperada. A operação tem uma série de objetivos que podem ser rotulados como propagandísticos, militares e diplomáticos.

Propaganda

Desde o fracasso da ofensiva ucraniana do verão de 2023, o conflito sedimentou-se como guerra de atrito ao longo de um extenso front no leste e no sul ucranianos. O atrito de artilharia pesada, com os incessantes bombardeios de mísseis e drones russos sobre cidades da Ucrânia, configurou uma narrativa de inevitabilidade de triunfo russo no horizonte de longo prazo. A ofensiva em Kursk desfigurou a narrativa predominante.

Pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, forças militares estrangeiras invadiram território russo. O choque, expresso na evacuação de mais de 100 mil civis, desafia a retórica de Putin. O ditador proibiu o uso da palavra “guerra” na Rússia, substituída pelo eufemismo “operação militar especial”, e, temendo a quebra da coesão social no país, recusa-se até hoje a ordenar uma mobilização geral. A guerra, contudo, chegou a solo russo, expondo a fantasia do Kremlin.

Putin segue manufaturando eufemismos. A invasão ucraniana é descrita como “provocação” ou “atos de terrorismo”. Mas o rei, que ficou nu, foi obrigado a atribuir ao “Ocidente coletivo” a humilhação imposta pela Ucrânia.

Tática militar

São duas as metas militares da ofensiva em Kursk. De um lado, como mínimo, a Ucrânia almeja obrigar a Rússia a desviar suas forças que operam no Donbass para o novo front de Kursk. De outro, como máximo, imagina estabelecer uma zona-tampão dentro da Rússia, que protegeria a região ucraniana de Sumy.

A primeira meta ainda não foi alcançada. A Rússia enviou tropas secundárias para estabilizar o cenário no saliente invadido, sem comprometer suas melhores forças. O Kremlin faz de tudo para não desistir de seu esforço principal, o avanço acelerado na província de Donetsk antes da chegada do inverno.

A segunda meta depende da capacidade ucraniana de implantar linhas de defesa no saliente conquistado. Já existem sinais do estabelecimento de trincheiras e fortificações. A tentativa envolve riscos significativos, expondo as forças ucranianas à retaliação aérea russa. A distância entre manobra tática e aventura desesperada estreita-se com a passagem do tempo.

Desafio diplomático

O presidente ucraniano Zelensky aludiu à ideia de usar o saliente de Kursk como moeda de troca em hipotéticas negociações de paz. É pura especulação, destinada a ocultar uma operação diplomática sofisticada cujo alvo é o governo Biden.

Os Estados Unidos, principal fornecedor de equipamento bélico à Ucrânia, adotam uma política de “administração da guerra”, postergando a entrega de sistemas avançados de artilharia, mísseis antimísseis e aviões de combate. O blefe russo, expresso nas ameaças periódicas de escalada nuclear, definiu a hesitante postura estratégica do governo Biden.

Uma “linha vermelha” imposta por Washington é a proibição do uso de sistemas americanos contra alvos em território russo. O veto foi parcialmente flexibilizado diante da tática russa de usar o território do país como santuário para artilharia de longa distância e bombardeios de mísseis e drones. Hoje Washington permite atingir alvos na Rússia — mas apenas como “contrafogo”.

A invasão do saliente de Kursk, em que foram utilizadas armas americanas, ultrapassou a “linha vermelha” e criou um dilema para Biden. A Ucrânia está dizendo que a ofensiva é parte integral de uma guerra defensiva, algo óbvio para qualquer oficial militar. Como responderá o governo dos Estados Unidos?


terça-feira, 13 de agosto de 2024

Embaixador designado para Taiwan: Um deslize na lua de mel entre Brasil e China - Marcelo Ninio (O GLobo)

 O GLOBO, 13/08/2024

Um deslize na lua de mel entre Brasil e China

Brasília nomeou embaixador de mesmo nível hierárquico do chefe da missão em Pequim para atuar na capital de Taiwan

Por Marcelo Ninio

 — Pequim

O Globo, 13/08/2024 04h30  Atualizado há 5 horas


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A diplomacia é feita de sutilezas e simbolismos. Detalhes que podem parecer insignificantes exigem atenção redobrada, para evitar ruídos indesejados. Uma nomeação recente do Itamaraty tem nuances que passaram quase despercebidos, mas não escaparam de observadores mais argutos da relação Brasil-China, que completa 50 anos esta semana.

Trata-se da escolha do novo representante do Brasil em Taiwan. A ilha de 23 milhões de habitantes funciona de forma independente, mas o governo de Pequim a considera um território rebelde que deve ser reunificado com a China continental. É, sem dúvida, a questão mais sensível para a diplomacia chinesa. Tanto que a condição básica da China para manter relações oficiais com qualquer país é que ele não reconheça Taiwan como nação independente.

Desde que estabeleceu laços diplomáticos com a China em 1974, transferindo a embaixada de Taipé para Pequim, o Brasil segue esse princípio com rigor. Por isso, chamou a atenção a mudança observada num decreto do dia 14 de junho. Ele designa Luís Cláudio Villafañe Gomes Santos “para exercer a função de Chefe do Escritório Comercial do Brasil em Taipé”. Santos é “ministro de primeira classe”, o cargo mais elevado da carreira diplomática, também conhecido como “embaixador”.

Até agora, o Itamaraty buscava ocupar a chefia do escritório em Taipé com um profissional de nível hierárquico inferior, para deixar claro que o escritório não tem status de missão diplomática e evitar atritos com Pequim. É o caso de Miguel Magalhães, que voltou no domingo a Brasília após quatro anos no cargo. Embora tenha chefiado a embaixada do Brasil no Iraque, sua graduação é de “ministro de segunda classe”, uma abaixo da máxima.

Outra novidade no decreto é a omissão do consulado do Brasil em Tóquio, ao qual a representação em Taiwan é subordinada. O vínculo costumava aparecer nas nomeações anteriores, evidenciando que Taipé não é uma missão independente. As nuances foram notadas por diplomatas que conhecem bem o tema, causando inquietação entre eles.


sexta-feira, 12 de julho de 2024

Ex-chanceler virtual de Bolsonaro, chefe do chanceler acidental, permanece preso - Paolla Serra (O Globo)

 Operadora de telefonia envia a Moraes localização de aliado de Bolsonaro que tenta comprovar que não fugiu para os EUA

Investigado por elaborar uma suposta minuta golpista, Filipe Martins está preso preventivamente desde fevereiro

Por  — Brasília


A operadora de telefonia Tim encaminhou ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a geolocalização de Filipe Martins, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mostrando que ele esteve no Paraná e em Brasília, no final de 2022. Martins tenta provar ao magistrado que não viajou a bordo do avião do governo brasileiro, burlando o sistema migratório dos Estados Unidos, nesse mesmo período.

    O documento foi juntado na tarde desta quarta-feira ao inquérito em que Martins é investigado. O ex-assessor de Assuntos Internacionais foi preso preventivamente pela Polícia Federal, em 8 de fevereiro deste ano, durante a deflagração da Operação Tempus Veritatis, que apurava uma suposta organização criminosa que teria atuado para manter Bolsonaro no poder por meio de uma tentativa de golpe Estado e abolição do Estado Democrático de Direito. 

    A trama, segundo o inquérito, teria envolvido a entrega da minuta e a preparação para realizar um golpe de Estado “com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais em ambiente politicamente sensível".

    De acordo com o relato da delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Martins elaborou uma suposta minuta golpista após o resultado das eleições em 2022 que previa a prisão de Moraes e uma intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). De acordo com informações levantadas pela PF, o ex-assessor esteve no Alvorada nos dias 18 de novembro e 16, 20 e 21 de dezembro de 2022.


    quinta-feira, 4 de julho de 2024

    A volta do Ministério do Vai Dar M... - Paulo Celso Pereira (O Globo)

    A volta do Ministério do Vai Dar M...

    Episódios nebulosos têm provocado ‘déjà- vu’ em quem acompanhou de perto escândalos das últimas gestões petistas

    Paulo Celso Pereira

    O Globo, 03/07/2024 

    A ideia foi imortalizada no primeiro governo Lula, por sua pertinência e autoria: deveria ser criado um Ministério do “Vai dar Merda”. A proposta vinha de Chico Buarque, entusiasta da chegada do PT ao poder, temeroso do desgaste que os tropeços poderiam causar ao projeto de esquerda. Passados 18 meses de seu terceiro mandato, Lula deveria pensar seriamente na sugestão.

    Nos últimos meses, uma série de episódios nebulosos tem provocado déjà-vu em quem acompanhou de perto os escândalos das últimas gestões petistas. Primeiro, foram as acusações contra o ministro Juscelino Filho, indiciado por organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Trata-se de um clássico do patrimonialismo nacional: quando era deputado, ele destinou emendas para construir estradas no Maranhão que beneficiaram propriedades suas e de sua família.

    No celular do empreiteiro responsável pela obra, a Polícia Federal identificou uma troca de mensagens em que Juscelino pede ao empresário que realize depósitos para terceiros, e este responde com os comprovantes dos repasses. Numa conversa paralela, o empreiteiro diz que o valor seria descontado da obra de pavimentação. Apesar dos indícios, Lula optou por não demitir o aliado.

    Para auxiliares, Lula espera que Juscelino tome a iniciativa de deixar o governo

    O caso de Juscelino é apenas o mais avançado. Em meio à tragédia do Rio Grande do Sul, o governo decidiu importar 263 mil toneladas de arroz. O leilão foi vencido por empresas que faziam de tudo, menos trabalhar com o cereal — eram de locação de veículos, produção de queijos e polpas de fruta. As vendas seriam parcialmente intermediadas por companhias de um ex-assessor do secretário de Política Agrícola do governo federal. Foi preciso o escândalo dominar as redes sociais para o Planalto cancelar a compra.

    Não foi a única movimentação nebulosa envolvendo a tragédia gaúcha. No último domingo, o colunista do GLOBO Lauro Jardim revelou que um grão-petista, o ex-presidente da Câmara Marco Maia, tem visitado prefeituras sugerindo a contratação de certas empresas para tocar obras emergenciais. Ele integra a equipe de Paulo Pimenta na Secretaria de Reconstrução do RS. Maia foi alvo de delações na Operação Lava-Jato, e seu processo foi arquivado por falta de provas.

    O grupo dos reabilitados da Lava-Jato que voltaram a flanar em Brasília é grande. Os irmãos Joesley e Wesley Batista, que de investigados se converteram em bombásticos delatores, estão com tudo. Semanas atrás, chamaram a atenção por um lance intrigante. Arremataram, por R$ 4,7 bilhões, 12 usinas térmicas da Eletrobras na região amazônica. Elas estavam à venda havia um ano, mas não despertavam interesse de nenhum grupo. O motivo: a principal cliente delas é a distribuidora Amazonas Energia, que está inadimplente, com dívida acumulada de R$ 9 bilhões. O mercado só compreendeu a decisão dois dias depois, quando o governo editou uma Medida Provisória para socorrer a Amazonas Energia, cobrindo os pagamentos que ela deveria fazer às usinas recém-compradas pelos Batistas. Os custos da operação serão pagos por todos os consumidores.

    Até mesmo a Secretaria de Comunicação da Presidência, que deveria trabalhar para melhorar a imagem do governo, passou a desgastá-la. Na semana passada, o Tribunal de Contas da União identificou indícios de “graves irregularidades” na licitação que contratou quatro empresas de assessoria e gestão de redes sociais. O resultado do pregão, com gastos de até R$ 197,7 milhões, era conhecido antes da abertura dos envelopes.

    Os seguidos escândalos que atingiram os governos Lula e Dilma foram o principal motor do antipetismo que viceja no país. Ainda que Lula evite o tema, passar a impressão de que há preocupação com o combate à corrupção é importante para um pedaço do eleitorado que o apoiou em 2022 e foi determinante para derrotar Bolsonaro. A onda recente de casos heterodoxos mostra que, se nada for feito, o governo terá apostado mais na sorte que na sensatez para não ser atingido por um grave escândalo. Depois, não adianta culpar o juiz.


    terça-feira, 25 de junho de 2024

    Após voto em Lula, Joaquim Barbosa critica presidente 'omisso' e 'conservador à la carte' - Rodrigo Castro (O Globo)

     Lauro Jardim

    Após voto em Lula, Joaquim Barbosa critica presidente 'omisso' e 'conservador à la carte'

    Por Rodrigo Castro

    O Globo, 24/06/2024 

    Discreto, Joaquim Barbosa voltou às redes sociais com críticas a Lula, seu candidato nas últimas eleições. Em seu perfil no “X” – sem publicações desde 1º de maio – o ex-presidente do STF e algoz do PT no mensalão atacou o Congresso (“omisso, retrógrado, um horror”) e não poupou o presidente, a quem chamou de “omisso em muitas questões, em cima do muro em outras, conservador ‘à la carte’", quando o assunto são "questões de sociedade".

    Barbosa afirmou que Lula “é incapaz de liderar o país em várias áreas em que poderíamos avançar significativamente se o natural poder de liderança e persuasão conferido ao ocupante da cadeira presidencial fosse inteligentemente usado para fazer avançar certas pautas que nos colocam na ‘vanguarda do obscurantismo’”.

    A manifestação acontece em meio à turbulência na articulação política do governo e suas sucessivas derrotas no Congresso. Também, claro, durante discussões polarizadas, como a do PL Antiaborto Legal – sobre a qual Lula se manifestou somente após pesquisas de opinião.

    O último post explícito de Barbosa sobre Lula havia sido após sua vitória em 2022. Na ocasião, ao parabenizar o petista, disse que “venceram a Democracia, a civilidade, a reverência às normas consensualmente estabelecidas para reger o bom funcionamento da sociedade”.

    As palavras usadas agora ainda contrastam com uma entrevista de Barbosa ao “Valor”, em maio de 2023, na qual afirmou que Lula foi “ousado” quando o nomeou para o STF. O ex-ministro referia-se à expectativa para que o presidente nomeasse mais um negro à Corte, o que não ocorreu.

    Na mesma entrevista, elogiou que Lula vinha colocando em prática, a chamada “diplomacia presidencial”. 

    Mas não para por aí: questionado sobre as dificuldades de Lula com o Legislativo (na época pouco mais de quatro meses da posse), Barbosa respondeu que “presidencialismo é isso mesmo, um sistema de múltiplos terrenos de negociação” e emendou que, embora minoritário, Lula poderia governar. A receita? Eis suas palavras:

    “Basta que o presidente exerça a liderança e seus negociadores tenham boa interlocução”.

    Daquelas frases que envelhecem mal...

    domingo, 23 de junho de 2024

    O homem que assinou o real: Rubens Ricupero - Bernardo Mello Franco (O Globo)


    O homem que assinou o real (Rubens Ricupero)

    Bernardo Mello Franco 


    O Globo, 23/06/2024


    Em memórias, ex-ministro da Fazenda relembra a relação com Itamar, o escândalo da parabólica e a tensão antes do lançamento da moeda


    Às vésperas do lançamento do real, o presidente Itamar Franco mandou chamar o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero. Tinha uma notícia inesperada: contrariando o combinado, ia decretar um congelamento dos preços.

    Surpreso, o embaixador usou a diplomacia para tentar desarmar a bomba. Com cuidado para não melindrar o chefe, lembrou que o tabelamento já havia levado à derrocada de outros planos econômicos, como o Cruzado.

    “Minhas razões não bastaram. Ele não se sentia seguro”, lembra Ricupero, 30 anos depois. Ao fim da conversa, o presidente devolveu o problema: “Não estou convencido. A responsabilidade é do senhor”. O ministro manteve a palavra com sua equipe, salvando a nova moeda da morte prematura.

    A primeira fase do plano já estava na rua, com a unidade real de valor (URV), quando Fernando Henrique Cardoso deixou o governo para disputar a eleição. Itamar ofereceu a Fazenda a Ricupero, que comandava o Ministério do Meio Ambiente.

    “Não sou dessa área. Por que o senhor não escolhe alguém da equipe, como o Edmar Bacha ou o Pedro Malan?”, perguntou o diplomata. “Já examinamos todas as alternativas e o senhor é a única opção”, respondeu o presidente. O convite levaria Ricupero a assinar seu nome nas primeiras cédulas do real, que começaram a circular em 1º de julho de 1994.

    No recém-lançado “Memórias”, o ex-ministro narra a tensão que antecedeu a vitória sobre a hiperinflação: “A rotina diária de estendia da manhã até tarde da noite, num desfile exaustivo de governadores, ministros, prefeitos, empresários, todos com pedidos impossíveis ou propostas inexequíveis”.

    “Tive que aprender a dizer não de infinitas maneiras. Por sorte, quase não houve ocasiões em que tentaram me envolver em esquemas ilegais ou suspeitos”, anota. Foi o caso de um político que tentou se apossar da aduana em Guarulhos. O livro não dá nome ao “influente deputado”, que ficou sem o cargo. Era Valdemar Costa Neto, o eterno chefão do PL.

    Ricupero narra bastidores saborosos da convivência com Itamar, a quem atribui “incontáveis tentativas de interferência na condução do plano econômico”. “Quase sempre inspiradas por ideias populistas, nunca mal-intencionadas”, ressalva.

    O ex-ministro faz um relato franco do escândalo da parabólica, que levaria à sua queda. Em conversa informal com o jornalista Carlos Monforte, antes de uma entrevista à TV Globo, ele afirmou: “Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”.

    Sem que os dois soubessem, o diálogo era assistido por milhares de telespectadores. “Hoje não consigo entender o que me levou a dizer tanta coisa absurda e sem sentido”, penitencia-se Ricupero. Aos 87 anos, ele culpa o cansaço e a vaidade inflada pelo poder. “Gostaria de apagar de minha vida aqueles 19 minutos, mas nunca atribuí a ninguém a responsabilidade do que sucedeu, senão a mim mesmo”. Passada a crise, FH virou presidente, e o embaixador retomou a carreira em Roma.

    A autobiografia não se resume à participação no real. Logo na abertura, Ricupero reconstitui a partida do avô italiano rumo ao Brasil, em 1895. Pietro Jovine trocou família e amigos pelo sonho de prosperar em São Paulo. Deu tudo errado. Empregado como carpinteiro, ele sofreu um acidente de trabalho e ficou inválido. “Não tem final feliz”, escreve o ex-ministro. “Seu destino foi igual ao da maioria dos imigrantes: pobre chegou e pobre morreu”.

    domingo, 2 de junho de 2024

    Itamaraty nega engajamento do país em conflito após ucraniano apontar alinhamento com Rússia - Eliane Oliveira (O Globo); O Antagonista

    Sobre a afirmação do assessor presidencial dizendo que "respeita o sofrimento do povo ucraniano". Trata-se de uma zombaria e de uma ofensa

    Paulo Roberto de Almeida

    Brasília, 2 de junho de 2024

    A afirmação do assessor internacional é estranha, começando pelo fato dele dizer, em nome do Brasil, que "respeitamos o sofrimento do povo ucraniano."

    Respeitar sofrimento é uma forma de diminuir a importância do verdadeiro morticínio a que vem sendo submetido aquele povo sob mísseis e bombardeios diários (e noturnos) sobre alvos civis, justamente para causar o maior número de mortos. São incontáveis, milhares os crimes de guerra, contra a paz e contra a humanidade perpetradas pelas forças russas na Ucrânia.

    A afirmação seguinte é ainda mais desprovida de sentido e de qualquer conexão com a realidade, ao mencionar que é preciso "levarmos em consideração as preocupações das partes, o que pressupõe diálogo entre elas". Uma frase velha, equivocada e deliberadamente enganosa, como se houvesse, antes e agora qualquer ameaça à segurança da Rússia vinda da Ucrânia ou mesmo da OTAN, que não tem a Ucrânia entre seus membros. A Rússia NUNCA pretendeu diálogo: invadiu sem sequer um ultimatum, que costuma ser uma prévia a uma declaração de guerra, segundo as leis da guerra, que a Rússia nunca respeitou e desrespeita continuamente. 

    O Brasil está sim alinhado com a Rússia e não é apenas por razões comerciais ou econômicas, como afirmou Zelensky (o que não deveria ter feito), mas que não deixa de ser uma verdade, mas apenas meia verdade, e talvez 1/4 de verdade. Independentemente de qualquer comércio, antes e depois da guerra de agressão – e cabe ressaltar que Lula aumentou em mais de 200% a importação de combustíveis russos para o Brasil, o que não deixa de ser uma forma de alimentar a máquina de guerra de Putin –, vamos convir que Lula e o lulopetismo já estavam predispostos a apoiar Putin EM QUALQUER CIRCUNSTÂNCIA, dada a aproximação e a verdadeira aliança politica-ideológica com o regime russo, no seu empreendimento de se opor ao "hegemonismo americano" no mundo e de construir uma "nova ordem global", como Lula, o próprio Putin e Xi Jin Ping já proclamaram várias vezes.

    Considero a postura de Lula, do PT, do governo brasileiro e do Itamaraty (por submisso) indigna das tradições diplomáticas brasileiras, de respeito (sim) e de defesa ativa do Direito Internacional, da solução pacífica das controvérsias (como reza a Constituição) e de real neutralidade nos conflitos interimperiais. Mas não é disso que se trata e sim de uma agressão ilegal e criminosa contra um país soberano, com o qual mantemos relações diplomáticas, mas que não mereceu até aqui qualquer sombra de apoio na sua luta dificílima contra uma superpotência agressora e criminosa.

    Lula e a sua diplomacia petista envergonham o Brasil e os brasileiros, a mim particularmente.

    Paulo Roberto de Almeida

    Brasília, 2 de junho de 2024


    Ministério nega engajamento do país em conflito após ucraniano apontar alinhamento com Rússia
    ELIANE OLIVEIRA
    BRASÍLIA
    O Globo, 1/06/2024

    Em resposta às declarações do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que acusou o Brasil de se aliar à Rússia por razões comerciais, o Itamaraty negou ontem que o governo brasileiro tenha tomado partido na guerra entre os dois países. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, não há e jamais houve engajamento brasileiro no conflito.

    Por sua vez, o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, disse que o Brasil "respeita o sofrimento dos ucranianos".

    - Respeitamos o sofrimento do povo ucraniano. Queremos contribuir para uma paz alcançável. Isso só será possível se levarmos em consideração as preocupações das partes, o que pressupõe diálogo entre elas, preferencialmente com apoio de países que gozem de confiança de ambos - declarou.

    Em entrevista a um grupo de jornais latino-americanos na quinta-feira, da qual O GLOBO fez parte, Zelensky insinuou que o Brasil se aliou à Rússia por razões comerciais.

    - A economia é importante até que chega uma guerra, e quando a guerra chega os valores mudam - disse.


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    Zelensky critica Lula por "priorizar aliança" com Putin
    Redação O Antagonista, 31/05/2024

    Em entrevista a jornalistas latino-americanos, Zelensky ressaltou o clima de perplexidade que existe na Ucrânia em relação ao Brasil

    O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, voltou a criticar Lula (PT) por "priorizar a aliança com um agressor", referindo-se à Rússia, do ditador Vladimir Putin.

    Em entrevista a jornalistas latino-americanos em Kiev, publicada por O Globo, o chefe de Estado ucraniano expressou desejos de cooperação com países da região como Argentina, Chile, Colômbia, Peru e El Salvador, mas ressaltou o clima de perplexidade que existe na Ucrânia em relação ao Brasil.

    "O Brasil deve estar do nosso lado e dar um ultimato ao agressor [a Rússia] por que temos de voltar a repetir estas coisas? Pela memória histórica, por temas econômicos? A economia é importante até que chega uma guerra, e quando a guerra chega os valores mudam. Pesam mais as crianças, a família, a vida, só depois está o comércio com a Federação Russa", afirmou.

    "Acho que uma aliança do Brasil com os países da América Latina é muito mais potente do que apenas com a Rússia. E seria justo que nos dessem esse apoio. Não tive uma declaração conjunta com o presidente Lula, ou entre Ucrânia e Brasil por que é assim, se nós somos os atacados?", questionou.

    A visita de Amorim, do Itamaraty paralelo, a Pequim

    Segundo o jornal, a recente declaração conjunta de Brasil e China, dada durante a visita de Celso Amorim a Pequim, na qual os dois países defenderam que Moscou participe da conferência que será realizada em junho, na Suíça, sobre a invasão russa à Ucrânia, apenas reforçou a convicção de Zelensky e dos diplomatas ucranianos de que Lula está do lado de Putin.

    "Não entendo. Por que não confirmar [a participação dos presidentes no encontro]? A última sinalização é de que Brasil e China estariam dispostos a participar se a Rússia participar. Mas a Rússia nos atacou. Por acaso o Brasil está mais próximo da Rússia do que da Ucrânia? A Rússia é hoje um país terrorista", disse Zelensky.

    "Estamos esperando os líderes de todos os países do mundo que querem terminar com esta guerra, mas não nas condições e com os ultimatos russos", acrescentou o presidente ucraniano, que acusa a Rússia de ter bloqueado todas as tentativas de negociações realizadas.

    As consequências da queda da Ucrânia

    Para Zelensky, falta ao governo Lula "prever as consequências de uma [eventual] queda da Ucrânia".

    "Isso faria com que existisse uma alta probabilidade de que países pequenos possam ser suprimidos por países grandes", afirmou.

    segunda-feira, 27 de maio de 2024

    Estatais ainda custam caro ao contribuinte (O Globo)

     Estatais ainda custam caro ao contribuinte

    O Globo, 27/05/2024

    Entre 2016 e 2022, apesar de avanços nos números, Tesouro gastou mais de R$ 150 bilhões para sustentá-las

    Quando se fala em estatais, pensa-se logo em PetrobrasBanco do BrasilCorreios ou Caixa. Mas o universo das empresas públicas no Brasil é mais amplo e diversificado. Ainda há estatais destinadas a fabricar chips ou hemoderivados, a aeroportos, trens urbanos ou telecomunicações, a abastecimento, pesquisa agrícola ou desenvolvimento regional. Sobretudo num momento de crise fiscal, em que o governo resiste por razões ideológicas a qualquer privatização, é importante avaliar se ao menos elas têm sido bem geridas. A conclusão é que, do final do governo Dilma Rousseff até a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, houve avanços.

    O Ministério da Gestão e da Inovação mantém dados históricos de 88 estatais, tanto aquelas que dependem do Tesouro quanto as que, em teoria, se sustentam. Entre 2016 e 2022 — governos Michel Temer e Jair Bolsonaro —, o programa de desestatização e saneamento das finanças obteve resultados mensuráveis. Em valores correntes, atualizados pelo IPCA, o ativo total das empresas caiu 13,2%, de R$ 7,1 trilhões para R$ 6,1 trilhões. O endividamento diminuiu mais da metade, de R$ 661,7 bilhões para R$ 324,8 bilhões. E o resultado financeiro subiu de R$ 6,6 bilhões para R$ 304,4 bilhões.

    Mas isso não significa que as estatais tenham deixado de custar ao contribuinte. As subvenções que o Tesouro distribui para evitar que várias quebrem somaram, de 2016 a 2022, R$ 151,5 bilhões. No período, o dispêndio anual aumentou 24,2% em termos reais.

    Há casos em que o apoio do Estado pode ser justificado com base nos benefícios sociais ou econômicos. Entre eles, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), administradora de mais de 40 hospitais universitários ligados ao SUS. Ou a Embrapa, laboratório de pesquisa e desenvolvimento responsável pelo impressionante avanço da agricultura e da pecuária no país nas últimas décadas.

    O mesmo não se pode dizer da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), cria da sucateada Rede Ferroviária Federal que recebe mais de R$ 1 bilhão anuais dos cofres públicos (em 2022, foi R$ 1,6 bilhão, 33% a mais que em 2021). Tal peso sobre o contribuinte é mais uma prova da necessidade de novas concessões ferroviárias.

    Também é insensato manter o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), resultado de um desvario nacional-desenvolvimentista que imaginou uma estatal para competir no mercado de semicondutores. Criada em 2008, segundo governo Lula, a empresa estava para ser liquidada na gestão Bolsonaro, mas foi resgatada na volta do PT ao Planalto. Sem relevância, sobrevive de repasses milionários (foram R$ 40 milhões só em 2022, ano em que deveria ter sido vendida).

    Outra prova da dificuldade de fechar estatais inúteis no Brasil é a longa sobrevida da Valec, subsidiária da já privatizada Vale mantida por subvenções. Em 2022, foram R$ 154,8 milhões, 15% acima de 2021. Outra que demonstra resistência a desaparecer é a Telebras. Privatizadas as empresas de telecomunicações nos anos 1990, ela continua a existir e, apenas de 2020 a 2022, recebeu cerca de R$ 740 milhões em auxílio do Tesouro.

    No universo dessas 88 estatais, sempre vale repetir, gasta-se muito dinheiro que faz falta na saúde, na educação, na segurança pública ou na prevenção de catástrofes ambientais.

    quarta-feira, 1 de maio de 2024

    Suíça convida Brasil para reunião pela paz na Ucrânia; governo Lula só participa se Rússia comparecer - Camila Bomfim O Globo

    Suíça convida Brasil para reunião pela paz na Ucrânia; governo Lula só participa se Rússia comparecer
    G1 - Globo | Mundo
    30 de abril de 2024

     Camila Bomfim


    A Suíça fez chegar ao Planalto o interesse de contar com a presença do presidente Lula (PT) na cúpula de alto nível que vai debater a paz entre Rússia e Ucrânia, informou o Itamaraty.

    A conferência acontecerá entre os dias 15 e 16 de junho, nos arredores da cidade de Lucerna (Suíça), e deve contar com a participação de chefes de Estado, entre eles o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Mais de 100 países estão sendo convidados para o evento.

    A intenção da Suíça de contar com o Brasil foi manifestada durante agenda do chanceler Mauro Vieira na Suíça, que sediará o evento.

    Em um primeiro contato, antes do convite oficial, o Brasil chegou a indicar que só aceita participar do debate com a presença da Rússia, o que não deve ocorrer. O Kremlim já deixou claro que não quer participar da iniciativa, já que considera o evento um projeto dos "democratas americanos".

    Desde janeiro, a Suíça tem debatido a organização de uma conferência para debater a criação de uma estrutura que favoreça o debate sobre a paz na Ucrânia, com a participação da Rússia no debate.

    O evento foi um pedido do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que discute o evento com a União Europeia, os membros do G7 e países como China e Índia, que tentam convencer os russos.

    O Brasil entende que os russos devem participar de qualquer iniciativa internacional que debata a paz e passe por uma negociação com Kiev.

    Na avaliação da diplomacia brasileira, não é possível debater o conflito entre dois atores sem a participação de um deles.

    Moscou afirma que não é contra as negociações pela paz, mas também diz que não participará dos debates na Suíça porque acredita que o país abandonou a neutralidade em relação à guerra.

    Historicamente neutra, a Suíça já agiu como mediadora de outros conflitos no passado e agora pretende buscar uma resolução para esta guerra, que já dura mais de dois anos.

    Celso Amorim em Moscou

    Na semana passada, o assessor especial da presidência da República, Celso Amorim, viajou à Rússia para participar semana de uma conferência internacional sobre segurança, promovida pelo Kremlin.

    Em Moscou, Amorim realizou uma série de reuniões bilaterais. Entre os encontros de Amorim estavam agendas com o chanceler da Rússia, Sergey Lavrov, e com o Secretário do Conselho de Segurança Russo, Nikolai Patrushev.

    Segundo fontes da diplomacia brasileira, os encontros trataram, sobretudo, sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia.

    "A conversa aconteceu porque se busca a possibilidade de construção de uma paz possível", contou um representante do Planalto.

    Durante o evento sobre segurança, Celso Amorim também discutiu outros temas da agenda internacional, como a interação entre os países na ONU e no BRICS. Além de ter feito críticas ao uso da Inteligência Artificial nos ataques israelenses à Faixa de Gaza e a alianças militares entre países, no mundo atual.

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    Suíça abandonou a neutralidade. Na visão da diplomacia brasileira, é essencial que ambos os lados envolvidos estejam presentes nas discussões para que ...
    ... diplomacia brasileira sinalizou que Brasília só aceita participar do debate com a presença da Rússia. ... diplomacia de ambos os Estados, não é possível ...

    Na visão da diplomacia brasileira, é essencial que ambos os lados envolvidos estejam presentes nas discussões para que se possa avançar rumo a uma ...

    DIPLOMACIA BRASILEIRA. Governo Lula produz parecer que embasa possível ... E a proposta brasileira não me parece beneficiar o caso russo", diz ele.