Sobre meu novo livro, The New Economic Nationalism. A pintura que ilustra esse artigo é de minha autoria.
Ontem, 16 de abril de 2025, foi o lançamento do meu mais novo livro “The New Economic Nationalism”, editado pelo Peterson Institute for International Economics e distribuído pela Columbia University Press. O livro está disponível no site do PIIE e na Amazon, também em formato digital para quem gosta desse tipo de leitura. Não há tradução.
Apesar do “timing” fortuito, o livro não é uma resposta aos acontecimentos recentes, às novas modalidades de nacionalismo, ou aos rompantes protecionistas que dominam o noticiário. Foram oito anos de extensa pesquisa histórica para escrever esse livro, cuja análise é construída a partir da apresentação de diferentes estudos de caso ao longo de mais um século. Da industrialização dos EUA, da Alemanha, e do Japão no Século 19, passando pela Alemanha Nazista, pela Itália de Mussolini, pela reconstrução do pós-guerra, chegando ao Século 21, a obra identifica as principais características das políticas nacionalistas adotadas por vários países. A partir de uma metodologia desenvolvida para avaliar a intensidade do nacionalismo econômico nos casos apresentados, o livro apresenta regularidades e padrões que se repetem apesar das diferentes épocas e contextos.
Eis algumas das conclusões:
O nacionalismo econômico, sempre marcado pelo uso intenso de políticas industriais e protecionismo, é algo que se manifesta em ondas. Ainda que existam casos isolados, na prática o uso de políticas nacionalistas está invariavelmente associado a uma espécie de zeitgeist, de “sabor dos tempos". Não é diferente agora.
Há muitas motivações para o uso de políticas nacionalistas, mas é possível reduzi-las a dois impulsos fundamentais: a busca pelo desenvolvimento a partir da industrialização/reindustrialização, de um lado; o desejo de se sobrepôr a outros países norteado por uma visão de mundo que reduz a nuance de inevitáveis conflitos entre países ao antagonismo combativo, de outro.
As modalidades mais recentes do nacionalismo econômico exibem ambas características, sobretudo quando avaliadas à luz do passado. No nacionalismo atual, o antagonismo combativo é inegável, o que intensifica a agressividade das políticas adotadas, sobretudo no âmbito do comércio internacional.
No Século 21, o nacionalismo econômico é marcado por uma acentuada repulsa à qualquer iniciativa de cooperação global — da rejeição aos acordos de livre comércio ao intenso desconforto e desconfiança em relação a tratados e instituições multilaterais, vistos como um obstáculo à perseguição de interesses nacionais. Desse modo, o nacionalismo econômico hoje transcende a esfera puramente econômica, resvalando para a saúde pública, para as políticas de transição e adaptação climáticas, e quaisquer outras iniciativas que requeiram coordenação entre países.
Modalidades nacionalistas que somam ao desejo de desenvolvimento o antagonismo em relação a outros países e a visões de mundo distintas estão invariavelmente associadas a países com viés autoritário.
Quanto mais agressivas e longevas as políticas nacionalistas, maior o custo econômico futuro. O custo econômico se apresenta na forma de baixa produtividade, baixo crescimento, aumento do desemprego, aumento da desigualdade e da pobreza, entre outros males.
O livro, portanto, ajuda a compreender o presente a partir de experiências passadas, ainda que não tenha sido esse o seu objetivo final. Das conclusões elencadas, a mais importante é a terceira, isto é, a de que o nacionalismo econômico contemporâneo não está circunscrito à economia. É essa a grande “novidade” do “novo” nacionalismo econômico: a brutal rejeição àquela que foi a maior conquista do pós-guerra, os mecanismos de coordenação e cooperação entre países. Essa característica torna a atual onda nacionalista especialmente ominosa e desconcertante. Seus defensores atacam não somente as ideias e estruturas que sustentaram o sistema econômico mundial até aqui, mas toda a rede institucional global responsável pelo enfrentamento dos maiores problemas existenciais da Humanidade: a crise climática, as ameaças à saúde pública, a insegurança alimentar.
Visto desse modo, o nacionalismo econômico — contemporâneo e pregresso — não é redutível a uma agenda de “esquerda” ou de “direita”. Tal simplificação ignora a força psicológica que o retrocesso exerce sobre nós quando somos confrontados com a realidade de que temos controle sobre muito pouco, ou quase nada. Ou seja, o nacionalismo econômico é estrutural. As ondas, inevitáveis.