O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Meus livros podem ser vistos nas páginas da Amazon. Outras opiniões rápidas podem ser encontradas no Facebook ou no Threads. Grande parte de meus ensaios e artigos, inclusive livros inteiros, estão disponíveis em Academia.edu: https://unb.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida

Site pessoal: www.pralmeida.net.
Mostrando postagens com marcador Palestina. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Palestina. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

PALESTINA: A TRAGÉDIA SEM FIM... - Fausto Godoy (FB)

PALESTINA: A TRAGÉDIA SEM FIM...

Fausto Godoy (FB)

O papo é longo...como o sofrimento na Faixa de Gaza...

Num texto que publiquei na minha página do Facebook, em 17/10/23 , intitulado “A Tragédia Palestina”, eu dizia que “do momento em que centenas de militantes do Hamas lançaram um ataque ao território sul de Israel, no dia 7 de outubro, resultando na morte de pelo menos 1.200 pessoas e no sequestro de dezenas de reféns abriu-se um capítulo trágico na História da região bíblica da Palestina. Desde o início da guerra, a ofensiva israelense já deixou mais de 60 mil mortos, segundo dados do ministério da Saúde de Gaza. 

Fica difícil para os que estamos fisicamente longe do conflito separar o “joio do trigo”, ou seja, encontrar as razões que nos ajudem a minimamente entender (?...) o que está ocorrendo naquela região”...  Neste cenário nebuloso, e diante das opiniões divididas, o que importa é não somente a libertação dos reféns israelenses, mas o destino dos 2,2 milhões de indivíduos que habitam a faixa de Gaza... Ou seja, a humanidade está diante do dilema VIDAS X DISPUTAS POLÍTICAS... ou GENTE X IDEOLOGIA...” 

Em 22 meses de guerra, o Exército israelense tomou quase 75% da Faixa de Gaza, e nos últimos dias, intensificou os ataques aéreos e operações terrestres na Cidade de Gaza e nos campos de deslocados próximos, que considera os últimos redutos do Hamas. Estamos, portanto, na iminência da sucumbência de um ESTADO...Replicando o NYT, o Estadão de hoje noticia que “Israel convocou ontem 60 mil reservistas para ocupar a cidade de Gaza, ignorando críticas e desafiando o crescente apoio à criação da Palestina. O governo do premiê Binyamin Netanyahu também aprovou a construção de 3,4 mil casas na Cisjordânia, uma manobra que praticamente inviabiliza a criação de um Estado palestino”... Isto malgrado a condenação da maioria dos governos estrangeiros. Incidentalmente, cabe relembrar que 144 dos 193 Estados-membros da ONU reconhecem o Estado palestino. Ainda a propósito, as relações de governo entre o Brasil e a Palestina datam de 1975, e temos uma representação diplomática no território...

Entretanto, fatos são fatos, e a sua percepção é outro “departamento”...se os alemães tivessem ganhado a II Guerra Mundial, leríamos a História de outra maneira...

Vamos, pois, recapitulá-la, da maneira mais fidedigna...


Estamos nos referindo à Canaã bíblica, que os judeus tradicionalistas preferem chamar de Sion. A região foi conquistada pelos hebreus por volta de 1.200 AEC, quando, guiados por Moisés, se retiraram do Egito, onde viveram por alguns séculos. Entretanto, sucessivas dominações estrangeiras, iniciadas com a tomada de Jerusalém (587 AEC) por Nabucodonosor, rei da Babilônia, deram início a um processo de diáspora da população. Os segundos ocupantes foram os romanos. As duas rebeliões dos judeus contra este domínio, em 66-70 e 133/135 AEC, tiveram resultados desastrosos. Ao debelar a primeira revolta, as tropas do general Tito - posteriormente Imperador - tomaram Jerusalém, em setembro de 70 EC. O templo construído por Salomão, em 970 AEC, e reconstruído por Herodes em 19 AEC, símbolo e centro do poder religioso e político dos judeus, foi incendiado e os habitantes deportados como escravos. Dele restou apenas o Muro das Lamentações. Por sua vez, o imperador Adriano, ao sufocar a segunda rebelião, intensificou a diáspora e proibiu os judeus de viverem em Jerusalém. A partir de então, eles se espalharam pelo Império Romano, para a Mesopotâmia e outras regiões do Oriente Médio, fora do poder de Roma. 

Em 638 EC a região foi conquistada pelos árabes, no contexto da expansão do islamismo, e passou a fazer parte do mundo muçulmano. Após várias disputas hegemônicas, de 1517 a 1918 a Palestina passou a integrar o Império turco-otomano. Entretanto, no início do século XX já existiam na região pequenas comunidades israelitas vivendo em meio à população predominantemente árabe. A partir de então, novos núcleos começaram a se instalar ali, geralmente mediante compra de terras aos árabes palestinos. A criação do Estado de Israel é uma verdadeira epopeia!

Após a I Guerra Mundial, com a derrota dos turcos, que haviam lutado ao lado da Alemanha, a Palestina passou a ser administrada pela Grã-Bretanha por mandato outorgado pela Liga das Nações. Foi quando se intensificou a imigração de judeus para a região, gerando inquietação no seio da população árabe majoritária. A crescente hostilidade levou os colonos judeus a criarem uma organização paramilitar – a “Haganah” – a princípio voltada para a autodefesa, e mais tarde também para operações de ataque contra os árabes.

Entrementes, em 1896, o escritor austríaco de origem judaica Theodor Herzl fundava o “Movimento Sionista”, que pregava a criação de um Estado judeu na antiga pátria dos hebreus. Este projeto teve ampla ressonância junto à comunidade judaica internacional. Foi neste contexto que em novembro de 1917, em plena I Guerra Mundial, o governo britânico emitiu uma declaração, registrada pela História como “Declaração Balfour” anunciando seu apoio ao estabelecimento de um "lar nacional para o povo judeu" na Palestina, então uma região otomana com uma população judaica bastante reduzida.

Apesar do conteúdo da declaração favorável à criação de um Estado judeu, a Grã-Bretanha tentou frear o movimento imigratório para não descontentar os países muçulmanos do Oriente Médio, com o quais mantinha proveitosas relações econômicas. Entretanto, viu-se confrontada pela pressão mundial da comunidade israelita e dentro da própria Palestina, pela ação de organizações terroristas. Após a Segunda Guerra Mundial, o fluxo de imigrantes judeus tornou-se irresistível. Em 1947, a Assembleia-Geral da ONU decidiu dividir a Palestina em dois Estados independentes: um judeu e outro palestino. Mas tanto os palestinos como os Estados árabes vizinhos recusaram-se a acatar a partilha proposta pela ONU.

Em 14 de maio de 1948, foi proclamado o Estado de Israel, que se viu imediatamente atacado pelo Egito, Arábia Saudita, Jordânia, Iraque, Síria e Líbano. Esta foi a 1ª Guerra Árabe-Israelense. Os árabes foram derrotados, e Israel passou a controlar 75% do território palestino. Os 25% restantes, correspondentes à Faixa de Gaza e à Cisjordânia, ficaram sob ocupação respectivamente do Egito e da Jordânia. Cabe notar que a Cisjordânia incluía a parte oriental de Jerusalém, onde fica a Cidade Velha, de grande importância histórica e religiosa. Como territórios palestinos restaram a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. A partir daí, iniciou-se o êxodo dos palestinos para os países vizinhos. Atualmente, esses refugiados somam cerca de 3 milhões.

Para arregimentar a população palestina na defesa dos seus territórios ancestrais, em 1964 foi criada a “Organização para a Libertação da Palestina” (OLP), cuja pretensão inicial era destruir Israel e criar um Estado Árabe Palestino. Utilizando de inicio táticas terroristas, mas sofrendo pesadas retaliações israelenses, a OLP não alcançou seu objetivo e, com o decorrer do tempo, passou a admitir implicitamente a existência de Israel.

Paralelamente, nas décadas de 1950 e 1960, estava em ascensão o nacionalismo árabe, liderado pelo presidente do Egito, e posterior presidente da República Árabe Unida (RAU), Gamal Abdel Nasser. Ele era apoiado vários chefes de Estado árabes, sobretudo os que integravam a “Liga Árabe”. Na “Segunda Conferência do Cairo”, de 1964, esses países deixaram claro, por meio de uma declaração, que um dos seus objetivos principais era “a destruição do Estado de Israel”. A situação piorou quando Síria e Jordânia passaram a dar apoio a grupos guerrilheiros da OLP e a movimentar tropas regulares nas fronteiras com Israel. 

Diante desta ameaça, em maio de 1967, os israelenses, de forma preventiva, ocuparam fulminantemente a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, e tomaram a Península do Sinai ao Egito, bem como as Colinas de Golan à Síria. A História registrou este momento como a “Guerra dos Seis Dias”. Outros confrontos aconteceram posteriormente, porém os israelenses conservaram em seu poder os territórios ocupados em 1967. Em 1977, pela primeira vez, desde a fundação do Estado de Israel, uma coalizão conservadora - o bloco Likud - obteve maioria parlamentar. O novo primeiro-ministro, Menachem Begin, iniciou o assentamento de colonos judeus nos territórios ocupados em 1967. 

Em 17 de setembro de 1978, o Presidente do Egito, Anwar Sadat e o Primeiro-Ministro Begin firmaram os "Acordos de Camp David", que foram negociados secretamente, intermediados pelo Presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter. Por eles, o Egito tornou-se o primeiro país árabe a reconhecer o Estado de Israel, o qual, em contrapartida, devolveu-lhe a Península do Sinai, cláusula esta que foi cumprida em 1979. Por eles, Sadat e Arafat receberam conjuntamente o "Prêmio Nobel da Paz", em 1978. Mas, em revanche, em 1981 militares egípcios, contrários aos acordos e à paz, assassinaram Sadat.

Na busca de se livrar das ações da OLP, em 1982 Israel invadiu o Líbano, então em plena guerra civil entre cristãos e muçulmanos, e conseguiu expulsar a organização do território libanês. Em resposta, foi criado o grupo Hezbollah (“Partido de Deus”), organização xiita libanesa apoiada pelo governo islâmico fundamentalista do Irã. Em 1987, palestinos que se opunham à ocupação israelense promoveram, na faixa de Gaza uma  “Intifada”. Basicamente, a Intifada consiste em manifestações diárias da população civil que arremessa pedras contra os soldados israelenses. 

Em 1993, com a mediação do presidente norte-americano Bill Clinton, Yasser Arafat, líder da OLP, e Yitzhak Rabin, Primeiro-Ministro de Israel, firmaram em Washington um acordo prevendo a criação de uma Autoridade Nacional Palestina, com autonomia administrativa e policial em alguns pontos do território palestino, o que a História registrou como os "Acordos de Oslo". Estava prevista, também, a progressiva retirada das forças israelenses de Gaza e da Cisjordânia. Em troca, a OLP reconhecia o direito de Israel à existência e renunciava formalmente ao terrorismo. Mas duas organizações extremistas palestinas - Hamas e Jihad Islâmica – opuseram-se aos termos do acordo, da mesma forma que os judeus ultranacionalistas. Em 1994, a Jordânia tornou-se o segundo país árabe a assinar um tratado de paz com os israelenses.

Estes esforços foram crescentemente dilapidados quando, em 1996 foi eleito primeiro-ministro de Israel Binyamin Netanyahu, do Partido Likud, que paralisou a retirada das tropas de ocupação dos territórios palestinos e intensificou os assentamentos de colonos judeus em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, em meio à população predominantemente árabe. O processo de pacificação da região entrou, então, em compasso de espera, ao tempo em que recrudesceram os atentados terroristas palestinos, como o que ocorreu em 7 de outubro do ano passado. As controvertidas políticas que o grupo de extrema direita de Netanyahu e a ala radical de seu partido, vêm promovendo ao incentivar a expansão das colônias judaicas na Cisjordânia, causaram um profundo revés aos acordos previamente firmados e são a mola motora dos atentados... 

A situação é ainda pior na faixa de Gaza, uma extensão de território de apenas 41 quilômetros de comprimento e de 6 a 12 quilômetros de largura, com uma área total de 365 km2. A título de exemplo, a área urbana da cidade de São Paulo é de 949,611 km². Este espaço exíguo abriga cerca de 2,2 milhões de pessoas; ou seja, é praticamente impossível de se viver ali, porque, ademais, Israel controla grande parte da infraestrura do enclave, como a eletricidade e o fornecimento de água. Disto sou testemunha ocular... Quando servia em Aman, em 2012, tive a “nefasta” ideia de passar as férias de Natal em Jerusalém, o que muitos considerariam de grande significado. Pois, entusiasmado, lá fui eu... e não só fiquei muito impactado com o nível da agressividade da segurança imposta pelas tropas israelenses em cada recanto da cidade sagrada para as três grandes religiões monoteístas, senão também, a caminho de Belém, na véspera de Natal, cruzando o território palestino, no qual Belém se situa, pude avaliar as dificuldades que enfrenta uma população, sobretudo os mais jovens, confinada num país – chamemo-lo assim – em que se pode quase ver num só golpe de vista o muro inacessível da fronteira leste e o mar a oeste, ambos patrulhados pelos israelenses!!!! 

A pergunta que me ficou na alma é: qual é o limite da tolerância humana de suportar tais condições antes que o desespero leve – sobretudo os jovens sem futuro – a atitudes radicais e tresloucadas? Nada justifica, é claro, o que está acontecendo, assim como nada tampouco justifica as suas causas....

Trágico...Meninos, eu vi.

sábado, 28 de junho de 2025

Senhor Deus dos desgraçados ( mas isto não é um poema) - Paulo Roberto de Almeida

Senhor Deus dos desgraçados

(mas isto não é um poema):

Paulo Roberto de Almeida 

Aviso aos navegantes, de direita e de esquerda, semitas e antissemitas, sionistas e antissionistas (e já vou avisando que eu não sou nem uma coisa, nem outra, muito pelo contrário, pois não tenho partido, nem religião, sequer um timezinho de futebol):

Os maiores inimigos de Israel, do povo judeu, da ideia mobilizadora do sionismo e daquele velho ideal da “única democracia” no Oriente Médio são a clique fascista e genocidária atualmente instalada no poder em Israel e seus auxiliares, que conduzem um morticínio sistemático contra o povo palestino, a pretexto de combater um movimento terrorista fascista e genocidário, e que estão se igualando a outros grandes, talvez os maiores, criminosos de guerra da história recente da humanidade (digamos nas últimas nove décadas).

Estou desistindo de ver noticiário na TV (e vejo quase todos os canais nacionais e várias internacionais (em inglês, francês, italiano, espanhol, lusitano etc., além de rádios e ferramentas de comunicações sociais) porque não suporto mais ver, todos os dias, dezenas de mortos, civis, desarmados, na fila da farinha (nem é comida de verdade), mulheres, crianças, velhos, todo mundo.

Alguém aguenta ver?

Tem alguma justificativa?

Quem pode ficar indiferente a essas imagens ou relatos?

Tem alguém com alma de Castro Alves para compor um novo poema do morticínio absoluto e irrestrito?

Por que tanto horror perante os céus?

Qual é a ideia que sustenta o genocídio? A impossibilidade de limpar o terreno para construir um balneário, um resort de luxo?

A ONU está muito distante e a clique dos criminosos de guerra, Netanyahu e snypers, muito perto?

O que dirão, vários anos à frente, os filhos e netos de judeus e palestinos aos seus antecessores que sobreviveram à tragédia? Vocês não fizeram nada? Assistiram a tudo aquilo absolutamente impassíveis?

Não posso crer e também não posso fazer nada, além de me comover e desejar não saber mais dessas coisas.

Só tenho este minúsculo espaço para expressar minha inconformidade. É pouco, muito pouco…

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 28/06/2025


sábado, 24 de fevereiro de 2024

O governo Netanyahu é um GOVERNO GENOCIDA - Pronunciamento do secretário-geral de MSF, Christopher Lockyear, ao Conselho de Segurança da ONU

Pronunciamento do secretário-geral de MSF, Christopher Lockyear, ao Conselho de Segurança da ONU


NY, 22 de fevereiro de 2024

Senhora presidente, excelências, colegas,

No momento em que pronuncio estas palavras, mais de 1,5 milhão de pessoas estão encurraladas em Rafah. Pessoas que foram violentamente forçadas a irem para esta faixa de terra no sul de Gaza estão arcando com as consequências da campanha militar de Israel.

Vivemos sob o medo de uma invasão terrestre.

Nossos temores são baseados na nossa própria experiência. Há apenas 48 horas, quando uma família estava ao redor de uma mesa de cozinha em uma casa que abrigava funcionários de MSF e suas famílias em Khan Younis, um projétil de 120mm disparado por um tanque rompeu as paredes do local e explodiu, iniciando um incêndio, matando duas pessoas e deixando outras seis com queimaduras severas. Cinco dos seis feridos são mulheres e crianças.

Havíamos tomado todas as precauções possíveis para proteger os 64 trabalhadores humanitários e membros de suas famílias de um ataque desse tipo, notificando as partes em conflito sobre a localização e marcando claramente o edifício com uma bandeira de MSF. Apesar das nossas precauções, nosso prédio foi atingido não apenas por um disparo de tanque, mas por tiros intensos. Algumas pessoas ficaram presas no prédio em chamas enquanto os disparos contínuos atrasavam a chegada de ambulâncias ao local. Hoje pela manhã, olho para fotos que mostram a extensão catastrófica dos danos e vejo vídeos de equipes de resgate retirando corpos carbonizados dos escombros.

Isto tudo é extremamente familiar – forças israelenses atacaram nossos comboios, detiveram nossos funcionários e destruíram nossos veículos com tratores, e hospitais foram bombardeados e invadidos. Agora, pela segunda vez, um dos abrigos onde estavam nossos funcionários foi atingido. Ou este padrão de ataques é intencional ou é um indicativo de incompetência negligente.

Nossos colegas em Gaza têm medo de que, conforme eu pronuncio hoje essas palavras, eles sejam punidos amanhã.

Senhora Presidente, todos os dias nós testemunhamos o horror inimaginável.

Nós, assim como tantos outros, ficamos horrorizados pelo massacre praticado pelo Hamas em Israel em 7 de outubro, e ficamos horrorizados pela reação de Israel. Sentimos a angústia das famílias cujos entes queridos foram feitos reféns em 7 de outubro. Sentimos a angústia das famílias daqueles detidos arbitrariamente de Gaza e da Cisjordânia.

Como humanitários, ficamos perplexos com a violência contra civis.

Estas mortes, destruição e deslocamentos forçados são o resultado de escolhas políticas e militares que desrespeitam flagrantemente as vidas de civis.

Estas escolhas poderiam ter sido feitas, e ainda podem ser feitas, de maneira muito diferente.

Por 138 dias, testemunhamos o sofrimento inimaginável da população de Gaza.

Por 138 dias, temos feito tudo que é possível para efetuar uma resposta humanitária relevante.
Por 138 dias, temos assistido à destruição sistemática de um sistema de saúde que apoiamos há décadas. Temos assistido aos nossos colegas e pacientes serem mortos e mutilados.

Esta situação é o ponto culminante de uma guerra travada por Israel contra toda a população da Faixa de Gaza— uma guerra de punição coletiva, uma guerra sem regras, uma guerra a qualquer preço.

As leis e os princípios dos quais dependemos coletivamente para permitir a assistência humanitária estão agora corroídos ao ponto de perderem seu significado.

Senhora Presidente, a resposta humanitária em Gaza é uma ilusão —uma ilusão conveniente que perpetua a narrativa de que esta guerra está sendo travada em linha com leis internacionais.

Apelos por mais assistência humanitária ecoaram nesta sala.

Ainda assim, em Gaza temos cada vez menos a cada dia—menos espaço, menos medicamentos, menos comida, menos água, menos segurança.

Já não falamos mais de intensificar a ação humanitária; falamos de sobreviver mesmo sem o mínimo necessário.

Hoje, em Gaza, os esforços para prover assistência são irregulares, episódicos e totalmente inadequados.

Como podemos oferecer ajuda que salva vidas em um ambiente onde a diferença entre combatentes e civis não é levada em conta?

Como podemos manter qualquer tipo de resposta quando trabalhadores médicos são alvejados, atacados e demonizados por atender aos feridos?

Senhora Presidente, ataques a serviços de saúde são ataques à humanidade

Não restou nada que possa ser chamado de um sistema de saúde em Gaza. Os militares de Israel desmantelaram hospitais, um após o outro. O que restou é tão pouco diante de tamanha carnificina que é simplesmente absurdo.

A desculpa dada é a de que as instalações médicas foram usadas para fins militares, embora não tenhamos visto qualquer prova verificada de maneira independente de que isso tenha ocorrido.

Em circunstâncias excepcionais nas quais um hospital perde seu status de local protegido, qualquer ataque deve atender aos pricípios de proporcionalidade e cautela.

Ao invés da aderência à lei internacional, vemos a inutilização sistemática de hospitais. Isto tem deixado inviáveis as operações de todo o sistema médico.

Desde 7 de outubro, fomos forçados a evacuar nove instalações de saúde distintas.

Há uma semana, o hospital Nasser foi invadido. O pessoal médico foi forçado a sair apesar de ter recebido garantias reiteradas de que poderia ficar para continuar atendendo aos pacientes.

Estes ataques indiscriminados, assim como os tipos de armas e munições utilizadas em áreas densamente povoadas, mataram dezenas de milhares de pessoas e mutilaram outros milhares.

Nossos pacientes têm ferimentos catastróficos, amputações, membros esmagados e queimaduras graves. Eles precisam de atendimento especializado. Precisam de reabilitação longa e intensiva.

Médicos não podem tratar estes ferimentos em um campo de batalha ou nas cinzas de hospitais destruídos.

Não há leitos, medicamentos e suprimentos suficientes.

Cirurgiões não tiveram escolha a não ser realizar amputações sem anestesia em crianças.

Nossos cirurgiões estão ficando até sem gaze para impedir que seus pacientes sangrem. Eles usam uma vez, espremem o sangue, lavam, esterilizam e reutilizam para o próximo paciente.

A crise humanitária em Gaza deixou grávidas sem cuidados médicos por meses. Mulheres em trabalho de parto não podem aceder a salas de parto. Estão dando à luz em barracas de plástico ou edifícios públicos.

Equipes médicas agregaram um novo acrônimo ao seu vocabulário: WCNSF — sigla em inglês para criança ferida sem familiar sobrevivente.

As crianças que sobreviverem a esta guerra não vão carregar apenas os ferimentos visíveis das lesões traumáticas, mas também os invisíveis—aqueles causados pelos reiterados deslocamentos, medo constante e por testemunhar membros da família serem literalmente despedaçados diante de seus olhos. Essas feridas psicológicas têm levado crianças tão pequenas como de 5 anos nos dizer que preferiam estar mortas.

Os riscos para o pessoal médico são enormes. Todos os dias, temos feito a escolha de prosseguir com o nosso trabalho diante do perigo cada vez maior.

Estamos apavorados. Nossas equipes estão mais do que exaustas.

Senhora Presidente, isso tem de parar.

Nós, junto com o resto do mundo, temos acompanhado de perto o modo como este Conselho e seus membros têm abordado o conflito em Gaza.

Reunião após reunião, resolução após resolução, este órgão não conseguiu endereçar de maneira efetiva este conflito. Vimos membros deste Conselho deliberarem e agirem com atraso enquanto civis morrem.

Estamos perplexos com a disposição dos Estados Unidos de usar seus poderes como membro permanente do Conselho para obstruir os esforços para a adoção da mais evidente das resoluções: uma pedindo um cessar-fogo imediato e sustentado.

Por três vezes este Conselho teve a oportunidade de votar por um cessar-fogo que é tão desesperadamente necessário, e por três vezes os Estados Unidos usaram seu poder de veto, mais recentemente na última terça-feira.

Uma nova proposta de resolução feita pelos Estados Unidos pede de maneira ostensiva por um cessar-fogo. Apesar disso, ela é no mínimo falaciosa.

Este Conselho deveria rejeitar qualquer resolução que obstrua ainda mais os esforços humanitários no terreno e leve este Conselho a endossar de maneira tácita a violência contínua e as atrocidades em massa em Gaza.

A população de Gaza precisa de um cessar-fogo não quando seja “viável” mas agora. Eles precisam de um cessar-fogo sustentado, não “um período temporário de calma”. Qualquer coisa que fique aquém disso é negligência grosseira.

A proteção de civis em Gaza não pode estar condicionada a resoluções deste Conselho que instrumentalizem o humanitarismo para ocultar objetivos políticos.

A proteção de civis, de infraestrutura civil, de trabalhadores da saúde e de instalações de saúde recai, antes de mais nada, sobre as partes envolvidas no conflito.

Mas é também uma responsabilidade coletiva, uma responsabilidade que recai sobre este Conselho e seus membros individuais, como aderentes à Convenção de Genebra.

As consequências de deixar que o Direito Humanitário Internacional torne-se letra morta repercutirão muito além de Gaza. Isto será um fardo duradouro em nossa consciência coletiva. Não se trata apenas de inação política, tornou-se cumplicidade política.

Há dois dias, uma equipe de MSF e suas famílias foram atacados e pessoas morreram em um lugar onde havia sido dito a elas que estaria protegido.

Hoje, nosso pessoal está de volta ao trabalho, arriscando mais uma vez a vida pelos pacientes.

O que vocês estão dispostos a arriscar?

Nós exigimos as proteções prometidas sob o Direito Humanitário Internacional.

Exigimos um cessar-fogo de ambas as partes.

Exigimos que haja espaço para transformar a ilusão da assistência em assistência realmente significativa.

O que vocês farão para que isso seja possível?

Muito obrigado, Senhora Presidente.

sábado, 13 de janeiro de 2024

Carta do ex-chanceler Celso Lafer ao Chanceler Mauro Vieira (11/01/2024)

 https://www.academia.edu/113412415/Carta_do_ex_chanceler_Celso_Lafer_ao_Chanceler_Mauro_Vieira_11_01_2024_

Carta do ex-chanceler Celso Lafer ao Chanceler Mauro Vieira (11/01/2024)

2024, Carta de Celso Lafer ao chanceler Mauro Vieira
0 Views2 Pages
CELSO LAFER Professor Emérito Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo Exmo. Sr. Embaixador Mauro Vieira DD Ministro das Relações Externas Palácio do Itamaraty - Brasília Caro Mauro Tomo a liberdade, pelas razões abaixo expostas, de tecer considerações sobre a iniciativa da Africa do Sul de submeter à CI] uma imputação de genocídio a Israel - e do apoio brasileiro a tal iniciativa. (...)




quinta-feira, 16 de maio de 2019

A partilha da Palestina sob dominio britânico - livro no Kindle

La Partición del Mandato Británico en Palestina: La Historia y el Legado del Plan de Partición de las Naciones Unidas y la Creación del Estado de Israel (Spanish Edition) Kindle Edition

"Desde el final del estado judío de la antigüedad hasta el comienzo del mando británico, el área hoy designada con el nombre de Palestina no era un país, y no tenía fronteras, sólo límites administrativos." - Profesor Bernard Lewis, Revista Commentary, enero de 1975

El conflicto entre israelíes y palestinos técnicamente tiene 69 años y continúa hasta la fecha, pero sus raíces se extienden por más de 2,000 años de historia. Con tanto tiempo e historia tras de sí, el proceso de paz en Medio Oriente se ha saturado de conceptos especializados, políticamente delicados, como derecho de retorno, fronteras contiguas, fronteras seguras, zonas desmilitarizadas y requisitos de seguridad, con diversos protagonistas como el Cuarteto, la Autoridad Palestina, Fatah, Hamas, la Liga Árabe, e Israel. Con el tiempo, se ha vuelto extremadamente difícil, incluso para políticos expertos sofisticados e interesados, entender todo esto.

Casi un siglo antes de que se fundara el estado de Israel en 1948, Palestina estaba bajo el control del Imperio Turco Otomano, formado principalmente por árabes. En la década de 1850, los judíos comenzaron a establecerse en pequeñas poblaciones a lo largo de las tierras que una vez formaron Judea y Samaria, mismas que los judíos consideraban como su antigua patria bíblica. Sus esfuerzos por adquirir tierras u propiedades estaban motivados por la intención de algunos judíos de ayudar a restablecer aquella tierra como la patria judía. Esos judíos se conocieron como sionistas, llamados así por (el monte) Sión, que a menudo se considera como una referencia a todo Israel, aunque en realidad se refiere a una parte de Jerusalén. Los sionistas intentaron establecer un Fondo Nacional Judío que ayudaría a los judíos a comprar tierras en Palestina para formar asentamientos judíos.

En 1947, los británicos delegaron el tema de la partición del Mandato británico a las Naciones Unidas, y la Asamblea General de las Naciones Unidas creó un Comité Especial para Palestina (UNSCOP, por sus siglas en inglés). La UNSCOP ideó lo que hoy se conoce como el Plan de Partición de la ONU de 1947. El Plan de Partición creó dividió dos estados poco probables, pero su intención era crear un estado de Israel en el que la población judía formara una mayoría de 55%, en tanto que Palestina tenía más de 90% de habitantes árabes palestinos. Mientras tanto, la ciudad de Jerusalén sería administrada internacionalmente, debido a las delicadas cuestiones religiosas que involucraban tant a musulmanes, como cristianos y judíos. Además de alojar varios lugares sagrados para los cristianos, la mezquita Al-Aqsa de Jerusalén es el tercer sitio más sagrado del Islam, y se halla situada justo al lado del Muro Occidental, el lugar más sagrado para los judíos.

El plan propuesto fue aceptado por la Agencia Judía, que representaba a los líderes de la comunidad judía en Palestina. Sin embargo, fue rechazado por los líderes palestinos dentro del Mandato, así como la recién formada Liga Árabe, una confederación de estados árabes del Medio Oriente liderada por Egipto, Líbano, Irak, Arabia Saudita, Siria y Yemen. Aunque el estado dividido de Israel hubiera tenido mayoría judía, el 67% de la población en el resto del Mandato británico después de la partición de Jordania era palestina, por lo que se consideró que el plan era injusto y daba ventaja a los judíos. 

El 14 de mayo de 1948, el mandato británico expiró de manera oficial. Ese mismo día, el Consejo Nacional Judío emitió la Declaración de Establecimiento del Estado de Israel. Diez minutos más tarde, el presidente Truman reconoció oficialmente al Estado de Israel, y la Unión Soviética rápidamente también reconoció a Israel. Sin embargo, los palestinos y la Liga Árabe no reconocieron el nuevo país, y al día siguiente, los ejércitos de Egipto, Siria, Líbano e Irak invadieron el antiguo Mandato británico para sofocar a Israel, y Arabia Saudita ayudó a los ejércitos árabes.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Jerusalem - Leandro Narloch (Crusoe)

O artigo é fraquinho, sem quaisquer argumentos diplomáticos ou de direito internacional, como deve ser o caso nesta questão. Em 2010, quem presidiu à decisão de reconhecer o Estado Palestino foi o presidente Lula, não o estupor da Madame Pasadena.
Sem pretender remontar a toda a questão histórica, desde os anos 1950, quando o Brasil já cogitava – tendo elevado a sua legação em Tel Aviv ao status de embaixada – de patrocinar um plano (apresentado em 1953) para a desmilitarização e neutralização (ela via da internacionalização) de Jerusalém, e de criar um Consulado brasileiro em Jerusalém (criado efetivamente em 1958 pelo presidente JK e pelo chanceler Macedo Soares), permito-me remeter a meu artigo mais sintético, escrito um ano atrás, já reproduzido aqui:

3249. “Um alerta sobre uma delicada questão diplomática: o caso de Israel”, Brasília, 23 fevereiro 2018, 3 p. Chamando a atenção para o apoio político dado por setores religiosos a Israel, como suscetíveis de influenciar a postura diplomática brasileira. Postado no blog Diplomatizzando (31/12/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/12/embaixada-em-jerusalem-alerta-precoce.html).
Paulo Roberto de Almeida

Eis o artigo de Leandro Narloch:

Israel, capital Jerusalém

Leandro Narloch,
Revista Crusoé, n. 41, 12 fevereiro 2019

Por que a embaixada brasileira na Itália está no centro de Roma? Porque os italianos consideram Roma sua capital. Por que temos uma embaixada em Washington? Porque Washington é a capital dos Estados Unidos. Mas então por que a embaixada brasileira em Israel fica em Tel Aviv e não em Jerusalém Ocidental?
O Brasil foi um dos primeiros países a reconhecer a existência do estado de Israel, em 1949. E desde então esse país que nós reconhecemos considera Jerusalém sua capital.
O mesmo vale para o escritório da representação brasileira na Palestina, que existe desde 2004, em Ramala. Em 2010, Dilma reconheceu a existência do estado Palestino segundo as fronteiras de 1967 (ou seja, Cisjordânia e Faixa de Gaza formando o estado Palestino; Jerusalém dividida entre os dois países).
Depois que Bolsonaro anunciou que seguiria Trump e mudaria o endereço da embaixada, o governo tem fraquejado nessa decisão. Não deveria. Israel é um oásis de liberdade, democracia e direitos humanos no Oriente Médio – é importante que o Brasil sinalize apoio a sua autonomia. A atitude não precisa soar como provocação aos árabes. Se algum dia houver um estado Palestino, a embaixada também pode ser em Jerusalém, na parte oriental.
Argumentos muito ruins costumam aparecer nesse debate. “Trata-se de um território em disputa”, me diz um amigo contrário à mudança da embaixada. Sim, territórios da região têm sua posse contestada. É o caso dos assentamentos judeus na Cisjordânia, uma controvérsia que divide até mesmo os israelenses. Estive lá em novembro: a tensão é evidente. Jornalistas e turistas que se aventuram a passear pela região de Eli, no norte da Cisjordânia, costumam usar ônibus blindados para se proteger de pedras e tiros disparados por palestinos. Ao volante, o motorista listava locais de atentados recentes; na porta de uma fábrica, faixa e flores lembravam o atentado contra dois israelenses duas semanas antes.
Mas esse não é o caso de Jerusalém Ocidental. Só o mais radical defensor dos árabes deve achar que os palestinos têm direito ao território onde está a sede do governo israelense desde 1950. O Parlamento, a Suprema Corte e os ministérios ficam em Jerusalém desde quando a cidade ainda era dividida entre Israel e a Jordânia. Ninguém sensato defende controle palestino na área do Museu do Holocausto, por exemplo. Só pensa assim quem reivindica a “Palestina Original”, sem nenhum estado judaico. Mas, para esses, a embaixada até mesmo em Tel Aviv é motivo de ofensa.
“Se mudarmos a embaixada, os países do Oriente Médio vão retaliar e boicotar produtos brasileiros”, diz outro argumento duvidoso. Aqui é preciso levar em conta a tal “soberania nacional”. Tenho calafrios com essas duas palavras – elas já serviram para Ernesto Geisel justificar a proibição de computadores importados no Brasil. Mas esse caso é, sim, questão de soberania. Ora, quem decide onde instalaremos representações diplomáticas somos nós, não a Turquia ou a Arábia Saudita. O Oriente Médio responde por 4% das exportações brasileiras – isso já é o suficiente para baixarmos a cabeça?

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

A partilha de 1947, entre Israel (nascido em 1948) e a Palestina (bloqueada pelos arabes) - Osias Wurman

Opinião

O sonho da Partilha

Estado judeu perdeu mais de 23 mil cidadãos

por Osias Wurman
A Palestinian Media Watch noticiou que a TV oficial da Autoridade Palestina transmitiu, em 1º de novembro, uma entrevista com o historiador Abd Al-Ghani Salameh, que abordou os cem anos da Declaração Balfour e explicou que, em 1917, não havia povo palestino.
Na entrevista, o jornalista perguntou: “Muitos quiseram dominar a Palestina ao longo da história. Como estas aspirações de governá-la afetam a existência palestina, as opções dos palestinos e as suas possibilidades de desenvolvimento?”
Salameh respondeu: “Antes da Declaração Balfour, quando o governo otomano terminou (1517-1917), as fronteiras políticas da Palestina, como as conhecemos hoje, não existiam, e não havia nada chamado de povo palestino, com uma identidade política, como conhecemos hoje. As linhas de divisão administrativa da Palestina se estendiam de leste a oeste e incluíam a Jordânia e o sul do Líbano. Como todos os povos da região, (os palestinos) foram libertados do domínio turco e imediatamente passaram para o domínio colonial (britânico e francês), sem formar uma identidade política”.
É este principio fundamental, da não existência de uma identidade palestina secular, no sentido de tempo, que impede uma aglutinação coesa e harmônica do dito povo palestino, sempre fracionado por disputas internas entre facções e personalidades inimigas.
O símbolo mais importante de uma identidade palestina foi Yasser Arafat, que se notabilizou por não perder uma oportunidade de perder a oportunidade, para declarar um Estado palestino independente.
Na semana passada, completaram-se 70 anos da Assembleia das Nações Unidas, de 1947, que decidiu por maioria de dois terços, pela Partilha da Palestina.
O eminente brasileiro Oswaldo Aranha presidiu a assembleia que previu a criação de dois estados, um árabe e o outro judeu, que deveriam viver lado a lado. Era o desejo de todas as nações que apoiaram a Resolução 181 de 29 de novembro.
Em seu livro “Brasil, segredo de Estado”, Sergio Corrêa da Costa relata, com riqueza de detalhes de quem participou da sessão da Partilha com Oswaldo Aranha, como os embaixadores árabes saíram do recinto antes do encerramento da assembleia.
Os diplomatas árabes tinham convocado uma entrevista no luxuoso salão do Hotel Waldorf Astoria, onde manifestaram seu total repúdio à resolução 181.
Os árabes não esconderam seus propósitos, ao declarar que “a resolução aprovada seria o fim das Nações Unidas e que as fronteiras de Israel seriam traçadas a sangue”. Erraram na primeira afirmação, mas tornaram uma triste realidade o segundo libelo.
Em quase 70 anos de independência, o Estado judeu perdeu mais de 23 mil cidadãos, vitimas de guerras e atentados terroristas, o que não impediu seu povo de ganhar 12 prêmios Nobel.
E o sonho de Oswaldo Aranha, a criação de dois estados na região, continua dependente de um líder palestino que reconheça o aspecto judaico de Israel e manifeste sinceramente a vontade de conviver em paz com o seu vizinho Estado judeu.

Osias Wurman é cônsul honorário de Israel