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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A industria do declinismo: sempre pujante - Demetrio Magnoli

O declínio do "declinismo"
Demetrio Magnoli
O Globo, 16/01/2013

A profecia do declínio dos EUA é uma narrativa política cíclica que descreve trajetórias balísticas. No ciclo mais recente, o lançamento do projétil do declinismo coincidiu com o colapso financeiro de 2008, um evento que lhe conferiu alta velocidade inicial e extraordinário alcance. Contudo, o projétil atingiu o apogeu anos atrás e já ingressou na etapa descendente de sua trajetória. Nessa etapa, os países que acreditaram no mito declinista, como o Brasil, precisam se ajustar a um cenário externo inesperado.
Os arautos do antiamericanismo são, quase sempre, adeptos fervorosos do declinismo. Eles imaginam-se pensadores originais, mas estão enganados: as fontes do declinismo encontram-se na própria tradição política americana, que gera versões liberais e conservadoras dessa profecia. Nos EUA, desde o sobressalto causado pelo lançamento do Sputnik soviético, em 1957, emergiram cinco narrativas declinistas sucessivas em número igual de décadas. Do “Vietnã” ao “Afeganistão e Iraque”, da “estagnação econômica” à “crise financeira global”, a música da ruína reproduz melodias conhecidas, ainda que sedutoras. A diferença entre o declinismo “made in USA” e o declinismo propagado fora dos EUA não está na composição, mas no tom dos instrumentos: melancolia, num caso; júbilo, no outro.
O declinismo é uma fábula e, como tal, “não trata de verdades, mas de consequências”, assinalou Josef Joffe. A narrativa da ruína americana é, portanto, impermeável ao teste da validação empírica, o que explica sua inesgotável capacidade de renascer ciclicamente, com a mesma força persuasiva de sempre. Os declinistas tocam uma música destinada a configurar crenças e mudar atitudes políticas. Nas suas versões autóctones, a finalidade é perturbar os espíritos para vender uma ideia de redenção — e, assim, derrotar a profecia insuportável. Pense, por exemplo, no vaticínio de Samuel Huntington sobre os efeitos corrosivos da imigração hispânica na coesão da sociedade americana, um artefato “sociológico” destinado a fornecer argumentos eleitorais para a ala direita, nativista, do Partido Republicano.
Os arautos do antiamericanismo são, quase sempre, adeptos fervorosos do declinismo
Fora dos EUA, a narrativa declinista é um componente crucial nos discursos antiamericanos de correntes políticas avessas ao liberalismo, ao modernismo, ao cosmopolitismo e ao judaísmo. Meio século atrás, o egípcio Sayyd Qutb formulou a doutrina da jihad contemporânea sob o impacto duradouro de uma viagem aos EUA na qual concluiu que o Ocidente perdera a vitalidade moral, condenando-se a um declínio irreversível. A França de Vichy era declinista, tanto quanto é, hoje, a Frente Nacional, de Marine Le Pen. Entre as elites francesas, conservadoras ou social-democratas, o prognóstico da decadência americana é algo próximo a um consenso nacional, com raízes psicológicas fincadas na percepção compartilhada do declínio francês. Há uma década, a direção do Partido Comunista Chinês promoveu um seminário fechado sobre a história da ascensão e do declínio das grandes potências, extraindo a reconfortante conclusão de que a “Pax Americana” cederá lugar a uma “Pax Chinesa”.
A profecia declinista perpassava os discursos de Nikita Kruschev, mas só contaminou de fato o pensamento da esquerda marxista depois da queda do Muro de Berlim. O filósofo-militante alemão Robert Kurz fabricou uma versão pretensamente sofisticada da venerável narrativa no livro “O colapso da modernização”, de 1991, que interpreta a implosão do “império soviético” como sinal periférico anunciador de uma crise terminal do sistema capitalista. A tese rocambolesca converteu-se, instantaneamente, numa espécie de amuleto das correntes de esquerda engajadas no movimento antiglobalização. Nesses círculos, o nome de Kurz brilhou intensamente durante a pequena recessão do início do século e, novamente, na hora da crise global deflagrada pela queda da Casa dos Lehman Brothers.
A esquerda latino-americana, vincada pelos nacionalismos e atraída por caudilhos, sempre foi esperançosamente declinista. A “revolução bolivariana” de Hugo Chávez reativou a profecia da decadência americana, que encontra fortes ecos no PT. A crença na falência histórica do (mal denominado) “capitalismo liberal” provocou uma notável inflexão na política externa brasileira, deixando como herança o isolamento comercial do Brasil na concha de um Mercosul sem horizontes. No auge do ciclo declinista mais recente, Lula convenceu-se da eficácia do capitalismo de estado e, para regozijo comum dos seus “desenvolvimentistas” e do alto empresariado associado ao Palácio, soltou as rédeas do crédito público subsidiado. Desse autoengano nasceu o “pibinho da Dilma”, um reflexo da retração da produtividade de nossa economia.
Obviamente, todas as curvas balísticas ingressam, em algum momento, na etapa descendente. O ano de 2014 abre-se com o prognóstico de um crescimento global (calculado à base da paridade do poder de compra) próximo a 4%, quase um ponto percentual mais que o do ano passado. Depois de muitos “anos chineses”, o motor da expansão será, uma vez mais, a economia americana, que experimenta os efeitos combinados da recuperação dos preços dos imóveis e da explosão da produção interna de energia. Novamente, o declinismo entra em declínio, recolhendo-se à hibernação até que algum evento geopolítico ou econômico impactante propicie a sua reanimação.
Nessa etapa, carentes de argumentos verossímeis, os profetas do declinismo tendem a enrijecer sua linguagem, refugiando-se nas mais desvairadas hipóteses conspiratórias. A fórmula manjada do “ataque especulativo” (contra o BNDES, na versão de Luciano Coutinho, ou contra a política fiscal do governo, na de Arno Augustin), inscreve-se nesse padrão facilmente reconhecível. A “guerra psicológica adversa”, invocada por Dilma Rousseff, pertence ao mesmo arsenal de bombas sujas. Eles não aprenderam nada. Azar do Brasil.

sábado, 19 de outubro de 2013

Europa: a visao pessimista (ou realista) - Deepak Lal


Europe in decline

Deepak Lal

Business Stardard, Saturday, October 19, 2013

Earlier this month, I was in Venice to participate in the Aspen Institute Italia's transatlantic dialogue on the theme, "Pivot to Europe: options for a new Atlantic century". There were wide-ranging discussions on the ways out of the global economic crisis, the Atlantic link on the issues of global security and crises, and on the prospects for the ongoing negotiations for a transatlantic trade and investment partnership (TTIP).

It rained all the five days my wife and I were there. Piazza San Marco, where the participants gathered in the grand Sala dello Scrutinio of the Doge's Palace, was flooded. This was a reminder of the fragility of this ancient and beautiful imperial city, which seemed to be slowly sinking into its bay. This was reflected in the gloom about Europe's prospects emanating from the meeting, despite the attempts by various European functionaries to talk up its prospects.

On the economics themes, a number of points emerged. First, as Allan Meltzer, a historian of the , pointed out, the various rounds of quantitative easing () have merely increased bank reserves on which the Fed pays 0.25 per cent interest to keep them idle. So most of the reserves created by QE have not led to an increase in the money supply. Bank reserves had risen 31 per cent in the 12 months to July, but money supply increased by only 6.8 per cent. No wonder the US recovery has been so slow and inflation so low. The banks, by contrast, are sitting pretty; they hold $2 trillion in excess reserves and get $5 billion a year without any risk.

In my contribution, I pointed out that the unsustainable entitlements to politically determined income streams, which had led to the crisis, had not been seriously tackled. For these include not only the explicit entitlements of the welfare state, but also the even larger implicit ones created for the Masters of the Universe of the financial system, which, according to the estimates of 's Andrew Haldane, often exceed the value added by the financial sector to the gross domestic product [see his "Control Rights (And Wrongs)", Economic Affairs, June 2012]. Only a Glass-Steagall separation of commercial and investment banking will end them - as all the rules being devised, from Dodd-Frank to Basel, will inevitably be gamed by universal banks. It may be necessary to remove limited liability from investment banks, and convert them into unlimited liability partnerships, with "skin" in the risk-taking games they must play.

The other major economic issue that was discussed was the implications for Europe of the shale oil and gas revolution in the US. This poses both an economic risk for Europe, with its energy prices a quarter to a third higher than those in the US, and a security risk, with the US' growing energy independence from suppliers in West Asia. The former implies that much of heavy industry is likely to shift from the continent to the US - a prospect made more likely by Europe's green climate change agenda and the high costs and unreliability of the various renewable sources of energy being promoted. Now that Germany has turned its back on nuclear power, and France has imposed a ban on fracking for shale gas and oil, Europe's industrial future looks bleak.

The security prospects are worse. With increasing domestic availability, the US' strategic interest in West Asia to ensure security of supply of fossil fuels will decline. The Europeans have been free riders in the post-war global order of the US imperium. This will now have to change. But since the only two serious European military powers - the United Kingdom and France - are unable to maintain their recent levels of defence spending, and since the Germans have the means but not the will to fill the breach, the impending US withdrawal will require Europe to bear the burden of continuing West Asian turmoil by itself - including terrorist threats, and refugees fleeing from the conflicts in North Africa. This will prove a challenge, particularly given the growth of anti-immigrant far-right political parties during the current slump in the . The tragedy of the sinking of the refugee boat near the island of Lampedusa on the first day of the conference highlighted this danger.

Given all these challenges, leaving aside the continuing problems of the euro - which the German economists at the conference emphasised will not be solved by any implicit or explicit German bailout - the major hope of the European participants was that TTIP would be their salvation. Most agreed with Harvard Kennedy School professor Robert Lawrence's economic assessment that, as their tariff levels are low, the main gains would come from harmonising regulatory policies ranging from food safety to automobile parts.

But it soon became clear that the major purpose of these negotiations for the Europeans was the construction of a transatlantic fortress against the rising emerging economies (particularly China and India). The Americans hope that, by excluding these "refusniks" of the multilateral Doha agreement, TTIP will be a lever in changing their mind. More sinister to my ears was the suggestion that agreements on labour and environmental standards in TTIP could become the gold standard for future trade agreements.

A lot of what I heard was whistling in the dark - hoping that the clouds threatening Europe would lift. But this is to misdiagnose their problem. For, while Europe still contains enormous entrepreneurial talent and a highly skilled labour force, its dirigiste economic policies have failed its citizens. This was evident as one walked around the narrow Venetian streets, with the shops stocking Italian designer clothes, crafts and a myriad other products. The thrifty Italians have little private debt. They have been laid low by the entitlement economy of the Mezzogiorno and by the euro. As I suggested at the meeting, instead of the various dirigiste remedies that were being proposed to cure Europe's woes, the simplest was for Germany to exit the euro for a new Bismark, leaving the European Central Bank to manage a highly devalued euro for the Club Med and France. But current European politics is unlikely to provide the necessary cure to prevent both Venice and Europe from sinking.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Grandes idiotas estao a solta, e abusando da idiotice

Conjunturas de crises econômicas são estações particularmente propícias para o florescimento de grandes idiotas. Imannuel Wallerstein -- que já foi razoável em outras épocas -- e Noam Chomsky -- que só foi razoável quando ele não fazia política e tentava ser apenas linguista -- são dois dos maiores idiotas da contemporaneidade, anti-imperialistas (e antiamericanos) de carteirinha, que estão sempre espreitando para antecipar a próxima crise do capitalismo, e quando ela acontece, ficam super-excitados esperando a derrocada final do seu maior inimigo: aquele mesmo que garante seus empregos em universidades de prestígio, onde eles --e vários outros -- podem, impunemente -- como muitos professores brasileiros, aliás -- usar e abusar de alunos passivos e complacentes com as bobagens e idiotices que repetem continuamente.
Abaixo, mais um exemplo da idiotice repetiva, transcrita por idiotas tupiniquins.


Vocês podem estar se perguntando por que um blog que pretende expor e discutir ideias inteligentes, se permite postar coisas idiotas como esta.
Bem, é porque também aprendemos combatendo ideias idiotas e, para os mais jovens, isto representa uma espécie de teste: como encontrar ideias idiotas e saber se defender delas, quando um outro professor idiota repetir as mesmas bobagens em sua aula (se tiver coragem, claro).
Paulo Roberto de Almeida 

Os Estados Unidos contra todos

Immanuel Wallerstein sustenta: giro estratégico de Washington rumo à Ásia parece precocemente comprometido. País coleciona série impressionante de fracassos diplomáticos
Por Immanuel Wallerstein* | Tradução: Daniela Frabasile
Houve um tempo em que Estados Unidos tinham muitos amigos, ou pelo menos seguidores relativamente obedientes. Hoje em dia, parece que não têm nada além de adversários, de todas as cores políticas. E parece que o país não vai muito bem na disputa com seus antagonistas.
Veja o que aconteceu em novembro de 2011 e tem acontecido na primeira metade de dezembro. O país sustentou divergências com a China, Paquistão, Arábia Saudita, Israel, Irã, Alemanha e América Latina. E não se pode dizer que deu-se bem em nenhuma das controvérsias.
O mundo interpretou a presença e os anúncios do presidente Barack Obama na Austrália como um desafio aberto à China. Ele disse ao Parlamento australiano que os Estados Unidos estão determinados a “alocar os recursos necessários para manter nossa forte presença militar na região”. Para finalizar, Washington está instalando 250 marines na base aérea australiana em Darwin — no futuro, possivelmente poderá aumentar o número para 2.500.
Essa é apenas uma de muitas jogadas similares que se executam no tabuleiro da exibição militar. Enquanto os Estados Unidos saem (ou são forçados a sair) do Oriente Médio, por razões tanto políticas como financeiras, estendem seus músculos em direção à região da Ásia-Pacífico. A estratégia seria viável, diante da urgente demanda por redução os gastos — mesmo com o exército — e da crescente relutância dos norte-americanos em relação ao envolvimento do país em questões externas? Até agora, a “resposta” da China tem sido virtualmente a não-resposta. É como se os governantes chineses soubessem que o tempo está ao lado de seu país — mesmo em suas relações com os Estados Unidos, ou especialmente nas suas relações com os Estados Unidos.
Há, também, o Paquistão. Os Estados Unidos lançaram os desafios: Islamabad deve acabar com os movimentos islâmicos. Deve parar de tentar sabotar o governo de Hamid Karzai, no Afeganistão. Deve parar de ameaçar a Índia com ações militares na Caxemira. Se não… o quê? Eis o problema. Ao que parece, pelos documentos que vazaram, os Estados Unidos acreditavam que o último amigo que lhe sobrou no Paquistão — o atual presidente Asif Ali Zardari —poderia demitir o líder do exército, o General Ashfaq Parvez Kayani. Como resposta, o General Kayani articulou para que Zardari realizasse tratamento médico em Dubai, nos Emirados Árabes. O potencial golpe arranjado pelos Estados Unidos falhou. E, se Washington tentar retaliar a manobra paquistanesa cortando ajuda financeira, sempre haverá a China, para tomar seu lugar.
No Oriente Médio, o que Obama mais quer é que nada dramático aconteça entre Israel e os palestinos até, pelo menos, sua reeleição. Isso não satisfaz realmente as necessidade da Arábia Saudita ou do primeiro-ministro israelense, Benyamin Netanyahu. Por isso, do ponto de vista norte-americano, ambos estão procedendo de maneira fazer marola. E os Estados Unidos estão muito mais numa posição de implorar a judeus e sauditas do que comandá-los ou controlá-los.
Ainda na Ásia, há o Irã, supostamente a principal preocupação imediata dos Estados Unidos — e também da Arábia Saudita e Israel. Washington está usando seus aviões supersecretos não-tripulados (os chamados drones) para espionar os iranianos. Nada surpreendente, exceto pelo fato de que, ao que parece, e de algum modo, um desses drones pousou no Irã — eu digo “pousou” porque a questão crucial é como e por que pousou.
A CIA, dona do avião, diz de maneira pouco convincente que o incidente deveu-se a alguma falha mecânica. Os iranianos, por sua vez, insinuam que derrubaram o drone com um ataque cibernético. Os Estados Unidos garantem que não, que seria “impossível” — mas Debka, a voz da internet israelense, diz que é verdade. Eu acredito que seja provável. Além disso, agora que os iranianos têm o avião, estão trabalhando em desvendar todos seus segredos técnicos. Quem sabe? Eles podem publicar esses segredos para que o mundo todo saiba. E então, quão secretos serão os drones supersecretos?
Ah, sim, a Alemanha. Como todos sabem, existe uma “crise” na zona do euro. E a chanceler alemã Angela Merkel tem trabalhado duro para que os países da zona do euro comprem uma “solução” que irá funcionar para ela — tanto politicamente, dentro da Alemanha, quanto economicamente, na Europa. Merkel tem pressionado um novo Tratado Europeu que iria impor automaticamente sanções aos países signatários que violem suas disposições.
Os Estados Unidos pensaram que essa seria uma abordagem equivocada. Para Washington, trata-se de uma ação de médio prazo que não resolveria imediatamente o problema financeiro da Europa. Obama enviou ao Velho Continente seu secretário do Tesouro, Timothy Geithner, a fim de insistir em suas sugestões alternativas. Os detalhes não importam, nem qual é a melhor opção. O importante é notar que Geithner foi totalmente ignorado e os alemães conseguiram o que queriam.
E, finalmente, os países da América Latina e do Caribe se encontraram na Venezuela para estabelecer uma nova organização: a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). Todos os países americanos assinaram o tratado, exceto os dois que não foram convidados — Estados Unidos e Canadá. A CELAC foi desenhada para suplantar a Organização dos Estados Americanos (OEA), que inclui os Estados Unidos e o Canadá, e que suspendeu Cuba. Pode levar algum tempo até que a OEA desapareça e que somente a CELAC permaneça. Ainda assim, não é exatamente algo que Washington esteja celebrando.
 (*) Immanuel Wallerstein é professor-sênior do Departamento de Sociologia da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Seu saite é www.iwallerstein.com

terça-feira, 27 de setembro de 2011

O declínio do Brasil, ops, dos EUA - Arvind Subramanian

O Brasil não é um império, e não está sendo eclipsado por ninguém, a não por si próprio, ou mais precisamente pela incompetência de seus dirigentes, pela corrupção de sua classe política, pelas políticas erradas de seus tecnocratas e de acadêmicos que fazem diagnósticos equivocados e se enganam de políticas.
Vai demorar para consertar, daí essa possibilidade de declínio, ou de ser eclipsado por outros países que crescem mais rápido.Enfim, uma tartaruga, ou um cágado, para ficar na fábula habitual no Brasil. Não vamos tirar o acento...
Paulo Roberto de Almeida 


Quem eclipsará os EUA?
Simon Johnson
Valor Econômico, 22/09/2011


Alguns anos atrás, algumas pessoas consideravam que o Japão tinha ultrapassado os EUA. A Europa também estava, supostamente, competindo pelo predomínio econômico mundial. Hoje, quaisquer dessas afirmações parecem absurdas.



De acordo com Voltaire, o Império Romano caiu "porque todas as coisas caem". É difícil argumentar contra isso como declaração geral sobre declínio: nada dura para sempre. Mas também não é muito útil. Ao considerar, por exemplo, o predomínio americano no mundo atual, seria bom saber quando a ascendência diminuirá - e se os EUA podem fazer alguma coisa para adiar o inevitável.
À época, comentaristas abandonaram todas as esperanças em relação à sobrevivência do Império Romano por centenas de anos, antes de ele finalmente entrar em colapso. Podem os EUA encontrar seu caminho para um adiamento similar?
Em termos de proporcionar uma estrutura essencial para a discussão desse problema, o novo livro de Arvind Subramanian, "Eclipse: Living in the Shadow of China's Economic Dominance" (Eclipse: vivendo à sombra da dominação econômica da China) é uma grande contribuição. (Transparência total: Subramanian e eu somos colegas no Instituto Peterson de Economia Internacional, e temos trabalhado juntos em outras questões.)
Individualmente, Subramanian compila um índice de predomínio econômico que deverá tornar-se um foco de conversa em qualquer lugar onde as pessoas querem analisar mudanças na liderança econômica mundial. Não é preciso conhecer nada de economia para ficar fascinado por esse livro - ele trata pura e simplesmente de poder.
Os fatos básicos são incontestáveis. O Reino Unido foi a potência econômica dominante no mundo desde a irrupção da industrialização, no início do século XIX. Mas perdeu sua predominância e foi gradualmente eclipsado pelos EUA, que pelo menos desde 1945 é o líder incontestado entre as economias de mercado.
Os EUA ultrapassaram o Reino Unido em termos de produção industrial logo no fim do século XIX, mas isso não foi suficiente para fazer pender a balança. O predomínio econômico mudou somente quando o Reino Unido passou a incorrer em grandes déficits em conta corrente durante a primeira e a segunda guerras mundiais - o país teve que tomar pesados empréstimos para financiar seus esforços bélicos e as importações foram significativamente maiores que as exportações. Grande parte das reservas mundiais de ouro acabaram nas mãos dos EUA.
Isso ajudou a enfraquecer o papel da libra britânica internacionalmente e catapultou o dólar americano para o primeiro plano - especialmente depois da conferência de Bretton Woods, em 1944, quando foi acordado que os países passariam a manter suas reservas tanto em dólares como em ouro.
Mais recentemente, porém, foi a vez dos americanos de registrar sistematicamente grandes déficits em conta corrente, comprando mais do resto do mundo do que ganham com a venda de bens e serviços no exterior. Nessa dimensão, os EUA parecem destinados a repetir o erro dos britânicos.
Ao mesmo tempo, a renda per capita dos países de mercados emergentes cresceu - assim como seu papel internacional. A China, em especial, tem seguido uma estratégia, no decorrer dos últimos dez anos, que implica incorrer em grandes superávits em conta corrente e acumular reservas cambiais, hoje reportadas em mais de US$ 3 trilhões. Com efeito, o argumento mais provocante de Subramanian é de que a China já superou os Estados Unidos em termos de predomínio econômico - mas nós ainda não despertamos para essa nova realidade.
A história é fascinante e bem contada, mas ainda há muito sobre o que vale a pena discutir. Por exemplo, os britânicos declinaram porque os americanos não puderam ser detidos ou devido a problemas no Império Britânico e no Reino Unido?
Alguns anos atrás, algumas pessoas consideravam que o Japão tinha ultrapassado os EUA. A Europa também estava, supostamente, competindo pelo predomínio econômico mundial. Hoje, quaisquer dessas afirmações parecem absurdas. Em ambos os casos, o sistema de crédito escapou de controle, com excesso de empréstimos para o setor privado no Japão dos anos 1980 e com o excessivo endividamento público durante a década de 2000 na zona do euro.
Analogamente, ainda não está claro se o caminho de desenvolvimento chinês permanecerá tranquilo. Os investimentos fixos, na China, estão perto de 50% do PIB - o que parece ser um recorde mundial. O crédito disponibilizado às empresas estatais e às famílias continua a crescer rapidamente. Não será isso uma versão da causa precisa do descarrilhamento do crescimento japonês?
Sobre a questão central da capacidade de emitir uma "moeda de reserva" que investidores e governos querem manter em carteira, Subramanian tem razão: a China satisfaz muitos dos requisitos. Mas ainda carece de alguns elementos chave, entre eles, plenos direitos de propriedade. Se poder tirar seu dinheiro de um país quando os tempos ficam difíceis é uma preocupação, então a China não é um lugar atraente para manter suas reservas.
Problemas externos por vezes fazem Estados ruir. Mais frequentemente, porém, os grandes problemas são internos - o regime não consegue assegurar crescimento, sua legitimidade declina e as pessoas começam a buscar as saídas (ou pelo menos tirar seu dinheiro do país).
Se os EUA forem eclipsados em curto prazo, será mais provável que isso ocorra devido à sua perda de coesão social e seu cenário político disfuncional. A China pode muito bem entrar em cena para preencher esse vácuo, mas isso é bem diferente de ter condições de desalojar os EUA.
(Tradução Sérgio Blum)

Simon Johnson, ex-economista chefe do FMI, é cofundador do blog de economia, BaselineScenario.com , professor da Sloan, no MIT, membro sênior do Instituto Peterson de Economia Internacional e coautor, com James Kwak, de 13 Bankers (13 banqueiros).

domingo, 17 de outubro de 2010

Japao: da preeminencia ao declinio - New York Times

O jornal NYT está começando uma série de matérias sobre o declínio do Japão. Trata-se de um caso importante na história econômica mundial, dado seu enorme sucesso econômico nos primeiros 80 anos do século 20 (mais até do que o Brasil, que também cresceu bastante, mas não se transformou em nação avançada por lhe faltar educação de massa), seguido, a partir do final dos anos 1980 e início dos 90 pela explosão de suas bolhas imobiliária e financeira e uma notável incapacidade em fazer reformas estruturais que o libertassem da espiral declinista da deflação.
Dstaco apenas um trecho para que se tenha uma ideia da desvalorizao terrível dos ativos japoneses: "Masato, the small-business owner,... sold his four-bedroom condo to a relative for about $185,000, 15 years after buying it for a bit more than $500,000."
Esse é o resultado da rigidez estrutural do mercado de trabalho e das normas que presidem a atividade industrial, financeira e de serviços.
Não se pode pensar que o Brasil está imune a esses problemas: nossa incapacidade de reformar aspectos cruciais da atividade econômica pode nos conduzir ao mesmo resultado, embora com outros componentes.
Paulo Roberto de Almeida

Japan Goes From Dynamic to Disheartened
By MARTIN FACKLER
The New York Times, October 16, 2010

The Great Deflation
Coping With Decline
This is the first in a series of articles that will examine the effects on Japanese society of two decades of economic stagnation and declining prices.

OSAKA, Japan — Like many members of Japan’s middle class, Masato Y. enjoyed a level of affluence two decades ago that was the envy of the world. Masato, a small-business owner, bought a $500,000 condominium, vacationed in Hawaii and drove a late-model Mercedes.

But his living standards slowly crumbled along with Japan’s overall economy. First, he was forced to reduce trips abroad and then eliminate them. Then he traded the Mercedes for a cheaper domestic model. Last year, he sold his condo — for a third of what he paid for it, and for less than what he still owed on the mortgage he took out 17 years ago.

“Japan used to be so flashy and upbeat, but now everyone must live in a dark and subdued way,” said Masato, 49, who asked that his full name not be used because he still cannot repay the $110,000 that he owes on the mortgage.

Few nations in recent history have seen such a striking reversal of economic fortune as Japan. The original Asian success story, Japan rode one of the great speculative stock and property bubbles of all time in the 1980s to become the first Asian country to challenge the long dominance of the West.

But the bubbles popped in the late 1980s and early 1990s, and Japan fell into a slow but relentless decline that neither enormous budget deficits nor a flood of easy money has reversed. For nearly a generation now, the nation has been trapped in low growth and a corrosive downward spiral of prices, known as deflation, in the process shriveling from an economic Godzilla to little more than an afterthought in the global economy.

Now, as the United States and other Western nations struggle to recover from a debt and property bubble of their own, a growing number of economists are pointing to Japan as a dark vision of the future. Even as the Federal Reserve chairman, Ben S. Bernanke, prepares a fresh round of unconventional measures to stimulate the economy, there are growing fears that the United States and many European economies could face a prolonged period of slow growth or even, in the worst case, deflation, something not seen on a sustained basis outside Japan since the Great Depression.

Many economists remain confident that the United States will avoid the stagnation of Japan, largely because of the greater responsiveness of the American political system and Americans’ greater tolerance for capitalism’s creative destruction. Japanese leaders at first denied the severity of their nation’s problems and then spent heavily on job-creating public works projects that only postponed painful but necessary structural changes, economists say.

“We’re not Japan,” said Robert E. Hall, a professor of economics at Stanford. “In America, the bet is still that we will somehow find ways to get people spending and investing again.”

Still, as political pressure builds to reduce federal spending and budget deficits, other economists are now warning of “Japanification” — of falling into the same deflationary trap of collapsed demand that occurs when consumers refuse to consume, corporations hold back on investments and banks sit on cash. It becomes a vicious, self-reinforcing cycle: as prices fall further and jobs disappear, consumers tighten their purse strings even more and companies cut back on spending and delay expansion plans.

“The U.S., the U.K., Spain, Ireland, they all are going through what Japan went through a decade or so ago,” said Richard Koo, chief economist at Nomura Securities who recently wrote a book about Japan’s lessons for the world. “Millions of individuals and companies see their balance sheets going underwater, so they are using their cash to pay down debt instead of borrowing and spending.”

Just as inflation scarred a generation of Americans, deflation has left a deep imprint on the Japanese, breeding generational tensions and a culture of pessimism, fatalism and reduced expectations. While Japan remains in many ways a prosperous society, it faces an increasingly grim situation, particularly outside the relative economic vibrancy of Tokyo, and its situation provides a possible glimpse into the future for the United States and Europe, should the most dire forecasts come to pass.

Scaled-Back Ambitions
The downsizing of Japan’s ambitions can be seen on the streets of Tokyo, where concrete “microhouses” have become popular among younger Japanese who cannot afford even the famously cramped housing of their parents, or lack the job security to take out a traditional multidecade loan.

These matchbox-size homes stand on plots of land barely large enough to park a sport utility vehicle, yet have three stories of closet-size bedrooms, suitcase-size closets and a tiny kitchen that properly belongs on a submarine.

“This is how to own a house even when you are uneasy about the future,” said Kimiyo Kondo, general manager at Zaus, a Tokyo-based company that builds microhouses.

For many people under 40, it is hard to grasp just how far this is from the 1980s, when a mighty — and threatening — “Japan Inc.” seemed ready to obliterate whole American industries, from automakers to supercomputers. With the Japanese stock market quadrupling and the yen rising to unimagined heights, Japan’s companies dominated global business, gobbling up trophy properties like Hollywood movie studios (Universal Studios and Columbia Pictures), famous golf courses (Pebble Beach) and iconic real estate (Rockefeller Center).

In 1991, economists were predicting that Japan would overtake the United States as the world’s largest economy by 2010. In fact, Japan’s economy remains the same size it was then: a gross domestic product of $5.7 trillion at current exchange rates. During the same period, the United States economy doubled in size to $14.7 trillion, and this year China overtook Japan to become the world’s No. 2 economy.

China has so thoroughly eclipsed Japan that few American intellectuals seem to bother with Japan now, and once crowded Japanese-language classes at American universities have emptied. Even Clyde V. Prestowitz, a former Reagan administration trade negotiator whose writings in the 1980s about Japan’s threat to the United States once stirred alarm in Washington, said he was now studying Chinese. “I hardly go to Japan anymore,” Mr. Prestowitz said.

The decline has been painful for the Japanese, with companies and individuals like Masato having lost the equivalent of trillions of dollars in the stock market, which is now just a quarter of its value in 1989, and in real estate, where the average price of a home is the same as it was in 1983. And the future looks even bleaker, as Japan faces the world’s largest government debt — around 200 percent of gross domestic product — a shrinking population and rising rates of poverty and suicide.

But perhaps the most noticeable impact here has been Japan’s crisis of confidence. Just two decades ago, this was a vibrant nation filled with energy and ambition, proud to the point of arrogance and eager to create a new economic order in Asia based on the yen. Today, those high-flying ambitions have been shelved, replaced by weariness and fear of the future, and an almost stifling air of resignation. Japan seems to have pulled into a shell, content to accept its slow fade from the global stage.

Its once voracious manufacturers now seem prepared to surrender industry after industry to hungry South Korean and Chinese rivals. Japanese consumers, who once flew by the planeload on flashy shopping trips to Manhattan and Paris, stay home more often now, saving their money for an uncertain future or setting new trends in frugality with discount brands like Uniqlo.

As living standards in this still wealthy nation slowly erode, a new frugality is apparent among a generation of young Japanese, who have known nothing but economic stagnation and deflation. They refuse to buy big-ticket items like cars or televisions, and fewer choose to study abroad in America.

Japan’s loss of gumption is most visible among its young men, who are widely derided as “herbivores” for lacking their elders’ willingness to toil for endless hours at the office, or even to succeed in romance, which many here blame, only half jokingly, for their country’s shrinking birthrate. “The Japanese used to be called economic animals,” said Mitsuo Ohashi, former chief executive officer of the chemicals giant Showa Denko. “But somewhere along the way, Japan lost its animal spirits.”

When asked in dozens of interviews about their nation’s decline, Japanese, from policy makers and corporate chieftains to shoppers on the street, repeatedly mention this startling loss of vitality. While Japan suffers from many problems, most prominently the rapid graying of its society, it is this decline of a once wealthy and dynamic nation into a deep social and cultural rut that is perhaps Japan’s most ominous lesson for the world today.

The classic explanation of the evils of deflation is that it makes individuals and businesses less willing to use money, because the rational way to act when prices are falling is to hold onto cash, which gains in value. But in Japan, nearly a generation of deflation has had a much deeper effect, subconsciously coloring how the Japanese view the world. It has bred a deep pessimism about the future and a fear of taking risks that make people instinctively reluctant to spend or invest, driving down demand — and prices — even further.

“A new common sense appears, in which consumers see it as irrational or even foolish to buy or borrow,” said Kazuhisa Takemura, a professor at Waseda University in Tokyo who has studied the psychology of deflation.

A Deflated City
While the effects are felt across Japan’s economy, they are more apparent in regions like Osaka, the third-largest city, than in relatively prosperous Tokyo. In this proudly commercial city, merchants have gone to extremes to coax shell-shocked shoppers into spending again. But this often takes the shape of price wars that end up only feeding Japan’s deflationary spiral.

There are vending machines that sell canned drinks for 10 yen, or 12 cents; restaurants with 50-yen beer; apartments with the first month’s rent of just 100 yen, about $1.22. Even marriage ceremonies are on sale, with discount wedding halls offering weddings for $600 — less than a tenth of what ceremonies typically cost here just a decade ago.

On Senbayashi, an Osaka shopping street, merchants recently held a 100-yen day, offering much of their merchandise for that price. Even then, they said, the results were disappointing.

“It’s like Japanese have even lost the desire to look good,” said Akiko Oka, 63, who works part time in a small apparel shop, a job she has held since her own clothing store went bankrupt in 2002.

This loss of vigor is sometimes felt in unusual places. Kitashinchi is Osaka’s premier entertainment district, a three-centuries-old playground where the night is filled with neon signs and hostesses in tight dresses, where just taking a seat at a top club can cost $500.

But in the past 15 years, the number of fashionable clubs and lounges has shrunk to 480 from 1,200, replaced by discount bars and chain restaurants. Bartenders say the clientele these days is too cost-conscious to show the studied disregard for money that was long considered the height of refinement.

“A special culture might be vanishing,” said Takao Oda, who mixes perfectly crafted cocktails behind the glittering gold countertop at his Bar Oda.

After years of complacency, Japan appears to be waking up to its problems, as seen last year when disgruntled voters ended the virtual postwar monopoly on power of the Liberal Democratic Party. However, for many Japanese, it may be too late. Japan has already created an entire generation of young people who say they have given up on believing that they can ever enjoy the job stability or rising living standards that were once considered a birthright here.

Yukari Higaki, 24, said the only economic conditions she had ever known were ones in which prices and salaries seemed to be in permanent decline. She saves as much money as she can by buying her clothes at discount stores, making her own lunches and forgoing travel abroad. She said that while her generation still lived comfortably, she and her peers were always in a defensive crouch, ready for the worst.

“We are the survival generation,” said Ms. Higaki, who works part time at a furniture store.

Hisakazu Matsuda, president of Japan Consumer Marketing Research Institute, who has written several books on Japanese consumers, has a different name for Japanese in their 20s; he calls them the consumption-haters. He estimates that by the time this generation hits their 60s, their habits of frugality will have cost the Japanese economy $420 billion in lost consumption.

“There is no other generation like this in the world,” Mr. Matsuda said. “These guys think it’s stupid to spend.”

Deflation has also affected businesspeople by forcing them to invent new ways to survive in an economy where prices and profits only go down, not up.

Yoshinori Kaiami was a real estate agent in Osaka, where, like the rest of Japan, land prices have been falling for most of the past 19 years. Mr. Kaiami said business was tough. There were few buyers in a market that was virtually guaranteed to produce losses, and few sellers, because most homeowners were saddled with loans that were worth more than their homes.

Some years ago, he came up with an idea to break the gridlock. He created a company that guides homeowners through an elaborate legal subterfuge in which they erase the original loan by declaring personal bankruptcy, but continue to live in their home by “selling” it to a relative, who takes out a smaller loan to pay its greatly reduced price.

“If we only had inflation again, this sort of business would not be necessary,” said Mr. Kaiami, referring to the rising prices that are the opposite of deflation. “I feel like I’ve been waiting for 20 years for inflation to come back.”

One of his customers was Masato, the small-business owner, who sold his four-bedroom condo to a relative for about $185,000, 15 years after buying it for a bit more than $500,000. He said he was still deliberating about whether to expunge the $110,000 he still owed his bank by declaring personal bankruptcy.

Economists said one reason deflation became self-perpetuating was that it pushed companies and people like Masato to survive by cutting costs and selling what they already owned, instead of buying new goods or investing.

“Deflation destroys the risk-taking that capitalist economies need in order to grow,” said Shumpei Takemori, an economist at Keio University in Tokyo. “Creative destruction is replaced with what is just destructive destruction.”

Steve Lohr contributed reporting from New York.