O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador eleições americanas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador eleições americanas. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

As eleições americanas e a diplomacia bolsolavista - Reinaldo Azevedo (O Globo); Lauriberto Pompeu (Congresso em Foco)

 Para diplomatas, posts de Eduardo sobre eleição dos EUA mostram despreparo

Reinaldo Azevedo
Colunista do UOL
06/11/2020 14h13
https://noticias.uol.com.br/colunas/reinaldo-azevedo/2020/11/06/para-diplomatas-posts-de-eduardo-sobre-eleicao-dos-eua-mostram-despreparo.htm

Integrantes do Itamaraty avaliam que, se ainda restava dúvidas sobre o despreparo do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para ocupar o posto de embaixador do Brasil nos Estados Unidos, estas acabaram de vez, durante a eleição presidencial entre Donald Trump e Joe Biden.

A atuação do filho "02" do presidente Bolsonaro, que resolveu questionar a legitimidade da apuração nos EUA, sem provas, reproduzindo o discurso de Trump, foi descrita como uma grande "gafe" para quem já teve (ou tem) a ambição de ocupar um posto diplomático. A avaliação de diplomatas é que Eduardo fere um princípio básico da boa diplomacia, de não interferir na política de outro país.(...) 
Leia íntegra em O Globo.

=============

Ex-chanceleres defendem que Bolsonaro mude política externa por Biden

Por Lauriberto Pompeu 
Congresso em Foco, 06 nov, 2020 - 15:20
https://congressoemfoco.uol.com.br/governo/ex-chanceleres-defendem-que-bolsonaro-mude-politica-externa-por-biden/

Os ex-ministros das Relações Exteriores Aloysio Nunes e Celso Amorim defenderam, em entrevista ao Congresso em Foco  que o governo brasileiro mude sua atual política externa e ambiental para ter uma relação de respeito com o provável novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

Aloysio Nunes, que comandou o Itamaraty durante o governo de Michel Temer (MDB), afirmou que mudar os atuais ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, não bastaria para que o governo brasileiro se adaptasse à gestão de Biden, que tem cobrado o compromisso do Brasil de preservar a Amazônia e ameaçado sanções ao país caso isso não aconteça.

"A política externa é do presidente. Para sua formulação, nos seus aspectos mais polêmicos, concorrem o ministro [das Relações Exteriores, Ernesto Araújo], o deputado Eduardo Bolsonaro e o assessor Filipe Martins, mas quem manda é o presidente e essa política, com suas obsessões, é importante para o apoio da ala mais radical de sua base social", afirmou o tucano.

Nunes afirmou que a atual política ambiental de Bolsonaro pode trazer riscos à economia brasileira.

"Uma resolução recente da Comissão de Orçamento da Câmara [dos EUA], de maioria democrata, dá bem a medida da zona de atrito com a administração Biden: disposição de barrar novos acordos econômicos com o Brasil caso seja mantida a postura do nosso governo na área ambiental. Não nos esqueçamos que Biden mencionou a Amazônia no debate crucial com Trump. Por aí virão pressões muito fortes."

E completou: "Se houver mudança na política ambiental do governo Bolsonaro isso não seria um 'prejuízo' nem para o Brasil nem mesmo para o presidente que lucraria se atirasse essa pesada carga ao mar".

De acordo com o ex-ministro, mesmo com a afinidade com as ideias de Donald Trump, Bolsonaro pode estar disposto a ter uma boa relação com Jon Biden.

"O fato de Bolsonaro segurar a alça do caixão de Trump, de quem ele se considera amigo, não impedirá relações positivas com o novo morador da Casa Branca. O Brasil é um país relevante, nossa diplomacia é muito competente e saberá identificar pontos de convergência, e o novo presidente [dos EUA] terá dores de cabeça suficientes na agenda internacional e na agenda interna e não creio que vá buscar mais sarna para se coçar."

O ex-chanceler Celso Amorim, que foi ministro das Relações Exteriores durante os governos de Itamar Franco e Lula, defende que haja uma política exterior de respeito mútuo entre Bolsonaro e Biden.

"Eu esperaria que essa atitude de submissão possa ser substituída, não tem que buscar uma relação igual porque ela não era boa, era ruim para o Brasil, não era uma relação de um país soberano, o que tem que procurar é uma relação mutuamente respeitosa", declarou.

Amorim sugeriu mudanças na política ambiental brasileira e não vê problemas do país seguir as orientações de Biden, desde que não sejam violadas a decisões soberanas brasileiras.

"Nem de submissão, nem de agressão. Por exemplo na questão do clima, se os Estados Unidos quiserem cooperar com o Brasil na mudança do clima, na Amazônia, acho que é perfeitamente razoável desde que obedeça, siga os projetos brasileiros decididos soberanamente pelo Brasil".

O ex-ministro das Relações Exteriores mencionou o período entre de 2003 a 2008, quando Lula era presidente do Brasil e o republicano George W. Bush presidia os Estados Unidos. Amorim afirmou que havia uma relação respeitosa entre os dois países mesmo com as diferenças ideológicas.

"Tem que encontrar uma maneira de ter uma relação de trabalho que seja uma relação mutuamente proveitosa sem submissões, que aliás foi o que aconteceu no governo Lula e o governo Bush. Qual a afinidade ideológica que havia entre eles? Nenhuma, nós condenamos a invasão do Iraque, não mudamos nossas votações, mas cooperamos. Tanto em assuntos bilaterais quanto em outros da região."

Na mesma linha de Aloysio Nunes, Amorim disse que o papel dos atuais ministros das Relações Exteriores e do Meio Ambiente é de obedecer o projeto de Jair Bolsonaro. De acordo com ele, uma mudança nos ministérios poderia sinalizar uma alteração de rumo nas áreas, mas essa alteração teria que partir de Bolsonaro.

"Eles seguem orientações. Não tenho nenhuma razão para defender nenhum dos dois, de jeito nenhum, mas acho que não pode situar o problema neles. Pode haver uma mudança neles para dar um sinal, mas o problema é que eles apenas aderiram oportunisticamente a uma agenda, mas a agenda vem de cima, é óbvio, ou de fora, dependendo de como você quiser ver, fora do Brasil até, da extrema direita norte-americana", declarou.

"Isso a gente terá que mudar e como a extrema direita norte-americana tem uma relação forte quanto ao governo brasileiro, com o presidente, também com o ministro, mas não é só com o ministro, ministro é um instrumento. Quando você muda a política às vezes tem que mudar o ministro, agora é preciso ter desejo de mudar a política, isso não depende só do ministro". completou.



quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Resultados electorales en EUA y sus posibles consecuencias - 10/11/2020 (Es.Global)


INVITACIÓN: LOS RESULTADOS ELECTORALES DE ESTADOS UNIDOS Y SUS POSIBLES CONSECUENCIAS

Invitación Club Resultados Elecciones eeuu

 

Mientras al comienzo de la noche electoral, que se ha seguido con intensidad inusitada, el actual inquilino de la Casa Blanca anunciaba otros cuatro años excelentes, unas horas después denunciaba que se estaba ante un fraude que iba a ser recurrido ante el Tribunal Supremo. Ahora, cuando se escriben estas líneas, la incertidumbre se mantiene en 10 estados y todavía no se sabe quién conseguirá los votos electorales que correspondan. Con lo que se está dando continuidad a una serie de situaciones nunca vistas o extravagantes y que han ido jalonando el proceso electoral en los meses precedentes.

Es de esperar que en los próximos días de continuada incertidumbre se sustanciarán los resultados de los escrutinios pendientes. De ellos no sólo depende la presidencia de Donald Trump, sobre la cual se han llevado a cabo numerosos análisis desde que ganase las elecciones en 2016, sino también los posibles escenarios propios y ajenos en los que convergen problemas decisivos para el futuro humano. Entre ellos, se encuentran: la sostenibilidad global, la evolución de las desigualdades, la mayor o menor debilidad del multilateralismo, la difusión o limitación de ejemplos populistas y la funcionalidad de las diversas gobernanzas que condicionan el desarrollo humano.

esglobal, en colaboración con el Capítulo Español Club de Roma, discutirá los posibles escenarios mencionados como resultado de las elecciones en este seminario web a través de ZOOM PRO y debatirá sobre las posibles repercusiones que puedan tener.

PROGRAMA

  • 18.30 – 18.35 H. Presentación: José Manuel Morán. Vicepresidente del Capítulo Español del Club de Roma.
  • 18.35 – 19.15 H. Moderadora: Cristina Manzano. Directora de esglobal.
    • Juan María Hernández Puértolas. Economista, periodista, especialista en política interior norteamericana.
    • Carlota García Encina. Investigadora principal de Estados Unidos y Relaciones Transatlánticas del Real Instituto Elcano, y profesora de Relaciones Internacionales de la Universidad Francisco de Vitoria de Madrid.
    • Cristina Crespo Palomares. Directora de Relaciones Externas y coordinadora general del Instituto Franklin de la Universidad de Alcalá
  • 19.15 – 19.30 H. COLOQUIO GENERAL

 

Si quieres inscribirte en el evento, ¡regístrate en el siguiente enlace!

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Reeleição ou derrota do candidato americano incumbente? - Paulo Roberto de Almeida

 Reeleição ou derrota do candidato americano incumbente? 

Mini-reflexão histórica sobre um dos piores sistemas eleitorais do mundo contemporâneo

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 2 de novembro de 2020


São raros, na história política americana, os presidentes que não conseguem se reeleger no cargo. 

Na história recente, apenas um Democrata, Jimmy Carter, e um Republicano, George Bush pai, realizaram tal “proeza”. 

Na Depressão, o Republicano Herbert Hoover não o conseguiu contra o Democrata Franklin Delano Roosevelt, um campeão de reeleições (que foram então limitadas a um único e definitivo segundo termo). 

Lyndon Johnson, um Democrata do Texas, desistiu de tentar, na segunda metade dos anos 1960, por causa da guerra do Vietnã, iniciada por John Kennedy, assassinado no primeiro mandato, em novembro de 1963.


Retrospectivamente, pouco mais de um século atrás, em plena Grande Guerra, Woodrow Wilson, um Democrata do Sul (o primeiro desde a guerra civil, e um notório racista), só ganhou por estreita margem no Colégio Eleitoral por ter acusado seu rival Republicano, Charles Hughes, de ser “the war candidate” e de estar a serviço dos “aproveitadores de Wall Street”, que estavam lucrando alto com as exportações para os países beligerantes da Europa (dos dois lados).

Wilson só prevaleceu no Colégio Eleitoral graças a uma pequena margem de 3.755 votos da Califórnia, e foi o primeiro Democrata a conseguir se reeleger para um segundo mandato desde Andrew Jackson nos anos 1830, isto porque uma larga fração do eleitorado americano expressou seu desejo de manter os EUA fora da guerra europeia. 

Mas, no ano seguinte, 1917, Wilson declarava guerra aos Impérios centrais, e o ingresso dos EUA no teatro do norte da Europa foi o fator principal que determinou a vitória da Entente contra o Reich alemão.


Atualmente, Donald Trump baseia parte de sua campanha pela reeleição pelo fato de não ter iniciado nenhuma nova guerra e por estar retirando tropas americanas de teatros estrangeiros de guerra (o que não é exatamente verdade, e generais do Pentágono hesitam, por razões de “estabilidade estratégica”, em fazer os EUA se retrairem do Oriente Médio e da Ásia Pacífico).

Talvez, o principal fator de uma eventual derrota de Trump no Colégio Eleitoral — os Republicanos sempre perdem no voto popular — seja a pandemia da Covid, que desempenharia, assim, um papel similar (mas não semelhante) ao da guerra do Vietnã para Lyndon Johnson. 

Independentemente de sua inevitável derrota no voto popular e provável insuficiência de votos no Colégio Eleitoral, Trump parece disposto a provocar a maior confusão imediatamente após o encerramento do processo de votação neste 3 de novembro de 2020.

Talvez seja um tumulto ainda maior do que aquele que ocorreu em 2000 por causa de poucos votos na Florida, cuja recontagem foi interrompida pela Suprema Corte e porque o candidato Democrata Al Gore, vencedor no voto popular nacional, resolveu conceder a vitória ao opositor Republicano George Bush filho.


O sistema eleitoral americano é a coisa mais irracional e anacrônica que existe, e que só persiste porque uma minoria de supremacistas brancos insiste em controlar as circunscrições eleitorais de uma maneira que os favoreça.

Mas, o peso eleitoral da maioria branca deixará de sê-lo em poucos anos mais: persistirá o sistema esquizofrênico atual?

Veremos, em pouco tempo mais, se a Suprema Corte será novamente chamada a dirimir os efeitos nefastos de um sistema eleitoral notoriamente e monstruosamente anacrônico. 


Os EUA estão precisando de um novo Tocqueville para apontar claramente os graves defeitos da democracia americana, que ele tinha saudado de maneira entusiástica (mas também com reservas “aristocráticas) cerca de 190 anos atrás.

Mais recentemente, eu “enviei” Tocqueville duas vezes ao Brasil e à América Latina, a serviço do Banco Mundial, para examinar nossas idiossincrasias políticas e econômicas, em dois ensaios que fazem parte de minha série de “clássicos revisitados”. Talvez eu cogite de uma terceira missão, pois o estado de nossa “democracia” se deteriorou terrivelmente desde suas duas precedentes visitas.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 2/11/2020


PS: Minhas "missões" de Tocqueville por aqui: 

2035. “De la Démocratie au Brésil: Tocqueville de novo em missão”, Brasília, 10 agosto 2009, 10 p. Resumo de relatório da missão ao Brasil empreendida por Alexis de Tocqueville, a pedido do Banco Mundial, para determinar a situação do Brasil em termos de democracia e de economia de mercado. Espaço Acadêmico (ano 9, n. 103, dezembro 2009, p. 130-138; ISSN: 1519-6186; link: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/8822 ; pdf: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/8822/4947). Postado no blog Diplomatizzando (12/07/2011; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/07/tocqueville-de-novo-em-missao-o-brasil.html). Relação de Publicados n. 939.


2958. “Da democracia na América do Sul: o que Tocqueville diria das atuais mudanças políticas e econômicas no continente?”, Brasília, 13 abril 2016, 43 p. Notas para palestra na UnB, em 14/04/2016. Inserido em formato pdf na plataforma Academia.edu (https://www.academia.edu/s/7fe09f1081) e anunciado no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/04/da-democracia-na-america-do-sul.html). Feita nova versão, em 20/05/2016, sob o título de “Tocqueville revê a agruras da democracia na América do Sul”, In: Camilo Negri, Elisa de Sousa Ribeiro (coords.), Retratos sul-americanos: perspectivas brasileiras sobre história e política externa, vol. IV (Brasília, DF: [s. n.], 2016, livro eletrônico. – Kindle eISBN: 978-85-448-0286-1, p. 10-56). Relação de Publicados n. 1238.


3284. “De la (Non) Démocratie en Amérique (Latine): a Tocqueville report on the state of governance in Latin America”, Brasília, 9 junho 2018, 41 p. Paper presented in the Estoril Political Forum; round-table “Brazil and Latin America: the challenges ahead”; postado em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/s/a4cbf778cf/de-la-non-democratie-en-amerique-latine-a-tocqueville-report-on-the-state-of-governance-in-latin-america), em Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/325809199_De_la_Non_Democratie_en_Amerique_Latine_A_Tocqueville_report_on_the_state_of_governance_in_Latin_America); divulgado no blog Diplomatizzando (17/06/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/06/de-la-non-democratie-en-amerique-latine.html). Publicado na Revista de Estudos e Pesquisas Avançadas do Terceiro Setor, REPATS (vol. 5, n. 1, janeiro-junho 2018, p. 792-842; ISSN: 2359-5299; link: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/REPATS/article/view/10020/5909DOI:http://dx.doi.org/10.31501/repats.v5i1%20Jan/Jun.10020). Relação de Publicados n. 1289.



Com Biden, Bolsonaro fica à deriva - Bernardo Mello Franco (Globo)

ELEIÇÕES AMERICANAS

Vitória de Biden deixaria Bolsonaro à deriva

Por Bernardo Mello Franco

O Globo, 01/11/2020 • 01:22


https://blogs.oglobo.globo.com/bernardo-mello-franco/post/vitoria-de-biden-deixaria-bolsonaro-deriva.html

 

Há dez dias, o ministro Ernesto Araújo disse não se importar com a perda de relevância do Brasil no cenário internacional. “É bom ser pária”, desdenhou, em discurso para jovens diplomatas. O isolamento do país já é uma realidade desde a posse de Jair Bolsonaro. Mas pode se agravar a partir de terça-feira, quando os Estados Unidos escolherão seu próximo presidente.

Uma possível vitória de Joe Biden será péssima notícia para o capitão e seu chanceler olavista. Os dois ancoraram a política externa numa relação de vassalagem com Donald Trump. Agora arriscam ficar à deriva se o republicano for derrotado, como indicam as pesquisas.

Quando ainda sonhava em ser embaixador nos EUA, o deputado Eduardo Bolsonaro posou com um boné da campanha de Trump. O pai chegou perto disso. Às vésperas da eleição, ele reafirmou a torcida pelo magnata. “Não preciso esconder isso, é do coração”, declarou-se.

Para bajular o aliado, o bolsonarismo pôs a diplomacia brasileira de joelhos. O Itamaraty abriu mão de protagonismo, deu as costas à América Latina e trocou a defesa do interesse nacional pela subordinação ao interesse americano. Em setembro, permitiu que o secretário Mike Pompeo usasse Roraima como palanque para agredir um país vizinho.

Na pandemia, Bolsonaro imitou a pregação de Trump contra a Organização Mundial da Saúde, o uso de máscaras e as medidas de distanciamento. O negacionismo da dupla abriu caminho para o avanço do vírus. Não por acaso, os EUA e o Brasil lideram o ranking de mortes pela Covid.

O capitão surfou a onda nacional-populista que produziu o Brexit, elegeu Trump e impulsionou partidos de extrema direita na Europa. Uma derrocada do republicano deixará essa tropa sem comandante. Será um alento para quem aposta no diálogo e na cooperação internacional, hoje sufocados pelo discurso do ódio e pela intolerância.

Biden está longe de ser um símbolo do progressismo. Mesmo assim, comprometeu-se com a defesa da democracia, do meio ambiente e dos direitos humanos. Isso significa que sua possível vitória provocará mudanças sensíveis nas relações entre Washington e Brasília.

No primeiro debate presidencial, Biden já avisou que pressionará Bolsonaro a frear o desmatamento da Amazônia. Ele acenou com uma cenoura e um porrete: a criação de um fundo de US$ 20 bilhões para estimular a preservação da floresta ou a imposição de sanções econômicas ao Brasil.

No dia seguinte, o capitão acusou o democrata de tentar suborná-lo. Além de exagerar no tom, conseguiu errar o primeiro nome do adversário de Trump. O bate-boca indicou o que vem por aí se Joseph — e não John — assumir a Casa Branca.

BERNARDO MELLO FRANCO

É colunista de política do GLOBO. Também passou pelo Jornal do Brasil e pela Folha de S.Paulo. Foi correspondente em Londres e repórter no Rio, em SP e Brasília. É autor de "Mil Dias de Tormenta - A crise que derrubou Dilma e deixou Temer por um fio"


domingo, 1 de novembro de 2020

Entre Biden e Trump, a América Latina fica na expectativa - Frederic Puglie (The Washington Times)

 Frederic Puglie é um jornalista americano que cobre a América Latina para o Washington Times, um jornal de direita americano. Ele sempre me telefona para pedir minha opinião sobre os temas de política externa, o que eu não me recuso a dar, embora ele selecione cuidadosamente apenas uma frase ou duas de uma conversa bem mais abrangente.

Eis a última matéria, cobrindo vários países latino-americanos.

Paulo Roberto de Almeida


 


 

'Heartfelt' views: Latin America watches, weighs in on U.S. election

Sharp policy shifts could be in the works after election

 

By Frederic Puglie - Special to The Washington Times - Wednesday, October 28, 2020

https://www.washingtontimes.com/news/2020/oct/28/latin-america-weighs-trump-biden-election

 

Americans choosing between President Trump and Vice President Joseph R. Biden on Tuesday will also have a say on what’s next for some 650 millions of their neighbors to the South, where the presidential race is a top topic of discussion on screens and around kitchen tables.

Any U.S. presidential election is bound to generate intense interest in Latin America, but leaders and ordinary citizens across Central and South America have tuned into — and sought to shape — the 2020 race in ways not previously seen. Issues such as immigration, trade and relations with problem states such as Cuba and Venezuela could take sharp turns next year depending on whether the U.S. is led by Republicans or Democrats.

Some are not just watching from the sidelines.

In a break with normal protocol, Brazilian President Jair Bolsonaro last week endorsed Mr. Trump for reelection. He said there was no “need to hide [his] heartfelt” views.

In Colombia, critics say some lawmakers have been actively “campaigning” for both Mr. Trump and Mr. Biden as the country’s troubled, U.S.-backed peace deal ending a long leftist insurgency hangs in the balance.

In Argentina, meanwhile, Buenos Aires college student Daniel Sandrea said he was keeping a close eye on the election unfolding on the other side of the hemisphere.

When the Biden fan told friends on social media that he was happy to be challenged on his views, he quickly found himself debating American politics not with his Florida-based relatives but with a fellow Venezuelan emigre living in Chile.

“We are in disagreement,” Mr. Sandrea said with a laugh. “He explained his position, and, well, I explained mine.”

Analysts say such cross-continental attention should come as no surprise. Mr. Trump’s style and record, which have long been catalysts of passion for backers and detractors alike, and a uniquely volatile campaign have made for compelling drama.

“There has never been anything remotely close in the level of attention, interest and concern … as there is with this election,” said Michael Shifter, president of the Inter-American Dialogue in Washington. “It’s just quite striking.”

Mr. Trump’s tough line, his supporters say, has forged an unexpectedly productive diplomacy with key Latin American states, leading the fight against illegal drugs and aggressively confronting leftist regimes in Venezuela and Cuba. As for Mr. Biden, he served as a point man to Central America as vice president and helped shepherd through a $750 million aid package for the region in 2015.

Mr. Biden’s campaign platform calls for a $4 billion aid package to struggling Central American states as a key plank in his immigration agenda.

The election’s impact on policy could be tested quickly no matter who wins the election. The U.S. is scheduled to host to the ninth Summit of the Americas next year. It will be the first time in more than a quarter century that the hemispherewide gathering will be on U.S. soil.

How a second Trump term or a Biden administration would turn out often depends on the idiosyncrasies of individual Latin American nations and leaders.

 

BRAZIL: The ‘other’ Trump

For the “Trump of the Tropics,” a moniker that the conservative maverick Mr. Bolsonaro has long embraced, the outcome of the U.S. election may make a particularly stark difference.

The close ties that the populist leader has sought with the United States contrast sharply with the lukewarm feelings that for decades — under U.S. and Brazilian presidents of all ideological stripes — defined Brasilia’s view of Washington.

The government, and Bolsonaro in particular, try hard to highlight this special relationship,” said Ambassador Paulo Roberto de Almeida, a former head of the IPRI think tank at Brazil’s foreign ministry.

Among other things, this helped Mr. Trump — who “launched a great offensive to guarantee Brazil’s support” — install American Mauricio Claver-Carone as president of the Inter-American Development Bank, a post traditionally held by a Latin American, Mr. de Almeida said.

“Bolsonaro and Trump have this bromance of sorts and have this affinity both ideological and temperamental,” Mr. Shifter said.

Although a pragmatic President Biden might be inclined to let bygones be bygones, it remains to be seen whether that would hold true for Mr. Bolsonaro, he added.

“There are going to be some strains on issues like the environment,” Mr. Shifter said. “To what extent Bolsonaro is prepared to accommodate to that changing agenda, that’s going to be a big question.”

 

MEXICO: An AMLO dilemma

Mr. Bolsonaro and Mr. Trump may be cut from the same cloth in style and substance, but one of the big surprises of Mr. Trump’s first term has been the cordial and productive relationship he forged with leftist Mexican President Andres Manuel Lopez Obrador, a critic in the past of what many see as overbearing U.S. policies.

Almost immediately upon taking office in late 2018, Mr. Lopez Obrador toned down his long-standing anti-Trumprhetoric, committed to ratifying the United States-Mexico-Canada Agreement and in July made his first foreign trip to sign the free trade pact alongside his counterpart in the White House.

Mr. Trump has praised Mexico’s efforts to crack down on streams of immigrants from Central America, and the two governments recently struck a deal on a water-sharing accord that threatened to incite tensions between the two countries’ powerful agricultural sectors.

By staying firmly on Mr. Trump’s good side, Mr. Lopez Obrador — widely known by his initials as “AMLO” — defied his base and the persistently negative views that most Mexicans hold of Mr. Trump, said Jose Del Tronco of the Latin American Faculty of Social Sciences in Mexico City.

“Because of [Mr. Trump‘s] positions on immigrants and ‘the wall,’ there is a kind of general expectation in Mexico that the Democrats will win the election,” said Mr. Del Tronco, leading critics to warn that Mr. Lopez Obrador’s accommodating attitude toward Mr. Trump could come back to haunt him.

The real challenge of a Biden administration, though, would be the expected renewed focus on human rights issues, where common ground is easier to find in theory than in practice, Mr. Del Tronco added.

“There would not be a conflict of visions” with Mr. Biden, he said, “[but] the real policies — the public-safety policies, such as the [new] national guard and the military presence in public spaces to fight crime — those could result in conflict.”

 

COLOMBIA: Florida calling

Such a mismatch also could spell trouble for conservative Colombian President Ivan Duque. Mr. Trump has dubbed him a “really good guy,” so he has had little to fear other than an occasional slap on the wrist over Bogota’s inability to rein in coca production.

Once again, that would likely change if Mr. Biden moves into the White House, Mr. Shifter said.

“Broadening the agenda in Mexico and Colombia is going to make AMLO and Duque uncomfortable,” he predicted. “They will not necessarily embrace greater scrutiny on human rights abuses and corruption, which Trump has largely ignored, [and] they like getting a free pass on these issues.”

Perhaps unsurprisingly, then, Mr. Duque’s ruling Democratic Center and the opposition Progressive Movement have been anything but coy about taking sides, said Juan Carlos Ruiz Vasquez of Bogota’s Del Rosario University.

“The Democratic Center is trying to campaign for Trump in Florida,” Mr. Ruiz Vasquez said, “mobilizing Colombians who already have the right to vote.”

Meanwhile, Sen. Gustavo Petro’s endorsement of Mr. Biden is playing in heavy rotation in Florida commercial breaks, he said, though probably not in the way the leader of the Progressive Movement intended.

“[His] statements were used in a Trump campaign ad,” Mr. Ruiz Vasquez marveled.

 

VENEZUELA: Side effects

Few issues move Colombian American voters like the ever-deteriorating meltdown in neighboring Venezuela. Mr. Trumphas tried to capitalize on the concern by repeatedly branding his opponent a “socialist.”

Although the Trump administration’s take-no-prisoners style has been compared at times to Nicolas Maduro’s, Mr. Trump’s hawkish approach to the Venezuelan leader and Mr. Maduro’s allies in Havana have earned him enduring support within the Venezuelan and Cuban diasporas in the U.S.

“We see that President Trump has taken positions of solidarity, and that has also generated a response of solidarity with Trump,” said Milos Alcalay, a former Venezuelan ambassador to the United Nations.

But the Trump administration’s tough sanctions “are more popular in Miami than they are in Caracas,” Mr. Shifter said. Mr. Biden might reduce the saber-rattling, he added, but he is unlikely to prove as dovish as Republicans would have voters believe.

“I don’t think Biden or his team have many illusions that Maduro is anything but a brutal, ruthless dictator,” Mr. Shifter said. “The difference is in style and approach. You’re not going to hear, ‘All options are on the table.’”

Still, even if Mr. Biden proves tough on Mr. Maduro, the possibility of a more accommodating approach to those who have propped up the strongman’s rule would concern him just as much, Mr. Alcalay said.

“It’s not just about the U.S.-Iran, U.S.-China and U.S.-Cuba bilateral relationships,” he said, “but about the negative effect these countries have maintaining the Maduro regime in power — with all its implications.”

 

ARGENTINA: Maps and money

A broader map, meanwhile, may also be on the mind of Cristina Fernandez, Argentina’s leftist vice president who — though nominally second in command to President Alberto Fernandez, no relation — is widely considered the driving force in Buenos Aires policy these days.

During her own presidency from 2007 to 2015, Ms. Fernandez forged close ties with Venezuela’s Hugo Chavez and Mr. Maduro, as well as leftist leaders in Brazil, Bolivia, Ecuador and Uruguay, before countries across the continent drove the left from power.

But the triumph of Evo Morales’s Movement for Socialism in Bolivia’s election this month has given Argentina’s left-leaning populist leaders new hope that the tide may be turning once again, said Mariano de Vedia of Buenos Aires‘ La Nacion daily.

“There is, of course, a bet on Trump losing [and on] a Democratic triumph giving the government a direct benefit [that] would help it form a friendlier regional map,” Mr. de Vedia said.

That a Biden administration would roll out the red carpet for the Fernandez government, though, may be little more than wishful thinking, the political commentator said.

“The scene being set is, in truth, hypothetical. There is no evidence they’ll have a better time” with Mr. Biden, Mr. de Vedia said. He noted that Ms. Fernandez endured a “pretty bad” relationship with President Obama, which “failed to yield her any advantage.”

Many in Buenos Aires seem to fail to appreciate that Mr. Trump lent a helping hand in recent talks to renegotiate its sovereign debt with the International Monetary Fund, said Gustavo Cardozo of the Argentine Center for International Studies.

“We needed the help of the White House to be able to make a deal with the IMF …,” Mr. Cardozo said. “Trump has not been opposed to helping Argentina, and that has been very positive.”

There is no guarantee that relations will improve markedly with a Democratic administration in Washington, Mr. Cardozo said, and many parts of the relationship may have to be renegotiated from scratch.

“Nobody knows where [Mr. Biden], if elected, will stand” on this, he said, “so it would mean drawing up these deals from zero.”

 

THE HEMISPHERE: Monroe or multilateralism?

Beyond individual issues and countries, analysts say, the picture is cloudy for how Tuesday’s vote will affect U.S. policy, attention and resources devoted to the region as a whole.

Mr. Trump would be bound to continue a “chairman of the board” approach in hemispheric fora such as the Organization for American States, Inter-American Dialogue President Emeritus Peter Hakim predicted. On issues such as immigration and security, the U.S. has proved more assertive since Mr. Trump took office.

After all, the Trump administration has “declared that the Monroe Doctrine is alive and well, thank you, after it had been really seen as obsolete by previous governments,” Mr. Hakim quipped.

Mr. Biden, on the other hand, might take more of a “first among equals” approach. Mr. Hakim predicted that there would be at least a “change in tone.”

“The notion that the U.S. plays a special role — that it has a certain leadership responsibility for the hemisphere — will diminish,” he said, “[though] it will not disappear.”

 

Copyright © 2020 The Washington Times, LLC.