No primeiro dia de março, antes até das piores medidas de Trump de desmantelamento do sistema multilateral de comércio e do próprio multilateralismo político, eu já evidenciava minhas piores apreensões quanto ao itinerário do mundo, inclusive porque não via tampouco qualquer racionalidade vinda do próprio Brasil.
Três meses depois, acredito que a situação não melhorou nem um pouco, mesmo com a saída de um louco da assessoria da Casa Branca, ao mesmo tempo em que qualquer perspectiva de pacificação em qualquer uma das guerras mostra-se mais distante do que nunca. Por isso resposto aqui o que postei no início de março:sábado, 1 de março de 2025
Das sombras, emerge um mundo mais claro, mas talvez ainda tenebroso
Certos eventos momentosos podem ter o mérito de colocar as coisas no lugar.
A realidade do momento parece ser esta: a Europa comunitária e algumas poucas nações democráticas associadas, entre elas a Noruega e o Canadá, se descobrem terrivelmente solitárias em face de um novo mundo subitamente revelado: líderes autoritários pretendem estabelecer uma nova ordem global, na qual não mais prevaleceriam os princípios duramente estabelecidos ao cabo da Segunda Guerra Mundial e as regras multilateralmente acordadas do Direito Internacional. Seria um mundo no qual a vontade dos mais poderosos se imporia sobre todos os demais Estados. Ou seja, uma ordem imperial, ainda que não uniforme, sequer unificada.
A maioria dos demais Estados da comunidade internacional assiste, entre indiferentes e preocupados, ao desenrolar de iniciativas e declarações que revelam um contexto altamente incerto no tocante à paz e à segurança internacionais.
Não haverá um novo e devastador conflito global, mas as turbulências são inevitáveis, quando interesses nacionais mesquinhos e meras paixões contingentes se sobrepõem ao necessário diálogo diplomático.
Os Estados nacionais, em maior número, mas dispondo de menor poder do que as grandes potências imperiais, vão precisar decidir quais posturas devem ou podem assumir, em face das incertezas, ou mesmo caos, que apontam no novo horizonte, que parece ser de grande confusão mental no poder ainda hegemônico e de algumas convicções nos dois poderes revisionistas do outro lado. Entre esses Estados nacionais figura o Brasil, cuja postura poderá pender entre a modéstia de suas limitadas capacidades intrínsecas e as habilidades de sua diplomacia tida por competente; entre ambas está o poder político legitimamente eleito, mas hesitante entre valores imanentes e interesses do momento.
Tenho fundadas dúvidas sobre as opções a serem adotadas.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4862, 1/03/2025