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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 2 de agosto de 2014

Cronicas do nanismo diplomatico - Ricardo Velez-Rodriguez

POLÍTICA EXTERNA MALUCA EM AGOSTO MÊS DE DESGOSTO
Capa da obra A era dos assassinos (Rio: Record, 2008), dos historiadores russos Yuri Felshtinsky e Vladimir Pribilovski.

Eta mundo velho sem porteira!” como dizia aquele personagem gaúcho de Erico Veríssimo em O tempo e o vento. Os tempos que vivemos não são para menos. Particularmente no Brasil, onde cada dia pioram os índices econômicos e as expectativas políticas ficam um tanto incertas. Era para a opinião pública já ter esconjurado Dilma. Mas processo eleitoral é isso, está sujeito a esse sobe e desce das intenções de voto. Eu, por mim, acho que chega de PT no poder. O país não aguenta mais tanta mediocridade.

Mas, se por aqui chove, fora do Brasil não para de chover. Temos sido inundados nas últimas semanas por notícias pouco otimistas. Os dois fatos que estão marcando de forma mais nítida o noticiário internacional são, de um lado, a criminosa derrubada do Boeing da Malaysia Airlines na Ucrânia, com os seus quase trezentos mortos e, em segundo lugar, o conflito israelense-Hamas em Gaza.

Por trás de ambos os fatos esconde-se a mão torta dos aliciadores. No caso do Boeing derrubado na Ucrânia, aparece a sombra de Putin. No caso do conflito entre Israel e o Hamas, desenha-se a silhueta do Irã e dos radicais do mundo islâmico, que com o seu apoio indiscriminado aos terroristas do Hamas pretenden varrer do mapa Israel e iniciar assim a ofensiva final contra o Ocidente.

No caso das tramoias de Putin para desestabilizar a Ucrânia depois da anexação da Criméia, a estratégia do czar não é nova e obedece ao figurino histórico da Grã Rússia: se firmar no panorama internacional mediante uma série de ações que deixem clara a vocação despótica e conquistadora da antiga potência, metendo medo nas potências ocidentais. A mensagem foi clara no caso do assassinato dos passageiros e tripulantes do Boeing 777: não mexam com os interesses estratégico-expansionistas da Rússia. Esse é assunto interno e de prioridade A para o czar e a sua patota, que configuram o que os críticos do regime russo Yuri Felshtinsky e Vladímir Pribilovski denominaram de “a era dos assassinos”.[1]

No caso do conflito entre israelenses e terroristas do Hamas na Faixa de Gaza, a pretensão estratégica das potências extremistas que os apoiam, a começar pelo Irã, também é clara: varrer do mapa primeiro Israel e, depois, todas aquelas potências ocidentais (a começar pelos Estados Unidos) que são consideradas infiéis pelos militantes djadistas. Os ataques indiscriminados contra os cristãos no Iraque e na África formam parte dessa estratégia maluca, de alcance universal. É curioso observar como os governos moderados do mundo islâmico, a começar pela Arábia Saudita, a Jordânia, os Emirados Árabes e o Egito, são definitivamente contrários ao Hamas e às suas teses terroristas.

O trágico para nós, brasileiros, é que o governo da presidente Dilma se alinhou, na maluca política externa da petralhada comandada pelo chanceler de fato Marco Aurélio García, com as posições que beneficiam tanto a Putin quanto ao Hamas, tornando o nosso país um “anão” diplomático (na expressão cunhada pelo governo israelense, que traduz a indignação e a perplexidade das potências ocidentais com a leviandade da política externa brasileira).

Não temos mais um pensamento estratégico que comande as nossas relações exteriores. Tudo se faz de improviso, ou de acordo aos interesses ideológicos dos petralhas. Mas não se leva em consideração nem a longa trajetória do Itamaraty, nem os interesses da sociedade brasileira, que se recusa a ver convertido o Brasil num pária internacional, alinhado com o que há de pior no cenário global: a Cuba dos irmãos Castro, a ditadura norte-coreana, o Hamas e o czar Putin.



[1]FELSHTINSKY, Yuri e PRIBILOVSKI, Vladimir. A era dos assassinos – A nova KGB e o fenômeno Vladimir Putin. (Tradução de Marcelo Schild). Rio de Janeiro: Record, 2008.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Cronicas do nanismo diplomatica - Demetrio Magnoli (O Globo)

Anão diplomático

Desde que subiu a rampa do Planalto, Lula conferiu à política externa as funções de promover o seu prestígio pessoal 

Demétrio Magnoli

O Globo,  31/07/2014

É possível errar o chute e balançar as redes do gol. Enquadra-se nessa categoria dos erros certeiros o rótulo de “anão diplomático” pregado ao Brasil por Yigal Palmor, porta-voz da chancelaria de Israel. Um país não é um anão diplomático por dizer sempre coisas equivocadas, mas por carecer de credibilidade mesmo quando faz declarações corretas. O Brasil converteu-se num anão diplomático desde que, 11 anos atrás, Lula inaugurou a sua “nova política externa”. Palmor pode ser uma figura insignificante, o “sub do sub do sub do sub do sub do sub”, nas palavras gentis do assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, mas exprimiu em termos oficiais, pela primeira vez, o que é voz corrente nos meios diplomáticos internacionais.
A política externa constitui, de modo geral, uma esfera singular na qual os governos subordinam o jogo partidário doméstico a um certo consenso político que se costuma denominar interesse nacional. A marca da “nova política externa” lulista é a violação dessa regra. Desde que subiu a rampa do Planalto, Lula conferiu à política externa as funções de promover o seu prestígio pessoal e de atender às idiossincrasias ideológicas do PT, contrabalançando no plano simbólico a ortodoxia do governo no terreno da economia. Dilma Rousseff persistiu na linha de seu patrono, subtraindo apenas a primeira das funções (afinal, dois sóis não devem brilhar no mesmo firmamento). O produto final do desprezo pelo interesse nacional está sintetizado na expressão pouco diplomática de um “sub do sub do sub do sub do sub do sub” que não foi desmentida por nenhum de seus (supostos) seis chefes.
Nossa Constituição, no artigo 4, enumera os princípios que deveriam reger a política externa brasileira, esclarecendo o que são os interesses nacionais permanentes. A “prevalência dos direitos humanos” emerge, ali, como segundo princípio, antes da “não intervenção” nos assuntos internos de outras nações. Contudo, sob o lulismo, o Itamaraty acostumou-se a silenciar sobre as violações de direitos humanos cometidas por regimes autoritários “amigos”, invocando como pretexto o princípio da “não intervenção”. Cuba não será molestada por uma declaração brasileira se encarcerar ou fuzilar dissidentes e a Venezuela nada ouvirá se utilizar um Judiciário submisso para cassar mandatos de opositores e aprisioná-los sem provas ou cercear as liberdades de expressão e imprensa. A exceção é Israel: no caso particular do Estado judeu, a “não intervenção” cede precedência à “prevalência dos direitos humanos”, numa oscilação de pesos e medidas típica de um anão diplomático.
A inconsistência tem o condão de destruir a credibilidade diplomática dos países que negociam princípios. O Brasil calou-se diante da anexação da Crimeia pela Rússia, violando os princípios constitucionais da “não intervenção” e da “igualdade entre os estados” com a finalidade mesquinha de não desagradar a Vladimir Putin pouco antes da cúpula do Brics em Fortaleza e Brasília. Pelo mesmo motivo, logo após o encerramento da reunião, fechou-se em constrangedor mutismo diante da criminosa derrubada da aeronave da Malaysian Airlines no leste da Ucrânia. O anão diplomático não distingue o certo do errado: age caso a caso, segundo tortuosas conveniências políticas e deploráveis tiques ideológicos. Figuras muito mais qualificadas que um representante da ultra-direita do gabinete israelense têm motivos para repetir o epíteto humilhante escolhido por Palmor.
Na nota oficial divulgada pelo Itamaraty, o governo brasileiro condena “o uso desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza”, uma declaração precisa, embora incompleta. As leis de guerra obrigam os estados a usar todos os meios para minimizar as vítimas civis dos efeitos de operações militares. Israel comete crimes de guerra ao bombardear cidades e campos de refugiados na Faixa de Gaza, uma área com estatuto de território ocupado, o que agrava os crimes. O anão diplomático não disse isso, mas por um motivo oportunista: a acusação precisaria se estender também ao Hamas, que lança foguetes desgovernados sobre Israel e, sistematicamente, utiliza os civis palestinos como escudos humanos para seus militantes.
Palmor talvez seja seis vezes “sub”, mas falou em nome do governo de Israel. Marco Aurélio Garcia é “sub” uma vez só: tem status de ministro e opera como chanceler alternativo, algo como um comissário do lulopetismo para política externa. Não há, portanto, como duvidar da natureza oficial da declaração na qual caracterizou como “genocídio” a operação militar israelense na Faixa de Gaza. A palavra, escolhida com um propósito, é muito mais grave que a frase ofensiva de Palmor.
Genocídio é o extermínio deliberado de um povo. O massacre, deliberado ou não, de civis na Faixa de Gaza é um crime de guerra, mas não pode, nem de longe, ser classificado como genocídio. A Alemanha nazista praticou genocídio ao enviar milhões de judeus para as câmaras de extermínio durante a Segunda Guerra Mundial. A falsa acusação de genocídio é assacada regularmente contra Israel, desde a fundação do Estado judeu, por movimentos antissemitas de extrema-direita e extrema-esquerda. Por meio dela, fabrica-se um abominável paralelo entre Israel e a Alemanha nazista. A finalidade da manobra discursiva, como sabe perfeitamente Marco Aurélio Garcia, é negar a legitimidade da existência do Estado judeu. O anão diplomático rebaixa-se a um ponto extremo quando se refestela no pântano da delinquência ideológica antissemita.
É uma vergonha sem fim. Dilma Rousseff disse que, na sua “opinião”, não ocorre um “genocídio”, mas um “massacre”, na Faixa de Gaza, deixando implícita a avaliação de que a seleção da palavra é uma questão de gosto. O anão diplomático simula desconhecer tanto o significado das palavras quanto o peso da história.

Demétrio Magnoli é sociólogo

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/anao-diplomatico-13437140#ixzz396zbD7ct
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terça-feira, 29 de julho de 2014

Mais crônicas do nanismo diplomatico - Andres Oppenheimer (MH)

“O Brasil passou dos limites em relação a Israel”
Por Andres Oppenheimer
The Miami Herald, 28/07/2014

Enquanto a maioria dos países condenou a violência em Gaza, na maior parte dos casos culpando ambos os lados e dirigindo críticas em variados níveis a um e a outro, o Brasil passou dos limites ao simplesmente endossar a versão do grupo terrorista Hamas para o conflito — indo além até mesmo de países como o Egito e a Jordânia em suas ações contrárias a Israel.
Em nota emitida em 23 de julho, o governo da presidente brasileira Dilma Rousseff declarou: “Condenamos energicamente o uso desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza, do qual resultou elevado número de vítimas civis”.
E acrescentou que seu embaixador em Israel foi chamado ao Brasil para consultas — algo que nem mesmo países árabes como o Egito ou a Jordânia fizeram até este momento em que escrevo.
Tal comunicado alinha o Brasil com Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador e outros países que automaticamente tomam o partido de ditaduras militares e violadores dos direitos humanos em todo o mundo. Agora, há rumores de que o Brasil pretende se manifestar contra Israel na Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, em 29 de julho.
Muitos outros países condenaram o “uso desproporcional da força” por Israel, contudo a maioria deles — inclusive a Argentina, que normalmente acompanha os posicionamentos do Brasil — condenou simultaneamente o Hamas pelos ataques sistemáticos de foguetes contra alvos civis israelenses, que segundo Israel deflagraram o atual ciclo de violência.
Ademais, os Estados Unidos e os 28 membros da União Europeia, que consideram o Hamas um grupo terrorista, condenaram-no especificamente pelo uso de civis como escudos humanos.
Em 17 de julho, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina, conhecida pela sigla UNRWA, anunciou ter encontrado 20 foguetes do Hamas escondidos numa escola da ONU em Gaza. Poucos dias depois, a UNRWA anunciou outra descoberta idêntica em outra escola da ONU.
Após a crítica do Brasil, dirigida unicamente a Israel, o ministro das Relações Exteriores israelense emitiu uma declaração, afirmando que a atitude do Brasil “demonstra a razão pela qual o gigante econômico e cultural continua sendo politicamente irrelevante” no cenário internacional. Representantes de Israel esclareceram que a reação incomumente enérgica foi provocada pela decisão do Brasil de convocar seu embaixador para consultas.
Em contraste, os Estados Unidos e os 28 integrantes da União Europeia iniciaram suas declarações sobre o conflito em Gaza destacando o direito de Israel a se defender.
O Conselho da União Europeia, que inclui a França, a Bélgica e vários outros países com populações muçulmanas numerosas, manifestou-se no dia 22 de julho no sentido de que “a União Europeia condena firmemente o disparo indiscriminado de foguetes pelo Hamas contra Israel”.
E completou: “A União Europeia condena veementemente a convocação (do Hamas) da população civil de Gaza para atuar como escudos humanos. Embora reconheça o legítimo direito de Israel a se defender contra quaisquer ataques, a UE enfatiza que a operação militar israelense deve ser proporcional e em consonância com a legislação humanitária internacional”.
O Brasil pode ter chamado seu embaixador por razões políticas internas, bem como pelo desejo de agradar aos estados radicais árabes e africanos, em sua busca pela obtenção de um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
José Miguel Vivanco, responsável pela divisão das Américas da organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch, ressalta que o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva — mentor político de Rousseff — posicionou-se consistentemente em favor dos piores violadores dos direitos humanos do mundo nos anos em que ocupou a presidência.
Mais recentemente, com Dilma Rousseff, o Brasil melhorou significativamente sua participação nas votações sobre o tema no Conselho de Direitos Humanos da ONU, porém o mesmo não ocorreu em outros fóruns diplomáticos. Na América Latina, por exemplo, o Brasil permaneceu em silêncio em relação às inúmeras violações aos direitos humanos cometidas pelas forças de segurança da Venezuela, relata Vivanco.
“O Brasil está fazendo a coisa certa ao protestar com veemência contra Israel pelo uso desproporcional da força, que resultou num grande número de mortes de civis, mas ao mesmo tempo não podia deixar de condenar os ataques indiscriminados e constantes de foguetes do Hamas contra a população civil israelense”, disse-me Vivanco.
Minha opinião: Israel pode ser acusado de falhar ao evitar a morte de civis em casos específicos durante o conflito de Gaza, e o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pode ser culpado por não fazer o bastante para acelerar a tão necessária criação de um Estado palestino, porém Israel não pode ser condenado por se defender.
Não se pode esperar de nenhum país no mundo que fique inerte enquanto um grupo terrorista dispara milhares de foguetes contra suas maiores cidades e, depois, usa civis como escudos humanos. E menos ainda quando, diferentemente do Al Fatah e outros grupos palestinos mais moderados, o Hamas conclama à aniquilação de Israel e ensina às crianças palestinas que matar judeus é uma prestação de serviço a Alá.
Se o Brasil quer ser levado a sério como uma democracia moderna e um ator internacional responsável, deveria agir como tal.

domingo, 27 de julho de 2014

Mais crônicas do nanismo diplomatico - Wandell Seixas e o conflito Israel-Hamas

Brasil é mesmo um “anão diplomático”

Wandell Seixas
Diário da Manhã, 26/07/2014

O governo brasileiro reagiu à pecha de "anão diplomático", feita pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel. O Itamaraty, sediado em Brasília, fizera críticas à postura israelense no conflito com os palestinos na Faixa de Gaza, considerando "desproporcional" as forças entre os contendores. "Esta é uma demonstração lamentável de que o Brasil, um gigante econômico e cultural, continua sendo um anão diplomático", disse o porta-voz Yigal Palmor quinta-feira, conforme o jornal The Jerusalem Post.


O episódio provocou a ira do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e chamou o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Henrique Sardinha, para consultas. O comportamento brasileiro é deplorável, demonstrando uma atitude unilateral. A diplomacia brasileira procurou manifestar a "desproporcionalidade" na ofensiva israelense na região.


O governo Dilma Rousseff se esquece das atitudes insanas do Hamas, grupo terrorista com o apoio de outros grupos terroristas supostamente sustentados pelo Irã. Desde que o regime muçulmano tomou conta do Irã a palavra de ordem "é acabar com os judeus". Antes de tudo, a luta entre israelenses e parte do segmento árabe é milenar. Advém dos tempos bíblicos. Quantas vezes Jerusalém não foi palco de cenário de destruição?


Israel é um país do tamanho de Sergipe, com uma população de cerca de seis milhões de pessoas. Foi criado com a participação de um brasileiro, que presidia a sessão das Nações Unidas. Osvaldo Aranha é venerado naquele país, que já deu oito prêmios Nobel a seus ilustres cidadãos. Pela sua pequena dimensão exige segurança porque está cercado praticamente de inimigos por todos os lados. Só a Síria dispõe de um exército de mais de 500 mil soldados preparados para a guerra. Em decorrência da constante ameaça que pesa sobre Israel, suas forças armadas são as mais preparadas do mundo e seu serviço de informações, como o Mossad, amplamente articulados.


O país é essencialmente democrático, dispondo de inteira liberdade de imprensa e de religião. As mulheres participam ativamente da política e servem ao exército. Golda Meir, foi eleita presidente. O eleitor tem optado mais pelo Likud, mais conservador, em detrimento do Partido Trabalhista, mais liberal, justamente por causa da interminável guerra. Nos países vizinhos, a modernidade anda devagar. Nem todas as mulheres podem chegar às escolas. Seu papel ainda é de mulher parideira e de forno e fogão.


Os moshave e os kibutzim, que serviram inclusive de experiência agrária no Nordeste de Goiás no governo Mauro Borges, são modelos de produção cooperativista. O colono hebreu precisava dispor de sistemas de irrigação por controle remoto por causa dos constantes ataques inimigos. Grande parte das casas necessita de abrigo subterrâneo também por causa das bombas, dos foguetes e dos mísseis dos praticantes do terrorismo.


É deplorável que o governo petista em momento algum tenha condenado ou mesmo censurado o comportamento do Hamas. Sua maneira de agir é odiosa. Só mesmo quem acompanha o conflito entre israelenses e palestinos mais de perto, quem conheceu a vida desses povos, sabe. Os agentes do Hamas se utilizam das escolas e dos hospitais justamente para sofrerem ataques das forças de Israel. A morte de civis, sobretudo crianças e idosos, é o eles querem, para ganhar espaço na mídia internacional, protestos no mundo e reações intempestivas como a da diplomacia brasileira.


Que moral o governo petista tem para condenar Israel? É só lembrar um pouco dos grevistas de fome em Cuba contra o regime de Fidel Castro? O Lula estava em Havana e não movimentou uma palha em favor desses pobres desgraçados? Os jogadores de basquetebol e os judocas cubanos numa temporada no Brasil pedirem asilo e o governo mandou-os de volta à Havana? Os direitos humanos estão sendo feridos na Venezuela, desde Hugo Chaves e Maduro e onde está o apoio diplomático aos venezuelanos? O senador de oposição boliviano Roger Pinto Molina mofou na Embaixada do Brasil em La Paz. Precisou fazer uma aventura para passar pelas fronteiras dos dois países. Em Brasília, precisou do apoio do Congresso Nacional, liderado pelo deputado federal Ronaldo Caiado, para que lhe fosse assegurado o direito de permanência no Brasil.


O governo brasileiro devia isto sim, participar das negociações entre Israel e Palestina para um acordo de paz duradoura. Afinal, o Brasil se comporta mesmo como um anão diplomático.




(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, bolsista em cooperativista agrícola pela Histradut, Tel Aviv, Israel, e autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste)

sábado, 26 de julho de 2014

Concurso de gigantes do nanismo diplomatico - Bolivar Lamounier

Parece que as expressões colaram. Mas como o Brasil é grande por sua própria natureza, cabe sempre acrescentar a expressão gigante...
Paulo Roberto de Almeida

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De Messina a Tel Aviv: crônica do nanismo diplomático

Já tivemos diplomacia de melhor calibre. O que temos hoje é patético.
Bolivar Lamounier
Amálgama, 25/07/2014


diplomacia
por Bolívar Lamounier (25/07/2014)
em Brasil

Messina é o estreito que separa a Sicília, uma ilha, da Calábria, na Itália continental. Há milênios, sua “estreiteza” tem dado ensejo a uma vasta mitologia sobre os riscos a que aí estariam sujeitos os navegantes. Na Eneida, por exemplo, Virgílio discorre sobre a ameaça que os rochedos de ambos os lados representavam para a frágil felicidade de Enéas. A origem dos perigos seriam Cila e Caríbdis, entidades do mal que habitavam as profundezas e de tudo faziam para arremessar de um lado ao outro os incautos marinheiros que viam se aproximar. Vem daí a expressão “viver entre Cila e Caríbdis”: viver entre perigos contrapostos, mas interligados, simultâneos e complementares.
Equivocados em praticamente tudo o que fazem, os “estadistas” do PT quiseram experimentar as emoções da travessia, mas perderam-se e foram parar em Israel. Em tese, tal desnorteio deveria tê-los deixado no lucro: mais vale bater-se contra figuras semânticas que contra os temíveis rochedos de Messina. Mas para eles, o barato saiu caro. Colhidos em cheio pelo revolto mar da ignorância, uma parte de sua expedição esborrachou na pedreira do ridículo; atirada ao lado oposto, foi a outra parar nas alturas da empáfia e da megalomania.
A malfadada embarcação que se espatifou no ridículo tinha no comando o então presidente Luís Inácio Lula da Silva. O fato ocorreu nos idos de março de 2010. Desprovido do mais elementar sentido de proporção, Lula se propôs, nem mais e nem menos, a produzir a tão desejada paz entre israelenses e palestinos. Não lhe ocorreu que um feito dessa ordem, se fosse possível, faria a glória dos chefes de Estado do planeta inteiro, a começar pelos das superpotências. Em questão de minutos, os presidentes dos Estados Unidos e da Rússia e o “cumpanhero” Secretário Geral do PC chinês desembarcariam em Tel Aviv – de mãos dadas e saltitando e cantarolando como personagens de um filme de Doris Day.
Mas Lula não percebeu isso; não percebeu porque seu agigantado umbigo às vezes não lhe permite reconhecer a existência de um mundo real – um mundo “externo à consciência”, se posso aqui lembrar o Marx das Teses sobre Feuerbach. Não tendo ele mesmo se dado conta da atroz patetice que estava para encenar, teria havido entre os convidados a integrar a comitiva – ministros, assessores e puxa-sacos em geral – um pelo menos que o alertasse e tentasse demover de tamanho despropósito? Eu adoraria saber a resposta, mas deixo a questão para os estudiosos da diplomacia lulista. O desfecho, como não poderia deixar de ser, foi o único concebível. Querendo se fazer passar por um leão, o rato tudo o que conseguiu foi ficar rouco.
A segunda parte da história aconteceu na última quarta, e confesso que escrever sobre ela não me é menos penoso que rememorar o besteirol lulista de 2010. Tentei caracterizá-la como um caso de empáfia e megalomania, mas não sei se chego a apreendê-la em sua essência. Uma tragicomédia, talvez? Não, não.
Comecemos pelo cenário, no que ele tem de mais triste e assustador. De um lado o Hamas, em seus esconderijos na faixa de Gaza, disparando mísseis contra as cidades israelenses; do outro a aviação e o exército de Israel devolvendo a carga com juros e correção monetária. O número de vítimas palestinas – inclusive crianças – é muito maior que o de vítimas israelenses, mas quem em sã consciência apostaria no contrário? Deflagre-se mil vezes tal processo e mil vezes será esse o resultado, dada a desproporção entre as forças contendoras. O Hamas ignorava isso?
Voltemos porém à nossa história, quero dizer, a essa “apagada e vil tristeza” que tem sido a política externa brasileira na era petista. Depois do papelão (ou pastelão, se preferem) de 2010, já não tínhamos o direito de subestimar a ignorância das realidades internacionais por parte de Lula e seu partido – e não será agora, diante da pancada que Dilma Rousseff nos desferiu quarta-feira, que o vamos ter. A “presidenta” simplesmente mandou chamar o nosso embaixador em Israel. Para quê? Para protestar contra as ações militares do país nos últimos dias, obviamente.
No protocolo diplomático, é isso o que retirar o embaixador significa. Conto com a paciência do amigo leitor e da amiga leitora que hajam me acompanhado até aqui, sei que este meu ralentando pode ser irritante, mas não vejo saída. Tenho para mim que a missão pacificadora do Lula em 2010 é imbatível como candidata ao título de episódio mais ridículo da história diplomática brasileira. Pelos mesmos critérios, a retirada do embaixador por Dilma Rousseff é poule de dez na disputa pelo título de mais idiota.
Pensemos juntos. Descontada a fanfarronice, a missão do Lula partia de uma premissa correta: quem não sobe ao palco não participa do espetáculo. Numa situação inacreditavelmente complexa e séria como a que no momento vivem israelenses e palestinos, é improvável que o Brasil possa ter um papel relevante, mas assumindo uma posição unilateral e retirando o embaixador, com certeza não terá papel algum. A chance de ganhar na loteria é infinitesimal, mas se você não joga, é zero. Queremos ter um papel, exercer alguma influência, participar de negociações? Com o parti pris ideológico demonstrado e sem um representante sur place, esqueça.
Não vem ao caso especular sobre se a decisão de ontem foi mesmo da doutora Dilma ou se ela, consciente (?) de suas limitações, aceitou o que lhe foi sugerido sabe Deus por quem. Fato é que a dura represália diplomática israelense foi mais que merecida. Sim, meus senhores e senhoras, já tivemos diplomacia de melhor calibre. O que temos hoje é patético. A nota israelense qualificou o Brasil como um “anão diplomático” – e não é? Dessa vergonha a doutora Dilma poderia ter se poupado, na física e na jurídica – e nos poupado, evidentemente, visto que na jurídica não tem jeito, estamos no mesmo barco.