O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 13 de março de 2021

Mini-reflexão sobre o estado catatônico a que chegou o Brasil em 2021 - Paulo Roberto de Almeida

Mini-reflexão sobre o estado catatônico a que chegou o Brasil em 2021

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.org; http://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivo: debate público; finalidade: organização da sociedade]

 

Perguntar não ofende: depois que um aprendiz de feiticeiro criou uma enorme confusão em torno de todos os processos levados a efeito pela República de Curitiba no âmbito da Lava Jato, quem será o Grande Feiticeiro que colocará ordem na bagunça? 

Um dos processados?

Todos?

É o fim de qualquer esperança de que a corrupção possa ser algum dia combatida eficazmente no Brasil?

Devemos inscrevê-la com um dos componentes essenciais, formadoras do espírito nacional, assim como a jabuticaba e o jeitinho?

Qualquer que sejam as respostas, vou inscrever a insegurança jurídica como a terceira maior tragédia brasileira, ao lado da, e em paridade com a baixa produtividade do capital humano (derivada da péssima qualidade da educação de massa) e a corrupção política, esta sim triunfante e resplandecente desde as origens da nação.

Vai demorar para consertar tudo isso, se é verdade que algum dia conseguiremos. 

Já estamos dando meia volta volver...

Aliás, fizemos pior do que isso: os retrocessos impostos por um psicopata no comando do país — como resultado do autoengano coletivo nas últimas eleições presidenciais e da visão apalermada do mundo e do Brasil que possuem suas elites econômicas, civis e militares — representam monstruosidades institucionais e sobretudo MORAIS, que não fomos capazes de antecipar em 2018.

Vamos continuar apostando no imponderável? Vamos nos submeter à ditadura da polarização que o mesmo psicopata nos impôs desde o início de sua abjeta campanha política?

Polarização que alimenta um contínuo ambiente de perversões políticas e morais baseadas na mentira populista, na demagogia econômica, no atraso cultural e educacional do país?

Há muito tempo que o Brasil vive um lento processo de anomia política, de descalabro moral, de fragmentação institucional, de assalto constante aos recursos duramente extraídos da coletividade para serem entregues à saciedade de lobbies corruptores, aos privilégios corporativos de mandarins da República e de aristocratas do Judiciário, na indiferença cúmplice dos mais altos representantes do Grande Capital, estes também interessados na perpetuação das vantagens que podem auferir de um sistema político e de estruturas econômicas altamente deformadas e já totalmente disfuncionais.

Suas elites, inclusive as supostamente intelectuais, se têm mostrado incapazes de estabelecer um mínimo consenso sobre o que é disfuncional no país, para a partir daí formular um diagnóstico sobre nossos equívocos mais flagrantes, como base necessária a um processo gradual de reformas dentro da ordem democrática.

Todos esses problemas, “normais” — pois que inscritos na agenda do “momento”, que se arrasta há anos, senão há décadas — foram magnificados pela pandemia, sobretudo a desigualdade de chances em face da morte, muito mais provável para os mais pobres e fragilizados pela nossa abissal concentração de renda, e ainda mais potencializados pela gestão criminosa da crise pandêmica pelo psicopata que ocupa o poder atualmente.

Estamos condenados a fazer mais do mesmo, ou seja, escolher mais um “salvador da pátria” como a solução-milagre para todos os nossos males? Somos incapazes de debater racionalmente as soluções para os problemas mais prementes — salvar vidas — e depois encaminhar as soluções para os obstáculos estruturais a um processo inclusivo de desenvolvimento econômico e social? Continuaremos no marasmo?

Recuso-me a crer que sejamos tão incapazes de fazer o mínimo, que é pensar sobre a Reconstrução da Nação.

O mais imediato, obviamente, é a necessária coordenação de esforços e medidas para SALVAR VIDAS. Se para isso for necessário afastar o GENOCIDA que nos desgoverna, que se faça.

Em seguida cabe estabelecer uma plataforma mínima de defesa da democracia e da governança — atualmente seriamente amaçadas — para que se dê início a esse processo de Reconstrução da Nação: macroeconomia estável, microeconomia aberta e competitiva, boa qualidade da governança (sobretudo no Judiciário), alta qualidade do capital humano (com concentração de esforços no ciclo fundamental) e total abertura econômica e inserção na globalização, com liberalização comercial e investimentos estrangeiros diretos.

Não deveria ser difícil a representantes qualificados dos círculos mais influentes da nação — nas esferas da economia, da política e da academia — se colocarem de acordo sobre essa plataforma mínima de consenso em torno das tarefas mais imediatas de ação (o salvamento de vidas) e dos processos de reformas graduais.

Estou pedindo muito?

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3867, 13 de março de 2021

 

domingo, 12 de abril de 2020

Reconstrução do pós-guerra: um exercício condenado, e encerrado? - Paulo Roberto de Almeida

Reconstrução do pós-guerra: um exercício condenado, e encerrado?

Paulo Roberto de Almeida


Ao que dizem, estamos em guerra. Diversos dirigentes recorreram a esse conceito para referir-se ao mais ameaçador desafio já enfrentado pela Humanidade desde o encerramento da “segunda Guerra de Trinta Anos”, que devastou quase toda a Europa e metade da Ásia na primeira metade do século XX. Aparentemente, os principais estadistas atuais — alguns tardiamente — já definiram o inimigo a ser abatido, mediram suas dimensões e estão empregando uma variedade de meios e de ferramentas para combatê-lo de maneira mais ou menos eficiente.
No caso do Brasil, no dizer de um humorista, não temos apenas um inimigo, mas dois, o que nos leva para além do terreno técnico-logístico no qual o primeiro inimigo precisa e deve ser combatido, nos obrigando a adentrar num terreno político-institucional, muito mais complicado, uma vez que o segundo inimigo é o próprio núcleo de tomada de decisão.
Azar o nosso, pois ademais dos componentes propriamente econômicos e materiais com os quais se deve levar a guerra, e cada uma de suas batalhas em várias frentes, avulta nesses desafios de grande escopo a qualidade da liderança e a capacidade de manobrar dos responsáveis pela condução geral da contenda: generais e administradores da intendência, certamente, mas também os executivos da inteligência e, acima de tudo e de todos, o chefe das FFAA, que vem a ser o próprio chefe de governo ou de Estado. 
Desse ponto de vista, estamos muito mal aparelhados, não só no plano da estratégia geral a ser empregada na condução da formidável guerra, mas igualmente para o planejamento do pós-guerra e o esforço de reconstrução. A essa altura, todos já perceberam que a palavra-R já está encomendada, e o que se especula é quão grande e extensa será a palavra-D: que uma recessão severa já esteja no horizonte, ninguém mais contesta; se especula apenas sobre como minimizar a profundidade da depressão.
Não vamos achar que só nós, parcos de meios e de liderança, falharemos nas duas frentes, a da guerra, propriamente, e a da reconstrução, que deve vir depois, ou talvez, concomitantemente aos esforços que se devem empreender desde para superar ou contornar a depressão. Em outras ocasiões, mesmo grandes estadistas de poderosas e ricas potências falharam miseravelmente na reconstrução para a paz e a estabilidade do pós-guerra. Versalhes e a abordagem punitiva da Grande Guerra praticamente encomendaram a segunda parte da “segunda Guerra de Trinta Anos”, com uma ferocidade vinte vezes maior. Mesmo se admitirmos que a saída por San Francisco foi superior que aquela negociada em Paris, cabe também concluir que o pós-Segunda Guerra não nos trouxe a paz e a estabilidades prometidas pelos conciliábulos de Teerã, Dumbarton Oaks, Ialta ou Potsdam. A Guerra Fria emergiu menos de dois anos depois de encerrado o último grande conflito global de nossos tempos, e trouxe consigo momentos de tensão e algumas caminhadas to the brink, à beira do precipício (talvez menos Berlim, e mais Cuba). 
Em Paris, os principais estadistas “vencedores” que conduziram a Grande Guerra estavam na mesa de negociações, mas os resultados não foram muito brilhantes, ao contrário: criaram as sementes da retomada. Ao final da Segunda Guerra Mundial, uma vez derrotados os agressores nazifascistas, os grandes estadistas, ou tinham desaparecido (Roosevelt), ou tinham sido alijados do poder (Churchill e, mais adiante, De Gaulle); sobrou apenas Stalin, para construir seu poderoso “novo espaço vital” em toda a Europa central e oriental; mais adiante Mao substituiria Chiang Kaichek no comando do grande aliado na frente oriental contra o militarismo japonês, e a China passou para o outro lado. 
Obviamente, a panóplia nuclear fez com que a guerra entre novos inimigos permanecesse “fria”, com poucas exceções regionais que continuaram nas “proxy wars” durante muito tempo: Vietnã, Oriente Médio, várias partes da África e da Ásia. Instalou-se aquilo que Raymond Aron tão acertadamente constatou ainda antes que a União Soviética lograsse a paridade nuclear: “paz impossível, guerra improvável”. Infelizmente, o mundo perdeu uma oportunidade de construir a paz e a instabilidade tão almejadas por duas gerações de combatentes e povos inteiros desde 1914: centenas de bilhões de dólares foram gastos nos equipamentos e forças militares – e na inteligência, na subversão e sabotagem – em lugar de serem devotados para eliminar miséria e pobreza ao redor do mundo. 
O mundo já está tendo a sua “terceira guerra mundial”, atualmente, e mesmo que instituições e arranjos diplomáticos não sejam inteiramente refeitos quanto em 1919 e 1945, o impacto geopolítico da presente “guerra” será tremendo, abrindo novas perspectivas para praticamente todos os países, alguns mais fortalecidos, outros relativamente paralisados, senão em declínio. Já tracei em outro texto – “Consequências geopolíticas da pandemia Covid-19”; link; https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/03/consequencias-geopoliticas-da-pandemia.html – considerações sobre o final da guerra fria geopolítica e o ingresso numa guerra fria econômica que já parece ter pelo menos um vencedor, o mesmo que está sendo acusado – como o Império alemão na Grande Guerra – de ter sido o responsável pela atual guerra contra um inimigo invisível. 
Não é o caso de retomar aqui o debate, que empreenderei no momento oportuno; prefiro me concentrar sobre o nosso país. O que me parece, observando as coisas num cenário ainda indefinido, é que o Brasil está singularmente desprovido de quaisquer condições – materiais, recursos, inteligência, liderança – para não apenas conduzir um combate bem sucedido contra o inimigo omnipresente, como totalmente despreparado, pela ausência de lideranças efetivas, para levar adiante o trabalho de reconstrução do pós-guerra. Planos nas áreas da economia, da segurança e justiça, e até das “infraestruturas” de saúde, educação e ciência e tecnologia podem estar irremediavelmente comprometidos pela “falência” da direção, pelo menos a que se apresenta pateticamente ate aqui. Nas áreas da educação e das relações exteriores essa falência é visível, crescente e preocupante, mas a descoordenação que se manifesta nos escalões mais altos tornam duvidosos, ou irrisórios, quaisquer esforços para empreender, não apenas nacionalmente, mas globalmente, o imenso esforço de reconstrução do pós guerra que terá de vir de novas e responsáveis lideranças.
Aparentemente, já começamos derrotados desde o início, nos campos de batalha da presente guerra aberta pela pandemia, mas também no planejamento do pós-guerra. Pretendo dedicar minhas próximas reflexões sobre a natureza do duplo exercício que a nação precisaria fazer, agora e mais adiante, como forma de oferecer alguns elementos de orientação a mim mesmo, antes de mais nada, assim como a eventuais interlocutores nos diversos meios com os quais venho interagindo desde algum tempo. 

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12 de abril de 2020

domingo, 18 de setembro de 2016

Site pessoal: www.pralmeida.org, em reconstrucao; enquanto isso...

Meu site, construido de forma improvisada e errática ao longo dos últimos anos para servir de apoio didático a estudantes e para divulgação de materiais de interesse de pesquisadores, encontra-se fora do ar atualmente, tanto por razões de ordem objetiva -- problemas com o antigo servidor de hospedagem -- quanto por inércia deste que aqui escreve: sou muito inepto para me ocupar eu mesmo dos detalhes técnicos de um site.

Enquanto não resolvo esses problemas, e não inauguro um novo site no mesmo endereço do antigo -- www.pralmeida.org -- os interessados em meus trabalhos encontrarão a maior parte dos livremente disponíveis na plataforma Academia.edu ou numa outra, similar, Research Gate. Também tenho colocado algum material no Facebook.

Organizei as informações segundo as grandes rubricas criadas no Academia.edu, às quais acabo de acrescentar, em primeio lugar, as listas completas de trabalhos, a saber:

Academia.edu/Paulo Roberto de Almeida 
- All
- Works by Year (lists)
- Published Works by Year (lists)
- Books PRA
- Books Edited
- Book Chapters
- Essays/Journals
- Articles/Newspapers
- Presentations
- Book Reviews
- Theses/Dissertations
- RBPI Journal
- Courses/Seminars
- Works lists, Englih, French, etc.
- Varia
- Books
- Papers
- Conference presentations
- Drafts
- Cronologias/Timelines

Research Gate/Paulo Roberto de Almeida


 

 26 of your publications don't have full-texts yet

Nem todos os meus textos -- artigos, ensaios, capítulos de livros -- estão devidamente linkados e/ou disponíveis de alguma forma.
Havendo interesse por algum nessa situação, posso remeter graciosamente, sob demanda (de preferência citando o número constante das listas de trabalhos).
Espero ter meu site de volta em tempo hábil.
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 18 de setembro de 2016