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quarta-feira, 2 de abril de 2014

Um Bolivar diferente da imagem habitual: de quem seria o texto? - Rodrigo Constantino

Rodrigo Constantino

Marxistas ou bolivarianos?

Bolívar foi descrito como um membro da rica elite local, aristocrata educado no exterior, inapto como comandante militar, vaidoso ao extremo

‘Era filho de uma das famílias mantuanas que, no período da supremacia espanhola, constituíam a nobreza crioula da Venezuela. Em consonância com o costume dos americanos ricos da época, ele foi mandado para a Europa aos 14 anos de idade. Da Espanha, seguiu para a França e residiu em Paris por alguns anos.
“De pé sobre um carro triunfal, puxado por doze jovens vestidas de branco e enfeitadas com as cores nacionais, todas escolhidas entre as melhores famílias de Caracas, Bolívar, com a cabeça descoberta e uniforme de gala, agitando um pequeno bastão, foi conduzido por cerca de meia hora, desde a entrada da cidade até sua residência. Proclamando-se ‘Ditador e libertador das Províncias Ocidentais da Venezuela’, formou uma tropa de elite que denominou de sua guarda pessoal e se cercou de pompa própria de uma corte. Entretanto, como a maioria de seus compatriotas, ele era avesso a qualquer esforço prolongado, e sua ditadura não tardou a degenerar numa anarquia militar, na qual os assuntos mais importantes eram deixados nas mãos de favoritos, que arruinavam as finanças públicas e depois recorriam a meios odiosos para reorganizá-las.
“Bolívar tornou a se reunir com os outros comandantes na costa de Cumaná, mas, ao ser recebido com rispidez e ameaçado por Piar de ser levado a julgamento na corte marcial por deserção e covardia, retrocedeu prontamente para Los Cayos.
“Piar, o conquistador da Guiana, que outrora havia ameaçado levar Bolívar à corte marcial como desertor, não poupava de ironias o ‘Napoleão das retiradas’ e, por conseguinte, este aprovou um plano para se livrar dele. Sob as falsas acusações de ter conspirado contra os brancos, planejado um atentado contra a vida de Bolívar e aspirado ao poder supremo, Piar foi levado a julgamento por um conselho de guerra presidido por Brion, condenado, sentenciado à morte e fuzilado em 16 de outubro de 1817.
“Com um tesouro de uns 2 milhões de dólares, obtidos dos habitantes de Nova Granada mediante contribuições forçadas, e dispondo de uma tropa de aproximadamente nove mil homens, um terço dos quais compunha-se de ingleses, irlandeses, e outros estrangeiros bem disciplinados, coube-lhe então enfrentar um inimigo despojado de todos os recursos e reduzido a uma força nominal de 4.500 homens, dois terços dos quais eram nativos e, por conseguinte, não podiam inspirar confiança nos espanhóis. [...] Se Bolívar tivesse avançado com arrojo, suas simples tropas europeias teriam esmagado os espanhóis, porém ele preferiu prolongar a guerra por mais cinco anos.
“Bolívar já não julgou necessário manter a aparência de ser o comandante supremo, delegou toda a condução dos assuntos militares ao general Sucre, e se restringiu às entradas triunfais, aos manifestos e à promulgação de constituições. Por meio de sua tropa de guarda-costas colombianos, manipulou a votação do Congresso de Lima, que, em 10 de fevereiro de 1823, transferiu para ele a ditadura. [...] Ali, onde as baionetas de Sucre imperavam, Bolívar deu livre curso a suas inclinações para o poder arbitrário, e introduziu o ‘Código Boliviano’, numa imitação do Código Napoleônico.
“O que Bolívar realmente almejava era erigir toda a América do Sul como uma única república federativa, tendo nele próprio seu ditador. Enquanto, dessa maneira, dava plena vazão a seus sonhos de ligar meio mundo a seu nome, o poder efetivo lhe escapou rapidamente das mãos.”
Um membro da rica elite local, aristocrata educado no exterior, inapto como comandante militar, vaidoso ao extremo, dependente da ajuda dos próprios “imperialistas” para “libertar” seu povo, tirano e covarde: assim essas linhas retratam Simón Bolívar. Quem teria escrito uma biografia tão negativa do herói (ou mito) latino-americano? Algum conservador reacionário? Um golpista de direita, talvez?
Nada disso. Trata-se da biografia que Karl Marx escreveu para atender a um pedido (pago) de Charles Dana para a “New American Cyclopaedia”, em 1857. O tom do texto, excessivamente ríspido, despertou a atenção do contratante, que chegou a reclamar com o autor. Em carta a seu amigo Engels, Marx explicou seus motivos: “No que concerne ao estilo preconceituoso, certamente saí um pouco do tom enciclopedístico. Seria ultrapassar os limites querer apresentar como Napoleão o mais covarde, brutal e miserável dos canalhas.”
O problema é que nossos marxistas não leem Marx. Bolivarianismo e marxismo são como água e óleo: não se misturam. É preciso escolher: ou um, ou outro. Defender ambos é impossível.

O Globo, 1/04/2014
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/marxistas-ou-bolivarianos-12048539#ixzz2xh6ASwbw 
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terça-feira, 1 de abril de 2014

Venezuela: agora se trata de ruptura democratica, Unasul...

Vejamos: como se deve chamar um governo que desobedece à sua própria Constituição?
Inconstitucional, certo?
Ou seja, ele comete uma ruptura democrática, não é Unasul?
O que diriam os demais membros do Mercosul se um dos seus membros cassa um representante eleito sem qualquer processo legal, sem obedecer a qualquer rito constitucional, apenas pelo puro arbítrio de um candidato a ditador?
Dá para aplicar o Protocolo de Ushuaia, não é Mercosul?
E então, até quando a farsa, a hipocrisia, a cumplicidade com os crimes vão continuar com todos vocês indiferentes, coniventes?
Paulo Roberto de Almeida 

Venezuela

Polícia chavista impede marcha de deputada opositora

Tropas utilizam gás lacrimogênio para afastar grupo de María Corina Machado

A deputada María Corina Machado e seu grupo foram alvo de bombas de gás lacrimogênio disparadas pela polícia
A deputada María Corina Machado e seu grupo foram alvo de bombas de gás lacrimogênio disparadas pela polícia(Reuters)
A polícia venezuelana impediu na tarde desta terça-feira que a deputada opositora María Corina Machado realizasse uma marcha até a sede da Assembleia Nacional, em Caracas. Mais cedo, Corina reuniu uma multidão em uma praça da capital para protestar contra a cassação do seu mandato pelo presidente da Assembleia, o chavista Diosdado Cabello. 
Segundo o jornal El Nacional, quando o grupo começou a avançar em direção ao parlamento, policiais passaram a disparar bombas de gás lacrimogênio. Chavistas também gritaram "traidora da pátria" e "assassina", e jogaram objetos na direção da deputada. Após alguns minutos, a deputada e seus apoiadores desistiram da marcha e dirigiram até a sede do movimento Vente Venezuela, no município vizinho de Chacao. Os chavistas aproveitaram para fazer uma caminhada chapa-branca em contraposição aos opositores, apoiando a decisão de Cabello. Sem surpresa, esse grupo foi autorizado a se aproximar da Assembleia.  
Antes da repressão, Corina havia discursado para a multidão e dito que a cassação do seu mandato “é um crime sem precedentes para a soberania popular”. “O regime revelou toda a sua crueldade”, disse. De acordo com o jornal El Tiempo, compareceram ao protesto o prefeito Metropolitano de Caracas, o opositor Antonio Ledezma; o dirigente do partido Vontade Popular Freddy Guevara; e o dirigente estudantil Gaby Arellano. "Não desistimos, nos fizeram mais fortes, nos deram mais razões para lutar!", declarou Machado aos policiais que impediram sua entrada na Assembleia.
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Manifestante queima foto do ex-presidente Hugo Chávez em Caracas
Manifestante queima foto do ex-presidente Hugo Chávez em Caracas - Reuters

Cassação - Na segunda-feira, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela chancelou a perda de mandato da deputada. Corina, uma das principais incentivadoras da onda de protestos contra o presidente Nicolás Maduro, teve o mandato cassado após a sua participação em uma sessão da Organização dos Estados Americanos (OEA). Na ocasião, ela relatou a repressão promovida pelo governo venezuelano contra os manifestantes. Boicotada no encontro da organização por uma manobra venezuelana que teve apoio da delegação do Brasil, a deputada foi obrigada a discursar com as portas fechadas para a imprensa.
Para conseguir acessar a reunião, Corina havia aceitado um convite da delegação do Panamá, que cedeu seu tempo e a nomeou como uma espécie de membro informal. Foi a desculpa que os chavistas precisavam para perseguir a deputada. O presidente Cabello anunciou que ao aceitar a cortesia do Panamá, Corina havia violado os artigos 191 e 197 da Constituição, que determinam que os deputados "não poderão aceitar ou exercer cargos públicos sem a perda de seu mandato, salvo em atividades docentes, acadêmicas, acidentais ou assistenciais", e estão obrigados a cumprir sua tarefa com "dedicação exclusiva". 
Cabello também citou o artigo 149 que estabelece que "os funcionários públicos não poderão aceitar cargos, honras ou recompensas de governos estrangeiros sem a autorização da Assembleia Nacional".