O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Uma vida através dos livros: minhas memórias intelectuais: um registro sintético dos livros mais importantes de 1949 a 2013 - Paulo Roberto de Almeida

 Uma vida através dos livros: minhas memórias intelectuais: um registro sintético dos livros mais importantes desde 1949

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

2594. “Uma vida através dos livros: minhas memórias intelectuais”, Hartford, 24 março 2014, 10 p. Registro parcial dos livros mais importantes publicados no mundo e no Brasil, ao longo de minha vida. Para desenvolvimento futuro com comentários sobre os autores e suas obras, ano a ano.

 

 

1949: 

George Orwell: 1984 (Nineteen Eighty-Four)

C. W. Ceram: Deuses, túmulos e sábios: a história da arqueologia

Victor Nunes Leal: Coronelismo Enxada e Voto

Fernand Braudel: La Méditerranée et le monde méditerranéen à l’époque de Philippe II

Ludwig von Mises: Human Action: A Treatise on Economics

José Honório Rodrigues: Teoria da História do Brasil

 

1950: 

Thor Heyerdahl: Kon-Tiki

Octavio Paz: El Labirinto de la Soledad y otros escritos

Ernet Gombrich: A História da Arte

Will Durant: The Age of Faith (Story of Civilization, vol. 4)

 

1951: 

J. D. Salinger: The Catcher in the Rye

Hannah Arendt: The Origins of Totalitarianism

Ludwig von Mises: Socialism: An Economic and Sociological Analysis

George Kennan: American Diplomacy

 

1952:

José Honório Rodrigues: A Pesquisa Histórica no Brasil

J. A. Soares de Souza: Um diplomata do Império: Barão da Ponte Ribeiro

Ernest Hemingway: The Old Man and the Sea

Heinrich Harrer: Seven Years in Tibet

Frantz Fanon: Peau Noire, Masques Blancs

Alan Bullock: Hitler: A Study in Tirany

J. Mortimer Adler: Great Books of the Western World

 

1953: 

Pierre Renouvin: Histoire des relations internationales (Paris: 8 vols.: 1953-1958)

Lançamento dos Cadernos do Nosso Tempo (IBESP-RJ: 5 números até 1956);

Robert L. Heilbroner: The Wordly Philosphers

Czeslaw Miloz: A Mente Cativa

Isaiah BerlinL The Hedgehog and the Fox: An Essay on Tolstoy’s View of History

 

1954:

Criação do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, Palácio Itamaraty (RJ)

John Kenneth Galbraith: The Great Crash of 1929

Georges Politzer: Principes Elementaires de Philosophie

Vinicius de Moraes: Antologia Poética

 

1955:

Costa, Hipólito José. Diário de Minha Viagem para Filadélfia, 1798-1799

Lançamento da Revista Brasiliense (publicada até 1964);

Cornelius Ryan: The Longest Day

Claude Lévi-Strauss: Tristes Tropiques

Werner Keller: E a Bíblia Tinha Razão (The Bible as History)

 

1956: 

Erich Fromm: The Art of Loving

João Guimarães Rosa: Grande Sertão, Veredas

C. Wright Mills: The Power Elite

Ludwig von Mises: The Anti-Capitalist Mentality

Winston Churchill: A History of the English Speaking Peoples

 

1957: 

Boris Pasternak: Doutor Jivago

Ayn Rand: Atlas Shrugged

Mircea Eliade: Le Sacré et le Profane

Karl Popper: The Poverty of Historicism

Norman Cohn: Pursuit of the Millenium: Revolutionay Millenarians and Mystical Anarchists of the Middle Ages

 

1958:

Hélio Jaguaribe: O Nacionalismo na Atualidade Brasileira

Hélio Vianna: História diplomática do Brasil;

Lançamento no Rio de Janeiro da RBPI

Jorge Amado: Gabriela, Cravo e Canela

John Kenneth Galbraity: The Affluent Society

Claude Lévi-Strauss: Anthropologie Structurelle

Hannah Arendt: The Human Condition

 

1959:

Carlos Delgado de Carvalho: História diplomática do Brasil

Luis Vianna Filho: A vida do Barão do Rio Branco;

Celso Furtado: Formação Econômica do Brasil

Karl Popper: The Logic of Scientific Discovery

 

1960:

Delgado de Carvalho e Therezinha de Castro: Atlas de Relações Internacionais;

William L. Shirer: The Rise and Fall of the Third Reich

David H. Lawrence: Lady Chatterley's Lover sells 200,000 copies in one day following its publication since being banned since 1928

 

1961: 

Foreign Affairs: Jânio Quadros: “Brazil’s new foreign policy”;

José Honório Rodrigues: Brasil e África: outro horizonte;

René Goscinny, Albert Uderzo: Astérix le Gaulois

 

1962: 

Boxer, Charles R. The Golden Age of Brazil, 1695-1750

San Tiago Dantas: Política externa independente;

Alexander Soljenitsin: Um Dia na Vida de Ivan Denisovich

The works of Pierre Teilhard de Chardin are denounced by the Roman Catholic Church

Milton Friedman: Capitalism and Freedom

Thomas Kuhn: The Structure of Scientific Revolutions

John Steinbeck: Travels With Charley: In Search of America

Barbara Tuchman: The Guns of August

 

1963: 

Hannah Arendt: Eichmann in Jerusalem: A Report on the Banality of Evil

Morris West: The Shoes of Fisherman

 

1964: 

Herbert Marcuse: One-Dimensional Man

Prêmio Nobel de Literatura para Jean-Paul Sartre, que recusa

Ernst Mayr: What Evolution Is

Mao Tse-tung: O Livro Vermelho do Presidente MTt (Citations from...)

 

1965: 

Werner Baer: Industrialization and Economic Development in Brazil;

Edmar Morel: O Golpe começou em Washington

Erico Veríssimo: O Senhor Embaixador

 

1966:

E. Bradford Burns: The Unwritten Alliance: Rio Branco and Brazilian-American Relations

Mikhail Bulgakov: O Mestre e a Margarida, de (1940), publicada com cortes na URSS

Jorge Amado: Dona Flor e seus dois maridos (?)

Barbara W. Tuchman: The Proud Tower: A Portrait of the World Before the War, 1890-1914

Barrington Moore Jr.: Social Origins of Dictatorship and Democracy: Lord and Peasant in the Making of the Modern World

Carrol Quigley: Tragedy and Hope: A History of the World in Our Time

 

1967: 

Robert T. Daland: Brazilian Planning

John W. F. Dulles: Vargas of Brazil;

Thomas E. Skidmore: Politics in Brazil, 1930-1964: An Experiment in Democracy;

Gabriel Garcia Marquez: Cien Años de Soledad

 

1968: 

Richard Graham: Britain and the Onset of Modernization in Brazil, 1850-1914;

Arthur C. Clark: 2001, A Space Odissey

Alexander Soljenitsyn: Pavilhão dos Cancerosos; O Primeiro Círculo

Paul R. Ehrlich: The Population Bomb

 

1969: 

Werner Baer: The development of the Brazilian steel industry;

Jorge Amado: Tenda dos Milagres

Dean Acheson: Present at the Creation: My Years at the Department of State

 

1970: 

John W. F. Dulles: Unrest in Brazil: Political-Military Crises, 1955-1964

Henri Charrière: Papillon

Alvin Toffler: Future Shock

 

1971: 

Alfred Stepan: The Military in Politics: changing patterns in Brazil;

Alexander Soljenitsyn: Agosto 14

 

1972: 

Frank D. McCann Jr.: The Brazilian-American Alliance, 1937-1945

Jorge Amado: Tereza Batista Cansada de Guerra

Walter Rodney: How Europe Underdeveloped Africa

 

1973: 

John W. F. Dulles: Anarchists and Communists in Brazil, 1900-1935

Moniz Bandeira: Presença dos Estados Unidos no Brasil: dois séculos de história

Celso Lafer e Felix Peña: Argentina e Brasil no sistema de relações internacionais;

Golpe no Chile (11/09): morte de Victor Jara, no Estadio (16), assassinado, e de Pablo Neruda (23), 

Alexander Soljenitsyn: novela O Arquipélago de Gulag, escrita em 1958-1968, publicada em Paris, de um manuscrito contrabandeado da URSS; 

Mikhail Bulgakov: O Mestre e a Margarida, de (1940), publicada completa na URSS

Mario Vargas Llosa: Pantaleón y las visitadoras

E. F. Schumacher: Small is Beautiful

 

1974:

Alexander Soljenitsyn, preso e expulso da URSS; seus livros começam a ser publicados no Ocidente.

John Le Carré: Tinker, Tailor, Soldier, Spy

Nicholas Meyer: The Seven-Percent Solution

 

1975: 

Stanley E. Hilton: Brazil and the great powers, 1930-1939: the politics of trade rivalryBrazil and the Internacional Crisis: 1930-1945;

Romain Gary, escrevendo sob o pseudônimo de Émile Ajar, ganha o Goncourt pela segunda vez, com o romance: La Vie Devant Soi

Philip Agee: Inside the Company: CIA Diary

 

1976: 

Luciano Martins: Pouvoir et Développement Économique: formation et évolution des structures politiques au Brésil;

Alex Haley: Roots: The Saga of an American Family

Ira Levin: The Boys From Brazil

Richard Dawkins: The Selfish Gene

Michel Foucault: Histoire de la Sexualité: 1. La volonté de Savoir

Jean-François Revel: La Tentation Totalitaire

 

1977: 

Ronald Schneider: Brazil: Foreign Policy of a Future World Power

Pedro Malan et ali: Política econômica externa e industrialização do Brasil (1939-52)

Jorge Amado: Tieta do Agreste

Alfred D. Chandler Jr.: The Visible Hand: The Managerial Revolution in American Business

 

1978:

Dulles, John W. F. President Castelo Branco: A Brazilian Reformer;

Lançamento em Brasília da revista Relações Internacionais (UnB);

Graham Greene: The Human Factor

 

1979: 

Peter Evans: Dependent Development: The Alliance of Multinational, State and Local Capital in Brazil

Henry Kissinger: White House Years

 

1980:

Gerson Moura: Autonomia na Dependência: 1935-1942

Umberto Eco: Il nome della Rosa

Carl Sagan: Cosmos

Alvin Toffler: Third Wave

Mario Vargas Llosa: La Guerra del Fin del Mundo

Martin Cruz Smith: Gorky Park

Stephen Jay Gould: The Mismeasure of Man

 

1981: 

Stanley Hilton: Hitler’s Secret War in South America;

Stephen Jay Gould: The Mismeasure of Man

Gore Vidal: Creation

 

1982: 

Laurence Hallewell: Books in Brazil: a history of the publishing trade

 

1983:

Lançamento em São Paulo da revista Política e Estratégia (Soc. Convívio);

 

1984:

O ano de George Orwell: 

Barbara W. Tuchman: The March of Folly: From Troy to Vietnam

 

1985:

 

1986:

Gerson Moura: Tio Sam chega ao Brasil: a penetração cultural americana

A. L. Cervo e C. Bueno: A Política Externa Brasileira, 1822-1985;

Richard Dawkins: The Blind Watchmaker

 

1987: 

Steve Topik: The Political Economy of the Brazilian State, 1889-1930

Paul M. Kennedy: The Rise and Fall of the Great Powers: Economic Change and Military Conflict From 1500 to 2000

 

1988: 

Thomas Skidmore:  The Politics of Military Rule in Brazil, 1964-85;

Winston Fritsch: External constraints on economic policy in Brazil, 1889-1930

Stephen Hawking: A Brief History of Time

Prix Goncourt: Erik Orsenna: L'Exposition coloniale

 

1989: 

Gerald K. Haines: The Americanization of Brazil: a study of U.S.: cold war diplomacy in the Third World, 1945-1954

Moniz Bandeira: Brasil-Estados Unidos: A Rivalidade Emergente, 1950-1988

Gelson Fonseca Jr. e Valdemar Carneiro Leão (orgs.): Temas de Política Externa Brasileira I

João H. P. de Araújo, M. Azambuja e Rubens Ricupero: Três Ensaios sobre Diplomacia Brasileira

Khomeiny decreta uma fatwa contra Salman Rushdie por causa dos Versos Satânicos; em 1991 o tradutor japonês seria esfaqueado e morto, na Universidade Tsukuba, segundo a fatwa.

Umberto Eco: O Pêndulo de Foucault

 

1990:

Gerson Moura: O Alinhamento sem Recompensa: a política externa do Governo Dutra

 

1991:

Gerson Moura: Sucessos e Ilusões: relações internacionais do Brasil durante e após a Segunda Guerra Mundial

Rubens A. Barbosa: América Latina em perspectiva;

 

1992:

A. L. Cervo; Clodoaldo Bueno: História da Política Exterior do Brasil;

Lançamento da revista Política Externa (SP: Ed. Paz e Terra-NUPRI/USP);

 

1993:

Paulo R. Almeida: O Mercosul no contexto regional e internacional;

1º número da série de Brasília da Revista Brasileira de Política Internacional;

 

1994:

Roberto Campos: A Lanterna na Popa;

Vasco Leitão da Cunha: Diplomacia em Alto Mar;

 

1995:

José H. Rodrigues e Ricardo Seitenfus: Uma História Diplomática do Brasil)

MRE: A Palavra do Brasil nas Nações Unidas: 1946-1995

Moniz Bandeira: O Expansionismo Brasileiro e a formação dos Estados na Bacia do Prata;

R. Ricupero: Visões do Brasil

C. Bueno: A República e sua Política Exterior

 

1996: 

Steve Topik: Trade and Gunboats: The United States and Brazil in the Age of Empire;

Lançamento da revista Parcerias Estratégicas (CEE-SAE);

 

1997: 

Marshall C. Eakin: Brazil: the once and future country;

Iris Chang: The Rape of Nanking

Jared Diamond: Guns, Germs and Steel

 

1998: 

Thomas M. Cohen: The Fire of Tongues: Antonio Vieira and the Missionary Church in Brazil and Portugal;

Moniz Bandeira: De Marti a Fidel: a revolução cubana e a América Latina

Paulo R. Almeida: Relações internacionais e política externa do Brasil;

 

1999:

Paulo R. Almeida: O Brasil e o multilateralismo econômicoO estudo das relações internacionais do Brasil;

 

2000: 

H. W. Brands: The First American: the Life and Times of Benjamin Franklin

 

2001: 

Lincoln Gordon: Brazil’s Second Chance: en route toward the First World;

Paulo R. Almeida: Os primeiros anos do século XXI: relações internacionais contemporâneas (São Paulo: Paz e Terra, 2001)

 

2002: 

Stephen Jay Gould: I Have Landed

 

2003: 

 

2004: 

Jared Diamond: Collapse: How Societies Choose to Fail or Succeed 

 

2005: 

Tony Judt: Postwar: A History of Europe since 1945

Jung Chang & Jan Halliday: Mao: the Unknown Story

 

2006: 

Richard Dawkins: The God Delusion

 

2007: 

Christopher Hitchens: God is not Great

 

2008: 

 

2009: 

Guy Sorman: Economics does not lie

 

2010: 

Mario Vargas Llosa: El Sueño del Celta

 

2011: 

Richard Dawkins: The Magic of Reality: How We know What’s Really True?

Daniel Yergin: The Quest

 

2012: 

 

2013: 

http://www.theguardian.com/books/2013/jan/21/george-orwell-day-begins-annual-commemoration ;  "George Orwell Day begins annual commemoration". The Guardian (London). 21 January 2013. Retrieved 21 January 2013

 

2014:

 (a completar)

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Hartford, 25 Março de 2014

 

domingo, 16 de maio de 2021

Mini-reflexão sobre a miséria que ainda nos aguarda - Paulo Roberto de Almeida

Mini-reflexão sobre a miséria que ainda nos aguarda

Paulo Roberto de Almeida

Aos que esperam algum tournant decisivo nesta semana que já foi identificada como o “ponto alto” da CPI da Pandemia, eu diria que cabe baixar a bola e apenas aguardar mais do mesmo. E o que é “mais do mesmo”?

Desculpem o longo parágrafo explicativo seguinte, mas ele tem a pretensão de resumir nossa trajetória declinante desde a segunda metade da ditadura militar até o ponto mais baixo desse itinerário decadente a que fomos conduzidos sob a presidência de um inepto perverso, que desde o início de 2019 aprofunda a decrepitude na qual vivemos atualmente.

Trata-se do prolongamento de um imenso, delongado, doloroso e angustiante processo agônico de declínio estrutural a que o Brasil foi levado desde a última fase do regime militar, no qual navegamos a esmo durante os 20 anos seguintes (1983-2003), com os altos e baixos de um mar encapelado no Brasil e no exterior — crises da dívida externa, “moratória soberana”, Constituinte utópica e auto-destrutiva, aceleração inflacionária, seis trocas de moedas e estabilização parcial, crises financeiras externas aumentando nossa fragilidade macroeconômica — e com algumas ilusões de crescimento não sustentado nas quase duas décadas seguintes, que também corresponderam a certa perda na qualidade das políticas públicas (macroeconômicas e setoriais), a uma tentativa de assalto monopólico ao poder por uma organização criminosa travestida de partido político, que conduziu um imenso exercício de cleptocracia improvisada e à criação da maior recessão de nossa história econômica, e que nos levou, finalmente, aos braços de uma extrema-direita a mais estúpida que é possível contemplar no cenário político mundial contemporâneo.

Esta semana de 18 a 22 de maio de 2021 será uma espécie de “ponto ótimo da crise” na trajetória da CPI que deveria ser do “fim do mundo”, mas que representará apenas a continuidade da descida ao fundo do poço; nossas “elites políticas” ainda não cessaram de perpetrar seu horrível trabalho de aprofundar nosso declínio, e eu explico porque.

Assim que saiu a decisão de Lewandowski a pedido da AGU em favor do Sargento Tainha da Saúde, eu já tinha alertado: Pazuello recebeu o direito de mentir sobre o capitão e de colocar toda culpa em terceiros, o que inevitavelmente recairá no primeiro. Fecha-se a quadratura do círculo. Depois, cabe aos senadores tocar o barco. Como estamos no Brasil, lamento dizer o seguinte: quanto mais se conseguir provar a incapacidade de Bolsonaro seguir sendo presidente, mais o Centrão se esforçará para mantê-lo no poder. 

É isso, ou a mobilização da sociedade, o que não ocorrerá pois convém tanto às ditas esquerdas, PT em primeiro lugar, manter a bipolaridade e que Bolsonaro seja o candidato que chega sangrando em outubro de 2022, quanto também interessa ao genocida no poder que Lula seja seu adversário naquela data, numa espécie de aposta extrema e desesperada para que o cenário divisivo de 2018 se repita. 

Não sei se vocês já perceberam, mas os brasileiros se encontram numa situação que tem uma expressão no léxico do desespero: “abraço de afogados”. É a isso que o nosso miserável sistema político e essa nossa formidável mediocridade das elites nos levou: a continuar cavando a fétida fossa da desesperança, para chegar a lugar nenhum, a não ser o prolongamento de nossa decadência como nação. É esse o espetáculo que vamos infelizmente oferecer ao mundo no bicentenário de nossa emergência como Estado independente: será um triste espetáculo posso assegurar.

No plano da conjuntura imediata, pode-se parafrasear um dos  títulos de Gabriel Garcia Marquez: El Capitán no Tiene Quienes le Oigan. Com 500 mil mortos a caminho, falta completa de vacinas, uma CPI no lombo e assessores aloprados que não apenas não conseguem defendê-lo, mas que vão conseguir enterrá-lo um pouco mais, o dito capitão não tem a menor chance de chegar “vivo”, politicamente, até outubro de 2022. 

Quero virar jacaré se ele conseguir manter-se no cargo, dispondo de apenas 15% de apoio “popular” até lá. Mas isso não importa. O que importa é que NADA estará resolvido até lá e qualquer que seja o resultado da contenda eleitoral: se o chefe mafioso (mas inteligente e perspicaz) das esquerdas, se o capitão inepto e destrambelhado (como reação à volta do lulopetismo), seja ainda um tertius ainda indefinido que se apresentará claudicante depois do engalfinhamento patético que ocorrerá nas forças ditas “centristas” (um saco de gatos onde figuram os mesmos politicos corruptos do Centrão e alguns oportunistas de ocasião).

Qualquer que seja o resultado do pleito presidencial, o país continuará dividido e acrimonioso, confuso e perdido quanto ao seu futuro — pois que o processo eleitoral NÃO consistirá de discussões em torno de programas de governo e sim em uma lamentável troca de acusações recíprocas — e a sociedade persistirá nesse esquartejamento de impulsos contraditórios entre populismos de direita e de esquerda, sem qualquer possibilidade de que um projeto de reformas estruturais seja proposto e levado adiante por algum pequeno grupo com pretensões a estadistas.

Termino constatando justamente isto: o Brasil atual — mas isso vale para toda a nossa “herança” da ditadura militar — parece uma nação incapaz de produzir o seu pequeno lote de estadistas capazes de elevar o nível do debate político e de oferecer caminhos de escape do atual (mas já longo e delongado) processo de decadência estrutural. Um dia, longínquo por certo, conseguiremos sair do presente e continuado atoleiro para superarmos progressivamente (mas com dificuldades) nossas grandes tragédias permanentes e algumas conjunturais: a não educação da maior parte da população, os baixíssimos níveis de produtividade do capital humano (que é uma consequência do primeiro fator), a imensa corrupção dos estamentos políticos (derivado do patrimonialismo nunca vencido), a instabilidade jurídica criada pelo mandarinato da alta magistratura (em parte medíocre e também corrupta), ademais do caráter predatório de nossas elites (de quaisquer tipos e setores, novas ou velhas, estatais ou privadas).

Lamento ter ocupado a atenção dos poucos que me leem com um texto essencialmente pessimista, como este, mas é porque ele foi feito para meu próprio “esclarecimento”, que não é nenhum Aufklarung em direção de um projeto utópico de futuro, mas uma simples síntese de minha desesperança atual: não, não espero nada da conjuntura imediata — ou seja, da CPI da Pandemia e seus efeitos subsequentes — ou do médio prazo de nossa trajetória político-eleitoral de 2022, pois que considero que continuares nas névoas e brumas de um itinerário largamente indefinido, e incerto. 

Continuaremos nos arrastando penosamente em direção a esse futuro incerto, com alguns poucos progressos aqui e ali, pois como dizia Mário de Andrade cem anos atrás: “progredir, progredimos um tiquinho, que o progresso também é uma fatalidade”.

Sorry pela “fatalidade” sociológica.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 16/05/2021



Uma vida através dos livros: 1949 - Paulo Roberto de Almeida

Uma vida através dos livros

Paulo Roberto de Almeida

1949

Nasci na quase exata metade do século XX, no final de 1949, que corresponde, no teatro geopolítico do mundo, ao segundo ou terceiro ano da Guerra Fria, um período na história das relações internacionais que marcaria o primeiro meio século de minha vida, e que, de certa forma, determinaria o que eu seria na fase madura, o que eu escolheria como  ocupação, o que eu teria no centro de minhas reflexões e escritos durante boa parte de minhas atividades profissionais, na diplomacia, e intelectuais, nas diversas academias a que fui ligado. Digo que determinaria parte de minha vida, não que eu tenha tido qualquer coisa a ver com a Guerra Fria – ou sequer tivesse consciência de sua existência, nos meus primeiros anos –, mas é que minha atenção foi chamada para essa grande divisão do mundo já na primeira adolescência, entre 12 e 13 anos, e isso ficou marcado em minha mente, como relatarei mais adiante, na altura do início dos anos 1960: a possibilidade de um conflito nuclear, com aquela imagem de uma nuvem em formato de champignon, era por demais impactante para quem se tornou curioso acerca das coisas do mundo, ainda que isso estivesse muito distante, do Brasil e da vida de uma família de classe média baixa num país recém saído de sua condição de economia essencialmente agrícola. 

Não que eu soubesse, ou adivinhasse tudo isso, obviamente, naquele momento inaugural de minha vida. Todo o meu relato é retrospectivo e introspectivo: ele visa capturar cada ano de minha trajetória pessoal profissional e intelectual, introduzindo, no decorrer de cada um dos anos desse itinerário, os livros, a produção intelectual, os grandes fatos do Brasil e do mundo, paralelamente a uma breve descrição do que acontecia comigo, com minha família, no meio social no qual nos inseríamos e nos desenvolvíamos. 

(2020)

Que livros eu reteria desse ano de 1949, que não foi exatamente um ano completo, pois me “pertenceu” apenas pelas suas seis semanas finais?

Sem consultar a “bibliografia”, ou a relação das obras produzidas nesse ano, apenas dois me veem à cabeça, numa lembrança talvez cronologicamente incorreta: a obra de sociologia política de Vitor Nunes da Silva Leal, Coronelismo, enxada e voto, que se tornou clássico sobre os estudos de estrutura política e eleitoral do Brasil — tendo seu autor sido alçado à condição de ministro do STF, apenas para ser cassado pela ditadura militar —, e o texto, praticamente um panfleto, de Albert Einstein sobre o socialismo, no qual o grande físico nobelizado 30 anos antes expressava sua admiração e simpatia por esse modo de organização politica, econômica e social, revelando tanto empatia pelo regime que havia derrotado o nazifascismo (que havia eliminado brutalmente seis milhões de judeus como ele), quanto ingenuidade a respeito dessa forma moderna de escravidão, um sistema brutal de “exploração do homem pelo homem”, sem qualquer resquício de espírito democrático. Einstein não teve oportunidade de se manifestar sobre o relatório de Krushev sobre os crimes de Stalin, pois que morreu em abril de 1955, e o relatório só foi revelado pelo New York Times em meados do ano seguinte.

Falarei sobre outros livros do ano de meu nascimento no momento oportuno, mas cabe registrar que nesse ano de 1949 a Guerra Fria já estava bem “instalada”: a União Soviética conseguiu, graças aos esforços do seu antigo chefe da NKVD, Beria (ele seria assassinado depois por Krushev), explodir o seu primeiro artefato nuclear, rompendo o monopólio americano nessa área, que durava desde 1945, quando duas bombas atômicas foram explodidas em Hiroshima e Nagasaki. No mesmo ano, uma corte americana condenou à morte Julius e Ethel Rosemberg, por espionagem atômica em favor da URSS, deslanchando, junto com a vitória de Mao Tsetung na guerra civil chinesa, em outubro, o macartismo nos EUA.

De certa forma, sou um “filho” da Guerra Fria, pois que minhas primeiras leituras políticas, anos mais tarde, seriam os exemplares fartamente distribuidos pelo governo americano (traduzidos para o Português graças aos cuidados “editoriais” da CIA) da revista Seleções da Reader’s Digest, o periódico simbolo desses anos de emergência do conflito bipolar. Minha educação política se deu nesse contexto, mas a Revolução cubana e o golpe militar de 1964 me levaram rapidamente para o lado exatamente oposto. Mas essa é uma história que eu contarei no ano apropriado...

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 15/05/2021


Livros publicados no ano de 1949: 

George Orwell: 1984 (Nineteen Eighty-Four)

C. W. Ceram: Deuses, túmulos e sábios: a história da arqueologia

Victor Nunes Leal: Coronelismo, Enxada e Voto

Fernand Braudel: La Méditerranée et le monde méditerranéen à l’époque de Philippe II

Ludwig von Mises: Human Action: A Treatise on Economics

José Honório Rodrigues: Teoria da História do Brasil

 

Uma vida através dos livros, 1: Introdução - Paulo Roberto de Almeida

 Projeto de livro: Paulo Roberto de Almeida

De um século a outro: dos livros para o mundo (uma trajetória intelectual)

Prefácio

Trata-se de um olhar retrospectivo sobre uma trajetória de vida, valendo-se da produção intelectual presente e divulgada a cada um dos anos sucessivamente desde meu nascimento, paralelamente a um esforço de reflexão sobre os grandes eventos e processos históricos daquele ano, no Brasil e no mundo. Sendo retrospectivo, esse olhar pode beneficiar-se do chamado hindsight, ou seja, a perfeita consciência do que veio depois, para iluminar, com dotes de aparente racionalidade e quase perfeita seleção dos fatos, um relato que deveria ser bem mais caótico e incerto, como se apresenta, na verdade e realmente, cada um dos nossos “encontros” com o mundo, a maior parte deles envolta em brumas e incertezas sobre o que poderia sobrevir na sequência e sobre quais seriam nossas ações em face dessas dúvidas e angústias. 

Não existe, nesse tipo de literatura memorialística, nenhuma receita para evitar o conhecimento a posteriori e a organização com aparência de “limpa” e bem apresentada que daí decorre no relato, o que não é o caso de diários transcritos fielmente segundo o registro sincrônico dos eventos e processos. Não é contudo o meu caso: nunca mantive “diários”, no sentido estrito do termo, ou seja, anotações regulares e datadas, respeitando a simultaneidade dos fatos e seguindo a flecha do tempo. Nunca tive disposição para isso, inclusive porque nunca me julguei ator ou protagonista de quaisquer eventos que ocuparam uma vida relativamente, ou intensamente, introspectiva, dedicada, na maior parte do tempo, à leitura (de tudo o que se apresentasse), à observação atenta da vida circundante e daquela trazida pelos meios de comunicação, seguida por uma reflexão sobre alguns desses fatos ou leituras, para eventualmente se concluir por algum texto escrito em qualquer suporte que estivesse à mão: folhas esparsas, cadernos e cadernetas de notas, agendas anuais e, chegado o momento, máquina de escrever e, finalmente, o computador pessoal (desktop ou laptop, tablet, celular, o que estivesse à mão), com seus inevitáveis prolongamentos nos sites pessoais, nos blogs e demais ferramentas de comunicação social.

Digo que nunca mantive diários, no sentido do relato cronológico memorialístico individual, mas nunca deixei de anotar minhas leituras e observações sobre as coisas dignas de registro, mas que tanto poderiam pertencer à “história imediata”, quanto ao universo do passado mais remoto, sem qualquer conexão com minha própria travessia no túnel do tempo. A partir de um certo momento, sempre carreguei comigo uma caneta e uma pequena agenda ou caderneta de notas — do tipo Moleskine, por vezes mais de uma, a média no bolso do paletó ou na pasta de trabalho, uma pequena no bolso da camisa —, sendo que no período propriamente universitário eu mantinha cadernos pautados para anotações em bibliotecas, em salas de aulas ou palestras. As anotações eram geralmente datadas, mas nada tinham a ver com o conceito de diário, pois podia tratar-se de uma simples resenha de livro, da transcrição de trechos de leituras diversas ou das palavras de alguém, sobre assuntos os mais diversos, da mais remota antiguidade ao futuro previsível ou sugerido. 

Este é, precisamente, o sentido e o estilo que vou adotar aqui, um relato livre, com retorno ordenado ao passado, desde o ano de meu nascimento, entremeado de digressões para a frente e para trás, para melhor encadear e contextualizar os fatos, eventos e processo sobre os quais discorrerei ao longo das últimas décadas. Ao empreender a tarefa, prometo ser tão fiel quanto possível aos fatos, na visão rankeana não de todo superada na historiografia consagrada — wie es Eigentlich gewesen —, o que também deve me manter afastado de qualquer tentação de organizar o passado segundo a perspectiva do presente. 

Sempre tive certo fascínio por máquinas do tempo e outras aventuras do gênero e lembro-me, por exemplo, do prazer com que devorei alguns romances do gênero, inclusive os que vão nas duas direções da flecha do tempo. Cheguei a escrever alguns trabalhos com o título “de volta para o futuro” — quando da implosão e queda final do socialismo real, mais ou menos coincidente com a trilogia filmográfica de Bob Zemeckis — e não resisti à curiosidade de ler o romance distópico de Edward Bellamy — que retirei da Library of Congress, minha sempre sonhada residência virtual —, Looking Backward, 2000-1887

Este livro é uma espécie de máquina do tempo, mas tão metódica e sistemática quanto possível, marcando cada uma das etapas de minha vida com registros de livros memoráveis publicados a cada ano — vários dos quais só vim a conhecer ex-post, et pour cause — e registrando os grandes eventos que preencheram cada ano calendário.

Como escrevi, nunca me julguei suficientemente importante para manter um diário: nascido numa família muito modesta, para não dizer pobre, e de pais dotados de primário incompleto, só vim a ter contato direto e pessoal com os livros, de forma interativa, na tardia idade de sete anos, que foi quando aprendi a ler no primeiro ano da escola primária, mas desde então nunca parei de devorar livros, de todos os tipos. Tampouco posso dizer que eu fui um “espectador engajado” — à la manière de Raymond Aron —, pois minha participação em alguns dos eventos aqui relatados foi propriamente marginal, senão inexistente de todo. Mas fui um atento observador, do que e do que não vi, do que recolhi como relatos, nos livros, na mídia, nas palestras de atores ou historiadores. 

Posso dizer que fui um privilegiado: vindo de um lar quase totalmente desprovido de material de leitura, mergulhei a fundo no papel impresso e nas informações audiovisuais assim que foi possível — e isso demorou, pois além de um precário rádio, nunca conheci televisão ou telefone próprios até bem entrada a adolescência; antes disso eram desenhos na televisão do vizinho — e converti esse hábito, numa verdadeira mania, praticamente uma obsessão irremediável. Não posso dizer que eu esteja lendo o tempo todo — pois sempre tem o momento do banho diário e as poucas horas de sono —, mas a informação e a reflexão estão sendo praticadas em tempo integral, precedendo a escrita, também sempre constante: nulla dies sine linea

À parte ser um privilegiado neste pouco secreto hábito da leitura e da escrita, o que a minha vida tem de extraordinário, que merece ser registrada numa nova obra, em acréscimo às duas dúzias de livros que produzi desde os anos 1990? Nada, absolutamente nada, ou quase nada, a não ser ter sido um diplomata médio, cumpridor razoável de meus deveres — um pouco rebelde, eu sei, nunca respeitador dos sacrossantos princípios da hierarquia e da disciplina — e um professor também médio, com alguma produtividade talvez acima da média.

A razão que me impeliu a oferecer este testemunho aos mais jovens foi justamente a oportunidade que tive na vida de ter sido um precoce mochileiro nas estradas da vida, de ter podido viver em muitos países diferentes uns dos outros — do subdesenvolvimento ao bem-estar, do socialismo surreal ao capitalismo ideal, num extremo a outro do planeta —, de ter tido a sorte e o imenso prazer de encontrar uma querida alma gêmea, minha doce (por vezes brava) Carmen Lícia, ainda mais leitora e muito mais nômade do que eu e, finalmente, de ter tido a possibilidade de transmitir aos mais jovens essas múltiplas experiências, nos escritos, nas aulas, nas palestras, nas conversas.

Eis justamente o sentido deste livro: ele oferece um testemunho, sobre sete décadas de vida agitada neste nosso planetinha redondo, e sobre alguns ensinamentos que é possível retirar dessa vida pacata, voltada para os livros, mas com alguns episódios relevantes, e que podem servir como matéria de reflexão, em segunda mão, aos jovens que comigo partilham do privilégio de servir ao país no serviço diplomático, a outros jovens que se iniciam numa carreira acadêmica, e a todos aqueles que amam livros e que adoram viajar pelo mundo, para aprender coisas novas, algumas boas, outras nem tanto, mas que todas elas compõem uma vida venturosa, aventureira, com muitas surpresas e descobertas ao longo desta trajetória intelectual e prática. 

Eu não teria chegado tão longe, e nunca teria feito tudo o que fiz, se não fosse por Carmen Lícia e seus dotes de grande leitora, infatigável viajante, mãe exemplar, companheira de todas as horas, intelectual muito mais organizada do que eu sou, muito mais inteligente e sensata, carinhosa e tolerante com meus mergulhos nas leituras e escritos. A ela, assim como a nossos dois filhos, Pedro Paulo e Maira, e nossos netos — Gabriel, Rafael e Yasmin — é dedicado este livro, que também lhe pertence, a partir do início de minha vida profissional.

(2020)

sábado, 15 de maio de 2021

Os Coletes Amarelos da França pedem a demissão do presidente Macron e dizem que terão candidato(a) nas eleições de 2022

Pronto, mais um país europeu que afunda, estilo Itália, Grécia, Grã-Bretanha, quem mais? A França merece esse tipo de coisa? Se formos observar pelo recente manifesto de militares da ativa e aposentados que pediram o fim do governo Macron, a interrupção da islamização do país, sob risco de GOLPE MILITAR, parece que sim: a França recua, e se desintegra politicamente.

O que diria o General De Gaulle desse "chienlit"? Ele que tinha "une certaine idée de la France"?

A França já não é mais o que era...

Paulo Roberto de Almeida



Ce courrier fut envoyé, en recommandé le 1er MARS 2019, à quatre destinataires, dont 

Emmanuel Macron.

Nous avons fait la grande erreur de ne pas le rendre public... Ce fût comme signer notre arrêt de mort social.

Le voici, en intégralité. 9 pages (14/16 minutes de lecture, en pièce jointe, vous trouverez notre programme et le communiqué du 10 Mai 2021).

 

 Aucun texte alternatif pour cette image

Lettre ouverte à Emmanuel Macron, A Mr Henri De Castrie, Et à Mr Emmanuel Fievet.

Macron,

par la présente, au regard de la situation nationale et européenne, et au nom du bon sens je vous demande de démissionner de votre fonction de chef de l’État Français.

Par ailleurs, j’ai le plus grand honneur et le plus grand bonheur de vous faire part, conformément au code électoral Républicain et à ses protocoles, que, je reste principalement habité d’une beauté lumineuse, et, ne ressentant qu’une seule faim, celle d’une sagesse sans fin, ce, afin d’anéantir absolument toutes forces ténébreuses sclérosant toutes formes d’esprit universel ; je parle de ces nouvelles « valeurs morales » qui vont complètement et totalement à l’encontre de toute forme d’intérêt et de progrès commun, pouvant être partagé et utilisé par l’ensemble de l’humanité.

C’est afin d’entamer, sans soif ni faim aucune, ce combat sans fin, que je n’ai d’autre choix que celui de vous annoncer ma candidature à la prochaine élection de la Présidence de la République tout comme j’avais essayé de le faire le 12/03/2017. Ladite élection, en principe, devrait avoir lieu... Au printemps 2022... Au plus tard...!

A Présent je vais développer quatre points.

Le premier point concerne le service militaire. La Loi du 28 octobre 1997 a mis fin à ce dernier. Ainsi les hommes Français nés après le 31 Décembre 1978 n’avaient plus obligation de le faire... Vous êtes né le 21 Décembre 1977... Pourquoi ne l’avez-vous pas effectué? Pour quel motif vous n’avez pas servi la Nation? De plus, le code électoral Républicain (Loi L-O-127 et L-45) impose d’avoir satisfait aux obligations du Service National pour pouvoir, pour avoir le droit, simplement le droit, d’être candidat à une élection. Deux questions me viennent immédiatement en tête, Macron. Premièrement, est-ce pour raison de santé que vous n’avez pas servi la France dans le cadre du service militaire? Deuxièmement, comment est-il possible que vous ayez pu être candidats à la dernière élection Présidentielle sans avoir satisfait aux obligations militaires? Les réponses à ses deux questions, vous les devez au Peuple de France.

Le deuxième point:

Aucun texte alternatif pour cette image

Le 21/04/2016, soit UN AN, un an AVANT LA DERNIÈRE ÉLECTION PRÉSIDENTIELLE, j’ ai écrit un long courrier officiel à Mr le Procureur de la République de Marseille ainsi qu’au Grand Maître du Grand Orient de France (à l’époque j’étais Franc-Maçon, au courant de certaines connaissances occultes), en conclusion il y avait:

“je soutiens totalement Mr le Président de la République (Votre prédécesseur, Mr le Président de la République François Hollande...), qui n ’a eu que six mois en 2012 pour penser à la tête de l ’état. Je n ’ai jamais vu un homme prendre autant de coups tout en ayant l’air de rien, je l’admire triplement, pour sa solidité, pour son courage, mais surtout pour son altruisme et son dévouement à la patrie. Il y aura son bulletin dans mon enveloppe l ’année prochaine. Pas besoin de vous préciser que nous pouvons devenir un pays de « winner ’s» si au deuxième tour l’année prochaine nous avons un duel « François - François » ou « François - Alain ou un autre ponte de droite »... en revanche si nous avons un petit « Emmanuel - Marine » avec une large et remarquable victoire d'Emmanuel... on ne sera plus qu’un peuple de collabos... ”

C’était un an avant votre élection, Macron.

Par la suite, au courant de certaines dispositions de plusieurs candidats (Mme Le Pen, Mr Fillon et vous...), j’avais essayé de candidater à ladite élection afin de me positionner en “lanceur d’alerte.

Je ne souhaitais pas particulièrement être élu, simplement je souhaitais avoir un petit espace médiatique afin d’Alerter le Peuple de France. Pour cela, conformément au code électoral, j’avais écrit au Chef de l’Etat et au Conseil Constitutionnel un courrier recommandé pour les informer de ma candidature comme le veut le protocole. Comptant sur ma communauté d’origine pour avoir quelques parrainages, j’avais aussi écrit en Corse, à la Collectivité Territoriale. Les trois courriers A/R furent envoyés le 13/03/2017 par le bureau de poste Marseille-vieux port. Devant arriver le mardi 14 ou le mercredi 15/03/2017, cela me laissait 2 à 3 jours avant la date butoir du vendredi 17/03/2017, 18h, où les 500 parrainages d’élus doivent être déposés par les candidats au Conseil Constitutionnel. 2 à 3 jours, c’était largement suffisant pour alerter le Peuple de France via les Médias. Pas un, ni deux, les trois, les trois courriers A/R ont mis... une semaine pour arriver à destination!!!! Et forcément la date butoir fut dépassée. C’est avec l’intime conviction que, derrière cette “ lenteur postale”, ce phénoménal ralentissement administratif, il y a la DGSI. C’est une atteinte majeure à la démocratie Française.

Aussi, demandant l’accès aux fichiers et dossiers classés “Secret Défense” où mon nom ressort, ceci afin de vous destituer, car j’ai la certitude du caractère caduc et invalide de la dernière élection Présidentielle.

Le troisième point concerne votre désastreuse politique.

En moins de deux ans, vous avez créé plus d’impôts et de taxes qu’il en fût créé depuis 2007. A côté de ça, environ 70% de vos appuis, de vos fragiles appuis, c’est à dire vos proches collaborateurs et vos ministres vous ont lâché. Ce “phénomène” signifie tout simplement que vous n’êtes pas à votre place, Macron. Vous n’êtes pas un “leader”. Il ne vous reste plus que Mrs Castaner et Philippe... Pour combien de temps encore? Quand à la carte de magicien “Grand Débat National” que vous avez sorti de votre manche, ce n’est qu’une vulgaire opération de propagande électorale, qui ne vous coûte pas un centime, 100% au frais du contribuable, en vue des prochaines Européennes, dans l’espoir de dépasser les 5%, seuil que vous n’atteindrez pas! La France, que vous avez transformée en Sous-France, n’est pas un peuple d’Abrutis ni un troupeau de moutons ou de caniches.

Le quatrième et dernier point s’adresse à vos Chefs, Macron, à Mr Henri De Castrie, Président du Club Bilderberg, et Mr Emmanuel Fievet, PDG de la Banque Rothschild, et à travers eux, aux 140 dirigeants du Club Bilderberg, ainsi qu’à leurs nombreux subordonnés de part le monde:

 

Messieurs, c’est en “imaginant” que vous êtes tous initiés à l’art Royal qu’est censé être la Franc-Maçonnerie, c’est à dire que vous êtes tous “enfants de la veuve” et “apôtres de St Jean”, que, par le biais de ce courrier adressé à la personne qui occupe momentanément la fonction de chef d’Etat Français, je me permets, humblement, d'essayer de vous interpeller.

La première chose que je souhaite vous dire, c’est que dans le cas de figure où, parmi vous, se cachent certaines personnes qui ont financé et/où commandité des actes terroristes, actes dont est frappé l’ensemble de l’humanité depuis la fin de la guerre froide, si c’est le cas, je vous invite vivement à vous désolidariser d’eux et à les montrer du doigt afin que ses derniers soient traduits en Justice.

Deuxièmement, en tant que Franc-Maçons, vous ne pouvez ignorer les paroles du Christ retranscrites par Saint-Jean l’Evangéliste: “...Les biens du Monde ont une légitime destinée Universelle... Aimez vous les uns et les autres comme moi, fils de Dieu, je vous ai tous aimés.". Aussi, dans cette perspective, Nous, Gilets Jaunes Européens, nous vous invitons à vous asseoir à la table, à la grande table de l’humanisme, du partage et du progrès Universel.

Nous vous demandons d’effacer et d’éteindre toutes les dettes... sur terre. Toutes dettes contractées par des particuliers et/où des professionnels publics où privé.

Nous vous demandons aussi de créer un impôt Universel sur toutes transactions boursières sur terre, quel que soit le marché, ceci afin de financer le fonctionnement des Etats - Nations de l’ensemble du Monde, et de financer le RIUCH (Revenu Inconditionnel Universel de Condition Humaine), afin que

chacun sur Terre puisse Respirer, Boire et Manger, Éliminer et se Mouvoir, se reposer et dormir tranquille, se laver, éviter tous dangers, communiquer et agir selon ses croyances en respectant le vieil adage “La Liberté des Uns s’arrête où commence celle des autres..s’occuper, travailler et se réaliser, se recréer et se divertir, et Apprendre... Apprendre sans cesse, de tous, de tout le monde, des uns et des autres, de l’Etranger et du Familier.

Certes, les nombre de chiffres avant la virgule de vos comptes en banque risque de diminuer, mais cette disposition ne sera que transitoire, soyez-en sûrs. En effet, si PAUVRETÉ et MISÈRE sont éradiquées de la planète, certes, cela demande dans un premier temps un très gros investissement, mais, par la suite, peu de temps après, automatiquement, les productions et les plus-values seront, sur l’ensemble de la terre multipliées par un coefficient important, et, la croissance Mondiale économique universelle sera colossale.

Ainsi, vous obtiendrez un solide retour sur investissement. Actuellement, la fortune monétaire mondiale s’élevait en 2016 à 317 000 milliards de dollars (institut de recherche du Crédit Suisse (CSRI) 2016), 41 200 dollars par habitant de la terre, et augmente chaque année de 3 à 5%. Nous sommes 7 700 000 000 hommes sur terre. Chaque jour, sur terre, sur l’ensemble des places boursières, se sont 4000 milliard de dollars qui sont échangés. oui 4000 milliards minimum;

Sans Misère sur Terre, immanquablement la croissance Universelle sera de 15/20% annuels, c’est un axiome.

En aucun cas et à aucun moment vous ne perdrez de votre pouvoir et vos trains de vie resteront, quoi qu’il arrive, inchangés. Mais, les 7 700 000 000 de femmes d’enfants et hommes que nous sommes avons besoin de vous, vraiment.

Venez vous positionner à nos côtés, nous Gilets Jaunes d’Europe et du Monde, MAINTENANT, ainsi, vous gagnerez, chacun d’entre vous, une gloire lumineuse et universelle sur terre et aux cieux, à l’orient eternel, accompagnée de l’estime et la reconnaissance quasi éternelle de l’ensemble de l’humanité. Nous vous invitons, nous gilets jaunes, à écrire la plus belle page de toute l’histoire de l’humanité.

Bien entendu, cela va de soi, nous vous demandons tous de lâcher Macron, et

de nous laisser le destituer. Humblement, chacun d’entre nous vous demande de totalement l’abandonner. En effet, dans votre monde très fermé, il fait... tâche d’huile répugnante. Il est beau-père, père par alliance d’enfants. plus âgés que lui. Il est l’opposé du leadership. Enfin bref, laissez-le tomber, il ne peut que vous nuire. Laissez-le se faire lyncher, se faire découenner, par l’ensemble de la presse et des médias internationaux qu’il croit tenir dans sa main . »

Quand à vous Macron, vous pouvez me faire arrêter, me faire descendre où bien m’interner, mais sachez que, pour l’ensemble des peuples d’Europe et du Monde, vous incarnez l’opposé de l’humilité et vous ne savez pas apprendre de vos erreurs, donc vous les reproduisez sans cesse, ce qui est, complètement antagoniste avec votre fonction.

Vous n’êtes qu’un “Robin des bois” à l’envers!!! C'est pourquoi, comme vous l'a suggéré monsieur le Président de la République Nicolas Sarkozy, conformément aux besoins de la France, conformément aux désirs du peuple français je vous demande par la présente de démissionner et, très vite de vous faire oublier.

En effet vous n'êtes qu'un outrage Macron, un outrage à la France, un outrage à l' Europe et à toute la communauté internationale, vous n'êtes qu'un outrage au genre humain et à la vie.

Salutations distinguées,

 

Fait, le 1er Mars 2019, à Paris, par : Sébastien Peretti De Belgamor

 

https://www.linkedin.com/pulse/un-gilet-jaune-écrit-à-emmanuel-macron-le-1er-mars-sébastien/?published=t

 

https://www.linkedin.com/pulse/communiqué-flavo-gilet-jaune-10-mai-2021-peretti-de-belgamor/?published=t

 

https://www.facebook.com/FlavoGiletsJaunespolitique

 

www.linkedin.com/in/sébastien-peretti-180021 Modifier le contenu

 

Responsable de l’Association Flavo-Politique.

 

Aucun texte alternatif pour cette image