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sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Introdução do livro Interpretações do Brasil: uma nova história da pensamento político brasileiro - Christian Lynch, Diogo Cunha (FGV Editora)

 Introdução do livro Interpretações do Brasil: uma nova história da pensamento político brasileiro

Por Christian Lynch (IESP/UERJ) &

Diogo Cunha (UFPE)

Este livro oferece uma nova abordagem da história do pensamento político brasileiro, destinada especialmente a estudantes de graduação em ciência política, ciências sociais e história que estão sendo apresentados aos grandes pensadores do país. Embora tenhamos priorizado esse público-alvo, estudantes de pós-graduação, pesquisadores experientes e entusiastas da nossa tradição intelectual também encontrarão grande valor neste trabalho. O impulso para esse empreendimento veio da constatação da falta de uma obra que fosse simultaneamente ampla em termos temporais e profunda em sua análise. Em outras palavras, buscávamos um texto que oferecesse mais do que meros perfis introdutórios e resumos superficiais das obras principais dos pensadores brasileiros. Dessa forma, solicitamos às autoras e aos autores de cada capítulo que se esforçassem para reconstruir a trajetória de cada pensador em análise e, a partir da contextualização de suas obras políticas, explicar e explorar em detalhes os principais conceitos mobilizados. O resultado são capítulos densos e acessíveis ao mesmo tempo, que servem como uma excelente porta de entrada ou suporte para quem deseja se aprofundar nesse estudo.

O pensamento político brasileiro deve ser compreendido como uma interseção complexa de influências europeias e americanas adaptadas às idiossincrasias históricas e culturais do Brasil. A tradição jurídica e o constitucionalismo desempenham um papel central em sua formação, moldada por confrontos e adaptações entre modelos exógenos e realidades endógenas, resultando em um ideário autóctone que busca equilibrar a modernidade com as peculiaridades nacionais. Esse arcabouço intelectual pode referir-se tanto ao conjunto de ideologias que compõem a cultura política brasileira quanto aos clássicos da teoria política nacional, escritos antes da institucionalização universitária na década de 1970.

Por seu caráter “periférico”, o pensamento político brasileiro apresenta menor grau de generalização e maior sentido prático nas reflexões. A centralidade da retórica, da oratória e do argumento de autoridade é notável, assim como a tendência dos autores de se apresentarem como pioneiros da modernidade e a orientação prospectiva da política brasileira.

A principal manifestação do “fantasma da condição periférica” expressa-se na per sistente crença de que a produção intelectual do país é inferior à dos países “cêntricos”, principalmente aqueles situados na Europa e os Estados Unidos. Essa percepção de inferioridade, internalizada pelas elites intelectuais brasileiras ao longo dos séculos XIX e XX, resulta na recorrente desqualificação da produção nacional como mera “aplicação”, “cópia” ou “deformação” das ideias e teorias elaboradas no centro. Consequentemente, o estudo do pensamento político brasileiro frequentemente foi relegado a uma posição subalterna, visto como desprovido de originalidade e relevância fora das fronteiras nacionais.

Os autores analisados demonstram como essa percepção se manifestou em diferentes contextos e perspectivas ideológicas. Por exemplo, a preferência pelo termo “pensa mento” em detrimento de “teoria” para designar a produção intelectual brasileira reflete essa ideia de inferioridade. Enquanto a “teoria” era associada à produção intelectual universalizante dos países centrais, o “pensamento” era visto como uma produção de caráter local, pragmático, voltado para a resolução de problemas específicos da realidade brasileira. Essa classificação dicotômica deixa transparecer a relação assimétrica entre periferia e centro, reforçando uma noção de hierarquia na produção do conhecimento.

A filosofia da história do século XIX, com sua visão linear e teleológica do progresso, contribuiu para consolidar a imagem de um Brasil “atrasado”, ainda em processo de formação, desprovido de um “povo” e de uma “cultura”, no sentido pleno dessas palavras. Mesmo durante o período marcado pela ascensão do nacionalismo, a partir da década de 1930, a sombra da “condição periférica” continuou a pairar sobre o pensamento político brasileiro. Embora reconhecessem a importância de estudar a realidade nacional, muitos partiam do pressuposto de que as “leis gerais da evolução dos povos” haviam sido elaboradas nos países centrais. A superação da condição periférica, nesse contexto, passaria pela elaboração de um projeto nacional capaz de, a partir da compreensão das “singularidades” brasileiras, conduzir o país a um patamar de desenvolvimento similar ao dos países centrais.

O pensamento político brasileiro, em sua essência, pode ser compreendido de duas maneiras principais: uma abordagem abrangente e uma interpretação mais específica. Em um sentido amplo, ele abarca o conjunto completo de escritos ideológicos – liberais, conservadores, socialistas – que moldaram e representam a cultura política brasileira. Tal perspectiva reconhece que o pensamento político brasileiro é profundamente influenciado pela posição do país na periferia do cenário global, em contraste com os centros estabelecidos de poder e civilização. Nessa visão, destaca-se a importância do estilo de escrita “periférico”, caracterizado por um menor grau de generalização e uma ênfase em abordar os desafios práticos e imediatos enfrentados pelo Brasil.

Em contraste, a definição mais restrita de pensamento político brasileiro concentra–se em um grupo seleto de obras consideradas “clássicas” devido à sua profundidade, sistematização e impacto duradouro. Essas obras, frequentemente produzidas por figuras proeminentes da “velha” ciência política brasileira, que antecedeu a institucionalização acadêmica formal da disciplina, representam um núcleo fundamental do nosso pensamento.

Neste livro, o que se pretende é apresentar uma visão o mais completa e abrangente possível do pensamento político brasileiro, focando principalmente o horizonte do Brasil como comunidade imaginada. Os autores elencados como objetos de estudo compõem uma lista ilustrativa, embora não exaustiva, de figuras que pertencem a essa categoria: José Bonifácio, Evaristo da Veiga, José de Alencar, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Alberto Torres, Oliveira Viana, Gilberto Freyre, Raymundo Faoro, Sérgio Buarque de Holanda, Guerreiro Ramos, Celso Furtado, Florestan Fernandes, entre outros.

Esses autores não apenas analisaram a realidade brasileira, mas também moldaram a maneira como o país se compreende. Suas “interpretações do Brasil” transcenderam os limites da academia, influenciando debates políticos, movimentos sociais e a própria identidade nacional. E, embora eles frequentemente tenham se embasado em ideologias existentes, suas obras não são redutíveis a rótulos ideológicos simples. Além disso, a maioria delas tinha entre seus objetivos, implícitos ou explícitos, influenciar ativamente o discurso e os processos políticos no Brasil.

Essa dupla abordagem – abrangente e específica – é essencial para entender a evolução e a dinâmica do cenário político e intelectual do país, oferecendo uma com preensão mais rica e nuançada a seu respeito. Mas, para entender completamente o pensamento político brasileiro em um sentido estrito, é essencial situá-lo dentro de seu contexto histórico e intelectual. Seu desenvolvimento, desde a Independência até a atualidade, pode ser compreendido com a análise de três períodos distintos, cada um com suas características e abordagens próprias.

De 1822 a 1889, durante o Império, a política era vista como uma “arte de governar”, exigindo a sabedoria de estadistas ilustrados que buscavam inspiração em modelos estrangeiros, adaptando-os à realidade brasileira. Enquanto os liberais defendiam princípios universais e imutáveis, os conservadores priorizavam a flexibilidade e a adaptação às circunstâncias específicas do Brasil. O debate entre liberais e conservadores foi marcado pela tentativa de encontrar um equilíbrio entre os ideais iluministas e a singularidade da sociedade brasileira, culminando em um pensamento político que buscava conciliar a modernidade com a tradição.

O segundo período, que se estendeu de 1889 a 1930, marcou a República e a ascensão de uma perspectiva “científica” da política, influenciada pelo positivismo e pelo evolucionismo. Muitos intelectuais buscavam uma “política científica”, baseada na observação e na análise crítica, citando autores estrangeiros. Outros defendiam uma ciência política pragmática, atenta às particularidades do contexto brasileiro. Esse período foi caracterizado pela tentativa de aplicar teorias científicas ao governo, na busca de um progresso racional e ordenado, em contraste com o empirismo e o pragmatismo do período imperial.

Em 1930, iniciou-se o terceiro período, marcado por uma crítica ao formalismo jurídico e à dependência em relação a modelos estrangeiros. Intelectuais comprometidos com o ideário nacionalista defenderam uma ciência política pragmática, com foco na transformação da realidade nacional, utilizando a sociologia como ferramenta de análise. Após a Segunda Guerra, o nacionalismo passou a falar a linguagem do desenvolvimento, buscando formular uma teoria que respondesse aos desafios do Brasil. O marxismo também ganhou espaço, analisando as contradições sociais e as relações de poder no país. Esse período é caracterizado pelo empenho em se criar uma ciência política brasileira apta a interpretar e transformar a sociedade nacional a partir de suas próprias bases.

Apesar da influência de diferentes correntes, o pensamento político brasileiro sempre buscou uma identidade, capaz de articular ideias universais à realidade específica do país. Novas vozes e perspectivas continuam a enriquecer e desafiar as interpretações tradicionais, garantindo que a produção intelectual brasileira permaneça dinâmica.

Do ponto de vista metodológico, é fundamental considerar o contexto histórico e evitar a aplicação anacrônica de conceitos contemporâneos. É preciso reconhecer que a interpretação do Brasil é sempre influenciada pelo sujeito que a realiza, e a busca por uma resposta definitiva é um desafio constante. Também é crucial evitar o eurocentrismo, reconhecendo o valor autônomo, a originalidade, a capacidade de inovação – em suma, a relevância – da produção intelectual brasileira, que reflete as especificidades da experiência nacional.

A dicotomia entre “idealismo” e “realismo” é frequentemente utilizada para analisar o pensamento político brasileiro. No entanto, essa classificação pode ser simplista e obscurecer a riqueza e diversidade de perspectivas presentes na história do país. O idealismo, frequentemente associado a autores liberais, é criticado por sua suposta desconexão com a realidade. Por outro lado, o realismo, frequentemente associado a autores conservadores ou nacionalistas, é valorizado por sua atenção às condições específicas do Brasil. Porém, é importante analisar as nuances e as diferentes formas como os autores lidaram com a relação entre ideias e realidade.

Podem ser identificados três principais modelos de história intelectual que influenciaram a interpretação do pensamento político brasileiro: o liberal, o nacionalista e o marxista. É preciso reconhecer seus efeitos e suas diferentes abordagens, evitando a adesão acrítica a um único ponto de vista. A análise do pensamento político brasileiro deve combinar o rigor textual com a contextualização. Ou seja, as ideias dos autores devem ser compreendidas em seus próprios termos textuais, mas também considerando as condições históricas, as relações de poder e os debates que influenciaram suas obras.

A influência do contexto é particularmente evidente na forma como os intelectuais do país se apropriaram de conceitos estrangeiros. Esse processo não pode ser reduzido a uma simples importação de ideias. Pelo contrário: é um campo dinâmico e criativo, no qual conceitos universais são reinterpretados e transformados à luz das experiências e desafios locais. Essa adaptação e inovação é o que pode conferir ao pensamento brasileiro sua originalidade e relevância.

***

O termo “nova história”, que figura no subtítulo desta obra, não é mero artifício retórico, mas sim uma escolha que se justifica plenamente. Cada capítulo foi meticulosamente redigido por especialistas nos pensadores em análise; autores cujos extensos registros de publicações sobre seus temas abrangem desde teses de doutorado até artigos em revistas acadêmicas de renome, além de capítulos de livros relevantes. Desse modo, cada texto desta coletânea reflete um profundo amadurecimento reflexivo em relação ao seu objeto, embasado em um diálogo contínuo com as mais recentes contribuições da teoria política, tanto nacional quanto internacional. As reflexões aqui apresentadas fundamentam-se em referenciais teóricos sofisticados, como a história dos conceitos alemã de Reinhart Koselleck, o contextualismo da escola de Cambridge, a abordagem francesa do político, bem como os estudos recentes sobre linguagem política, história das circulações e transferências culturais. O resultado são releituras extraordinariamente sugestivas e instigantes dos clássicos do pensamento político brasileiro.

Qualquer obra que se proponha a oferecer uma história do pensamento político é, inevitavelmente, incompleta. Nenhuma é capaz de abranger toda a produção intelectual gerada ao longo de um extenso período em um determinado país, e esta não é uma exceção. Toda seleção é desafiadora. Por que Evaristo da Veiga, e não Hipólito da Costa? Visconde do Uruguai, e não Bernardo Pereira de Vasconcelos? Alberto Sales, e não Campos Sales? Gilberto Freyre, e não Gilberto Amado? Miguel Reale, e não Plínio Salgado? Nelson Werneck Sodré, e não Caio Prado Júnior? Florestan Fernandes, e não Octávio Ianni? A lista poderia continuar. É inegável que, nessas escolhas, há uma dimensão subjetiva considerável. No entanto, dentro das limitações de cada período, guiamo-nos por critérios de representatividade histórica e teórica em cada uma das cinco fases em que dividimos o século e meio que vai da Independência ao início da Nova República.

Optamos por não nos estender aos pensadores contemporâneos, na medida em que nenhum ainda se sagrou “clássico”. Além disso, diferentemente das décadas que precederam a Constituição de 1988, quando predominava a preocupação com a questão nacional, novos temas emergiram na virada do século XX, como o feminismo, o racismo e a identidade de gênero. Isso não significa que não seja possível elaborar uma “história do tempo presente” do pensamento político, mas sim que tal empreitada exigiria um enfoque distinto, a ser desenvolvido em um volume separado.

Assim, a primeira fase, intitulada “A construção do Estado nacional”, abrange a primeira metade do século XIX e inclui estudos sobre figuras como José Bonifácio, marquês de Caravelas, frei Caneca, Evaristo da Veiga e visconde do Uruguai. A segunda fase, “A emergência da sociedade nacional”, situa-se entre o final do século XIX e o início do século XX, com análises dedicadas a Tavares Bastos, José de Alencar, Joaquim Nabuco, Alberto Sales e Rui Barbosa. A terceira fase, “A reestruturação do Estado nacional: nacionalismo e autoritarismo”, aborda a primeira metade do século XX, período marcado pelo florescimento do pensamento autoritário, com estudos sobre Alberto Torres, Oliveira Viana, Gilberto Freyre, Azevedo Amaral e Otávio de Faria. Na quarta fase, “A transição para a sociedade de massas (1): o experimento democrático”, adentramos um momento de mudanças significativas após o ciclo autoritário encerrado em 1945, com análises de figuras como Sérgio Buarque de Holanda, Afonso Arinos de Melo Franco, Guerreiro Ramos, Nelson Werneck Sodré e Celso Furtado. Por fim, a seção “Transição para a sociedade de massas (2): o regime militar” examina autores cujas obras, ao menos em parte, foram produzidas durante o regime militar e estão, portanto, intrinsecamente ligadas ao autoritarismo da segunda metade do século XX. Essa seção inclui estudos sobre João Camilo de Oliveira Torres, Miguel Reale, Raymundo Faoro, Florestan Fernandes e Wanderley Guilherme dos Santos.

Esperamos oferecer, assim, um estudo minucioso da história do pensamento político brasileiro, tanto em sua amplitude histórica quanto em sua profundidade conceitual. Ao contemplar desde os primórdios da construção do Estado nacional até os desafios enfrentados durante o regime militar e os contemporâneos processos de democratização, buscamos não apenas desvelar as complexidades intrínsecas desse pensamento, mas também explorar as sutilezas e implicações das diversas abordagens sobre uma ampla gama de temas. Estes abrangem desde a formação e o papel do Estado, a questão da identidade nacional, as dinâmicas das relações sociais em uma nação periférica, passando por questões como liberdade, igualdade e democracia, até a legitimidade, participação e funcionamento das instituições democráticas. Assim, almejamos que nossa obra, além de proporcionar uma visão abrangente do desenvolvimento do pensamento político no Brasil, ofereça ferramentas analíticas para a compreensão dos desafios democráticos que a sociedade brasileira enfrenta na contemporaneidade.


sexta-feira, 2 de maio de 2025

A Guerra na Ucrânia - Capítulo 1: Introdução, Linha do Tempo - Marcelo Guterman

 Início de uma série:

A Guerra na Ucrânia - Capítulo 1: Introdução, Linha do Tempo e Referências

Motivação e capítulos

A ideia inicial dessa série era ser apenas um artigo para rebater um documentário produzido pelo Brasil Paralelo, “A Face Oculta de Zelensky”, que enquadra o presidente da Ucrânia como o culpado pela guerra em seu país. Segundo a narrativa do documentário, no final de 2019, Zelensky, pressionado por grupos nacionalistas nazistas, não teria dado continuidade a um acordo com Putin, que já havia sinalizado o fim dos movimentos separatistas da região do Donbas. A partir daí, continua a narrativa, Zelensky foi endurecendo cada vez mais, e foi questão de tempo para que Putin decidisse invadir a Ucrânia. O documentário vai além, insinuando que, para Zelensky, interessa que a guerra continue indefinidamente, pois assim, pode exercer seus poderes ditatoriais “legalmente”.

Comecei a pesquisar em materiais da época, para entender melhor a dinâmica dos acontecimentos. E, como tudo em história, uma coisa puxa a outra e, se não tomamos cuidado, a coisa termina em Adão e Eva. Assim, decidi colocar o início dos acontecimentos no referendo de independência, em 1991, que marca o início política da Ucrânia moderna.

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Depois que comecei a escrever o artigo, percebi que estava ficando muito longo. Decidi, então, dividir em capítulos, e o artigo transformou-se nesta série. Os capítulos serão os seguintes:

  1. Introdução, linha do tempo e referências: este capítulo inicial servirá como uma referência para os próximos.

  2. Demografia e economia da Ucrânia: para entender os acontecimentos que se desenvolvem atualmente, é essencial termos ao menos uma ideia do terreno onde pisamos.

  3. Os referendos e as eleições presidenciais: entender a dinâmica das diversas eleições ao longo do tempo nos permite entender os movimentos da opinião pública ucraniana.

  4. A Revolução Laranja e a Euromaidan: o que nos dizem as revoltas populares a respeito dos ucranianos.

  5. O “neonazismo” ucraniano: a influência da extrema-direita na política ucraniana.

  6. O anschluss russo: a dinâmica de anexação de territórios de países vizinhos.

  7. A Rússia e a OTAN: a história da relação tumultuada entre a Rússia e a Aliança militar ocidental.

  8. Os acordos de Minsk: uma tentativa de entender porque os acordos de paz não funcionaram para evitar a guerra.

  9. Quem é Volodymyr Zelensky: uma análise do atual presidente da Ucrânia.

Linha do tempo

Colocar os eventos em uma linha do tempo é útil para relacionar eventos que parecem não ter relação entre si.

Década de 1990

19/ago/1991: tentativa frustrada de golpe de Estado contra Boris Yeltsin na União Soviética.

24/ago/1991: o Soviete Supremo da Ucrânia aprova a Declaração de Independência por 326 votos a 2, com uma abstenção. No mesmo dia, o parlamento ucraniano aprova a independência por 346 votos contra um, com 3 abstenções, e convoca um referendo para o dia 1º de dezembro. A declaração faz menção à tradição milenar do Estado ucraniano e à indivisibilidade e inviolabilidade do território do País.

01/dez/1991: a independência da Ucrânia é aprovada em referendo popular por 92,3% dos votos válidos e comparecimento de 84,2% da população. Mesmo as províncias mais russófonas votaram em peso pela independência.

01/dez/1991: no mesmo dia do referendo, os ucranianos elegem o seu primeiro presidente, Leonid Kravchuk, que vence no primeiro turno com 61,6% dos votos válidos. Kravchuk era o presidente do Soviete Supremo da Ucrânia até a sua dissolução, e havia atuado como presidente interino desde a declaração de independência até as eleições.

02/dez/1991: Boris Yeltsin, em uma declaração a uma emissora de TV, reconhece a independência da Ucrânia. Oficialmente, o parlamento russo reconheceria o novo País em 12/dez/1991.

08/dez/1991: assinado o Acordo de Belovezhapela Rússia, Ucrânia e Bielorrússia, que estabelece o Commonwealth Independent States (CIS) no lugar da antiga União Soviética. No seu artigo 5, o Acordo determina o “reconhecimento e o respeito à inviolabilidade e à integridade territorial de seus signatários”.

26/dez/1991: a União Soviética é oficialmente dissolvida.

22/jan/1993: os estatutos do CIS são aprovados sem a assinatura da Ucrânia.

10/jul/1994: Leonid Kushma é eleito o 2º presidente da República da Ucrânia, vencendo o incumbente, Leonid Kravchuk, por 53,6% a 46,4% no 2º turno, recebendo a maior parte de seus votos das províncias do Leste, de maioria étnica russa.

05/dez/1994: assinado o Memorando de Budapeste, em que Ucrânia, Bielorrússia e Kazaquistão aderem ao Pacto de Não-Proliferação Nuclear, abrindo mão das armas nucleares herdadas da antiga União Soviética. Em troca, recebem várias garantias por parte da Rússia, EUA e Grã-Bretanha, inclusive, de respeito às fronteiras reconhecidas.

31/mai/1997: assinado o Tratado de Amizade, Cooperação e Parceria entre Rússia e Ucrânia, estabelecendo uma parceria estratégica entre os dois países e reafirmando o respeito pela integridade territorial de ambos os países.

12/mar/1999: Rep. Tcheca, Hungria e Polônia tornam-se membros da OTAN.

14/nov/1999: o presidente Leonid Kushma é reeleito no 2º turno por grande margem (59,8% contra 40,2%) contra o seu adversário, Petro Symonenko. Ao contrário de sua primeira eleição, Kushma recebeu mais votos das províncias do Oeste, perdendo em Donetsk e Crimeia, províncias onde tinha vencido com facilidade 5 anos antes.

31/dez/1999: Boris Yeltsin renuncia ao governo da Rússia, sendo sucedido interinamente pelo seu primeiro-ministro, Vladimir Putin.

Década de 2000

26/mar/2000: Vladimir Putin é eleito, pela primeira vez, presidente da Rússia, com 53% dos votos no 1º turno.

28/mai/2002: É assinada a Declaração de Roma, em que se estabelece o Conselho OTAN-Rússia (NRC), um fórum de cooperação em que a Rússia entrava como um parceiro em igualdade de condições com os outros membros da OTAN.

02/nov/2003: depois de eleições parlamentares fraudadas, a oposição lidera o que ficou conhecida como “Revolução Rosa” na Georgia, que depõe o presidente pró-Rússia. É considerada a precursora da “Revolução Laranja” na Ucrânia pela mesma razão e com os mesmos efeitos.

14/mar/2004: Vladimir Putin é reeleito presidente da Rússia com 71,3% dos votos.

29/mar/2004: Estônia, Lituânia, Letônia, Bulgária, Romênia, Eslováquia e Eslovêniaaderem oficialmente à OTAN.

03/set/2004: um ataque terrorista checheno em uma escola de Beslan, cidade na fronteira com a Georgia, mata mais de 500 pessoas, inclusive crianças. Putin dirá que “nós nos mostramos fracos, e os fracos são abatidos”.

21/nov/2004: Viktor Yanukovych vence o 2º turno das eleições por 51,5% a 48,5% contra Viktor Yushchenko. Os votos de Yanukovych vieram principalmente das províncias russófonas do Leste. Assim que os resultados são anunciados, uma onda de protestos contra fraudes nas eleições toma conta do país, na chamada “Revolução Laranja”, pois seus adeptos usavam laços cor-de-laranja.

03/dez/2004: a Suprema Corte ucraniana anula o 2º turno das eleições, e marca uma nova votação para o dia 26/12.

26/dez/2004: Viktor Yushchenko vence o novo 2º turno das eleições contra Viktor Yanukovych, por 54,1% a 45,9%, recebendo votos principalmente das províncias do Oeste.

02/mar/2008: Dmitri Medvedev é eleito presidente da Rússia, para suceder a Vladimir Putin, com 70,3% dos votos. Putin é “escolhido” como primeiro-ministro pelo presidente eleito Dmitri Medvedev.

07/ago/2008: o Kremlin ordena a invasão da Georgia, nas regiões da Abkhazia e Ossetia do Sul.

01/abr/2009: Albânia e Croácia tornam-se membros da OTAN.

Década de 2010

07/fev/2010: em um 2º turno apertado, o candidato pró-Rússia Viktor Yanukovych, que havia vencido as eleições anteriores, mas teve o resultado anulado pela Suprema Corte, vence a candidata pró-Europa Yulia Tymoshenko, por 51,8% a 48,2%. Como na eleição anterior, Yanukovych tem a maior parte de seus votos vindos das províncias do Leste.

11/out/2011: Yulia Tymoshenko é sentenciada e presa em um processo anticorrupção. Os países do Ocidente condenam a prisão da principal líder da oposição.

04/mar/2012: Vladimir Putin é eleito presidente da Rússia com 63,6% dos votos para suceder a Dmitri Medvedev.

30/mar/2012: os termos de um futuro Acordo de Associação entre a Ucrânia e a União Europeia são finalizados.

21/nov/2013: o presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, anuncia que o País não iria assinar o acordo de cooperação comercial com União Europeia, que iria ser assinado uma semana depois. Começam os protestos populares contra a decisão.

30/nov/2013: pela primeira vez, a polícia reprime violentamente os protestos. A partir de então, as manifestações ganham volume.

11/dez/2013: a polícia tenta esvaziar a Praça da Independência com violência.

17/dez/2013: Putin assina um acordo com o presidente Yanukovych, comprando $15 bilhões da dívida externa ucraniana e baixando o preço do gás em um terço.

07/fev/2014: tem início as Olímpiadas de Inverno de Sochi, Rússia.

18-20/fev/2014: a repressão aos protestos atinge o ápice da violência, até que, no dia 20, snipers atiram nos manifestantes reunidos na Euromaidan, precipitando a perda de legitimidade do governo Yanukovich.

22/fev/2014: o congresso ucraniano vota unanimemente pela destituição de Yanukovych, que foge para a Rússia. Oleksandr Turchynov, presidente do Congresso, assume como presidente interino até que novas eleições possam ser organizadas (a próxima oficial seria no início de 2015).

23/fev/2014: o parlamento vota o fim do russo como 2ª língua do país, causando uma onda de revolta nas províncias pró-Rússia. A votação foi cancelada dias depois.

23/fev/2014: encerramento das Olímpiadas de Inverno de Sochi, Rússia.

27/fev/2014: a Rússia dá início à invasão da Crimeia.

18/mar/2014: Putin assina decreto absorvendo a Crimeia como parte da Rússia.

21/mar/2014: Ucrânia e União Europeia assinam um Acordo de Associação (Association Agreement), aquele mesmo que o ex-presidente Yanukovich se recusou a assinar.

07/abr/2014: manifestantes começam a ocupar prédios do governo em Donetsk e Luhansk.

15/abr/2014: o presidente em exercício, Olexander Turchynov, anuncia o início da “Operação Anti-Terrorismo” (ATO, na sigla em inglês) contra os separatistas pró-Rússia.

17/abr/2014: os chanceleres de Rússia, Ucrânia, EUA e UE se reúnem em Genebra e entram em um acordo para desescalar a crise no Leste. A Rússia afirma que a crise deve ser resolvida pelos ucranianos, e sugere que “mudanças constitucionais devem começar”, supostamente para dar autonomia a essas duas províncias.

11/mai/2014: os separatistas declaram a independência de Donetsk e Luhansk após referendos não reconhecidos pela comunidade internacional.

25/mai/2014: as eleições ucranianas (antecipadas) são vencidas no 1º turno por Petro Poroshenko (55,5%), seguido por Yulia Tymoshenko (13,0%) e Oleh Liashko (8,4%). O comparecimento nas províncias ocupadas do Leste é muito baixo.

05/jul/2014: as forças ucranianas retomam a cidade de Sloviansk das mãos dos rebeldes. A retomada de Donetsk parece ser o próximo passo.

17/jul/2014: um voo da Malaysia Airlines que vinha de Amsterdam com 298 passageiros e tripulantes é derrubado pelos separatistas.

14/ago/2014: tem início uma “invasão furtiva” do Donbas por tropas russas.

26/ago/2014: 4 militares russos são capturados pelas forças ucranianas em território ucraniano, evidenciando o envolvimento da Rússia no conflito. O Kremlin afirma que os militares atravessaram a fronteira “por acidente”.

03/set/2014: pressionado pela ofensiva russa, Petro Poroshenko anuncia que chegou a um acordo de cessar-fogo com Vladimir Putin. O Kremlin nega, afirmando cinicamente que, não sendo parte no conflito, não pode entrar um acordo de cessar-fogo.

05/set/2014: Ucrânia e Rússia assinam o primeiro Acordo de Minsk, na capital da Bielorrússia.

03/nov/2014: separatistas elegem novos líderesdas autodenominadas Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk em eleições apoiadas pela Rússia e contestadas pela Ucrânia e pelo Ocidente como uma quebra do acordo de Minsk. Alexander Zakharchenko é eleito o primeiro-ministro de Donetsk, e Igor Plotnitsky o primeiro-ministro de Luhansk.

12/fev/2015: o Acordo de Minsk II é assinado por representantes da Rússia, Ucrânia e OSCE, depois que o primeiro não surtiu os efeitos desejados.

16/nov/2015: vai ao ar o primeiro episódio da série Servo do Povo, estrelado por Volodymir Zelensky.

18/fev/2017: o Kremlin decide reconhecerdocumentos emitidos pelas autoridades rebeldes de Donetsk e Lugansk.

05/jun/2017: Montenegro torna-se membro da OTAN.

24/nov/2017: o líder separatista de Luhansk, Igor Plotisky, é deposto em golpe patrocinado por forças leais ao líder separatista de Donetsk, Alexander Zakharchenko. A República Independente de Luhansk é assumida por Leonid Pasechnik, um oficial de carreira ligado ao FSB, o órgão de inteligência russo.

30/nov/2017: Zelensky anuncia o fim de uma série chamada Matchmakers, que ele produzia na estúdio Kvartal 95, depois que o governo ucraniano impediu o ator russo Fyodor Dobroravov, protagonista da série, de entrar no país.

03/dez/2017: o estúdio Kvartal 95, produtora de Zelenksy, inclusive da série Servo do Povoregistra um partido com o mesmo nome.

22/dez/2017: a administração Trump permite, pela primeira vez, a venda de armas letais para a Ucrânia, revertendo uma orientação da administração Obama. No caso, foram fornecidos mísseis anti-tanques Javelin.

28/fev/2018: a Suprema Corte da Ucrânia entende como inconstitucional uma lei de 2012 que permitia o uso do russo em cortes, escolas e repartições públicas.

18/mar/2018: Vladimir Putin é reeleito presidente da Rússia com 76,7% dos votos.

30/abr/2018: a Operação Anti-Terrorismo (ATO) é substituída pela Operação Forças Conjuntas (JFO) no combate aos separatistas. A diferença é que, a partir de agora, as operações são comandadas pelas Forças Armadas, ao invés das Forças de Segurança Interna. O conceito é de que o inimigo não são os separatistas (considerados terroristas), mas a própria Rússia.

31/ago/2018: Alexander Zakharchenko, líder separatista de Donetsk, é assassinado em um atentado a bomba. Assume o seu lugar Denis Pushilin, ligado a Vladislav Surkov, ponto de contato entre o Kremlin e os separatistas.

22/nov/2018: o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, envia ao Congresso um projeto de emenda à Constituição que prevê a adesão à União Europeia e à OTAN como objetivos estratégicos do país.

31/dez/2018: Volodymyr Zelensky anuncia sua candidatura à presidência nas eleições do ano seguinte.

06/jan/2019: O Patriarca Ecumênico de Constantinopla, a principal autoridade do cristianismo ortodoxo, reconhece a independência da Igreja Ortodoxa Ucraniana, separando-a formalmente da Igreja Ortodoxa Russa, que mantém laços estreitos com o Kremlin e supervisionava a Igreja Ucraniana há séculos. Putin acusa os Estados Unidos de estar por trás do movimento.

07/fev/2019: o parlamento ucraniano aprova emenda à Constituição que coloca a adesão à União Europeia e à OTAN como objetivos estratégicos do país.

31/mar/2019: 1º turno das eleições nacionais. Volodymyr Zelensky tem 30,2% dos votos, Petro Poroshenko (o incumbente) tem 16,0%, Julya Tymoshenko tem 13,6% e Yurly Boyko (candidato pró-Rússia) obtém 11,8% dos votos.

21/abr/2019: 2º turno das eleições nacionais. Zelensky vence as eleições com 73,0% dos votos. Suas maiores votações ocorreram justamente nas províncias mais russófonas do Leste e do Sul do país.

24/abr/2019: o Kremlin publica o decreto no 183, que permite um fast track para a naturalização de ucranianos que vivem nas áreas dominadas pelos separatistas, diminuindo de 8 anos para 3 meses o tempo necessário para os trâmites. Os documentos necessários são as identidades emitidas pelas autoridades separatistas.

29/abr/2019: o Kremlin estende o direito para aqueles que residiam nessas regiões antes de abril de 2014 e que possuem documentos que lhes permitem ficar em território russo.

14/jul/2019: protestos começam a tomar as ruas de Moscou contra a interferência de Putin nas eleições municipais.

17/jul/2019: o direito de obtenção do passaporte russo é estendido para todos os habitantes da região do Donbas, mesmo aquelas partes controladas pelo governo ucraniano.

21/jul/2019: o partido de Zelensky vence as eleições parlamentares, com os deputados de seu partido levando 43% das cadeiras, enquanto o partido pró-Rússia – For Life – ganha apenas 13%. O parlamento teve renovação de nada menos que 80% das cadeiras, em uma demonstração da insatisfação da população com a elite política local.

25/jul/2019: em um telefonema, Trump pede um “favor” ao presidente ucraniano: uma investigação sobre os negócios do filho de Joe Biden, Hunter Biden, na Ucrânia. Este telefonema seria usado como base para o processo de impeachment de Trump, em dezembro.

08/set/2019: o partido de Putin é derrotado nas eleições municipais em várias cidades importantes, incluindo Moscou.

24/set/2019: a presidente do Câmara, a democrata Nancy Pelosi, anuncia que a Câmara começará os procedimentos de impeachment de Donald Trump por conta de um telefonema de 25/07/2019 em que Trump pede a Zelensky que investigue o filho de Biden.

25/set/2019: primeiro encontro oficial entre Zelensky e Trump, na Assembleia Geral da ONU.

01/out/2019: Zelensky anuncia que a Ucrânia assinou a sua concordância com a Fórmula Steinmeier para a implementação do Acordo de Minsk II, o que significa permitir eleições nos territórios ocupados e, se forem consideradas limpas, a devolução do controle da fronteira para Kiev com a retirada das forças russas do território ucraniano.

09/dez/2019: reunião de cúpula em Paris, entre Zelensky, Putin, Merkel e Macron. Muito pouco se avança.

09/dez/2019: a Agência Mundial Anti-Doping bane a Rússia por 4 anos de todas as competições olímpicas sob acusação de doping sistêmico.

Década de 2020

27/mar/2020: a Macedônia do Norte torna-se membro da OTAN.

12/jun/2020: a OTAN reconhece a Ucrânia como um “Enhanced Opportunities Partner”, juntando-se a Austrália, Finlândia, Georgia, Jordânia e Suécia como país com esse status.

04/jul/2020: a Constituição da Rússia recebe uma emenda sob medida para que Putin possa concorrer a mais dois mandatos consecutivos, além deste que está exercendo no momento. Com isso, Putin pode ficar no poder até 2036.

20/ago/2020: Alexei Nalvany, opositor de Putin, é envenenado.

14/set/2020: o governo ucraniano aprova a nova Estratégia Nacional de Segurança, que prevê as condições para uma parceria com a OTAN, com o objetivo de uma futura admissão à Aliança.

18/jan/2021: Alexei Nalvany é preso pelo governo russo para nunca mais ser libertado até a sua morte, em fev/2024.

02/fev/2021: o governo de Zelensky fecha três canais de TV pró-Rússia: ZIK, NewsOne e 112 Ukraine, supostamente pertencentes a Viktor Medvedchuk, o aliado mais proeminente do Kremlin na Ucrânia. Putin é padrinho de casamento da filha de Medvedchuk.

20/fev/2021: o governo de Zelenskyy impõe sanções a vários políticos ucranianos com laços estreitos com o presidente russo Putin, incluindo Viktor Medvedchuk.

14/abr/2021: o ministro da defesa da Ucrânia, Andrii Taran, afirma que 110.000 soldados russos estão se concentrando na fronteira em 56 grupos táticos do tamanho de um batalhão, citando as últimas informações da inteligência de Kiev.

14/mai/2021: Viktor Medvedchuk, aliado de Putin na Ucrânia, é preso pelo governo ucraniano sob acusação de traição, por ter supostamente usado recursos de suas empresas para financiar os separatistas.

19/mai/2021: o governo Biden levanta as sanções impostas pelo governo americano à construção do Nord Stream 2, o gasoduto sob o Mar Báltico, como uma política de boa vizinhança com o governo alemão.

16/jun/2021: Biden se encontra com Putin em Genebra.

23/jun/2021: a Rússia atira em um destroyer britânico no Mar Negro, que passou próximo da Crimeia.

12/jul/2021: Putin escreve um longo artigo, intitulado “Sobre a Histórica Unidade de Russos e Ucranianos”, defendendo que a Ucrânia sempre fez parte da Rússia.

07/dez/2021: em teleconferência entre Biden e Putin, o presidente americano deixou claro para o seu par russo as consequências de uma guerra na Ucrânia.

23/dez/2021: em uma conferência de imprensa com jornalistas russos, Putin afirma que os Estados Unidos querem a guerra.

10 a 13/jan/2022: Putin faz um périplo: conversa com Biden em Genebra, participa de uma reunião no Conselho OTAN-Rússia e de uma reunião na OSCE. As demandas de Putin: 1) que a OTAN renuncie a qualquer expansão adicional, não somente na Ucrânia ou Georgia; 2) os EUA devem abrir mão de proteger seus aliados com armas nucleares táticas e mísseis de curto e médio alcance; 3) não mais envio de tropas e exercícios militares nos países do leste europeu que fazem parte da NATO e 4) fim da cooperação militar com as ex-repúblicas soviéticas. Essas demandas são vistas como uma espécie de ultimato para justificar a invasão da Ucrânia.

24/fev/2022: a Rússia oficialmente invade a Ucrânia.

04/abr/2023: a Finlândia torna-se membro da OTAN.

07/mar/2024: a Suécia torna-se membro da OTAN.

17/mar/2024: Vladimir Putin é reeleito presidente da Rússia com estonteantes 88,5% dos votos. As próximas eleições serão em 2030, quando Putin poderá se candidatar novamente.

Referências

Livros, artigos e sites

Reportagens

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