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quinta-feira, 10 de abril de 2014

Brasil: Dez anos perdidos sob os companheiros - Fernando Luis Schuler

A era da hesitação

Poucos definiram melhor o que se passou no Brasil, na última década, do que o economista e ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco: “perdemos uma década com hesitações ideológicas, e esse tempo é irrecuperável”. A parte final da frase é um pouco forte. Em cem ou duzentos anos, é provável que ninguém se lembre dos tropeços da década passada. No tempo de nossa geração, e da próxima, não obstante, a perda é imensa. Ela se refere aos erros e não-decisões do Brasil, exatamente no meio do chamado bônus demográfico, a época de ouro para o crescimento de qualquer país, em que ele apresenta a maior taxa percentual de gente jovem entrando no mercado de trabalho, ou em pleno vigor produtivo, sobre o total da população.
O Brasil poderia, na última década, ter afirmado sua posição como liderança global pelos direitos humanos e pela democracia. Ao contrário, gastou uma década abstendo-se, ano após ano, na ONU, nas votações sobre violações de direitos humanos no Irã, país que mais pratica a pena de morte e um dos que mais persegue jornalistas em todo o mundo. Em 2011, a presidenta Dilma chegou a se recusar a receber a Prêmio Nobel da Paz e dissidente iraniana, Shirin Ebadi, em visita ao Brasil. Ebadi, símbolo da luta global pelo direito à igualdade de tratamento para as mulheres, e não apenas no Irã. No plano regional, ao invés de se consolidar uma posição de equilíbrio, liderando o continente no sentido da consolidação democrática, gastou uma década oferecendo respaldo à destruição sistemática das instituições, na Venezuela. E mesmo agora, em meio à avalanche de mortes, repressão e violações explícitas de direitos, pelo regime chavista, silencia. Isto para não falar do apoio explícito e constrangedor do Estado brasileiro à ditadura de 55 anos, dos irmãos Castro, em Cuba.
O Brasil poderia ter consolidado, nesta última década, a política de estabilização e modernização econômica, inaugurada com o Plano Real. O caminho parece claro: a autonomia do Banco Central; a rigorosa independência funcional e técnica das agências reguladoras; a progressiva redução da carga tributária; a desburocratização; a abertura do país ao comércio internacional, com uma política agressiva de acordos de livre comércio; a adoção do modelo de concessões e parcerias público privadas, nas áreas de infraestrutura, como recente e timidamente vimos em alguns terminais portuários e aeroportuários. O mesmo raciocínio teria valido para a manutenção do modelo de concessões nas reservas do pré-sal, oferecendo segurança jurídica e condições favoráveis ao investimento privado. Tudo com o foco de aumentar a taxa de investimento na economia, que se mantém estabilizada no patamar muito baixo de 18%, claramente insuficiente para retirar o país da chamada armadilha do baixo crescimento.
O Brasil poderia ter consolidado, nesta última década, a política de estabilização e modernização econômica, inaugurada com o Plano Real
O Brasil poderia ter avançado em uma reforma da lei trabalhista. A CLT é uma das legislações trabalhistas mais rígidas do mundo. Foi criada por Getúlio Vargas em 1943, em um Brasil com taxa de analfabetismo superior a 50% e renda per capita de U$ 200. Um mundo sem computadores, sem home office, sem dispositivos móveis que nos permitem trabalhar a qualquer hora e em qualquer lugar. O Brasil faz de conta que não vê. Orgulha-se de sua taxa de desemprego de 5%, escondendo seu exército de mais de 44 milhões de trabalhadores informais. Na última década, em nada avançamos. O país submete-se à pressão da estrutura sindical, ela mesma financiada com os recursos deste arcaísmo que é o imposto sindical. Nem mesmo a legislação que procura flexibilizar as contrações via terceirização consegue avançar no Congresso. O jogo meramente corporativo se traveste de heroísmo ideológico.
O Brasil poderia ter avançado, nesta última década, em uma ampla reforma da gestão pública. As bases para esta reforma estão lá, perfeitamente claras e definidas, desde 1998, com o Plano Diretor da Reforma do Estado. As diretrizes da reforma foram testadas, com amplo êxito, na rede de hospitais públicos do Estado de São Paulo, estruturada na forma das Organizações Sociais, com contratos de gestão assinados pelo Estado. O mesmo ocorre com as melhores instituições culturais, a OSESP, Pinacoteca do Estado, Museu da Língua Portuguesa. Ao invés disso, em dez anos, nenhum mísero contrato de gestão, em nenhum museu federal, nenhum hospital, foi levado adiante pelo governo federal. A aposta recaiu, sem tirar nem por, na inércia. O mesmo ocorre com o sistema prisional. Mesmo que amplamente comprovado o sucesso das PPPs para a gestão prisional, o país em nada avançou, nesta direção. Continuou-se apostando no velho modelo de presídios estatais, com sua imensa e tosca burocracia, e incapacidade crônica de gestão.
De um modo geral, o rumo tomado pelo país foi o da expansão da máquina pública. O número de servidores públicos civis da União, que vinha caindo sistematicamente, desde o início dos anos 90, voltou a subir aceleradamente. Eram 501 mil funcionários públicos federais, em 2002. Hoje, este número passa de 650 mil. Pior: o número de cargos de livre nomeação política, de alto escalão, os chamados DAS-4, DAS-5, DAS-6, cresceu exatos 101% nos últimos 10 anos. No discurso oficial, este crescimento aparece com uma exigência de “reconstrução do Estado”. Quem quiser acreditar nisso, que o faça. Enxergue nisso uma obra weberiana. Alguém menos otimista verá nisso simplesmente a expansão da malha de cooptação política necessária para sustentar 39 ministérios, o recorde da Republica, e acomodar os 14 partidos políticos que compõem a base do Governo.
O Brasil poderia ter avançado em uma reforma da educação pública. Ao contrário, o país apostou no modelo tradicional, das grandes redes estatais de educação básica. O resultado é inequívoco: no ano 2000, ocupávamos a 40ª posição, entre 41 países avaliados no PISA (exame internacional de educação, dirigido pela OCDE); em 2012, ocupamos o 58º lugar, em uma lista de 65 países avaliados. Durante este período, o Chile consolidou sua posição de país mais bem colocado da América Latina. Para alguns, tudo está bem. Afinal, avançamos um pouco, não? Acostumados à mediocridade, podemos nos contentar. Quem sabe, em mais dez anos, chegamos ao 53º lugar? Ano passado, participei em um debate no Senado, sobre educação, com autoridades do governo federal. Imagine-se qual era o país mais criticado? O Chile, obviamente. Único país latino-americano a adotar, com alguma escala, o sistema de voucher educação, que permite aos pais escolher a escola de seus filhos, e incentiva a gestão privada do ensino. O Brasil, nesta década, continuou insistindo no modelo dos “dois sistemas” de educação. A educação do governo, para os mais pobres, e a dos colégios particulares, para os mais ricos. O modelo está condenado. Irremediavelmente. Ele só fará crescer, se mantido, o fosso da desigualdade social brasileira. Mas parece que é nele que apostamos, cheios de orgulho.
Em termos de políticas sociais, o Brasil patina, lá se vai uma década, em um falso debate. O debate sobre os méritos do programa Bolsa Família
Em termos de políticas sociais, o Brasil patina, lá se vai uma década, em um falso debate. O debate sobre os méritos do programa Bolsa Família. Reconhecemos todos que o programa é meritório, e sabemos todos de seus limites. Em meio ao falso debate, o país permanece inerte. Nas palavras do economista Eduardo Giannetti, “gostaria de viver em um país em que se comemorasse que um milhão de pessoas saiu do Bolsa Família, passando a viver de seu próprio trabalho, e não o contrário, em que se comemora que mais um milhão passou a depender do benefício”. O Brasil não desenvolveu, em paralelo à concessão de uma renda mínima aos mais pobres, estratégias de “economia clínica”, na expressão de Jeffrey Sachs, capazes de promover a emancipação das pessoas em relação à pobreza. A máquina social do governo foi inoculada, até a medula, pela cultura do assistencialismo. O truque parece perfeito: qualquer crítica ao programa, é chamada, imediatamente, de “conservadora”. Enquanto isto, já passa de um quarto da população do país dependendo do programa. É preciso perguntar se um programa de transferência de renda, necessário e correto, não termina por tornar-se ele mesmo um promotor da pobreza, quando concentra seus incentivos na dependência das pessoas em relação ao Estado.
É evidente que há elementos positivos, na vida brasileira, na última década. Particularmente, gosto do caminho aberto pelo ProUni, verdadeiro sistema de parceria público privada, na educação superior. Gosto do programa Ciências sem Fronteiras. E acho incrível, diferente de muita gente, que o país tenha conquistado o direito de sediar os Jogos Olímpicos, em 2016. O ponto é que o Brasil precisar corrigir o rumo. Fazer as reformas de modernização, que deixou para trás, em algum momento do início do século. Fazer o que Mario Covas anunciou, na campanha de 89: dar um “choque de capitalismo”. Vindo de um notório social-democrata como ele, a expressão adquire um sentido bastante claro. O tema é romper com nossa velha e persistente tradição patrimonial. Há uma década pela frente, novinha em folha, para ser trilhada. O desafio é parar com a hesitação. Saber mudar, com responsabilidade.

Fernando Luis Schuler

Fernando Luis Schuler é diretor geral do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) no Rio de Janeiro. Doutor em filosofia e mestre em ciências políticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É especialista em políticas públicas e gestão governamental pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e em cooperação internacional pela Universidade de Barcelona. Foi diretor da Fundação Iberê Camargo, chefe de gabinete do Ministério da Cultura, secretário de Estado da Justiça e do Desenvolvimento Social do Rio Grande do Sul.


quarta-feira, 9 de abril de 2014

Doutorado Honoris Causa: Celso Lafer, pela Universidade de Haifa (27/05/2014)

Recebi este honroso convite, para a concessão de um Doutorado Honoris Causa ao Professor Celso Lafer, pela Universidade de Haifa, em Israel, evento ao qual não poderei comparecer, mas que merece registro neste espaço:

Prezado(a) Senhor(a),

É com grata satisfação que vimos convidá-lo(a) à Outorga do Título Doutor Honoris Causa da Universidade de Haifa ao Prof. Celso Lafer.

A cerimonia será realizada em 27 de maio de 2014, no Hecht Museum Auditório - Universidade de Haifa - Mount Carmel, Israel, as 19 horas.

Em anexo o convite.

Desde já colocamo-nos à disposição e o aguardamos em tão importante evento.

Cordialmente,


Sociedade Amigos da Universidade de Haifa


Curso no Uniceub: Cinco requisitos para o crescimento sustentavel - Paulo Roberto de Almeida

Reproduzo abaixo o anúncio feito pela Secretaria dos programas de mestrado e doutorado em Direito do Uniceub (onde sou professor), sobre o seminário especial que darei durante minha breve estada no Brasil, em Brasília, na segunda quinzena do corrente mês de Abril. Depois acrescento mais algumas informações.

Seminário
Requisitos básicos para um crescimento econômico sustentado (9h)

Áreas: Políticas Públicas e Relações Internacionais
Professor: Dr. Paulo Roberto de Almeida
Datas: 28, 29 e 30 de abril de 2014
Horário: das 9h às 12h        
Local: Sala reuniões Multimeios  - Biblioteca

 Informações adicionais
- Para aproveitamento, de cada seminário são necessários 100% de presença e entregar resumo ou atividade que o professor definir (entrega até 06/06/2014);
- Leitura obrigatória antes dos seminários.

O programa do Seminário Especial encontra-se disponível no seguinte link: http://cl.ly/40142D1I1f0f

Textos oferecidos para leitura dos alunos e discussão em classe, encontram-se disponíveis como segue: 


1) ALMEIDA, Paulo Roberto de. “Políticas econômicas nacionais no contexto da globalização: a questão do desenvolvimento”, Revista Espaço da Sophia, vol. I, n. 11, fevereiro 2008,  ISSN: 1981-318X, 20 p; disponível: http://cl.ly/0A1V3o2X0u35 
2) –––––––– . “A Experiência Brasileira em Planejamento Econômico: uma síntese histórica”, 2004; disponível: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1277HistorPlanejBrasil.pdf.
3) –––––––– . “Dinâmicas da economia no século XX”, in SILVA, Francisco Carlos Teixeira da (org.). O Século Sombrio: uma história geral do século XX. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2004, p. 47-70; disponível: http://www.academia.edu/5783550/040_Dinamicas_da_economia_no_seculo_XX_2004_.
4) BARRO, Robert J.; SALA-I-MARTIN, Xavier, Economic Growth. 2nd. ed.; Cambridge, Mas.: The MIT Press, 2003; Introduction, p. 1-22; disponível: http://cl.ly/3F193S3K3s17
5) JOHNSON, Harry C. “The Case For Flexible Exchange Rates”, Journal of the Federal Reserve Bank of St. Louis, June 1969, p. 12-24; available: https://research.stlouisfed.org/publications/review/69/06/Flexible_Jun1969.pdf





Retiro, do programa do seminário, esta informação:

Requisitos básicos para um crescimento econômico sustentado

EMENTA:
O seminário especial de Economia Política, no quadro da concentração em Direito e Políticas Públicas do programa de Mestrado e Doutorado em Direito, tem por objetivo aprofundar o conhecimento dos mestrandos ou doutorandos sobre os requerimentos básicos de um processo sustentado de crescimento econômico, base essencial de um processo inclusivo de desenvolvimento econômico e social. Ele vai tratar essencialmente da prática econômica dos Estados, com especial referência à experiência brasileira de desenvolvimento ao longo da últimas décadas, mas também se referirá aos elementos teóricos que sustentam as políticas econômicas, em escala macro, setorial ou de nível microeconômico. O seminário abordará, assim, tanto a parte conceitual, na qual serão expostas e discutidas as principais variáveis macroeconômicas, em termos teóricos, de um processo de crescimento sustentado, quanto uma parte especialmente referida aos processos registrados no caso do Brasil, com alguns exercícios comparativos sobre as políticas macroeconômicas e setoriais seguidas por países avançados e emergentes, seja os que apresentaram um bom desempenho no caminho do desenvolvimento, seja aqueles que registraram performances menos felizes.
            Serão discutidos conceitos e realidades relativas aos principais agregados econômicos e monetários, as teorias e as realidades do comércio internacional, ademais dos temas financeiros e de balanço de pagamentos. Para cada um dos pontos destacados para desenvolvimento analítico serão dados exemplos retirados da evolução econômica brasileira, assim como serão referidos dados e informações relativos à economia mundial. Os alunos tomarão conhecimento das principais bases de dados disponíveis, bem como dos sites dos principais organismos econômicos internacionais. As discussões em classe buscarão abordar os problemas econômicos correntes da agenda brasileira, com uma referência constante às medidas de política econômica adotadas pelo governo, bem como seu tratamento analítico, e crítico, com base nesses dados. Dois textos são fornecidos para leitura e discussão em classe.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:
I.           ESTABILIDADE MACROECONÔMICA: ELEMENTOS BÁSICOS
1)    Política Monetária: Inflação, emissões de moeda; Milton Friedman
2)    Política Fiscal: contas nacionais, tributação, dispêndio
3)    Política Cambial: taxa de câmbio, movimentos de capitais
4)    Da microeconomia à macroeconomia: progressos conceituais?

II.             MICROECONOMIA COMPETITIVA: PARA UMA ECONOMIA SADIA
5)    Os preços como sinalizadores de toda economia: Ludwig von Mises
6)    Poupança e investimento: o processo de crescimento
7)    O governo e as medidas de intervenção na economia: o caso do Brasil
8)    Políticas setoriais: industrial, comercial, agrícola
9)    Desemprego e mercado de trabalho: condicionantes e políticas de governo
10) Leis de concorrência, carteis, monopólios, regimes de concessão

III.           BOA GOVERNANÇA: INSTITUIÇÕES FAZEM A DIFERENÇA
11) Planejamento: uma ilusão do século XX?; Friedrich Hayek
12) Planejamento e mercados: políticas indutoras e promotoras de crescimento
13) Executivo, Legislativo, Judiciário, órgãos de controle
14) Uma instituição chamada Justiça do Trabalho: necessária
15) O Estado e seu papel no processo de desenvolvimento: o caso brasileiro

IV.           EDUCAÇÃO DE ALTA QUALIDADE: O PAPEL DO CAPITAL HUMANO
16)   Ensino primário universal e de boa qualidade: a base de tudo; Adam Smith
17)  Escola técnica profissionalizante: ganhos de produtividade
18) Terceiro ciclo: a necessidade de conexão universidade-indústria
19) Políticas tecnológica e de investimentos: abertura externa e regulação

V.             ABERTURA AO COMÉRCIO INTERNACIONAL E AOS INVESTIMENTOS
20) Política comercial: abertura externa, blocos econômicos, OMC; David Ricardo
21) Política financeira externa: balanço de pagamentos, câmbio, dívida externa
22) Crescimento e crise na economia mundial: a trajetória brasileira
23) O resto do mundo: balanço de pagamentos e economia internacional
24)  A globalização, os antiglobalizadores e os reticentes: mitos e crenças

O dominio de Cuba sobre a Venezuela (nao apenas ali) - Ibsen Martínez

Esglobal, 08 de abril de 2014


¿Cómo responde la sociedad venezolana a la injerencia del régimen castrista?

AFP/Getty Images
Activistas de la oposición marcha hacia la Embajada cubana en Caracas para protestar por la injerencia de Cuba en los asuntos internos de Venezuela, marzo de 2014

Hace poco menos de diez años, la creciente injerencia cubana en los asuntos de Estado venezolanos era soslayada prudentemente por los voceros de la oposición.
Denunciar el modo desembozado con que Hugo Chávez llegó a hablar de los destinos de la llamada “Revolución Bolivariana” como indisolublemente enlazados a la suerte de la Cuba de los Castro era, según muchos estrategas electorales de oposición, y para usar la expresión criolla, “gastar pólvora en zamuros”; esto es, dispararle a los buitres de la sabana. Algo no sólo ocioso, sino  potencialmente contraproducente.
La devoción popular por el caudillo –discurría la mayoría de la dirigencia opositora– ,su avasallante carisma, su amor reverencial por Fidel Castro y la revolución cubana no debían ser desafiados frontalmente en una contienda electoral.
Por aquel entonces ­hablo ya de 2007, bastante después del fracasado golpe de 2002 y de la huelga de la estatal petrolera que mantuvo en jaque al Gobierno por casi tres meses, entre diciembre de 2002 y marzo del año siguiente–, la buena voluntad que en los sectores más desposeídos de Venezuela concitaban los cooperantes cubanos en el área de la salud, era ostensiblemente uno de los grandes logros políticos de Chávez.
Aún hoy es amplio el consenso entre observadores y políticos de oposición en torno al provechoso acierto de Chávez al aceptar la ayuda cubana en el despliegue de planes de asistencia primaria en las desheredadas barriadas de los cerros caraqueños y de muchas localidades del interior. Aquella iniciativa, bautizada por Chávez como “Misión Barrio Adentro”, fue el inicio de la estrecha, y cada día mayor, vinculación entre Caracas y La Habana en el manejo de los asuntos públicos venezolanos.
Sin duda, la percepción general de que el Gobierno se ocupaba al fin de los excluidos de siempre, allegándoles el auxilio de la mitológica “medicina social” cubana hizo mucho por afianzar la popularidad de Chávez y el sostenido apoyo electoral al Ejecutivo. Seguirían otros convenios, mucho menos conspicuos, de mayor complejidad operativa y muchísimo más onerosos para el erario venezolano.
Para La Habana, ofrecer cooperación en el área de salud a otros países, pagadera en divisa dura, no era, por cierto, una novedad: tal ha sido uno de los tortuosos medios con que Cuba ha mitigado su improductividad, sometiendo a sus cooperantes a condiciones de esclavitud moderna. Pero sí lo fue la magnitud de los ingresos percibidos a cambio de enviar médicos, enfermeras, fisioterapeutas, optometristas, técnicos en cuidados ambulatorios e instructores.
La ayuda médica se convirtió, para la retórica chavista y consumo de sus bases sociales, en el invariable justificativo del colosal subsidio que Venezuela ha concedido a la calamitosa economía cubana durante la última década. El costo para el petroestado más antiguo del  hemisferio occidental, dueño de las reservas probadas de crudo más grandes del planeta, ha sido pasmosamente catastrófico.
Pese a la opacidad de las cuentas públicas venezolanas, diversas fuentes muy autorizadas, dentro y fuera del país, concurren en que el subsidio directo a Cuba puede andar hoy cerca de los 8.700 millones de euros anuales. Esto, sin contar los 100.000 barriles de crudo que llegan cada día a la isla desde hace más de una década. Cuba depende actualmente, de manera crucial, del subsidio venezolano.
La sola perspectiva de un cambio, no ya  de régimen, sino meramente de gobierno en Venezuela, es visto en La Habana como algo que debería impedirse a toda costa.
Quien dice cooperantes, dice hombres y mujeres; ¿de cuántos funcionarios cubanos acantonados en Venezuela estamos hablando?
La discrepancia entre las cifras ofrecidas por diversas fuentes  de oposición es tan grande que solo cabe ponderar los extremos. Números oficiales sitúan el número de cooperantes en 44.800,discriminados en una gama profesional que arropa médicos, enfermeros y entrenadores deportivos pero que deja sin especificar unos 11.000. Voces opositoras afirman que la cifras podrían duplicarse.
Un general retirado, Atonio Rivero, antiguo colaborador muy cercano a Chávez, declaró desde la clandestinidad para el periódico londinense Daily Telegraph que en Venezuela hay más de 100.000 cubanos y que, de ellos, 3.700 pertenecen a los servicios de inteligencia del celebérrimo G2.
Rivero se halla actualmente prófugo de la justicia militar y se ha unido al partido de Leopoldo López, el destacado líder encarcelado por el régimen de Maduro bajo la acusación de ser, junto con la diputada María Corina Machado, el principal instigador de la violencia callejera que azota Venezuela desde hace dos meses. A  Rivero se le persigue, justamente, por haber denunciado ante la Fiscalía de la Nación la injerencia cubana en los altos mandos de las Fuerzas Armadas.
Muerto Chávez, esta injerencia  ha cobrado preeminencia en el discurso opositor, entre otras razones, por el hecho  inocultable de ser Nicolás Maduro un “hombre de La Habana”, un cuadro formado políticamente en la isla durante los 80, mucho antes de la aparición de Hugo Chávez en el radar de los hermanos Castro; alguien, en fin, inconmoviblemente leal a los designios e intereses de la dictadura isleña.
La sabiduría  convencional reduce los términos de intercambio entre Cuba y Venezuela a una inecuación en la que Caracas subsidia la inviabilidad terminal del sistema económico cubano mientras Cuba pone la seguridad e inteligencia policiales del régimen.
Hace poco, la diputada María Corina Machado convocó en la capital venezolana una multitudinaria marcha de repudio a la presencia cubana en el país. El predicamento que goza hoy la causa anticubana habría sido impensable en tiempos de Chávez. 
En efecto, las protestas, motivadas por la acogotante inseguridad, el desabastecimiento y la corrupción, coinciden con una perceptible caída del apoyo a Maduro en las encuestas más serias, la del IVAD ( Instituto Venezolano de Análisis de Datos) y la conducida por el respetado experto en demoscopia Alfredo Keller.
Entre el 62% y el 72% piensa que Venezuela está a las puertas de un colapso económico. El 51% está convencido de que la responsabilidad es del Gobierno. El 57% piensa que de Maduro directamente. El 63% tiene una visión desfavorable de Cuba, país al que acusan de haber convertido a Venezuela en una colonia de la isla caribeña con el objeto de saquearla. Apenas el 16% culpa a los empresarios y el 8% a los Estados Unidos. Sólo el 31% simpatiza con el régimen comunista creado por los hermanos Castro.
Mal momento para poner en práctica la metodología cubana de aplastamiento de toda forma de oposición.
Esta ha sido, sin embargo, la ocasión en que la mano de Cuba ha salido de la penumbra mediática en que, astutamente, se había mantenido hasta ahora, para hacerse sentir en la calle. Maduro se ha enfrentado a las protestas imbuido de una brutal doctrina represiva fidelista que, a todas luces, no funciona al aplicarse a la sociedad venezolana, de historia política y talante mucho más insumiso que la cubana. Pese a la creciente cifra de muertes (40, al redactarse esta nota) atribuidas a las paramilitares bandas motociclistas, las guarimbas, como aquí se llama a la barricada callejera que cada noche enfrenta los gases lacrimógenos y las perdigonadas de la Guardia del Pueblo y las balas de los paramilitares, lejos de languidecer, cobran mayor fuerza.
Por cuánto tiempo más se prolongará esta singular crisis de ingobernabilidad es algo que tal vez ni siquiera las omniscientes “salas situacionales” que el G2 mantiene en el palacio de Miraflores podrían decir a ciencia cierta, pero lo cierto es que para muchos opositores venezolanos, y para usar una expresión cubana, “lo mejor de todo es lo malo que se está poniendo”.

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A grande pensadora do PT - Milton Pires

Sai Marilena Chaui, muito complicada, prolixa demais, com aquela linguagem empolada, que não se coaduna mais aos novos tempos.
Entra uma rainha do funk, a nossa pensadora universal que vai redimir todos os excluídos da linguagem universitária, muito complicada para os primatas que nos governam...
Paulo Roberto de Almeida

DANDO A LUZ AO PT

Milton Pires

Valesca dos Santos (Rio de Janeiro, 6 de outubro de 1978), mais conhecida pelo nome artístico de “Valesca Popozuda” ou apenas Valesca, é uma cantora, compositora, produtora e empresária brasileira. Foi vocalista do grupo feminino “Gaiola das Popozudas” entre 2000 e 2012 até a metade de 2013, sendo uma das responsáveis por tornar o funk carioca dissipado e conhecido em todo o Brasil. Em 2013 lançou-se em carreira solo com a canção "Beijinho no Ombro", que atingiu a décima segunda posição na Billboard Brasil.
Esse primeiro parágrafo é uma das maravilhas permitidas pelo famoso Ctrl+C. Tudo o que fiz foi isso: entrar na Wikipédia para saber, afinal de contas, alguma coisa a respeito dessa moça, copiar e iniciar o texto. O que vou escrever a seguir nada se relaciona com ela e muito pouco diz respeito a isso que vem sendo chamado de funk music. A ideia aqui é bem diferente: Antonio Kubitschek é o nome do professor que elaborou uma prova de filosofia da Escola de Ensino Médio 3, no Distrito Federal, e nela havia uma questão que chamava Valesca Popozuda de "grande pensadora contemporânea" - sobre isso eu acho que faz sentido escrever.
Antes de começar gostaria de chamar a atenção para uma atitude da própria Valesca que, segundo o Jornal O Globo, se disse “muito honrada” pela citação em uma prova de filosofia. Tal gesto reflete, ao meu ver, a sensação de estranhamento, a ideia de distância de uma pessoa que, independente do seu caráter ou de sua atividade profissional, jamais imaginou pertencer, ela mesma, ao mundo da alta cultura ou dos grandes pensadores. Em outras palavras eu diria o seguinte: mesmo sem ter conversado com Valesca ou com o “professor de filosofia” que fez a questão, eu imagino que nenhum dos dois se conhecia antes disso e que a moça jamais quis ser citada nem pediu ou pagou ninguém para que a letra de sua música se tornasse uma pergunta de prova.
Fácil seria escrever dizendo que não existe mais pensamento crítico no Brasil. Isso eu já fiz antes e se o fizesse novamente aqui, nesse artigo, correria o risco de passar àquele que lê a impressão do temido discurso “moralista”, “conservador” ou “reacionário” daqueles que acreditam num ensino de filosofia “distanciado da realidade” e “vinculado às elites.” Nada sei sobre ensinar filosofia. Sequer graduado sou nessa área do conhecimento e o que escrevo não tem relação com a minha condição de médico. É como brasileiro que tento me expressar...é como alguém que não perdeu (ainda) a noção da realidade e que tem perfeitamente guardada a distinção entre a alta cultura e a vulgaridade..entre a arte e o apelo comercial. Acredito ter como parceira nessa empreitada a própria Valesca dos Santos que, no seu sentimento de lisonja, revelou toda estupefação de quem jamais pretendeu ser fonte de reflexão alguma..e que na sua gratidão revela a ingenuidade de quem foi usada por mais um militante petista dentro da educação brasileira.
Não tenho, nem nunca tive, qualquer procuração para defender os pensadores desse país. Não conheço Valesca e nada sei do seu caráter. Não gosto daquilo que ela canta, mas isso nada tem a ver com o ensino de filosofia no Brasil. Digo apenas que a própria filosofia nasceu da “capacidade do espanto”... da curiosidade sobre o mundo, sobre o sentido da vida e de como vivê-la da melhor e mais justa forma. O questionamento sobre a verdadeira arte e sobre a noção do belo somaram-se à essas primeiras indagações dos gregos e vem atravessando o tempo como objeto de investigação filosófica.
Tudo o que se faz hoje em termos culturais é reflexo de um Brasil em que não há mais espanto algum..em que a própria noção do belo desapareceu e onde a vulgaridade, o apelo rasteiro à sexualidade, e ao sucesso comercial são aquilo que restou. Nem Valesca nem a maioria dos artistas que cantam o tipo de música que ela celebra pretenderam jamais ser mais do que isso. A crise moral ou cultural não começou com eles; começou dentro das Universidades e das escolas que se entregaram completamente ao domínio de um Partido Político e a um projeto de poder no qual o belo e o justo são o que servem à Revolução..
Valesca e os MC's dos bailes funks nasceram no mesmo país que deu ao mundo a música de Villa- Lobos, a pintura de Portinari, e a escultura do Aleijadinho. Toda tragédia do pensamento brasileiro não está nos bailes das favelas do Rio de Janeiro; está na Educação que, em nome de um delírio revolucionário, acabou com a distância que havia entre o juízo crítico e a obscenidade cultural dos mais pobres. Nossa miséria continua original: segue autêntica e sem pretensão alguma. Ela nunca se “prostituiu” como como disseram que Valesca fez.
Nada seria mais justo do que o funk brasileiro agradecer cantando nas suas letras a “filosofia vagabunda” da nossa Universidade. Valesca, queiram ou não, continua sendo verdadeira, mas a nossa cultura foi estuprada num baile em 1968, engravidou da revolução e morreu dando à luz ao PT.

Porto Alegre, 9 de abril de 2014.