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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sábado, 13 de março de 2021

Mini-reflexão sobre o estado catatônico a que chegou o Brasil em 2021 - Paulo Roberto de Almeida

Mini-reflexão sobre o estado catatônico a que chegou o Brasil em 2021

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.org; http://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivo: debate público; finalidade: organização da sociedade]

 

Perguntar não ofende: depois que um aprendiz de feiticeiro criou uma enorme confusão em torno de todos os processos levados a efeito pela República de Curitiba no âmbito da Lava Jato, quem será o Grande Feiticeiro que colocará ordem na bagunça? 

Um dos processados?

Todos?

É o fim de qualquer esperança de que a corrupção possa ser algum dia combatida eficazmente no Brasil?

Devemos inscrevê-la com um dos componentes essenciais, formadoras do espírito nacional, assim como a jabuticaba e o jeitinho?

Qualquer que sejam as respostas, vou inscrever a insegurança jurídica como a terceira maior tragédia brasileira, ao lado da, e em paridade com a baixa produtividade do capital humano (derivada da péssima qualidade da educação de massa) e a corrupção política, esta sim triunfante e resplandecente desde as origens da nação.

Vai demorar para consertar tudo isso, se é verdade que algum dia conseguiremos. 

Já estamos dando meia volta volver...

Aliás, fizemos pior do que isso: os retrocessos impostos por um psicopata no comando do país — como resultado do autoengano coletivo nas últimas eleições presidenciais e da visão apalermada do mundo e do Brasil que possuem suas elites econômicas, civis e militares — representam monstruosidades institucionais e sobretudo MORAIS, que não fomos capazes de antecipar em 2018.

Vamos continuar apostando no imponderável? Vamos nos submeter à ditadura da polarização que o mesmo psicopata nos impôs desde o início de sua abjeta campanha política?

Polarização que alimenta um contínuo ambiente de perversões políticas e morais baseadas na mentira populista, na demagogia econômica, no atraso cultural e educacional do país?

Há muito tempo que o Brasil vive um lento processo de anomia política, de descalabro moral, de fragmentação institucional, de assalto constante aos recursos duramente extraídos da coletividade para serem entregues à saciedade de lobbies corruptores, aos privilégios corporativos de mandarins da República e de aristocratas do Judiciário, na indiferença cúmplice dos mais altos representantes do Grande Capital, estes também interessados na perpetuação das vantagens que podem auferir de um sistema político e de estruturas econômicas altamente deformadas e já totalmente disfuncionais.

Suas elites, inclusive as supostamente intelectuais, se têm mostrado incapazes de estabelecer um mínimo consenso sobre o que é disfuncional no país, para a partir daí formular um diagnóstico sobre nossos equívocos mais flagrantes, como base necessária a um processo gradual de reformas dentro da ordem democrática.

Todos esses problemas, “normais” — pois que inscritos na agenda do “momento”, que se arrasta há anos, senão há décadas — foram magnificados pela pandemia, sobretudo a desigualdade de chances em face da morte, muito mais provável para os mais pobres e fragilizados pela nossa abissal concentração de renda, e ainda mais potencializados pela gestão criminosa da crise pandêmica pelo psicopata que ocupa o poder atualmente.

Estamos condenados a fazer mais do mesmo, ou seja, escolher mais um “salvador da pátria” como a solução-milagre para todos os nossos males? Somos incapazes de debater racionalmente as soluções para os problemas mais prementes — salvar vidas — e depois encaminhar as soluções para os obstáculos estruturais a um processo inclusivo de desenvolvimento econômico e social? Continuaremos no marasmo?

Recuso-me a crer que sejamos tão incapazes de fazer o mínimo, que é pensar sobre a Reconstrução da Nação.

O mais imediato, obviamente, é a necessária coordenação de esforços e medidas para SALVAR VIDAS. Se para isso for necessário afastar o GENOCIDA que nos desgoverna, que se faça.

Em seguida cabe estabelecer uma plataforma mínima de defesa da democracia e da governança — atualmente seriamente amaçadas — para que se dê início a esse processo de Reconstrução da Nação: macroeconomia estável, microeconomia aberta e competitiva, boa qualidade da governança (sobretudo no Judiciário), alta qualidade do capital humano (com concentração de esforços no ciclo fundamental) e total abertura econômica e inserção na globalização, com liberalização comercial e investimentos estrangeiros diretos.

Não deveria ser difícil a representantes qualificados dos círculos mais influentes da nação — nas esferas da economia, da política e da academia — se colocarem de acordo sobre essa plataforma mínima de consenso em torno das tarefas mais imediatas de ação (o salvamento de vidas) e dos processos de reformas graduais.

Estou pedindo muito?

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3867, 13 de março de 2021

 

A nova década perdida brasileira e o resto do mundo – resultados per capita - Claudio Considera, Juliana Trece (IBRE)

 A nova década perdida brasileira e o resto do mundo – resultados per capita

 
 
IBRE-FGV-RJ, 12/03/2021

 

 

 

O Brasil passou por uma profunda recessão entre 2014 e 2016, o que, de acordo com o Codace, mostrou-se o período com o pior biênio de crescimento econômico dos últimos 120 anos. Após a recessão, a recuperação nos três anos posteriores se arrastou com resultados medíocres. Adicionalmente, ocorreram outros choques negativos nesses anos, tais como a greve dos caminhoneiros em 2018, o desastre de Brumadinho, a crise argentina e a incerteza internacional, com a guerra comercial entre EUA e China, em 2019,[1] que tiraram alguns pontos percentuais do crescimento brasileiro. E, em 2020, veio a pandemia da Covid-19, paralisando a economia brasileira e mundial. O resultado final desse conjunto de desastres foi para o Brasil, mais uma década perdida na economia

Ao se olhar para o crescimento do PIB per capita, o Brasil apresentou o pior desempenho dos últimos 120 anos, “empatando” com os anos 80, conhecidos como década perdida, com um recuo médio de 0,6% do PIB per capita, por ano (Gráfico 1).[2]

Numa comparação internacional, ao se olhar para as taxas de crescimento do PIB per capita (em moeda local),[3]82% (156, numa amostra de 191) dos países do mundo apresentaram um desempenho melhor do que o Brasil na década passada (2011-20).

O Gráfico 2 mostra as taxas médias reais de crescimento do PIB per capitaentre os anos de 2011 e 2020[4] para um conjunto de 13 países, que correspondem a 60,0% do PIB mundial.[5] A amostra contém os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), países da América Latina que geralmente são comparados com o Brasil (Chile, Colômbia, México e Peru) e quatro países desenvolvidos selecionados (EUA, Reino Unido, Japão e Alemanha). O Brasil foi o “segundo pior país”, à frente apenas da África do Sul. No extremo oposto, de melhores desempenhos, estão China e Índia com as taxas de crescimento mais robustas.

Em resumo, na década 2011-20, o PIB per capita brasileiro recuou, em média, 0,6% ao ano, mesma queda dos anos 80, conhecidos como década perdida. O Brasil ficou atrás de 82% dos países do mundo no crescimento da renda per capita nesse período. É preciso vacinar logo a maior parte da população, para acabar a pandemia, e a economia poder voltar a normalidade, dando continuidade a agenda de reformas. Ou seja, é preciso a diminuição das incertezas políticas, econômicas e sanitárias para o Brasil poder voltar a crescer e não ter mais uma década perdida.

ANEXO

Neste anexo os países são agregados em três grupos (Mundo, Economias Emergentes e América Latina e Caribe) e comparados com o Brasil. Nota-se, no Gráfico A-1 abaixo, que o PIB per capita (US$, PPP) das economias emergentes cresceu, por ano, 2,5% na década 2011-20. O PIB da América Latina recuou 0,6% por ano, em média, resultado bastante influenciado pelo peso médio do PIB do Brasil no PIB da AL que foi de 1/3 na década passada, portanto com bastante impacto no agregado latino-americano. Em US$, PPP, o recuo médio do PIB per capita brasileiro foi de 0,2% ao ano, um pouco menor do que a queda em R$ que foi de -0,6%. É possível, então, calcular um “PIB per capita mundial”, ponderado pelo peso das economias emergentes e avançadas, chegando-se no resultado de um crescimento médio anual para o Mundo de 0,4% na década 2011-20.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

[1] Segundo estimativas do Banco Central, os três eventos tiraram 0,67 p.p. do PIB de 2019. Ou seja, ao invés da taxa de crescimento do PIB ser de 1,1%, seria de 1,8%.

[2] De acordo com o IBGE, o PIB do Brasil recuou, em termos reais, 4,1% em 2020, e -4,8% para o PIB per capita.

[3] Nível do PIB per capita = nível do PIB, em preços constantes e moeda local, dividido pela população.

[4] Para 2020, o dado do Brasil é o efetivo, divulgado pelo IBGE. Para os demais países, projeções do FMI de outubro de 2020.

[5] PIB em US$, PPP.


sexta-feira, 12 de março de 2021

Abandoning masks now is a terrible idea. The 1918 pandemic shows why - John M. Barry (WP)

Opinion:  

Abandoning masks now is a terrible idea. The 1918 pandemic shows why

 https://www.washingtonpost.com/opinions/keep-your-mask-on-were-not-out-of-this-yet/2021/03/11/a4dae20e-827f-11eb-9ca6-54e187ee4939_story.html?utm_campaign=wp_opinions_pm&utm_medium=email&utm_source=newsletter&wpisrc=nl_popns

Opinion by John M. Barry

The Washington Post, March 12, 2021 at 10:00 a.m. GMT-3

John M. Barry is the author of “The Great Influenza: The Story of the Deadliest Pandemic in History” and distinguished scholar at the Tulane University School of Public Health and Tropical Medicine.

Abandoning masks and social distancing now would be the worst possible move for Americans and their political leaders. The 1918 pandemic teaches us why.

That pandemic came in waves that were much more distinct than what we have experienced. The first wave was extraordinarily mild. The French Army suffered 40,000 hospitalizations but only about 100 deaths. The British Grand Fleet had 10,313 sailors fall ill — but only four deaths. Troops called it “three-day fever.” It was equally mild among civilians and was not nearly as transmissible as influenza normally is.

Like SARS-CoV-2, the 1918 influenza virus jumped species from an animal to humans. As it infected more humans, it mutated. It became much more transmissible, sweeping across continents and oceans and penetrating everywhere. And as it became more transmissible, it caused a much, much more lethal second wave. It became the worst version of itself.

In that second wave, the 1918 virus had an overall case mortality in the West of 2.0 to 2.5 percent, but that average is meaningless because it primarily killed select age groups: children under 10 and adults 20 to 50. Metropolitan Life found that, of those aged 25 to 45, it killed 3.26 percent of all factory workers and 6.21 percent of all miners; and yet it barely touched the elderly.

U.S. Army training camps routinely recorded case mortality over 10 percent; at Camp Sherman in Ohio, case mortality exceeded 21 percent. In 13 studies of hospitalized pregnant women, the death rate ranged from 23 to 71 percent. In a few isolated small settlements in Alaska and Africa, it killed everyone.

Virologists expected SARS-CoV-2 to mutate more slowly than influenza, and between its emergence and November 2020, the virus did seem remarkably stable.

That’s why last year, when I was repeatedly asked whether I worried that SARS-CoV-2 would, like the 1918 virus, become more lethal, I always replied that, even during 1918’s mild first wave, that virus had on rare, isolated occasions demonstrated its potential to kill in, according to an Army report, “from 24 to 48 hours.” Since the SARS CoV-2 virus had not shown any indication — none — of increased lethality, I was not concerned.

But in the past several months, different variants have surfaced almost simultaneously in Britain, South Africa, Brazil, and now in California and New York. Each of these variants has independently developed similar and in some cases identical mutations and achieved greater transmissibility by binding more efficiently to human cells.

A virus that binds more efficiently to cells it infects would, logic suggests, also be more likely to bind to a larger number of cells, which could, in turn, increase disease severity and lethality. On Wednesday, BMJ, formerly the British Medical Journal, reported that Britain’s so-called U.K. variant was 64 percent more lethal than the virus it replaced.

There is not enough data to evaluate the variants first identified in South Africa and Brazil, but whether or not they are also more lethal, one thing is certain — more variants will arise. Mutations are random. Most either make the virus so defective it can’t function or have no impact at all. But this virus has already demonstrated that it can become more deadly and evade some immune protection, making vaccines less effective. If we allow the virus additional opportunities to mutate, it will have more opportunities to become the worst version of itself.

There is no reason to expect that this virus will suddenly turn into 1918. There are limits as to how far it can mutate. But the more people who abandon masks and social distancing, the more infections can be expected — and the more variants will emerge.

In gambling terms: If you roll the dice once, yes, there is only a 2.77 percent chance you will hit snake eyes. But if you roll the dice 100,000 times, it is virtually certain snake eyes will come up several thousand times.

Right now, policymakers are making decisions that will limit — or expand — opportunities for the virus to spread and mutate. Most proposals will require weighing costs, benefits and risks, such as when and how much to reopen the economy or delaying second doses of vaccines.

Wearing masks requires none of these calculations.

We know masks decrease transmission. Lifting a masking order not only means more people will get sick and die. It also gives the virus more rolls of the dice. That is a fact.

The variants we have seen so far do not worry me much. The variants we have not yet seen . . . yes, they worry me. To increase our risks is, simply, foolish.


Read more:

 

Crônicas tragicômicas de um diplomata resistente - Ereto da Brocha (edição Afipea)

A Associação dos Funcionários do IPEA – algo como o equivalente da ADB Sindical, mas muito mais independente e ativa – resolveu editar, no quadro de seu trabalho contra assédio moral no serviço público em geral e no Ipea em especial, as crônicas do nosso Batman do Itamaraty. Não apenas isso, publicaram minhas notas a cada uma das crônicas (com exceção das últimas, pois eu andava de mudanças e não tive tempo de me debruçar sobre a safra mais recente de crônicas recebidas), e também minhas notas introdutórias e final. Mas até do que isso, transcreveram meu Manifesto Globalista, um texto concebido no formato, estilo e linguagem do mais famoso manifesto da história, o de 1848 (que não sei se o EA já leu, mas deveria), e que foi escrito justamente para irritar os idiotas dos antiglobalistas. Ele pode ser lido no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/03/manifesto-globalista-2020-paulo-roberto.html).

Agradeço a José Celso Cardoso Jr., pesquisador do Ipea e presidente da Afipea, a gentileza e o cuidado tomados na preparação, edição e divulgação destas crônicas. Estou, na verdade, agradecendo em nome do meu colega misterioso, que não pode fazê-lo diretamente, por razões compreensíveis. Imaginem se o Gabinete do Ódio envia um pelotão dos seus camisas pardas em preparação, ou algum idiota daqueles 300 que não chegavam a 30: com esses bárbaros não se brinca.

PS.: Não me considero um "escritor", apenas um escrevinhador...

Paulo Roberto de Almeida


CRÔNICAS TRAGICÔMICAS DE UM DIPLOMATA

RESISTENTE

Ninguém sabe quem é. Mas a partir de 2020 o nome “Ereto da Brocha” passou a circular nos corredores do Itamaraty. Com humor e ironias, o diplomata anônimo traz um contraponto à atual gestão da política externa brasileira. Quarenta textos estão agora reunidos na coletânea Crônicas tragicômicas de um diplomata resistente.


(http://afipeasindical.org.br/content/uploads/2021/03/Pilulas_de_Bom_Senso_Caderno_06.pdf)


É mais que humor. As crônicas do autor misterioso não se preocupam em fulanizar ou

personalizar as críticas, e sim problematizar os riscos institucionais para o Itamaraty, e, em última instância, para o Brasil. É um verdadeiro registro histórico, o que justificou sua sistematização.

A Afipea contou com a colaboração de Paulo Roberto de Almeida, diplomata e escritor. Na avaliação do servidor público, os textos foram redigidos “certamente” por um diplomata experiente, possivelmente já aposentado. “Dependo de colegas que recebem e me repassam o material, que não sei exatamente como circulam. O fato é que essas crônicas são lidas com indizível prazer pela nossa corporação de ofício, que assim pode desfrutar (ainda que clandestinamente) do sarcasmo que são a sua marca irrecusável”, explica Paulo Roberto de Almeida.





A publicação das Crônicas tragicômicas de um diplomata resistente faz parte da série Pílulas de Bom Senso: use sem moderação (http://afipeasindical.org.br/pilulas-de-bomsenso/).





quinta-feira, 11 de março de 2021

O Brasil virou um pária internacional?: crônicas de Ereto da Brocha sobre o Itamaraty bolsolavista - brochura por Paulo Roberto de Almeida

 Alguém aí estava com saudades do cronista misterioso do Itamaraty? Acabo de consolidar mais de quatro dezenas de crônicas recebidas até o momento numa nova brochura com novo título: 

3866. O Brasil virou um pária internacional?, Brasília, 11 março 2021, 73 p. Coletânea de todas as crônicas recebidas indiretamente do cronista misterioso do Itamaraty, assinando Ereto da Brocha. Divulgação online na plataforma Academia.edu, link: https://www.academia.edu/45478771/O_Brasil_virou_um_paria_internacional_Ereto_da_Brocha_o_cronista_misterioso_do_Itamaraty_2021_

Índice


Nota liminar à 3ª. edição dos petardos do cronista misterioso do Itamaraty, 4

Um imagem talvez exagerada, mas talvez significativa, 8

Capa da 2ª. edição das Crônicas do Itamaraty bolsolavista, 9

Nota liminar à 2ª. edição das Crônicas do Itamaraty bolsolavista, 10

Introdução pessoal às crônicas do diplomata anônimo,  12

Paulo Roberto de Almeida

 

Crônicas recebidas até 11/03/2021

 

1. O papel do asno na sociedade brasileira (semana 01) ,  15

2. Gusmão rendido  (semana 02),  16

3. Pela restauração! (semana 03),  17

4. Franjas lunáticas (semana 4) ,  18

5. O Anti-Barão (semana 05) , 19

6. Alienáveis alienígenas (semana 06) , 20

7. Nobel (semana 07) ,  21

8. Sussurram os Corredores (semana 08) ,  22

8bis. Bolo de Laranja Lima (semana 08-bis) , 23

9. Meu caro amigo (semana 09) ,  24

10. Aos fatos (semana 10) ,  25

11. Kejserens nye Klæder (semana 11) [As Roupas Novas do Rei], 26

12. A Era do Rádio (semana 12) , 27

13. Era uma vez na Arábia um homem chamado Abu (semana 13 - Parte 01), 28

14. ABU V, o heterônimo (semana 14 - Parte 02), 29

15. O estranho caso de Abu (semana 15), 30

16. A jornada do herói (semana 16), 31

17. Rumo à Idade Média (semana 17) , 33

18. Patriotas (semana 18) , 34

19. Os leitões de Niemöeller (semana 19),  35

20. Receita contra o globalismo (semana 20) ,  37

21. O Ig Nobel (semana 21) , 38

22. O Discurso [na ONU] (semana 22) , 39

22bis. Neologismos (semana 22-bis) ,  40

23. As cinzas de Pompeia (semana 23) , 41

24. Réquiem para um povo (semana 24) , 42

25. A Estagnação Freudiana do Bolsonarismo (semana 25) ,   43

26. É bom ser pária (semana 26) , 45

27. O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (semana 27) , 47

28. E agora, José? (semana 28) , 48

29. Sozinho (semana 29) ,  49

30. Xarab Fica? (semana 30) , 50

31. Banana Split (semana 31) ,  51

32. Tecito de Moringa (semana 32) ,  53

33. A família Bean (semana 33) ,  55

34. Retorno a Asa Branca (semana 34) ,  56

35. Presente de Natal (semana 35),  58

36. Feliz Ano Velho (semana 36)  ,  60

37. Volume II, Capítulo 01 (semana 37) ,  62

38. Os Destruidores de Mundos (semana 38) ,  64

39. Ministro em Fuga (semana 39) ,  65

40. Batendo palma para maluco dançar (semana 40) , 67

41. Sobre lobos e progressistas (semana 41) ,  68

42. Façam as Contas (semana 42) ,  69

43. O Estandarte do Sanatório Geral (semana 43),  71

 

Um cronista misterioso anima a RESISTÊNCIA no Itamaraty , 73

Paulo Roberto de Almeida

 

Do prefácio à 3a edição: 


(...)


A primeira edição deste caderno, intitulada apenas “Crônicas do Itamaraty bolsolavista”, foi preparada em meados de agosto de 2020, e continha apenas uma dúzia de saborosos petardos; ela pode ser acessada na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43909791/Cronicas_do_Itamaraty_bolsolavista_Cronista_misterioso_2020_). A segunda, já intitulada “Um ornitorrinco no Itamaraty” – que era o título de um dos capítulos de meu segundo livro do ciclo: O Itamaraty num labirinto de sombras – foi concluída no início de novembro, já com o dobro de crônicas, ao mesmo tempo em que eu publicava o meu terceiro livro da série: Uma certa ideia do Itamaraty, e já estava colocando um ponto final num quarto: Apogeu e demolição da política externa brasileira (ainda não publicado, justamente em função da mudança e para aguardar novos eventuais desenvolvimentos da mudança de orientação na política do império, que afastou o líder e modelo dos ignorantes imitadores bolsonaristas); como a primeira, ela também foi postada na plataforma Academia.edu (acesso neste link: https://www.academia.edu/44437505/Um_Ornitorrinco_no_Itamaraty_cronicas_do_Itamaraty_bolsolavista_Ereto_da_Brocha_2020_). 

Esta terceira edição, recolhe todas as crônicas anteriores, e suas respectivas introduções setoriais e prefácios gerais, num total de 43 petardos para todos os gostos e inclinações. O título foi dado pelo próprio protagonista desta “página infeliz de nossa história” e parece se encaixar inteiramente na imagem que o Brasil projeta no mundo. Tenho uma reclamação a fazer ao Cronista Misterioso, que não sei se me lerá ou não: ele costuma apenas indicar a série numérica dos seus textos, sem datar cada uma delas específica e precisamente. Como existe uma decalagem temporal entre a sua escritura e meu recebimento e publicação, ficamos sem saber quando exatamente foi escrita uma determinada crônica, a menos de uma indicação qualquer (semana de Natal, por exemplo, ou primeira crônica de 2021). Vou pedir ao nosso Batman que coloque a data precisa de sua redação, mas não sei se ele me lerá, ou se acatará a sugestão. A situação que estamos vivendo no Itamaraty é tão absurda, tão maluca, que só a derrisão, o escárnio, a gozação podem trazer um pouco de alento aos desalentados diplomatas, que desprezam o seu falso chefe, mas precisam aparentar disciplina e obediência, pois o desequilibrado é dado a retaliações raivosas (por exemplo, ele gostaria de me esganar, estou certo disso, justo eu que só me disputo com as palavras).

Alguém já me indagou sobre copyright, algo impossível de determinar neste momento. Haverá um dia em que o Batman virá à luz, mas no momento cabe apenas atribuir-lhe direitos morais, o que faço com grande prazer. Fico aguardando com certa ansiedade as novas crônicas, que me chegam aos pingadinhos, e imagino que elas só cessarão quando o alucinado e alucinante chanceler acidental deixar os diplomatas (e o Brasil), em paz, recolhendo-se à sua mediocridade, ou desaparecendo em algum buraco negro da política brasileira.

Por que faço a cuidadosa transcrição de cada uma das crônicas individualmente e ainda tenho a pachorra de compor um livreto a cada nova safra recebida? Confesso que é por puro divertissement, um traço distintivo do meu blog Diplomatizzando. Como lembra o poeta Mário Quintana, retomado em parte pelo nosso cronista, eles passarão, nós passarinho... Amanhã vai ser outro dia...

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 11 de março de 2021

  


Resenha de Carlo Maria Cipolla: As Leis Fundamentais da Estupidez Humana (2006) - Paulo Roberto de Almeida

 Minha resenha preliminar de 2006, que antecedeu à resenha mais extensa de 2012: 

 

As Leis Fundamentais da Estupidez Humana

 

 Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 12 abril 2006


Com esse título, o famoso historiador econômico e medievista italiano Carlo Maria Cipolla compôs, em algum momento dos anos 1980, um pequeno ensaio, humorístico-irônico, que foi transformado em peça de teatro alguns anos depois. Em 1995, eu assisti a essa peça em Paris e, absolutamente fascinado pelo espírito irreverente do texto “ceboliano”, comprei imediatamente, no próprio teatro, o livro no qual ela tinha sido baseada, nesta edição: Allegro ma non troppo: Les lois fondamentales de la stupidité humaine (Paris: Balland 1992). O livrinho continha outros ensaios da mesma verve, como este outro: “Do papel dos condimentos (e da pimenta em particular) no desenvolvimento econômico da Idade Média”, menos brilhante que aquele sobre a estupidez, mas também divertido.

Pois bem, onze anos depois, encontrando-me agora absolutamente fascinado pela quantidade de erros, equívocos e outros “desvios” (palavra neutra, de cunho humorístico-irônico) de comportamento deste nosso “governo” – que só posso atribuir, por um lado, à sua fenomenal estupidez e, por outro lado, a uma igualmente fenomenal capacidade de mentir, de cometer perjúrio, enfim, de afundar na hipocrisia e na desfaçatez –, lembrei-me desse livrinho e fui buscá-lo em minhas estantes. Para minha frustração – e que isso me sirva de lição por não arrumar a biblioteca como deveria – não o encontrei, o que me deixou bastante ressabiado. Não seja por isso, saquei do computador – inatacável para esse gênero de recuperação – as poucas notas de leitura, que transcrevo abaixo, de trechos selecionados do ensaio de Cipolla, às quais acrescento agora comentários que acredito serem o mais à propos possíveis para estes tempos impagáveis que estamos vivendo.

Caberia, em primeiro lugar, definir o que é uma pessoa estúpida. Segundo Carlo Maria Cipolla, “os seres humanos incluem-se numa das quatro categorias fundamentais: os crédulos, os inteligentes, os bandidos e os estúpidos”. Não me lembro agora se Carlo Cipolla considera estas quatro categorias exclusivas e excludentes, mas eu tenho a nítida impressão de que alguns dos nossos atuais governantes são, ao mesmo tempo, estúpidos e bandidos, ao passo que alguns dos seus eleitores são, ao mesmo tempo (ou talvez de forma subseqüente), ingênuos, isto é, crédulos, e estúpidos. Isso acontece. Tem também aquela categoria de militante que é, se ouso dizer, um “crédulo profissional”, ou seja, um ser profundamente religioso, imbuído de uma verdade que transcende a razão.

Cipolla define a pessoa estúpida da seguinte maneira: “uma pessoa estúpida é alguém que causa um dano a outra pessoa ou a um grupo de pessoas, sem que disso resulte alguma vantagem para si, ou podendo até vir a sofrer um prejuízo”. Considerando a enorme capacidade que parecem ostentar certos dirigentes de causarem problemas para si mesmos, ao tentarem atacar seus adversários, eu considero que a definição se encaixa perfeitamente no figurino. Nunca, ninguém, em 500 anos de história do Brasil, abusou tanto da faculdade de se ridicularizar a si próprio como certos comediantes profissionais que pensam que estão num picadeiro quando na verdade ocupam altos cargos políticos. Se reconhecermos, então, a extrema habilidade que eles exibem de atirarem no próprio pé, ao pretenderem fazer alguma “armação” contra um adversário político, seria preciso considerar, nesse caso, a introdução de alguma categoria de prêmio do gênero: “Prêmio (ig)nobel de autoflagelação política”.

O historiador italiano nos alerta contra o perigo de confundir uma pessoa estúpida com uma pessoa crédula ou ingênua (isto é, pessoa que causa dano a si mesma, causando benefícios a outras) ou com um bandido (pessoa que cuida dos seus interesses e causa danos aos outros). Acho que o leitor deste espaço não corre esse risco, mas isso não elimina a possibilidade de que essas duas ou três categorias se encontrem ocasionalmente (ou de forma regular) confundidas numa única e mesma pessoa. Mas não é, longe disso, a “santíssima trindade”. No Brasil, corre-se esse risco, concretamente: existem bandidos que são estúpidos, assim como existem estúpidos que são ingênuos, embora, a julgar pela maior parte dos políticos que se encaixam no molde, seja mais difícil encontrar bandidos políticos que sejam ingênuos (mas alguns são, sobretudo de certo partido).

Ele também acha que é nitidamente impossível confundir a pessoa estúpida com a inteligente (aquela que busca benefícios para si mesma e para os demais), embora eu não tenho certeza de que esse princípio se aplique igualmente ao Brasil. Aqui, como reza um velho ditado, a esperteza pode ser “tanta que cresce e engole o dono”. Pois é isso que parece ter ocorrido nesses momentosos meses que precederam o escândalo do mensalão. Os “espertos” de certos meios políticos se julgavam expertos em patifarias, inteligentes em mil maneiras de burlar a lei e de enganar os incautos e ingênuos – que seríamos todos nós – mas eles parecem ter ido longe demais. Se achavam tão inteligentes como ninguém que foram estúpidos ao ponto de chegarem a fazer acordos de “cavalheiros” (com perdão da expressão) com gente ainda mais bandida do que eles. Deu no que deu: o bandidão se julgou lesado pelos “inteligentes” e botou a boca no trombone. Santa ingenuidade...

Das cinco leis fundamentais da estupidez humana de Carlos Maria Cipolla (só cinco?), transcrevo agora apenas duas, a primeira e a última: “Sempre, e inevitavelmente, cada um de nós subestima a quantidade de indivíduos estúpidos em circulação” – o que pode ser, digo eu, um perigo para a segurança do tráfego – e “os indivíduos estúpidos são as pessoas mais perigosas que possam existir” (eu não dizia?). Sim, elas são perigosas, para si mesmas e para todos os demais, sobretudo quando imbuídas de alguma missão salvadora e transcendental, do tipo querer tudo transformar, para dizer depois que “nunca antes, na história deste país, patati-patatá...”

Como diria um desses brokers ingleses (que não me levem a mal): “nunca antes na história deste país alguém deixou de ganhar dinheiro ao apostar na estupidez humana”. Ou seja, sempre haverá, em algum lugar incerto e não sabido, alguma pessoa estúpida o suficiente para lhe permitir ganhar tranquilamente a sua aposta. Pena que essa instituição do “brokerage” – tão comum nas terras britânicas, onde se aposta até sobre a sexualidade da família real – não seja mais disseminada neste nosso país tropical, pois poderíamos ter inúmeras oportunidades para novos ganhos (que poderiam inclusive ser taxados com uma nova contribuição ou taxa para a resolução de um enorme problema social). Ou seja, seria uma grande contribuição para o aumento do PIB (não confundir com o outro PIB, este aqui é o da Produção Interna de Bobagens...).

Com sua abordagem científico-humorística, Carlo Cipolla demonstra que a distribuição da estupidez se dá ao acaso e é independente da religião, do gênero, da cor da pele, da ideologia política, enfim, ela não tem nada de cultural. Se existisse um gene da estupidez, ele seria certamente distribuído completamente por acaso, e talvez de maneira uniforme na população, com algumas particularidades. Nossos políticos, por exemplo, não são, na média, mais estúpidos que os cidadãos comuns, mas em contrapartida, eles podem ser muitomais bandidos, e de fato o são. OK, não vamos generalizar, existem muitos políticos que não são bandidos, mas acho que para ser político é preciso ter, de toda forma, uma dose de hipocrisia acima do normal...

Finalmente, termino com esta duas considerações de Carlo Maria Cipolla sobre a manutenção do nível geral de estupidez, em condições normais de pressão atmosférica e de temperatura democrática: “Num sistema democrático, as eleições gerais são um instrumento de grande eficácia para assegurar a estabilidade de estúpidos entre os poderosos”. E, aos estúpidos, “as eleições oferecem-lhes uma magnífica ocasião para prejudicar todos os outros, sem obter qualquer ganho com as suas ações”. Acho que ele tem razão, mas poderemos fazer um teste prático de suas teorias, normalmente ambientadas num cenário italiano – que tampouco pode ser classificado como ao abrigo da estupidez –, em nossa própria terra, dentro de mais alguns meses.

Sim, antes que me esqueça, prometo procurar o livrinho nas minhas estantes para aqui transcrever, num próximo ensaio, a totalidade das cinco leis fundamentais de Carlo Maria Cipolla sobre a estupidez humana, quem sabe até introduzindo mais algumas de contrabando?


Publicado no site do Instituto Millenium (17/04/2006)

Publicado em Via Política (6.12.2009).

Relação de Publicados n. 941.