O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 15 de dezembro de 2019

Minha "ONU" de acessos em Academia.edu - Paulo Roberto de Almeida

Ao examinar o Analytics do Academia.edu, para verificar quais arquivos estavam sendo mais acessados no último mês, cliquei na definição por países, e veio uma longuíssima tabela (que dividi em três colunas, para ficar mais curta), constando 171 países individualizados, mais 6 ou sete "desconhecidos", sendo que essa categoria é a primeira, ou seja, um bocado de acessos não identificados (gente tímida, serviços de informação, meus "inimigos"?, não sei). Em todo caso eis o resultado, indicando alguma coerência nos países que possuem ou maior comunidade de brasileiros, de brasilianistas, ou de gente interessada ou estudando o Brasil).

Minha ONU de visitas na página em Academia.edu

Paulo Roberto de Almeida
Levantamento feito em 15/12/2019

Countries
Views
Countries
Views
Countries
Views
1)  Unknown
93,967
61) Hungary
44
121) Azerbaijan
8
2)  Brazil
93,618
Nicaragua
43
Albania
8
3)  United States
10,648
Cuba
43
Martinique
7
4)  Portugal
2,306
Pakistan
42
Jamaica
7
5)  Mozambique
1,623
Slovakia
41
Iraq
7
6)  Unknown
1,588
Finland
41
Georgia
7
7)  France
1,407
Guatemala
39
French Guiana
7
8)  Spain
1,214
Czech Republic
38
Guadeloupe
7
9)  Angola
980
Viet Nam
37
Lithuania
7
10)          U.Kingdom
822
Panama
37
Sierra Leone
6
11)          Argentina
793
Guinea-Bissau
36
Sudan
6
12)          Germany
539
Timor-Leste
35
Guinea
6
13)          Canada
474
Algeria
34
Trinidad and Tobago
5
14)          Belgium
445
Lebanon
33
Rwanda
5
15)          Italy
388
New Zealand
31
Qatar
5
16)          Russia
366
Kenya
31
Palestinian Terr.
5
17)          Mexico
362
Serbia
31
Mauritius
5
18)          Colombia
270
El Salvador
31
Montenegro
5
19)          Uruguay
270
Norway
30
Armenia
5
20)          Switzerland
255
Malaysia
29
Afghanistan
5
21)          Netherlands
247
Ethiopia
29
Réunion
4
22)          Unknown
246
Togo
27
Malta
4
23)          Peru
236
Bulgaria
25
Cambodia
4
24)          Ecuador
225
Cameroon
25
Kyrgyzstan
4
25)          India
219
Zambia
24
Cyprus
4
26)          Japan
207
Taiwan
24
Burundi
4
27)          Paraguay
199
Namibia
24
Burkina Faso
4
28)          Chile
197
Thailand
23
Unknown
4
29)          Australia
183
Honduras
22
Papua New Guinea
3
30)          Romania
166
Oman
21
Mongolia
3
31)          Turkey
141
Luxembourg
21
Liberia
3
32)          Cape Verde
140
Haiti
21
Yemen
2
33)          South Africa
138
Estonia
20
Suriname
2
34)          Venezuela
133
Costa Rica
20
Somalia
2
35)          Korea
124
Un. Arab Emirates
19
Niger
2
36)          China
115
Puerto Rico
17
Malawi
2
37)          Indonesia
114
Tanzania
17
Mauritania
2
38)          Ukraine
93
Sri Lanka
17
Myanmar
2
39)          Nigeria
86
Tunisia
16
Latvia
2
40)          Greece
85
Iran, Islamic Rep
15
Saint Lucia
2
41)          Poland
83
Ghana
15
Iceland
2
42)          Sweden
80
Moldova
14
Guyana
2
43)          Morocco
76
Congo
14
Fiji
2
44)          Denmark
74
Gabon
14
Botswana
2
45)          Senegal
72
Saudi Arabia
13
Bhutan
2
46)          Austria
68
Madagascar
13
Bahrain
2
47)          Bolivia
68
Macedonia
12
Saint Vincent Gren.
1
48)          Ireland
67
Bangladesh
12
Uzbekistan
1
49)          Philippines
67
Uganda
11
Chad
1
50)          Côte D'Ivoi.
64
Zimbabwe
10
Swaziland
1
51)          Egypt
59
Croatia
10
Unknown
1
52)          Slovenia
55
Congo
10
New Caledonia
1
53)          Israel
52
Nepal
10
Lesotho
1
54)          Dom. Rep.
51
Benin
10
Equatorial Guinea
1
55)          Belarus
51
Macao
9
Aruba
1
56)          Hong Kong
47
Kuwait
9
Andorra
1
57)          Unknown
46
Jordan
9
177) Bahamas
1
58)          Bosnia Herz
45
Belize
9


59)          Sao Tome Pr
45
Mali
8


60)          Singapore
44
120) Kazakhstan
8


171 countries + 6 desconhecidos (que podem ser quaisquer números de países, - 1)
  

sábado, 14 de dezembro de 2019

Cartão corporativo: Bolsonaro continua desrespeitando a Justiça

Bolsonaro não respeita decisão do STF sobre a aberração do sigilo do seu cartão corporativo.

Prezados Senhores

O STF acabou com a excrescência e a imoralidade do sigilo nos gastos do cartão corporativo do presidente da república. O ideal seria que o próprio presidente Bolsonaro (guardião da moral e da ética, além de ser enviado por Deus) tivesse tomado essa atitude. 

O STF levou 11 anos para reconhecer o óbvio e o ululante, qual seja: “todos são iguais perante a lei”.

Se for autorizado abrir o passado, o Brasil vai ficar estarrecido. Estou correndo atrás para levantar a informação. Aguardem-me!   

07 de Novembro de 2019 às 16:42  Por: Marcos Santos/USP Imagens  Por: Redação BNews  0comentários

O Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou lei de 1967 que permitia a instalação de sigilo nos gastos presidenciais, o que bloqueava acesso a informações como uso do cartão corporativo. A decisão foi tomada pelo plenário virtual da Corte na última terça-feira (5).

De acordo com o blog Radar, da revista Veja, a ação foi protocolada no STF em 2008 pelo presidente do então PPS, hoje Cidadania, Roberto Freire. 

A maioria dos ministros seguiu voto do relator do caso, ministro Edson Fachin. Ele avaliou que o decreto é inconstitucional.

13/12/2019 nº 2607/ISTOÉ



A caixa-preta do cartão corporativo

Presidência da República ignora transparência e mantém sigilo de suas informações financeiras, apesar de decisão do STF de torná-las públicas — despesas neste ano já totalizam R$ 13 milhões.

A caixa-preta do cartão corporativo
Vicente Vilardaga

13/12/19 - 09h30

O Palácio do Planalto dá seguidas demonstrações de que não lhe interessa ser transparente com as informações oficiais. A última delas foi ignorar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de derrubar os efeitos do artigo 86 de um decreto-lei (200/67) da ditadura, que garantia o sigilo dos gastos da Presidência com cartão corporativo. O Planalto foi notificado em novembro de que deveria começar a expor seus dados, mas manteve sua posição inalterada e já declarou que não vai torná-los públicos. Para se desvincular da decisão do STF, alegou que não é por causa do decreto-lei que mantém os números sob sigilo, mas, sim, amparado na Lei de Acesso à Informação (LAI). Em nota, a assessoria de comunicação do presidente Jair Bolsonaro informou que “cabe esclarecer que a legislação utilizada pela Presidência da República para classificar as despesas com grau de sigilo é distinta daquela que foi objeto da decisão do STF”.

Despesas da Presidência com cartão corporativo aumentaram 20% em relação ao ano passado e 48% na comparação com 2017

Há dois meses, o vice-líder do PSB na Câmara, deputado Elias Vaz (GO), diante dos gastos excessivos com cartões no primeiro semestre, que totalizaram R$ 5,8 milhões, pediu uma auditoria na movimentação financeira presidencial, alegando que a maior parte das informações deveria se tornar pública. “Isso é contra tudo aquilo que o presidente pregou. Ele está sendo extremamente incoerente”, afirmou Vaz sobre a insistência do governo em manter os dados secretos. O vice-líder do PSB requereu à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara que realize “ato de fiscalização e controle, com o auxílio do Tribunal de Contas da União, na Presidência”. Seu pedido de auditoria, porém, foi engavetado pelo deputado Léo Motta (PSL-MG), presidente da comissão e aliado de Bolsonaro.

O Portal da Transparência revela que o Gabinete da Presidência gastou neste ano, até 1º de novembro, R$ 13,021 milhões com o meio de pagamento eletrônico, quase tudo secreto, classificado como despesa reservada ou confidencial. Pelo artigo 24 da LAI, o governo pode classificar suas informações como ultrassecreta, secreta ou reservada, de acordo com os riscos que elas representem à segurança da sociedade ou do Estado. Com esse pretexto, o governo consegue preservar todas as informações que possam, na sua avaliação, ameaçar a segurança do presidente, do vice-presidente, assim como dos respectivos cônjuges e dos filhos. O sigilo será mantido até o término do mandato.

Apesar da caixa-preta dos gastos e de caber muita coisa no balaio da segurança do Estado, com base nas informações disponíveis se constata que o presidente Jair Bolsonaro tem aumentado bastante o uso do cartão corporativo em comparação com seus antecessores. E, pelo visto, ele não pretende dar nenhuma justificativa para isso e nem especificar seus gastos perdulário.

Perdulário
O atual governo já é o mais perdulário dos últimos três anos, o que não é bom sinal para quem preconiza a redução drástica das despesas públicas. Considerando somente os números entre janeiro e maio, quando as despesas declaradas pelo governo com o cartão alcançavam R$ 4,64 milhões, houve um crescimento de 20% nos gastos em relação ao ano passado (R$ 3,90 milhões) e de 48% em comparação com 2017 (R$ 3,22 milhões). Pelo jeito, Bolsonaro pretende gastar muito, e está pouco se lixando para a transparência.


Ricardo Bergamini


A patifaria intelectual de Olavo de Carvalho - Tomas Troster (Carta Capital)

A patifaria intelectual de Olavo de Carvalho

Tomás Troster
Carta Capital, 13/12/2019

Em meados de 2016, enquanto preparava uma citação da Dialética erística de Schopenhauer para um livro, comparei três traduções do filósofo alemão: uma para o inglês, uma espanhola e uma publicada no Brasil, comandada por Olavo de Carvalho (a quem me referirei pelo acrônimo “OdC”). Considerando as óbvias distâncias entre as línguas, a tradução inglesa se revelou bem diferente das outras duas, que, para meu estranhamento, pareciam quase idênticas.
A Dialética erística é uma obra na qual Schopenhauer expõe 38 estratagemas – subterfúgios ou artimanhas – usados inescrupulosamente para vencer um debate. Segundo Dionisio Garzón, a obra só saiu à luz quatro anos após a morte do filósofo alemão. Embora “dialética” seja um termo notadamente polissêmico, quando associado à erística – lembrando de Éris, a deusa grega da discórdia – trata-se de uma arte do combate verbal ou uma técnica de conseguir fazer com que um determinado público nos dê razão em uma discussão, ainda que não a tenhamos de fato. Além de descrever tais estratagemas, Schopenhauer também apresenta “meios de se defender contra eles, como uma arte de parar golpes nessa esgrima” (Parerga e Paraliponema II, 2, apud. Garzón, p. 10). Mesmo que o título original seja Dialética erística – em alemão, Eristische Dialektik –, a obra recebeu alcunhas diversas, mais ou menos apelativas, como uma edição francesa L’art d’avoir toujours raison (A arte de ter sempre razão).
Nos últimos meses, surpreso com o destaque que OdC ganhou no cenário nacional, decidi revisitar seu trabalho e avaliar o agora “guru do presidente”. Publicado pela editora Topbooks em 2003, o livro Como vencer um debate sem precisar ter razão é composto de uma tradução da Dialética erística – assinada por OdC e Daniela Caldas – e uma introdução e comentários de OdC. Repletas de referências a obras insignificantes como O imbecil coletivo, as páginas escritas por meu compatriota deixam a desejar em vários quesitos: OdC e o diagramador, por exemplo, não sabem escrever palavras em grego, mas acharam bonito tentar. Mais espantosa, ainda, é a versão brasileira do texto de Schopenhauer: uma adaptação ipsis litteris de quase toda a tradução espanhola de Dionisio Garzón (EDAF, 1996). Em casos especiais, vale ressaltar, OdC opera pequenas alterações e, por vezes, introduz erros inéditos.
Dois exemplos:
No estratagema 30, onde Garzón traduz:
“De hecho, no existe ninguna opinión, por absurda que sea, que los hombres no se lancen a hacerla propia apenas se ha llegado a convencerles que tal opinión es universalmente aceptada” (p. 40),
OdC verte:
“De fato, não existe nenhuma opinião, por absurda que seja, que os homens não se lancem a torná-la sua, tão logo se tenha chegado a convencê-los de que é universalmente aceita” (p. 167).
Para efeito de comparação, Milton Camargo Mota (Editora Vozes, 2017, edição digital) traduz a mesma passagem assim:
“Não há uma só opinião, por absurda que seja, que as pessoas não tornem sua com facilidade, tão logo tenham sido convencidas de que ela é geralmente aceita.”
Já Alexandre Pires Vieira (Montecristo editora, 2018, edição digital) a verteu como:
“Não há opinião, por mais absurda que seja, que os homens não aceitarão prontamente assim que puderem ser levados à convicção de que ela é geralmente adotada.”
No estratagema 9, vemos na tradução de Dionisio Garzón:
“Hacer las preguntas, en un orden distinto del que exige la conclusión que de ellas se pretende, con cambios de todo género” (p. 40).
Na de OdC:
“Fazer as perguntas numa ordem distinta da exigida pela conclusão que dela pretendemos, com mudanças de todo gênero” (p. 141).
Mota:
“Não fazer as perguntas na ordem exigida pela conclusão a ser extraída delas, mas com todos os tipos de deslocamentos.”
E Vieira:
“As perguntas não são feitas na ordem que a inferência a extrair delas requer, mas em todos os tipos de transposições.”
Repare que Schopenhauer fala de uma conclusão extraída de perguntas, no plural. Por isso, o correto seria “delas” – como fazem Garzón, Mota e Vieira. Jactando-se fazer um “esforço de compreensão propriamente filosófica”, “graças a Deus, porque não sou filólogo” (p. 24), OdC claudica até na concordância.
Em relação à edição espanhola – publicada antes, que se destaque –, o restante da tradução de OdC parece seguir os mesmos procedimentos: inverte-se aqui e ali uma ordem de predicados, troca-se “razão” por “fundamento”, esquece-se de um destaque em itálico, mas o texto nunca se descola substancialmente da versão de Garzón. Da comparação dos dois textos – e de sua discrepância com outras traduções – a autenticidade do trabalho do inverossímil “guru” é no mínimo eclipsada.
É certo que existem casos célebres de traduções indiretas. Nos anos 1940, assumidamente, Rachel de Queiroz traduziu duas obras de Dostoiévski a partir de edições francesas. Na coleção Os Pensadores, o volume de Aristóteles que contém a Ética a Nicômaco estampa nitidamente em seu frontispício: “Tradução de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim da versão inglesa de W. D. Ross”. É o que se deve fazer quando se produz uma tradução indireta – além de, é claro, pedir a autorização do(s) detentor(es) dos direitos da obra.
Pois os incisos i e xi do artigo 7º da Lei de Direitos Autorais (LDA) estabelecem que são obras intelectuais protegidas pela lei: “i – os textos de obras literárias, artísticas ou científicas”; e “xi – as adaptações, traduções e outras transformações de obras originais, apresentadas como criação intelectual nova”. Como Schopenhauer (1788-1860) morreu há mais de 150 anos, suas obras são de domínio público (LDA, art. 41). Suas traduções recentes, não. O artigo 29 da mesma LDA determina que “depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra, por quaisquer modalidades”, tal como “iv – a tradução para qualquer idioma”. A citação de algumas passagens – como fiz acima – não constitui uma ofensa à LDA, já que são apenas recortes e “o nome do autor e a origem da obra” são indicados (art. 46). Porém, quando se trata da reprodução integral de uma obra, a lei é categórica:
Art. 33. Ninguém pode reproduzir obra que não pertença ao domínio público, a pretexto de anotá-la, comentá-la ou melhorá-la, sem permissão do autor.
Parágrafo único. Os comentários ou anotações poderão ser publicados separadamente.
É curioso que – en passant – OdC assume que sua “Introdução e Comentários nasceram de simples notas de leitura à margem da tradução espanhola de Dionísio Garzón; depois os conferi com o original, com a ajuda de minha querida amiga Daniela Spínola P. Caldas, professora de língua alemã” (p. 26). Fica claro, então, que a inspiração de OdC foi o trabalho de Garzón. Mas por que ele pediria ajuda a alguém que conhece o idioma alemão para revisar sua introdução e comentários (“os conferi com o original”) que foram escritos em português? Por que, em nenhum momento, a fonte da tradução é indicada de maneira explícita? Garzón, de sua parte, deixa claro (p. 13) que se baseou na edição de Hübscher. OdC nem mesmo menciona a obra original na ficha catalográfica.
Conjecturas à parte, ocorreu-me a possibilidade de que, para fazer sua tradução extremamente similar à de Garzón, OdC tenha pedido autorização à editora madrilenha EDAF. Liguei para lá, então, e, depois de conversar com algumas pessoas, recebi a seguinte mensagem: “lhe confirmo que nossa edição de El arte de tener razón foi traduzida diretamente do alemão por Dionisio Garzón, em virtude de um contrato que data de 6 de fevereiro de 1996. Em dito contrato, o Sr. Garzón se encarregava também da realização de um prólogo e um estudo da obra. Tanto a cessão da tradução, quanto do prólogo e do estudo são de caráter exclusivo. Revisando nossos arquivos, não nos consta de nossa parte que se tenha cedido nenhum dos três a alguma pessoa ou entidade no Brasil”.
Posteriormente galhardeado com a Ordem de Rio Branco, OdC fala algo sobre “patifaria intelectual” (p. 23). Para que o leitor tire suas próprias conclusões, apresento mais uma passagem comentada de ambas as traduções, seguida das duas implacáveis comparações. Do estratagema 32, Garzón traduz:
“Un modo rápido de eliminar o, al menos, hacer sospechosa una afirmación del adversario contraria a nosotros es reducirla a una categoría generalmente detestada, aunque la relación sea tan sólo de vaga semejanza y poco rigurosa. Por ejemplo, esto es maniqueísmo, esto es arrianismo, esto es pelagianismo, esto es idealismo, esto es espinosismo, esto es panteísmo, esto es brownianismo, esto es naturalismo, esto es ateísmo, esto es racionalismo, esto es espiritualismo, esto es misticismo, etc.” (p. 60)
OdC:
“Um modo rápido de eliminar ou, ao menos, de tornar suspeita uma afirmação do adversário é reduzi-la a uma categoria geralmente detestada, ainda que a relação seja pouco rigorosa e tão só de vaga semelhança. Por exemplo: ‘Isso é maniqueísmo’, ‘É arrianismo’ [sic], ‘É pelagianismo’, ‘É idealismo’, ‘É panteísmo’, ‘É brownianismo’, ‘É naturalismo’, ‘É ateísmo’, ‘É racionalismo’, ‘É espiritualismo’, ‘É misticismo’, etc.” (p. 174)
Mota:
“Uma maneira rápida de eliminar ou ao menos tornar suspeita uma afirmação do adversário que nos seja contrária é a de colocá-la sob uma categoria odiada, ainda que tenha apenas uma semelhança com esta ou uma vaga relação – por exemplo, ‘isso é maniqueísmo; é arianismo; […] o; é espinozismo; […] é misticismo etc.’”
E Vieira:
“Se você é confrontado com uma afirmação, há um modo curto de se livrar dela, ou, pelo menos, de lançar suspeitas sobre ela, colocando-a em alguma categoria odiosa; mesmo que a conexão seja apenas aparente, ou sutil. Você pode dizer, por exemplo, ‘Isso é maniqueísmo’ ou ‘É arianismo’ […] ou ‘espinosismo’, ou […] ‘misticismo’ e assim por diante” (os destaques em negrito são meus).
Três notas: (i) OdC defenestrou o “espinosismo” da lista de Schopenhauer; (ii) a tradução de OdC ignora a ocorrência de “entgegenstehende” (sigo a edição disponível aqui), traduzida para o espanhol como “contraria a nosotros”; “que nos seja contrária”, por Mota; e “confrontado com”, por Vieira; (iii) em português, “arianismo” – a doutrina de Ário, o padre alexandrino dos séculos iii e iv – se escreve com um único “r”, curiosamente, o mesmo ocorre em alemão: “Arianismus”, ao passo que, em espanhol, o próprio nome é diferente: “Arrio” (e, consequentemente, “arrianismo”).

Este texto não reflete necessariamente a opinião de CartaCapital.