O mapa acima mostra as 3 regiões
mais desenvolvidas do planeta: Europa, America do Norte e Leste
Asiático. America Latina e Africa estão fora desse circuito. o mapa
destaca os países
produtores de maquinas e eletro-eletrônicos em 2014, os produtos mais complexos do mundo segundo o Atlas da Complexidade são
basicamente manufaturas de ponta. Países
da America do Norte e Europa também
produzem
commodities, mas se destacam mesmo por conta de sua produção
manufatureira. America Latina e Africa só são capazes de produzir
commodities.
Hausmann
et al (2011) usam técnicas de computação, redes e
complexidade para criar um método capaz de medir a sofisticação
produtiva ou “complexidade econômica” de países com extraordinária
simplicidade. A partir da análise da pauta exportadora de um determinado
país, são capazes de medir de forma indireta a sofisticação tecnológica
de seu tecido produtivo. A metodologia criada para a construção dos
índices de complexidade econômica culminou num
Atlas
(http://atlas.media.mit.edu) que reúne extenso material sobre uma
infinidade de produtos e países desde 1963. Como medir a “complexidade
econômica” de uma economia? Hausmann e Hildalgo criaram um método de
extraordinária simplicidade e comparabilidade entre países.
A partir da analise da pauta exportadora de uma determinada economia
são capazes de medir de forma indireta a sofisticação tecnológica de seu
tecido produtivo. Os dois conceitos básicos para se medir se um país é
complexo economicamente ou sofisticado são a ubiquidade e diversidade de
produtos encontrados na sua pauta exportadora. Se uma determinada
economia é capaz de produzir bens não ubíquos, há indicação de que tem
um sofisticado tecido produtivo. Claro que há um problema aqui de
escassez relativa, especialmente de produtos naturais como diamantes e
urânio, por exemplo. Os bens não ubíquos devem ser divididos entre
aqueles que têm alto conteúdo tecnológico e, portanto, são de difícil
produção (aviões por exemplo) e aqueles que são altamente escassos na
natureza (nióbio por exemplo) e, portanto, tem uma não ubiquidade
natural.
Para controlar esse problema de recursos naturais escassos na medição de complexidade Hausmann
et al
(2011) usam uma técnica engenhosa: compara a ubiquidade do produto
feito num determinado país com a diversidade de produtos que esse país é
capaz de exportar. Por exemplo: Botsuana e Serra Leoa produzem e
exportam algo raro e, portanto, não ubíquo: diamantes brutos. Por outro
lado têm uma pauta exportadora extremamente limitada e não
diversificada. Temos aqui então casos de não ubiquidade sem
complexidade. No extremo oposto estão, por exemplo, produtos como
equipamentos médicos de processamento de imagem, algo que praticamente
só Japão, Alemanha e Estados Unidos conseguem fabricar; certamente
produtos não ubíquos. Só que nesse caso as pautas de exportação de
Japão, EUA e Alemanha são extremamente diversificadas, indicando que
esses países são altamente capazes de fazer várias coisas. Ou seja, não
ubiquidade com diversidade significa “complexidade econômica”. Por outro
lado, um país que tenha uma pauta muito diversificada, mas com bens
ubíquos (peixes, tecidos, carnes, minérios, etc…) não apresenta grande
complexidade econômica; o pais faz o que todos fazem.
Diversidade com ubiquidade significa falta de complexidade econômica.
O truque dos autores nessas medidas de complexidade é usar a
diversidade para controlar a ubiquidade e vice versa. Por exemplo
Holanda é considerada um país complexo pois tem uma pauta de exportação
diversificada e não ubíqua; é um dos poucos países do mundo que exporta
aparelhos de raio-X. Ghana, por outro lado, é um país não complexo pois
tem uma pauta de exportação sem diversidade e com produto ubíquos:
exporta peixes e produtos agrícolas. A Argentina se encontra numa
posição intermediária, tem uma pauta exportadora mais diversificada e
menos ubíqua do que Ghana, mas por outro lado, menos diversificada e
mais ubíqua do que a Holanda; é, portanto considerada intermediariamente
complexa.
A comparação feita no
Atlas entre Cingapura e Paquistão também
ajuda a ilustrar a metodologia. Os dois países têm grosso modo o mesmo
tamanho de PIB só que o Paquistão tem uma população 34 vezes maior do
que Cingapura é, portanto, em termos per capita um país muito mais
pobre. Vejamos o que a pauta exportadora desses países nos diz. A
diversidade de exportação do Paquistão e Cingapura é praticamente a
mesma, ambos os países exportam aproximadamente 133 produtos distintos.
Só que os produtos exportados pelo Paquistão são também exportados na
média por 28 outros países. Os produtos exportados por Cingapura são
exportados na média por apenas 17 outros países. Ademais os produtos
exportados pelo Paquistão são também exportados por países que têm
diversidade de exportações muito baixa, enquanto que produtos exportados
por Cingapura são também exportados por países que tem diversificação
de exportações muito alta e exportam produtos não ubíquos.
A rotina de cálculo de complexidade do Atlas transforma essas
diferenças importantes em um número que recebe o nome de complexidade
econômica. Por exemplo, em 2014 o Paquistão tinha uma complexidade
econômica de -0.75 e Cingapura de 1.40, significando isso que o segundo
país era bem mais complexo do que o primeiro nesse ano. Uma das grandes
virtudes desses indicadores de complexidade e’ que eles trabalham com
medidas quantitativas a partir dos cálculos de álgebra linear para
chegar nos resultados. Não há considerações sobre questões qualitativas
relevantes para a produção e exportação desses bens. Ou seja, não há
juízo de valor em relação ao que se considera complexo ou não complexo.
Outra vantagem interessante dessas medidas esta em poder captar enormes
mudanças nas tecnologias produtivas ao longo do tempo de forma coerente.
Uma televisão dos anos 70 e’ completamente diferente de uma televisão
de 2014.
Um carro, avião, moto dos anos 80 está muito distante do que chamamos
hoje de carro, moto ou avião. Ainda assim a metodologia do Atlas da
complexidade é capaz de capturar a dificuldade relativa de se produzir
cada bem em qualquer momento do tempo. Um país capaz de produzir uma
moto hoje talvez fosse incapaz de produzir uma moto em 1980 pelo simples
motivo de que hoje com as tecnoloigas existentes e integração comercial
é bem mais fácil produzir uma moto. Mas hoje, provavelmente, uma moto é
considerada no Atlas um bem menos sofisticado do que em 1980. O
conceito de complexidade se mantem ao longo do tempo sempre como uma
medida relativa entre países e produtos.
Nessa linha de raciocínio Hausmann e Hidalgo seguem classificando
diversos países e chegam a correlações impressionantes entre níveis de
renda per capita e complexidade econômica; esse indicador pode ser
tomado como uma proxy do desenvolvimento econômico relativo entre
países. Não à toa Japão, Alemanha, Estados Unidos, Reino Unido e Suécia
estão sempre entres os países mais sofisticados do mundo nos últimos 10
anos. O desenvolvimento econômico pode ser tratado nessa perspectiva
como o domínio de técnicas de produção mais sofisticadas que em geral
levam a produção de maior valor adicionado por trabalhador; como diria a
tradição estruturalista em economia.
O
Atlas da Complexidade Econômica traz uma contribuição
interessante para a discussão estruturalista da importância da
industrialização para o desenvolvimento econômico; do ponto de vista de
uma análise estritamente empírica feita pelo algoritmo do Atlas, fica
claro que manufaturas se caracterizam em geral como bens mais complexos e
commodities como bens menos complexos. Ao calcular a probabilidade de
produtos serem co-exportados por diversos países, o Atlas cria uma
medida interessante sobre conhecimento produtivo contido nos produtos e
capacidades locais necessárias para produzi-los: o “espaço produtivo”
(Hidalgo
et al 2007). Quanto maior a probabilidade de dois
produtos serem co-exportados maior a indicação de que contem
características similares e de que portanto demandam capacidades
produtivas similares para serem produzidos, são produtos “irmãos” ou
“primos”.
O indicador de co-exportação acaba funcionando como uma medida de
encadeamento de conhecimento produtivo entre produtos, ou seja, ele
indica as conexões produtivas existentes entre vários bens graças aos
pré-requisitos comuns necessários para produzi-los. Os bens que tem
muita conectividade estão, portanto, carregados de potencial de
conhecimento tecnológico. Isto os torna
hubs de conhecimento;
enquanto que bens com baixa conectividade requerem capacidades
produtivas simples e que tem baixo potencial multiplicativo de
conhecimento.
Por exemplo: países que produzem motores de combustão avançados
provavelmente têm engenheiros e conhecimentos que permitem produzir uma
série de coisas similares e sofisticadas. Países que produzem só bananas
ou frutas tem conhecimentos limitados e provavelmente serão incapazes
de fazer bens mais complexos. É importante frisar aqui que toda
dificuldade para se observar isso decorre da incapacidade de se medir e
capturar diretamente essas competências produtivas locais. O que se
observa no comércio internacional são os produtos e não as habilidades
que os países têm em produzi-los. Do ponto de vista empírico, fica claro
no Atlas que manufaturas se caracterizam em geral como bens mais
complexos e
commodities aparecem como bens não complexos.
Das 34 principais comunidades de produtos calculadas a partir de uma algoritmo de compressão do
Atlas
(Rosvall and Bergstrom 2007), é possível observar que maquinário,
produtos químicos, aviões, navios e eletrônicos se destacam como bens
mais complexos e conectados entre si (ou seja, hubs de conhecimento).
Por outro lado, pedras preciosas, petróleo, minerais, peixes e
crustáceos, frutas, flores e agricultura tropical apresentam baixíssima
complexidade e conectividade. Cereais, têxteis, equipamentos para
construção e alimentos processados situam-se numa posição intermediaria
entre os bens mais complexos e menos complexos.
Quanto a críticas e possíveis problemas da metodologia de analise de
complexidade, talvez a maior falha do método seja usar unicamente dados
de exportações como
proxies da estrutura produtiva dos diversos
países. Trata-se de fato de uma fragilidade pois sabemos que muitos
países produzem mas não exportam bens por n motivos. Toda análise se
baseia no que se pode “ver” nos dados de comércio mundial; uma base
ampla, desagregada, padronizada e com histórico desde os anos 60. A
grande vantagem dessas bases de comércio está justamente na
padronização, capilaridade e longevidade dos dados; a desvantagem está
em não captar todas as questões internas idiossincráticas de cada país.
Por outro lado, as bases de contas nacionais que poderiam ter esses
dados não conseguem capturar, ainda, o mesmo tipo de informação com a
granularidade necessária para o tipo de análise que aqui fizemos; são,
em geral, bases com poucas camadas de desagregação produtiva. Um outro
problema da metodologia é não identificar os países que são
maquiladores: aqueles que simplesmente importaram e depois exportam
produtos complexos. O caso mais conhecido é o México. Schteingart (2014)
faz um interessante trabalho para qualificar a complexidade “genuína”
de países levando em conta número de patentes registradas e gastos em
P&D como porcentagem do PIB.
Ver
Construindo Complexidade,
A vingança dos estruturalistas, como medir complexidade?
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O Canadá e a Austrália que são Países com desenvolvimento econômico somente aparecem com alguns pontos?
Isso sem falar que poderia aparecer a Nova Zelândia no mapa.
O próprio México parece que é muito mais desenvolvido economicamente do que o Canadá e a Austrália.
E países como o próprio Brasil e a Argentina têm desenvolvimento econômico de porte médio.
Deveriam aparecer no mapa com algum destaque para São Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Aires.
Mesmo a Rússia deveria aparecer muito mais no mapa.
A impressão que ocorre quando se visualiza esse mapa, é que existem SOMENTE 3 regiões economicamente desenvolvidas no Mundo: os Estados Unidos, a Europa (com exceção da Rússia), e a Ásia Oriental (China, Japão, Coreia do Sul e o Sudeste Asiático).
E de acordo com aquele mapa: “TODOS os demais Países são totalmente subdesenvolvidos economicamente”, o que obviamente não é verdade. Alguns países tem alguns pontos, mas pouco significa em comparação com as 3 regiões economicamente mais desenvolvidas do Mundo.
Esse mapa pode estar parcialmente correto.