Comentário inicial Paulo Roberto de Almeida:
Não existe novo modelo econômico, ou se existe não é modelo, e não é econômico, e sim uma vontade política, inscrita na mesma vertente autoritária que caracteriza o partido dos companheiros, e que pretende baixar os juros por decreto, e aumentar o consumo, como se isso garantisse crescimento. O que o governo está conseguindo é maior inflação e menor investimento, e portanto menor taxa de crescimento, em face das crescentes intervenções improvisadas do governo na economia. O ambiente macroeconômico é o mais confuso possível, pois não se sabe o que o governo vai ainda encontrar para o que ele chama de estímulo à economia. Manifestamente, o governo não confia nos mercados, e prefere usar seus próprios recursos para produzir, politicamente, crescimento. O que consegue, na verdade, é menos crescimento e mais inflação.
Paulo Roberto de Almeida
Dois
anos de fiasco econômico
Editorial O Estado de S.Paulo, 30/12/2012
A presidente Dilma Rousseff completa meio mandato com um balanço
econômico assustador - dois anos de produção estagnada,
investimento em queda, inflação longe da meta, exportação
emperrada e contas públicas em deterioração. Desemprego baixo e um consumo ainda
vigoroso são os dados positivos, mas insuficientes para garantir a
reativação de uma indústria sem músculos para disputar espaço nos
mercados. Sobram palavras: um discurso triunfal sobre um "novo modelo
macroeconômico", baseado em juros mais baixos e câmbio menos
valorizado, promessas de grandes obras de infraestrutura e de reformas
de amplo alcance. De concreto, houve a redução dos juros, o que certamente
contribuiu para o aumento da popularidade de Dilma. Um balanço provisório
basta para mostrar o alto custo dos erros cometidos em dois anos pelos
condutores da política econômica, liderados, é bom lembrar, por uma
presidente voluntariosa.
O crescimento econômico deste ano está estimado em torno de um por cento
por economistas do Banco Central (BC), do mercado financeiro e das consultorias
mais importantes. Esse resultado seria em em qualquer circunstância, mas
no caso brasileiro há uma circunstância especial.
No ano anterior o Produto Interno Bruto (PIB) havia aumentado apenas
2,7%. O País perdeu o passo entre os emergentes de todo o mundo. Este detalhe é
importante, porque desqualifica as tentativas de atribuir o mau desempenho
brasileiro à crise global, ao tsunami monetário criado pelos bancos centrais do
mundo rico e à má vontade dos deuses.
Os problemas são internos, todos fabricados no Brasil por uma política há
muito tempo defeituosa e piorada pela teimosia do atual governo. Segundo o
Tesouro, os investimentos do governo central foram de janeiro a novembro 22,8%
maiores que os de um ano antes e atingiram R$ 54,9 bilhões. Mas isso
eqüivale a pouco mais de 50% do total previsto no Orçamento. Além disso, o
valor inclui os financiamentos do programa Minha Casa, Minha Vida e boa
parte dos desembolsos foi de restos a pagar. Se depender da eficiência
federal, continuarão faltando investimentos tanto para reativar a
economia em 2013 quanto para garantir um crescimento mais vigoroso nos anos
seguintes,
Tudo somado, o valor investido pelo setor
privado, pela administração pública direta e pelas estatais deve ter ficado em
torno de 18% do PIB. Em outros países latino-americanos ja proporção
ultrapassa 25% e nos emergentes da Ásia supera 35%. Além disso, é preciso levar
em conta a qualidade dos projetos e a eficiência da execução. Não basta
investir. Os alvos podem ser mal escolhidos e o dinheiro,
desperdiçado. O histórico dos projetos federais, tanto da administração
direta quanto das estatais, tem sido muito em há vários anos. Aparelhamento,
loteamento de cargos, incompetência e corrupção têm custado muito
caro.
A inflação alta contrasta com o baixo ritmo de atividade. Em outros
países, tolera-se alguma alta de preços para garantir algum impulso à
economia, e sempre por um tempo muito limitado. No Brasil, o governo
vem mantendo há vários anos a meta de 4,5%, muito alta quando comparada com os
padrões internacionais. Neste ano, o BC cortou juros e renunciou a combater o
aumento de preços, em troca de um crescimento econômico humilhante para um
Brics.
Os preços ao consumidor medidos pela Fundação Getúlio Vargas e
incluídos no IGPM subiram 5,79% neste ano, De novembro para dezembro
houve aceleração de aumentos em seis dos oito componentes do indicador, O
IPCA, calculado pelo IBGE e usado como referência para a política oficial,
aumentou 5,53% nos 12 meses terminados em novembro. A alta internacional
dos preços agrícolas foi obviamente apenas uma parte dessa
história.
A
balança comercial refletiu a fraqueza da indústria diante dos
competidores, o erro de uma política de estímulos voltada para o
consumo e, naturalmente, a dependência excessiva das vendas de matérias-primas à
China. Até novembro, o valor exportado foi 4,9% menor que o de um ano
antes, pela média dos dias úteis, e o saldo comercial, 31,1% inferior
ao de igual período de 2011. Os números finais do ano devem sair na
quarta-feira e confirmarão, com certeza, o alto custo de vários erros
políticos.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
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4 comentários:
Paulo - sou um idoso que aos 70 anos aprecia ler comentários bem postados, como o seu, todavia, confesso que apreciaria saber o real significado do termo "mim" utilizado por duas vezes, pois confesso desconhecê-lo no contexto utilizado.
João Túlio Dias,
Grato pelo aviso. Fui verificar e se tratou de uma substituição indevida, pelo corretor ortográfico do computador. Não sei como isso foi ocorrer, para cada um dos "mim" se referia, na verdade, ao vocábulo "em".
Já substitui.
Cordialmente,
Paulo Roberto de Almeida
Com o devido respeito, Sr. João Túlio Dias, apesar de todo o texto elaborado pelo Paulo o Sr. se detém a uma correção gramatical e o Brasil sucumbindo até a lama. Aproveite e divulgue o que foi escrito pelo Paulo e tente começar a mudar este país para melhor, para melhorar a condição de vida de todos nós brasileiros, iniciando pelo estudo e educação. Sou arquiteto e é lógico perceber que qualquer estrutura sem bons alicerces sucumbe. O Brasil perdeu esta base há muito tempo e acho que levaremos umas três gerações para recuperarmos o tempo perdido, isto se a nova geração tomar atitudes para transformar este paiseco numa nova pátria (começando por uma limpeza geral dos políticos).
Com o devido respeito, Sr. João Túlio Dias, apesar de todo o texto elaborado pelo Paulo o Sr. se detém a uma correção gramatical e o Brasil sucumbindo até a lama. Aproveite e divulgue o que foi escrito pelo Paulo e tente começar a mudar este país para melhor, para melhorar a condição de vida de todos nós brasileiros, iniciando pelo estudo e educação. Sou arquiteto e é lógico perceber que qualquer estrutura sem bons alicerces sucumbe. O Brasil perdeu esta base há muito tempo e acho que levaremos umas três gerações para recuperarmos o tempo perdido, isto se a nova geração tomar atitudes para transformar este paiseco numa nova pátria (começando por uma limpeza geral dos políticos).
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