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quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Domício da Gama, correspondente em Paris da Gazeta de Notícias, de 1888 a 1893 - livro de Franco Baptista Sandanello

Acabo de receber, este livro que se segue a estudos do organizador sobre Domício da Gama, escritor, jornalista, membro da Academia Brasileira de Letras, e que se tornou Secretário do Barão do Rio Branco desde o caso de Palmas, continuando depois na carreira diplomática até ser embaixador em Washington, chanceler (1918-1919) e embaixador em Londres.

 
Gama, Domício: 
De Paris: Domício da Gama; 

estabelecimento do textos, notas e introdução Franco Baptista Sandanello; transcrição Wellem Assunção Araújo, Franco Baptista Sandanello; revisão Vanessa de Oliveira Temporal, Franco Baptista Sandanello - 1a edição - São Paulo: Alameda, 2020, 426 p.; ISBN: 978-85-86081-15-2

Cem anos atrás, escrevendo de Paris no final de 1889, em crônica publicada na Gazeta de Notícias em 26 de janeiro de 1890, Domício descrevia algo que não nos é desconhecido nos tempos que correm:

"Corre a Europa, de S. Petersburgo a Madrid, uma epidemia de constipações violentas, a que dão os nomes esquisitos de febre dengue, influenza e outras. Dizem que é contagioso o mal e que o tempo frio e úmido favorece-0. Começa por uma febre violenta, dor de cabeça, quebramento de todo o corpo, grande prostração e não passa disso. Mas obriga ao repouso. Isso faz que nos internatos, colégios, liceus, escolas militares e quartéis, as enfermarias estando cheias, dão-se férias extraordinárias até que diminua o número de doentes." (p. 143)

Pouco antes, numa correspondência enviada em 5 de dezembro de 1889, publicada em 27 de dezembro, ele já refletia o golpe da República no Brasil:  
"Decididamente, somos uma atualidade. Continuamos sempre na primeira linha das questões interessantes, que os jornais estudam ou fingem estudar, questão múltipla, multiforme esta, com as suas faces facetas infinitas de problema social em via de solução.
Além da vulgar curiosidade que a nossa revolução desperta, ressurgem os problemas de raça e nacionalidades e predomínios, as questões políticas de unidade e federação, questões econômicas, questões sociológicas, questões de princípio, de forma, destinos, interessando a Europa pensante, que acompanha ansiosamente as fases dessa experiência política feita em grande, em vistas da lição que daí tire.
Ainda não chegaram pormenores sobre o caso, ignora-se o espírito e a tenção [sic] do movimento, assim como o sentimento de que a nação se acha animada, as resistências, as adesões, os entusiasmos, os desalentos, os ecos da opinião nacional livremente manifestada, faltam elementos para julgar, e no entanto já começam a tirar da nossa originalidade, do nosso singular deduções e argumentos em favor de quanta teoria política moderna, podem defender os homens de estado... teoristas. E mesmo os não teoristas." (p. 137).

Mais adiante, escrevendo em 20 de dezembro de 1889, Domício confirma o interesse francês pelos acontecimentos do Brasil: 
"Continua o Brasil a interessar à imprensa francesa. Já esse resultado benéfico produziu a revolução. Agora é o Temps que manda um correspondente ao Rio de Janeiro, para estudar de perto os acontecimentos da nossa crise política e comunicar-lhos." (p. 150)

Anteriormente, em 2017, Franco Sandanello já tinha publicado, pela editora da Universidade Federal do Maranhão, EDUFMA, um livro sobre o trabalho literário de Domício da Gama. Foi um estudo muito meticuloso realizado na França, durante o período de pós-doutorado dele:
Domício da Gama e o impressionismo literário no Brasil

Nesse primeiro livro, ele fez uma análise dos contos do Domício da Gama, propondo uma associação do autor com o impressionismo literário. 

São mais de mil páginas de estudo. O livro está disponível na íntegra em e-book nos sites do Academia.edu:  https://www.academia.edu/31464914/Dom%C3%ADcio_da_Gama_e_o_impressionismo_liter%C3%A1rio_no_Brasil 
e no Archive.org:  

Recomendo ambos livros, para os que apreciam belos contos (no livro de 2017) e saborosas crônicas literárias e jornalísticas.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 5 de agosto de 2020

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