O economista Marcelo Guterman discorda do historiador Carlos Fico e do jornalista Eugenio Bucci quanto às propensões golpistas ou democráticas dos militares. Todos eles têm razão, examinando-se o caso de cada um dos golpes, tentados e bem sucedidos. PRA
Fábrica de golpistas à margem do Estado Democrático de Direito
MARCELO GUTERMAN
JUN 26
Dessa vez, o professor Eugênio Bucci extrapolou até para os seus elásticos padrões. Sua tese: todo militar é golpista.
O articulista baseia-se em um livro que defende que os militares estiveram por trás de todos os golpes e tentativas de virada de mesa na história brasileira, e nunca foram punidos por isso. (Curioso alguém de esquerda defendendo punição para crimes, vê-se que depende de quem é o criminoso. Fecha parênteses).
A lista do autor do livro inclui os golpes liderados por Getúlio Vargas, de onde se depreende que Getúlio nada mais era do que uma marionete nas mãos dos militares. Não é uma imagem muito lisonjeira para a esquerda. Além disso, por que punir somente os militares, no caso? Outra curiosidade: o autor cita “golpes bem sucedidos em 1954 e 1955”, quando Getúlio se suicida e temos a eleição de JK. Curioso caso de golpe seguido de eleições democráticas. Mas sabe como é, se a história não confirma a tese, que se dane a história.
Mas Bucci guarda o cream de la cream para o final de seu artigo. Segundo o professor da ECA, o problema estaria nas escolas de formação de oficiais, de onde sairiam golpistas em potencial. E propõe que essas escolas não fiquem sob a responsabilidade dos quartéis, mas do Estado Democrático de Direito. Ulalá! Quer dizer então que os quartéis brasileiros estão e agem fora do Estado Democrático de Direito? Formam uma espécie de Estado paralelo, fora do alcance das leis brasileiras? Difícil imaginar uma leitura mais assombrosa de uma instituição brasileira que existe e funciona dentro dos marcos constitucionais. Obviamente, o todo não pode ser tomado pela ação de alguns.
Sugiro o inverso: que os militares assumam o ensino na ECA e, de resto, em todas as universidades públicas. Afinal, é daí que surgem os radicais que impedem o livre exercício da liberdade de expressão dentro das universidades, e de onde saem os militantes que vão agredir direitos em invasões de terras e depredação de edifícios públicos. Nada mais contra o Estado Democrático de Direito.
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