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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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segunda-feira, 2 de maio de 2022

MILICOS BURROS DO PLANALTO estão impedindo o Itamaraty de fazer Política Externa - matéria do Globo (Janaína Figueiredo, Lauro Jardim)

 A CACOFONIA na área externa do Brasil. Se os milicos BURROS do Planalto querem que o Itamaraty seja como eles – Hierarquia, Disciplina, aquelas bobagens –, eles teria de deixar o Itamaraty funcionar como se faz em operações de guerra: UNIDADE DE COMANDO, coerência nas ordens e acatamento disciplinado.

Se todo mundo se julga no direito de opinar e mandar, só pode dar confusão no pedaço.
APRENDAM MILICOS BURROS: deixem o Itamaraty trabalhar. Outro que está sempre interferindo é o incompetente do Guedes, um cara que nunca aprendeu o que é política externa ou mesmo política comercial.
Paulo Roberto de Almeida


Após um ano no posto, chefe do Itamaraty sofre desgaste com interferências em sua área
Guerra e discussões sobre a posição do Brasil no cenário internacional geram rumores de fritura de Carlos França, ratificado por Bolsonaro
Janaína Figueiredo
O Globo, 02/05/2022

A invasão da Ucrânia pela Rússia, iniciada em 24 de fevereiro, encerrou o que poderia ser chamado de período de graça do ministro das Relações Exteriores, Carlos França, que chegou ao posto em março de 2021. Desde então, questionamentos internos ao chanceler têm se intensificado, provocando o que fontes do governo consideram um “tiroteio” do qual, até agora, França saiu ileso.

Semana passada, o presidente Jair Bolsonaro, com quem o chanceler mantém uma excelente relação, ratificou França no cargo, na tentativa de pôr panos quentes em rumores sobre a possibilidade de uma troca de comando no Itamaraty, em plena campanha eleitoral.

— A nossa política externa, que tem à frente o ministro Carlos França, é realmente reconhecida por todos nós e por todo o mundo afora. Todos querem fazer comércio conosco — disse o presidente durante a abertura de uma feira de agricultura em Ribeirão Preto (SP).

França navegou em águas tranquilas durante quase um ano, mas hoje enfrenta fortes interferências em sua área, e elas têm alimentado versões sobre a fritura do ministro. Em palavras de uma fonte do governo, “hoje todo mundo dá pitaco sobre a guerra: temos a ala militar, a Faria Lima [em referência à equipe econômica], os ideológicos, e o Itamaraty”.

Bolsonaro ouve todos, e hoje continua respaldando o ministro das Relações Exteriores que, por seu passado como chefe de protocolo do Palácio do Planalto, tem acesso privilegiado ao poder e ao mundo político.

Poucos acreditam que França deixará o cargo antes das eleições, mas esse cenário não pode ser totalmente descartado. O desgaste é evidente. Relações que fluíam com facilidade alguns meses atrás, hoje, confirmaram fontes do governo, enfrentam tensões.

Uma delas é do chanceler com o secretário de Assuntos Estratégicos, almirante Flávio Viana Rocha, que circula com assídua frequência pelas embaixadas de Brasília, recebe muitos embaixadores no Palácio do Planalto e tem uma agenda internacional que, segundo fontes, “provoca desajustes”. França e o almirante sempre tiveram um vínculo cordial, e Viana Rocha, conhecido por sua simpatia e capacidade (entre outras, fala vários idiomas), trabalha em permanente contato com o Itamaraty. Mas os tempos mudaram, insistem as fontes.

Guedes e a OCDE
Hoje, França é mais cobrado internamente, e as brigas por espaço e por influenciar a posição do país sobre a guerra — condenação à agressão russa, mas não alinhamento aos EUA e à União Europeia — se acentuaram.

Alguns votos recentes do Brasil em organismos internacionais, como na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), causaram “desconforto” no Ministério da Economia e, hoje, segundo fontes, existe um “receio” pela possibilidade de que políticas do Itamaraty que estão causando mal-estar entre americanos e europeus possam prejudicar a agenda econômica.

A visão nessa ala do governo é de que existem falhas de comunicação sobre a posição brasileira e, partindo dessa avaliação, o ministro Paulo Guedes tem falado sobre o assunto, no Brasil e no exterior.

— O Brasil vai trabalhar sempre no sentido de reforçar os valores das instituições multilaterais e abraçar a OCDE. Vamos avançar em todas as frentes. Queremos acesso à OCDE, queremos o acordo Mercosul-União Europeia, para garantir a segurança alimentar e energética dessa grande comunidade de nações — declarou o ministro da Economia, recentemente.

Depois de o Brasil se abster numa votação sobre a exclusão da Rússia do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, alinhada com seus sócios dos Brics (China, Índia e África do Sul, além de Rússia), Guedes criticou as guerras atuais, as quais chamou de “retrocesso”. O medo é de que o estremecimento das relações, sobretudo com os europeus, possa causar danos colaterais.

No próximo mês, o conselho de embaixadores e ministros da OCDE (organismo com sede em Paris e dominado amplamente pelos europeus) deve aprovar o chamado roteiro de ascensão para os seis países em processo de adesão, entre eles o Brasil. Estão se aproximando instâncias-chave no caminho para alcançar uma meta traçada por Guedes no começo do governo, o que eleva ainda mais as tensões.

As falas do ministro da Economia não caem bem em setores do Ministério das Relações Exteriores, que defendem a entrada do Brasil em organismos como a OCDE com uma voz própria e não abaixando a cabeça para as cada vez mais explícitas pressões externas, sobretudo de países da UE.

‘Demoras e titubeios’
Existe entre diplomatas estrangeiros em Brasília a sensação de que muitas vozes dentro do governo estão opinando sobre a política externa desde que a guerra estourou, o que leva a demoras e titubeios do Brasil, termos usados por uma das fontes consultadas, que enfraquecem a gestão de França. O chanceler é visto como um equilibrista, que deve conciliar a visão do Planalto, para muitos observadores estrangeiros claramente pró Rússia, com as demandas de outros ministérios, a ala militar e tradições diplomáticas brasileiras.

As declarações de França defendendo a permanência da Rússia no G-20, na contramão do que pregam europeus e americanos, foram consideradas “inadmissíveis” por diplomatas de países da UE. Uma das fontes consultadas afirmou que “com a Rússia dentro, não haverá cúpula do G-20”.

— Você pode imaginar uma reunião com Putin e [o chanceler Serguei] Lavrov sentados à mesma mesa que autoridades europeias? Isso seria impensável — disse a fonte.

Não são tempos tranquilos para França. Sinais de fogo amigo apareceram pela primeira vez na gestão do chanceler, que continua sendo visto como a melhor opção por diplomatas ativos e já afastados. Na visão do embaixador Rubens Barbosa, que já chefiou as embaixadas brasileiras em Washington e Londres e atualmente preside o Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), uma mudança agora seria ruim para o Brasil.

— Não creio que o presidente vá fazer uma mudança neste momento. Uma mudança agora pareceria uma capitulação diante dos EUA e da UE — diz Barbosa.

Ambiguidades
O deputado federal Marcel van Hatten (Novo-RS), integrante da Comissão de Relações Exteriores e Defesa da Câmara, concorda que “no momento, França é a pessoa mais adequada para o posto”.

— O chanceler acomoda os interesses do presidente com os do país — opina ele.

Não é a mesma opinião que predomina em embaixadas estrangeiras em Brasília. As críticas pelo que é considerado falta de clareza e ambiguidade do Brasil em relação à guerra aumentam a cada semana, e os supostos massacres cometidos pelos militares russos na Ucrânia aprofundam o mal-estar.

Mas França está firme, e fontes do governo que defendem sua gestão garantem que “o ministro é ponderado, equilibrado, o melhor que poderíamos ter neste momento. O Brasil precisa ter uma política externa independente”.



O apelido de Flávio Rocha entre os diplomatas no Itamaraty

Por Lauro Jardim
O Globo, 01/05/2022

No Itamaraty, o ministro Flávio Rocha, chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), tem sido chamado de "chefe da SAI", ou seja, uma inexistente Secretaria de Assuntos Internacionais.

O motivo, na visão dos diplomatas, é a quantidade de vezes em que Rocha se mete em temas de relações exteriores.


quinta-feira, 3 de março de 2022

Sinais contraditórios do Brasil sobre a guerra na Ucrânia preocupam diplomatas - Matéria do Estadão, cita Paulo Roberto de Almeida

Sinais contraditórios do Brasil sobre a guerra na Ucrânia preocupam diplomatas

Camila Turtelli e Matheus Lara 

O Estado de S. Paulo, 03 de março de 2022 | 05h00 

https://politica.estadao.com.br/blogs/coluna-do-estadao/sinais-contraditorios-do-brasil-sobre-a-guerra-na-ucrania-preocupam-diplomatas/

(...)

ORIGENS. O diplomata Paulo Roberto de Almeida colocou a política externa bolsonarista como o final trágico de uma trajetória iniciada por um “aparelhamento lulopetista” no Itamaraty: “Com o PT, a ‘pizza diplomática’ até que resistiu bem: só tinha umas fatias de cubanices e bolivarianices”.

ORIGENS 2. “Desde 2019, a ‘pizza’ foi contaminada por um molho bolsonarista inaceitáveis para os princípios de nossa tradição”, escreveu Almeida, no Facebook.

(...)

A matéria no clipping-resumo desta quinta-feira, 3/03/2022: 

Sinais contraditórios do Brasil - Após o Brasil dizer “sim”, ontem, junto a outros 140 países, à resolução da ONU condenando os ataques russos à Ucrânia, sinais contraditórios da política externa do País sobre o conflito mais uma vez foram tema de discussões acaloradas em grupos de diplomatas. Da “neutralidade” citada por Bolsonaro ao “equilíbrio” expresso por Carlos França e as críticas contundentes de Hamilton Mourão, a leitura é de que a falta de rumo pode isolar ainda mais o Brasil. Diplomatas têm demonstrado preocupação sobre como a falta de clareza do Estado brasileiro sobre os ataques têm repercutido internacionalmente e contribuindo para piorar a imagem já desgastada da política externa do País. O diplomata Paulo Roberto de Almeida colocou a política externa bolsonarista como o final trágico de uma trajetória iniciada por um “aparelhamento lulopetista” no Itamaraty: “Com o PT, a ‘pizza diplomática’ até que resistiu bem: só tinha umas fatias de cubanices e bolivarianices”. “Desde 2019, a ‘pizza’ foi contaminada por um molho bolsonarista inaceitável para os princípios de nossa tradição”, escreveu Almeida, no Facebook. Ganharam destaque entre membros do corpo diplomático brasileiro printscreens de jornais internacionais que, apesar do voto contra a Rússia na ONU, ainda veem o Brasil como simpático à causa russa. O britânico Daily Mail, por exemplo, destacou ontem as contradições do Brasil e visão “favorável” de Jair Bolsonaro sobre Vladimir Putin.

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Transcrevo o teor do que escrevi anteriormente sobre o assunto, e que está no meu livro mais recente: Apogeu e demolição da política externa (Appris, 2021):

Minha recollection de quase duas décadas de demolição diplomática 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

  

Um texto que vai causar pruridos nos petistas e trazer desconforto a certas “almas cândidas”, como diria Raymond Aron, inclusive vários colegas diplomatas.

 

O Itamaraty começou a ser destruído, como instituição, na era Lula, a despeito da excelente projeção externa do Brasil e do crescimento extraordinário de nosso prestígio internacional.

Alguns “servos” da ditadura cubana controlavam a diplomacia, como certo apparatchik do PT e alguns colaboradores voluntários (sobre cujo caráter não preciso me expressar). Mas a “pizza diplomática” do Itamaraty até que resistiu bem: só tinha uma ou duas fatias de cubanices e de bolivarianices, mas era o Itamaraty “normal”: multilateralismo, regionalismo, desenvolvimentismo, unctadianismo, terceiro-mundismo, anti-imperialismo e antiamericanismo moderado, ou seja, tudo igual ao que sempre fomos, desde o final dos anos 1950, quando começa a famosa PEI, ainda antes do Afonso Arinos e do San Tiago Dantas, e outros ideólogos do período, como Araújo Castro.

Mas, a diplomacia partidária e paralela do PT introduziu elementos clandestinos e deformadores do processo decisório, que foi totalmente invertido: a base tinha de atender aos objetivos da cúpula, como no “centralismo democrático” dos neobolcheviques.

 

Por isso escrevi, em 2014, o livro “Nunca Antes na diplomacia…”, que tinha justamente um capítulo sobre o processo decisório, um outro sobre a miopia do “Sul Global” e mais um contendo meu minority report, como um contrarianista, o que sempre fui.

 

Mas, quando a editora quis fazer uma 2a edição, em 2019, eu me opus, pois disse que o “nunca antes” era exatamente o desgoverno horroroso e a diplomacia aloprado do Bozo e do patético ex-chanceler acidental. Preferi escrever toda uma série de quatro obras digitais sobre o alucinante “bolsolavismo diplomático”, começando pelo “Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty” (2019), chegando até “O Itamaraty Sequestrado, 2018-2021”, que resume a destruição demencial do ex-chanceler acidental e desequilibrado.

A essa altura, a “pizza diplomática” já tinha sido, toda ela, contaminada por um horroroso “molho bolsolavista”, intragável e inaceitável para os padrões usuais e os valores e princípios de nossa política externa tradicional. Não preciso dizer que os “pizzaiolos” eram os delirantes fanáticos daquela franja lunática submissa à extrema-direita americana, “dirigidos” por um inepto e ignorante chefe de desgoverno.

Acabei escrevendo e publicando, em 2021, Apogeu e demolição da política externa; mas nem preciso dizer que o lulopetismo diplomático acabou entrando no apogeu, e que a demolição é inteiramente obra do Bozo e dos integrantes da franja lunática.

 

Agora, só me falta escrever uma espécie de “história sincera” do Itamaraty, relatando minha visão de quatro décadas de política externa e de diplomacia brasileira. Comecei em 1978, sendo fichado pelo SNI como “diplomata subversivo”, por me opor à ditadura militar, e terminei, no final de 2021, como “diplomata dissidente”, ou uma espécie de refuznik da atual demência bozófila na política externa, a despeito das tentativas de meus colegas diplomatas de preservar um mínimo de dignidade para o Itamaraty.

 

Se o tirano Putin pode ser condenado, pelo menos moralmente, por “crimes de guerra” e “contra a humanidade”, Bozo, seus generais amestrados e os aspones lunáticos devem ser processados e condenados, pelo menos moralmente, por crimes contra a diplomacia e contra a política externa do Brasil. 

A história não os absolverá, e eu não os deixarei impunes no “meu” tribunal pessoal da dignidade moral.

Continuarei expressando meu pensamento e minhas opiniões e argumentos no meu quilombo de resistência intelectual, mesmo sozinho.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4092: 2 março 2022, 2 p.