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quinta-feira, 17 de julho de 2014

Brics faz historia: para opor-se ao dolar, grupo cria banco de US$ 50 bi e Fundo de US$ 100 bi; ironia involuntaria?

Sem falar da possibilidade de utilização de moedas locais, para comércio ou investimento, mas cuja liquidação terá de passar necessariamente pelo dólar como moeda de referência, quaisquer que sejam as moedas locais envolvidas.
Outra ironia involuntária?
É avançando assim que a gente tropeça no dólar...
Paulo Roberto de Almeida


Matérias de imprensa de 16/07/2014 sobre a criação de Banco e de Fundo dos Brics em Fortaleza

Brasil perde disputa e banco do Brics terá presidente indiano e sede na China
LISANDRA PARAGUASSU, JOÃO VILLAVERDE, ADRIANA FERNANDES, ENVIADOS ESPECIAIS / FORTALEZA - O Estado de S.Paulo
O Brasil saiu derrotado ontem na disputa interna que envolveu a criação da primeira instituição formal do grupo Brics, do qual faz parte em conjunto com Rússia, Índia, China e África do Sul. O País precisou abrir mão da pretensão de presidir o Banco de Desenvolvimento do bloco para evitar o revés de terminar a reunião de cúpula em Fortaleza sem avanços palpáveis.
Caberá à Índia conduzir os trabalhos iniciais do banco, cuja sede ficará em Xangai, na China. O governo brasileiro vai indicar o presidente do Conselho de Administração do banco, uma instância decisória importante, mas que não atua no dia a dia da instituição.
Concretizar a criação do banco e do Acordo Contingente de Reserva (CRA, na sigla em inglês) na reunião de Fortaleza, quando o Brasil assume a presidência rotativa do bloco, era um ponto de honra para o governo brasileiro. "A grande vitória era ter o banco. O que adianta ter a presidência de um banco que não existe?", justificou um dos negociadores brasileiros. A posição foi corroborada por um assessor presidencial: o que interessava era sair da cúpula com a instituição criada.
A formação do Banco e do CRA vinha sendo discutida há dois anos. O CRA, apesar de mais vultoso, era ponto pacífico. Suas linhas gerais já haviam até sido anunciadas em 2013, na reunião de Durban. A fórmula do banco de desenvolvimento, no entanto, era mais complexa, até pelas relações de poder entre os cinco países.
Mesmo com a interpretação de que o modelo final serviu a todos, a verdade é que o Brasil brigava pela primeira presidência. Apesar de ainda demorar para que o novo banco entre efetivamente em operação, o primeiro presidente teria o poder de dar a linha inicial das políticas, definir os processos de funcionamento e as linhas de concessão de empréstimos, mesmo que as decisões finais tenham de passar também pelo conselho de administração e pelo conselho de ministros. Enquanto o novo presidente tocará o dia a dia, o presidente do Conselho de Administração, que caberá ao Brasil indicar, participará apenas das grandes decisões, em reuniões que podem acontecer uma vez por mês, ou menos.
Resistência indiana. Em entrevista ao final da Cúpula de Fortaleza, a presidente Dilma Rousseff justificou a decisão: "A Índia propôs o banco e o Brasil, o CRA. Todos nós considerávamos que a primeira presidência deveria ficar com quem fez a proposta", afirmou. Porém, o que a Índia queria mesmo era ficar com a sede em Nova Délhi. Foi consenso, porém, que Xangai, por ser hoje um dos maiores centros econômicos do mundo, era uma melhor opção. No entanto, os indianos não queriam abrir mão de um posto importante no banco.
Antes mesmo da reunião que bateu o martelo sobre a presidência do banco ontem de manhã, um alto funcionário do governo afirmou ao Estado que era necessário ver o que era mais importante para o Brasil, o cargo ou o banco em si. Venceu a tese de que formar a instituição importava mais. Ainda assim, o governo brasileiro garantiu a segunda presidência, no sistema rotativo, daqui a cinco anos. Parte dos negociadores acredita que não foi um mau negócio, já que havia a tese de que o segundo presidente deverá assumir com o banco em pleno funcionamento, já com o poder de financiar empréstimos.
Caberá ao Brasil, também, uma segunda sede regional, a ser construída em data não determinada. A primeira será na África do Sul. Já a Rússia terá a primeira presidência do Conselho de Ministros, com representantes dos cinco países.
O banco começa com um capital de US$ 50 bilhões. "Optamos por uma distribuição absolutamente igualitária de capital porque nenhum de nós quis se mostrar hegemônico", disse a presidente Dilma. "Não é um formato do tipo de política tradicional do tipo de Bretton Woods (FMI e Banco Mundial)."

Uma derrota pintada em tons róseos
Lisandra Paraguassu
João Villaverde
Adriana Fernandes
Um recuo inesperado que terminou em uma vitória. Assim definiram ontem os negociadores brasileiros, tanto da área diplomática quanto da área econômica, o movimento do governo Dilma Rousseff, que cedeu a desejada primeira presidência do banco do Brics para a Índia, ficando, em troca, com a presidência do conselho de administração do novo banco e com a sucessão dos indianos na direção da instituição financeira.
Segundo uma fonte qualificada da equipe econômica, os aportes gradativos que serão feitos pelos cinco países do grupo no Novo Banco de Desenvolvimento tornarão a segunda presidência mais "vistosa" que a primeira. Até lá, o Brasil terá participação direta na formulação da atuação do novo banco, ao presidir o conselho de administração.
A visão rósea do resultado, no entanto, não escondeu que a negociação foi dura, com uma acirrada disputa entre Índia e China pela sede do banco.
Como propositores da instituição, os indianos se achavam no direito de ter a sede, em Nova Délhi. Os chineses, no entanto, não estavam dispostos a abrir mão da sede em Xangai e contavam com o apoio dos brasileiros, que viam a cidade como um centro financeiro e econômico mais forte.
O impasse varou a reunião dos ministros da Fazenda, na segunda-feira à noite. Parte das negociações continuaram madrugada adentro e o acordo só foi fechado pouco antes da plenária com os presidentes, na manhã de ontem.
Na reunião de ministros, a Índia foi a única que não foi representada por seu ministro da Fazenda, mas por um funcionário menos graduado, que dizia não ter poder de decidir. Com isso, conseguiu empurrar a decisão para a manhã de terça-feira e, com a pressão, obter o que queria.

Brics não discutiram ação conjunta no câmbio, mas ideia é boa, diz autoridade
ALONSO SOTO - REUTERS
Os cinco países que formam os Brics não discutiram uma intervenção coordenada nos mercados de câmbio globais, mas "vale a pena pensar no assunto", disse o vice-presidente do Banco Central da Índia, Urjit Patel, à Reuters nesta terça-feira.
Os líderes das cinco maiores economias emergentes fecharam um acordo nesta terça-feira para a criação de um banco de desenvolvimento com 100 bilhões de dólares em capital e a criação de um fundo de reservas de mesmo valor para contrapor o domínio do Ocidente nas finanças globais.
Quando perguntado se os Brics poderiam em algum momento intervir conjuntamente nos mercados de câmbio para reduzir turbulências, Patel disse que "é um ponto que vale a pena se pensar, mas não foi discutido".
Patel afirmou que o novo fundo, denominado Arranjo Contingente de Reservas (CRA, na sigla em inglês), poderá incluir no futuro países que não fazem parte dos Brics. O fundo, desenhado para ajudar os países membros a lidarem com problemas de balanço de pagamentos, vai "dar um pouco mais de conforto" para os países emergentes, acrescentou.
"Acho que é um importante sinal de que os Brics estão dispostos a tomar a dianteira para a mudança no modo que a gente pensa a arquitetura financeira do mundo", disse Patel, durante a reunião de cúpula dos Brics em Fortaleza.
As duas novas instituições são a primeira grande conquista dos países que formam os Brics -- Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul-- desde que se reuniram em 2009 para pressionar por maior influência na ordem financeira global criada por potências ocidentais e centrada no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial.
Patel disse que não espera que o Congresso dos Estados Unidos ratifique rapidamente as reformas que irão aumentar o peso dos países emergentes no FMI.
Os países emergentes discutiram separar as mudanças no sistema de quotas da reforma de governança para facilitar a aprovação das reformas do FMI. Contudo, ele disse que a Índia não apoia essa estratégia e quer a aprovação completa do pacote de reformas.
"A posição da Índia é que nós não somos a favor da desvinculação porque então você perderia força para a mudança fundamental que é necessária nessas instituições", disse ele.
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16jul14

Para que um banco dos Brics?
Fernando Dantas
É extremamente curioso que a abreviação Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), criada por um participante do mercado financeiro, o inglês Jim O’Neill, tenha redundado na formação de um grupo real entre esses países, ao qual foi acrescentado a África do Sul, que transformou o conjunto em Brics (com o ‘s’ de South Africa).
Desde o início das articulações, ficou claro para os observadores que esses grandes países emergentes tinham raízes históricas e interesses geopolíticos distintos demais para que agissem de fato como um bloco no concerto das Nações. Ainda assim, a interação prosseguiu, e talvez a principal liga seja negativa: nenhum deles pertence ao poderoso grupo dos países mais ricos, mas o peso de cada um dos Brics na economia global, e ainda mais do conjunto, faz com que busquem reforçar suas respectivas influências nos assuntos mundiais.
É preciso, entretanto, produzir fatos concretos, para que toda a iniciativa não caia no vazio e se enfraqueça. E parece que o projeto do banco de desenvolvimento dos Brics é o item mais substancial do menu de ações possíveis.
Não é nada trivial, entretanto, criar um banco de desenvolvimento desse tipo que faça sentido econômico. O economista Mansueto Almeida, do Ipea, aponta uma delicada questão inicial. Enquanto a China esbanja uma poupança gigantesca, e pode capitalizar uma instituição desse tipo tranquilamente, o Brasil é, ao contrário, um país de baixa poupança, e que já está pressionando suas contas públicas para financiar o seu próprio banco de desenvolvimento, o BNDES.
Assim, a parte da capitalização do banco que cabe ao Brasil terá de ser feita, como no caso do BNDES, com aumento de dívida. O capital inicial do banco de desenvolvimento dos Brics está previsto em US$ 50 bilhões. Teoricamente, a China poderia entrar com mais dinheiro. Porém, neste caso, ela certamente também iria demandar mais poder.
Outra dúvida levantada por Almeida é referente a como será a governança do novo banco. Ele nota que as atuais instituições financeiras multilaterais, como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bird), têm regras muito rígidas, trabalham com transparência e possuem corpos técnicos altamente capacitados.
“Para fazer um grande empréstimo, como, por exemplo, para um Estado brasileiro, esses bancos enviam missões para fazer levantamentos, produzem relatórios, contratam consultores locais, tem condições duras de governança e garantia e geralmente reservam uma parcela para ser gasta com avaliação do projeto”, diz o economista.
Ele se pergunta se o banco de desenvolvimento dos Brics terá os mesmos padrões rigorosos de governança. Almeida lembra que, institucionalmente, a situação nos países que formarão a nova instituição não é exatamente promissora para a criação de uma instituição financeira desse tipo.
No caso brasileiro, o BNDES é uma instituição altamente respeitável, mas fez uma série de operações polêmicas nos últimos anos. Já a China tem um sistema financeiro conhecido pela falta de transparência e por estar submetido ao arbítrio do governo. A Rússia está longe de ser um exemplo de governança pública e a Índia não tem nada parecido com os bancos de desenvolvimento da China e do Brasil.
Almeida acha provável que, no final das contas, um banco de desenvolvimento dos Brics seja forçado a seguir padrões tão rigorosos quanto os de outras instituições multilaterais. Neste caso, porém, pode se tornar um pouco redundante, especialmente para um país, como o Brasil, que já tem dificuldades fiscais em financiar o seu próprio banco de desenvolvimento.
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A iniciativa de cooperação financeira dos países Brics
Por Maria C. Arraes
Foi assinado ontem o Tratado para o estabelecimento do Arranjo Contingente de Reservas durante a reunião de chefes de Estado dos países Brics, com a dimensão inicial de US$ 100 milhões. Pretende-se que o arranjo tenha um efeito positivo em termos de prevenção de crises, principalmente as de liquidez de curto prazo, fortalecendo assim a rede de segurança financeira mundial ao complementar os arranjos internacionais já existentes. Sua operacionalização se dará por meio de compromisso de troca da moeda do país solicitante por dólares americanos. A transferência financeira efetiva só ocorrerá quando houver solicitação de utilização do mecanismo.
A governança do mecanismo é semelhante a de instituições financeiras internacionais com um conselho de governadores. As decisões do conselho são as estratégicas e tomadas por consenso. As do comitê são as necessárias para gestão do mecanismo e com critério misto de consenso ou poder de voto de cada país. Para aprovar a utilização de recursos, por um país solicitante, o critério é o de maioria simples dos países financiadores.
Uma parcela de 30 % do montante compromissado é considerada livre e sua utilização sujeita somente às regras do Acordo Contingente. Para os restantes 70% será necessário um acordo com o FMI. As regras de operacionalização do acordo assim como as condições de acesso estão em linha com os acordos de swap negociados e vigentes no âmbito da crise financeira internacional recente.
Compromisso dos Brics de atuar como um grupo coeso, fortalecendo sua capacidade de influir no cenário internacional
Existem pontos importantes a serem considerados para que se possa concluir uma primeira avaliação do acordo anunciado, tais como o grau de compromisso político com a iniciativa, a existência ou não de riscos de contágio, a adequação dos montantes e a estrutura de governança.
O arranjo financeiro acordado entre os Brics não está relacionado a processo de integração regional, como foi o caso de iniciativas semelhantes, no âmbito global ou da América Latina. A existência de processo de integração regional reforça o compromisso político com a iniciativa, mas também aumenta o risco de contágio, se houver crise financeira na região.
Os montantes anunciados para o acordo contingente de reservas, US$ 100 bilhões (China com US$ 41 bilhões, Brasil, Índia e Rússia, com US$ 18 bilhões e África do Sul com 5 bilhões), são relevantes para a prevenção de crises de balanço de pagamentos nesses países? O acordo prevê que o acesso da China estaria limitado à metade do montante comprometido, e que Brasil, Índia e Rússia poderiam sacar até o montante total de seu compromisso, enquanto a África do Sul, o dobro. Os valores anunciados representam entre 3 e 4 vezes as respectivas quotas no FMI e no, caso brasileiro, menos de um quarto do déficit em conta corrente dos últimos doze meses.
A governança do Acordo Contingente Brics procura equilibrar as diferenças de tamanho e poder econômico dentro do grupo pois parte delas é por consenso. Se por um lado esse equilíbrio é positivo, por outro, pode levar a um engessamento do mecanismo em termos de sua evolução estratégica. Já a decisão sobre utilização dos recursos, por maioria simples do poder de voto dos países que estão fornecendo recursos, poderá resultar em assimetrias de poder dentro do grupo, principalmente a favor da China.


Quando iniciativas como o arranjo Brics dependem da disponibilidade financeira em momentos de crise, os recursos podem não estar disponíveis se os montantes a serem utilizados não estiverem previamente apartados, em um fundo de reservas.
O Arranjo Contingente de Reservas foi inicialmente anunciado como uma alternativa ao FMI, com condições ou condicionalidades pelo menos diferentes. Porém, há um limite para inovação na área de assistência financeira: o grau de risco a que se expõe os recursos dos contribuintes que estão sendo aplicados nesses empréstimos. Garantias formais ou alterações na política econômica do país financiado - as chamadas condicionalidades - deverão ser exigidas para assegurar a capacidade de amortização da dívida. Caso contrário, na ocorrência de default, os contribuintes dos países financiariam a perda.
O texto do acordo publicado, entretanto, prevê que somente 30% do valor disponível para cada país poderá ser acessado sem acordo com o FMI. E para essa utilização estão previstas condições tais como a inexistência de inadimplemento junto a organismos internacionais. O Arranjo Contingente aprovado em Fortaleza será, portanto, um mecanismo complementar de financiamento conforme consta do Comunicado dos chefes de Estado.
As prevenções de crises de balanço de pagamentos, assim como seu enfrentamento se beneficiam da existência de linhas de financiamento adicionais, como é o caso do Arranjo Contingente de Reservas, pois permitem que o país que esteja sofrendo pressões de liquidez para financiamento de contas externas evite crises maiores ou faça o ajustamento de sua política econômica com menor sacrifício, em termos de crescimento da economia. Tudo leva a crer que a concretização do Arranjo Contingente será um sinal positivo do compromisso dos Brics de aprofundarem suas relações e atuarem como um grupo coeso, fortalecendo sua capacidade de influir no cenário financeiro internacional.
A iniciativa de Chiang Mai reúne as nações do Sudeste Asiático (Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura, Tailândia, Brunei, Burma, Cambodia, Laos e Vietnam) mais China, Japão e Coreia do Sul.
Maria Celina Berardinelli Arraes é ex diretora de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil (2008-2009)

Brics criam banco com "poder igual" entre países
Por Murillo Camarotto e Leandra Peres | De Fortaleza/Valor Ec.

 Delegações acompanham os líderes dos Brics durante cúpula em Fortaleza; o Brasil teve de abrir mão da presidência do banco do grupo para viabilizar a instituição
O Brasil teve de abrir mão da presidência do banco dos Brics para garantir um acordo entre os países e viabilizar a criação da instituição na reunião de cúpula do bloco, encerrada ontem em Fortaleza.
O governo brasileiro concordou em ficar com a presidência do Conselho de Administração do banco, para acomodar os interesses da Índia, que insistiu até o último momento para sediar a instituição. A China, conforme esperado, conseguiu fazer prevalecer sua preferência, e o banco funcionará em Xangai. Como forma de compensar os indianos, o país indicará o primeiro presidente da instituição, que ficará no cargo por cinco anos. O Brasil indicará o segundo.
A presidente Dilma Rousseff disse que a decisão sobre o comando foi uma questão de justiça, já que a ideia de criação do banco foi da Índia. "No banco dos Brics o poder é igual. Ser o primeiro ou segundo presidente não tem importância nenhuma. O importante é quem tem o controle acionário, e não haverá controle acionário de ninguém", completou o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
A divisão igualitária do capital do banco visou evitar a preponderância chinesa nas decisões. Para o Brasil, esse foi um ponto-chave na negociação e, apesar de a China ter iniciado as conversas disposta a ter uma participação maior no capital do banco, os outros sócios insistiram no modelo que foi aprovado.
"A distribuição do capital é igualitária porque nenhum de nós quis se mostrar hegemônico. A distribuição igualitária de cotas previne o problema [da hegemonia da China]", disse a presidente Dilma.
O aporte inicial de US$ 2 bilhões, no caso brasileiro, será feito com recursos do Tesouro Nacional, mas apenas depois que o banco for aprovado por todos os sócios.
A criação do Novo Banco de Desenvolvimento (New Development Bank, ou NDB, em inglês) se deve, em parte, ao atraso nas reformas no Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Os grandes emergentes reivindicam um papel maior nessas instituições, mas o Congresso dos EUA vem barrando uma reforma das quotas.
Para viabilizar o acordo, os presidentes dos países membros do bloco tiveram que mudar as regras acertadas antes da reunião de cúpula Inicialmente, o presidente do banco também seria o presidente do Conselho de Administração. Mas, para acomodar os cinco sócios, os cargos foram desmembrados. A África do Sul terá direito ao primeiro escritório regional do banco, e a Rússia terá a presidência do Conselho de Ministros, que será a instância política de decisão.
A criação do banco foi comemorada pelos líderes dos Brics como um sinal inequívoco da capacidade de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul de apresentarem resultados concretos em sua atuação na cena política internacional.
Apesar da insistência do governo de que haverá igualdade entre os sócios, o poder efetivo dentro do banco poderá ser muito menos equilibrado do que espera a diplomacia brasileira. A ideia é que o capital da instituição seja dividido igualmente por todos os sócios, com cada um capitalizando inicialmente US$ 2 bilhões. Ao final de sete anos, cada país terá que aportar US$ 10 bilhões ao banco.
A instituição, no entanto, administrará fundos de investimentos formados pelos sócios que não seguirão essa mesma proporção de capital. Esses recursos não farão parte do capital do banco e, portanto, não influenciarão o poder de voto de cada país. Mas, como admite um ministro brasileiro, a China é o parceiro que tem mais dinheiro à disposição e já anunciou que colocará recursos nesses fundos, ampliando, portanto, seu poder de influência de fato, se não de direito. O primeiro a ser formado financiará projetos de infraestrutura, embora ainda não haja valor definido do instrumento.
Para que faça seu primeiro empréstimo, o acordo que cria o banco dos Brics, especializado em infraestrutura, terá de ser aprovado pelos cinco países. No caso brasileiro, isso significa ser votado na Câmara dos Deputados e no Senado. Depois disso, os países terão até sete anos para cumprirem o cronograma de capitalização.
A estrutura de controle do banco já havia sido praticamente fechada pelos negociadores antes da cúpula. Além da presidência com mandato de cinco anos, sem direito a recondução, e rotativa entre os cinco sócios, o ministro Mantega explicou que mesmo se houver a entrada de novos parceiros, os Brics terão sempre 55% do capital.
Os presidentes também assinaram o acordo que permite aos países disponibilizar até US$ 100 bilhões de suas reservas internacionais para ajudarem-se mutuamente em casos de crise de balanços de pagamentos. Cada país terá um limite máximo de recursos que poderá pedir aos sócios. No caso brasileiro, o país disponibilizará US$ 18 bilhões e poderá sacar até uma vez e meia esse valor. A ideia, no entanto, é que apenas uma parcela entre 20% e 30% desses valores seja liberada como empréstimo de curto prazo. Para ter acesso ao restante do dinheiro, qualquer um dos países terá que ter um acordo de ajuste de suas contas com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Instituição é mais uma mensagem política que necessidade econômica
Por Vanessa Jurgenfeld | De São Paulo
O professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Carlos Medeiros, estudioso dos padrões de desenvolvimento e da inserção internacional de alguns países, como a China, avalia a criação do banco de desenvolvimento dos Brics, o NDB (New Development Bank), como muito mais uma mensagem política do que uma necessidade neste momento para prover recursos aos países do bloco para investimentos.
Medeiros não acredita que a criação do banco de desenvolvimento e as declarações da China sobre querer ampliar o comércio bilateral em moedas locais possam enfraquecer o poder americano no mundo, assentado em poder militar, moeda e tecnologia. Diz, porém que isso cria uma agenda e um mapa de interesses.
Leia a seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Medeiros ao Valor:
Valor: Como o sr. avalia a ideia de criação de um banco dos Brics?
Carlos Medeiros: Evidentemente que mais um banco de desenvolvimento sempre pode ser algo importante. Mas veja que a ideia de criar um banco de desenvolvimento tinha, em muitos casos, em alguns países, a intenção de ser uma alternativa ao próprio Banco Mundial, que é cheio de condicionalidades, pela percepção de que os países em desenvolvimento têm dificuldades de financiar suas necessidades de infraestrutura. Em tese, o banco contribui para a autonomia financeira dos países, mas ao contrário de outras iniciativas de âmbito regional, todos os países do bloco possuem importantes bancos de desenvolvimento e não necessitam recorrer de forma sistemática ao Banco Mundial. A China não precisaria, do ponto de vista de necessidade de financiamento, de um banco externo para fazer seus investimentos. A Índia também não. O Brasil tem o BNDES. A África do Sul também tem um banco de desenvolvimento. É possível que ele possua maior importância para apoiar investimentos externos entre estes países. Pode ser um reforço a financiamentos em outras áreas que não contam com recursos de bancos de desenvolvimento.
Valor: Como o Sr. analisa o uso de moedas locais no comércio dentro do bloco? Seria uma forma de reduzir a dependência do dólar e enfraquecer a hegemonia americana?
Medeiros: A importância das moedas locais é proporcional ao comércio bilateral que, no caso, é bastante assimétrico e centrado na China com os demais. Não vejo como possa reduzir a dependência do dólar a menos que o yuan fosse uma moeda reserva mundial. Entretanto, criar um fundo de estabilização, tal como o criado entre os países da Asean após a crise de 1997, é positivo. Arranjos e acordos entre esses países são politicamente importantes em si porque criam uma agenda e um mapa de interesses, mas não enfraquecem por isso o poder americano, assentado no seu poder militar, na sua moeda e na sua tecnologia.
Valor: Não está sendo criada uma alternativa ao dólar?
Medeiros: O problema de se buscar uma fonte alternativa de moeda é que normalmente a gente fica associando essa ideia como se ela fosse de fato alternativa ao dólar. Não me parece alternativa ao dólar coisa alguma, mas uma iniciativa para facilitar a troca entre países nas relações bilaterais. Você cria um sistema que você se amarra um pouco a uma posição numa moeda que não é uma moeda internacional em geral. É apenas uma moeda específica de utilização em um fluxo comercial específico. Você não criou o yuan nem como moeda internacional na Ásia muito menos no mundo. Estamos muito longe de pensar um mundo como esse. Agora, claro, você coloca aí a Argentina e o Brasil como grandes parceiros comerciais da China, é claro que algumas compras podem ser casadas e automaticamente debitadas no sistema de relações. São coisas que facilitam, mas não são alternativas a uma moeda internacional, a menos que um dia o yuan se transforme em uma moeda internacional plenamente conversível. Acho que são temas muito explorados pelo seu significado, mas do ponto de vista concreto, no curto prazo, não tem relevância maior.
Valor: Pode ter caráter simbólico, de criar uma institucionalidade que pode vir no futuro a reconfigurar o sistema monetário internacional?
Medeiros: Claro. Mas o que existe no bloco são as relações da China com os demais, porque dos países fora a China as relações [quase] não existem. As relações do Brasil com a África do Sul são pífias. As relações do Brasil com a Índia também. As relações do Brasil com a Rússia são muito pequenas. Índia com África do Sul um pouco mais, mas o que tem é a China. Na verdade, os Brics não são um bloco. Isso é uma construção muito mais política. Isso não é uma área comercial em expansão. É uma percepção sobre países que na última década puderam encontrar algum caminho para crescer. São países de grande mercado interno e que têm importância política e econômica nas suas respectivas regiões e cujas relações comerciais começaram a crescer, mas assimetricamente, sobretudo da China com os demais.
Valor: Essas iniciativas podem muito mais ser fortalecimento geopolítico da China do que do bloco?
Medeiros: Sim. E os EUA podem ver isso como uma iniciativa da China. E pode existir uma reação.
Valor: É importante um Arranjo Contingente de Reservas para socorro em momentos de crise?
Medeiros: É interessante. Mas entre os países dos Brics talvez o que tenha uma posição menos sólida é a África do Sul. No curto prazo, é muito mais uma mensagem política. Passa a ideia de que para nós aqui [no Brics] o FMI não tem mais a grande influência que tinha, do ponto de vista de recorrer a ele, e menos ainda terá no futuro porque estamos construindo um reforço. Talvez, tanto uma iniciativa [criação do banco] como a outra [arranjo] possua uma importância mais política do que de resolver problemas associados ao bloco. Hoje os Brics contam com reservas externas elevadas e nenhum país está sob a ameaça de crise de balanço de pagamentos.

Empresas poderão obter crédito em moeda local
De Fortaleza
Após se reunir com seus pares no grupo dos Brics, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, anunciou que as instituições de fomento de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul vão disponibilizar linhas de crédito em moeda local para investimentos intra-bloco.
Na prática, os bancos de desenvolvimento concordam em financiar mutuamente as empresas de seus países. Cada um deles fixará limites máximos de crédito que poderão ser liberados para projetos tocados por empresas dos Brics. É como se a empresa brasileira, em vez de contar com crédito do BNDES para uma operação na Rússia, pudesse buscar financiamento direto em rublos no banco de desenvolvimento daquele país.
Na avaliação de Coutinho, a ferramenta poderá incentivar a internacionalização das empresas do Brics que investem dentro do bloco. "Para investimento direto isso é importante porque uma empresa que está investindo ali terá suas receitas em moeda local", disse. "A abertura de linha de crédito em moeda local facilita a internacionalização cruzada", ele explicou."
Coutinho ressaltou, no entanto, que as linhas serão oferecidas dentro dos limites das instituições e que, no caso do BNDES, o funding para as operações poderá vir de fora e não vai concorrer com as fontes locais de recursos, como o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e o próprio Tesouro.
"O BNDES pode fazer captações externas. Para esse tipo de operação de fora do país temos a opção de captar recursos no mercado internacional, já fizemos isso de forma bem sucedida", disse ele.
Os presidentes das agências de crédito à exportação também assinaram um acordo para facilitar a concessão de garantias no comércio entre os países. A intenção é que no futuro, uma exportação feita por empresas de dois sócios possa ser dividida entre as agências de países diferentes.

Bloco evita retórica de contraposição aos países ricos
De Fortaleza
Apesar dos apelos do presidente russo Vladimir Putin, a retórica aberta de contraposição aos países ricos e, mais explicitamente, aos Estados Unidos foi claramente evitada no documento final da cúpula dos Brics, em Fortaleza.
Em entrevista à agência estatal russa Itar-Tass, Putin instou os Brics a "pensar em um sistema de medidas que evitem o assédio a países que não concordem com algumas decisões de política externa dos EUA e de seus aliados". Mas os discursos feitos pelos presidentes de Brasil, Índia, China e África do Sul ontem durante a reunião não tiveram esse tom. Até mesmo a fala de Putin foi amena nesse sentido.
Se houve avanços na pauta econômica com a criação do banco e o acordo para compartilhamento de reservas internacionais, a declaração final dos líderes dos cinco países não mudou as posições políticas já conhecidas dos sócios sobre temas polêmicos como a crise na Ucrânia e a guerra civil na Síria ou a insatisfação já expressa com a falta de reformas no Fundo Monetário Internacional (FMI).
"O banco dos Brics e o arranjo contingente de reservas não são contra ninguém. São a nosso favor. O banco vem trazer para a constatação de que o mundo é multilateral", disse a presidente Dilma Rousseff quando perguntada sobre a demora no aumento do poder de voto dos países emergentes no FMI e se o banco criado pelos cinco países é uma resposta a essa situação.
"O banco Brics será uma das maiores agências financeiras do mundo e será na base para grandes mudanças macroeconômicas", disse o presidente Russo, Vladimir Putin. O presidente da África do Sul, citou a nova instituição multilateral dos países como "a criação de uma nova iniciativa financeira pela primeira vez desde Bretton Woods".
O esforço para acomodar todas as demandas dos parceiros, exigiu uma declaração oficial com 72 parágrafos onde muitas das referências "tomam nota", "reiteram" ou "reconhecem" temas da pauta atual.
Os Brics, por exemplo, mantiveram a postura de não condenar as ações da Rússia na anexação da Crimeia. A respeito da crise na Ucrânia, os líderes falaram em "profunda preocupação", pediram diálogo e moderação de todos os envolvidos "com vistas a buscar encontrar uma solução pacífica".
Sobre o conflito na Síria, Putin citou a atuação de Rússia e China no Conselho de Segurança da ONU como uma mostra de como a ação conjunta dos Brics "evitou intervenção estrangeira" no país.
"Reiteramos nossa visão de que não há solução militar para o conflito e destacamos a necessidade de evitar a sua maior militarização", disse a declaração oficial.
Num recado velado aos EUA e União Europeia, os Brics, no entanto, condenaram intervenções militares unilaterais e sanções econômicas em violação ao direito internação. Esse último ponto parece conter também uma crítica implícita às sanções aplicadas à Rússia após a anexação da Crimeia.
Os Brics disseram estar "desapontados e seriamente preocupados" com o atraso nas reformas do FMI. "Precisamos trabalhar para melhoria da governança econômica e aumentar a voz dos países em desenvolvimento", afirmou o presidente chinês, Xi Jinping. Dilma mencionou o peso econômico dos Brics na economia mundial e afirmou que essa participação não corresponde à representatividade do grupo no FMI e Banco Mundial. "Temos 21% [do PIB mundial], mas a participação no FMI é de 11%", criticou a presidente.
Apesar de a declaração oficial indicar que os países do Brics vão ratificar os acordos fechados para retomada da abertura comercial na Organização Mundial do Comércio (OMC), o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, insistiu que é preciso incorporar a esses acordos a necessidade de proteger a agricultura familiar de subsistência. No início da semana, o país havia ameaçado vetar a continuação das negociações comerciais da OMC. "Deve-se abrir um regime de comércio aberto para o desenvolvimento sustentável. Isso deve comportar aspirações dos países em desenvolvimento e necessidades especiais, como a segurança alimentar", afirmou Modi.
Assuntos como a mudança no Conselho de Segurança da ONU, onde o Brasil busca um assento definitivo, foram mencionados pelos líderes, mas o país não obteve apoio explícito da Rússia ou China, que estão entre os países com poder de veto na organização.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Maravilhas do cambio depreciado: neofitos e ingenuos sempre esquecem o outro lado...

Economistas ingênuos -- como o Sr. Bresser Pereira, por exemplo -- e industriais dotados de um olho só -- como os da Fiesp, por exemplo -- sempre dizem que o câmbio não é favorável. Bresser Pereira sempre bate na tecla de que um câmbio favorável andaria aí pelas alturas de 3,5 ou pelo menos pouco abaixo de 3. Para os industriais, o câmbio, qualquer que seja seu valor, está sempre defasado em 25%.
Pois bem, se fôssemos nos guiar pelas receitas desses gênios econômicos, a situação das empresas, já por si difícil em vista do "custo Brasil" e um inferno regulatório constante, ficaria ainda mais difícil, como se pode constatar pela matéria e pelo editorial abaixo.
Paulo Roberto de Almeida

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Dólar caro pode corroer 44% do lucro de empresas

Cálculo da consultoria Economática foi feito com base no resultado de 104 empresas com ações negociadas em Bolsa no segundo trimestre de 2013

21 de agosto de 2013 | 2h 03
Mauro Zanatta - O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - A alta do dólar provocou em 104 empresas com ações negociadas em Bolsa um aumento de custos equivalente a 44% do lucro efetivo obtido no segundo trimestre deste ano. O retrato da despesa financeira, com a corrosão causada pelo câmbio, é parte de levantamento feito pela consultoria Economática a pedido do 'Estado'. Entre 30 de junho e 19 de agosto - período em que o cálculo foi feito com base nos balanços divulgados -, o câmbio valorizou 8,23%.
Embora tenha havido um aumento potencial de R$ 8,17 bilhões na parcela da dívida em moeda estrangeira dessa listagem, a maioria das empresas consultadas afirma ter contratado proteção em mercados futuros (hedge) para neutralizar essa variação cambial.
A Oi, por exemplo, afirma ter "99% da dívida bruta" com proteção cambial. A Fibria informa ter "93% da dívida em dólar", mas receita na moeda americana e 80% dos custos em reais. A Suzano alega ter 55,1% da dívida em dólar, mas um "hedge natural" porque 50% das receitas são exportações. A Eletrobrás afirma ter dívida de R$ 10 bilhões em dólar, mas R$ 12,4 bilhões em "recebíveis indexados ao dólar" por créditos concedidos à Itaipu. A JBS disse que faz proteção "acima de 80%" e que "se prejudica a dívida, favorece as exportações e traz mais reais para o balanço". Consultada, a BRF informou não dispor de um porta-voz para o tema.
Quando incluída a Petrobrás na conta, essa variação potencial da dívida roubaria 75% do chamado Ebit, índice que mede o lucro antes de juros e tributos, como Imposto de Renda e Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL). Somada a parcela da Petrobrás, a elevação desse endividamento chegaria a R$ 22,54 bilhões. A estatal informa que "cerca de 70% do total das dívidas líquidas expostas à variação cambial, protegendo cerca de 20% das exportações, por um período de sete anos".
A amostragem aponta que a dívida total em moeda estrangeira de 103 empresas da lista teria passado de R$ 99,3 bilhões, no fim de junho, para R$ 107,5 bilhões, em 19 de agosto. Com a Petrobrás, a conta aumenta. Sozinha, a estatal somaria R$ 188,8 bilhões em agosto. O levantamento inclui só as empresas que informaram ter dívidas em moeda estrangeira de curto e longo prazos.
"A despesa financeira por causa da alta do dólar poderá corroer 43% do lucro Ebit de todas essas empresas. Na Petrobrás, poderia até levar a um prejuízo. Com ela na conta, 75% do lucro poderá ser corroído pela despesa financeira devido à variação cambial", avalia o gerente de Relações Institucionais da Economática, Einar Rivero. "Isso se as empresas não tiverem feito hedge, a dívida da moeda não tiver sido modificada, com pagamentos ou novas dívidas, ou se toda dívida for mesmo em dólares, já que pode haver uma cesta de moedas."
Para fazer a conta, a consultoria converteu a dívida em moeda estrangeira pelo dólar de 30 de junho e reconverteu pelo dólar de 19 de agosto.
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O dólar e a desconfiança

21 de agosto de 2013
Editorial O Estado de S.Paulo
Desejada por muitos industriais como alavanca da exportação e barreira protetora do mercado interno, a desvalorização do real é acima de tudo, neste momento, um fator de incerteza e de agitação financeira. Quando o câmbio se acomodar, ninguém sabe onde, será possível um balanço mais claro dos ganhos e perdas. O País poderá estar um pouco mais competitivo, pelo menos por algum tempo, mas as pressões inflacionárias terão aumentado. Problemas de custos serão mais graves tanto para produtores como para consumidores. Mas a instabilidade cambial ainda poderá durar meses. A insegurança continuará, com intensidade variável, mas sempre com estragos, enquanto se esperam as prometidas alterações na política americana de afrouxamento monetário.
Alguma nova indicação sobre a mudança poderá surgir hoje, com a divulgação da ata da última reunião do comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). A emissão de dólares deve ser reduzida quando os dirigentes do Fed julgarem bastante firme a recuperação econômica dos Estados Unidos. Ninguém pode dizer com certeza quando isso ocorrerá.
Enquanto a agitação continua, as autoridades brasileiras tentam, em primeiro lugar, conter a excessiva instabilidade do câmbio e limitar seus efeitos sobre a inflação, ainda muito longe da meta de 4,5%. O governo tenta evitar um novo estouro do limite de tolerância, de 6,5%.
Da perspectiva do Palácio do Planalto, é muito importante conter, em primeiro lugar como estratégia eleitoral, a crise de confiança em relação à política econômica e às perspectivas da economia. A alta de preços é um dos principais fatores de desconfiança dos investidores e o Executivo sabe disso, embora continue pouco disposto a adotar uma política séria de estabilização. Isso envolveria, entre outros pontos, um controle efetivo dos gastos públicos.
Com reservas na vizinhança de US$ 370 bilhões, o Banco Central (BC) tem bom estoque de munição para intervir no mercado, mas, como sempre, com resultado muito incerto. No fim das negociações de ontem, o dólar comercial era vendido a R$ 2,394. Depois de dois leilões promovidos pelo BC com oferta de US$ 4 bilhões, a cotação havia caído para R$ 2,396, voltado a R$ 2,40 e novamente baixado. No fechamento do dia anterior, a moeda americana havia sido vendida a R$ 2,414. Mesmo com algum recuo, o dólar ainda acumulava ontem uma alta considerável, cerca de 7% em apenas 30 dias.
Apesar da depreciação do real neste ano e mesmo nos últimos 12 meses, as contas externas continuaram em deterioração. De janeiro até a terceira semana de agosto, o País acumulou um déficit de US$ 4,731 bilhões no comércio de mercadorias. As exportações renderam US$ 146,693 bilhões e as importações custaram US$ 151,424 bilhões. Pela média dos dias úteis, o valor exportado foi 1,6% menor que o de igual período do ano anterior. O valor importado, 10,4% maior.
O descompasso é indisfarçável. Parte das importações de combustíveis do ano passado só foi contabilizada em 2013 e isso afetou o resultado geral. Mas, se esse valor tivesse entrado nas contas de 2012, o superávit do ano teria sido muito menor. De qualquer forma, a piora do comércio exterior do País estaria bem caracterizada.
Para este ano, especialistas consultados no fim da semana passada pelo BC, em sua pesquisa Focus, projetam saldo comercial de US$ 4,35 bilhões, 77,6% menor que o de 2012. Essa é a mediana das estimativas coletadas pelos pesquisadores. O mesmo levantamento indica a expectativa de um déficit de US$ 77 bilhões na conta corrente do balanço de pagamentos.
A firme deterioração dessas contas é um dos fatores de insegurança dos investidores financeiros e dos empresários industriais. Com a esperada mudança no mercado financeiro - dólares mais escassos e mais caros -, especialistas mostram-se preocupados com o financiamento das contas externas brasileiras. Somem-se a isso a desconfiança em relação às contas públicas e o temor de mais inflação e o quadro torna-se facilmente compreensível. A mudança na política do Fed é só um componente a mais de um cenário ruim.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Cambio: a obsessao eterna dos brasileiros, o inferno atual dos companheiros... - Celso Ming, Roberto Azevedo

Até onde vai o dólar?

CELSO MING - O Estado de S.Paulo, 6/08/2013

O governo Dilma mantém um discurso e uma política ambíguos em relação ao câmbio. O resultado é mais insegurança que, por sua vez, tende a elevar mais as cotações do dólar.
De um lado, o governo vem defendendo uma desvalorização do real (alta do dólar) relativamente forte para blindar a indústria contra a competição, em muitos casos, predatória por parte do produto importado. De outro, teme os efeitos inflacionários e seu impacto sobre o custo das empresas que hoje estão muito dependentes de suprimento externo pago em dólares. O resultado é uma política destituída de escolhas claras.
Oficialmente, o Banco Central só atua para neutralizar a excessiva volatilidade das cotações, embora nem sempre seja coerente com esse princípio. Nas últimas semanas, quanto mais promove leilões de venda de dólares para entrega futura, mais aguça a demanda. E as cotações sobem (veja o gráfico).
É difícil que um banco central de país emergente consiga reverter uma tendência firme do câmbio. Durante os últimos oito anos (até 2012), por mais que amontoasse reservas, o Banco Central do Brasil não conseguiu reverter a tendência à entrada maciça de dólares e, portanto, a certa valorização do real. Depois disso, o jogo virou e isso, em parte, tem a ver com o que ocorre no mercado global e, com as distorções internas.
A conjuntura é de revoada de dólares para os Estados Unidos. Por duas razões: primeira, porque o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) começa a manobrar para reverter sua política de maciça emissão de moeda. O resultado será a valorização do dólar e a fuga de capitais de áreas de maior risco, sobretudo dos emergentes. A segunda razão é a revolução do gás de xisto, ofertado a preços tão baixos que deverá atrair mais investimentos para o país.
Afora isso, há o esgotamento do boom das commodities e das matérias-primas, seja porque a China entrou num ciclo de desaceleração do crescimento, seja porque a própria valorização do dólar tende a baixar as cotações. Como o Brasil é grande exportador de commodities, será inevitável o impacto sobre as receitas em moeda estrangeira. Essa tendência ao escape de dólares para fora do Brasil é acentuada pelo manejo inadequado da economia para enfrentar as mudanças.
A política consumista da presidente Dilma produziu a disparada do rombo externo (déficit em Conta Corrente) que foi de US$ 54 bilhões em 2012 e se projeta para perto dos US$ 80 bilhões em 2013. E rebaixou artificialmente os preços dos combustíveis, o que estimulou o consumo, corroeu o caixa da Petrobrás, tirou-lhe capacidade de investimento, ajudou a deteriorar a conta petróleo e a alargar o déficit externo.
Como a prioridade do governo Dilma é garantir a reeleição, não há sinal de que os ajustes necessários serão feitos neste e no próximo ano. Mas o governo está cada vez mais sensível ao impacto da inflação, porque teme perder votos. Sem disposição para conter as despesas públicas e dados os limites da política monetária (alta dos juros), cabe perguntar até que ponto o governo estaria disposto a queimar reservas (veja o Confira) para evitar a excessiva desvalorização do real.
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Câmbio não será resolvido na OMC, afirma Azevêdo

MARIANA DURÃO
Agencia Estado06 de agosto de 2013
RIO - A questão cambial é um problema sério, mas não será resolvido no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) ou de outras organizações internacionais. A declaração foi feita nesta terça-feira, no Rio, pelo futuro diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, que assume o cargo em setembro, pelos próximos quatro anos.
"Não vamos encontrar uma solução sistêmica para o câmbio num organismo internacional. Isso terá que ser feito, se o for, no âmbito de chefes de Estado." O embaixador descartou que a OMC tenha instrumentos capazes de fazer ajustes cambiais e considerou difícil uma solução de curto prazo.
Azevêdo avaliou ainda que a reunião da OMC em Bali, marcada para dezembro, "não vai resolver todos os problemas", mas vai dar uma injeção de ânimo ao sistema multilateral e preparar terreno para a retomada das negociações da Rodada de Doha, estagnadas desde 2008. "O avanço nas negociações é possível, mas levará um tempinho. Bali vai ser importantíssimo para viabilizar a retomada dessas conversas."
Para Azevêdo, avançar nas discussões até Bali será um desafio enorme, mas não impossível. Ele citou boas perspectivas para propostas em pontos como facilitação do comércio, segurança alimentar e administração de cotas tarifárias. Ele rebateu críticas de que a OMC perdeu relevância em âmbito internacional e destacou o papel da entidade na solução de controvérsias. "A OMC vai continuar decidindo por consenso. No momento em que isso acabar, perde a relevância."
O embaixador disse ainda não ver problema no número de pontos envolvidos na Rodada de Doha. "O impasse que há é no pilar das negociações." Um dos desafios impostos, segundo ele, veio do aumento do vulto dos emergentes na economia global após a crise de 2008, aumentando as disputas por acesso a mercados e a visão dos desenvolvidos sobre esses países. "Isso muda a dinâmica das negociações em Genebra. Essa é uma divergência a meu ver ainda muito difícil de ser superada. Se queremos continuar as negociações da rodada, teremos que ser criativos. Vai tomar tempo e confiança."
Ele também reconheceu o aumento do protecionismo pós-2008, embora o classifique de moderado. Segundo a OMC, 80% das medidas restritivas tomadas no pós-crise continuam em vigor. Azevêdo participou de evento da Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro (Amcham) e do Sistema Firjan.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Profeta do (muito) longo prazo (espertinho)...

Este profeta não quer que lhe cobrem a predição em vida. Espertinho? Não, apenas enganador...
Mas fica registrado aqui, para que a cobrança se faça um dia (atenção quem  retomar este blog e o prolongar até o final do século: o registro está feito; cobrem, mesmo post-mortem).
A outra "constatação" que ele fez, a da disfuncionalidade absoluta do sistema tributário brasileiro, não é preciso ser nenhum gênio ou profeta para fazer. Quero ver propor saída do inferno:

Dólar deixará de ser moeda de troca, prevê Fernando Pimentel
Agência Estado, 3/10/2011

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, disse na última sexta-feira que o dólar deixará de ser a moeda padrão de troca internacional, mas esse processo será lento. "Não vamos terminar o século com o dólar sendo moeda padrão de troca internacional", afirmou. "Falo no final do século porque tenho mais chance de a minha bola de cristal não errar", brincou.

Para Pimentel, esta não é uma questão trivial porque todas as reservas do mundo estão lastreadas principalmente em dólar. "Mas acho que isso vai mudar porque ninguém pode ter reservas em uma moeda cujo emissor a usa para fazer ajustes internos", disse, acrescentando que a China deverá ser um dos primeiros países a buscar uma mudança na composição de ativos de suas reservas.

Segundo o ministro, outra mudança em curso na economia internacional é a dos principais mercados mundiais. De acordo com ele, o dinamismo agora está no hemisfério sul e isso é um padrão que veio para ficar. "Por enquanto, é um movimento geoeconômico, mas logo passará a ser geopolítico, com os países do G-8 e do G-20 perdendo importância", argumentou. "Fica claro que está surgindo novo modelo de competitividade", avaliou.

Na avaliação de Pimentel, já se começa a desenhar um modelo em que surgirá um novo país líder na economia mundial. "E o Brasil se encaixa nas características de um país líder", afirmou. "Tem um território amplo, um contingente populacional agregado ao mercado de trabalho e ao consumo, tem investimentos em capacidade tecnológica - até 2014 o governo vai conceder 200 mil bolsas de estudo nessa área - e é uma democracia em que as instituições funcionam perfeitamente."

Ainda na sexta-feira passada, Pimentel reconheceu que o sistema tributário brasileiro é "absolutamente disfuncional". "Todo mundo sabe disso, não é tão difícil fazer esse diagnóstico", disse, ao participar do 3º Exame Fórum, com o tema "A Construção de um Brasil Competitivo", na capital paulista.

De acordo com o ministro, a questão é que, durante muito tempo, o sistema tributário vem garantindo o aumento de receita do governo federal e dos estados. "Ele foi construído, aos poucos, com funcionalidades setoriais e bate recordes de arrecadação todo mês", afirmou, ao citar como exemplo a incidência de ICMS sobre a energia elétrica, com alíquota de 25%. "Não pensem que a nossa energia elétrica é cara por uma perversidade embutida. É porque os Estados se financiam cobrando ICMS", afirmou.

Pimentel defendeu que havia uma funcionalidade setorial no sistema tributário brasileiro que, hoje, não existe mais. "Agora ficou um monstro disfuncional", admitiu. O ministro disse, porém, que nem sempre as tentativas do governo de fazer mudanças no sistema são bem-sucedidas e fáceis de conduzir.

domingo, 25 de setembro de 2011

O Fim do Mundo? Dolar cai nas reservas internacionais...

Seria o fim do mundo, as we know it?
Talvez. 
Ou pelo menos o fim da supremacia do dólar nas transações financeiras internacionais.
Todo mundo -- pelo menos os ingênuos -- reclama da supremacia inaceitável de uma "moeda nacional", da hegemonia intolerável do dólar nos assuntos financeiros internacionais, do "privilégio exorbitante" que tinha essa moeda para obrigar a todos a aceitá-la, mesmo estando submetida ao arbítrio financeiro e monetário, às "manipulações cambiais" da hiperpotência, que isso tinha de acabar, etc e tal.
Pois bem, acho que já chegamos nessa fase, e o mundo diversifica seus ativos e reservas para menos dólares e mais euros, ienes, libras, yuans, etc...
Será isso bom?
Talvez.
Eu tenho a impressão de que ainda vamos sentir saudades dos tempos em que o dólar reinava absoluto.
Anotem, recordem, escrevam-me, dentro de alguns poucos anos...
Paulo Roberto de Almeida 



Participação do dólar nas reservas dos países em desenvolvimento caiu de 43% para 23% nos últimos 10 anos

Estudo é divulgado pelo WOC – World Organization of Creditors

Falando em junho de 2011 no Fórum Econômico Internacional em São Petersburgo, o Presidente Dmitri Medvedev sublinhou que “o uso mais ativo do rublo, do iuan e de outras moedas emergentes nos mercados globais tornará, evidentemente, o sistema monetário internacional mais flexível e confortável para o trabalho dos investidores”.
Mas, para que a comunidade global use mais ativamente as moedas dos países em desenvolvimento, é necessário um número de pré-condições. Em particular, os participantes do mercado global devem estar seguros quanto à estabilidade da situação econômica de um determinado país, quanto à estabilidade do valor de sua moeda nacional e se o país está em dia com seus débitos internacionais. E, por sua vez, a sua moeda depende do nível das reservas internacionais do país. A WOC – World Organization of Creditors estudou os acúmulos de reservas dos países em desenvolvimento para definir se o rublo, o iuan e outras moedas de países com economias em desenvolvimento podem ocupar um lugar competitivo ao lado do dólar, do euro e do franco suíço. Os resultados da pesquisa mostram que, em volume de reservas e nos índices relativos, os maiores países em desenvolvimento estão agora numa situação mais vantajosa em comparação com os países desenvolvidos. Isso pode acarretar o crescimento gradual de importância das moedas nacionais da China, da Rússia e de outros países em desenvolvimento na realização de acordos internacionais e como moedas de reserva.
Apesar da renúncia do sistema monetário estabelecido em Bretton Woods e da diminuição do papel do dólar americano como “dinheiro mundial” (que ele compartilhava com o ouro), o dólar ainda permanece a principal moeda de reserva e pagamento no mundo.
Segundo o sistema monetário vigente no mundo de hoje, que foi chamado de jamaicano, nenhuma moeda nacional tem o status de moeda de reserva. Os Direitos de Saque Especiais (DSE) foram fixados como o principal meio internacional de reserva e pagamento. Trata-se de uma moeda artificial, criada pelo Fundo Monetário Internacional em 1969 e consistindo de uma cesta de moedas dos principais países do mundo.
Ainda assim, o dólar americano ainda supera consideravelmente todas as outras moedas nos volumes de seu uso no sistema global como meio de reserva e pagamentos.
Isso é justo? Quais são as atuais tendências das reservas monetárias no mundo?
Moedas de reserva
As reservas internacionais em valor-ouro de cada país são ativos externos que estão sob o controle dos organismos que regulam a política monetária e de crédito do país. Podem ser usadas para apoiar o valor da moeda nacional, para financiar o déficit da balança de pagamentos e outros objetivos de natureza semelhante.
Durante o período de 1995 até 2010 os volumes das reservas mundiais cresceram 6,7 vezes, para 9,257 bilhões de dólares. Para comparação: o Produto Interno Bruto mundial segundo os preços correntes do mesmo período, pelos dados do FMI, cresceu 2,1 vezes. Durante os últimos 15 anos os países desenvolvidos aumentaram seus capitais 3,3 vezes, e o países em desenvolvimento, 13,5 vezes.
Em 1995 as reservas monetárias dos países em desenvolvimento equivaliam a menos da metade (49%) do índice correspondente dos países desenvolvidos. Em 2005, as reservas agregadas dos países em desenvolvimento pela primeira vez ultrapassaram as reservas dos desenvolvidos, e em 2010 elas já eram duas vezes maiores.
Participação monetária
A participação monetária, não definida pelo conteúdo das moedas, cresceu suficientemente – de 26% para 45%. E esse índice é um tanto baixo para os países desenvolvidos: em 2010 ele representou apenas 13%. Já nos países em desenvolvimento a participação em reservas monetárias com estrutura oculta é ao contrário muito elevada – cerca de 61% de suas reservas agregadas (em 1995 – 42%).
É difícil afirmar, mas é possível supor que os países em desenvolvimento escondem a informação devido ao fato de que suas reservas contêm os tradicionais dólar americano, euro, iene japonês, DSE ou franco suíço, mais outras moedas, menos tradicionais.
A participação do dólar americano em reservas monetárias internacionais em 1995 representava 44%, em 2000 ela alcançava o índice recorde de 56% nas reservas monetárias globais. Mas desde então a participação do dólar vem caindo consideravelmente, e em 2010 ela representava apenas 34%. E sua participação nas reservas dos países desenvolvidos era em média os mesmos 56%, mas nas reservas dos países em desenvolvimento chegava a apenas 23%.
A participação do euro nas reservas monetárias agregadas dos países em questão caiu nos últimos 15 anos de 20% para 15%. Em 1995 as reservas nessa moeda foram, por questão de conveniência, consideradas no nível da soma das reservas, indicadas em marcos alemães, francos franceses e florins holandeses. O FMI possui dados sobre o euro a partir de 1999. O número dos países da zona do euro cresceu suficientemente, e, naturalmente, suas reservas em euro agora não são incluídas nas estatísticas do FMI. Mais provavelmente, esse é o fato que explicaria a diminuição na participação do euro nas reservas dos países desenvolvidos. Além do mais, sua participação nas reservas dos países em desenvolvimento permanece bastante estável – entre 9 e 13%.
A participação do iene japonês nas reservas internacionais diminuiu de 5% em 1995 para 2% em 2010.
E as participações da libra britânica e do franco suíço permanecem estavelmente baixas.
Direitos Especiais de Saque (DES) e outras reservas
Os DES são um ativo de reserva internacional, criado pelo FMI em 1969 a fim de sustentar a estabilidade do sistema Bretton Woods então existente para converter as moedas segundo uma taxa fixa. Hoje o DES é uma cesta de quatro moedas – o dólar americano, o euro, o iene japonês e o franco suíço. O peso de cada uma dessas moedas na cesta é revisto a cada cinco anos a fim de que os DES reflitam melhor o estado da exportação mundial de bens e serviços e as reservas monetárias internacionais.
Segundo os resultados de todos os investimentos de DES, o volume emitido dessa “moeda” no mundo chega a 204 bilhões de DES, que equivalem a 324,3 bilhões de dólares. Ele representa apenas 3,5% do volume total de reservas monetárias no mundo. As posições dos países do FMI em volumes de reservas também são relativamente baixas.
Líderes de acumulação
Os três principais países em volumes de reservas hoje são a China, o Japão e a Rússia. A República Popular da China é um líder de acumulação de reservas em valor-ouro, das quais excedeu em março de 2011 o volume de 3 trilhões de dólares americanos. Os dados para o início de 2011 indicavam que o Japão estava atrás da China no índice quase três vezes, e a Rússia, seis vezes. O grupo de países da zona do euro também possui um total impressionante de reservas – 790 bilhões de dólares no início do ano. Os Estados Unidos ocupavam apenas o 15.º lugar, com a soma de reservas em valor-ouro de 133 bilhões de dólares, e o microestado europeu de Malta, com reservas de meio bilhão de dólares, é o último na lista dos 72 países do FMI.
Segundo o índice de suficiência de reservas em proporção ao volume mensal médio de importações, a China está de novo em primeiro lugar: suas reservas são teoricamente suficientes para dois anos de importações. A Rússia e o Japão estão em segundo e terceiro lugares (18 e 17 meses de “reservas para importações”, respectivamente). A Alemanha e a Grã-Bretanha, por exemplo, têm pequenas reservas: elas seriam suficientes para pagar apenas dois meses de importações (o mínimo suficiente é o volume dos ativos de reserva que garantam o custo da importação de bens e serviços durante três meses). E nos Estados Unidos esse índice só chega a um mês.
Conclusões principais
1) Entre os países em desenvolvimento, a participação nas reservas, cujo conteúdo não é revelado, está em constante crescimento. No final de 2010 esse índice era de 61%. É provável que os países em desenvolvimento ocultem a informação devido ao fato de que suas reservas não contêm os tradicionais dólares americanos, euros, ienes japoneses, DSE ou francos suíços, mas outras moedas, menos tradicionais.
2) A participação do dólar americano como moeda de reserva decresce constantemente (só podemos analisar os dados a partir do portfólio das reservas reveladas pelo FMI). Uma queda especialmente acentuada é observada nas reservas dos países em desenvolvimento, e é nesses países que o crescimento mais significativo das reservas ocorre. A participação do euro nas reservas dos países permanece bastante estável.
3) Os Direitos de Saque Especiais no mundo não receberam grande atenção. O volume dos DSE emitidos só chega a 3,5% das reservas totais.
4) As moedas de países como China, Rússia e Índia não estão representadas nos dados do FMI.
Desconhece-se, mas é possível, que parte das reservas monetárias, cujo conteúdo não é definido, sejam parte dessas moedas também. De qualquer modo, esses países ocupam o primeiro, o terceiro e o quarto lugares nos volumes de suas próprias reservas. Suas posições entre os países com maiores reservas são muito acentuadas e testemunham a sua capacidade de apoiar o valor de sua própria moeda em casos de choques econômico-financeiros, déficit da balança de pagamentos, etc., em contraste com os países mais desenvolvidos, cujas reservas são muito pequenas.
Dados sobre as reserves confirmam que os maiores países em desenvolvimento se encontram agora numa posição mais vantajosa em relação aos países desenvolvidos. Em nossa opinião, o que vai ocorrer é que as moedas nacionais da China, da Rússia e de outros países em desenvolvimento virão a ocupar gradualmente espaços mais importantes ao lado do dólar e do euro.
Para ver os quadros e tabelas desta pesquisa, acesse
e entre no link:
"Share of dollar in reserves of developed countries reduced from 43 to 23 percent for the last 10 years"
Para os dados de informação analítica do WOC, pode ser consultado o Serviço de Imprensa da Organização:
press.secretary@woc-org.com
Tel.: +7 (495) 225-25-39