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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 25 de setembro de 2011

O Fim do Mundo? Dolar cai nas reservas internacionais...

Seria o fim do mundo, as we know it?
Talvez. 
Ou pelo menos o fim da supremacia do dólar nas transações financeiras internacionais.
Todo mundo -- pelo menos os ingênuos -- reclama da supremacia inaceitável de uma "moeda nacional", da hegemonia intolerável do dólar nos assuntos financeiros internacionais, do "privilégio exorbitante" que tinha essa moeda para obrigar a todos a aceitá-la, mesmo estando submetida ao arbítrio financeiro e monetário, às "manipulações cambiais" da hiperpotência, que isso tinha de acabar, etc e tal.
Pois bem, acho que já chegamos nessa fase, e o mundo diversifica seus ativos e reservas para menos dólares e mais euros, ienes, libras, yuans, etc...
Será isso bom?
Talvez.
Eu tenho a impressão de que ainda vamos sentir saudades dos tempos em que o dólar reinava absoluto.
Anotem, recordem, escrevam-me, dentro de alguns poucos anos...
Paulo Roberto de Almeida 



Participação do dólar nas reservas dos países em desenvolvimento caiu de 43% para 23% nos últimos 10 anos

Estudo é divulgado pelo WOC – World Organization of Creditors

Falando em junho de 2011 no Fórum Econômico Internacional em São Petersburgo, o Presidente Dmitri Medvedev sublinhou que “o uso mais ativo do rublo, do iuan e de outras moedas emergentes nos mercados globais tornará, evidentemente, o sistema monetário internacional mais flexível e confortável para o trabalho dos investidores”.
Mas, para que a comunidade global use mais ativamente as moedas dos países em desenvolvimento, é necessário um número de pré-condições. Em particular, os participantes do mercado global devem estar seguros quanto à estabilidade da situação econômica de um determinado país, quanto à estabilidade do valor de sua moeda nacional e se o país está em dia com seus débitos internacionais. E, por sua vez, a sua moeda depende do nível das reservas internacionais do país. A WOC – World Organization of Creditors estudou os acúmulos de reservas dos países em desenvolvimento para definir se o rublo, o iuan e outras moedas de países com economias em desenvolvimento podem ocupar um lugar competitivo ao lado do dólar, do euro e do franco suíço. Os resultados da pesquisa mostram que, em volume de reservas e nos índices relativos, os maiores países em desenvolvimento estão agora numa situação mais vantajosa em comparação com os países desenvolvidos. Isso pode acarretar o crescimento gradual de importância das moedas nacionais da China, da Rússia e de outros países em desenvolvimento na realização de acordos internacionais e como moedas de reserva.
Apesar da renúncia do sistema monetário estabelecido em Bretton Woods e da diminuição do papel do dólar americano como “dinheiro mundial” (que ele compartilhava com o ouro), o dólar ainda permanece a principal moeda de reserva e pagamento no mundo.
Segundo o sistema monetário vigente no mundo de hoje, que foi chamado de jamaicano, nenhuma moeda nacional tem o status de moeda de reserva. Os Direitos de Saque Especiais (DSE) foram fixados como o principal meio internacional de reserva e pagamento. Trata-se de uma moeda artificial, criada pelo Fundo Monetário Internacional em 1969 e consistindo de uma cesta de moedas dos principais países do mundo.
Ainda assim, o dólar americano ainda supera consideravelmente todas as outras moedas nos volumes de seu uso no sistema global como meio de reserva e pagamentos.
Isso é justo? Quais são as atuais tendências das reservas monetárias no mundo?
Moedas de reserva
As reservas internacionais em valor-ouro de cada país são ativos externos que estão sob o controle dos organismos que regulam a política monetária e de crédito do país. Podem ser usadas para apoiar o valor da moeda nacional, para financiar o déficit da balança de pagamentos e outros objetivos de natureza semelhante.
Durante o período de 1995 até 2010 os volumes das reservas mundiais cresceram 6,7 vezes, para 9,257 bilhões de dólares. Para comparação: o Produto Interno Bruto mundial segundo os preços correntes do mesmo período, pelos dados do FMI, cresceu 2,1 vezes. Durante os últimos 15 anos os países desenvolvidos aumentaram seus capitais 3,3 vezes, e o países em desenvolvimento, 13,5 vezes.
Em 1995 as reservas monetárias dos países em desenvolvimento equivaliam a menos da metade (49%) do índice correspondente dos países desenvolvidos. Em 2005, as reservas agregadas dos países em desenvolvimento pela primeira vez ultrapassaram as reservas dos desenvolvidos, e em 2010 elas já eram duas vezes maiores.
Participação monetária
A participação monetária, não definida pelo conteúdo das moedas, cresceu suficientemente – de 26% para 45%. E esse índice é um tanto baixo para os países desenvolvidos: em 2010 ele representou apenas 13%. Já nos países em desenvolvimento a participação em reservas monetárias com estrutura oculta é ao contrário muito elevada – cerca de 61% de suas reservas agregadas (em 1995 – 42%).
É difícil afirmar, mas é possível supor que os países em desenvolvimento escondem a informação devido ao fato de que suas reservas contêm os tradicionais dólar americano, euro, iene japonês, DSE ou franco suíço, mais outras moedas, menos tradicionais.
A participação do dólar americano em reservas monetárias internacionais em 1995 representava 44%, em 2000 ela alcançava o índice recorde de 56% nas reservas monetárias globais. Mas desde então a participação do dólar vem caindo consideravelmente, e em 2010 ela representava apenas 34%. E sua participação nas reservas dos países desenvolvidos era em média os mesmos 56%, mas nas reservas dos países em desenvolvimento chegava a apenas 23%.
A participação do euro nas reservas monetárias agregadas dos países em questão caiu nos últimos 15 anos de 20% para 15%. Em 1995 as reservas nessa moeda foram, por questão de conveniência, consideradas no nível da soma das reservas, indicadas em marcos alemães, francos franceses e florins holandeses. O FMI possui dados sobre o euro a partir de 1999. O número dos países da zona do euro cresceu suficientemente, e, naturalmente, suas reservas em euro agora não são incluídas nas estatísticas do FMI. Mais provavelmente, esse é o fato que explicaria a diminuição na participação do euro nas reservas dos países desenvolvidos. Além do mais, sua participação nas reservas dos países em desenvolvimento permanece bastante estável – entre 9 e 13%.
A participação do iene japonês nas reservas internacionais diminuiu de 5% em 1995 para 2% em 2010.
E as participações da libra britânica e do franco suíço permanecem estavelmente baixas.
Direitos Especiais de Saque (DES) e outras reservas
Os DES são um ativo de reserva internacional, criado pelo FMI em 1969 a fim de sustentar a estabilidade do sistema Bretton Woods então existente para converter as moedas segundo uma taxa fixa. Hoje o DES é uma cesta de quatro moedas – o dólar americano, o euro, o iene japonês e o franco suíço. O peso de cada uma dessas moedas na cesta é revisto a cada cinco anos a fim de que os DES reflitam melhor o estado da exportação mundial de bens e serviços e as reservas monetárias internacionais.
Segundo os resultados de todos os investimentos de DES, o volume emitido dessa “moeda” no mundo chega a 204 bilhões de DES, que equivalem a 324,3 bilhões de dólares. Ele representa apenas 3,5% do volume total de reservas monetárias no mundo. As posições dos países do FMI em volumes de reservas também são relativamente baixas.
Líderes de acumulação
Os três principais países em volumes de reservas hoje são a China, o Japão e a Rússia. A República Popular da China é um líder de acumulação de reservas em valor-ouro, das quais excedeu em março de 2011 o volume de 3 trilhões de dólares americanos. Os dados para o início de 2011 indicavam que o Japão estava atrás da China no índice quase três vezes, e a Rússia, seis vezes. O grupo de países da zona do euro também possui um total impressionante de reservas – 790 bilhões de dólares no início do ano. Os Estados Unidos ocupavam apenas o 15.º lugar, com a soma de reservas em valor-ouro de 133 bilhões de dólares, e o microestado europeu de Malta, com reservas de meio bilhão de dólares, é o último na lista dos 72 países do FMI.
Segundo o índice de suficiência de reservas em proporção ao volume mensal médio de importações, a China está de novo em primeiro lugar: suas reservas são teoricamente suficientes para dois anos de importações. A Rússia e o Japão estão em segundo e terceiro lugares (18 e 17 meses de “reservas para importações”, respectivamente). A Alemanha e a Grã-Bretanha, por exemplo, têm pequenas reservas: elas seriam suficientes para pagar apenas dois meses de importações (o mínimo suficiente é o volume dos ativos de reserva que garantam o custo da importação de bens e serviços durante três meses). E nos Estados Unidos esse índice só chega a um mês.
Conclusões principais
1) Entre os países em desenvolvimento, a participação nas reservas, cujo conteúdo não é revelado, está em constante crescimento. No final de 2010 esse índice era de 61%. É provável que os países em desenvolvimento ocultem a informação devido ao fato de que suas reservas não contêm os tradicionais dólares americanos, euros, ienes japoneses, DSE ou francos suíços, mas outras moedas, menos tradicionais.
2) A participação do dólar americano como moeda de reserva decresce constantemente (só podemos analisar os dados a partir do portfólio das reservas reveladas pelo FMI). Uma queda especialmente acentuada é observada nas reservas dos países em desenvolvimento, e é nesses países que o crescimento mais significativo das reservas ocorre. A participação do euro nas reservas dos países permanece bastante estável.
3) Os Direitos de Saque Especiais no mundo não receberam grande atenção. O volume dos DSE emitidos só chega a 3,5% das reservas totais.
4) As moedas de países como China, Rússia e Índia não estão representadas nos dados do FMI.
Desconhece-se, mas é possível, que parte das reservas monetárias, cujo conteúdo não é definido, sejam parte dessas moedas também. De qualquer modo, esses países ocupam o primeiro, o terceiro e o quarto lugares nos volumes de suas próprias reservas. Suas posições entre os países com maiores reservas são muito acentuadas e testemunham a sua capacidade de apoiar o valor de sua própria moeda em casos de choques econômico-financeiros, déficit da balança de pagamentos, etc., em contraste com os países mais desenvolvidos, cujas reservas são muito pequenas.
Dados sobre as reserves confirmam que os maiores países em desenvolvimento se encontram agora numa posição mais vantajosa em relação aos países desenvolvidos. Em nossa opinião, o que vai ocorrer é que as moedas nacionais da China, da Rússia e de outros países em desenvolvimento virão a ocupar gradualmente espaços mais importantes ao lado do dólar e do euro.
Para ver os quadros e tabelas desta pesquisa, acesse
e entre no link:
"Share of dollar in reserves of developed countries reduced from 43 to 23 percent for the last 10 years"
Para os dados de informação analítica do WOC, pode ser consultado o Serviço de Imprensa da Organização:
press.secretary@woc-org.com
Tel.: +7 (495) 225-25-39