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terça-feira, 6 de março de 2012

O ministro, o governador e a miseria educacional...

Um ministro da educação, no passado, fez aprovar uma lei sobre piso salarial dos professores apenas para "ferrar" -- o termo é mesmo esse -- sua adversária política, governadora tucana, que dizia que seu estado não tinha recursos para pagar o piso estabelecido, certamente bem mais alto.
Dinheiro sempre tem, obviamente, tudo é uma questão de prioridades. Tem gente que prefere gastar em publicidade, por exemplo.
Pois bem, quis a vontade do povo que o antigo ministro virasse governador, do mesmo estado.
Agora esse cidadão, que deve andar de quatro de tamanha incoerência, diz que não vai pagar, e vai apelar para a Justiça (da qual ele também já foi responsável, mas muito irresponsável, pois mandou deportar dois refugiados, o justiceiro).
Mas a Justiça apenas interpreta leis, ela não faz as leis. Quem faz é o parlamento.
O ministro cavalgadura deveria saber disso...
Paulo Roberto de Almeida
PS.: Quem acha que o governador anda de quatro é o jornalista abaixo. Eu só o sigo...

De cabeça para baixo, Coluna Carlos Brickmann
(*) Coluna exclusiva para a edição dos jornais de Quarta-feira, 7 de março de 2012

Há cem anos, o Japão não tinha condições de sustentar sua população. Por isso, estimulou as emigrações (e, por isso, tantos japoneses vieram para o Brasil). Há 67 anos, duas bombas atômicas destruíram Hiroxima e Nagasáqui e o Japão foi ocupado por tropas americanas. Há cinquenta e poucos anos, produto japonês era famoso por ser mal feito, mal acabado, pouco durável.

Como é que o Japão mudou, sem fontes de energia, sem recursos naturais? O jornalista Renato Lombardi, sempre competente, manda duas pistas: o salário inicial de um professor de ensino fundamental no Japão equivale a R$ 4 mil. Professor de escola pública é a 17ª profissão mais bem paga do país.

Já o Brasil, que há cem anos tinha condições de absorver os imigrantes japoneses, está agora em guerra para não pagar aos professores a fortuna mensal de R$ 1.451. Onze Estados avisaram que não vão pagar o piso de lei. No Rio Grande do Sul, o governador Tarso Dutra, do PT, ex-ministro da Justiça, ligadíssimo ao atual ministro da Justiça, quer pagar aos professores salários que nem analfabeto hoje aceita: R$ 791.

Aluguel, comida, livros? Os professores que se virem. Já Tarso, cuja função certamente não é tão útil quanto a de um professor, recebe quase R$ 30 mil mensais, fora casa, comida e muitas mordomias. E, a julgar pelo que anda dizendo, já faz tempo que não gasta nada de seu salário com livros.

Diziam que os japoneses, do outro lado do mundo, andavam de ponta-cabeça. Aqui, nosso Governo não avança nem andando sobre os pés. E veja, são quatro!

Um pouco de luz
A Justiça gaúcha determinou ao Governo que pague o piso legal, incluindo os atrasados desde 2009. Mas o governador que foi ministro da Justiça vai recorrer.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A educacao no mundo e a deseducacao no Brasil - Gustavo Ioschpe



Como será o ensino superior do futuro ?

Gustavo Ioschpe
Revista Veja, 22/02/2012

O ensino superior do futuro 
Há uns anos, fui dar uma palestra em uma universidade privada. Perguntei ao diretor qual era o maior desafio deles. Imaginei que ele fosse me dizer que eram outras universidades semelhantes, ou a universidade pública, mas não: “O que nos atrapalha é esse pessoal que engana os alunos dizendo que curso de dois anos é ensino superior”. Eis um bom retrato do nosso ensino superior: não só pequeno como atrasado. Hoje, nosso primeiro problema é termos uma taxa de matrícula de 22%, entre um terço e um quarto da dos países desenvolvidos, metade da de países como Chile, Venezuela e Peru e abaixo da de todos os Brics, exceto a Índia.
A principal explicação para esse acanhamento no ensino superior é a falência da nossa educação básica. Mas, se algum dia consertarmos esse problema (crença que se aproxima cada vez mais do dito sobre o segundo casamento: é o triunfo da esperança sobre a experiência), nossos graduandos se defrontarão com um modelo de ensino superior defasado. Esse não é um problema só brasileiro. No começo do ano participei de um seminário sobre ensino superior em países em desenvolvimento na Universidade de Oxford, e o que se discutiu lá, mais aquilo que já vem sendo pensado aqui, nos permite ter uma ideia de como será o ensino superior da próxima geração. Eis os horizontes mais relevantes (agradeço a Jamil Salmi, até recentemente líder da área de ensino superior do Banco Mundial, por muitos dos exemplos abaixo).
Flexibilidade - Durante séculos, o ensino superior foi algo que acontecia em universidades, em cursos de quatro anos, preparando o aluno para uma carreira específica. No futuro, o ensino se dará em universidades, em escolas técnicas e em outros formatos que ainda não conhecemos que permitam o lifelong learning, o aprendizado ao longo de toda a vida. Os cursos poderão ser presenciais ou on-line. Mais frequentemente, serão das duas formas. Terão dois, três ou quatro anos de duração. Tratarão de várias áreas do conhecimento, e estarão mais preocupados em ensinar a pensar do que em transmitir conhecimentos e habilidades específicos, pois a obsolescência do saber será ainda maior do que é hoje.
Menor duração – O Brasil tem três tipos de formação: bacharelado, licenciatura e curso de tecnólogo. Esse último dura entre dois e três anos, focado no desenvolvimento de uma competência profissional específica, normalmente para cargos de salário médio. No Brasil, só 10% das matrículas em cursos presenciais está nesse tipo de curso. Na China, é mais da metade. Nos países desenvolvidos (OCDE), é um terço (dados disponíveis em twitter.com/gioschpe). Em vez de ser percebido como a melhor alternativa para a pessoa que busca um diferencial rápido e eficaz no mercado de trabalho, o curso de tecnólogo ainda é erroneamente visto como um “primo pobre” do ensino “de verdade”.
Laços com o ensino básico – Nas últimas décadas, o ensino superior se massificou e deselitizou (o Brasil ainda chegará lá), e o ritmo de inovação no mercado de trabalho fez com que um diploma de uma boa universidade não fosse mais suficiente para uma carreira cada vez mais longa. Assim, a distinção entre educação básica e superior vai ter cada vez menos sentido. Ambas estarão dentro de um contínuo, que começa na pré-escola e só termina com a morte. Na Alemanha, as faculdades de engenharia e escolas politécnicas já estão em contato com jardins de infância para atrair futuros bons engenheiros. No Brasil, teremos um problema adicional a resolver: as áreas de licenciatura e pedagogia, hoje patinhos feios da academia, terão de ganhar em importância e prestígio. As universidades terão de entender que sem um aluno bem formado no ensino básico não conseguirão fazer o seu trabalho com qualidade.
Tecnologia – No Brasil, só reconhecemos diplomas de instituições brasileiras, mas certamente em breve validaremos o ensino dado nas melhores universidades do mundo. Hoje já é possível assistir, on-line e sem custo, a aulas de instituições como o MIT e Stanford. Nos EUA, um sexto das matrículas do ensino superior já é feito em cursos on-line. O Brasil está chegando perto, com uma em cada sete, depois de uma explosão que levou o número de matriculados de 200 000, em 2006, para 930 000, em 2010. Stanford, Purdue e Duke são universidades que já gravam todos os seus cursos, para que os alunos possam baixá-los e rever as aulas quantas vezes quiserem. Há algumas semanas, a Apple lançou uma plataforma de venda de livros didáticos para o iPad. Além do texto, tem vídeos, animações, lugar para resumos. Em breve, serão compartilháveis.
Desabou a Torre de Marfim – À medida que o ensino superior se massifica, desaparece a noção da academia como instituição alheia (e superior) ao mundo “real”. Haverá cada vez mais forte competição entre instituições pelo aluno, o que faz com que as universidades precisem se desdobrar para atender às demandas dos alunos e de seus futuros empregadores. A Universidade do Sul da Flórida dá uma garantia a seus alunos de engenharia: se, durante seus cinco primeiros anos no mercado de emprego, eles sentirem a necessidade de competências que não aprenderam na faculdade, podem voltar e aprendê-las de graça.
Currículo – Oscar Wilde (1854-1900) escreveu que nada que vale a pena saber pode ser ensinado. O desafio das universidades do futuro será ensinar apenas aquilo que vale a pena saber, o que demandará novos currículos e nova didática. Um exemplo é o Olin College of Engineering, nos EUA. O ensino é centrado na resolução de problemas, sempre em equipes. Não há departamentos acadêmicos e os professores não recebem cátedra. O currículo é baseado em um triângulo entre engenharia (o projeto é exequível?), empreendedorismo (é viável?) e humanas (é desejável?).
Interdisciplinaridade Os problemas do mundo real são complexos e não respeitam fronteiras departamentais. A universidade do futuro terá de respeitar essa realidade. Todo aluno de graduação nos EUA passa por todas as grandes áreas do saber. Só no início do terceiro ano é que ele precisará decidir qual será a sua “major”, a área em que vai se diplomar. Antes disso, o futuro cientista estuda sociologia e o historiador estuda matemática. A especialização virá mesmo só na pós-graduação. Algumas universidades federais no Brasil tomaram a iniciativa de criar um “bacharelado interdisciplinar”. É um bom começo, ainda que a iniciativa seja limitada pelo fato de que o aluno estuda apenas uma de quatro grandes áreas (artes, humanidades, saúde e ciência e tecnologia).
Nada é de graça – Um sistema educacional que matricule perto de 100% dos jovens (EUA, Finlândia e Coreia do Sul já estão chegando perto disso) é caro. Não é possível estender esse benefício a número tão grande de alunos e esperar que os contribuintes paguem a conta. Com exceção de México, República Checa e países escandinavos, todos os países da OCDE cobram mensalidades de seus alunos em universidades públicas. Passaremos por mais algumas invasões de reitorias, mas chegaremos lá.

P.S. – O artigo do mês passado, sobre o fechamento de vagas em universidades de “má qualidade”, suscitou algumas respostas curiosas. Uma delas, de um médico que concordava que não se deviam fechar vagas em nenhum curso – exceto medicina. Pois haveria médicos suficientes para atender à população. Infelizmente, não é verdade. Há 1,87 médico por grupo de 1 000 habitantes no Brasil. Nos países da OCDE, esse número é de 3,32 – 78% mais, portanto. No Uruguai, é de 4,18. Para chegarmos à média da OCDE, precisaríamos de 634 000 médicos, ou 277 000 mais do que temos hoje em atividade no país.