O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sexta-feira, 19 de agosto de 2022

À la recherche d’un blog perdu : Metapolítica 17 - Paulo Roberto de Almeida

 À la recherche d’un blog perdu : Metapolítica 17

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Notas sobre um blog desaparecido de um ex-chanceler acidental.

 

 

Recentemente, alguém me contactou para perguntar sobre os escritos do patético ex-chanceler acidental, um personagem que era obscuro, antes de ser designado primeiro chanceler do governo do capitão, e que voltou a ficar novamente obscuro, depois de sua demissão em março de 2021, e do qual nunca mais me ocupei, depois de escrever e publicar cinco livros sobre o infeliz ciclo do bolsolavismo diplomático (ver todos os títulos em meu blog Diplomatizzando, a partir do Miséria da Diplomacia, em meados de 2019). 

Para atender à demanda, efetuei uma rápida verificação, colocando o endereço do blog responsável pela sua designação como chanceler: https://www.metapoliticabrasil.com/. A resposta veio rápidaLooks Like This Domain Isn't Connected to a Website Yet!

Ou seja, ele desativou o seu antigo blog do período ascensional e desapareceu com todas as postagens do período de declínio, talvez porque tenha sido chutado pelo capitão e ficou sem qualquer apoio nos antigos setores. Mas muita gente, inclusive eu, deve ter registrado e guardado suas postagens, assim como matérias sobre ele e suas “ideias”. Não sei por que alguém ainda teria curiosidade de retornar ao “mar morto” do período de ativismo do ex-chanceler acidental, mas creio ser uma das pessoas mais habilitadas a fazê-lo, dado que segui a carreira e o besteirol dos dois anos e três meses nos quais ele conseguiu desmantelar a diplomacia do Itamaraty e boa parte da política externa (determinada pelo ex-chefe). Não vou reproduzir as bobagens escritas pelo bizarro personagem, mas vou fazer um relato sintético sobre o período de maiores loucuras que frequentaram a Casa de Rio Branco, de 2019 a 2021.

 

A designação do chanceler acidental e a imensa surpresa em torno do personagem

No dia 22 de setembro de 2018, um até então obscuro diplomata anunciava triunfalmente ao mundo que ele estava a caminho de salvar o Itamaraty, o Brasil e o mundo, por meio de seu novo blog, curiosamente chamado de Metapolítica 17: contra o globalismo, nestes exatos termos: 

Sou Ernesto Araújo. Tenho 28 anos de serviço público e sou também escritor. Quero ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista. Globalismo é a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural. Essencialmente é um sistema anti-humano e anti-cristão. A fé em Cristo significa, hoje, lutar contra o globalismo, cujo objetivo último é romper a conexão entre Deus e o homem, tornado o homem escravo e Deus irrelevante. O projeto metapolítico significa, essencialmente, abrir-se para a presença de Deus na política e na história. (blog pessoal: Metapolitica 17; iniciado em 22/09/2018)

 

Nem tomei conhecimento, naquele momento, dessa coisa estranha, e apenas fui saber da “novidade” no dia 14 de novembro pela tarde, quando o personagem até então realmente desconhecido pela maioria dos jornalistas foi designado como o novo chanceler, pelo presidente eleito no mês de outubro anterior. Antes de anunciar o seu escolhido, o candidato, depois presidente eleito, afirmou várias vezes que escolheria para o Itamaraty um “diplomata experiente e sem ideologia”. Parece que ele errou nos dois conceitos (ou foi deliberado).  

Mas, eu só soube da escolha do seu nome porque um jornalista amigo me telefonou, na tarde do dia 14 de novembro, para inquirir sobre a obscura figura. Só então soube que ele tinha um blog com aquele nome curioso. Prestei as informações que eram do meu conhecimento ao jornalista ignaro – e todos o eram até aquele momento – e depois passei o resto da noite do dia 14/11 e todo o feriado da República, lendo as postagens inacreditáveis (que até então eram poucas), mas extremamente reveladoras de uma personalidade angustiada com o avanço do marxismo no Brasil e no mundo, com a falta de Deus no Itamaraty e nas cercanias da política, e devidamente equipado, pelo número de doutas citações, a libertar o Brasil, se não o mundo, dos vários e aflitivos demônios ameaçadores.

Mas, sempre atento às novidades “cercando” (e como) a política externa, fiz uma primeira postagem, em meu blog, já no dia 16 de novembro, já refletindo a investigação de alguns jornalistas sobre o que pensava (ou deixava de pensar), o chanceler designado. Sem qualquer comentário de minha parte, transcrevi esta matéria, tal como lida: 

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Futuro chanceler: perto de Trump e longe da China - Lu Aiko Otta (OESP)

Futuro chanceler está perto de Trump e longe da China

Escolhido para chefiar Itamaraty diz que mudança climática é uma trama marxista para favorecer País asiático

Lu Aiko Otta, O Estado de S. Paulo, 16 novembro 2018 | 05h00

Blog Diplomatizzandohttps://diplomatizzando.blogspot.com/2018/11/futuro-chanceler-perto-de-trump-e-longe.html

 

Mas, a confusão em torno da diplomacia bolsolavista já tinha começado antes mesmo da designação do chanceler acidental, que é como eu sempre chamei o patético personagem, apadrinhado por um conhecido e polêmico guru ideológico da nova tropa de aventureiros que chegava ao poder. A confusão se instalou a partir de diversas declarações do presidente eleito sobre temas externos, todas elas rigorosamente ideológicas e denotando uma vontade de romper totalmente com a diplomacia tradicional, não tanto porque tivesse outra para colocar no lugar, mas por pura ignorância crassa. Uma delas eu registrei em postagem do dia 8 de novembro, ao tomar conhecimento de que uma delegação diplomática egípcia a caminho do Brasil tinha cancelado sua viagem, depois que Bolsonaro anunciou que mudaria a embaixada do Brasil de Tel Aviv a Jerusalém:

terça-feira, 6 de novembro de 2018

https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/11/diplomacia-bolsonarista-ainda-nem.html

Diplomacia bolsonarista: ainda nem começou, mas já agita um bocado

Notícias turbulentas: Em reação a Bolsonaro, Egito adia sem data visita oficial do Brasil : https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,em-reacao-a-bolsonaro-egito-adia-sem-data-visita-oficial-do-brasil,70002587188

 

No dia 11 de novembro, ou seja, três dias antes da designação oficial do chanceler acidental, eu registrava uma matéria da Gazeta do Povo revelando, com algum grau de detalhe, como seria a política externa do novo governo: 

domingo, 11 de novembro de 2018

https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/11/como-sera-politica-externa-do-governo.html

Como será a política externa do governo Bolsonaro - Fernando Martins (Gazeta do Povo) - Como será a política externa do governo Bolsonaro

 

Exatamente um dia antes de ser anunciado quem seria o novo chanceler, o embaixador Rubens Barbosa publicava no Estadão, um artigo sobre os desafios diplomáticos do novo governo, já levando em conta tudo o que já se sabia das declarações estapafúrdias do presidente eleito – mas sem que se soubesse que o chanceler seria alguém ainda mais esquizofrênico –, como também registrei em meu blog, mas no mesmo dia, um outro artigo, do jornalista Bernardo de Melo Franco, também se dedicava a especular sobre o futuro, texto que registrei na manhã do dia seguinte, ainda sem ter conhecimento do “chanceler”: 

terça-feira, 13 de novembro de 2018

https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/11/a-politica-externa-do-governo-bolsonaro.html

A política externa do governo Bolsonaro - Rubens Barbosa

 

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/11/desafios-ao-novo-chanceler-bernardo.html

Desafios ao novo chanceler - Bernardo Mello Franco (Globo)

Próximo chanceler terá árduo trabalho, O Globo, 13/11/2018

 

Finalmente, tendo tomado conhecido da designação do chanceler acidental, emiti, no próprio dia 15 de novembro, depois de ler vários de seus petardos iniciais no Metapolítica 17, um pequeno texto que pode ser lido na postagem abaixo resumida: 

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/11/sobre-o-chanceler-designado-paulo.html

Sobre o chanceler designado - Paulo Roberto de Almeida

Minha postura quanto ao chanceler designado

 

Nela eu dizia basicamente o seguinte:

Eu fiquei 13,5 anos completamente afastado de qualquer cargo na SERE durante todo o regime lulopetista, e não pude, assim, acompanhar sua trajetória no período 2003-2016. Apenas recentemente soube que ele era casado com a filha do ex-SG Luiz Filipe de Seixas Corrêa. Não tinha a menor ideia de que ele mantinha uma campanha política militante em favor do candidato vencedor, como transpareceu na imprensa cerca de um mês atrás. (...)

Se ele foi escolhido pelo presidente eleito a exercer a função política de comandar a diplomacia brasileira no próximo governo, só posso desejar-lhe sucesso na função. (...)

Apenas ontem (14/11/2018), e depois da nomeação, tomei conhecimento pela primeira vez de que ele mantém um blog pessoal, para a expressão dessas ideias, o que eu também faço, no Diplomatizzando, mas, no meu caso, geralmente para transcrição de matérias de terceiros, com alguns poucos comentários de minha parte. Não me envolvo, nunca me envolvi, em atividades partidárias, e pretendo assim manter-me invariavelmente à margem desse tipo de opção. Minhas prioridades principais, no presente momento, ou desde sempre, consistem em preservar o Itamaraty e a diplomacia brasileira de quaisquer desvios indesejados, em termos ideológicos ou políticos, que possam ser considerados nefastos para a manutenção de sua alta qualidade intelectual, de sua grande capacidade de trabalho, puramente profissional, e de uma postura isenta no plano político-ideológico. Acredito, como aliás deve ser, que a política externa é determinada pelo chefe de Estado e de governo, como ocorre nos regimes presidencialistas, cabendo ao Itamaraty aconselhá-lo da melhor forma possível visando à defesa estrita dos altos interesses da nação e do Estado.

 

No próprio dia 15, e nos dias seguintes, jornalistas, pesquisadores, observadores, continuaram escrevendo sobre o chanceler designado, com base nas poucas “ideias” reveladas em seu blog ou no artigo “Trump e o Ocidente”, que havia sido publicado um ano antes na revista do IPRI da qual eu era o editor, que depois eu comentei amplamente num dos capítulos de meu primeiro livro do ciclo bolsolavista, Miséria da Diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty (livremente disponível desde junho de 2019). Três dias depois da designação, no dia 18 de novembro, portanto, fiz uma listinha dos artigos (meus e de terceiros) publicados em meu blog, como indicado a seguir, postagem que terminava com estas minhas palavras: “Pode ser que o frenesi em torno do novo chanceler se acalme nas próximas semanas, ou não...” 

1)             Sobre o chanceler designado - Paulo Roberto de Alm...

2)             Globalismo e globalizacao: uma confusao persistent...

3)             Sobre o marxismo cultural - Paulo Roberto de Almei...

4)              Futuro chanceler: perto de Trump e longe da China ...

5)             A política externa do governo Bolsonaro - Rubens B...

6)             Os perigos da guinada radical no Itamaraty - Guilh...

Já prevendo que as semanas seguintes à posse do novo governo seriam confusas e conturbadas, pelo ineditismo esquizofrênico das posições antecipadas por eles mesmos – recusa do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, do Pacto Global das Migrações, da política externa regional, que seria regida em termos ideológicos “direita-esquerda” –, corri para terminar os projetos em curso no IPRI e paralelamente: finalização e lançamento dos dois volumes com a produção do ex-chanceler Celso Lafer em relações internacionais, e publicação do primeiro número da revista 200, produzida por meu colega Carlos Henrique Cardim, mas que acabaria bloqueada pelo novo chanceler antes mesmo da sua posse (um ano depois, eu obtinha o arquivo digital da revista e colocava na plataforma Academia.edu). Foram semanas de muito trabalho no final de novembro e dezembro, e de algum temor.

Nas semanas seguintes, enfastiado com aquelas ideias delirantes, pouco prestei atenção à luta do cruzado contra os perigos do marxismo, tanto que tirei férias no final do ano, viajei, e nem estava em Brasilia para a posse presidencial ou a do “flamante” chanceler, como dizem os hermanos. Soube, por amigos, que seu discurso de posse, no dia 2 de janeiro de 2019, foi um verdadeiro choque de surrealismo para todos os diplomatas ali presentes. No mesmo dia, recebi, por WhatsApp, em Gramado (RS), onde me encontrava, um pedido da nova administração para opinar sobre o Instituto Rio Branco, o que me recusei a fazer, por não ter essa área em minha competência, até então restrita ao Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais (IPRI).

Ao mesmo tempo, chegou-me uma espécie de “instrução” para não aplicar o programa de trabalho que havia sido aprovado pelo Conselho da Funag no mês de dezembro de 2018. Percebi que a coisa iria degringolar no Itamaraty. Aliás, esperava ser demitido logo no primeiro dia do novo “regime”, pois já havia alcunhado o novo dono do poder de fascista, o que não era exatamente um cumprimento. Demorou um pouco, e entendi que ainda estavam buscando um substituto para a direção do IPRI, mas finalmente chegou, no começo de março de 2018, em plena segunda-feira de Carnaval, dia de suposto feriado. No intervalo fiquei fazendo o que sempre faço: ler, refletir, escrever algumas coisas, inclusive mais algumas “pérolas” do chanceler acidental, o tal orgulhoso animador do blog Metapolítica 17 (contra o globalismo, não esquecer). 

O fato é que eu fui “exonerado” do meu cargo de Diretor do IPRI numa “manhã de Carnaval”, no próprio dia em que eu publicava no meu blog um artigo do chanceler acidental, com alguns poucos comentários da minha parte, sem relação com o artigo, apenas relatando meus 13,5 anos de travessia do lulopetismo diplomático: 

segunda-feira, 4 de março de 2019

https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/contra-o-consenso-tradicional-na.html

Contra o consenso "tradicional" na politica externa - artigo do chanceler

 

Não vou me estender sobre todas as postagens feitas no blog Diplomatizzando nos primeiros meses de 2019 sobre o asilo de alucinados em que se converteu o Itamaraty, tanto porque, exonerado do IPRI, refugiei-me na Biblioteca do Itamaraty e fiquei preparando meu primeiro livro de 2019, que não tinha nada a ver com o novo governo, mas cuidava apenas do período anterior: Contra a Corrente: ensaios contrarianista sobre as relações internacionais do Brasil, 2014-2018 (Appris). Depois resolvi tomar notas para o que seria o primeiro livro do ciclo bolsolavista, o já citado Miséria da Diplomacia (em duas edições, uma de autor, a outra pela Universidade Federal de Roraima, ambas inteiramente livres e disponíveis no meu blog Diplomatizzando). Naquele livro “contrarianista”, aproveitei um texto que tinha escrito no mês de novembro anterior, feito a caminho de Santa Maria (RS), para um seminário, “Por que sou um contrarianista?”, imediatamente publicado no blog, antes da fatídica data de 14 de novembro quando foi anunciado o chanceler acidental, o que apenas reforçou a minha vocação de ser contrarianista. Quando o livro finalmente foi publicado, em meados do primeiro semestre, eu anunciava, na sua última página (247), um novo livro para aquele mesmo ano, como “Obra em preparação: Meio Século de Aventuras Intelectuais: escritos sobre o Brasil e o mundo, 1968-2018”. Esse livro não foi, até aqui, concluído.

 

O que aconteceu com o blog do novo cruzado?

O blog Metapolítica 17, do chanceler acidental, permaneceu ativo durante todo o tempo em que ele infelicitou o Itamaraty e a diplomacia profissional e ajudou o presidente a demolir a política externa relativamente equilibrada do período imediatamente anterior. Assustado com os caminhos adotados por ambos, na defesa de teses indefensáveis, como por exemplo a de que o nazismo seria uma “ideologia de esquerda”, continuei a seguir seus petardos alucinados e alucinantes, eventualmente comentados e “corrigidos” por mim e por jornalistas experientes. Por exemplo, para rebater a tese de que o nazismo seria “de esquerda”, o jornalista experimento Diogo Schelp produziu um artigo arrasador, que reproduzi no Diplomatizando

domingo, 7 de abril de 2019

https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/04/ernesto-araujo-e-o-nazismo-de-esquerda.html

Ernesto Araujo e o nazismo "de esquerda": Diogo Schelp recomenda um livro

Uma recomendação de livro para o chanceler Ernesto Araújo

Diogo Schelp - UOL 07/04/19

https://diogoschelp.blogosfera.uol.com.br/2019/04/06/uma-recomendacao-de-livro-para-o-chanceler-ernesto-araujo/

 

Eu mesmo acabei produzindo um artigo sobre as vinculações entre suas “ideias” em torno da metapolítica e o nacionalismo alemão que tinha desembocado no nazismo: 

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/01/metapolitica-de-wagner-hitler-e-ao.html

Metapolitica: de Wagner a Hitler, e ao chanceler acidental - Paulo Roberto de Almeida

Nas origens da Metapolítica: o romantismo alemão que derivou para o nazismo

 

Depois, escrevi dois outros livros, em plena vigência do bolsolavismo diplomático triunfante, rebatendo a cada vez o festival de absurdos que ocorria, de forma regular, constante e repetidamente, com (na verdade, contra) a política externa e a diplomacia brasileira. Menciono rapidamente esses livros publicados geralmente em formato Kindle ou divulgados livremente, para facilitar e apressar os contra-argumentos às loucuras emanadas dos amadores da diplomacia: O Itamaraty num labirinto de sombras: ensaios de política externa e de diplomacia brasileira (Brasília: Diplomatizzando, 2020; Edição Kindle); Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira (Brasília: Diplomatizzando, 2020; plataforma Academia.edu). Neste segundo eu já propunha uma política externa pós-bolsolavista.

O tipo de evento que a Funag andou promovendo nos tempos ideológicos

Fundação Alexandre de Gusmão e o IPRI se converteram num valhacouto de antiglobalistas, negacionistas, fundamentalistas (e nem sei por que os monarquistas foram se meter com aquele bando de malucos), nos eventos, seminários e palestras organizados exclusivamente para a malta dos adoradores do sofista da Virgínia, aquele a quem eu chamava de “Rasputin de Subúrbio”, assim como os aloprados do bolsonarismo com alguma tintura supostamente acadêmica. Cheguei a sentir pena dos alunos do Instituto Rio Branco, de excelente nível, mas assembleia cativa, e necessariamente passiva (mas provavelmente estupefata), com aquelas palestras estrambóticas. Imagino o sofrimento que deve ter sido para eles escutar invectivas contra o multilateralismo, o perigo iminente do comunismo que rondava a política brasileira, assim como os projetos diabólicos do Foro de São Paulo nos seus projetos de implantar o socialismo na América Latina. 

Imaginei que com a derrota de Trump – nunca admitida por Bolsonaro, meses depois da posse de Biden – e antes mesmo da posse do novo presidente americano, o chanceler acidental seria trocado por alguém mais razoável, o que todavia não ocorreu. Cheguei a escrever um pedido de demissão para o chanceler, se ele tivesse coragem de abandonar a cadeira que conspurcar, mas nada ocorreu até o início dos trabalhos legislativos. Minha carta recomendando renúncia, a ele dirigida, foi publicada no blog no final de janeiro de 2021: 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/carta-aberta-um-diplomata-completamente.html

Carta aberta a um diplomata completamente fora do tom

 

Como ele não se resolvia, publiquei meu quarto livro sobre os delírios do chanceler acidental e sua obra destruidora da diplomacia profissional: O Itamaraty Sequestrado: a destruição da diplomacia pelo bolsolavismo2018-2021 (Brasília: Diplomatizzando, 2021; edição Kindle). Poucos dias depois ele era levado a se demitir, por pressão da bancada da Comissão de Relações Exteriores do Senado, mas manteve, durante algum tempo, seus textos no blog Metapolítica 17; como ele já era “carta fora do baralho”, deixei de prestar atenção nos seus petardos malucos, e esses textos últimos, antes da eliminação completa do blog e das postagens eu não gravei, mas espero que alguém o tenha feito, e aqui fica o meu apelo para que essa coleção de alucinações seja completada, quem sabe para o benefício de algum candidato a mestrado ou doutorado em psiquiatria diplomática.

Para finalmente dar por concluído esse ciclo de livros que não deveriam ter sido escritos – pois nada justificou a perda de tempo com tantas bobagens, tendo tanta coisa mais interessante para escrever – condensei meus estudos e reflexões sobre algumas décadas de política externa (grosso modo desde a redemocratização, a partir de 1985) num livro que sintetiza meu pensamento sobre a diplomacia conduzida de Sarney a Bolsonaro: Apogeu e demolição da política externa: itinerários da diplomacia brasileira (Appris, 2021). Creio que com o livro publicado pela LTC em 2012, Relações internacionais e política externa do Brasil: a diplomacia brasileira no contexto da globalização, são minhas duas melhores obras que tratam do meu próprio trabalho em 44 anos de desempenho diplomático.

Quando e exatamente porque o ex-chanceler acidental resolveu deletar de sua vida todas aquelas “saborosas” postagens antiglobalistas, fundamentalistas, raivosas e rançosas, feitas no Metapolítica 17, isso eu não sei, mas as razões não são difíceis de adivinhar: a tropa dos ideólogos da “nova política” soçobrou inteiramente depois que o Itamaraty se entregou, de armas e bagagens, ao Centrão, o que lhe garantiu certa sobrevivência política numa das trajetórias mais infames já conhecidas em toda a história do Brasil, e isso desde que aqui desembarcou, na Bahia mais exatamente, o primeiro governador-geral do Brasil, D. Tomé de Souza: nunca tivemos um dirigente tão medíocre, inepto e doentio, ao ponto da perversidade.

Talvez algum dia alguém escreva a trajetória do ex-chanceler acidental, embora já existam alguns livros sobre a diplomacia bolsonarista. Sobre o personagem, eu organizei um livro, a partir de outros petardos, os de um cronista desconhecido, que recomendo aos que apreciam a galhofa: Ereto da Brocha, Memorial do Sanatório, ou Ernesto e seus dragões no país de Bolsonaro (Brasília: Ombudsman, 2022; disponível na plataforma Academia.edu: https://www.academia.edu/71720946/Memorial_do_Sanatorio_Ereto_da_Brocha_Ombudsman_do_Itamaraty_2021_). 


Paulo Roberto de Almeida

                                                                               Brasília, 4230: 19 agosto 2022, 8 p.





quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Encyclopedia of South American History: to be published in 2024 - contributions by Paulo R. Almeida

 Em 2021, recebi um convite e me ofereci para contribuir para uma enciclopédia sobre  a história da América do Sul. Escolhi apenas cinco verbetes, o que me dará, ao que parece, direito a receber um exemplar impresso dessa publicação, o que só ocorrerá no distante ano de 2024. Será que as contribuições envelhecerão até lá? Por vezes a história anda tão rápido, mesmo a história passada...

Paulo Roberto de Almeida

Encyclopedia of South American History: contributions by Paulo R. Almeida

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Relação e textos das contribuições preparadas para a Encyclopedia of South American History, com publicação prevista para 2024, Blomsbury Publisher; Editor: Professor Micheal Tarver.

 

 

Relação das contribuições preparadas em 2021 para o projeto coordenado pelo Prof. Micheal Tarver, para uma Enciclopédia de história da América do Sul, originalmente a cargo da editora ABC-CLIO, adquirida em 2021 pelo grupo Bloombury. 

 

Contribuições de Paulo Roberto de Almeida:

 

1)    3970. “Tordesillas, Treaty of (1494)”, Brasília, 8 Sept 2021, 3 p.; 1.189 words. Contribution to a project of ABC-Clio, “South America: From European Contact to Independence”; 

2)    3974. “Bandeiras”, Brasília, 12 Sept 2021, 3 p.; 1.074 words. Contribution to a project of ABC-Clio, “South America: From European Contact to Independence”;

3)    3976. “Bandeirantes”, Brasília, 12Sept 2021, 3 p., 1235 word. Contribution to a project of ABC-Clio, “South America: From European Contact to Independence”.

4)    3979. “Andrada e Silva, José Bonifácio de”, Brasília, 18 Sept 2021, 3 p.; 1.071 words. Contribution to theEncyclopedia of South American History; Prof. Micheal Tarver.

5)    3980. “Brazil, Independence Movement”, Brasília, 19 Sept 2021, 5 p. Contribution to the Encyclopedia of South American History; Prof. Micheal Tarver.


A Gazeta do Povo pretende "provar" os efeitos benéficos da Cloroquina, em benefício do Capitão

Um dos editores da Gazeta do Povo, um jornal legitimamente de direita e desavergonhadamente defensora e promotora do psicopata no poder, tenta provar que ele tinha razão ao recomendar o uso da Cloroquina, como se ele fosse um cientista ou tivesse acesso a informações supostamente científicas aqui relatadas para recomendar o seu uso preventivo.

Como meu blog é de debate e informação, posto a nota do editor de Ideias da Gazeta do Povo.

Paulo Roberto de Almeida 


US must arm Ukraine now, before it’s too late: um alerta de eminentes personalidades americanas (The Hill)

US must arm Ukraine now, before it’s too late

Nearly 20 of our fellow experts and national security professionals — whose digital signatures appear at the end of this op-ed — agree: The war in Ukraine has reached a decisive moment and that vital U.S. interests are at stake.

Long before the Kremlin first invaded Ukraine in 2014, we have — from senior positions in the U.S. government and military — followed Moscow’s foreign policy and the grave dangers it presents to the United States and our allies. We have carefully watched Moscow’s major offensive since February and the response of the Biden administration and its allies and partners. We have maintained close touch with Ukrainian, U.S. and European officials. Two of us just returned from meetings with Ukraine’s defense and military leaders.

Although the Biden administration has successfully rallied U.S. allies and provided substantial military assistance, including this month, to Ukraine’s valiant armed forces, it has failed to produce a satisfactory strategic narrative which enables governments to maintain public support for the NATO engagement over the long term.

By providing aid sufficient to produce a stalemate, but not enough to roll back Russian territorial gains, the Biden administration may be unintentionally seizing defeat from the jaws of victory. Out of an over-abundance of caution about provoking Russian escalation (conventional as well as nuclear), we are in effect ceding the initiative to Russian President Vladimir Putin and reducing the pressure on Moscow to halt its aggression and get serious about negotiations.

Moscow’s imperialist war against the people of Ukraine is not just a moral outrage — a campaign of genocide aimed at erasing the Ukrainian nation from the map — but a clear danger to U.S. security and prosperity. 

American principles and interests demand the strongest possible response, one sufficient to force the Russians as much as possible back to pre-February lines and to impose costs heavy enough to deter Russia from invading a third time. With Russian forces struggling to regroup in the east and stave off Ukrainian efforts to retake Kherson in the south, now is the time for Ukraine’s allies to pull out all the stops by providing Ukraine the means it needs to prevail. Dragging out the conflict through so-called strategic pauses will do nothing but allow Putin to regroup, recover and inflict more damage in Ukraine and beyond.

But so far, neither the administration nor European allies have succeeded in making clear why this is important to the United States and the West. It is important because Putin is pursuing a revisionist foreign policy designed to upend the rules-based security system that has ensured American and global stability and enabled prosperity since the end of World War II. Putin’s aggressive designs do not end in Ukraine. As Russian officials have repeatedly made clear, if Russia wins in Ukraine, our Baltic NATO allies are at risk, as are other allies residing in the neighborhood.  

Prudent policy today identifies tomorrow’s risk and seeks the right place and time to deal with that risk. For the U.S. and NATO, that time is now — and the place is Ukraine, a large country whose population understands that its choice is either defeating Putin or losing their independence and even their existence as a distinct, Western-oriented nation. 

With the necessary weapons and economic aid, Ukraine can defeat Russia.

If it succeeds, our soldiers are less likely to have to risk their lives protecting U.S. treaty allies whom Russia also threatens.

What does defeat for Putin look like? The survival of Ukraine as a secure, independent, and economically viable country. That means a Ukraine with defensible borders that include Odesa and a substantial portion of the Black Sea coast, as well as a strong, well-armed military and a real end to hostilities. That should ideally include the return to Ukrainian control of all territories seized since Feb. 24 and, ultimately, the lands stolen in 2014, including Crimea. Such a peace is only possible when Putin realizes he is soundly defeated and can no longer achieve his objectives of dominating Ukraine or any other nation by force.

Such a plan would also condemn millions of Ukrainians to live under a regime that has committed numerous war crimes, whose senior officials and media have called for de-Ukrainianization of Ukraine, which is already being subjected to forced Russification, including the illegal and involuntary deportation of nearly 400,000 Ukrainian children to Russia for adoption. These measures have prompted a growing number of scholars to describe Russian policy as genocide

Moscow’s plan now is to make as many gains on the battlefield as possible; to conduct sham referendums in the newly occupied Ukrainian territory as a prelude to their annexation; to undermine unity in the West’s support for Ukraine by cutting off gas supplies going into the winter; and to blockade Ukrainian ports to produce destabilizing food shortages in the Global South designed to blow back on the West. For all of these purposes, Moscow needs time. Which means the United States and its allies must keep the pressure on Moscow.

The Biden administration should move more quickly and strategically, in meeting Ukrainian requests for weapons systems. And when it decides to send more advanced weapons, like HIMARS artillery, it should send them in larger quantities that maximize their impact on the battlefield. 

Ukraine needs long-range fires to disrupt the Russian offensive, including Russian resupply, fuel, and ammunition stocks. That means the U.S. should send ATACMS munitions, fired by HIMARS with the 300km range necessary to strike Russian military targets anywhere in Ukraine, including occupied Crimea. And Ukraine needs constant resupply of ammunition and spare parts for artillery platforms supplied from various countries, some of which are not interchangeable. These systems are constantly in use, which makes maintenance and spare parts resupply critical. How and where these tasks are accomplished and the logistics infrastructure to quickly get the equipment back where it can be of greatest use can also make a huge difference.

Beyond this, Ukraine needs more short- and medium-range air defense to counter Russian air and missile attacks. An increasing problem is the need to deploy adequate countermeasures to hamper the growing prevalence of Russian-produced drones and new ones it is trying to procure from Iran.

It is to Putin’s advantage to threaten nuclear war, but not to initiate it. And we have seen the Kremlin make nuclear threats that proved hollow — for instance in connection with Finland and Sweden joining NATO. If we allow Putin to intimidate us from providing the weapons Ukraine needs to stop Russian revisionism, what happens when he waves his nuclear wand over the Baltic states? And why would the administration assume that Putin would not dare do that with Estonia or Poland if the tactic worked for him in Ukraine?

The stakes are clear for us, our allies, and Ukraine. We should not fool ourselves. We may think that each day we delay providing Ukraine the weapons it needs to win, we are avoiding a confrontation with the Kremlin. To the contrary, we are merely increasing the probability that we will face that danger on less favorable grounds. The smart and prudent move is to stop Putin’s aggressive designs in Ukraine, and to do so now, when it will make a difference.  

General Philip Breedlove, USAF (ret.); 17th Supreme Allied Commander Europe and distinguished professor, Sam Nunn School, Georgia Institute of Technology

Debra Cagan, former State and Defense Department official;distinguished energy fellow, Transatlantic Leadership Network

Ambassador Paula J. Dobriansky, former under secretary of state for global affairs

Ambassador Eric Edelman, former ambassador to Finland and Turkey;former under secretary of defense for policy

Ambassador Daniel Fried, former assistant secretary of state for Europe;Weiser Family distinguished fellow, Atlantic Council

Ambassador John Herbst, former Ambassador to Ukraine and Uzbekistan; senior director, Eurasia Center, Atlantic Council

Ambassador John Kornblum, former ambassador to Germany

David Kramer, former assistant secretary of state for democracy, human rights, and labor

Robert McConnell, former assistant attorney general; co-founder, US-Ukraine Foundation

Ambassador Stephen Sestanovich, former ambassador-at-large for the former Soviet Union; senior fellow, Council on Foreign Relations;professor, Columbia University

Ambassador William Taylor, former ambassador to Ukraine

Ambassador Alexander Vershbow, former NATO deputy secretary general; former assistant secretary of defense; former ambassador to Russia and NATO

Ambassador Marie Yovanovitch, former ambassador to Ukraine

Institutional affiliations are for purposes of identification only.


Radicalização cresce no Telegram e grupos bolsonaristas pedem até ‘contragolpe’ no STF (Estadão)

 Parece que o “golpe” está sendo furiosamente preparado pelos malucos bolsonaristas. O xerife Xandão vai ter de entrar em ação antes do fatídico 7 de setembro do bicentenário. Leiam esta longa reportagem do Estadão.

Paulo Roberto de Almeida

Radicalização cresce no Telegram e grupos bolsonaristas pedem até ‘contragolpe’ no STF

Estudo revela troca de mensagens com desinformação sobre a covid-19 e existência de um suposto complô para fraudar a eleição, além de estratégias para escapar de monitoramento na plataforma

Redação, Estadão, 17 de agosto de 2022 | 12h26


A radicalização nos grupos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Telegram aumenta na medida em que a eleição se aproxima. Usuários do aplicativo de troca de mensagens chegam a pedir um “contragolpe” das Forças Armadas contra o Supremo Tribunal Federal (STF), além de adotar estratégias para escapar da moderação e do monitoramento de conteúdos na plataforma.

O relatório Democracia Digital, elaborado por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mostra a intensificação dos ataques à Corte desde junho, quando se tornaram mais frequentes as convocações para os atos de 7 de Setembro. Bolsonaro tem chamado reiteradamente apoiadores a participar das manifestações.

Logo do Telegram aparece em cima de teclado e à frente de tela escura que exibe códigos binários na cor verde

No Telegram, o Estadão detectou mensagens em grupos bolsonaristas que estimulam apoiadores do presidente a irem às ruas com faixas nas quais defendam a convocação das Forças Armadas para a elaboração de uma nova Constituição que criminalize o comunismo. Foto: Dado Ruvic/Reuters

No ano passado, o feriado da Independência ficou marcado pelo discurso inflamado do presidente contra ministros do Supremo, em São Paulo. Em junho deste ano, os pedidos de apoio ao voto impresso – principal pauta dos protestos de 2021 –, diminuíram significativamente para dar lugar a discursos de incitação a um golpe de Estado.

“Percebe-se um forte esforço para fomentar a percepção de ameaça e de vitimização, que justifica a necessidade de ação imediata”, diz o relatório Democracia Digital. O presidente é um defensor do voto impresso e, mesmo sem apresentar provas, põe sob suspeita o sistema de votação eletrônica, ao afirmar que as urnas são passíveis de fraude. Bolsonaro tem se recusado, ainda, a dizer se reconhecerá o resultado do pleito, caso seja derrotado.

Print de conversa do Telegram detectado pelo Estadão. Ministro Alexandre de Moraes é constantemente menciona em grupos. Foto: Reprodução

O levantamento analisou conteúdos publicados entre o primeiro dia de janeiro e o último de junho deste ano. Foram mais de 6,4 milhões de mensagens coletadas em 156 grupos – onde é possível discutir assuntos entre usuários – e 479 canais do Telegram – que funcionam como listas de transmissão. Foram capturadas, ainda, 641 mil imagens no aplicativo. Segundo pesquisa Mobile Time/Opinion Box de fevereiro deste ano, o Telegram está instalado em 60% dos smartphones no Brasil. Em junho, se tornou o 4º aplicativo mais popular do Brasil em presença na homescreen (tela inicial do dispositivo).

Os pesquisadores desenvolveram um filtro para mensagens de texto com menção a termos específicos. Das 112.636 mensagens publicadas nesse formato em 145 grupos e 349 canais analisados, destacam-se desinformação sobre a covid-19 e a existência de um suposto complô para fraudar a eleição e impedir a vitória de Bolsonaro.

“O número de mensagens que estão aparecendo sobre o 7 de Setembro desde o início deste ano é muito maior do que no ano passado”, diz Leonardo Nascimento, um dos coordenadores da pesquisa, produzida em parceria com Letícia Maria Cesarino e Paulo Fonseca.

Convocação

No Telegram, o Estadão detectou mensagens em grupos bolsonaristas que estimulam apoiadores do presidente a irem às ruas com faixas nas quais defendam a convocação das Forças Armadas para a elaboração de uma nova Constituição que criminalize o comunismo. Uma delas pede a destituição dos ministros do STF, com exceção de Kássio Nunes Marques e André Mendonça, ambos indicados por Bolsonaro.

As mensagens de convocação justificam que o Exército precisa executar um “contragolpe” para impedir que o PT e o Supremo deem um golpe de Estado por meio de uma fraude eleitoral. Hoje, Luiz Inácio Lula da Silva, petista e ex-presidente, lidera as pesquisas de intenções de voto na corrida pelo Palácio do Planalto.

Print de conversa do Telegram detectado pelo Estadão. Grupos bolsonaristas afirmam que o STF já deu um golpe. Foto: Reprodução

Uma das mensagens afirma, ainda, que o País estaria em marcha para um “golpe nas eleições”. “É isso mesmo? Será que ninguém percebe que um Poder há muito tempo já arregaçou com a nossa Constituição e não está nem aí com as quatros linhas?”, questiona, em referência à expressão futebolística usada por Bolsonaro de que ele atua dentro das regras constitucionais. “(O dia) 7 de Setembro será nossa última chance”, diz o texto.

A professora de Comunicação, Mídia e Democracia da Universidade de Glasgow Patrícia Rossini diz que grupos políticos muito ativos e radicalizados seguem a lógica de transmissão do conteúdo para outros círculos, a fim de furar as bolhas do mundo digital. “São mensagens fortes e preocupantes do ponto de vista do ataque à democracia que podem chegar a grupos de família, amigos de confiança, que a maioria dos brasileiros está em pelo menos um”, afirma.

Estratégias

Em março deste ano, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, chegou a determinar a suspensão “completa e integral” do aplicativo de troca de mensagens russo, por descumprimento de medidas judiciais anteriores, que exigiam ações como o bloqueio de perfis ligados ao blogueiro bolsonarista Allan do Santos. Após a plataforma cumprir as medidas que haviam sido ordenadas, Moraes revogou a suspensão.

O aplicativo firmou um memorando de entendimento com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em abril. Das medidas tomadas para conter a disseminação de notícias falsas, o Telegram passou a monitorar diária e manualmente os cem canais mais populares do Brasil. Segundo a empresa, eles são responsáveis por 95% de todas as visualizações de mensagens públicas do aplicativo no País.

No entanto, para driblar a moderação, há grupos que cifram as mensagens, mostra o relatório. O “supergrupo B-38 oficial”, um dos principais aglomerados de apoiadores de Bolsonaro no Telegram, já foi suspenso em maio deste ano até que moderadores removessem um conteúdo ilegal. Desde que retomou as atividades no dia seguinte, usa um recurso automático de remoção das mensagens após 24 horas.

O estudo detectou também que há grupos que mudaram de nome mais de uma vez, realizaram eventos de apagamento de milhares de mensagens e restringiram o acesso, tornando-os privados e apenas possível de acessá-los por convite.

Outra ação adotada foi o uso de substituição de palavras-chave por códigos. Em vez de escrever STF, urnas eletrônicas ou até nomes de ministros com letras do alfabeto latino, usuários optam por mudar o S por $ e o A por 4, por exemplo. Com isso, os conteúdos ficam mais difíceis de serem encontrados em buscas ou por moderadores da plataforma. O mesmo recurso é usado por usuários do YouTube – site de exibição de vídeos – para fugir da moderação automática de conteúdo.

Recirculação

O YouTube lidera, em termos de links, os endereços divulgados no Telegram para redirecionar a outro conteúdo. Foram mais de 530 mil links gerados que levaram à rede.

Para Leonardo Nascimento, da UFBA, essa recirculação mostra que o desafio imposto pela desinformação é multiplataforma. “O problema não é o Telegram, mas o ecossistema de desinformação”, disse.

“Esforços individuais de plataformas específicas não vão resolver o problema da desinformação. É preciso esforços multiplataformas, com especialistas do governo e da academia analisando e, se possível, de maneira transnacional.”

O analista de dados do Rooted in Trust Brazil e pesquisador do Instituto Nacional de Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD) João Guilherme dos Santos vê facilidades na distribuição de desinformação quando o Telegram atua com o WhatsApp ou replica conteúdos do YouTube. “É muito importante entender o Telegram não como algo isolado, mas como uma peça, uma engrenagem dentro de uma arma”, diz.

Procurado, o Telegram não respondeu até a publicação desta reportagem. /Levy Teles e Gustavo Queiroz

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Finalizo (PRA):

Parece que o Brasil está prestes a cair sob o comunismo, mas uma tropa de abnegados seguidores do capitão vai salvar o país desta desgraça. 

Retifico minha avaliação: não é mais apenas um fenômeno, mas tampouco é um movimento, no sentido clássico da palavra. Trata-se de uma loucura generalizada entre os mais extremados adoradores do “mito”, disseminada de forma errática em difeentes plataformas — com destaque para o Telegram - e que deveria culminar nessa catarse coletiva do 7/09.

Aux armes, citoyens, literalmente e para ambos os lados…

Paulo Roberto de Almeida

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Na gráfica: Construtores da Nação - Paulo Roberto de Almeida

 Meu editor da LVM, Pedro Henrique Alves, ademais de ter um faro incrivel para revisar um texto proposto, ainda fez um press-release elogioso para anunciar a próxima publicação de meu mais recente livro.


“Paulo Roberto de Almeida, além de diplomata e um destacado intelectual brasileiro, tem a capacidade ímpar de sintetizar as ideias e fatos históricos das vidas dos principais personagens brasileiros com esmero e elegância.

Em Construtores da nação: projetos para o Brasil de Cairu a Merquior, tais características ficam ainda mais evidentes. Para aqueles que amam a história nacional, é quase unânime a percepção de que faltava uma síntese competente das ideias e projetos para o Brasil dos principais pensadores nacionais.

Visconde de Cairu realmente tinha ideias liberais para o Brasil, ou isso era um mito? O que foi Monteiro Lobato para além de sua já conhecida capacidade literária? O que foi o liberalismo social de Merquior?

Em breve, esta obra estará disponível em nossas lojas parceiras. Fique atento e não perca essa oportunidade.”

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